domingo, 13 de agosto de 2017

Opinião do dia - José Álvaro Moisés

A população não se sente representada por quem elegeu e por quem está no poder. Os números sugerem o aparecimento de uma consciência crítica, uma característica sofisticada, na qual temos a democracia como ideal, mas nos sentimos livres para criticá-la de forma madura


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José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP), O Estado de S. Paulo, 13/8/2017

Esquerda no século XXI | Sérgio Besserman Vianna*

- O Globo

Luta de classes é um dos motores da história

Neste momento ocorre um “curso de pós-graduação” autointitulado Esquerda no Século XXI, com aulas da ex-presidente Dilma Roussef, Guilherme Boulos e outros dessa seara. É o mesmo instante em que nem uma única voz da “suposta” esquerda se posiciona com firmeza na condenação da ditadura descarada ora instalando-se na Venezuela.

Parece-me um bom momento para esclarecer um pouquinho do meu ponto de vista (de esquerda ) sobre o tema. Como o espaço é curto, as frases serão diretas e explícitas. Estaremos sempre abertos e interessados em uma discussão mais profunda.

As duas narrativas da esquerda e da direita do século XX morreram. A primeira, com o fracasso econômico e político do “socialismo real”; a segunda, com a debacle da “autorregulação dos mercados” na Grande Recessão de 2008, que está e continuará conosco por muitos anos.

O eleitor paga a conta | Jairo Nicolau

- O Globo

Congressistas acrescentaram R$ 200 milhões à conta. Ou seja, obterão mais dinheiro do Estado do que recebiam das empresas; é claro, levando em conta apenas o caixa 1
Durante duas décadas (1994 a 2014), a legislação permitiu que empresas dessem dinheiro para as campanhas eleitorais no Brasil. A cada eleição, o volume de recursos doados cresceu em relação à disputa anterior; nas eleições gerais de 2014, o total das doações (em caixa 1) das empresas para os candidatos e comitês dos partidos chegou a R$ 3,4 bilhões (valores atualizados).

Em setembro de 2015, o STF julgou a doação empresarial como inconstitucional. Sem o generoso recurso das empresas, quem financiará as campanhas no Brasil? Existe apenas duas alternativas: os cidadãos ou o Estado.

Desde a decisão do STF, o Congresso praticamente não discutiu alternativas para o financiamento das campanhas no Brasil. O tema exige uma deliberação cuidadosa, mas os congressistas parecem preocupados apenas em resolver uma equação contábil: como obter recursos rápidos para garantir que os gastos de campanha de 2018 não sejam muito diferentes dos de 2014.

Saco sem fundo | Merval Pereira

- O Globo

A questão do financiamento das campanhas eleitorais brasileiras voltou ao centro do debate político com a criação do tal Fundo Especial de Financiamento da Democracia (FFD) de R$ 3,6 bilhões aprovado por uma comissão especial e já rejeitado por parte dos deputados, inclusive o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

O mais grave é o que poucas pessoas notaram: esse Fundo Democrático não substitui o Fundo Partidário, que é distribuído pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anualmente aos partidos que participaram das eleições para a Câmara.

Na sua mais recente versão, estava em R$ 800 milhões, o que dá por cada voto válido R$ 12 que, com o contingenciamento, está valendo R$ 9,50. Há propostas para que o Fundo Democrático, que será dado a cada eleição, seja composto com as emendas dos deputados e senadores, para não aumentar o gasto público.

Campanhas melhores | Míriam Leitão

- O Globo

Os políticos têm que pensar bem no que pedem à sociedade brasileira. Antes de criarem um fundo com um valor bilionário, é fundamental que repensem os custos das campanhas e os métodos de convencimento dos eleitores. O padrão de marqueteiros com efeitos especiais e seus candidatos cenográficos não pode passar, agora, a ser financiado com o dinheiro dos nossos impostos.

Democracia tem um custo. Entende-se. Não há mais possibilidade de financiamento empresarial, as doações de pessoa física são, por natureza, menores, e espera-se que não haja mais caixa dois. A pergunta feita por muita gente é como então serão pagas as campanhas eleitorais.

O começo dessa conversa tem que ser uma outra pergunta: como devem ser as campanhas eleitorais? As enormes distorções que foram sendo criadas no Brasil precisam acabar, por vários motivos. O financeiro é apenas uma delas. A principal razão para alterar essa forma de fazer campanha é que ela distorce a democracia e manipula o eleitor.

Joesley na mira | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

PF, MP do DF, CVM e até mulher de Joesley ameaçam acordo da JBS

A toda hora surge um dado novo ameaçando as benesses mais do que camaradas do acordo de delação premiada entre a PGR e os irmãos Joesley e Wesley Batista, da J&F. A opinião pública ficou perplexa com a facilidade com que eles corromperam todo mundo, prepararam uma cilada para o presidente da República e se mandaram para os EUA, com passaportes, avião, lancha e luxo. Agora, é a própria Lava Jato que se insubordina contra isso.

O primeiro recado foi do plenário do Supremo, que abriu uma porta para a revisão do acordo dos Batista. Em seguida, a PF divulgou relatório atestando a inutilidade da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado contra os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros e o ex-presidente José Sarney. Foi considerado a primeira de uma série de contestações aos acordos, inclusive dos irmãos da J&F. E foi mesmo.

Lulécio 2018 | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Após briga para ver quem era mais sujo, PT e PSDB tentam abraço de afogados

Em 2002, quando Lula ainda batalhava contra o estigma de eterno derrotado para chegar ao Planalto vencendo o PSDB, ficou famosa a dobradinha Lulécio, um arranjo informal em Minas para que eleitores sufragassem ao mesmo tempo o petista para a Presidência e Aécio Neves para o governo.

O fato é que o slogan colou, e o tucano José Serra foi derrotado em Minas, fenômeno que se repetiria quatro anos depois, com Geraldo Alckmin.

Desde a vitória de Lula, até as emas do Alvorada comentavam que, graças à política de boa vizinhança nas Alterosas, Aécio conseguira manter Dimas Toledo à frente de Furnas, estatal que é federal, mas cuja influência política local é imensa.

Limites do autoengano? | Pedro S. Malan

- O Estado de S.Paulo

Supor que ‘nada é mais elástico que a economia’ pode ser fatal

A inimaginável tragédia que expressa o colapso econômico e o caos político da Venezuela de hoje pode constituir um ponto fora da curva, mas o fato é que não faltam experimentos populistas – de “esquerda” e de “direita” – na História da América Latina.

A carta que Perón, como presidente da Argentina, escreveu ao presidente do Chile, general Ibáñez (1953), é um dos exemplos mais admiráveis da postura que se encontra na raiz da crise venezuelana: “Dê ao povo, especialmente aos trabalhadores, tudo o que possa. Quando lhe parecer que lhes dá demasiado, dê-lhes ainda mais. Verá o efeito. Todos tratarão de assustá-lo com o fantasma de economia. É tudo mentira. Não há nada mais elástico que esta economia que todos temem tanto, porque não a conhecem”.

A data da carta é importante. O início dos anos 50, em parte por causa da guerra na Coreia, foi marcado por extraordinário aumento dos preços de exportação de países produtores de commodities, como Argentina, Brasil, Colômbia, Chile e Peru. A melhoria dos termos de troca e do volume da exportação permitiu um crescimento da renda em muito superior ao do produto doméstico, dando fôlego a certos experimentos como os sugeridos por Perón em sua carta, na suposição de que “nada é mais elástico que a economia”.

A picareta política e o buraco das contas | Rolf Kuntz

- O Estado de S.Paulo

Até a boa intenção dos constituintes facilita desperdícios e golpes com o dinheiro público

É preciso olhar para o jogo feio dos políticos e para o desarranjo das instituições, a começar pela muito louvada Constituição cidadã, para entender o buraco das contas públicas nacionais. Esse buraco é cavado principalmente com a picareta política. Esqueçam, por enquanto, os inocentes manuais de finanças públicas e de macroeconomia. Revejam o noticiário da semana. Centrão cobra cargos e ameaça travar Previdência foi a manchete do Estadão na quinta-feira.

Não se trata de apoiar ou deixar de apoiar por ideologia, fidelidade a um mandato ou opinião a respeito de um tema particular. Há quem negue a existência de um déficit previdenciário, assim como há, até nos Estados Unidos, quem negue a chegada à Lua e outras façanhas do programa espacial. Há quem critique a pauta de reformas como ameaça a direitos fundamentais. Mas para boa parte dos congressistas a votação de projetos polêmicos é principalmente uma ocasião de negócio com o detentor da caneta mágica dos favores. Isso, no entanto, é só um detalhe, especialmente desagradável, no quadro geral de um amplo desarranjo político. Esse desarranjo envolve tanto o Legislativo quanto o Judiciário e a Procuradoria-Geral da República, uma entidade com ares de quarto Poder, embora a palavra “Poder” só apareça, no texto constitucional, na denominação de três grandes órgãos do Estado.

O futuro do emprego | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Estudo da consultoria McKinsey estima que, até 2055, com margem de erro de 20 anos para mais ou para menos, 51% dos postos de trabalho no mundo deixarão de existir devido à automação. Devemos lamentar ou celebrar isso?

A questão não é nova e já ocupou a atenção de economistas do calibre de David Ricardo (1772-1823), Karl Marx (1818-1883) e John Maynard Keynes (1883-1946). Destes, apenas Ricardo via o problema com pessimismo. Para ele, o maquinário tornaria "a população redundante e deterioraria as condições do trabalhador".

A volta do João Ferrador | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Nos tempos de sindicalista, Lula gostava de usar uma camiseta com a imagem de João Ferrador. O personagem de cara amarrada ilustrava os quadrinhos da "Tribuna Metalúrgica", distribuída no ABC. Era um símbolo dos trabalhadores invocados com os patrões e a ditadura militar. Seu bordão dizia tudo: "Hoje eu não tô bom".

Depois de três derrotas eleitorais, Lula aposentou o mascote na campanha de 2002. Saía o militante raivoso, entrava o "Lulinha paz e amor". A metamorfose deu certo. Ele se aproximou dos empresários, seduziu a classe média e chegou ao Planalto.

Às vésperas de outra eleição, o ex-presidente flerta com um retorno ao passado. Na noite de sexta, ele voltou a encarnar o líder radical em ato na UFRJ. Discursou contra a Lava Jato, a imprensa, a elite, o governo e até as manifestações de junho de 2013, idealizadas por boa parte da esquerda.

A revoada dos perus | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

O “distritão” seria um retrocesso institucional, pois os parlamentares serão eleitos sem praticamente nenhum vínculo partidário, a não ser o elo financeiro da partilha dos recursos do “fundão”

A aprovação do chamado “distritão” (depois explico) e do fundo de financiamento eleitoral de R$ 3,6 bilhões pela comissão especial que discute a reforma política na Câmara pode despertar forças que estavam adormecidas desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a começar pelo movimento Vem Pra Rua, que convocou manifestação de protesto para 27 de agosto intitulada “Marcha Contra a Impunidade”, em todo o país. A reação às duas propostas é tão forte que alguns políticos já estão se descolando da reforma, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que criticou os dois projetos.

Na Câmara, a reação de grande número de deputados parece uma revoada de perus às vésperas da ceia de Natal, para voltar à analogia avícola. Todos os deputados que se sentiram ameaçados pelo “distritão” (sistema no qual são eleitos os deputados mais votados, independentemente da votação de sua legenda) estão contra a mudança. São em número suficiente para barrar a emenda constitucional que viabilizaria a medida. O “distritão” é um retrocesso institucional, pois os parlamentares serão eleitos sem praticamente nenhum vínculo partidário, a não ser o elo financeiro da partilha dos recursos do “fundão”, digamos assim.

O interminável mar de lama | Fernando Gabeira

- O Globo

“Quantas toneladas/ exportamos de ferro? Quantas lágrimas/ disfarçamos sem berro?” Estes versos de Drummond contam uma longa história da mineração em Minas. Uma história que se confirmou pela anulação do processo de Mariana sobre o mar de lama que provocou 19 mortos, dezenas de lares perdidos e um rio envenenado.

O processo foi anulado porque a polícia teria lido e-mails da empresa, sem autorização. Ela só poderia ler e-mails de um período determinado. O argumento da anulação: violência contra a privacidade da Samarco.

Tenho dificuldades em entender por que a quebra da privacidade de uma empresa é superior à morte de 19 pessoas, destruição de comunidades e envenenamento do mais importante rio do litoral brasileiro.

Foi o maior desastre ambiental do Brasil. Precisa ser julgado. Se a polícia leu e-mails demais, basta neutralizar as informações não permitidas. O essencial está lá: a lama, as mortes. O desastre não é um segredinho da Samarco. É uma realidade que todos que viram sentiram e choraram.

O Mediterrâneo de cada um | Cacá Diegues

- O Globo

Não sei se Ivan tinha sido atraído pelo tráfico ou não. Mas o que fazer quando se é jovem e se percebe que as oportunidades, que já eram poucas, vão se tornando nenhuma?
Tudo tem história. Mesmo o acaso, que quase sempre comanda nossas vidas, só é acaso para nós que não conhecemos as regras de sua trajetória, que não sabemos de onde ele vem. Isso não significa que estamos condenados a ser vítimas da História, que não podemos mudá-la. Mas, para isso, não basta a nossa vontade. Precisamos também de talento, inteligência e empenho. Precisamos, sobretudo, entender o fato com que estamos lidando em suas circunstâncias.

Centenas de migrantes do Chifre da África, fugindo das guerras, da fome e das epidemias (como a de cólera, que grassa no Iêmen), pagam a traficantes de gente para levá-los, pelo Mar Mediterrâneo, às regiões menos miseráveis do Golfo Pérsico ou, melhor ainda, do sul da Europa. Eles desembarcam sem destino nas praias da Calábria ou da Sicília, quando não são jogados ao mar para que os traficantes possam esconder, dos navios de patrulha da Itália e da Espanha, sua carga proibida.

Reforma ultrajante – Editorial | O Estado de S. Paulo

Diante da premente necessidade de uma profunda reforma política, que melhore a qualidade da representação e renove o sistema partidário, é um ultraje o que a Câmara dos Deputados, por meio da comissão responsável por estudar o tema, vem fazendo. Os pontos aprovados na semana passada fazem parecer que o objetivo da comissão é justamente piorar ainda mais o sistema político, com alterações que são verdadeiras aberrações.

Na quarta-feira passada, a comissão de reforma política da Câmara dos Deputados aprovou, por 25 votos a 8, o relatório apresentado pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP). Entre as medidas propostas está a criação de mais um fundo, feito com recursos públicos, a ser destinado às campanhas políticas. Como se não bastassem o fundo partidário e os recursos que o Estado deixa de arrecadar com o chamado horário gratuito – que nada tem de gratuito –, há políticos desejando destinar R$ 3,6 bilhões, oriundos do bolso dos contribuintes, para bancar suas campanhas políticas.

Estado insiste em explorar a sociedade – Editorial | O Globo

A sociedade incorporou como patrimônio o controle da inflação e começa a rejeitar a pagar o custo crescente de uma enorme máquina pública

A semana começa com a reafirmação de um fracasso institucional. Os responsáveis pela governança da República renovam o atestado da sua incapacidade de controlar com rigor as contas públicas, como determina a Constituição.

O déficit nas contas públicas deste ano aumenta de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões. O rombo previsto para o ano que vem pode subir de R$ 129 bilhões para R$ 149 bilhões. Ou seja, os 208 milhões de brasileiros devem desembolsar R$ 308 bilhões a mais para cobrir gastos extras do Executivo, Legislativo e Judiciário.

Entre fundos e distritos – Editorial | Folha de S. Paulo

São incertas, mas não diminutas, as possibilidades de que a Câmara dos Deputados venha a aprovar uma proposta de reforma política cujos poucos pontos positivos não compensam o que traz de equivocado e de oportunista.

Consolidado por pequena maioria de votos em uma comissão especial daquela Casa, o relatório originalmente produzido pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP) sugere mudanças constitucionais de relativa monta, sem entretanto resolver os aspectos mais nocivos do atual sistema.

O ponto principal do texto –ao menos no que diz respeito aos interesses dos próprios políticos– é a criação de um fundo público para custear as campanhas eleitorais.

Orçado em R$ 3,6 bilhões, viria a somar-se às verbas já existentes do fundo partidário (R$ 819 milhões neste ano) e aos valores que, por meio de renúncia fiscal, são destinados ao pagamento do tempo de propaganda no rádio e na TV, indevidamente conhecido como "horário eleitoral gratuito".

A cada eleição, Brasil tem novas regras

Mudanças vêm dos anos 1990; especialistas apontam conveniência em atual reforma

Alexandra Martins e Marianna Holanda | O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Enquanto o Congresso avança na aprovação do distritão e de um fundo bilionário para bancar as campanhas do próximo ano, o Brasil já acumula uma mudança eleitoral a cada disputa desde a redemocratização. Entre 1993, quando acabou o prazo para a implementação das disposições transitórias da Constituição de 1988, e 2015, quando foi realizada a última minirreforma política, as regras do jogo mudaram, em média, de 18 em 18 meses.

Quase todas as alterações foram feitas em véspera de ano eleitoral. Um marco aprovado um ano antes para entrar em vigor na eleição de 1994 foi a permissão do financiamento de campanhas por empresas. Quatro anos depois, em 1997, também em véspera de disputa, uma emenda à Constituição deu a possibilidade a presidente, governadores e prefeitos de se reelegerem, o que facilitou o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Foram 14 alterações relevantes implementadas ao longo de 22 anos por meio de projetos de lei, propostas de emenda à Constituição (PECs) e decisões judiciais. Em três décadas, o Legislativo criou cinco comissões para discutir reforma política – a última delas aprovou uma série de novas normas para a eleição de 2018, que serão levadas agora ao plenário da Câmara. O Judiciário, porém, promoveu as mudanças mais relevantes.

Proposta 'recicla' mais da metade de artigos de 2015

De 51 artigos alterados há 2 anos, 27 aparecem novamente em relatório do deputado Vicente Cândido apresentado à comissão da reforma política

Thiago Faria | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A proposta de reforma política em discussão na Câmara dos Deputados, caso seja aprovada, vai alterar mais da metade dos artigos que já passaram por mudanças na minirreforma eleitoral de dois anos atrás. Na ocasião, deputados e senadores da atual legislatura aprovaram medidas como limite de gastos das campanhas, prazos mais curtos para propaganda eleitoral e novas regras para doações.

No total, 51 artigos do Código Eleitoral, da Lei dos Partidos Políticos e da Lei das Eleições foram alterados pelo projeto aprovado em setembro de 2015. Desses itens, 27 aparecem novamente no relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP) apresentado à comissão especial da reforma política da Câmara dos Deputados.

Temer avalia testar parlamentarismo em seu governo

‘Cláusula de transição’ permitiria a presidente nomear primeiro-ministro ainda em 2018, se proposta de emenda à Constituição for aprovada

Vera Rosa | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer está disposto a fazer um teste parlamentarista em seu governo, no último ano do mandato. Temer quer incentivar campanha em favor de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para adotar o parlamentarismo no País, a partir de 2019, contendo uma “cláusula de transição” que permita instalar o novo sistema no fim do ano que vem.

A ideia de nomear um primeiro-ministro no segundo semestre de 2018, caso o Congresso aprove uma PEC mudando o regime de governo, tem sido discutida nos bastidores do Palácio do Planalto. Ancorada pela crise política, diante de um cenário marcado pelo desgaste dos grandes partidos e de seus pré-candidatos nas próximas eleições, a estratégia é bem aceita por dirigentes do PMDB, mas não há consenso no PSDB para a adoção no atual governo.

“O parlamentarismo está no nosso programa. Nada mais oportuno do que discutir o assunto. Mas não achamos que isso seja solução para 2018, quando teremos eleições”, disse o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). “Queremos preparar o caminho para 2022”, completou.

94% dos eleitores não se veem representados por políticos

Classe política enfrenta rejeição generalizada

A pouco mais de um ano da eleição, pesquisa Ipsos revela que só 6% se sentem representados pelos políticos nos quais já votaram e apenas 50% defendem a democracia

Daniel Bramatti, O Estado de S.Paulo

A pouco mais de um ano das eleições para a Presidência, os governos estaduais e o Congresso Nacional, os brasileiros manifestam rejeição generalizada à classe política, independentemente de partidos, e ao atual modelo de governo. Segundo pesquisa do instituto Ipsos, apenas 6% dos eleitores se sentem representados pelos políticos em quem já votaram.

Desde novembro do ano passado houve queda de nove pontos porcentuais na taxa dos que se consideram representados. A onda de negativismo contamina a percepção sobre a própria democracia: só metade da população considera que esse é o melhor regime para o Brasil, e um terço afirma que não é. Quando os eleitores são questionados especificamente sobre o modelo brasileiro de democracia, a taxa de apoio é ainda mais baixa: 38% consideram que é o melhor regime, e 47% discordam. A pesquisa também mostra que 74% são contra o voto obrigatório.

Partidos nanicos ganham fôlego

Proposta em discussão na Câmara deve afrouxar a regra, criada pelo Senado, que limitava o número de partidos com acesso a tempo de TV nas eleições. Sem mudanças, dizem deputados, medida não será aprovada para 2018.

Barreira frouxa

Câmara flexibiliza proposta que limita recursos e tempo de TV de partidos menores

Eduardo Bresciani | O Globo

-BRASÍLIA- O relatório que deve ser votado esta semana na comissão da Câmara para a fixação de uma cláusula de barreira que restrinja o acesso dos partidos ao fundo partidário e ao tempo de rádio e televisão acabou afrouxando as exigências previstas no texto aprovado no Senado. Para efeito de comparação, se as regras previstas para 2018 em ambos os projetos tivessem valendo em 2014, apenas 13 partidos passariam a barreira criada pelo Senado, enquanto 18 passariam a regra proposta pela comissão da Câmara, 38% a mais. Caso o novo texto seja aprovado esta semana na comissão especial, ele irá a plenário, onde precisa de duas votações, e voltará ao Senado, que deve confirmar as mudanças.

Uma corrida contra o tempo para que mudanças ocorram em 2018

Líderes na Câmara planejam começar a votar a reforma política em plenário nos dias 21 e 22 próximos, para garantir aplicação na próxima eleição

Cristiane Jungblut | O Globo

Os líderes dos partidos na Câmara querem começar a votar a reforma política em plenário nos dias 21 e 22 deste mês. A ideia, segundo parlamentares do DEM, PTB e PRB, é começar pela proposta de emenda constitucional (PEC) que trata do fundo eleitoral e da criação do chamado distritão para a eleição de 2018. As medidas são relatadas pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP). O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), no entanto, diz que para o Senado o maior interesse é na PEC que trata de cláusula de barreira e fim das coligações em eleições proporcionais, relatada pela deputada Shéridan (PSDB-RR). A proposta já passou pela Casa, mas como sofreu alterações terá voltar caso seja aprovada na Câmara. Para valerem para as próximas eleições, todas as mudanças precisam estar em vigor até o dia 7 de outubro.

Por 2018, Alckmin e Doria rodam o país

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em Curitiba, na semana passada, o prefeito paulistano João Doria (PSDB) ouviu o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), dizer que "espera que, em breve, ele coloque o estilo empresarial de governar em todo o país".

Aliados seus, entusiasmados com eventual campanha nacional, procuraram saber o paradeiro do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que pretende disputar a Presidência da República em 2018.

Estava na pequena Monte Mor (55 mil habitantes), no interior paulista, onde ele gravava vídeo ao lado de uma beneficiária de programa de habitação do governo.

Faz parte de sua rotina. Desde 2011, dos 645 municípios paulistas, o governador não visitou ainda apenas 17.

As viagens para fora do Estado foram menos numerosas: nove neste ano. Mas a tendência é esse número aumentar em breve.

Estudo revela ‘crítica radical’ de brasileiro

Para pesquisador da USP, falta de representatividade faz eleitor formar ‘consciência’; conceito de democracia não é claro, diz professor da FGV

Gilberto Amendola | O Estado de S.Paulo

A falta de representatividade é a chave para entender o descontentamento com a política e a democracia brasileira apontada na pesquisa do instituto Ipsos. Essa é a visão de cientistas políticos que tiveram acesso ao levantamento em que 94% dos entrevistados dizem não acreditar que os políticos que estão no poder representam a sociedade. Em consequência disso, 86% afirmam que a democracia no País não é respeitada.

Para o cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP), a pesquisa mostra uma crítica radical ao modo como a política está funcionando no Brasil.

“A população não se sente representada por quem elegeu e por quem está no poder. Os números sugerem o aparecimento de uma consciência crítica, uma característica sofisticada, na qual temos a democracia como ideal, mas nos sentimos livres para criticá-la de forma madura”, disse Moisés.

Guernica | Murilo Mendes

Subsiste, Guernica, o exemplo macho,
Subsiste para sempre a honra castiça,
A jovem e antiga tradição do carvalho
Que descerra o pálio de diamante.

A força do teu coração desencadeado
Contactou os subterrâneos de Espanha.
E o mundo da lucidez a recebeu:
O ar voa incorporando-se teu nome.

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In: MENDES, Murilo. Antologia poética. Sel. João Cabral de Melo Neto. Introd. José Guilherme Merquior. Rio de Janeiro: Fontana; Brasília: INL, 1976