quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Fernando Henrique Cardoso: Visão de Lula da Silva do Brasil é uma ficção prejudicial

Meu sucessor como presidente se retrata falsamente como vítima de uma conspiração da “elite”

Luiz Inácio Lula da Silva retrata o Brasil como uma democracia em ruínas, na qual o Estado de direito cedeu lugar a medidas arbitrárias para minar a ele a seu partido.

Isso não é verdade.

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tem todo o direito de defender seu ponto de vista no país e no exterior no que se refere aos procedimentos legais que pesam sobre ele.

São procedimentos que o levaram à prisão, depois que um tribunal de recursos federal em janeiro manteve a sua condenação por corrupção e lavagem de dinheiro. A maneira pela qual Lula da Silva escolheu se defender perante o mundo, no entanto, precisa ser contestada.

Em artigo recente, ele apresentou uma versão da história brasileira recente que não tem relação com a realidade. Isso seria um problema apenas para historiadores, se ele não fosse o influente líder político que ele é. Luiz Inácio Lula da Silva retrata o Brasil como uma democracia em ruínas, na qual o Estado de direito cedeu lugar a medidas arbitrárias para minar a ele a seu partido.

Isso não é verdade. Tampouco é verdade, como Lula da Silva sustenta, que o Brasil estava sem rumo antes de ele assumir a Presidência em 2003. Basta lembrar da estabilização bem-sucedida da economia depois de anos de hiperinflação, que começou com o Plano Real lançado pelo ex-presidente Itamar Franco e continuou durante meu governo. Também foi um período marcado pelo estabelecimento dos programas de bem-estar social que Lula da Silva iria expandir subsequentemente.

Sua versão das últimas décadas da história brasileira é peculiar, uma versão na qual algumas vezes ele aparece como o salvador do povo e algumas vezes como a vítima de uma conspiração da “elite”.

*José Serra: Pacaraima, América do Sul

- O Estado de S.Paulo

Um sintoma e um aviso dos males do populismo. É hora de superá-lo e mantê-lo bem distante

Sexta-feira, 17 de agosto, Pacaraima, Roraima. O comerciante Raimundo Nonato de Oliveira é atacado a pauladas, supostamente por quatro venezuelanos. No dia seguinte, em represália, brasileiros atacam um acampamento de refugiados, pondo fogo em barracas e outros pertences. Centenas de venezuelanos fogem de volta. As forças de segurança intervêm e controlam a situação.

Esse relato seria visto como uma típica ficção de realismo fantástico até há pouco tempo. A verdade é que a crise na Venezuela ameaça transbordar e, com isso, criar tensões geopolíticas inéditas na América do Sul.

A fuga em massa de venezuelanos aumentou nos últimos meses – não só para o Brasil, mas também para Colômbia, Equador e Peru. A economia da Venezuela entrou numa espiral de desintegração, agravada pela sucessão de trapalhadas – cada vez maiores – de seus dirigentes políticos.

Os números a respeito chegam a ser assustadores. A produção de petróleo caiu de 2,7 milhões de barris diários em 2015 para 1,5 milhão em abril deste ano. De 2013 a 2018, segundo dados do FMI, a economia da Venezuela ter-se-á reduzido quase à metade – uma queda de 45% em cinco anos. Segundo o professor Steve Hanke, da John Hopkins University, o país entrou em processo de hiperinflação em 2018. Pela variação do dólar no mercado paralelo, a inflação saltou de cerca de 1.000% anuais em julho de 2017 para 43.000% ao ano em junho de 2018.

A devastação institucional acompanha a econômica. O governo de Nicolás Maduro – seguindo o estilo do seu predecessor, Hugo Chávez – anulou atributos indispensáveis ao Estado de Direito por meio de manipulações na Constituição; destruiu a independência do Judiciário; perseguiu a oposição, impedindo sua participação no jogo político; incentivou o surgimento de milícias políticas que garantem a manutenção do poder a despeito de toda a deterioração econômica.

Aloysio Nunes Ferreira: O Brasil retorna à cena internacional

- O Estado de S.Paulo

Diplomacia do governo Temer contribui para a segurança, o bem-estar e o crescimento do País

Nestes dois anos de governo Temer, foi grande o esforço para recolocar o Brasil nos trilhos, depois da mais grave recessão da nossa História. Graças ao esforço reformista, que foi empreendido com muito diálogo, a recessão foi superada e a confiança se encontra em franca recuperação.

Por determinação do presidente da República, a política externa brasileira foi posta a serviço do desenvolvimento e da recuperação da credibilidade do País, que se encontrava em frangalhos. Foi o que fizemos. Por meio de uma diplomacia guiada pelo interesse nacional, na boa tradição do barão do Rio Branco, as vitórias foram se acumulando para recolocar o Brasil no mapa.

Abandonada a diplomacia pirotécnica do passado recente, a política externa refletiu as prioridades nacionais sem se acanhar diante do contexto internacional desafiador. Tivemos de reposicionar o Brasil num mundo assombrado pelo nacionalismo e pelo protecionismo. Uma ordem internacional em transição, com uma estrutura de poder crescentemente multipolar, porém marcada pela assimetria e por focos de tensão entre potências.

A política externa foi estruturada em torno de quatro eixos principais: modernização de nossa inserção econômica internacional com objetivo de abrir mercados, atrair investimentos e melhorar o ambiente de negócios e a competitividade; atenção não apenas aos parceiros tradicionais, mas também às oportunidades derivadas na nova configuração de poder mundial; construção de uma região integrada, próspera, segura e democrática; busca de uma governança global baseada no direito, com instituições eficazes para enfrentar os desafios globais.

A ponta de lança da diplomacia econômica foi o Mercosul, que encontramos em estado terminal. Hoje o bloco já não respira por aparelhos e anda com suas próprias pernas. Eliminamos dezenas de barreiras que travavam o comércio e firmamos acordos de investimentos e compras governamentais. A agenda externa foi dinamizada com as negociações com a União Europeia, a Efta, o Canadá, a Coreia do Sul e Cingapura, além da aproximação com a Aliança do Pacífico. Preferimos não ficar choramingando, impotentes, o fracasso da Rodada Doha. Passamos a negociar com outros parceiros para assegurar acesso a mercados e uma abertura escalonada, que gere competitividade para o País.

Merval Pereira: Eleição aberta

- O Globo

Políticos do centrão abandonarão candidato sem chance, e irão atrás dos primeiros colocados

O crescimento da candidatura do ex-presidente Lula nas recentes pesquisas Ibope e Data folha confirma o seu favoritismo, que aumentou provavelmente devido à exposição pelo registro no TSE, pois o PT é muito competente na propaganda. Sem dúvida, Lula é o favorito; as pesquisas mostram que se fosse candidato ganharia, mas não vais e ré inelegível pela Lei da Ficha Limpa. O que vale mesmo é definir sua capacidade de transferir votos para Fernando Haddad.

Há informações contraditórias: pesquisas mostram que a maioria dos eleitores petistas não votaria em Haddad. Outras informam que Lula, e não o P Tapenas, deve passar pelo menos 50% de seus votos a seu substituto, o que o levaria para o segundo turno com uma votação entre 20% e 30%.

Se o PT puder usara imagem de Lula na propaganda eleitoral, o impacto será muito grande. A legislação eleitoral diz que o candidato tem que estarem 75% nos programas eleitorais. Mas vai ser necessariamente discutido no TSE se, por exemplo, Haddad poderá falar coma imagem de Lula atrás. Se o PT poderá usar imagens de arquivo com o ex-presidente, mesmo que tenha sido impugnado antes da propaganda eleitoral, que começa no dia 31.

Sabe-se que o ex-presidente gravou um programa antes de ser preso, quando estava no Sindicato dos Metalúrgicos. Essa deve ser uma mensagem emotiva que, unida a outras imagens daquele dia, reforçaria a ideia de que ele está preso injustamente. Tu dois sovai influir na capacidade de transferência de votos para Haddad.

Na recente visita ao Nordeste, pelos relatos, poucos sabiam exatamente quem ele era. E era chamado com frequência de Andrade. Mas isso aconteceu também com Dilma, que no começo era identificada como “a mulher do Lula”. Essa identificação tinha vários significados, alguns achavam mesmo que Dilma era a mulher de Lula, outros sabiam que ela era a mulher que Lula indicou.

Maria Cristina Fernandes: Crise aprisionou eleitor junto com Lula

- Valor Econômico

No mapa da largada, o bandeirante é o mais perdido

A primeira rodada de pesquisas desde o registro das candidaturas coloca três marcos na largada da campanha:

- A estratégia petista em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi bem sucedida, mas o PT não poderá errar na aposta que fizer para a transferência de voto a Fernando Haddad;

- A condição de segunda herdeira do voto lulista e sua competitividade na maior franja de indecisos, a de mulheres de baixa renda, faz da candidata da Rede, Marina Silva, a maior ameaça à manutenção do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, na liderança do outro polo;

- O ex-governador Geraldo Alckmin não demonstra um desempenho, no centro-sul do país, capaz de compensar a muralha que se ergue contra sua candidatura na mancha eleitoral que reúne Nordeste, Norte e Centro-Oeste;

Ao manter a candidatura de Lula e ampliar para além das fronteiras nacionais a tese da perseguição judicial, o PT foi capaz de manter o ex-presidente nas manchetes e fazê-lo capitanear a indignação popular com-tudo-o-que está aí. O partido valeu-se da mesma imprensa que acusa de persegui-lo. O noticiário da alongada prisão de Lula reforçou a excepcionalidade da disputa liderada por um aprisionado. O aguçamento da crise foi capaz ainda de levar 40% do eleitorado a se sentir tão refém das instituições quanto o ex-presidente.

As dúvidas começam na capacidade de o PT operar a transferência para aquele que, de fato, é o nome do partido e o principal alvo de sua luta interna. As três pesquisas da semana, com as formulações as mais diversas de transferência de voto, colheu para o ex-prefeito índices que variam do nanismo à presença certa no segundo turno. Para firmar este cenário, no entanto, o PT terá que mostrar por que a mesma televisão que não será capaz de levantar Geraldo Alckmin levará Haddad a ser chancelado pelo eleitor como o representante de Lula na terra.

William Waack: Essência do jogo político

- O Estado de S.Paulo

Há décadas a coerência de postulados políticos nas alianças é quimera

Há muita gente tratando como traição aquilo que é a essência do jogo político brasileiro. O noticiário dos últimos dias está repleto de exemplos de caciques políticos que apoiam um nome à Presidência e, ao mesmo tempo, dão palanque em suas regiões a agremiações de adversários do candidato nacional.

É uma ocorrência comum em todas as últimas eleições. É um comportamento que não deveria surpreender nem ser chamado de traição e, no extremo lógico do raciocínio, tampouco mereceria destaque no noticiário. Na verdade, se notícia é coisa inédita então notícia seria se não se registrasse comportamento desse tipo.

Começa pela maçaroca ideológica brasileira, que não comporta definições precisas do que seja a tendência política dos partidos, se é que se pode falar disso. Afinidades em torno de plataformas ou posturas político/ideológicas são muito raras, e pertencem, a rigor, a extremos do espectro. Os partido já eram fracos ainda antes do esfarelamento que sofreram com a Lava Jato e não têm (mesmo o PT) a tal da “fixação estrutural” da qual falam os cientistas políticos, isto é, não se mantêm o que são por um longo prazo de tempo.

No sistema político eleitoral brasileiro a federação cria realidades políticas estaduais diante das quais, sob a ótica dos caciques donos de partidos, faz todo sentido buscar alianças promissoras no plano nacional e combiná-las – ou, melhor dito, e levá-las adiante na campanha – com acertos de importante expressão regional. Note-se que há décadas a coerência de postulados políticos nas alianças é quimera atrás da qual correm apenas desavisados assistindo ao circo – incluindo o PT, que já foi um “partido orgânico”, por seu enraizamento em determinados segmentos sociais.

Neste momento da campanha, o verdadeiro teste pelo qual passa uma candidatura como a de Alckmin, cuja aposta central é a eficácia dos meios tradicionais de se lutar numa campanha eleitoral (TV, dinheiro e parte da máquina pública), é o teste da percepção que caciques desenvolvem das chances de vitória, e não tanto as tais “traições”. Essa percepção reflete, por sua vez, uma atitude bastante comum no grosso do eleitorado, segundo a qual não se joga voto fora, isto é, corre-se de última hora rumo a quem se percebe como eventual vencedor.

Bruno Boghossian: Votar ou morrer

- Folha de S. Paulo

Segundo turno será concurso de rejeições ao PT e a Bolsonaro

Se tudo der errado para o PSDB, Fernando Henrique topa apoiar o PT no segundo turno. Já Fernando Haddad considera impossível se aliar aos tucanos contra Jair Bolsonaro. Marina Silva, que já esteve com Aécio Neves, só quer conversa com quem não foi pego “no doping da Lava Jato”. Se cair no primeiro turno, Ciro Gomes diz que prefere a morte.

O desinteresse do eleitorado e a polarização exacerbada da corrida eleitoral deste ano indicam que o próximo presidente da República será definido pela conjunção de três forças: o antipetismo, o antibolsonarismo e a vontade de morrer.

As projeções de segundo turno apresentadas pela nova pesquisa do Datafolha apontam que boa parte dos eleitores se mantém cerrada em suas fileiras quando seu favorito não avança para um embate direto.

O percentual de votos em branco e nulos chega a 32% quando Geraldo Alckmin (PSDB) fica cara a cara com Fernando Haddad (PT). Há quatro anos, esse índice era de apenas 9% para Dilma Rousseff versus Aécio.

Aliado do PT por anos, Ciro Gomes (PDT) abusou do drama quando foi pressionado a se posicionar em um confronto final entre Haddad e Bolsonaro (PSL). “Vale morrer? Precisamos desesperadamente dar uma saída que não seja extremista.”

Era jogo de cena de um candidato magoado com o tratamento que recebeu dos petistas este ano. Ciro e outros candidatos com origens e eleitores na esquerda —inclusive Marina (Rede)— tendem a se alinhar contra Bolsonaro em praticamente qualquer cenário de segundo turno.

*Daniela Lima: O pássaro com asas de chumbo

Nunca um tucano largou de patamar tão baixo e com o PSDB tão desgastado

Geraldo Alckmin vai iniciar sua campanha no horário eleitoral gratuito sob uma pressão inédita para um candidato do PSDB à Presidência. Os resultados da última pesquisa Datafolha ampliaram o risco de ele ser abandonado por aliados muito cedo, ainda no nascedouro da disputa. Para registro: no melhor cenário, o tucano hoje marca 9%.

Os primeiros exemplos de afastamento começaram a pulular e, para piorar, não só em estados da região Nordeste, onde o tucanato tradicionalmente enfrenta dificuldades.

No Rio de Janeiro, Índio da Costa, candidato ao governo pelo PSD, disse em palestra a empresários que estava indeciso sobre seu voto para presidente e que seria interessante ter no Planalto um cidadão fluminense, em clara referência a Jair Bolsonaro (PSL).

Em Minas, onde os tucanos têm um nome competitivo para o governo estadual, o candidato do DEM ao Senado, Rodrigo Pacheco, lançou santinhos com o número do candidato presidencial em branco.

No Nordeste, as cenas se repetem com notas ainda mais dramáticas, com dirigentes partidários que sentaram ao lado de Alckmin para anunciar coligação marchando nas ruas a pedir votos para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ricardo Noblat: A vida dura dos bolsonaristas

- Blog do Noblat | Veja

Tarefa ingrata

Deveria ser bem remunerada a tarefa dos eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) de defendê-lo com tanto empenho nas redes sociais. Porque não está nada fácil. E por culpa do candidato.

Quando a Folha de S. Paulo, há mais de um mês, publicou que Bolsonaro não participaria de nenhum debate, seus devotos foram obrigados a dizer que ele tinha razão.

Mas aí Bolsonaro desmentiu o jornal e compareceu a dois debates. Os bolsonaristas mudaram então de opinião e deram razão a ele, elogiando também seu desempenho.

Pareciam, ontem à noite, aturdidos com a notícia de que Bolsonaro poderá desistir de vez dos debates. Ainda não haviam sido orientados sobre o que dizer. Ensaiavam explicações por sua conta e risco.

Quando Bolsonaro disse que se eleito retiraria o Brasil da ONU, sua tropa na rede precipitou-se em chamar a ONU de reduto da esquerda. Quando ele voltou atrás, ela emudeceu.

Não, não está fácil.

Bolsonaro ameaça fugir aos debates

O medo de dar-se mal

Se não foi Paulo Guedes, para quem transfere as perguntas sobre economia que não sabe responder, foi outro Guedes qualquer que aconselhou o deputado Jair Bolsonaro (PSL) a não mais participar de debates até o fim do primeiro turno das próximas eleições.

Ao site UOL, do Grupo Folha de S. Paulo, o presidente em exercício do partido de Bolsonaro, Gustavo Bebianno, afirmou antes das 22 horas de ontem que o candidato não deveria participar de nenhum outro debate. Se participar de algum, “será uma exceção”, comentou.

Luiz Carlos Azedo: O ciclo de Maluf

- Correio Braziliense

“A trajetória de Maluf foi marcada por escândalos e denúncias de corrupção, mas o político paulista sempre conseguia se safar na Justiça. Era símbolo da impunidade e da compra de votos e de aliados”

Depois de muito protelar, ontem, a Mesa da Câmara cassou o mandato do deputado Paulo Maluf (PP-SP), por unanimidade. Ele havia perdido os direitos políticos em razão de condenação pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), por lavagem de dinheiro, em maio de 2017. Em março deste ano, por razões humanitárias, o ministro Dias Toffoli autorizou que Maluf cumprisse prisão domiciliar. Estava preso desde dezembro do ano passado no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Em fevereiro, fora afastado do cargo pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Aos 86 anos, Maluf encerra um ciclo político iniciado na abertura do regime militar, quando se elegeu governador de São Paulo em eleição indireta, contra a vontade do presidente Ernesto Geisel, que apostava na eleição de Laudo Natel, de quem Maluf havia sido secretário de Transportes no começo dos anos 1970. Geisel subestimou a capacidade de articulação do então presidente da Associação Comercial de São Paulo, que visitou um a um os 1.261 delegados à convenção da Arena e, por isso, foi escolhido o candidato governista, por 617 votos, contra os 589 obtidos por Natel.

Ligado ao ex-ministro do Exército Sílvio Frota, Maluf foi uma invenção política do ex-ministro da Fazenda Delfim Neto, que se encantou com sua gestão à frente da Caixa Econômica Federal, na qual ampliou a oferta de serviços e criou o financiamento da casa própria. Por influência do então ministro da Fazenda, Costa Silva nomeou Maluf para a prefeitura de São Paulo, a contragosto do então governador, Abreu Sodré. Foi na prefeitura que construiu a imagem de tocador de grandes obras, a maioria viárias, como o polêmico Minhocão, trechos importantes das Marginais Tietê e Pinheiros e vários viadutos e avenidas.

Repetiu a estratégia no governo de São Paulo, onde executou grandes obras, abriu estradas e pavimentou o caminho para disputar a Presidência da República. Em 1982, renunciou ao mandato e concorreu à Câmara, sendo eleito por 672.927 eleitores, o mais votado do país. No Congresso, Maluf iniciou a estratégia para se tornar o candidato a presidente da República do PDS (antiga Arena), na sucessão do general João Figueiredo. Com os mesmos métodos de abordagem individual de delegados que usara em São Paulo, conseguiu derrotar, na convenção do partido, o candidato do Palácio do Planalto, o ex-ministro dos Transportes Mario Andreazza, que havia se notabilizado em razão da construção da Ponte Rio-Niterói e da Rodovia Transamazônica.

A emenda das eleições diretas havia sido derrotada no Congresso, apesar do grande apoio popular, e a escolha do futuro presidente se deu de forma indireta, no colégio eleitoral, no qual o PDS tinha maioria de votos. Ocorre que o candidato do PMDB era Tancredo Neves, o governador de Minas, uma velha raposa pedessista, que recebeu o apoio velado de outro veterano pedessista, Amaral Peixoto, então presidente do PDS; do vice-presidente Aureliano Chaves, que havia sido preterido por Figueiredo; e dos caciques regionais Antônio Carlos Magalhães, Marco Maciel, José Agripino, que fundaram o antigo PFL. José Sarney saiu do PDS e se filiou ao PMDB para ser vice na chapa de Tancredo; acabou assumindo a Presidência com a morte de Tancredo.

Vinicius Torres Freire: Reviravoltas nas eleições de 1989 e 2018

- Folha de S. Paulo

Nos 45 dias antes do primeiro turno é raro haver mudança grande na votação dos candidatos

De meados de agosto até o primeiro turno, não costumava haver mudança relevante da votação dos candidatos a presidente, registram as pesquisas. A exceção maior ocorreu justamente na eleição mais excepcional, a de 1989, de desarranjo tão comparado ao da disputa deste ano.

No mais, houve a derrocada de Ciro Gomes em 2002, que perdeu a vice-liderança passando de 27% dos votos para 8%, no mês e meio final da campanha —ficando atrás de José Serra, estacionado em minguados 13% no Datafolha.

A história não serve para prognóstico, claro. Talvez a comparação com 1989 ainda sirva para melhorar os chutes a respeito das possibilidades de ascensões e desmanches de capital de votos neste ano. Informações da mais recente pesquisa Datafolha ajudam a polir a especulação.

O horário eleitoral gratuito de rádio e TV nas campanhas de 1989 e 1994 durava quase dois meses; nesta, cerca de um mês. Fernando Collor saltou de 14% para cerca de 40% dos votos entre abril e junho. Por aí ficou até o início do horário eleitoral, quando passou a minguar, chegando às vésperas do primeiro turno com 26% dos votos. Durante a campanha radiotelevisada, Lula da Silva passou de 5% para 14%, passando ao segundo turno.

Jair Bolsonaro (PSL) é "outsider insider" de modo análogo a Collor. Não tem coalizão partidária, tal qual. Collor tinha muito tempo de TV; Bolsonaro, quase nenhum. Não havia, claro, rede social virtual ou eletrônica.

Míriam Leitão: Ciro: intervenção e criatividade

- O Globo

Projetos de Ciro na economia têm a marca clara do intervencionismo mas já foi abandonada a ideia polêmica de estabelecer um teto para a dívida

A campanha do candidato Ciro Gomes (PDT) tem propostas confusas para a Previdência e uma ideia criativa, mas não suficientemente explicada, para o endividamento das famílias. Seus projetos na economia em geral têm a marca clara do pensamento intervencionista, mas já foi abandonada a proposta mais polêmica que é a de estabelecer um teto para o pagamento da dívida. Isso foi citado várias vezes no meio de críticas ao custo da dívida pública. Poderia criar uma crise de confiança, mas não é mais defendido.

A segunda entrevista na Globonews com os assessores dos candidatos foi com o economista Mauro Benevides Filho, doutor em economia pela Universidade de Vanderbilt, com uma carreira mista de político —foi deputado estadual — e experiência em administração estadual como secretário.

O candidato Ciro Gomes tem prometido tirar todo mundo do SPC. Todo mundo é muita gente: são 63 milhões de pessoas com o cadastro negativo por inadimplência. Não são caloteiros, foram atingidos pelos erros das políticas dos governos. Houve um incentivo ao crédito excessivo nos governos do PT e em seguida a recessão que começou em 2014, produzindo a pior onda de desemprego. A campanha de Ciro propõe que se faça uma grande renegociação de dívida, intermediada pelo governo e usando os bancos públicos.

Zeina Latif: Diálogo com o Judiciário

- O Estado de S.Paulo

Ameaçar as instituições, como fazem alguns candidatos, é mau augúrio

Não faltam no mundo exemplos de ativismo do Judiciário. O tema é antigo, mas muitos especialistas apontam sua maior evidência no pós-Segunda Guerra Mundial, como reação à incapacidade dos parlamentos de evitar o desrespeito a direitos individuais. O conceito de ativismo judicial é bastante controverso, pela dificuldade de definir o que seria o comportamento ideal do Judiciário e, portanto, seus desvios.

Com frequência, o termo se refere ao poder discricionário para interpretar a Constituição e as leis de forma alternativa e inovadora, diferentemente do usual; e para rever decisões e compensar omissões dos demais Poderes. O Judiciário acaba se tornando um legislador.

A justificativa seria a necessidade de atender aos anseios da sociedade, o que é bastante questionado.

Muitos defendem, porém, que, em dose moderada, o ativismo é algo desejável, principalmente em situações de crise política e agitação social. Em alguns momentos, a flexibilidade do Judiciário reforçaria a democracia.

Como ensina Luís Roberto Barroso, o que distingue o Brasil da experiência mundial é a extensão e o volume do ativismo. A separação de Poderes tornou-se muito fluida no País.

Até a Constituição de 1988, havia maior autocontenção do Judiciário, em favor das instâncias políticas. Marco da redemocratização do País, a Carta acabou favorecendo um maior ativismo. A começar pela sua abrangência e complexidade, englobando matérias que seriam, naturalmente, do Legislativo e do Executivo. Não há consenso entre juristas de como melhor interpretar a Constituição e suas incoerências.

Ribamar Oliveira: Tirar as despesas previdenciárias do teto

- Valor Econômico

Criado para durar 10 anos, antes de revisto, talvez não passe de 3

Cresce a percepção de que o chamado teto de gastos da União, instituído pela emenda constitucional 95/2016, será alterado pelo próximo governo. Ainda não é possível saber o teor da alteração. A atual equipe econômica, por exemplo, simpatiza com a ideia de retirar do teto as despesas da Previdência, mas apenas após a reforma dos atuais regimes previdenciários.

Alguns candidatos à Presidência da República, bem colocados nas pesquisas eleitorais, querem simplesmente acabar com o teto. Outros anunciam que vão mudá-lo, mas não dizem exatamente o que pretendem fazer. Uns acham que ele é inexequível, outros, que impede o aumento dos gastos na área social. Em síntese, o teto, que deveria durar dez anos antes de ser alterado, talvez não passe de três.

O teto de gastos foi criado com o objetivo de frear o crescimento contínuo das despesas da União, que não param de aumentar. Em 1991, o gasto primário da União (não considera o pagamento dos juros das dívidas) correspondia a 10,8% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Ministério da Fazenda. Em 2016, o gasto atingiu 20% do PIB. No ano passado, caiu um pouco, para 19,5% do PIB.

Alguns consideram que o teto foi um instrumento inadequado para enfrentar o problema, pois ele não corta despesas. De acordo com esse raciocínio, o governo Michel Temer deveria ter concentrado esforços para aprovar a reforma da Previdência Social, que efetivamente reduziria o ritmo de crescimento dos gastos. Agora, essas questões são águas passadas.

Carlos Alberto Sardenberg: Calma que o dólar é manso

- O Globo

Há uma diferença enorme nas contas externas. Em 2002, Brasil era devedor em dólares. Hoje, é credor

Iniciado o ano eleitoral de 2002, o dólar estava na casa de R$ 2,30. Oscilou bastante desde então, mas sempre em tendência de alta. Em julho, bateu e superou R$ 3. No fim de setembro e início de outubro, foi negociado em alguns momentos acima dos R$ 4.

Era o medo de Lula. Ao longo do ano, ficou claro que Lula seria eleito presidente —e tudo que o PT falava de política econômica indicava um desmonte do real, mais calotes na dívida externa e interna. Logo, o negócio era comprar dólares e, quem podia, deixar o mercado local.

Foi quando Lula assinou a Carta ao Povo Brasileiro, comprometendo-se a manter toda a política do real. Ou seja, prometeu ser ortodoxo em economia, e Antonio Palocci circulava pelos mercados jurando que seria assim.

A mensagem pegou, e a prática do primeiro governo Lula, com a equipe econômica mais ortodoxa da história recente, manteve a estabilidade das regras e dos contratos.

Nisso, Lula iniciou seu governo com a moeda americana a R$ 3,50. No fim do primeiro ano, já estava na casa de R$ 2,80. Concluído o primeiro mandato, dezembro de 2006, o dólar estava valendo R$ 2,13. Para encurtar a história, no fim do segundo mandato, dezembro de 2010, a dólar valia um ridículo R$ 1,66.

Cora Rónai: Notícias do inferno

- O Globo

O que está acontecendo em Roraima é uma confluência de misérias e de incompetências em todos os níveis

Tive vergonha de ser brasileira quando vi o vídeo dos refugiados venezuelanos sendo expulsos de Roraima ao som do Hino Nacional; mas menos por causa dos brasileiros que os tocavam da sua cidade do que por causa do nosso atual governo, incompetente e omisso, e dos nossos governos passados, igualmente incompetentes, e ainda por cima coniventes e cúmplices da tragédia da Venezuela.

Não conheço Pacaraima, nem os brasileiros de Pacaraima. Não acredito que eles sejam piores do que o resto de nós brasileiros, nem acredito que sejam particularmente xenófobos —habitantes de cidades de fronteira, em geral, tendem a se acostumar desde cedo com o vaivém de estrangeiros. Eles apenas não aguentam mais.

É fácil se horrorizar com o seu comportamento do conforto das nossas salas, entre um cafezinho e uma água gelada — até porque o que fizeram é mesmo horripilante, e contraria tudo o que sentimos, tudo o que aprendemos.

É fácil julgá-los nas redes sociais, ignorando as suas circunstâncias.

Mas imaginem uma cidade de dez mil habitantes, com o IDH do Iraque, atravessando, como o resto do país atravessa, uma das maiores crises da sua história; e imaginem essa cidade com quatro mil pessoas a mais, vivendo subnutridas e doentes nas ruas, desesperadas, sem perspectivas, sem trabalho, sem alimento.

É um caldeirão em ponto de fervura, uma tragédia pronta para acontecer.

Mistificação: Editorial | O Estado de S. Paulo

Era mesmo necessário que alguém da estatura de FHC, reconhecido internacionalmente, viesse a público manifestar seu repúdio mais veemente contra essa campanha de desinformação e má-fé da máquina lulopetista

O jornal britânico Financial Times publicou no dia 21 um artigo de Fernando Henrique Cardoso no qual o ex-presidente critica duramente seu sucessor, Lula da Silva, por enxovalhar a imagem do Brasil no exterior – a mais recente estocada foi um artigo, publicado pelo New York Times, em que o petista diz, entre outras barbaridades, que sua prisão “foi a última fase de um golpe em câmera lenta destinado a marginalizar permanentemente as forças progressistas no Brasil”.

Em resposta a essa patacoada, FHC escreveu que “a maneira que Lula da Silva escolheu para se defender perante o mundo (...) tem de ser contestada”, pois “sua versão da história recente do Brasil guarda escassa relação com a realidade”. Diz também que “o ex-presidente retrata o Brasil como uma democracia em ruínas, na qual o Estado de Direito deu lugar a medidas arbitrárias destinadas a enfraquecê-lo e a seu partido”, o que “não é verdade”.

Depois de descrever as muitas mentiras de Lula sobre o “golpe” contra a presidente Dilma Rousseff e sobre o processo que condenou o petista à cadeia, FHC afirma que “é uma grave distorção da realidade (...) dizer que há uma campanha no Brasil para perseguir indivíduos específicos” e termina com um protesto: “Meu país merece mais respeito”.

Já não era sem tempo. A máquina lulopetista de agitação e propaganda, calejada depois de mais de três décadas destruindo reputações alheias e construindo a mitologia de seu morubixaba, há muito tempo trabalha para convencer a opinião pública no exterior de que o impeachment de Dilma e a prisão de Lula foram parte do tal “golpe” destinado a “reverter o progresso dos governos do PT”, como diz o caviloso artigo do chefão petista. Era mesmo necessário que alguém da estatura de FHC, reconhecido internacionalmente como estadista, viesse a público manifestar seu repúdio mais veemente contra essa campanha de desinformação e má-fé.

Mas o fato é que o estrago está feito. O aparato da seita de Lula para desmoralizar a democracia brasileira no exterior mobilizou tantas frentes que hoje é praticamente impossível tentar conter seus danos por meios tradicionais, como a diplomacia, ou com artigos na imprensa estrangeira.

São artistas, intelectuais, professores universitários e políticos de diversos países, todos convencidos de que Dilma Rousseff caiu em razão de um “golpe” e que Lula da Silva é um “preso político”. Pudera: até uma “greve de fome” os petistas deflagraram para caracterizar o “estado de exceção” brasileiro.

Essa campanha de desinformação não para de dar frutos. No mês passado, por exemplo, o cientista político Steven Levitski, de Harvard, autor do best-seller Como as Democracias Morrem, disse em entrevista ao Estado que o impeachment de Dilma “viola o espírito das leis” e que a exclusão de Lula da corrida presidencial “é algo perigoso a se fazer” – como se, em ambos os casos, a lei não tivesse sido seguida.

O mesmo equívoco, mas numa dimensão muito maior, cometeu o ex-chanceler do México Jorge Castañeda. Em artigo no New York Times, intitulado Por que Lula deve ter permissão para concorrer à Presidência, Castañeda argumenta que “a causa de Lula foi endossada por muitas figuras internacionais ao redor do mundo” e sugere que seu caso se assemelha à perseguição política empreendida pelas ditaduras da Venezuela e da Nicarágua contra seus oponentes. Após dizer que impedir a candidatura de Lula seria marginalizar milhões de eleitores que querem “seu ídolo de volta à Presidência”, ele completa: “As acusações (contra Lula) são tão frágeis, os alegados crimes, tão pequenos, a sentença, tão escandalosamente desproporcional (...) que a democracia deveria se sobrepor ao Estado de Direito” – ou seja, o “desejo” dos eleitores de Lula deveria prevalecer sobre a lei.

Quando prestigiados intelectuais, alguns com boas credenciais democráticas, se deixam encantar dessa forma pelas patranhas de Lula, a ponto de abdicar da defesa do Estado de Direito – que é o pilar da democracia, pois assegura que ninguém, nem mesmo deidades como Lula, está acima da lei –, só resta esperar que a Justiça brasileira não vergue ante essa espantosa histeria coletiva.

Pesquisas ressaltam baixa previsibilidade das eleições: Editorial | Valor Econômico

As primeiras pesquisas eleitorais após o registro oficial dos candidatos à Presidência ampliaram as incertezas sobre o resultado das eleições, em vez de delinear tendências. Sinal da baixa previsibilidade, o candidato que mais cresce não pode por lei ser candidato e não aparece em público, pois está preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Jair Bolsonaro, do PSL, ainda avança, embora discretamente, jogando para o futuro as apostas de que sua inconsistente candidatura desmancharia no ar. Sem Lula na urna, Bolsonaro até se distanciou um pouco mais de seus rivais imediatos, Marina Silva e Ciro Gomes. O tucano Geraldo Alckmin, que possui a maior coalizão de partidos em seu apoio, tem ligeiro aumento de preferência no Datafolha (de 7% para 9%) e queda no Ibope (8% para 7%), o que indica que, na verdade, ainda permanece estacionado.

A estratégia do PT de levar a candidatura de Lula até o limite de tempo da Justiça e das possibilidades deu até agora mais resultados do que a participação nos debates eleitorais dos demais candidatos. Até junho, o ex-presidente, embora mantendo a dianteira, vinha caindo na preferência dos entrevistados. Lula ressuscitou com força em agosto, saltando de 30% para 39% (Datafolha) e de 33% para 37% (Ibope). Ele não só ganha de todos os demais concorrentes no segundo turno, como ampliou essa vantagem.

Os mercados, como indica a quebra da barreira de R$ 4 pelo dólar, mostram-se triplamente inquietos. Primeiro, porque o candidato do PSDB se arrasta nas pesquisas. Segundo, porque o PT, autor do desastre econômico com o qual o país ainda convive, está de novo no páreo. Terceiro, porque as pesquisas apontam o confronto dos dois candidatos ou forças com as maiores taxas de rejeição, Lula (ou seu indicado do PT) e Bolsonaro, em uma polarização que resultará em baixa governabilidade, seja quem for o vencedor da disputa.

Os próximos pontos possíveis de mudança do quadro eleitoral são a definição, pelo Tribunal Superior Eleitoral, sobre a candidatura de Lula - que o PT, em princípio, tenta estender para depois de 15 de setembro - e o início dos programas de TV e rádio dos candidatos, a partir de 31 de agosto.

A tragédia do sistema socioeducativo: Editorial | O Globo

Taxa de mortes de adolescentes infratores nos abrigos de todo o país já supera a dos presídios

Os números são catastróficos e revelam o desprezo dos governos por jovens infratores que, sob custódia do Estado, poderiam trilhar novo caminho. Como mostrou reportagem do GLOBO publicada no último domingo, um adolescente morre a cada oito dias dentro de unidades socioeducativas. No ano passado, foram 42 vítimas. Nos primeiros sete meses de 2018, 26 óbitos. O que significa que o patamar vergonhoso de 2017 vem sendo mantido.

Quando se analisamos dados detalhadamente, percebe-se que o problema é complexo. Cerca de 54% das mortes foram classificadas como homicídio se 3,8%, como suicídios. Mas 42,3% ainda são casos a serem esclarecidos, ou seja, o percentual de assassinatos pode ser ainda maior. Segundo as estatísticas oficiais, a maior parte dessas mortes ocorre em conflitos, num cenário em que as facções criminosas começam a dominar os abrigos, repetindo o modelo nefasto de “escolas do crime” que impera no sistema carcerário.

Representante da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced), Acassio de Souza revela um dado estarrecedor: a taxa de mortes no sistema socioeducativo já é maior que nos presídios (14,3 por 10 mil internos contra 8,4 por 10 mil presos). Isso evidencia que essas instituições, que reúnem cerca de 25 mil adolescentes e cuja missão deveria ser educar e ressocializar, fracassaram.

Lugar-comum: Editorial | Folha de S. Paulo

Datafolha mostra que intenções de votos brancos e nulos superam as de Doria e Skaf

A disputa pelo governo paulista se encontra em situação peculiar, segundo a mais recente pesquisa Datafolha. Dois postulantes com pouca ou nenhuma experiência no setor público sobressaem, num quadro em que o debate programático se dissolve em lugares-comuns do meio empresarial que de alguma forma representam.

O ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) aparece na liderança, com 25% das intenções de voto, seguido por Paulo Skaf (MDB), presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com 20%.

O tucano, que mantém relações ambíguas com seu padrinho político original, o ex-governador Geraldo Alckmin, abandonou o mandato municipal após pouco mais de um ano. Na prefeitura, dedicou-se a criar eventos midiáticos e promover articulações com vistas a novas ambições eleitorais.

Por um período, chegou a desafiar Alckmin na disputa pela candidatura do PSDB à Presidência. Valendo-se do marketing de personagem distante da vida partidária tradicional, conseguiu angariar simpatias em setores à direita e entre nomes da iniciativa privada.

Alckmin reitera confiança de que estará no segundo turno das eleições deste ano

O candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB), reiterou nesta quarta-feira (22), em agenda no Tocantins, sua confiança de que estará no segundo turno das eleições deste ano. Ao comentar a mais recente pesquisa Datafolha, o presidenciável ressaltou que o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV deve provocar profundas alterações no cenário eleitoral.

“O que todo mundo quer é enfrentar o Bolsonaro no segundo turno, porque ele perde para qualquer um”, disse o tucano ao comentar o levantamento (ouça aqui a entrevista).

Após visitar um frigorífico na cidade de Gurupi, Alckmin destacou a importância da agropecuária para o estado e para todo o País. “É um dos polos mais dinâmicos da economia brasileira. Nós vamos ser o celeiro do mundo, ninguém vai produzir tanto grão, tanto alimento, tanta proteína animal como o Brasil. O agronegócio não cria emprego só no campo, cria também na cidade, no setor de serviços e na indústria”, afirmou (veja aqui as diretrizes gerais do programa de governo do candidato).

Infraestrutura
O candidato tucano ressaltou a necessidade do investimento em infraestrutura.

“É preciso melhorar as rodovias e ampliar o sistema ferroviário, fazer hidrovias, interligar os modais. Essa região vai crescer de maneira geométrica, mas, para isso, o produto precisa chegar ao porto”, disse.

Alckmin disse ter otimismo para a retomada do emprego e do crescimento. “Não existe uma bala de prata, mas um conjunto de medidas macro e microeconômicas que vão fazer toda a diferença. Se recuperarmos a confiança, vai ter investimento. E, se tiver investimento, vai ter crescimento e geração de empregos”, disse.

Alckmin lança página oficial de campanha

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, lançou segunda-feira (20) o site oficial da campanha. O endereço da página é www.geraldoalckmin.com.br. Além do plano de governo, lá o público encontra informações sobre a história de vida do tucano, carreira pública, realizações da sua gestão como governador de São Paulo e notícias sobre a sua campanha.

“As histórias da minha infância, da minha família, a formação em medicina e a carreira política que construí de forma limpa, baseada nos princípios democráticos e no respeito ao dinheiro público. Conheça a minha história de vida e os caminhos que me trouxeram até aqui.”.

O convite para visitas à sua página oficial foi feito pelo seu perfil oficial do Facebook.

“A história de Geraldo Alckmin, como a de todos nós, tem seus momentos de risos, lágrimas, frio na barriga, borboletas no estômago (graças à Dona Lu Alckmin, claro)… Mas você não precisará aguardar até o próximo domingo para conhecer um pouco mais de sua vida. Visite o novo site de Geraldo Alckmin, garantimos que você se surpreenderá com vários trechos de sua história!”, diz o convite.

Militantes e candidatos do PSDB e da coligação podem baixar os materiais de campanha pelo site. As doações para campanha também poderão ser feitas por meio desta página.

O ex-governador de São Paulo também busca aproximação do brasileiro por meio deste canal. A página tem um campo reservado para receber sugestões para ampliar o seu plano de governo. Além de denúncias contra as notícias falsas, chamadas Fake News

Bolsonaro visita SP e ataca Alckmin

Em 1ª agenda oficial no interior de SP, reduto do ex-governador, candidato do PSL ataca tucano e afirma que ele ‘está na mira’ da operação

José Maria Tomazela | O Estado de S. Paulo

PRESIDENTE PRUDENTE (SP) - Em sua primeira agenda oficial no interior de São Paulo, o candidato do PSL ao Planalto, Jair Bolsonaro, foi a Presidente Prudente, um dos mais fiéis redutos tucanos, e criticou o ex-governador e candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. “Alckmin se juntou ao que tem de pior na política brasileira. É por isso que os eleitores dele agora estão me apoiando. É só comparar a minha vida pregressa com a dele. Estou no sétimo mandato de deputado federal e não tenho uma mancha. Já ele está na mira da Lava Jato em São Paulo”, afirmou.

Bolsonaro disse que as mais recentes pesquisas mostram que a estratégia de Alckmin, de se juntar aos partidos do Centrão para ter mais tempo de TV, não deu certo. “O tal do blocão, o grande acordo que existe entre eles, e que o PSDB nega se for perguntado, é que, em chegando lá, o presidente assina um indulto para o Lula e para uma parte da Lava Jato.”

De acordo com o candidato do PSL, o eleitor não aceita mais a política do “toma lá da cá” e rejeita candidatos com essa postura. “Deputados de grande parte desse Centrão, e até do PSDB, não vão pedir voto para o Alckmin. O deputado pede voto para o Alckmin e acaba perdendo voto. Ele (Alckmin) vai ter dificuldade para que os deputados do Centrão trabalhem para ele.”

Bolsonaro também contrapôs seu estilo, que considera “autêntico”, ao do tucano. “Pergunte para o Alckmin sobre o aborto e sobre ideologia de gênero. Ele vai ficar em cima do muro. As minhas posições são claras, são as mesmas que eu defendo sempre.”

As afirmações foram feitas em entrevista coletiva depois de o candidato ter seguido em carreata do aeroporto até a praça 9 de Julho, no centro da cidade. Ele caminhou rapidamente pelo calçadão e, em seguida, discursou em cima de um carro de som. Cerca de 800 pessoas participaram do ato, segundo estimativas da Polícia Militar.

Durante a caminhada no calçadão, o candidato ouviu gritos de “lixo” de um grupo de estudantes. “Ele não fala coisa com coisa, como quer governar o Brasil”, disse Giovana Stefani, de 18 anos.

Ao microfone, Bolsonaro vinculou o PSDB ao PT, que registrou a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato. “Chega dessa dupla de irmãos corruptos, que querem mergulhar o País no caos. Nos últimos anos eles nos assaltaram. Temos que varrer do mapa o PT e o PSDB.”

E criticou a construção de presídios na região por governos tucanos. “Presídio tem que ser construído na região amazônica, não aqui. Lá o sujeito não tem acesso a celular e realmente fica afastado do convívio da sociedade, sem contato com os que estão do lado de fora.”

Bolsonaro atribuiu ao PT a culpa pelos incidentes de violência de brasileiros contra venezuelanos na fronteira entre os dois países, em Roraima. “Não podemos criticar o povo de Roraima pelo que aconteceu. Está havendo uma entrada indiscriminada de venezuelanos no País e nem todos têm compromisso com a lei e a ordem. Agora é preciso impor a lei e controlar a violência.”

Ele disse que o PT apoiou os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. “Quando a Venezuela deu os primeiros sinais de quebradeira, a elite venezuelana foi para Miami, parte da classe média foi para o Chile e os pobres estão vindo para o Brasil.”

‘À bala’. Bolsonaro aproveitou a visita a Presidente Prudente, região de fazendas e berço do Movimento dos Sem Terra (MST) em São Paulo, para reafirmar que não vai admitir invasão de propriedades. Ao lado do presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, coordenador de sua campanha no meio rural, defendeu o uso de armas contra “invasores”. 

“No que depender de mim, qualquer invasor vai ser recebido à bala. O MST gera uma insegurança muito grande no campo. O proprietário tem a fazenda invadida e alguns governos favoráveis à ideologia deles fazem corpo mole na hora de cumprir a reintegração. Qualquer invasão, seja rural ou urbana, tem de ser repelida com força”, disse.

Diante de apoiadores, foi aplaudido ao defender o fim do estatuto do desarmamento, que restringe a venda e o porte de armas no País. “Vamos dar aos cidadãos de bem o direito de posse à arma de fogo. Não é armar a população, é garantir a posse de uma arma para o cidadão defender sua vida.”

‘Ele perde para qualquer um’, afirma tucano

Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, afirmou que espera disputar o segundo turno da eleição com o deputado Jair Bolsonaro (PSLRJ), “porque ele perde para qualquer um”. A declaração foi feita a propósito de pesquisa Datafolha que testou dez cenários diferentes de segundo turno para a disputa presidencial.

Sem o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, o candidato do PSL venceria apenas Fernando Haddad (apresentado na sondagem como um possível substituto de Lula).

“O que todo mundo quer é o Bolsonaro no segundo turno, porque ele perde para qualquer um. Vamos chegar ao segundo turno”, disse Alckmin, após visitar um frigorífico na cidade de Gurupi, no Tocantins.

Na pesquisa, Alckmin apareceu com 9% das intenções de voto no primeiro turno, mas venceria Bolsonaro num eventual segundo turno com 38%, ante 33% do oponente.

A afirmação do tucano também foi uma resposta à corrente do PSDB que defende uma “ofensiva” contra Bolsonaro. O ex-governador, que aposta no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV para decolar nas pesquisas, no entanto, resiste a essa estratégia. Ele terá 12 inserções diárias de 30 segundos, o maior tempo entre todos os candidatos à Presidência.

A pressão para que Alckmin adote um estilo mais agressivo aumentou após a divulgação das mais recentes pesquisas. Os resultados frustraram os tucanos, que esperavam iniciar a campanha com dois dígitos de intenção de votos.

Haddad enfrenta obstáculos para herdar votos

Apesar da rejeição baixa, especialistas alertam que ausência física de Lula na campanha e desgaste do PT com escândalos de corrupção são os principais desafios para o ex-prefeito de São Paulo garantir migração de votos

 Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo | O Globo

SÃO PAULO E SALVADOR - Embora com potencial de crescimento num cenário eleitoral sem o ex-presidente Lula, Fernando Haddad, vice na chapa, tem pela frente uma série de obstáculos para tentar viabilizar uma eventual candidatura presidencial. Para cientistas políticos, uma possível transferência de votos está distante de ser automática, uma vez que, mesmo com baixa rejeição, o eleitor não demonstra ainda identidade com a figura do ex-prefeito de São Paulo.

Entre as dificuldades apontadas, a maior delas é justamente a ausência física de Lula, preso em Curitiba desde abril. Há outras questões sensíveis para Haddad, como o desgaste do partido com denúncias de corrupção e menos tempo de TV no horário eleitoral gratuito. Haddad se tornou uma espécie de refém do discurso do próprio partido, que mantém a estratégia de levar o nome de Lula “até as últimas consequências”, diminuindo a aderência de seu nome no eleitorado.

Na avaliação de Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, sem Lula, Haddad poderia crescer pelo menos 10 pontos percentuais nas pesquisas. A análise leva em consideração o cruzamento de dois dados da última pesquisa presidencial realizada pelo instituto: as intenções voto de Lula, que chegam a 37%, e os eleitores que dizem ter certeza de que vão votar no ex-prefeito de São Paulo, caso ele seja o candidato apoiado pelo líder petista, que são 28% dos entrevistados.

—Há um potencial de transferência. Mas isso depende do poder de comunicação da campanha do Haddad. Justamente de falar para o eleitor que é o candidato do Lula.

O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, observa que a presença de Lula na campanha foi determinante para a vitória de Dilma Rousseff.

— Assim como a Dilma, Haddad também terá que se tornar conhecido e ao mesmo tempo mostrar que tem capacidade. A Dilma foi conquistando os eleitores aos poucos com o Lula a tiracolo. São uma série de obstáculos que precisam ser transpostos em pouco tempo —afirma Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

Numa hipótese de Haddad chegar ao segundo turno, outro entrave pode ser a rejeição a Lula, a maior entre os candidatos: 34%, segundo o Datafolha.

Oswaldo Amaral, doutor em ciência política pela Unicamp, concorda que a rejeição deve ter um peso maior no segundo turno:

— No primeiro turno, como o cenário é pulverizado e há quatro candidatos competitivos, isso não atrapalha muito. No segundo turno, sim —diz Amaral.
Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, acredita que o maior obstáculo para Haddad como presidenciável seria a limitação da presença de Lula na campanha:

— Há uma série de limitações e bloqueios para a campanha por causa da prisão de Lula. Então, o maior obstáculo é essa indefinição sobre o quanto ele (Lula) poderá aparecer na campanha para transferir os votos, associado ao curto tempo de TV para que Haddad se torne conhecido.

PT MANTÉM APOSTA
Ainda assim, os resultados das pesquisas do Ibope e também do Datafolha não devem alterar a estratégia de campanha do PT para a disputa presidencial. A avaliação é que a transferência do ex-presidente Lula para Haddad se intensificará a partir do momento que a troca do cabeça de chapa for oficializada.

Sem Lula, Marina é a preferida no Nordeste

Marina Falcão e Fernando Torres | Valor Econômico

RECIFE E SÃO PAULO - Região onde o ex-presidente Lula teve suas maiores votações, o Nordeste foge do padrão do restante do país também na eleição deste ano. Os cruzamentos da pesquisa do instituto Datafolha mostram que, sem o ex-presidente, Marina Silva (Rede) lidera as intenções de voto na região, único local onde isso ocorre.

Ela tem a preferência de 19% dos nordestinos, três pontos percentuais acima da média nacional no cenário sem Lula. Jair Bolsonaro (PSL) lidera quando Fernando Haddad (PT) é incluído nas demais regiões, mas no Nordeste fica com 14%, seu menor percentual. E empata com Ciro Gomes (PDT), que registra lá seu melhor desempenho.

Em termos nacionais, Bolsonaro obteve 22% das intenções de voto no cenário sem Lula; Marina, 16%; Ciro Gomes, 10%; e Geraldo Alckmin (PSDB), 9%. Haddad empata com Álvaro Dias (Podemos), ambos com 4%.

Voto lulista no NE é atraído por Marina, mostra pesquisa
Fortaleza de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a região Nordeste foge do padrão do resto do país também no cenário para a eleição presidencial em que o petista preso em Curitiba não aparece como candidato. É o que mostram cruzamentos da pesquisa Datafolha divulgada ontem.

Sem Lula no páreo da corrida presidencial, Marina Silva (Rede) lidera em intenções de voto na região Nordeste, à frente do deputado Jair Bolsonaro (PSL). É a única região do país onde isso ocorre. A ex-ministro do Meio Ambiente consegue 19% dos votos nos nove Estados do Nordeste, três pontos percentuais acima da média nacional no cenário sem Lula. Já Bolsonaro, que lidera nas demais regiões do Brasil, fica numericamente atrás de Marina no Nordeste com 14%, seu menor percentual. É uma situação de empate com Ciro Gomes (PDT), que também obtém na região o seu melhor desempenho.

Mário Quintana A canção da vida

A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)