Juiz da Lava Jato classificou de 'bastante agressivas' as 'atitudes e afirmações' do ex-presidente, que publicamente disse que mandaria prender procuradores, ameaçou delegados e tem processado testemunhas, investigadores e até o magistrado
Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Julia Affonso e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo
Nos 15 minutos finais do interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feito pelo juiz federal Sérgio Moro, nesta quarta-feira, 10, em Curitiba, o magistrado questionou o petista sobre cinco fatos que podem caracterizar tentativa de intimidação às autoridades da Operação Lava Jato e advertiu o réu sobre a conduta “inadequada”.
São episódios de declarações públicas, em que Lula disse que poderia um dia “mandar prender” os procuradores da República que o investigam, que “lembraria dos delegados” que o conduziram coercitivamente, em março de 2016, que só ele poderia “brigar” com a Lava Jato, além de processos movidos contra testemunhas, investigadores e até “o próprio juiz”.
O interrogatório começou às 14 horas do dia 10, com um frio de 13 graus e uma leve garoa. A sede da Justiça Federal, no bairro Ahú, sitiada por um exército de policiais militares acionados para evitar protestos dos cerca de 20 mil manifestantes – a maior parte, membros do MST e de centrais sindicais – que foram a Curitiba, em defesa do petista.
‘Agressivas’. Depois de três horas de audiência, Moro colocou Lula contra a parede para falar sobre “atitudes e informações” descritas por ele como “bastante agressivas”. “Indo para a parte final das minhas indagações, são algumas perguntas sobre a atitudes e afirmações do senhor ex-presidente no curso desse processo.”
“Senhor ex-presidente durante as investigações da Operação Lava Jato, o senhor tem efetuado afirmações bastante agressivas contra os agentes da apuração dos fatos”, afirmou o juiz, que passou a elencar os supostos atos de intimidação.
“O senhor ainda promoveu ação de indenização contra uma testemunha, o senador Delcídio do Amaral Gomes, que foi julgada improcedentes; o senhor promoveu ação de indenização contra um delegado, que ainda tramita; o senhor ex-presidente promoveu ação contra um procurador da República, que ainda tramita; o senhor ex-presidente chegou até a propor ação criminal contra mim, por supostos abusos de autoridades e por unanimidade foi reputada inviável por oito desembargadores do TRF-4.”
Ao final, Moro quis saber: “Essas iniciativas foram mesmo de sua escolha senhor ex-presidente?”