segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

O desafio das lideranças renovadoras será criar, mais do que uma “narrativa”, propostas que desenhem caminhos para a Nação. Teremos capacidade, coragem e iniciativa para rever posturas, caminhos e alianças? Terá o PT disposição para uma verdadeira reconstrução e para o diálogo não hegemônico? E os demais partidos, inclusive e principalmente o PSDB, serão capazes de aglutinar a maioria, apesar de inevitáveis divergências?

O que vimos nas semanas passadas foi o rufar de tambores para a construção de um discurso: uma presidente inocente sendo destronada por golpistas ansiosos pelo poder. Mau começo para quem precisa se reinventar. A despeito disso, temos desafios comuns. Ou bem seremos capazes de reinventar o rumo da política ou novamente a insatisfação popular se manifestará nas ruas, sabe-se lá contra quem e a favor do quê. E não basta circus, belas palavras, também é preciso oferecer panis, um rumo concreto para o País e sua gente.
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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi presidente da república. ‘Triste fim’, O Estado de S. Paulo, 4/9/2016

Temer: ‘O que mais faço é DR’

O presidente Temer respondeu ao senador Aécio Neves e garantiu: “O que mais faço é discutir a relação”, referindo-se aos partidos da base, incluindo o PMDB, alvo das cobranças do tucano em entrevista exclusiva ao GLOBO, publicada ontem. Em visita à China, Temer comprou um par de sapatos de couro e um cachorro robô.

Presidente reage a Aécio: ‘O que mais faço é discutir a relação’

• Temer diz acreditar em ‘base sólida’ para aprovar reformas e ajustes

- O Globo
Vivian Oswald Enviada especial

-HANGZHOU, CHINA E BRASÍLIA- Em resposta ao presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o presidente Michel Temer disse ontem na China, onde participa da reunião do G-20, que “discutir a relação” é uma de suas principais tarefas:

— O que eu mais faço é discutir a relação e faço isso permanentemente. Também, com uma base de quase 20 partidos, se você não fizer isso permanentemente, não consegue manter a base unida. Quando tivermos dois ou três partidos, fica mais fácil, mas, por enquanto, precisamos conversar permanentemente.

Em entrevista ao GLOBO publicada ontem, Aécio criticou setores do PMDB e citou o envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na articulação que permitiu à ex-presidente Dilma Rousseff manter seus direitos políticos, apesar da cassação do mandato. Também condenou o PMDB por não dar sinais de unidade em torno das reformas e ajustes necessários para a retomada da economia. E ameaçou deixar de apoiar o governo, se o partido aliado não marchar coeso nessa direção.

Temer afirmou que se mantém em contato constante com as siglas da base:
— Com os amigos do PSDB, tenho conversado com muita frequência, jantares, encontros que nós tivemos. Prezo muito o apoio que o PSDB, que todos os partidos dão... O PSDB, o DEM, o PPS, o PMDB.

Segundo Temer, sua base vai conseguir “aprovar questões aparentemente difíceis, mas que produzirão efeitos muito benéficos no futuro”:

— Temos que ter uma base sólida e, mais do que uma base sólida, a compreensão dos partidos que nos apoiam. E até o presente momento, não tenho dúvida dessa compreensão porque acho que estão todos preocupados não em apoiar o governo, apoiar o presidente que chegou agora definitivamente à Presidência, mas apoiar o Brasil. Não tenho preocupação.

Perguntado se era a favor ou contra o reajuste dos ministros do Supremo Tribunal Federal, afirmou que aguarda uma posição do Senado:

— Sei que há uma grande divisão no Senado, e a minha tarefa será depois da avaliação do Senado. Dependendo do que o Senado decidir, vem para a sanção ou veto. Daí é que eu vou examinar.

Antes de ir para a China, Temer conversou com o senador Romero Jucá (RR), que assumiu o comando do PMDB, a quem pediu união em torno das pautas do governo.
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, também do PMDB, defendeu que seu partido seja “monolítico” na defesa das reformas:

— Saímos da interinidade e entramos na fase do governo propriamente dito, e isso muda a postura do governo, e é óbvio que o partido do presidente tem que ser monolítico nesse apoio. O exemplo tem que ser dado pelo próprio.

Padilha disse que, sem as reformas, como o limite de gastos e as mudanças na Previdência, o Brasil pode viver turbulências:

— Não tem medida amarga. São reformas indispensáveis e saneadoras. Sem elas, o Brasil corre o risco de caminhar rumo à ingovernabilidade.

Preocupação do Papa
Na China, Temer ainda comentou ontem as declarações do Papa Francisco, que pediu orações para o “momento triste” que vive o Brasil.

— Acho que ele revelou uma preocupação com o Brasil. Uma preocupação que todos temos. Acho que alegria vem pouco a pouco. Se pegarmos que saímos de um instante um pouco complicado, não tenho a menor dúvida disso. Foram três, quase quatro meses de uma problemática político-institucional que gerou conflitos — disse o presidente. (Colaborou Eduardo Bresciani)

Protestos contra o impeachment

Manifestantes do “Fora, Temer” tomaram ontem parte da Avenida Paulista, e o fim do protesto voltou a ter vandalismo de pequenos grupos. Também houve atos no Rio, em Curitiba e em Salvador.
Rio e São Paulo têm atos ‘Fora, Temer’

Na capital paulista, houve violência no final; protestos ainda no PR e na BA

O Globo

-SÃO PAULO, RIO E BRASÍLIA- Um dia após o presidente Michel Temer ter minimizado os atos contra ele, o domingo registrou protestos em quatro capitais: São Paulo, Rio, Curitiba e Salvador. Em São Paulo, a manifestação ocorreu em clima pacífico, na Avenida Paulista, que teve oito quadras tomadas, mas terminou em violência. Após o encerramento oficial do ato, no Largo da Batata, a tropa de choque da PM lançou uma granada de mão contra um grupo na estação de metrô Faria Lima. Houve pânico e correria e mais bombas lançadas, inclusive dentro de bares.

Seguranças da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que organizaram o ato, contiveram black blocs, que tentaram se infiltrar. A PM informou que a repressão começou após um funcionário do metrô denunciar atos de depredação nas estações, o que foi desmentido pelo metrô.

Pelo menos uma jovem e um fotógrafo foram atingidos por balas de borracha nas pernas, e a passageira de um ônibus desmaiou devido ao gás. Lixeiras foram queimadas, e um ponto de ônibus, destruído. Dentro da estação do metrô, passageiros sentiram-se mal também por causa do gás de pimenta.

O ato, iniciado às 17h30m, percorreu as avenidas Paulista e Rebouças, após concentração em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Segundo os organizadores, cem mil participaram do protesto. A PM não calculou o público.

No Rio, o protesto começou por volta de 11h, em frente ao Copacabana Palace. Numa caminhada da Avenida Atlântica ao Canecão, em Botafogo, manifestantes seguravam cartazes pedindo eleições diretas e gritavam “fora, Temer”, “golpista”. A PM não divulgou a estimativa de presentes.

Na Avenida Princesa Isabel, um carro do jornal “O Estado de São Paulo” foi alvo de um manifestante, que deu dois chutes nas portas do veículo, amassando a lataria. Ninguém ficou ferido. Ele foi contido por outros manifestantes e levado para a 12ª DP (Copacabana).

Em Curitiba, o protesto reuniu 800 pessoas, segundo a PM; os organizadores calcularam 3.500. Manifestantes quebraram a porta de vidro do jornal “Gazeta do Povo”, e o diretório regional do PMDB foi apedrejado e pichado. Em Salvador, uma caminhada contra o governo Temer durou cerca de duas horas. Segundo a PM, 300 pessoas participaram; para os organizadores, foram mil.

Em Brasília, cerca de 30 ciclistas protestaram em frente ao prédio onde mora o senador Cristovam Buarque (PPSDF), que votou pelo impeachment. (Alessandro Giannini, Renata Monti, Renato Onofre e Vinicius Sassine, com G1)

‘Caminho do crescimento do Brasil está sendo reconstruído’, diz Temer

• Na primeira reunião do Brics, presidente reafirmou o compromisso com o ajuste fiscal e disse que o governo instituirá um teto constitucional para o crescimento do gasto público

Cláudia Trevisan e Fernando Nakagawa, enviados especiais,
- O Estado de S. Paulo

HANGZHOU - A economia do Brasil já começa a reagir. Essa foi a mensagem central do discurso inicial do presidente Michel Temer na reunião informal dos cinco grandes emergentes do grupo conhecido como Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Aos demais chefes de Estado, Temer ressaltou as reformas propostas e mencionou até o Congresso Nacional ao afirmar que a Casa ajudará a executar as mudanças estruturais que permitirão ao País a voltar a crescer.

"No Brasil, o caminho do crescimento está sendo reconstruído. Estamos promovendo um ajuste fiscal amplo e sustentável. Juntamente com o Congresso Nacional, instituiremos um teto constitucional para o crescimento das despesas governamentais", disse Temer. "O crescimento real zero do gasto público levará à redução da dívida do Estado brasileiro".

Temer aproveitou a visita à China para ir às compras: o peemedebista gastou o equivalente a R$ 389 em um par de calçados e R$ 195 em um cachorro eletrônico que fala chinês - dois setores que exemplificam a crise da indústria no Brasil.

Aos demais líderes dos grandes emergentes, Temer afirmou que "uma ambiciosa agenda de reformas estruturais também está em curso para elevar a produtividade da economia e gerar ambiente de negócios mais favorável". "Estimularemos os investimentos em infraestrutura, sobretudo por meio de concessões de estradas, portos, aeroportos, ferrovias e sistemas de geração e transmissão de energia", destacou o presidente brasileiro.

Atualmente, o Brasil é o País com pior desempenho econômico entre os cinco grandes emergentes. Em 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro será o pior no grupo. Diante dessa realidade, Temer disse aos demais líderes que a adoção das novas políticas econômicas já resulta em "sinais de retomada da economia" brasileira. "Estamos seguros de que, em breve, a nossa economia voltará a crescer, em benefício dos brasileiros e da economia global", afirmou Temer.

Além disso, Temer mencionou que o governo trabalha para a fixação de idade mínima para os aposentados e articula um programa de parcerias público-privadas para concessões. "Como reflexo desses esforços, já foi possível verificar uma positiva reversão de expectativas. É patente a elevação nos níveis de confiança dos agentes econômicos", disse Temer.

Sobre os Brics, Temer falou rapidamente que os países do grupo "são forças positivas" para estabilidade econômica global. "O Novo Banco de Desenvolvimento e o arranjo contingente de reservas ilustram como podemos trabalhar em conjunto de modo inovador e eficiente. Um trabalho coletivo em prol de sociedades mais prósperas e mais justas", disse aos demais líderes.

Reservas. Temer usou o discurso de abertura da reunião de cúpula das 20 maiores economias do mundo para afirmar que as reservas internacionais e o regime de câmbio flutuante dão ao Brasil espaço para enfrentar eventual redução da liquidez global.

Para Temer, o Banco Central tem agido de forma "decisiva" para levar a inflação de volta à meta e cita que o preço das commodities, a política monetária "de alguns países desenvolvidos" e a volatilidade do mercado são elementos que têm "merecido especial atenção" do governo brasileiro.

Aos demais países do G-20, Temer afirmou no discurso de abertura do encontro na China que o Brasil tem ferramentas para enfrentar eventual mudança na liquidez global. "As reservas internacionais do Brasil permanecem elevadas, em patamar próximo de US$ 372 bilhões. Isso, conjuntamente com um sistema de câmbio flutuante, proporciona margem de manobra suficiente para o Brasil enfrentar cenários adversos de redução da liquidez internacional", disse Temer.

Japão. Temer terá nesta segunda-feira uma reunião bilateral com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, que será o encontro de maior peso do brasileiro com um líder estrangeiro depois da bilateral com o chinês Xi Jinping, na sexta-feira.

Solicitada pelo dirigente japonês, a reunião só foi confirmada no fim da tarde de domingo. Uma fonte do governo brasileiro disse ao Estado que o horário inicial sugerido por Tóquio coincidia com a intervenção que Temer fará no horário do almoço durante o encontro do G20. Em razão disso, os japoneses concordaram com a antecipação da reunião para as 10h30.

A ex-presidente Dilma Rousseff cancelou duas visitas oficiais que faria ao Japão, em 2013 e 2015. A mais recente desistência foi comunicada aos anfitriões dois dias antes da viagem.

Diálogo. Um dia depois de declarar que é "inviável" governar com 35 partidos políticos, Temer também disse que tem de "conversar permanentemente" com as legendas aliadas para conquistar apoio ao governo no Congresso Nacional. "Com uma base de quase 20 partidos, se você não fizer isso permanentemente, você não consegue manter a base unida. Quando nós tivermos dois ou três partidos, fica mais fácil."

Quando voltar ao Brasil de sua viagem à China, o presidente encontrará mais uma crise entre as legendas aliadas, desta vez em torno da proposta de reajuste dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que elevaria o teto do Judiciário de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. Uma parcela do PMDB apoia a medida, que encontra resistência no PSDB.

O presidente não revelou que posição tomará caso a proposta seja aprovada pelo Congresso. "Eu vou esperar o Senado decidir", disse Temer em entrevista em Hangzhou, na China, observando que poderá sancionar ou vetar a lei. Segundo ele, muitos parlamentares se opõem à medida em razão do impacto negativo que ela teria sobre os gastos públicos.

Temer deixou o Brasil na quarta-feira sob o impacto de outra crise em sua base aliada, provocada pela divisão do julgamento do impeachment que permitiu a manutenção dos direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff. Criticada pelo PSDB, a decisão teve apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e de outros parlamentares do partido de Temer.

Na China para participar de reunião do G20, o presidente embarca para o Brasil no fim tarde de segunda-feira.

Para Meirelles, protestos de domingo foram 'substanciais', mas não alteram condução do ajuste

• Ministro da Fazenda avalia que manifestações são feitas por parcela minoritária da população e ajudam a 'legitimar' o processo de impeachment 'frente ao mundo'

Cláudia Trevisan e Fernando Nakagawa, enviados especiais,
- O Estado de S. Paulo

Hangzhou, China - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta segunda-feira, 5, que o número de pessoas que protestaram contra o governo Michel Temer no domingo, 4, é “substancial”, mas representa uma parcela minoritária da população. “Já tivemos manifestações muito maiores, já tivemos manifestação de 1 milhão de pessoas”, declarou em entrevista na China, onde participou de reunião do G20.

Segundo ele, é “normal” que aqueles que se opuseram ao processo de impeachment se expressem. “Não vejo isso como nenhum tipo de problema. Muito pelo contrário, acho que isso é parte da democracia, parte do debate livre do País, exatamente o que garante, legitima ainda mais o fato de que o processo é democrático, constitucional.” Em sua opinião, a existência de uma “discussão aberta” sobre o processo de impeachment ajuda a legitimá-lo “frente ao mundo”.

Organizadores estimaram que 100 mil pessoas participaram do protesto realizado na Avenida Paulista no domingo. Como em dias anteriores, a maior parte da manifestação foi pacífica, mas depredações promovidas por pequenos grupos ocorreram no fim da noite.

Em entrevista concedida no sábado, 3, na China, Temer afirmou que os protestos contra seu governo eram “inexpressivos” e realizados por “grupos mínimos”. Criticando atos de violência, ele se referiu a manifestantes com uma pergunta: “As 40 pessoas que quebram carro?”. No mesmo dia, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, também menosprezou os protestos e disse que eles eram “mini mini mini mini mini mini”.

Meirelles sustentou que os protestos não vão atrapalhar a votação da proposta de emenda constitucional que estabelece um teto para o crescimento de gastos nem das propostas de reformas previdenciária e trabalhista, medidas consideradas impopulares. Segundo ele, o ajuste fiscal será “fundamental” para o processo de recuperação econômica, o que sensibilizará os parlamentares.

Iintegrantes do Congresso, no entanto, que também são sensíveis às urnas, pressionam o governo a adiar o envio do projeto de reforma da Previdência para depois das eleições municipais de outubro. A intenção inicial do governo era mandar o texto ao Legislativo até o fim do mês. O ministro da Fazenda evitou falar em prazos e afirmou que o projeto será encaminhado quando estiver pronto. “É uma coisa que terá efeito por décadas”, disse Meirelles, ressaltando que “um ou dois meses” não farão grande diferença.

'O que eu mais faço é discutir relação', diz Temer

• Quando voltar ao Brasil de sua viagem à China, o presidente encontrará mais uma crise entre as legendas aliadas. Desta vez, em torno da proposta de reajuste dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal

Cláudia Trevisan e Fernando Nakagawa, enviados especiais,
O Estado de S. Paulo

CHINA - Um dia depois de declarar que é "inviável" governar com 35 partidos políticos, o presidente Michel Temer disse neste domingo, 4, que tem de "conversar" muito com as legendas aliadas para conquistar apoio ao governo no Congresso. "O que eu mais faço é discutir relação", declarou.

"Com uma base de quase 20 partidos, se você não fizer isso permanentemente, você não consegue manter a base unida. Quando nós tivermos dois ou três partidos, fica mais fácil." No sábado, o presidente defendeu a realização de uma reforma política que reduza o número de legendas existentes no País.

Quando voltar ao Brasil de sua viagem à China, o presidente encontrará mais uma crise entre as legendas aliadas. Desta vez, em torno da proposta de reajuste dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que elevaria o teto do Judiciário de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. Uma parcela do PMDB apoia a medida, que encontra resistência no PSDB.

O presidente não revelou que posição tomará caso a proposta seja aprovada pelo Congresso. "Eu vou esperar o Senado decidir", disse Temer em entrevista na China, observando que poderá sancionar ou vetar a lei. O presidente ressaltou que muitos parlamentares se opõem à medida em razão do impacto negativo que ela teria sobre os gastos públicos.

Temer deixou o Brasil na quarta-feira sob o impacto de outra crise em sua base aliada, provocada pela divisão do julgamento do impeachment que permitiu a manutenção dos direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff. Criticada pelo PSDB, a decisão teve apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e de outros parlamentares do partido de Temer.

Calheiros integra a comitiva que acompanha o presidente na China. Em entrevista no sábado, ele afirmou que considerava "desproporcional" cassar o mandato da presidente e suspender seus direitos políticos. Mas ele reconheceu que a questão acabará sendo decidida pelo STF.

Os legados de Tancredo e Ulysses para o novo governo

• Ícones do PMDB e artífices da redemocratização brasileira, eles são hoje a maior influência para a gestão Temer

Antonio Carlos Prado – Revista IstoÉ

Michel Temer assume a Presidência do Brasil e, com ele, pode-se dizer numa figura de linguagem que o PMDB chega ao comando do governo pela primeira vez, desde a redemocratização do País em 1985. José Sarney, que reabriu o ciclo de presidentes civis interrompido com a instauração da ditadura militar em 1964, ocupou o Palácio do Planalto devido à morte do então presidente eleito Tancredo Neves. Sarney, no entanto, era considerado por seus pares um “peemedebista pela metade”, uma vez que atravessara o regime de exceção ao lado dos ditadores. Espelha bem a situação incômoda de Sarney o fato de ele nem discursar quando de sua filiação ao PMDB, temeroso de ser vaiado. Também Itamar Franco, que assumiu após o impeachment de Fernando Collor, embora essencialmente democrata e competente, não possuía tradição no partido.

"Crise do PT pode ser devastadora", afirma Melo

Entrevista do professor e cientista político Marcus Melo (UFPE)

Por Cristian Klein - Valor Econômico

A seguir, os principais momentos da entrevista ao Valor:

Valor: Que ameaças há à maioria legislativa de Michel Temer?

Marcus Melo: O que importa para o governo aprovar a sua agenda é sua capacidade de gerenciar uma coalizão. Malgrado a elevadíssima fragmentação partidária, o governo Temer tem sido bem-sucedido em mobilizar uma base de apoio parlamentar. Isto tem sido possível porque a coalizão que lhe dá sustentação é a mais homogênea ideologicamente desde o governo Cardoso; possui a mais elevada taxa de coalescência (congruência entre tamanho das bancadas partidárias e ministérios controlados) desde o governo Collor; e a menor taxa de concentração de ministérios no partido do presidente desde o governo Sarney. Cooperar com o governo é a estratégia dominante do parlamentar médio, já que não há opção rival. A defecção do Centrão no governo Dilma ocorreu porque havia uma alternativa que se mostrou melhor do que o apoio quando a queda do governo tornou-se iminente. Caso Temer torne-se muito impopular, o comportamento legislativo oportunista irá se exacerbar mas seu governo provavelmente não irá cair.

Não se pode interpretar a Constituição de acordo com conveniências – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Acaba de ser encerrado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, pondo fim a um período de desacato à Constituição e de mentiras sistematicamente construídas para manipular a percepção da população sobre a realidade.

Foi uma importante vitória da democracia brasileira. Mas o desfecho do processo foi imperfeito. Na última volta do ponteiro, partidários da ex-presidente e seus aliados, fiéis ou de ocasião, desrespeitaram a Constituição.

A decisão de fatiar a punição aplicada à ex-presidente é uma afronta à nossa lei maior, às instituições e às regras democráticas do país.

Impeachment: solução ou problema? Bolívar Lamounier

- Revista IstoÉ

Desde a Constituinte, foram bem magros os resultados obtidos no tocante à reforma política. O retrospecto de tal experiência evidencia três coisas: (1) a resistência empedernida dos que se beneficiam do status quo vigente; (2) a inexistência de um diagnóstico sistêmico e minimamente articulado capaz de responder às perguntas o quê, como e para quê; (3) a falta de coragem de uma expressiva parcela das elites nacionais, em tese favoráveis a mudança do sistema para defender de peito aberto uma proposta parlamentarista, estigmatizada de “impopular”.

Mas a presente conjuntura contém um ingrediente absolutamente novo, que praticamente nos obriga a retomar a discussão. Refiro-me, naturalmente, aos cinco anos e meio de Dilma Rousseff no comando do Executivo e ao impeachment, que só foi concluído sem confrontos porque a crise econômica desidratou o PT e as organizações por ele satelitizadas: CUT, MST etc.

E agora, o que fazer? – Marco Antonio Villa

Revista IstoÉ

Acabou. Depois de meses de embates, o impeachment de Dilma Rousseff foi aprovado. Analisando, no calor da hora, as forças políticas participantes desse processo, o resultado pode ser considerado surpreendente. O projeto criminoso de poder, sob a liderança inconteste do PT, aparentava uma solidez invejável. Por outro lado, no Congresso, as forças oposicionistas eram frágeis, desorganizadas e pouco combativas. Não acreditavam na possibilidade de enfrentar e vencer o governo. A propaganda apresentava um País que estava destinado ao eterno controle petista. Como se não houvesse mais história. E condenado à alternância entre dirigentes escolhidos a dedo por Luis Inácio Lula da Silva. Ele, então, era considerado o supra sumo do saber político.

Questões atuais – Raimundo Santos

A primeira questão do momento político é o fracasso do projeto de governo dos ex-presidentes Lula e Dilma Roussef. O seu objetivo era hegemonizar a sociedade a partir da sua divisão em dois lados. Mas iria esbarrar com uma sociedade altamente diferenciada, com parte da classe política e instituições. 

Os protestos de junho de 2013 mostraram a grande distância que havia entre o Estado e o conjunto da sociedade, expondo a olho nu a profunda crise do Congresso, dos partidos, das esquerdas e do governo Dilma. As manifestações de mais de quatro milhões de pessoas deste ano ampliaram a diversidade dos que saíam às ruas reiterando que aquela estratégia dos governos petistas de simplificação da sociedade não tinha como seguir adiante. As ações e mobilizações do campo alinhado com o governo em incontáveis frentes cada vez mais foram se voltando para dentro de uma lógica de sua reprodução. 

Fim! - Denis Lerrer Rosenfield

- O Globo

• O secundário consiste na manobra conduzida pelo PT e setores do PMDB de não inabilitar a presidente afastada definitivamente

Terminou o longo e penoso ciclo de poder petista. Após 13 anos, o país, enfim, acordou, podendo ver uma realidade que lhe era subtraída. O peso da ficção e da ideologia impediam ver tudo o que estava, contudo, aí! A agora ex-presidente, com sua soberba, foi o triste — e muitas vezes ridículo — epílogo deste período. O Brasil foi a sua vítima.

O profeta da salvação revelou-se um farsante! A promessa de redenção dos pobres levou a um desemprego de aproximadamente 12 milhões de pessoas, que, em um certo dia, acreditaram na ficção de um discurso, cujos maiores beneficiários foram o PT e as suas empreiteiras. Muitos enriqueceram, enquanto outros, na sociedade, já não mais tinham do que viver. Uns falavam em nome dos pobres, enquanto estes ficavam sem dicção.

Lula, o Criador, gabava-se de eleger um poste, também denominado criatura. Cioso de sua onipotência fez com que aos pés deste país se abrisse um abismo, o da recessão, o da queda abrupta de renda, o da inflação que corrói os salários, o da desestruturação do Estado, o do sucateamento da Petrobras, privatizada partidariamente e assim por diante. Para muitos, a ascensão do PT ao Poder foi como um sonho, a sua realização um poderoso pesadelo.

Boa sorte, presidente Michel Temer - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Depois de longos nove meses, foi concluído o processo de afastamento da presidente Dilma pelas múltiplas transgressões em relação à Constituição e à legislação fiscal. O país virou a página de uma das mais graves crises políticas de sua história. Uma recessão jamais vista que resulta no desemprego para 12 milhões de brasileiros, combinada com o maior escândalo de todos os tempos desvendado pela Lava Jato e por operações congêneres, abalou a possibilidade de sobrevivência do governo do PT. A isso se somaram os crimes eleitorais já constatados pelo TSE e a sensação generalizada de um enorme estelionato eleitoral.

O impeachment se tornou inevitável. E foi um processo que se deu dentro da rigorosa observância do texto constitucional, com amplo direito de defesa e supervisionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Rumo a 1989 - Marcos Nobre

- Valor Econômico

• As etapas de campanha se fundiram de maneira caótica

Parece que foi no século passado, mas faz pouco mais de um ano que a Câmara dos Deputados aprovou a reforma eleitoral que decidiu as regras das eleições municipais em curso. Parece de outro século a proposta do distritão, defendida com afinco pelo então articulador político do governo Dilma, o então vice-presidente Michel Temer. Era uma proposta que transformava cada Estado em um distrito, considerando eleitas as candidaturas mais votadas, independentemente da votação global de seus próprios partidos. Parece ter-se perdido no tempo a manobra de Eduardo Cunha para jogar no lixo o relatório do deputado Marcelo Castro na comissão que examinava a reforma e fazer com que o aliado Rodrigo Maia, hoje presidente da Câmara, levasse diretamente ao plenário a versão do texto que queria ver aprovada.

Os dispositivos que regem hoje a eleição municipal foram muito modificados ou mesmo engavetados desde a aprovação na Câmara. Mas muita coisa ficou. Há questões técnicas bastante complicadas e de impacto relevante como a modificação no método de preenchimento das vagas por partidos que tenham alcançado o quociente eleitoral. Mas, sobretudo, serão marcantes a redução do tempo de campanha e da propaganda eleitoral, conjugadas à proibição de financiamento empresarial e à ausência de limite para que candidatos financiem suas próprias campanhas.

Pode isso, Arnaldo? - Ricardo Noblat

- O Globo

• Abre-se, finalmente, uma nova era para o Brasil. A Era sem Dilma e sem Dunga.

O que você responderia à pergunta: “Gosta de café com leite”? Que gosta ou que não. A pergunta não comporta outra resposta. Mas se lhe perguntassem se gosta de café e de leite, você poderia responder que gosta dos dois. Ou então que gosta de um deles. A Constituição diz que presidente cassado pelo Senado perde seu mandato e seus direitos políticos. Ponto. É café com leite. Não é café e leite.

ESTÁ NO parágrafo único do artigo 52: “(...) limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis”. Dito de outra maneira: uma vez condenado, o presidente perderá o cargo com inabilitação, etc e tal...

Governadores em baixa - José Roberto de Toledo

O Estado de S. Paulo

• Pesquisa mostra que dos 26 mandatários estaduais, 16 têm avaliação negativa nas principais cidades

Muito mais do que os prefeitos, quem perdeu cacife nas eleições das capitais estaduais foram os governadores. Dos 26, nada menos do que 16 têm avaliação negativa nas principais cidades dos Estados que governam, segundo as mais recentes pesquisas do Ibope. Na média, os governadores têm 34% de ruim/péssimo, contra apenas 24% de ótimo/bom. Ou seja, saldo negativo de 10 pontos.

É uma situação oposta à de 2012. Por essa mesma época da campanha na eleição municipal passada, o saldo médio de popularidade dos governadores nas capitais era 20 pontos positivo: 41% de ótimo/bom versus 21% de ruim/péssimo. A variação foi de 30 pontos em quatro anos, e no sentido errado.

Dilma insufla o ódio nas ruas e vai morar em Ipanema – Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

De cada 100 policiais militares brasileiros, 49 declaram-se pretos ou pardos. Um soldado paulista ganha menos de cinco mínimos mensais. Já protestos de esquerda têm menos pretos e pardos. A renda do militante supera a de uma família chefiada por um soldado PM e, por muito, a de um lar brasileiro típico.

A elite vermelha pretende falar em nome da maioria da população, mas está distante dela. Policiais, desafiados nas ruas a cada manifestação, estão mais próximos da rotina das classes trabalhadoras.

Ninguém se iluda com críticas furiosas da esquerda ao menor sinal de excesso na repressão. A preocupação com a integridade das pessoas —somente das que se chocam com a polícia, nunca das que são vítimas da brutalidade militante— é mero pretexto de uma disputa de poder.

Falando de golpes – Paulo Guedes

- O Globo

• A cláusula de votação em bloco teria garantido todos os votos do PMDB contra o fatiamento e também a favor das reformas econômicas

O impeachment presidencial é denunciado por dilmistas e petistas como um “golpe parlamentar”. Seria uma versão politicamente aceitável, nas modernas democracias, do antigo “golpe militar”. E o que teria sido o impeachment de Collor? Um “golpe parlamentar” dos derrotados nas urnas contra o primeiro presidente eleito pelo voto direto após a redemocratização? Teria uma “esquerda” golpista derrubado um fenômeno de popularidade que ameaçava sua hegemonia sem recorrer a um “golpe revolucionário”?

Ao voltar da China, Temer terá de governar e não ser governado – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Ao voltar da China, Michel Temer começará, de fato, seu governo. Sem as incertezas da interinidade, terá de mudar de estilo. Governar e não ser governado é o que muitos esperam dele.

Sua fala na reunião ministerial, logo depois que tomou posse definitivamente do comando do país, indicou sua maior disposição de governar do que ser governado pelas circunstâncias e pelos apoiadores.

Mandou recados duros aos aliados que flertam com a infidelidade, como os que deram um doce à petista Dilma Rousseff no julgamento do impeachment ao poupar seus direitos de ocupar funções públicas. Foi além. Disse aos insatisfeitos que desembarquem logo na saída.

Um sistema claramente disfuncional – Editorial / O Estado de S. Paulo

A consumação do segundo impeachment de um presidente da República em pouco mais de duas décadas obriga a uma profunda reflexão sobre a disfuncionalidade do sistema de representação em vigor no Brasil. Desse defeito estrutural decorrem graves riscos para a estabilidade política do País. Tanto no caso de Fernando Collor de Mello em 1992 como no de Dilma Rousseff agora, o que se viu foi o uso do impeachment para apear da Presidência governantes incapazes de arregimentar, por meios legítimos e legais, apoio suficiente no Congresso nem sequer para salvar a pele, que dirá para governar o País.

Os dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, como a Lei 1.079, de 1950, previstos para salvaguardar o interesse nacional em casos extremos, são razoavelmente eficazes. Por eles se resolvem os excessos cometidos contra a lei orçamentária e a administração do dinheiro público, como foi o caso de Dilma, e de quebra de decoro, como aconteceu com Collor. O problema, portanto, não reside aí.

Orçamento de 2017 prevê forte contenção de gastos – Editorial / Valor Econômico

O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2017, enviado na semana passada pelo governo ao Congresso Nacional, é o primeiro passo para interromper uma tendência de alta dos gastos públicos que, a rigor, vem desde a adoção do Plano Real, em 1994. O foco no controle da despesa global é correto e indispensável para resgatar a percepção de solvência do setor público.

Sem negar os ganhos indiscutíveis dessa nova política fiscal, seria desejável, porém, uma maior justiça na distribuição dos custos do ajuste, que, pelo esboço da proposta apresentado, recaem sobre o setor privado, preservando o funcionalismo público. Os ganhos sobre a confiança dos agentes econômicos, por outro lado, seriam ainda mais expressivos se houvesse menos incertezas do lado das receitas sobre como será atingida a meta de déficit primário.

Questão aritmética – Editorial /O Globo

• Não há como contornar a hecatombe sem reformas, para conter o aumento de gastos acima das receitas

O debate mais aceso sobre política fiscal vem de longe. Mais precisamente desde o final do segundo governo Lula, quando a crise mundial, agravada em fins de 2008 pelo estouro definitivo da bolha especulativa imobiliária-financeira americana, serviu de pretexto para, por meio da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governo adotar o velho programa econômico do PT — intervencionista e estatista.

A política “anticíclica” de aumento de gastos de custeio também via injeção de recursos do Tesouro em bancos oficiais, para a concessão de créditos subsidiados, era terapia indicada. Mas de forma tópica. Tornou-se, no entanto, perene, entre outros equívocos cometidos.

Roteiro pronto – Editorial / Folha de S. Paulo

Numa conjuntura marcada pela profunda desmoralização das práticas políticas, seria de esperar que os candidatos à prefeitura tentassem reciclar seus modelos de campanha e de contato com o eleitor.

Talvez leve tempo; talvez nada mude nunca —de tal modo o profissionalismo do "marketing" se sobrepõe ao debate autêntico e à apresentação direta de cada postulante a um cargo público, no que tenha de diferenciador, de próprio, de divisivo que seja.

Ao contrário, torna-se esperado, e quase natural, que todo candidato invista sobretudo num consenso abstrato e pasteurizado em seus programas. É o que se viu, até agora, no horário eleitoral gratuito.

As dores – Graziela Melo

São dores
que cavam
na alma

as valas
profundas
do entristecer...

Eternas,
no passar
do tempo,

dormitam
por noites
infindas,

despertam
ao alvorecer


Oh! Ventos
que sopram
de longe

afeitos
à noite
e à guerra,

que levem
consigo
essas dores

por caminhos
mais distantes

às almas vazias,
às mais perversas
almas
da terra!!!