sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Opinião do dia: PPS

"Um Partido que lutará pela implantação do parlamentarismo, pelas reformas estruturais de que o país necessita e pela preservação dos direitos consagrados constitucionalmente. Um Partido que se dispõe a repensar tudo, 'mas que não abre, de forma alguma, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana.

Um Partido que é e será um espaço aberto à participação de todos os que têm aspiração de construir essa sociedade. Um Partido que assume sem medo compromissos com o presente e o futuro, recusando a infalibilidade e o dogma, mas tendo em conta a experiência do passado.

Um Partido que não tem fórmulas prontas e acabadas, e que se propõe a discutir e formular um Projeto para a Nação Brasileira, com a colaboração de todas as forças do campo democrático. Esse é o desafio lançado a todos os militantes deste novo Partido e o convite a todos os que queiram nele se integrar."
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Manifesto de fundação do PPS. São Paulo/SP, 26 de janeiro de 1992

Roberto Freire: Lula, condenado e ficha suja

- Diário do Poder

O Estado Democrático de Direito prevaleceu. A Justiça brasileira e as instituições democráticas do país deram mais uma vigorosa prova de seu bom funcionamento no julgamento realizado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, que analisou o recurso apresentado pelos advogados do ex-presidente Lula contra a condenação a 9 anos e 6 meses de prisão proferida em primeira instância pelo juiz Sergio Moro no processo referente ao triplex no Guarujá (SP). Para além de qualquer dúvida, o relator João Pedro Gebran Neto, o revisor Leandro Paulsen e o juiz federal Victor Laus foram categóricos ao corroborar a sentença condenatória inicial por unanimidade, inclusive ampliando a pena para 12 anos e um mês pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Demolindo a narrativa mentirosa entoada pelos áulicos do lulopetismo nos últimos meses, o tribunal entendeu que não só havia provas que incriminavam o ex-presidente como elas eram abundantes e incontestáveis. Em seu voto, o desembargador Laus afirmou: “As provas resistiram, sejam as documentais ou as testemunhais. Estamos diante de provas que resistiram à crítica, ao contraponto, ao embate”. Seu colega Paulsen foi além: “Há elementos de sobra para demonstrar que [Lula] concorreu para os crimes de modo livre e consciente, para viabilizar esses crimes e perpetuá-los”. O relator Gebran também foi enfático: “As provas colhidas levam à conclusão de que, no mínimo, tinha ciência e dava suporte àquilo que ocorria no seio da Petrobras, destacadamente a destinação de boa parte das propinas ao Partido dos Trabalhadores”.

*Fernando Gabeira: A longa marcha pelo tapetão

- O Estado de S.Paulo

O jogo acabou. O Brasil livrou-se de um populista em 2018. Mas não do populismo

De vez em quando, o Brasil entra nuns desvios e perde o foco, mesmo vivendo uma crise profunda, com alarmes assustadores, como o rombo na Previdência. Esse desvio foi uma escolha da esquerda. E o País, no conjunto, acabou distraído com a sorte do ex-presidente Lula.

Havia mais gente nas filas de vacina contra a febre amarela do que manifestantes na rua. Não perdemos o fio terra.

Esse descaminho começou com a tática do PT de negar a montanha de evidências trazidas pela Lava Jato. A tarefa principal era salvar Lula da cadeia. Foi o motivo de ele ter-se declarado candidato a presidente, de novo.

Com esse movimento, associaram a sorte de Lula ao rumo das eleições e acharam a mola política com que iam saltar a montanha de evidências: explicar os fatos como uma conspiração da Justiça; se as pessoas não percebem isso, é porque a conspiração tem outro braço poderoso, a grande imprensa.

Para a esquerda, a sorte de Lula, a das eleições e da democracia são a mesma coisa. Não perdi tempo tentando discutir isso. É apenas uma cortina de fumaça que nos afasta da tarefa de reconstruir o País e, dentro dos limites, realizar mudanças no sistema político.

A decisão do TRF-4 foi uma espécie de choque da realidade, embora uma perspectiva política carregada de religiosidade possa ver nessa derrota apenas um prenúncio da grande vitória final.

Foram muitas as visões. Viram alguém com um cartaz “Forza Luca” na torcida do Bayern de Munique e acharam que era “Forza Lula”. Viram ônibus de mochileiros vindos da fronteira e acharam que eram apoiadores de Lula.

Hélio Schwartsman: Lula e as alucinações

-Folha de S. Paulo

Alguns neurocientistas descrevem a percepção como uma alucinação controlada, tantas são as gambiarras de que o cérebro se utiliza quando organiza as toneladas de dados que recebemos de nossos sentidos. A imagem é provavelmente um pouco exagerada, mas explica bem a reação de alguns petistas e simpatizantes à confirmação da condenação de Lula pelo TRF-4. A ideologia e investimentos emocionais estão entre as gambiarras que moldam nossas percepções.

Apesar de os três desembargadores terem fundamentado de forma convincente a decisão de manter a condenação, alguns militantes insistem em descrever o julgamento como uma farsa jurídica, uma versão tropical dos Processos de Moscou, montada para destruir a principal liderança do único partido verdadeiramente popular do Brasil.

Não é que a condenação esteja acima de qualquer crítica. Embora a argumentação do relator tenha sido suficiente para dirimir as dúvidas que eu tinha, estou certo de que um advogado experiente poderá apontar uma infinidade de problemas. Mas, descontadas diferenças doutrinárias, custa-me crer que eles bastem para caracterizar o juízo como uma fraude.

Merval Pereira: A letra fria da lei

- O Globo

A defesa do ex-presidente Lula tem todo direito de recorrer aos tribunais superiores para tentar reverter a decisão do TRF-4 e conseguir liberá-lo para disputar a eleição deste ano. Mas os tribunais superiores têm também a obrigação de analisar os recursos em tempo próprio para que a eleição não transcorra em insegurança jurídica, permitindo que um candidato considerado inelegível, enquadrado na Lei da Ficha Limpa, registre seu nome na urna eletrônica sem a garantia de que poderá mesmo competir.

Os eleitores não podem ser burlados pela propaganda enganosa do PT e muito menos levados ao erro ao votar em um candidato que está subjudice, pois anularão seus votos se a decisão final e retardatária da Justiça confirmar a inelegibilidade de Lula.

Muito pior será se a lentidão dos tribunais superiores permitir que o candidato do PT, na eventualidade de sairse vitorioso nas urnas, eleja-se e tome posse sem que uma decisão final tenha sido proferida. Ficará a sensação para a opinião pública de que a letargia já conhecida dos tribunais superiores, especialmente no Supremo Tribunal Federal (STF), mais uma vez ajudou a impunidade.

Marina Silva: Agora o "foro"

- Valor Econômico

A justiça é para todos, com isso hão de concordar os que comemoram e os que lamentam a condenação de Lula

A decisão colegiada do Tribunal Regional Federal da 4ª Região de condenar por unanimidade o ex-presidente Lula estabelece um novo parâmetro no combate à corrupção que, entretanto, só será efetivo e justo quando o Brasil derrubar o muro do foro privilegiado. A condenação de um ex-presidente da República que ainda mantém uma evidente força política sinaliza que pode se tornar verdadeira a antiga frase "ninguém está acima da lei". Mas a pergunta popular "e os outros?" esbarra no lamentável muro de proteção da impunidade.

O apoio da sociedade ao trabalho da Justiça e às investigações da operação Lava-Jato não deve ser encarado apenas como um estímulo, mas também como uma cobrança, pois coloca para as instituições e operadores da justiça um imperativo ético de fazer avançar todas as denúncias de corrupção apresentadas pelo Ministério Público, sem nenhuma distinção partidária e ideológica. E o foro privilegiado, anomalia que cria diferenças inaceitáveis para a vigência da cidadania plena, é hoje o principal impedimento a esse avanço.

Eliane Cantanhêde: O candidato El Cid

- O Estado de S.Paulo

O PT avisa que a candidatura Lula está viva, mas só para ‘afugentar os Moros’

Ao ratificar Lula para a Presidência da República, a Executiva Nacional do PT está cumprindo uma formalidade, fazendo uma deferência para seu grande líder e acenando com um “El Cid” para as eleições, até que a Justiça siga seu curso e decida não só o destino do candidato Lula, mas também do cidadão Lula. A realidade e a ficção andam juntas e, muitas vezes, a realidade supera a ficção.

El Cid, cavaleiro espanhol, é um misto de personagem real e de ficção, ora endeusado como herói, ora apontado como mercenário. Para compor a lenda, ele foi amarrado a um cavalo depois de morto, com armadura e espada, para, de tão temido e poderoso, afugentar os mouros e vencer a guerra “na moral”.

A guerra fundamental de Lula e do PT agora não é eleitoral nem contra outros partidos e candidatos, mas sim na Justiça, para evitar a prisão de Lula. Por 6 a 5, o Supremo decidiu em 2016 que condenados em segunda instância, como ele, já podem ser presos, mas ministros do próprio Supremo continuaram tomando decisões em contrário e um dos seis votos vitoriosos pode mudar: o do ministro Gilmar Mendes.

Bruno Boghossian: Lula é o plano B

- Folha de S. Paulo

Às 17h45 de quarta-feira, a campanha presidencial de Lula se tornou o plano B do PT para as eleições deste ano. Cada vez mais distante das urnas, o ex-presidente vai usar o debate sobre sua candidatura não apenas como um foro de defesa pessoal, mas como mecanismo para manter vivo seu protagonismo político e um projeto partidário atrelado a sua imagem.

Depois da dura e unânime condenação de Lula em segunda instância, a disputa pelo Palácio do Planalto deixou de ser uma missão factível. A luta pelo registro de sua candidatura continuará, mas apenas como pretexto para mobilizar militantes, movimentos sociais e partidos aliados que possam dar fôlego suficiente ao PT para atravessar 2018.

A cúpula petista insiste que não há alternativas a Lula porque, de fato, não há. Ainda que Jaques Wagner ou Fernando Haddad sejam escalados para substituí-lo, as chances de vitória serão remotas e o partido provavelmente sairá menor das urnas.

Míriam Leitão: Futuro imediato

- O Globo

As lutas de Lula nas frentes política e criminal. A visão mais frequente nos meios jurídicos é que existem espaços para adiar a prisão do ex-presidente Lula, mas não existem espaços para evitar a inelegibilidade. Pode-se evitar a prisão agora, com medida liminar suspensiva, tanto no STJ quanto no STF. Já a Lei da Ficha Limpa é de aplicação quase automática. A defesa precisará ser mais eficiente do que foi até agora porque os recursos têm que ser sólidos.

Os pedidos de habeas corpus que certamente serão impetrados pelos advogados de Lula serão decididos pelos ministros Felix Fisher, no STJ, e Edson Fachin, no Supremo. Os HCs podem pedir a suspensão da ordem de prisão ou podem requerer anulação da condenação. Deferido ou indeferido o HC, os ministros vão querer levar imediatamente a plenário. Ninguém quer ficar com o peso de uma decisão solitária sobre essa questão. A liminar pode ser concedida, ou não, mas o ministro deve buscar a visão do colegiado. Há uma pressa políticoinstitucional de que isso seja decidido e a tendência dos juízes é distribuir o ônus da decisão com o pleno de cada tribunal. Uma fonte que acompanha detidamente tudo o que se passa nos julgamentos da LavaJato acha que há mais chance de o HC ser concedido no Supremo do que no STJ.

Dora Kramer: Nenhuma dúvida razoável

- Revista Veja

Apesar da solidez dos fatos, o PT seguirá tentando criar atrito

A decisão do Tribunal Federal da 4ª Região não deixou margem a qualquer dúvida razoável sobre a culpa que levou o juiz Sergio Moro a condenar Luiz Inácio da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Falou sobre isso de modo eloquente o aumento da pena em dois anos e sete meses. Ainda assim, para a serenidade dos ânimos no país não há solução boa, tal a dimensão do que Lula resolveu criar para o Brasil.

Condenado por unanimidade em segunda instância, réu em mais meia dúzia de processos, o ex-presidente seguirá importunando o país. Perturbação cujo único objetivo é sustentar a ideia de que o PT vive e continuará sobrevivendo como se não carregasse o peso da decadência decorrente do desvio em que enveredou o partido.

Desde que se iniciou a queda da máscara ética e politicamente renovadora sob a qual atuou o PT até a conquista da Presidência da República, os petistas tiveram várias oportunidades de se reinventar mediante franca autocrítica, a fim de levar a legenda de volta aos compromissos originais firmados há quase três décadas. As sugestões nesse sentido foram rechaçadas. O partido escolheu a beligerância; briga com os fatos e agride a institucionalidade sem se importar com os danos imputados à sociedade e os riscos à estabilidade institucional.

Ricardo Noblat: A escolha do PT

- Blog do Noblat

Ser ou não ser? Sobreviver a Lula ou arriscar-se a ir com ele para o inferno? Eis a questão que se põe para o PT desde que os três tenores de Porto Alegre, por unanimidade, condenaram Lula pela segunda vez e aumentaram de oito para doze anos uma pena que em breve deveria prescrever.

Até a véspera do julgamento, o PT imaginava ir com Lula pelo menos para o purgatório do segundo turno da próxima eleição quando então ele seria derrotado. De todo modo, menos mal. Dada às circunstâncias, sairia no lucro. Dos seus atuais 67 deputados federais, talvez a metade se reelegesse.

Depois dos 3 x 0, segurar na alça do caixão de Lula até que ele baixe à sepultura ganha ares de suicídio. E só quem perde o encanto pela vida se suicida. Não parece ser o caso de boa parte dos líderes do PT que viveram todos esses anos à custa do bornal de votos de Lula e que agora desejam sobreviver ao seu desaparecimento.

Mas Lula tudo fará para que o PT compartilhe a sua sorte. Na última quarta-feira, vestiu a uma camisa vermelha e saiu por aí. Ontem, baixou na sede do partido e em discurso para a militância disse que a candidatura à vaga de Temer não mais depende dele, depende dela e dos devotos espalhados pelo país.

Luiz Carlos Azedo: O conjunto da obra

- Correio Braziliense

O ex-presidente Luiz Inácio da Silva foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), com sede em Porto Alegre, por causa de um sonho de consumo familiar: o tríplex de Guarujá. Pode ser que ainda sofra nova condenação por desejo da mesma ordem, no caso do sítio de Atibaia, que ainda está em curso na 13ª Vara Federal de Curitiba, cujo titular é o juiz federal Sérgio Moro. Suas ambições pequeno-burguesas acabaram desaguando em processos de natureza criminal. Para evitar a prisão, que considera injusta, Lula resolveu politizar seu julgamento e manter a qualquer custo uma candidatura natimorta à Presidência. A rigor, não poderá concorrer por causa da Lei da Ficha Limpa.

Lula não se imagina na mesma situação do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que pôs uma meteórica carreira política a perder em razão de sonhos de consumo e hoje está preso em Curitiba, para onde foi transferido com mãos algemadas e pés acorrentados. A rigor, porém, os meios utilizados para viabilizar os respectivos projetos de poder foram iguais, com vasos comunicantes no cartel das empreiteiras que desviaram recursos da Petrobras, da construção de estádios de futebol e de obras de infraestrutura para financiar projetos de poder e de enriquecimento pessoal. Zero diferença em relação a adversários que também se beneficiaram do desvio de recursos públicos para chegar e se manter no poder.

Celso Ming: Depois do esperneio

- O Estado de S.Paulo

Uma coisa é pregar desobediência civil e abrir o discurso de que a condenação do ex-presidente Lula em segunda instância, por unanimidade de votos, não deve ser respeitada – como se viu nesta quinta-feira na reunião do Diretório Nacional do PT. E outra, bem diferente, é o que acabará prevalecendo.

Nas próximas semanas se saberá o que não terá passado de esperneio e o que o PT e o ex-presidente Lula de fato farão a partir de tudo o que aconteceu e ainda está para acontecer. A pré-candidatura Lula não só está mantida, como foi proclamada como reação oficial contra as decisões da Justiça.

Recusar um plano B e manter a candidatura a qualquer custo esbarram com importante obstáculo. O PT terá de construir alianças, não só para a candidatura à Presidência da República, mas, também, para as campanhas para governadores e membros do Congresso. Além de questionar a função institucional do Poder Judiciário, a insistência na insubordinação tenderá a criar indefinição e insegurança, fatores que tendem a prejudicar qualquer estratégia eleitoral.

Enquanto Lula permaneceu como pré-candidato relevante, alguns dos chefes políticos do Norte e do Nordeste se reaproximaram do PT. Aconteceu, por exemplo, com José Sarney (MDB-AP), com Eunício Oliveira (MDB-CE), com Renan Calheiros (MDB-AL) e Jader Barbalho (MDB-PA). Esses e outros políticos tenderão agora a tomar outro rumo. Não têm por que se atrelar à carroça do PT em seus Estados, se não houver candidatura firme, invulnerável a injunções de qualquer natureza. Até mesmo partidos de esquerda, historicamente ligados ao PT, como o PCdoB e o PDT, já estão lançando candidatos próprios. Agem como se não pudessem mais contar com a força eleitoral de Lula.

José de Souza Martins: Meias palavras

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

O escritor e membro da Academia Brasileira de Letras João Ubaldo Ribeiro colecionava fotos de placas, avisos e anúncios, disseminados pelo Brasil inteiro, escritos em português vulgar e frequentemente chulo, cheios de erros e indícios de alfabetização precária e educação restrita. Chamava sua coleção de "besteiroteca". Fomos amigos de mensagens durante muitos anos, até o fim de sua vida, desde que nos conhecemos no Júri do Prêmio Casa das Américas, em 1981. Trocávamos mensagens com alguma frequência, na maior parte das vezes sobre isso.

Esses anúncios são evidências de que muitos brasileiros se comunicam apenas no interior dos muros de uma precária fala coloquial. Prisioneiros de um analfabetismo disfarçado, nos escritos errados tentam atravessar a muralha desse confinamento cultural usando insegura colagem de palavras. Por meio dela fingem saber o que não sabem, supondo dizer o que de fato não compreendem. O rabisco da escrita simplória apenas atesta o esforço de copiar de memória formas de um dizer mercantil que é apenas o dos mal chegados ao mundo das mercadorias.

Para reforçar-lhes o gaguejar escrito, nos últimos anos, uma avalanche de palavras inglesas, específicas da comunicação eletrônica, veio complicar ainda mais nossa língua já desfigurada. Escreve-se "site", mas fala-se "saite". "Click", "clicar", "blogar", "deletar", ajustamentos para desenrolar uma língua enrolada vão preenchendo os vazios linguísticos de um mundo novo da fala.

Os divertidos anúncios que João Ubaldo colecionava continuam proliferando. Nestes dias, um amigo me mandou alguns: "Rejuvelhecimento facial: R$ 39,99"; "Pintamos casas a domicílio"; "Pé di Curi e Mão di Curi, R$ 25,00"; "Sem Ti Deiz" (com uma seta indicando uma tomada de energia elétrica); "É proibido esfolear os jornais" (numa banca de jornais); "Barbearia Darcy, corto cabelo e pinto". Neste último caso, uma indicação de que as palavras foram juntadas, mas se mantiveram isoladas no descuido com a significação da frase.

Em 2009, vieram da "besteiroteca" de João Ubaldo: "Bar e Danceteria Owver Naith"; "Servimos suco natural do pó do guaraná A Flor de Ziaco do Amazonas"; "Borracharia e Bicicletaria J-L $> Temos pesas e pineus para sua baig"; "Verdura cem agrotoxio"; "Aviso - Não remova esse aviso - Está aqui porque tem uma finalidade" (aviso oficial numa rua); "Proibido marrar animais" (numa árvore); "Batata 4.00, Sebola 1.50, Méu 4.00, Melansia 3.00, La Ranja 3.00" (na beira de uma estrada). Ainda que remotamente, formas de escrever que lembram um pouco a escrita brasileira do século XVII, quando, porém, havia regras para colocar no papel a língua falada. Colagens de palavras de nexos mal enunciados, que culminam em efeitos de remota intenção barroca. Resíduos de mentalidade nunca consumada, pura expressão de atraso social.

Murillo de Aragão: Líquido e gasoso

- Revista IstoÈ

Não estamos mais na modernidade líquida de Zygmunt Bauman. Estamos imersos na pós-modernidade, na alta modernidade, gasosa. Já que a tudo e a todos penetra e não (o)corre no leito dos rios, o estado da pós-modernidade desafia a lei da gravidade. Inunda planaltos e não corre, necessariamente, para o mar.

Provoca mudanças paradoxais, refletidas em movimentos interessantes. Jeff Bezos, fundador da Amazon, comprou em 2013 o Washington Post, que patinhava em prejuízo, e o transformou em algo lucrativo. A Amazon comprou a cadeia de supermercados natureba Whole Foods e agora abre lojas de livro pelos Estados Unidos.

É o mundo digital se voltando para o analógico a fim de prosseguir na reinvenção do amanhã, no mesmo instante em que a Barnes &Noble resolve encolher o tamanho de suas lojas e o número de pontos de venda. Jeff Bezos e a Amazon conversam com o passado e aprendem com ele a construir o futuro. Assim caminha a humanidade hoje, entre idas e vindas nos mundos analógico e digital. Entre o sólido, o líquido e o gasoso.

Rogério Furquim Werneck: E o ano mal começou

- O Globo

Inelegibilidade de Lula trará reconfiguração da disputa, com redução do risco de reversão da política econômica

O ano de 2018 promete. Quem esperava mais um janeiro modorrento — com o país entregue ao habitual marasmo de verão, à espera do fim do carnaval, quando o ano costuma começar de verdade — teve razões de sobra para se surpreender. Tanto na economia quanto na política, foi um janeiro atípico.

Por mais esperado e inócuo que tenha sido, o rebaixamento do país por uma das principais agências de avaliação de risco serviu para dissipar fantasias e deixar bem claro que não estamos enganando ninguém.

Nos primeiros dias do ano, antes mesmo do rebaixamento, o próprio governo já se incumbira de fazer soar o alarme, ao deflagrar extemporânea e desastrada discussão pública sobre a necessidade de encontrar formas de contornar o preceito constitucional conhecido como “regra de ouro”, que impede emissão de dívida pública para financiamento de outros gastos que não os de capital. O governo não vê como a regra poderá continuar a ser cumprida de 2019 em diante.

Claudia Safatle: Governo aperta os controles nas estatais

- Valor Econômico

Reduzir o Estado empresário e ampliar o Estado regulador

Duas resoluções da Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações Societárias da União (CGPAR), publicadas hoje, colocam uma trava no crescimento acelerado dos gastos com os planos de saúde das 147 empresas estatais. O percentual dos gastos de saúde com funcionários ativos e inativos na folha de salários do ano passado, acrescido de uma margem de 10% ou o limite máximo de 8% da folha - o que for menor- será o teto para a empresas custearem os planos das companhias estatais por autogestão.

São quatro as modalidades de planos: autogestão por operadora própria (a exemplo da Cassi, do Banco do Brasil), os que são geridos pela área de recursos humanos, os que optam por uma operadora de mercado e os que trabalham com o ressarcimento das despesas. As resoluções vedam a criação de novos planos administrados pelos RH das empresas e limita a lista de dependentes aos cônjuges e filhos, proibindo a inclusão dos pais e outros.

Haverá prazo de 48 meses para que todas migrem para um sistema paritário de contribuição aos planos de saúde, sendo 50% para as empresas e 50% para os funcionários.

Atualmente a média é de 75% para as estatais e de 25% para seus empregados, mas há casos como o dos Correios - empresa em grande dificuldade financeira - que arca com quase 95% dessa despesa com ativos e inativos, o que correspondeu a quase R$ 2 bilhões no ano passado.

PT prega desobediência ao TRF-4

Em encontro da Executiva Nacional do partido, Lula e petistas estimularam desrespeito à determinação do tribunal federal e enfrentamento

Vera Rosa / O Estado de S. Paulo.

Um dia após ser condenado a 12 anos de prisão, o ex-presidente Lula disse que não respeitará a decisão do TRF-4. Em ato que aprovou sua pré-candidatura ao Planalto, Lula conclamou militantes a uma ofensiva e pregou enfrentamento.

Um dia depois de ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) a 12 anos e um mês de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não respeitará a decisão da Justiça. Em ato político que aprovou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, ontem, o expresidente conclamou os militantes a uma ofensiva nas ruas para seguir com a campanha, “mesmo se acontecer alguma coisa indesejável”, e pregou o enfrentamento.

“Esse ser humano simpático que está falando com vocês não tem nenhuma razão para respeitar a decisão de ontem (anteontem)”, afirmou o ex-presidente, na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), onde ocorreu a reunião da Executiva Nacional do PT. “Quando as pessoas se comportam como juízes, sempre respeitei, mas, quando se comportam como dirigentes de partido político, contando inverdades, realmente não posso respeitar.”

As afirmações de Lula foram feitas antes da decisão da Justiça Federal do Distrito Federal, acatada por ele, de apreender seu passaporte. Com a voz que ficou embargada algumas vezes, o ex-presidente fez questão de destacar que retomará as caravanas pelo Brasil, mas apelou ao PT e aos movimentos sociais para que o ajudem no embate nas ruas. “Espero que a candidatura não dependa do Lula. Que vocês sejam capazes de fazê-la, mesmo se acontecer alguma coisa indesejável, e colocar o povo brasileiro em movimento.”

Lula prega desobediência de decisão judicial

Ex-presidente ataca desembargadores e lança candidatura, embora o PT já pense na troca. Ontem, a Justiça o proibiu de sair do país.

Lula diz não ‘ter razão para respeitar’ decisão do TRF-4

Outros petistas também pregaram ‘desobediência’ à Justiça

Sérgio Roxo e Gustavo Schmitt / O Globo

-SÃO PAULO- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou um discurso agressivo ontem e disse que não vai respeitar a decisão dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que o condenaram a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Em encontro que se estendeu por todo dia em São Paulo, a executiva do PT reafirmou a candidatura de Lula ao Planalto, embora reservadamente uma alternativa comece a ser debatida. Na reunião, petistas e representantes de movimentos sociais aliados ao partido pregaram “desobediência” a decisões judiciais como um caminho a ser seguido a partir de agora, diante da decisão da Corte gaúcha.

— Este cidadão simpático que está falando para vocês não tem nenhuma razão para respeitar a decisão de ontem — discursou Lula.

O petista centrou fogo nos desembargadores do TRF-4:

— Quando as pessoas se comportam como juízes, eu sempre respeitei. Mas quando as pessoas se comportam como se fossem dirigentes de partidos políticos, contando inverdades sobre as pessoas, eu não posso respeitar.

Lula disse que se respeitasse a sentença estaria concordando com as acusações feitas contra ele:

— Se eu respeitar, eu perderei o respeito da minha neta de seis meses, da minha filha, do meu filho e perderei o respeito de vocês.

Em uma tentativa de animar os seguidores, ele disse não ter ficado surpreso com a condenação por 3 a 0. O ex-presidente contou que dormiu “tranquilamente”:

— Desde o começo, acreditava que seria 3 a 0. Por isso, não sofri tanto como alguns companheiros.

Num tom combativo semelhante ao adotado por Lula, petistas e representantes de movimentos sociais reagiram com indignação ao tratarem sobre a possibilidade da decretação de prisão do ex-presidente.

Um dos mais enfáticos foi João Pedro Stédile, da coordenação do Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que prometeu desrespeitar uma eventual ordem de prisão e desafiou as autoridades:

— Aqui vai um recado para dona Polícia Federal e para o Poder Judiciário: não pensem que vocês mandam no país. Nós, os movimentos populares, não aceitaremos de forma alguma e, impediremos com tudo que for possível, que o companheiro Lula seja preso.

Dirigentes petistas pregam 'desobediência civil'

Por Cristiane Agostine e Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - Lideranças petistas apostam na política como meio mais eficaz para evitar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a condenação em segunda instância confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Neste sentido, parte dos dirigentes pregaram ontem, na reunião da executiva nacional da sigla, a desobediência a decisões judiciais.

"Não tenho ilusão de que vamos achar saídas por dentro das instituições. Vamos derrotar este golpe com uma liminar judicial? Não. Só temos um caminho, que são as ruas, as mobilizações, rebelião cidadão, desobediência civil", afirmou o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ). "Vão fazer o quê? Prender o Lula? Então, vão ter de prender milhões de brasileiros antes", acrescentou o senador.

O deputado Wadih Damous (PT-RJ) reforçou o argumento ao defender a caminhada que os defensores do ex-presidente fizeram na noite de quarta-feira, logo após a condenação, em direção à Avenida Paulista, em São Paulo. A Justiça tinha proibido protestos da militância petista naquela região, onde grupos contrários a Lula comemoravam o resultado do julgamento.

"Esse é o modelo. Se quem deve preservar a institucionalidade, agride e hostiliza a institucionalidade, não cabe a nós ficar de braços cruzados contra decisões que atentam contra o Estado de direito. Eles jogaram fogo no país. Não cabe a nós o papel de bombeiro", declarou Damous.

Ex-presidente da OAB-RJ, o deputado fluminense afirmou que o PT não pode apostar apenas nos recursos para reverter a determinação do tribunal pela prisão em regime fechado do ex-presidente petista.

"PT tem que se preparar para alguma coisa indesejada"

Por Cristiane Agostine e Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou ontem sua pré-candidatura à Presidência e afirmou que vai disputar "para ganhar", mas ponderou que pode ser retirado da disputa por uma força indesejável. A militantes do PT e de movimentos populares, Lula disse que a candidatura não pode depender apenas dele e afirmou que se for impedido de concorrer, o partido deve manter-se na eleição.

Na noite de ontem o ex-presidente enfrentou um novo revés. Lula iria embarcar para uma viagem de uma semana para a Etiópia, para um debate sobre combate à fome, mas o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, determinou a apreensão do passaporte, proibindo Lula de deixar o país (ver acima).

"É importante que vocês tenham claro que não estamos jogando sozinhos. As pessoas com caneta com tinta vão tentar criar obstáculos. Espero que essa candidatura não dependa do Lula. [O PT] tem que ser capaz de fazê-la mesmo que aconteça alguma coisa indesejada", disse.

O ex-presidente foi protagonista ontem de um ato organizado pelo PT e por movimentos sociais e sindicais na CUT, em São Paulo, para defender sua candidatura presidencial e sua inocência, um dia depois de o Tribunal Regional Federal da 4 Região (TRF-4) ter mantido a condenação e aumentado a pena de 9 anos e 6 meses para 12 anos e 1 mês.

Plano B começa a ser tratado no bastidor

Candidatura de Lula, porém, só será retirada por decisão da Justiça Eleitoral

Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo / O Globo

-SÃO PAULO- Um dia depois de ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o ex-presidente Lula admitiu ontem, pela primeira vez, a hipótese de que possa ficar fora da eleição, abrindo espaço para que as articulações sobre quem será o escolhido para encabeçar o plano B petista ganhem força. O ex-governador Jaques Wagner e o ex-prefeito Fernando Haddad são os mais cotados para a missão.

Em discurso após ser indicado pelo PT para disputar a Presidência, Lula cobrou que a candidatura seja levada adiante em qualquer circunstância:

— É importante que vocês tenham claro que não estamos jogando sozinhos no campo. Nós temos outros candidatos e temos as pessoas que me julgaram ainda com a caneta com tinta e que certamente vão criar obstáculos para que o Lula não continue andando pelo país falando mal deles.

O ex-presidente, em sua fala, levantou a hipótese de acontecer o que ele chamou de “indesejável” durante a campanha.

— Eu espero que essa candidatura não dependa do Lula. Essa candidatura só tem sentido se vocês fossem capazes de fazê-la mesmo que aconteça o indesejável. É colocar o povo brasileiro em movimento.

EX-PRESIDENTE SERÁ INSCRITO
Antes da declaração de Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, havia afirmado que não “não existe plano B”. Apesar do discurso oficial, as alternativas a Lula já são discutidas nos bastidores. Jaques Wagner tem mais apoio dentro do partido. Já Haddad enfrenta resistências. Os petistas dizem que, em qualquer circunstância, quem decidirá o candidato será Lula.

Chances de Lula evitar prisão são maiores no STF, avaliam ministros

Letícia Casado / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguir um habeas corpus para evitar o início do cumprimento da pena são maiores no STF (Supremo Tribunal Federal) do que no STJ (Superior Tribunal de Justiça), dizem ministros das cortes superiores ouvidos em caráter reservado pela Folha.

O recurso do ex-presidente que será levado ao STJ deve cair com Felix Fischer, relator da Lava Jato no tribunal, tido com perfil "duro". Por sua dimensão, o caso deve ser discutido na 5ª turma, conhecida como "câmara de gás", dada a rigidez das decisões.

No entanto, um ministro avalia que, dada a perspectiva de o caso parar no STF, é provável que os magistrados deixem para a corte suprema a decisão de conceder liberdade ao ex-presidente.

Também com perfil "punitivista", o relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, tem negado habeas corpus a condenados na operação.

Mas a decisão tem sido diferente nos casos analisados na 2ª turma do tribunal, responsável pela Lava Jato.

Quatro dos cinco ministros que fazem parte do colegiado defendem que o réu recorra em liberdade até que o processo transite em julgado: Celso de Mello, Gilmar Mendes,

Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, que já foi advogado-geral da União durante governo do ex-presidente.

STF vai rediscutir prisão de condenado em 2ª instância

Cármen Lúcia deve recolocar o assunto em pauta na volta do recesso

Ministros veem com preocupação possibilidade de ter que julgar recurso do ex-presidente Lula contra sentença do TRF-4, que o condenou a 12 anos e um mês, sem que a questão esteja pacificada na Corte

A sentença do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que confirmou a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá, deve mudar a agenda do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros da Corte querem rediscutir a decisão, tomada em 2016, de mandar para a prisão os condenados em segunda instância, não permitindo que o réu recorra em liberdade a todas as esferas do Judiciário. Essa resolução do STF foi liminar, e por placar apertado: 6 a 5. A presidente Cármen Lúcia planejava terminar seu mandato, em setembro deste ano, sem levar a questão ao plenário. Mas o julgamento de Lula no TRF-4 alterou o cenário: os ministros do Supremo querem evitar que o tema se misture às campanhas eleitorais. O assunto voltará à pauta o mais brevemente possível.

Com a palavra, o Supremo

Sentença de Lula no TRF-4 leva Corte a discutir novamente prisões em segunda instância

Carolina Brígido / O Globo

-BRASÍLIA- Pressionado pela condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar novamente, em breve, se réus condenados em segunda instância podem começar a cumprir pena. Em 2016, o Supremo decidiu antecipar a execução das penas e abandonar o entendimento anterior, quando a regra era deixar a pessoa recorrer em liberdade até a última instância do Judiciário. Desde então, ministros sinalizaram mudança de opinião e passaram a trabalhar para que o tema seja reexaminado na Corte. A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, tinha a intenção de terminar sua gestão, em setembro, sem marcar o julgamento. Agora, o cenário mudou.

Assim como outros ministros do tribunal, a presidente acredita que é preciso passar o assunto a limpo, para não dar margem a dúvidas. O fator Lula influiu da seguinte forma: apesar de terem concordado com a decisão do TRF-4, ministros do STF passaram a ver com preocupação uma eventual prisão do ex-presidente sem que o tema estivesse pacificado no plenário da Corte, com possibilidade de mudança de entendimento.

TSE deve negar registro de candidatura de Lula

Ao recorrer, petista pode participar do pleito até que haja decisão sobre o caso

- O Globo

-BRASÍLIA- O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deverá barrar eventual candidatura do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto. Ainda assim, essa decisão não impede Lula de ter a foto estampada nas urnas em outubro. Segundo o artigo 16-A da Lei 9.504, que regula as eleições, se o político estiver recorrendo judicialmente da decisão que negou o registro, ele pode se candidatar até que haja a decisão sobre tal recurso.

“O candidato cujo registro esteja sub judice poderá efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, e ter seu nome mantido na urna eletrônica enquanto estiver sob essa condição, ficando a validade dos votos a ele atribuídos condicionada ao deferimento de seu registro por instância superior”, diz a legislação das eleições.

Lula teria o registro negado porque, para os ministros do TSE, a regra da Lei da Ficha Limpa é clara ao impedir pessoas condenadas por um tribunal de segunda instância, em decisão colegiada, de concorrerem às eleições. Mas o petista pode se apoiar na brecha aberta pela outra lei, a que rege as eleições.

Depois de eventual negativa do TSE, Lula poderia recorrer à própria Corte eleitoral, com embargos de declaração. Se o recurso for negado, ele pode pedir para o TSE enviar um recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF). O TSE envia esse recurso e pode conceder efeito suspensivo ou não. Na primeira hipótese, Lula poderia continuar sendo candidato até o STF julgar o recurso. Se não for concedido o efeito suspensivo, o petista só poderá continuar concorrendo se a mais alta corte do país lhe der uma liminar permitindo isso.

Lula passa dos limites: Editorial/O Estado de S. Paulo

Seria ingenuidade esperar que Lula da Silva, como ex-chefe de Estado que foi e líder político que é, tivesse a grandeza de respeitar as instituições do regime democrático que ele diz tanto prezar. Contudo, mesmo sabendo-se que Lula da Silva jamais foi o democrata que ele proclama ser, mesmo que ele tenha dado inúmeras provas de seu autoritarismo ao longo de toda a sua trajetória, tem causado espanto a virulência de sua reação à sua condenação judicial por corrupção, muito além do que faculta o direito de espernear e muito mais grave do que as inúmeras agressões que sua equipe de advogados cometeu contra os juízes do processo e contra o próprio Judiciário.

Lula da Silva tem ultrapassado todos os limites que uma pessoa pública deveria respeitar, por mais contrariada que esteja. Pode-se dizer que o chefão petista, agora condenado por corrupção, comporta-se como líder sedicioso, incitando à desobediência civil sem que nenhum de seus direitos tenha sido violado no processo que o condenou.

Quando vocifera, do alto de um palanque, que os desembargadores da 8.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) “formaram um cartel para dar uma sentença unânime” e confirmar a decisão do juiz federal Sérgio Moro, condenando-o à prisão por corrupção, Lula da Silva afirma com todas as letras que houve uma combinação entre os magistrados para chegar a esse resultado e, assim, impedir sua candidatura à Presidência. Pior: Lula da Silva acusa os quatro juízes que o condenaram de integrar um complô com o Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa para sabotar sua volta ao poder. “Eles não precisam mais de militares com canhão na frente do Congresso Nacional. Agora eles fazem através das instituições”, discursou o ex-presidente, citando especificamente “a construção de um pacto entre o Judiciário e a mídia”. No auge de seu delírio, Lula da Silva disse que, embora fosse ele o réu, “o condenado foi o povo brasileiro”. Em casos assim, recomenda-se ao paciente um bom psiquiatra.

Condenação de Lula é vitória da República: Editorial/O Globo

O julgamento do ex-presidente pelo TRF-4 reforça o princípio da igualdade de todos perante a lei, mas é preciso enfrentar os movimentos em prol de retrocessos

A condenação de Lula, em Porto Alegre, é o ponto mais alto de uma curva de fortalecimento das instituições republicanas, que começa a subir em 2010, na aprovação da Lei da Ficha pelo Congresso. Chega ao Supremo em 2012, no início do julgamento dos mensaleiros, segue rumo a 2014, quando vários foram condenados, e atinge hoje o píncaro, com a condenação a 12 anos de prisão, por corrupção e lavagem de dinheiro, de um ex-presidente da República. A característica comum a cada um desses momentos é envolver assunto contra os interesses de poderosos na política.

Mensaleiros petistas e de legendas aliadas ao PT foram julgados e condenados, embora o partido ocupasse o Planalto. Tratava-se da primeira decisão de impacto do Judiciário, de que se tinha notícia, contra habitantes do poder — por uma Justiça cuja imagem é de uma instituição adestrada em punir pobres em geral, e não enxergar ricos e poderosos em particular.

A condenação de Lula e a decretação de sua virtual inelegibilidade são parte do fortalecimento dos músculos republicanos, por meio do Ministério Público robustecido pela Constituição de 88, e que já tinha demonstrado força no mensalão. E tem cumprido um papel vital, no desbaratamento da poderosa quadrilha do petrolão, de que emerge a figura de Lula como chefão, algo vislumbrado já nos primórdios do mensalão.

O mercado e a eleição: Editorial/Folha de S. Paulo

Chamaram a atenção os sinais de entusiasmo no mercado financeiro enquanto se desenrolava, na quarta (24), o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre.

O índice principal da Bolsa de Valores, composto pelas ações mais negociadas, teve elevação de 3,7%, ao passo que a cotação do dólar recuou 2,4% –e tanto a subida do primeiro quanto a queda do segundo se intensificaram à medida que se confirmava a unanimidade de três votos pela condenação do líder petista.

Por mais evidente que pareça a correlação entre os eventos, sempre se recomenda cautela na análise de transações de forte componente especulativo. Em tais ambientes, movimentos de alta e baixa podem se alternar sem que os motivos se mostrem claros.

Os bons humores, ademais, em muito antecediam a decisão do TRF-4 que dificultou sobremaneira a candidatura de Lula à Presidência. Desde o ano passado, o momento positivo da economia internacional e o fim da recessão doméstica dão ânimo aos negócios.

A pior derrota de Lula e do Partido dos Trabalhadores: Editorial/Valor Econômico

Por três votos a zero, a Justiça Federal condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 12 anos e um mês de prisão. O resultado do julgamento em segunda instância foi duro, muito além das expectativas. Em Curitiba, o rigoroso juiz Sérgio Moro havia condenado Lula a uma pena menor, de nove anos e seis meses. Graças ao gravame, o ex-presidente pode ser preso em regime fechado tão logo se esgotem os recursos cabíveis na esfera da 8ª Turma do Tribunal Federal de Recursos (TFR) da 4ª Região, sediado em Porto Alegre, e está virtualmente fora da corrida presidencial de 2018. Uma derrota histórica, certamente a maior já sofrida por Lula no regime democrático. Mas também uma prova de maturidade das instituições.

Na ditadura, Lula foi preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Era então um sindicalista em trânsito para a política. Mais tarde liderou a fundação do Partido dos Trabalhadores, ponto de partida de uma trajetória que o iria transformar num dos maiores líderes populares da América Latina. O primeiro grande revés de Lula na política se deu em 1989, quando perdeu a eleição presidencial, a primeira depois da redemocratização, para o hoje senador Fernando Collor de Mello. Lula nunca aceitou bem a derrota - culpou as elites -, mas teve humildade, anos depois, para reconhecer que não estava então preparado para governar o país.

PPS: 26 anos

Há 26 anos atrás era fundado o PPS, sucessor do PCB

No X Congresso do Partido Comunista Brasileiro (PCB), realizado na capital paulista, no antigo Teatro Záccaro, entre os dias 24, 25 e 26 de janeiro de 1992, os delegados de todo Brasil, por ampla maioria, resolveram dissolver o PCB e entregar à sociedade brasileira um novo instrumento partidário. Houve um grande debate sobre qual o nome que substituiria o PCB. No final ocorreu uma disputa entre dois nomes: Partido Democrático de Esquerda (PDE) e Partido Popular Socialista (PPS). Na votação saiu vitorioso o nome PPS.

Leia, abaixo, o manifesto de fundação do Partido.

Manifesto do PPS*

" Aos seres humanos que, por nascimento ou opção, habitam terras brasileiras, o PPS dedica seus 70 anos de lutas, e todas as lutas futuras "

Há uma crise, no mundo e no Brasil, e todos podemos senti-la. Uma crise que solapa a esperança, que chega ao fundo dos corações, gerando frustrações, descrença e cinismo. Frente aos desafios destes novos tempos, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana, o X Congresso do PCB oferece à sociedade brasileira um novo instrumento de luta, o Partido Popular Socialista - PPS.

Um Partido que, desde sua formação, é plural, aberto à participação de todos os que acreditam que é possível, a todos os seres humanos, viverem iguais e livres. Um Partido que, num mundo de mudanças, assume o compromisso central com a vida, entendendo-a como indissociável da natureza e da cultura. Um Partido, que quer contribuir para a construção de uma nova ética, em que o ser humano, sem nenhuma discriminação, seja protagonista e beneficiário das transformações sociais.

Um Partido novo, democrático, socialista, que se inspire na herança humanista, libertária e solidária dos movimentos sociais e das lutas dos trabalhadores em nosso país e em todo o mundo, prolongando hoje a luta que travamos desde 1922. Um Partido que não use o povo, mas seja um instrumento para que cada cidadão seja sujeito de sua própria história. Um Partido socialista, humanista e libertário, que tenha como prática a radicalidade democrática, que permita a cada ser humano exercer sua plena cidadania, na área em que reside e no planeta em que habita.

Um Partido que tem como metodologia de ação política, a não violência ativa, e que repudia toda e qualquer forma de violência (econômica, racial, religiosa, física, psicológica etc). Um Partido que faz da eliminação da miséria a questão primeira de sua política. Porque enquanto houver um ser humano sem comida, sem moradia, sem educação ou sem as mínimas condições de acesso à saúde, nossa luta tem e terá razão de continuar.

Um Partido que defende que a propriedade dos meios de produção e de comunicação deve ser social, com propostas autogestivas, cogestivas e cooperativistas, contrapondo-se aos modelos neoliberais.Um Partido que se empenhará para que o desenvolvimento científico e tecnológico seja considerado prioridade nacional, pois como não haverá progresso social sem o amplo desenvolvimento científico e tecnológico.

Um Partido que tem como objetivo a reforma democrática do Estado para que ele não tutele, mas que seja controlado pelos cidadãos e pela sociedade.

Um Partido que luta por um programa radical de desenvolvimento que tenha o ser humano como sujeito e que seja capaz de eliminar a injusta distribuição de renda, acabando com a brutal concentração hoje existente. A consolidação da democracia política e a retomada do desenvolvimento, pondo fim à recessão e ao desemprego, são claras prioridades para a construção da cidadania.

Um Partido que lutará pela implantação do parlamentarismo, pelas reformas estruturais de que o país necessita e pela preservação dos direitos consagrados constitucionalmente. Um Partido que se dispõe a repensar tudo, 'mas que não abre, de forma alguma, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana.

Um Partido que é e será um espaço aberto à participação de todos os que têm aspiração de construir essa sociedade. Um Partido que assume sem medo compromissos com o presente e o futuro, recusando a infalibilidade e o dogma, mas tendo em conta a experiência do passado.

Um Partido que não tem fórmulas prontas e acabadas, e que se propõe a discutir e formular um Projeto para a Nação Brasileira, com a colaboração de todas as forças do campo democrático. Esse é o desafio lançado a todos os militantes deste novo Partido e o convite a todos os que queiram nele se integrar.
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* Manifesto de fundação do PPS. São Paulo/SP, 26 de janeiro de 1992

Charles Baudelaire: Correspondências

A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam sair às vezes palavras confusas:
Por florestas de símbolos, lá o homem cruza
Observado por olhos ali familiares.
Tal longos ecos longe lá se confundem
Dentro de tenebrosa e profunda unidade
Imensa como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se transfundem.
Perfumes de frescor tal a carne de infantes,
Doces como o oboé, verdes igual ao prado,
– Mais outros, corrompidos, ricos, triunfantes,
Possuindo a expansão de algo inacabado,
Tal como o âmbar, almíscar, benjoim e incenso,
Que cantam o enlevar dos sentidos e o senso.