sexta-feira, 17 de junho de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

A Câmara dos Deputados, especialmente neste momento em que o novo governo trabalha em conjunto com o Congresso para aprovar medidas necessárias ao Brasil, não pode continuar sem comando. Esta é a hora de o Legislativo resgatar sua autoridade, recuperar a credibilidade e transmitir à população uma mensagem de seriedade e compromisso com o interesse nacional. A inadiável escolha de um novo presidente da Casa será tão importante para o Parlamento quanto para o Brasil.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS. ‘Pelo resgate do Parlamento’, Diário do Poder, 16/6/2016

Ministro se antecipa a nova acusação e pede demissão

• Henrique Eduardo Alves é o 3º auxiliar de Temer a cair em um mês

Aliados dizem que novas provas revelariam repasses numa conta não declarada na Suíça; presidente interino afirma que acusações contra ele, se fossem verdadeiras, o impediriam de presidir o país

O ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) pediu demissão ontem, tornando-se o terceiro auxiliar do governo Temer a sair em um mês. Investigado na Lava-Jato, Alves foi acusado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de receber R$ 1,5 milhão de propina para campanhas. Uma nova prova contra ele, ainda não revelada, precipitou a demissão, como informou o blog de Jorge Bastos Moreno. Segundo aliados, Alves teria recebido recursos ilícitos na Suíça. Acusado por Machado de pedir R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita, Temer disse que a citação é “leviana” e “mentirosa” e que, se tivesse cometido tal crime, não teria condições de presidir o país.

Cai o terceiro ministro

• Henrique Alves pede demissão após ser informado da descoberta de novas provas contra ele

Catarina Alencastro, Simone Iglesias e Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA- Após ser envolvido em uma série de acusações na Operação Lava-Jato, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pediu demissão ontem. Apesar de a decisão de deixar o governo ter sido tomada um dia depois de novas revelações da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado o atingirem, Henrique Alves só sacramentou sua demissão após receber a informação de que existem provas inéditas, desta vez documentais, contra ele, como antecipou o blog do jornalista Jorge Bastos Moreno, no site do GLOBO. Segundo integrantes da cúpula do governo e do PMDB, Alves teria sido informado sobre a descoberta de um depósito de empreiteira em uma conta sua na Suíça.

Temer: se tivesse cometido crime não poderia presidir país

• Presidente interino rebate Machado por acusação de pedido de propina

Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente interino, Michel Temer, classificou de “irresponsável, leviana, mentirosa e caluniosa” a denúncia que o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado fez em sua colaboração premiada. Na delação, Machado disse que Temer lhe pediu uma doação para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012. Envolvido pela primeira vez na Lava-Jato, com pouco mais de um mês à frente do Planalto, Temer não mencionou o suposto encontro com o delator nem deu mais detalhes sobre sua relação com Sérgio Machado.

— Quero fazer uma declaração a respeito da manifestação irresponsável, leviana, mentirosa e criminosa do cidadão Sérgio Machado — atacou Temer, em pronunciamento no Planalto à imprensa.

Temer disse que estava se dirigindo à sua família, aos amigos e ao povo brasileiro para poder “andar nas ruas do Brasil”. Ele disse que, se tivesse cometido o crime de que Machado lhe acusou em delação premiada, não teria condições de presidir o país. Além de falar como “ser humano”, Michel Temer afirmou que não “deixará passar” acusações desse tipo. Sem mencionar nomes, disse que não seguirá o exemplo de “alguns” que deixam “passar em branco”. Ele garantiu que virá a público manifestar-se todas as vezes em que houver denúncias contra ele.

Em guerra contra Janot, Renan ameaça dar início a impeachment

• ‘No desespero, ele envolve até a mãe’, diz senador sobre delator Sérgio Machado

Cristiane Jungblut e Leticia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), iniciou uma guerra aberta contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Depois de dizer que Janot “extrapolou o limite do ridículo” ao pedir sua prisão, Renan informou que está mapeando a posição dos senadores sobre sua ameaça de dar início ao processo de impeachment do chefe do Ministério Público. Renan avisou aos aliados que analisará todos os documentos contra Janot neste fim de semana, e que pretende apresentar sua posição ao plenário no dia 22. Já foram apresentados nove pedidos de afastamento de Janot.

Nos últimos dias, Renan se aproximou mais do presidente interino, Michel Temer, a quem ontem defendeu das denúncias. O tom de Renan anteontem e ontem contra Janot assustou caciques do PMDB. Renan chamou o pedido de prisão de “esdrúxulo”, disse que a delação do ex-amigo Sérgio Machado é “mentirosa do começo ao fim” e voltou a defender mudança nas regras de delação premiada.

Lava Jato derruba terceiro ministro do governo Temer

• Henrique Eduardo Alves, do Turismo, pede demissão após ser acusado em delação de Machado; temor no Planalto, contudo, é com colaborações que estão por vir

Tânia Monteiro, Carla Araújo e Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - No dia seguinte à divulgação da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, Henrique Eduardo Alves (PMDB) pediu demissão do Ministério do Turismo nesta quinta-feira, 16, e se tornou o terceiro ministro a deixar o governo do presidente em exercício Michel Temer por causa das investigações da Operação Lava Jato.

Nos 35 dias de gestão interina do peemedebista caíram também Romero Jucá, ex-titular do Planejamento, e Fabiano Silveira, que chefia a pasta da Transparência. Os dois deixaram o governo em razão da divulgação de gravações feitas por Machado que mostravam a discussão sobre medidas para barrar a Lava Jato.

A saída ocorreu a pedido do próprio ministro e ocorreu mais em razão de denúncias que estão por vir do que a delação de Machado em si. Alves era um dos mais próximos auxiliares de Temer. O presidente em exercício também foi vinculado pelo ex-presidente da Transpetro ao esquema de propinas relatado por Machado na subsidiária da Petrobrás. ONesta quarta, 15, Temer convocou a imprensa para rebater a citação a seu nome – ele chamou de “irresponsável, leviana, mentirosa e criminosa” as afirmações de Machado e admitiu que o caso pode “embaraçar a atividade governamental”.

Lula entra com representação na PGR contra Moro por medidas na Lava Jato

• Documento pede que juiz federal seja investigado por violação à Convenção Interamericana de Direitos Humanos, por crimes de abuso de autoridade na condução da operação na 1.ª instância

Gustavo Aguiar e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que protocolou, nesta quinta-feira, 16, uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o juiz federal Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal de Curitiba. O documento pede que o magistrado seja investigado por violação à Convenção Interamericana de Direitos Humanos, por crimes de abuso de autoridade na condução da Lava Jato na primeira instância.

Na peça, os advogados afirmam que as providências de Moro para investigar Lula não têm base legal, citam a condução coercitiva do petista em 4 de março deste ano e a determinação de busca e apreensão na casa e no escritório do ex-presidente e de sua família como casos de abuso e arbitrariedade. Dizem também que o juiz violou a lei ao divulgar áudios registrados em interceptação telefônica contra Lula.

Temer busca agenda positiva, mas perde 3º ministro em 35 dias

Valdo Cruz, Gustavo Uribe, Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em apenas 35 dias de governo, o presidente interino, Michel Temer, perdeu seu terceiro ministro por causa de envolvimento com a Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção montado em estatais para financiar políticos.

Nesta quinta (16), acusado de receber propinas por investigações da Lava Jato, o ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo), amigo do presidente, pediu demissão. Antes dele, haviam caído Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência), por citações ou declarações sobre a Lava Jato.

Todas as demissões foram precedidas de revelações feitas pelo delator Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro considerado o operador do PMDB no esquema de corrupção.

No início do mês, o procurador Rodrigo Janot, afirmou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que Alves atuou para obter recurso desviado da Petrobras em troca de favores para a empreiteira OAS.

Depois, vieram à tona as acusações de Machado. O ex-presidente da Transpetro afirmou que repassou ao ministro R$ 1,55 milhão de recursos ilícitos, entre 2008 e 2014.

Na manifestação ao Supremo, Janot afirmou que parte do dinheiro do esquema desbaratado pela Lava Jato teria abastecido a campanha de Alves ao governo do Rio Grande do Norte em 2014, quando ele acabou derrotado.

Delação de Machado sugere que Camargo Corrêa omitiu propina

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

A comparação entre as informações prestadas pela Camargo Corrêa aos procuradores da Lava Jato e a delação premiada de Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro, sugere que a empreiteira omitiu dois pagamentos de suborno.

Machado narra em sua delação que deu R$ 400 mil em propina a José Sarney Filho, em 2010, quando ele era candidato a deputado federal pelo PV (Partido Verde) do Maranhão.

O recurso teve origem em subornos pagos por Camargo Corrêa e Queiroz Galvão e foi entregue à campanha como contribuição oficial, ainda de acordo com Machado. O ex-presidente da Transpetro afirmou em depoimento a procuradores que a maioria das doações legais para partidos são, de fato, suborno.

Sarney Filho é ministro do Meio Ambiente do presidente interino Michel Temer e nega ter recebido recursos ilegais do ex-aliado de seu pai.

Pedido de impeachment contra Janot tem como base Lei de Responsabilidade

• No documento, que já se encontra em posse de Renan Calheiros, presidente do Senado, o procurador-geral da República é acusado de agir de forma negligente e incompatível com o decoro do cargo

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O pedido de impeachment contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que se encontra atualmente em cima da mesa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem como base Lei de Responsabilidade. No documento, o PGR é acusado de agir de forma negligente e proceder de forma incompatível com o decoro do cargo.

A petição foi apresentada pelas advogadas Beatriz Sordi e Claudia Castro, no Senado, na última segunda-feira (13). Além desse pedido, outros oito também aguardam uma decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O peemedebista afirmou na noite de ontem a aliados que quer dar seguimento ao processo de impeachment de Janot. O peemedebista foi um dos alvos do pedido de prisão feito pelo procurador ao Supremo Tribunal Federal (STF). Além dele, também estavam na lista de pedidos de Janot o ex-presidente José Sarney e o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Os pedidos foram recusados, porém, pelo ministro do Supremo, Teori Zavascki. Gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, os três peemedebistas são acusados pelo procurador de tentarem obstruir as investigações da Lava Jato.

Para tucano, destino do PSDB depende de Temer

• "Uma nova eleição presidencial é um delírio. É claro que não tem a menor viabilidade jurídica"

• "Minha ida para a liderança do governo significa uma partilha do destino do governo com o PSDB"

Por Vandson Lima e Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - Mesmo que a proposta que limita o crescimento dos gastos públicos não seja aprovada até agosto, o Orçamento do próximo ano deve ser formulado já considerando um teto para as despesas, informou o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP). O tucano, que jantou na quarta-feira com o presidente interino Michel Temer no dia em que a o projeto foi protocolado no Congresso, disse que o cálculo consideraria a programação de desembolsos até dezembro mais a inflação estimada para 2016.

Em entrevista ao Valor, Aloysio observou que o PSDB não tinha outra opção que não fosse participar do governo do PMDB e trabalhar para que Temer seja bem sucedido. Só assim terá chance na disputa presidencial de 2018. Mas admitiu que a parceria pode ter prazo: "Como toda aliança política quando chega na hora da eleição, é possível que os partidos, cada um, busquem o seu caminho". Porém, os tucanos, segundo o ministro, estão focados por enquanto em resolver a crise do país e buscar o ajuste fiscal.

Ainda na área econômica, o líder do governo deixou claro que o Senado vai barrar o reajuste de salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), de R$ 33.763 para R$ 39.293, aprovado pela Câmara dos Deputados no início do mês. A medida teria "efeito cascata" e agravaria a difícil situação das contas de Estados e municípios.

Diante do embate entre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o tucano evitou polemizar. Contudo, não quer a abertura de processo de destituição de Janot. "A preocupação do governo é impedir que essa turbulência politica provocada pela Lava-Jato, que é grande e vai continuar, não afete o funcionamento do Congresso", ponderou.

A seguir, trechos da conversa:

Pelo resgate do Parlamento - Roberto Freire

- Diário do Poder

Basta folhear os jornais para se constatar que vivemos uma quadra delicada da política brasileira. Às vésperas do julgamento de Dilma Rousseff pelo Senado, que deve sacramentar o impeachment, e em meio aos esforços do governo interino de Michel Temer para reconstruir o país após 13 anos de desmantelo sob o lulopetismo, a sociedade acompanha o avanço das investigações da Operação Lava Jato, que atingem figuras exponenciais da República. As forças políticas têm o compromisso moral de entender o recado inequívoco das ruas e interpretar o espírito de um tempo. Felizmente, e este é um dado que afirma o amadurecimento da sociedade, não há mais nenhuma condescendência ou tolerância com ilegalidades.

Inverno em Curitiba - Fernando Gabeira*

- O Estado de S. Paulo

No poema de Antônio Cícero, o inverno no Leblon é quase glacial. Lembrei-me do poema e da canção cantada por Adriana Calcanhotto porque fez frio no Leblon. Imagine em Curitiba.

Enquanto a economia brasileira vai, aos poucos, buscando seu rumo, a imprevisibilidade maior está na política e em seus desdobramentos.

O deputado Eduardo Cunha deve cair e pode passar o inverno na cadeia. Isso é previsível; o comportamento dele, uma incógnita. Seria ele capaz de enfrentar longos anos de cadeia, sem buscar um acordo de delação premiada?

O mais resistente dos empresários, Marcelo Bahia Odebrecht, parece decidido a fazer a delação premiada. Os que resistem com base ideológica, como José Dirceu e João Vaccari Neto, teriam acenado com uma nova modalidade de acordo: a leniência partidária.

Reação emblemática - Merval Pereira

- O Globo

O presidente Michel Temer fez bem em refutar publicamente as acusações do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de que intermediou uma propina para a campanha de Gabriel Chalita a prefeito de São Paulo. A frase emblemática de sua indignação é politicamente desastrosa, mas ao mesmo tempo, por isso mesmo, reveladora de uma verdadeira indignação.

‘Alguém que teria cometido aquele delito que o cidadão (Sérgio) Machado mencionou não teria condições de governar o país”, afirmou o presidente interino, no que pode ser considerada a antítese do que um político cauteloso, como é Temer, faria em situação análoga. Mas Temer sabe que a sua não é uma situação qualquer.

Enquanto não estiver efetivado no cargo, o que só acontecerá se o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, for aprovado pelo Senado, ele só ganhará credibilidade com ações concretas, e não pode se dar ao luxo de deixar que desconfianças cresçam em torno de seu governo, já abalado por vários casos de suspeitas de corrupção no primeiro mês.

O que se vê, o que não se vê - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Estamos todos prestigiando o que se vê e se ouve nas delações de Sérgio Machado, mas desprezando algo que é igualmente importante: o que não se vê e não se ouve nessas mesmas delações. Juntando as duas pontas – o que ele disse e o que ele não disse –, chegaremos às possíveis consequências desse tsunami que se abate não apenas sobre o governo interino, nem só sobre Brasília, mas sobre todo um sistema de financiamento de campanhas que se embola com a roubalheira pura e simples.

O que se vê e se ouve quanto ao presidente interino Michel Temer na versão de Machado, que presidiu a Transpetro de 2003 a 2014, é que Temer, como vice, teria pedido a intermediação de Machado para obter doações de R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012.

O que não se vê nem se ouve é que, apesar de Machado dizer que desviou mais de R$ 100 milhões para a cúpula do PMDB, ele citou Renan (R$ 32 milhões!), Sarney, Jucá e o insaciável Edison Lobão, mas excluiu desse bolo justamente o próprio presidente do partido, que era Temer. Não disse que despejou dinheiro em campanhas, em contas ou no bolso de Temer. No máximo, disse que ele voltou a presidir a sigla para desempatar a disputa entre deputados e senadores peemedebistas por dinheiro. Se a cúpula toda do PMDB estava no “rachuncho”, o presidente não deveria estar? Pela delação, não estava.

A fragmentação - César Felício

• Financiamento e Lava-Jato remetem eleições aos anos 80

- Valor Econômico

Há duas apostas na praça em relação ao significado das eleições municipais deste ano. Ambas convergem para o túnel do tempo, de volta aos anos 80. A vedação ao financiamento eleitoral por empresas de um lado, e os ecos da Lava-Jato, pelo outro, são duas estradas que levariam, cada uma à sua maneira, para um mesmo resultado: a decomposição absoluta dos cenários eleitorais, a fragmentação total, em que dezenas de partidos vencedores significarão que não haverá nenhum partido com perspectiva séria de poder, em que a competição entre diversos candidatos eliminará qualquer polarização. O eleitorado irá em busca de um "outsider" que não existe, uma alternativa ao sistema político que só vive nos delírios das redes sociais.

Nas eleições do fim dos anos 80, um traço distintivo era a rejeição ao governo Sarney. Como a Nova República representava de certo modo uma ruptura em relação ao regime anterior, os mandatários do passado, reunidos no PDS, não conseguiam sustentar uma oposição estável e nem estavam adaptados a isso. A disputa municipal tornou-se nacionalizada.

O cientista político Antonio Lavareda, muito presente em campanhas eleitorais, acredita que tal situação se repetirá este ano: 2016 irá remeter a 1988. Um mês depois que Ulysses Guimarães ergueu a nova Constituição no momento de sua promulgação, como se fosse um artilheiro levantando a Copa do Mundo, o PMDB elegeu quatro prefeitos em capitais: Salvador, Fortaleza, Teresina e Goiânia. Era o prenúncio do que aconteceria com o partido na eleição presidencial do ano seguinte. Para Lavareda, o PMDB foi punido pelo eleitorado pelo desempenho do governo federal. Hoje, o impeachment, a crise econômica e a responsabilização pelos escândalos da Lava-Jato fariam com que a fatura seja paga pelo PT e, em menor medida, pelo PMDB, com a diferença que não haveria um beneficiário claro. Não há nada equivalente ao que o PT era há 28 anos, quando Luiza Erundina em São Paulo e Olívio Dutra em Porto Alegre simbolizaram a revolta contra um sistema político fechado em si mesmo.

Devastação machadiana - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

"Muito ruim para a governabilidade", sentencia a nota do Planalto sobre a delação premiada de Sérgio Machado que acusa o presidente interino, Michel Temer, de ter solicitado propina para financiar uma campanha eleitoral. É difícil discordar. O furacão deflagrado pela denúncia de Machado adiciona ainda mais instabilidade a um quadro político que já era precário.

É preciso, porém, distinguir a governabilidade de curto prazo de outra com horizontes mais dilatados. Para esta última, a devastação provocada por Machado, que certamente será ampliada por outras delações que estão na fila, é uma boa notícia.

A crer no excelente "Por Que as Nações Fracassam", de Daron Acemoglu (MIT) e James Robinson (Harvard), que já citei aqui algumas vezes, o que diferencia países que deram certo dos Estados falidos é a natureza de suas instituições. Se elas forem inclusivas, permitindo que a maioria da população tire proveito das oportunidades econômicas, o desenvolvimento vem como consequência; se forem extrativistas, isto é, utilizadas com o propósito de favorecer uma elite, pode até ocorrer crescimento, mas seu fôlego será curto.

Não é pouco - Rogério Furquim Werneck

• Ao recrutar Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn, Temer conseguiu atrair um leque de profissionais da melhor qualidade

- O Globo

Michel Temer assumiu a Presidência há cinco semanas. E a vida não lhe tem sido fácil. Às voltas com embaraços da Lava-Jato, excessos do Centrão, protestos contra a extinção de ministérios e queixas quanto ao seu “gabinete de homens brancos”, Temer confessou à “Folha de S.Paulo” (13/6) que o exercício do cargo “tem sido uma guerra”.

Mas, apesar da sensação de desgaste e irresolução que tem emanado dessas muitas dificuldades e das idas e vindas de Temer, há que se reconhecer o notável sucesso que seu governo vem mostrando diante de dois desafios cruciais. Em pouco mais de um mês, ele conseguiu montar uma equipe econômica de excelente nível e, ao mesmo tempo, esboçar a consolidação de uma base parlamentar ampla, que, por problemática que seja, se tem mostrado razoavelmente eficaz.

Não é pouco. Ao concentrar seu limitado capital político inicial na consecução desses dois objetivos, Temer tornou bem mais crível a perspectiva de levar adiante o difícil programa econômico que contempla para o país.

Gasto social versus gasto social - Claudia Safatle

• A PEC do gasto muda o patamar do debate do Orçamento

= Valor Econômico

A PEC que congela o gasto público em valores reais traz o enunciado geral do novo regime fiscal: a despesa dos três Poderes será corrigida apenas pela inflação nos próximos nove anos e, para a Educação e a Saúde, isso será piso e não teto. O texto diz que o congelamento da despesa será por 20 anos podendo, no entanto, ser revisto por projeto de lei pelo presidente da República passados 9 anos, prazo que tende a ser reduzido para 7 anos no Congresso.

Trata-se, portanto, da primeira proposta de ajuste fiscal que se tem notícia no país feita pelo controle do gasto e não pelo aumento da carga tributária.

Técnicos do governo asseguram que a PEC sozinha, sem as esperadas reformas estruturais, consegue se sustentar pelos próximos dois anos, tendo algum crescimento no próximo ano, inflação menor neste ano, que corrigirá o próximo Orçamento, e com queda de algumas despesas. Estima-se queda nominal de pelo menos R$ 3 bilhões, por exemplo. com os subsídios do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) no ano que vem.

O descontrole das finanças públicas gerou uma dinâmica insustentável para a dívida. Dados divulgados ontem pelo Prisma Fiscal, pesquisa que o Ministério da Fazenda sobre as expectativas do mercado para as contas do governo, indicam que a dívida bruta deve subir para 74,35% do PIB este ano e para 79% do PIB no próximo exercício. Nesse ritmo, o Estado será insolvente em pouco tempo.

Temer, conspirações e dinheiro – Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Pensar a política em termos de arranjos conspiratórios parece-se com fazer ou ler horóscopos. É parecido ao menos na tentativa de catar ao léu fatos que se casem com uma teoria que justifique uma visão amalucada ou interessada, do mundo.

Adeptos do pensamento da conspiração devem estar tendo trabalho com os desdobramentos da crise. Em vez de engrenagens e manipulações, há caos e abalos de forças sísmicas sob controle de ninguém, nem mesmo na Justiça ou na Procuradoria, que se batem.

Sim, vê-se tentativa de salvar algo do incêndio judicial da política, talvez um plano, mas não conspiração. O governo está pedindo fiança quase integral ao "empresariado".

Quanto às conspirações da política-politiqueira, as teorias e as tentativas reais de levá-las a cabo ficam cada vez mais risíveis.

Recuperar a Petrobras - Míriam Leitão

• O Globo

A Petrobras descobriu que o campo de Libra, que explora junto com sócios de vários países, tem mais petróleo do que se imaginava e a empresa está conseguindo reduzir o tempo necessário para a perfuração dos poços e a extração do petróleo. Notícias assim dão novo gás à companhia que tem estado há dois anos mais ligada às notícias sobre o escândalo de corrupção.

Apesar das boas notícias, a empresa tem um longo trabalho pela frente para reconquistar a confiança da sociedade e do mercado. Para entender mais da empresa que passou a presidir, Pedro Parente, tem feito reuniões com funcionários para ouvi-los. Nestes encontros, vem o desabafo de trabalhadores que ouvem ofensas quando dizem que são da Petrobras.

— Foi uma minúscula minoria de funcionários que produziu esse problema. A grande maioria é de gente decente, honesta, trabalhadora. Tive reuniões dramáticas, com mais de 4.000 colaboradores. Relatos de pessoas que dizem: “eu ando nas ruas e as pessoas me dizem: ‘você é Petrobras, então é Lava-Jato’”. A maioria está envergonhada com o que aconteceu — conta.

O País e seu governo – Editorial / O Estado de S. Paulo

O Brasil enfrenta dois grandes problemas. Um deles é a corrupção generalizada na vida pública. A delação de Sérgio Machado, portanto, não conta nenhuma novidade, apenas confirma e aumenta a lista dos suspeitos que sempre frequentaram a política brasileira e se tornaram mais conspícuos desde que a corrupção foi elevada à condição de método pelos governos do PT e seus aliados. E é por se terem tornado os principais agentes da corrupção no governo que os petistas foram os primeiros a ser denunciados e condenados, a partir do mensalão. Como era inevitável, sobram denúncias agora para os ex-aliados do lulopetismo, e de quebra para quem, antes na oposição – como os tucanos –, é acusado agora de ter-se comportado exatamente “como todo mundo”.

De qualquer modo, é motivo de regozijo a evidência de que pelo menos esse grave problema nacional – a corrupção na vida pública – começa a ser enfrentado com determinação e eficiência. A exacerbação do sentimento de impunidade dos corruptos teve o efeito positivo de estimular o País a reagir homogeneamente. A Operação Lava Jato simboliza esse fenômeno. Por essa razão, ela é intocável.

A cada novo escândalo – Editorial / Folha de S. Paulo

Na breve carta com que se desligou do Ministério do Turismo nesta quinta-feira (16), Henrique Eduardo Alves (PMDB) manifestou um desejo impossível: "Não quero criar constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo".

Tarde demais. A queda de Alves representa inevitável fonte de desconforto para o presidente interino, Michel Temer (PMDB) —e não só porque nenhuma administração poderia enfrentar sem embaraço a perda de um ministro suspeito de receber recursos ilícitos.

Não se trata apenas de lembrar que já se sabia, quando o peemedebista potiguar passou a integrar o governo Temer, que a Operação Lava Jato estava no seu encalço.

Nem de mencionar que, na semana passada, o presidente interino manteve o correligionário no cargo apesar do noticiário. Segundo informou esta Folha, o procurador-geral da República disse ao Supremo Tribunal Federal que Alves atuou para obter dinheiro desviado da Petrobras em troca de favores à empreiteira OAS.

Resta a Temer e a todos responder de forma convincente - Editorial / O Globo

• Presidente interino respondeu com veemência à acusação de ter negociado propina para campanha, denúncia que precisa ser provada

• Delação de Machado expõe as vísceras da política brasileira. É como se estivéssemos fechando o ciclo iniciado com o fim da ditadura e o início da Nova República

Aconselhava o bom senso esperarse alguma menção ao presidente interino, Michel Temer, na enxurrada de nomes, siglas e cifras que não param de brotar de delações premiadas à Lava-Jato, uma das mais amplas delas a do ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, Sérgio Machado, liberada quarta-feira pelo ministro do STF Teori Zavascki. Político de longo curso, tendo presidido o PMDB, partido aliado do PT em vitórias nas urnas e também no saque à Petrobras e outras empresas, Temer não passaria em branco. E assim acontece, com a citação feita por Machado de um suposto pedido do então vice-presidente da República para o presidente da Transpetro ajudar na campanha de Gabriel Chalita, pelo PMDB, a prefeito de São Paulo, em 2012.

Relatou Machado, na delação, que, numa conversa entre os dois, no hangar da FAB na Base Aérea de Brasília, teria ficado entendido que a ajuda, de R$ 1,5 milhão, seria por meio de dinheiro de propina oriunda de empreiteiras contratadas pela Transpetro, disfarçado de doação oficial. Ora, como empresas públicas não podem fazer doações, qualquer pedido desse tipo a dirigentes de alguma delas pressupõe acertos nada republicanos com fornecedores da estatal.

Membros do Judiciário do Paraná coíbem a imprensa – Editorial / Valor Econômico

Juízes, promotores e procuradores do Paraná abriram uma guerra de intimidação contra o maior e mais antigo jornal do Estado, a Gazeta do Povo, por motivos obscuros. Cinco jornalistas do diário revelaram em reportagens em 15 de fevereiro que, em média, membros do Tribunal de Justiça e Ministério Público estaduais receberam salários no ano que superam em 28% e 23%, respectivamente, o teto salarial do funcionalismo público. Não se trata de um caso de invasão de privacidade, obtenção de documentos sigilosos por meios ilegais ou denúncias anônimas - usaram os dados disponíveis a qualquer cidadão que estão no portal da transparência do Tribunal de Justiça. A ira dos magistrados está custando caro aos jornalistas: mais de três dezenas de ações em juizados especiais, espalhadas por 15 cidades. O total de indenizações monta a R$ 1,3 milhão.

Os juízes do Paraná estão utilizando métodos semelhantes aos da Igreja Universal do Reino de Deus contra a "Folha de S. Paulo" em 2008, pulverizando as ações geograficamente para tornar inviável a defesa do jornal e prejudicá-lo financeiramente. A via crucis dos jornalistas passou por 19 audiências e há mais a caminho. O objetivo desta estratégia, segundo a Associação Nacional dos Jornais, "é intimidar, retaliar e constranger o livre exercício do jornalismo".

Os Sapos – Manuel Bandeira

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”