terça-feira, 18 de setembro de 2018

Merval Pereira: Os fantasmas da eleição

- O Globo

Se Bolsonaro não tiver condições, assumiria o general Mourão, que fala de autogolpe como se falasse que vai ali na esquina

Esta é uma eleição fantasmagórica, e não apenas porque o principal líder de esquerda está na cadeia, impedido de disputar a eleição por ter sido condenado por corrupção, e Bolsonaro, que se tornou o líder de uma direita que parecia não existir no Brasil, estar no hospital, após ter sido esfaqueado.

Os fantasmas dos dois dominam as campanhas dos que, até o momento, podem ir para o segundo turno. E os fantasmas da história recente do país, a escolha dos vices, assustam os eleitores. Imaginemos que Bolsonaro, eleito, não esteja em condições de assumir a Presidência em janeiro. Assumiria o também polêmico general Mourão, que fala de autogolpe como se falasse que vai ali na esquina e já volta.

Seria uma repetição como farsa da tragédia de Tancredo. E o que dizer de Haddad, que tem como vice Manuela D’Ávila, política inexperiente do radical PCdoB? Outros fantasmas assombram, como a possibilidade de um autogolpe, seja por parte de Bolsonaro, que já tem militares da reserva defendendo abertamente a intervenção “em caso de caos”, seja por parte do PT.

Os dirigentes petistas já anunciam que a prioridade é inocentar Lula, mas não através de recursos ao Judiciário, mas pela iniciativa do novo presidente de indultá-lo, o que seria um golpe contra o estado de direito. Não à toa os dois falam em golpe. Primeiro foi o PT, que dizia que eleição sem Lula é golpe. Agora é Bolsonaro, que põe em dúvida a lisura do pleito, sugerindo que as urnas eletrônicas não são confiáveis.

Com as pesquisas mostrando que o segundo turno hoje provavelmente seria entre Bolsonaro e o “laranja” de Lula, já começa uma reorganização dos eleitores em direção ao voto útil. Bolsonaro está sentindo o cheiro de uma vitória já no primeiro turno e, do leito do hospital, assesta suas baterias contra o PT, assumindo o papel de anti-Lula que tirou do PSDB.

José Casado: Uma nova tribo à direita

- O Globo

‘Eu sou baixo clero, e sou de direita”, repetiu na Câmara nos últimos 27 anos. Encarnou um personagem que, sem farda, exala a rusticidade da caserna. Se tornou um missionário da ruptura com a democracia, em negação permanente da catástrofe dos 21 anos de ditadura militar.

Foi ignorado até 2015 quando se anunciou candidato de uma nova tribo à direita: a sociedade anônima dos que têm medo do PT com os ressentidos da liquefação política. Líder nas intenções de voto — e na rejeição eleitoral, sobretudo entre as mulheres —, Jair Bolsonaro, 63 anos, ventaneja há décadas a “refundação” do Brasil por uma nova direita, essencialmente antiliberal.

O projeto prevê intervenção militar, “para manutenção da lei e da ordem, conforme o artigo 142 da Constituição”, repetiu pelo país. Ele não conspira, fala em público, e não renega a tosca antipolítica: “Um curto período de exceção, que incluiria o fechamento temporário do Congresso e a suspensão das prerrogativas do Legislativo”, disse no Sul.

A última ditadura durou 21 anos. No epílogo da anarquia fardada, ele figurou com um plano para explodir bombas em quartéis no Rio.

Da tribuna da Câmara ecoou seu fascínio pelo autoritarismo: “Sou a favor, sim, de uma ditadura, de um regime de exceção”. Desenhou-o como saída aos problemas nacionais.

Bernardo Mello Franco: Bolsonaro questiona sistema que o elegeu

- O Globo

O discurso do capitão contra o voto eletrônico tropeça na lógica. Ao questionar a lisura da urna, ele põe em dúvida o sistema que lhe deu cinco mandatos

O capitão Jair Bolsonaro voltou a fazer campanha do leito do hospital. Num vídeo transmitido na internet, ele chorou e lançou suspeitas sobre a urna eletrônica. Em tom conspiratório, alegou que haveria um complô em curso para evitar sua eleição.

“A grande preocupação realmente não é perder no voto, é perder na fraude”, disse, sem apresentar qualquer indício de manipulação. Ele criticou os institutos de pesquisa, o PT, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, que já barrou duas tentativas de retorno ao voto impresso.

O discurso de Bolsonaro pode convencer seus seguidores mais fanáticos, mas tropeça na lógica. O Brasil adotou o voto eletrônico há 22 anos. Desde então, o deputado conquistou cinco mandatos consecutivos. Ao questionar a lisura da urna, ele põe em dúvida o sistema que sempre o elegeu.

O capitão também sugeriu uma conspiração entre o PT e o Tribunal Superior Eleitoral. Outra tese sem pé nem cabeça. A Corte acaba de frustrar o partido ao sepultar a candidatura do ex-presidente Lula. A decisão obrigou o petismo a substituir o líder das pesquisas por um aliado que aparecia em quinto lugar.

Esta não é a primeira vez que um presidenciável questiona a urna eletrônica. Dias depois da derrota em 2014, o senador Aécio Neves pediu ao TSE uma auditoria no sistema de votação. Um ano depois, o PSDB reconheceu que não havia indício de fraude. A ação do tucano era choro de perdedor.

Eliane Cantanhêde: Amor e ódio na eleição

- O Estado de S.Paulo

Erros nas campanhas no 1.º turno e guerra de rejeições no 2.º: quem você odeia mais?

Jair Bolsonaro (PSL) é campeão de intenções de votos, mas também de rejeição. Fernando Haddad (PT) é quem mais cresce nas pesquisas, mas isso tem preço: quanto mais é conhecido e mais cresce, mais sua rejeição aumenta, praticamente na mesma rapidez e proporção.

Assim como encanta eleitores homens e de alta escolaridade, Bolsonaro é rechaçado por jovens, metade das mulheres e boa parte do eleitorado de baixa renda. E Haddad, assim como colhe os votos do ex-presidente Lula, herda a rejeição ao PT, que é muito forte, consolidada.

É nesse clima de “amor e ódio” aos dois líderes das pesquisas que o primeiro turno vai chegando ao fim, com os candidatos nervosos, suas equipes batendo cabeça e todos cometendo erros gritantes. A ansiedade bate à porta de uns e o desespero, à porta dos demais. O risco é o vale-tudo.

No hospital, Bolsonaro se livra de debates e sabatinas em que exibia todo o seu desconhecimento de economia, crise fiscal, investimentos, educação... Ao se preservar, porém, também sai do foco e deixa de fazer campanha numa hora decisiva e abre o flanco para o seu vice, general Hamilton Mourão, que está botando as asinhas de fora e acaba de produzir uma das pérolas da eleição: segundo ele, casa só com mãe e avó é “fábrica de desajustados” para o tráfico. O que é isso, minha gente?

Ao gravar um vídeo no leito hospitalar, Bolsonaro demonstrou duas fragilidades: a física e o medo do crescimento de Fernando Haddad. Acusou o golpe e saiu falando em “fraude” nas urnas, o que soa assim: “As urnas só são legítimas se eu vencer. Se eu perder, é fraude”. Bem democrático...

Haddad, que tem a campanha mais calculada e estratégica, ficou entre a cruz e a espada e optou. Para atrair os fiéis seguidores de Lula, ele se assume como pau-mandado do padrinho, diz que, se eleito, vai sempre pedir a bênção a ele na cela de Curitiba e deixa no ar a intenção de, no Planalto, conceder indulto para tirá-lo da cadeia. Mas, se isso aumenta a intenção de votos de Haddad, igualmente infla a rejeição a ele. Atiça o antipetismo, que não se esquece de que Lula, Dirceu, Palocci e todos os tesoureiros petistas foram presos pelo desmanche da Petrobrás.

Ciro Gomes continua sendo Ciro Gomes, expondo enfaticamente suas virtudes, mas incapaz de dissimular seus defeitos. E não é que o cabra macho cearense foi xingar, ameaçar e pedir a prisão de um repórter em Roraima?! Por uma pergunta mais do que legítima?! Mas o pior erro da campanha de Ciro é a estratégia errática.

Ele tentou Lula, que bateu com a porta na cara dele. Tentou o PT e as esquerdas, que lhe surrupiaram o PSB. Concentrou baterias contra Geraldo Alckmin e jogou todas as culpas das mazelas do País no PSDB, defendendo Lula contra a prisão e Dilma contra o “golpe”. Só que seu “inimigo” não era Alckmin, eram o PT e Haddad, como fica claríssimo agora.

Luiz Carlos Azedo: A violência das paixões

- Correio Braziliense

“A crise da democracia representativa e dos partidos políticos tradicionais não se restringe ao fracasso de suas elites políticas. É também uma crise dos valores liberais nas sociedades democráticas”

Com base na trilogia de Alexei Tolstoi, escritor do chamado “realismo socialista”, a série O Caminho dos Tormentos, da Netflix, narra a saga de duas irmãs aristocratas, um oficial do Exército russo e um engenheiro que se torna oficial do Exército Vermelho. Com locações e figurinos irretocáveis, a produção russa de 2017 mostra os horrores da guerra civil na Rússia (1917 a 1924), em meio ao ódio de classe, às paixões ideológicas e toda sorte de oportunismo e sectarismo políticos. Da derrocada da autocracia russa à consolidação dos bolcheviques no poder, houve um banho de sangue trágico, que esfacelou famílias e destruiu amizades.

Talvez essa história fosse diferente se uma carnificina ainda maior não tivesse ocorrido: a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), na qual a Rússia se engajou ao lado da Sérvia, da França e da Inglaterra, a chamada Tríplice Entente, contra a Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro, que formavam a Tríplice Aliança. Houve uma estupidez política sem tamanho de toda a elite europeia, encerrada no que a historiadora Barbara Tuchman, em seu livro, chamou de “Torre do Orgulho”. O mundo vivia a euforia da chamada Belle Époque (Bela Época), um período de grande progresso econômico e tecnológico; ao mesmo tempo, a exaustão do colonialismo e fortes tensões políticas e sociais.

O revanchismo latente na França e na Alemanha por causa da região da Alsácia-Lorena, que os franceses haviam perdido para os alemães na Guerra Franco-Prussiana, precisou apenas de um estopim para degenerar em gigantesca carnificina: o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, enquanto fazia uma visita a Sarajevo, região da Bósnia-Herzegovina, por um jovem terrorista sérvio. Insatisfeito com as atitudes tomadas pelo governo contra o criminoso, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia em 28 de julho de 1914. Ao fim do conflito, o saldo de mortos chegou a 10 milhões. A Alemanha acabou derrotada e perdeu não somente a Alsácia-Lorena, como todas as suas colônias, no Tratado de Versalhes, e ainda teve que pagar pesadas indenizações de guerra.

Em 1914, a Alemanha era governada pelo poderoso Partido Social-Democrata Alemão, que aprovou os créditos de guerra, o que provocou um tremendo racha na chamada II Internacional, que reunia a esquerda europeia. O Partido Trabalhista britânico e o Partido Socialista francês, ambos marxistas, seguiram o mesmo caminho e aderiram à guerra. O Partido Socialista Operário Russo (bolchevique), sob a liderança do revolucionário russo Vladimir Lênin, um dos personagens secundários da série russa, porém, seguiu outro caminho: defender a paz, fazer uma insurreição com apoio dos soldados insatisfeitos e tomar o poder. Tudo o que ocorreu depois na política foi consequência da 1ª Guerra Mundial, a começar pela radicalização política que levou ao poder Mussolini, na Itália, e Hitler, na Alemanha, os dois grandes derrotados no conflito.

Ambos foram derrotados na Segunda Guerra Mundial, mas a divisão entre comunistas e social-democratas se manteve na Europa por causa da “guerra fria”. Com a dissolução da União Soviética e o colapso do chamado “socialismo real” no Leste Europeu, essa divisão perdeu completamente o significado histórico. O mesmo processo de globalização e revolução tecnológica que levou à derrota o comunismo europeu, levou de roldão o Estado de bem-estar social na Europa ocidental. A grande obra social-democrata do pós-guerra entrou em colapso. O Ocidente passou a viver a hegemonia do pensamento liberal.

Hélio Schwartsman: Instinto selvagem

- Folha de S. Paulo

Nas urnas, eleitor pode ser generoso, tribalista, vingativo e até racional

Vai se desenhando um quadro em que o Brasil poderá ter de escolher entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

O primeiro já defendeu a tortura, o fuzilamento de adversários e apresenta um programa econômico ortodoxo, mas inexequível. Pior, a agenda oportunisticamente abraçada pelo candidato contraria todo seu histórico de 27 anos de votações como deputado federal.

Já o segundo representa um partido cujas políticas econômicas levaram o Brasil a uma das piores recessões da história e cujo programa de governo não traz nenhum indício de que a legenda tenha aprendido com seus erros.

Como chegamos a esse ponto? Bryan Caplan, autor de “The Myth of the Rational Voter” (o mito do eleitor racional), tem uma explicação. Embora adoremos classificar aqueles que não partilham de nossas preferências políticas como seres egoístas que votam de olho no próprio bolso, ignorando o bem comum, essa não é uma boa descrição.

Como o peso de um sufrágio individual tende a zero num pleito com milhões de eleitores, nem o mais insensato dos cidadãos acha que é o seu voto que vai definir a política econômica. Já de saída, sustenta Caplan, não faria sentido fazer escolhas tendo em vista interesses materiais próprios.

Ocorre que a virtual irrelevância de cada cédula singular também torna quase nulo o custo individual de votar “errado”. O seu sufrágio, por mais maluco que seja, não basta para prejudicá-lo. Com isso, a urna se torna o lugar onde o eleitor dá rédeas aos seus instintos mais básicos. Ele pode ser generoso, tribalista, vingativo e até racional. O sujeito vota de forma que o faça sentir-se bem consigo mesmo, sem pesar consequências. Mas, como ocorre com a poluição, o fato de o custo de erros individuais ser irrisório não significa que o custo coletivo também o seja.

O problema da democracia, diz Caplan, é que ela dá aos eleitores exatamente aquilo que eles querem.

Joel Pinheiro da Fonseca: O dilema real

- Folha de S. Paulo

Líder no 1º turno, Bolsonaro é o adversário mais fácil para se derrotar

A 19 dias das eleições, Bolsonaro segue numa confortável primeira colocação em todas as pesquisas. É o triunfo de uma direita que por muito tempo não tinha voz, que mesmo hoje costuma ser ridicularizada pelo establishment midiático e intelectual e que está francamente revoltada contra todo o sistema, da imprensa ao Congresso Nacional. Agora ela se faz ouvir.

Jair Bolsonaro não chegou lá à toa. Ele apresenta respostas a preocupações urgentes da população (se essas respostas são eficazes para resolver os problemas é outra história).

Em primeiro lugar, coloca a segurança pública no centro do debate e diz sem rodeios: para enfrentar o crime não basta amor, é preciso força.

O brasileiro está inseguro quanto ao amanhã, perdeu ou teme perder seu emprego, não sabe se seus filhos voltarão vivos para casa. A televisão e os jornais, alheios a tudo isso, empurram uma agenda agressiva de mudança de valores ao mesmo tempo em que hostilizam qualquer um que não se paute por sua régua. Para o caos em que o Brasil está afundado, em Brasília, nas ruas e nos lares, Bolsonaro é a promessa de que é possível impor ordem por meio da violência. A direita —que nunca esteve plenamente em casa no PSDB— agora tem um candidato para chamar de seu.

No entanto, quem está rindo à toa com o cenário eleitoral atual é justamente a esquerda. O líder isolado no primeiro turno é o adversário mais fácil para se derrotar no segundo. Seja Fernando Haddad ou Ciro Gomes, quem enfrentar Bolsonaro no segundo turno provavelmente vence. Sendo assim, um voto para Bolsonaro no primeiro turno auxilia os planos da esquerda de chegar à Presidência da República. Tenho certeza de que essa não é a intenção do eleitorado do capitão. É, contudo, sua consequência previsível.

Nossa eleição se assemelha à eleição francesa em 2017. A direitista Marine Le Pen surpreendeu com seu resultado excelente no primeiro turno. No segundo turno, contudo, foi esmagada pelo centrista Emmanuel Macron. Para o caso brasileiro, a grande diferença é que em vez de um centrista razoável, temos populistas de esquerda, mas que ainda assim conversam melhor com o centro do espectro político do que Bolsonaro, que conta com a rejeição mais alta.

Bruno Boghossian: Terceiro turno

- Folha de S. Paulo

Ataque de Bolsonaro a processo eleitoral é movimento irresponsável

Há duas maneiras de interpretar a declaração infundada de Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de fraude na disputa presidencial: ou o candidato quer acirrar a mobilização do eleitorado contra seus rivais do PT, ou quer deixar uma porta aberta para contestar o resultado das urnas se for derrotado. Nos dois casos, a estratégia é irresponsável.

O líder das pesquisas decidiu estimular a corrosão da confiança dos eleitores na democracia. Ao dizer que petistas podem fraudar o processo de votação, sem evidências concretas para amparar essa suspeita, o deputado do PSL toma emprestada a linguagem de políticos personalistas e populistas.

Na primeira hipótese, Bolsonaro estaria usando uma ferramenta retórica para incitar o medo entre os eleitores. Identificado como adversário ferrenho do PT, buscaria aglutinar ainda mais o voto antipetista em torno de sua figura com o discurso do medo da vitória do partido.

A acusação desmotivada não pode ser encarada como mera tática de campanha. Sem provas, a desconfiança sobre a urna eletrônica e sobre o processo democrático pode ter efeitos duradouros sobre o eleitorado —mesmo que ele seja vitorioso.

No cenário mais grave, Bolsonaro estaria preparando o terreno para atacar a própria eleição. Se for derrotado, o candidato abrirá um terceiro turno na Justiça ou convocará seus apoiadores às ruas para protestar não apenas contra os eleitos, mas contra todas as instituições que deram sustentação à votação?

Candidato a vice, Hamilton Mourão tentou contemporizar. “Temos de relevar o que ele disse. O homem quase morreu há uma semana. O cara está fragilizado”, afirmou. Faltou dizer que ele mesmo já arrancou aplausos em palestras ao surfar na contestação às urnas eletrônicas.

Dizer que a democracia não funciona é a maneira mais eficaz de alimentar o clamor por soluções autoritárias. Questionar desde já a legitimidade da eleição é o tipo de ataque que busca apagar, com antecedência, as regras do jogo.

Fernando Exman: Brincando com fogo

- Valor Econômico

Questionar legitimidade do pleito fomenta crise

Candidatos e partidos precisam ter claro, neste momento de recrudescimento da disputa eleitoral: minar o respeito ao resultado que sairá das urnas no mês que vem é pavimentar o caminho para a barbárie política e a manutenção, pelo menos a médio prazo, da crise econômica em que o Brasil se encontra.

Objeto de estudo de teóricos da academia e motivo de preocupação permanente de políticos profissionais, o conceito de legitimidade se tornou um dos protagonistas desta etapa da campanha eleitoral. O tema voltou à agenda do dia, almoços de família, mesas de bar e redes sociais. Só parece não estar sensibilizando devidamente quem teria por obrigação rechaçar qualquer forma de se colocar em xeque a lisura do resultado que surgirá das urnas no mês que vem.

A responsabilidade política primordial de quem decide entrar numa disputa é aceitar as regras do jogo ou questioná-las no devido tempo e pelos meios adequados. Do leito do hospital em que se recupera de um atentado, Jair Bolsonaro (PSL) afirmou estar preocupado em perder "na fraude". A declaração ganha maior relevância não só pelo fato de ele ocupar a dianteira das pesquisas de intenção de voto, mas pelo fato de a facada desferida contra o ex-capitão ter levado militares da ativa e da reserva a questionarem a legitimidade de um próximo governo.

Não é de hoje que Bolsonaro contesta a confiabilidade das urnas eletrônicas. Ele é autor de proposta que implementaria a volta do voto impresso, iniciativa que passou pelo Congresso mas não prosperou na Justiça. Mesmo assim, não mobilizou ação prática de correligionários e aliados nos testes públicos promovidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que buscaram comprovar a segurança do sistema brasileiro de votação.

Bolsonaro não é o único. O candidato do Patriota, Cabo Daciolo, também tem essa como uma de suas bandeiras. Entre um retiro e outro nas montanhas, tem criticado a Justiça Eleitoral, o voto eletrônico e apontado o risco de fraude, caso não sejam adotadas cédulas de papel nestas eleições.

Nelson Paes Leme: O verdadeiro atentado à democracia

- O Globo

Modelo federativo e tributário que vimos praticando está falido. Idem o capitalismo de Estado que adotamos

Nem todos os estudiosos de história constitucional comparada e ciência política têm sedado conta de que oque está e mandamento nestas eleiçõe sé o início traumático de uma nova e indispensável transição de gerações e métodos de operação do Estado. Como em toda transição democrática, o novo surge de modo ainda caótico e disforme. Emerson tem uma famosa frase que tudo resume no modo dialético: “Adote o ritmo da natureza: o segredo dela é a paciência”.

O fim da Nova República começou com o mensalão e se aprofundou com o petrolão. Mas é, na verdade, um movimento autofágico inerente ao processo dialético de renovação de métodos de se fazer política no Brasil. Sai a derme necrosada do estatismo da República Velha e surge, desbridado, o novo epitélio róseo da revolução técnico-científica e do novo empreendendorismo. Desaparece a luta de classes, e surge a luta pela sobrevivência da biosfera e das espécies com as alternativas energéticas em franco progresso.

Mas, como em toda transição, o velho não sai de cena imediatamente. É o que ocorrerá neste fim de década. A renovação só aparecerá na próxima ou nas próximas décadas. A partir de 2022, provavelmente, começará a verdadeira consolidação da democracia no Brasil. Esse é o dado científico e estrutural que a crônica nem sempre acompanha com sua visão conjuntural e naturalmente imediatista de informar e explicar os fatos no momento em que se dão.

Um outro dado diferencial desta revolução é o movimento subterrâneo e imprevisível das redes sociais. Os meios de comunicação tradicionais não conseguem acompanhar essa dinâmica simplesmente porque é inusitadamente interativa e muito rápida. Um mero youtuber ou blogueiro tem milhões de seguidores, súbita e inexplicavelmente. Isso também influencia os institutos de pesquisa de opinião, cuja metodologia tradicional está ainda voltada para forças mais lentas em seus movimentos. Tudo que é sólido se desmancha no ar, diria hoje Berman, apud o próprio Marx, com muito mais propriedade ainda, certamente. De modo que tudo pode acontecer até a boca dessas urnas insuscetíveis de prognósticos prováveis. Mas o certo é que não se pode contar com transformações abruptas nem movimentos radicais, embora radicalismos à esquerda e à direita namorem sempre os movimentos todos, principalmente em tempos como os que estamos a viver.

Míriam Leitão: Mentira eleitoral tem preço alto

- O Globo

Collor e Dilma foram os que mais contaram mentiras em campanha. Pagaram um preço elevado por dizer uma coisa e fazer o contrário

Em época de eleição, a verdade sobre a economia é negada na maioria das campanhas. O Brasil enfrenta, como sabem todos os que seguem o noticiário, uma grave crise fiscal. Ela não será resolvida em um passe de mágica, ou em um ano. Ela não poderá ser superada com a repetição das mesmas decisões que nos levaram à crise. O discurso demagógico, o apelo ao sentimentalismo, o ataque a adversários são as armas mais usadas na propaganda política. E é exatamente no marketing eleitoral que morre a verdade sobre a economia.

Quando entrevistei os candidatos, seus vices e os economistas indicados pelas campanhas ficou claro para mim que há graus diferentes de ambiguidade quando se pergunta sobre como enfrentar a crise econômica. Alguns mentem, negam problemas que sabem que existem ou propõem caminhos inviáveis. Há os que são mais sinceros, e esses costumam perder voto.

Candidato sempre foge de assuntos incômodos. Fernando Henrique adiou o ajuste do câmbio para depois das eleições de 1998, e a Carta aos Brasileiros foi escrita em linguagem cifrada, que o mercado entendeu, mas os eleitores que acreditaram no programa econômico do partido em 2002 foram enganados. As duas eleições com taxa de mentira mais elevada foram as de 1989 e 2014. A ex-presidente Dilma, nas entrevistas, negou as evidências de que o país estava entrando em recessão e que as tarifas de energia estivessem defasadas. Ao ganhar a eleição, mudou totalmente a conversa. 

Pablo Ortellado: Um passo atrás

- Folha de S. Paulo

Candidatura de Jair Bolsonaro produz declarações preocupantes

As últimas pesquisas têm indicado que Jair Bolsonaro deve mesmo estar no segundo turno. A consolidação de sua liderança acontece no momento em que a candidatura produz declarações preocupantes, que colocam outra vez em xeque os pilares da democracia.

Em vídeo recentemente divulgado, Bolsonaro reafirmou sua posição de que não reconhecerá a eventual vitória de um adversário. Um pouco antes, o general Mourão, vice em sua chapa, declarou que considera legítimas tanto a possibilidade de autogolpe quanto a de uma revisão da Constituição realizada por constituintes não eleitos.

A ameaça é tão grave que é preciso um compromisso dos principais atores em defesa das instituições democráticas. Para começar, precisam reconhecer a legitimidade do adversário.

A direita, de um lado, tem tratado Lula e Bolsonaro como expressões diferentes do mesmo fenômeno populista que não respeitaria as regras da democracia liberal —isso, a despeito dos governos petistas terem observado rigorosamente esses limites (má gestão econômica e corrupção são problemas de outra natureza).

Já a esquerda tem tratado Alckmin e Marina como se fossem golpistas e, portanto, diferindo apenas em grau da orientação antidemocrática de Bolsonaro —embora Alckmin, Marina e seus partidos jamais tenham atentado contra a legitimidade do sistema de direitos humanos ou colocado em xeque a representação democrática.

Geraldo Brindeiro: Impeachment e inelegibilidade

- O Estado de S.Paulo

A condenação é causa de inelegibilidade e veda, também, além do exercício de cargo público eletivo, o exercício de qualquer função pública.

A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece que, se o presidente da República for condenado por crimes de responsabilidade em processo de impeachment, deverá perder o cargo e ficar inabilitado por oito anos para o exercício de função pública (artigo 52, parágrafo único). A condenação, portanto, é causa de inelegibilidade e veda, também, além do exercício de cargo público eletivo, o exercício de qualquer função pública.

Como assevera a eminente ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), “(...) a Constituição cuidou de não apenas afastar o agente do cargo (o que não teria exequibilidade com sua anterior renúncia), mas, ainda, preocupou-se em não permitir que o poder público, por qualquer de suas funções, pudesse vir a ser, pelo período de oito anos subsequentes à condenação, tangível à mão daquele que destratou a República, lesou a ordem jurídica e afrontou o povo do Estado brasileiro”.

É que, se o presidente da República renunciar ao cargo antes de concluído o julgamento do impeachment pelo Senado Federal, o processo continua e, em caso de condenação, evidentemente, aplica-se apenas a inabilitação; não por existirem sanções autônomas, mas, sim, por impossibilidade material de decretação da perda do cargo em face da renúncia.

Nesse sentido foi o acórdão do Supremo Tribunal Federal que, por unanimidade, indeferiu o mandado de segurança impetrado pelo ex-presidente Fernando Collor de Melo contra resolução do Senado que o havia declarado inabilitado por oito anos para o exercício de função pública (Mandado de Segurança n.º 21.689-DF, cujo relator foi o ministro Carlos Velloso).

O decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, também afirmou então no seu voto que “(...) há uma única sanção constitucionalmente estabelecida, que compreende, na abrangência do seu conteúdo, a destituição do cargo com inabilitação temporária. A unidade constitucional da sanção prevista torna-a indecomponível, incindível, impedindo, dessa forma, que se dispense tratamento jurídico autônomo às projeções punitivas que emanam da condenação senatorial”.

Maria Clara R. M. do Prado: A irracionalidade do mercado

- Valor Econômico

A crise de 2008 mostrou que o mundo não consegue caminhar na direção apregoada pela corrente da liberdade econômica

Durante muito tempo, a tese do mercado racional dominou o pensamento econômico. Nasceu nos anos 70, na Universidade de Chicago, que havia se destacado uma década antes com a teoria monetarista, segundo a qual a inflação resultaria diretamente da quantidade e da velocidade da moeda em circulação na economia.

O monetarismo, como se sabe, começou a sucumbir no início dos anos 90, quando os primeiros países passaram a usar o regime de meta inflacionária, baseado no direcionamento das expectativas futuras para a estabilidade monetária. Já a hipótese da racionalidade prevê a capacidade dos preços absorverem todas as informações disponíveis, redundando, assim, no funcionamento eficiente do mercado.

Ainda nos anos 70, concomitantemente à ideia da racionalidade, surgiu a tese da economia comportamental, baseada nos escritos de dois psicólogos, advogando que as decisões do mercado nem sempre são perfeitas porque as escolhas se fazem debaixo de incertezas, influenciadas pelo contexto do momento.

As finanças comportamentais destacam não a eficiência, mas a ineficiência do mercado, cujos participantes costumam errar sistematicamente, afetando preços e retornos, muitas vezes em busca de vantagens. Operações de arbitragem e a criação de instrumentos financeiros sofisticados, demasiadamente replicados na era da globalização, são produtos da ineficiência, a mesma que também explica as bolhas e o fenômeno do "rebanho" (em que os participantes movem-se na mesma direção para diluírem a percepção das falhas de suas decisões). A ineficiência favorece, ainda, a especulação.

Ana Carla Abrão*: Em nome de Deus

- O Estado de S.Paulo

O desafio econômico não é pequeno e exigirá liderança, união e legitimidade. Mas o cenário político continua descolado da realidade

Minha coluna de hoje toma emprestado o título de um livro de Karen Armstrong, publicado em 1944. Nele, a autora classifica o surgimento do fundamentalismo como um dos grandes problemas do século 20. Uma devoção militante que nada teme em defesa do que se acredita ser o resgate das origens e tradições das suas respectivas religiões. O fundamentalismo mata, ofende, violenta e até derruba governo. Partindo de um equívoco fatal, fundamentalistas misturam mythos e logos. No primeiro, navega a religião, sem racionalidade e sem evidência empírica, apenas guiado por uma fé incondicional – e míope, negando o segundo em que a verdade é a da ciência, racional e demonstrável.

O Brasil hoje vive a pior crise econômica da sua história. Talvez por isso, convergimos em diagnósticos claros e consistentes, com um nível de transparência inédito. Ao contrário de 2014, não se pode dizer que vivemos enganados por fantasias televisivas, pagas com dinheiro de um escândalo de corrupção que, ironicamente, revelou nossa dura realidade. Temos uma agenda de reformas estruturais discutida, apresentada e, quem diria, quase em consenso. À exceção dos economistas que pouco (ou mal) estudaram, não há dúvidas sobre a necessidade de se enfrentar o déficit fiscal, sobre a urgência da reforma da Previdência, o impacto positivo de uma reforma tributária sobre a eficiência e, na base de tudo, sobre o imperativo social que é mudar o modelo de funcionamento da máquina pública no Brasil.

Recessão derrubou todos os indicadores sociais: Editorial | Valor Econômico

A má colocação do Brasil no recente ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é mais um retrato das deficiências que prejudicam a competitividade do país no cenário internacional. Pelo terceiro ano seguido, o Brasil ficou no 79º lugar entre 189 nações em IDH, de acordo com cálculos feitos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para avaliar o bem-estar de uma sociedade, que leva em conta indicadores de saúde, educação e renda. Em uma escala que vai de zero a 1, o Brasil teve a nota 0,759. Na América do Sul, está na quinta posição, atrás do Chile, Argentina, Uruguai e até da Venezuela. A situação é pior quando a desigualdade é incluída na conta: o IDH brasileiro cai 23,9% para 0,578 ponto e perde 17 posições.

Depois de ter apresentado melhora gradual de 2012 até 2015, o Brasil estagnou no ranking do IDH como resultado da recessão, que afetou principalmente a renda, o mercado de trabalho e a educação. A renda nacional bruta (RNB) de US$ 13.755 de acordo com o Pnud, está abaixo dos US$ 14.350 de 2015, corrigida pela paridade do poder de compra (PPP). Além de ter diminuído, a renda é mal distribuída. O Brasil possui o nono pior Índice de Gini do mundo, que mede o grau de concentração da renda, uma das principais causas do baixo IDH.

Inflexões petistas: Editorial | Folha de S. Paulo

Candidatura do PT parece ensaiar, mais uma vez, a adesão ao pragmatismo

Na ausência de programas de governo consistentes, candidatos ao Planalto têm apresentado economistas de gabarito e convicções conhecidas como garantia de qualidade em um eventual mandato. Uma exceção importante a essa tendência é —não se sabe até quando—Fernando Haddad (PT).

Além de a plataforma esboçada pela chapa petista carecer de solidez, mantém-se a incógnita quanto a nomes para a equipe na hipótese de vitória. Nesta segunda-feira (17), entretanto, Haddad indicou ao menos quem não quer como seu ministro da Fazenda.

Na sabatina promovida por Folha, UOL e SBT, o presidenciável desautorizou, com clareza inédita, o correligionário Marcio Pochmann, que até então atuava como um porta-voz informal da agenda econômica do partido.

“O Marcio é um professor, candidato a deputado federal e uma pessoa independente do ponto de vista intelectual”, nas palavras de Haddad. “Ele participou [do programa de governo] como 300 outras pessoas participaram.”

Pochmann —cuja contribuição ao ideário da campanha foi subitamente rebaixada a 0,3%— é personagem importante no PT, presidindo hoje a Fundação Perseu Abramo, centro de estudos vinculado à legenda. Está, ademais, entre os mais notórios militantes de teses caras à esquerda nacional.

Surpresa na prévia do PIB: Editorial | O Estado de S. Paulo

A boa notícia trazida pelo Banco Central (BC) sobre as condições da economia em julho surpreendeu os mercados, superando a mais otimista das projeções coletadas pelo Broadcast, serviço de informações online da Agência Estado. Em julho, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) foi 0,57% superior ao de junho, segundo a informação divulgada ontem. As avaliações de especialistas haviam ficado entre um resultado negativo de 0,67% e um positivo de 0,50%, com mediana positiva de 0,10%. Os economistas do setor financeiro e das maiores consultorias tinham razões muito fortes para apostar em um número baixo. Os dados sobre indústria, varejo e serviços divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram piores que os de junho.

Publicado mensalmente, o IBC-Br é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), atualizado de três em três meses pelo IBGE. Os dois cenários podem divergir no curto prazo, mas tendem a convergir em períodos mais longos. Por enquanto, o IBC-Br de julho é intrigante. Os números anunciados a cada mês são publicados sem detalhamento setorial, isto é, sem discriminação dos componentes da oferta e da demanda gerais da economia brasileira.

De toda forma, a surpresa, embora positiva, foi insuficiente para mudar as estimativas do mercado para o terceiro trimestre e para o resultado final do ano, segundo economistas ouvidos na manhã de ontem pela reportagem da Agência Estado. Suas projeções de crescimento em 2018 foram mantidas entre 1,10% e 1,30%.

Esses entrevistados mostraram-se ligeiramente mais pessimistas que vários de seus colegas, como indica a última pesquisa Focus, do BC, divulgada também na segunda-feira. A mediana das projeções de aumento do PIB ficou em 1,36%. De toda forma, as estimativas continuaram caindo. Na semana anterior, a mediana havia sido de 1,40%. Quatro semanas antes da pesquisa recém-publicada, foi de 1,49%. Mantida a incerteza política, as expectativas continuarão sombrias, se nenhuma notícia econômica muito animadora surgir nas próximas semanas. Não há sinal, por enquanto, dessa boa novidade.

A impossível renovação do Congresso: Editorial | O Globo

Distribuição dos fundos perpetua castas políticas e alarga fosso entre Legislativo e a realidade do país

Há consenso entre analistas políticos que o pacto da Nova República, a ponte de passagem da ditadura militar para a redemocratização, se esgotou. Isso costuma acontecer na História. Os sinais deste esgotamento são vários, e todos desembocam na impopularidade do político e do exercício da política, o que corrói as bases da democracia representativa. Derivam disso graves efeitos colaterais.

Trata-se de mazela que aplaina o terreno, mais do que já está preparado, para líderes carismáticos, populistas, à direita e à esquerda. Procuram-se salvadores, não homens públicos no melhor entendimento do termo. A atual campanha é didática neste sentido.

Este cenário de pobreza institucional leva à necessidade de renovação de quadros na política. Há sinais de tentativas nesta direção. Mas não basta querer. Além de condições políticas favoráveis, é preciso vencer todo um arcabouço legal feito pela velha ordem para impedir o nascimento da nova. Também acontece na História.

A necessária bandeirada reforma política é alçada há muito tempo. Coma pulverização do quadro partidário (35 registrados, outros tantos na fila de espera de alvarás, e 28 com representação no Congresso), não se irá —como não se está indo— a qualquer lugar, devido à impossibilidade concreta de se construir alianças de governabilidade com base em programas. Restam o fisiologismo e a corrupção.

Reinventando o liberalismo para o século 21

The Economist | O Estado de S.Paulo (17/9/2018)

The Economist chega ao 175º aniversário defendendo a ligação entre progresso econômico e democracia liberal

Em setembro de 1843, James Wilson, um chapeleiro escocês, fundou esta revista. Seu propósito era simples: defender o livre comércio, o livre mercado e o governo limitado. Eram os princípios centrais de uma nova filosofia política à qual Wilson aderiu e com a qual The Economist está desde então comprometida. Essa filosofia se chama liberalismo.

Hoje o liberalismo é uma fé ampla – muito mais ampla que era para Wilson. Ela tem componentes econômicos, políticos e morais aos quais propostas diversificadas dão diferentes pesos. Com essa amplitude, veio a confusão. Muitos americanos associam o termo à crença esquerdista em governo forte; na França, ele é ligado ao fundamentalismo do livre mercado. Seja qual for a versão que você escolher, o liberalismo está sob ataque.

O ataque é uma resposta à ascendência de pessoas identificadas por seus detratores – de modo não totalmente irracional – como elite liberal. A globalização do comércio mundial; índices de migração historicamente altos; e uma ordem liberal mundial com base na premissa dos Estados Unidos de projetar poder duro: são todas coisas que a elite vem procurando criar e sustentar. São coisas que a elite tem feito bem, congratulando-se por sua adaptabilidade e abertura a mudanças. Às vezes, elas beneficiaram apenas uma faixa menor da população; às vezes, se consolidaram às expensas dessa faixa.

Políticos e movimentos populistas tiveram vitórias definindo-se como oposição a essa elite: Donald Trump opondo-se a Hillary Clinton; Nigel Farage a David Cameron; o Movimento 5 Estrelas à burocracia de Bruxelas; Viktor Orban a George Soros – que não estava disputando as eleições húngaras de abril, mas personifica tudo que Orban despreza, além de ser judeu.

Os populistas ridicularizam líderes do passado como obcecados por uma correção política autoritária e por não manterem contato com o que interessa às pessoas comuns; eles prometem a seus eleitores a oportunidade de “tomar de volta o controle”.

Enquanto isso, potências ascendentes – bem como a Rússia, que embora em declínio continua perigosa – procuram desafiar ou pelo menos emendar a ordem liberal mundial. E em futuro próximo a maior economia do mundo será a China, uma ditadura unipartidária. Por todos esses modos, a outrora raramente questionada ligação entre progresso econômico e democracia liberal vem sendo severamente testada. The Economist chega a seu 175º aniversário com a crença na defesa dessa ordem.

Alckmin diz que 2º turno entre PT e Bolsonaro é "risco para o Brasil"

Por Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA - Ainda sem conseguir se mostrar um nome viável nas pesquisas de intenção de voto e vendo adversários como Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) aumentarem a dianteira, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, vai nas próximas três semanas antes do primeiro turno reforçar a estratégia traçada por sua campanha.

A ideia é explorar a inexperiência administrativa de Bolsonaro, como forma de atacá-lo, mas não de maneira a afugentar o eleitor sensibilizado pela facada sofrida pelo oponente; insuflar o sentimento de antipetismo; e como resultado das duas anteriores, pregar o voto útil, com o argumento de que o candidato do PSL perderia para o petista no segundo turno.

Apesar de diferentes pesquisas indicarem que no momento ele estaria apenas na quarta colocação - a CNT/MDA divulgada ontem lhe deu apenas 6,1% das intenções -, Alckmin procurou manter a expectativa de que ainda pode engrenar na preferência do eleitor. "Isso não vai acontecer [um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad]. Vamos trabalhar muito para o país ter uma opção melhor e sair dessas aventuras", afirmou o tucano.

"É um grande risco para o Brasil ficar no segundo turno com PT e Bolsonaro. Temos que evitar que isso ocorra", avaliou. "O que acontece é que tem algumas pessoas votando no Bolsonaro para derrotar o PT. Mas esse pode ser o passaporte para o PT voltar ao governo. No segundo turno, Bolsonaro terá grande dificuldade para enfrentar o PT ou qualquer outro. É uma candidatura muito estreita", apontou.

Assim, a ideia, segundo Alckmin e aliados, é manter o sangue frio e acreditar em uma virada às vésperas do primeiro turno. "O que a gente percebe é uma eleição indefinida, meio que por ondas. Nesta, com muito mais razão, vai ser mais ao final a decisão. A situação não é simples, o mundo está preocupado como Brasil. O mundo quer investir, o país tem demanda, mas não pode ter aventura", disse. "Mas, lá na frente caminha para a racionalidade", projetou Alckmin.

Roberto Freire critica declarações de general da reserva e conclama a sociedade para evitar retrocessos na democracia

Assessoria PPS

“É preciso derrotá-los nas urnas”

O presidente do PPS e candidato a deputado federal pelo PPS de São Paulo, Roberto Freire, fez duras críticas as declarações do general da reserva e candidato a vice-presidente na chapa do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), Hamilton Mourão (PRTB), que defendeu a formulação de uma constituinte por meios não democráticos.

“Mais uma estultice das forças antidemocráticas que pretendem conduzir o Brasil para um futuro arriscado. Um futuro onde as liberdades e a democracia correm perigo. Por que? Um vice-presidente da chapa de [Jair] Bolsonaro defendeu a tese de uma constituinte que não seja formulada pela cidadania e o eleitorado brasileiro. Evidentemente uma grave distorção de alguém que não tem o mínimo respeito com o que significa a Assembleia Nacional Constituinte, a democracia, a cidadania e a eleição”, afirmou.

STF
Freire também comparou a Constituinte sem a participação dos eleitores brasileiros à proposta de Bolsonaro de ampliar o número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele lembrou que a medida foi adotada pela Venezuela, que hoje vive uma ditadura sob o governo do presidente Nicolás Maduro.

“Isso [a formulação de uma constituinte] se assemelha ao que foi proposto pelo Bolsonaro de aumentar o número de membros do STF. Isso é uma tese que foi adotada pelo chavismo e iniciou o processo de perda das liberdades, da democracia e da instalação da ditadura [na Venezeula]. Em um primeiro momento com [Hugo] Chávez e no segundo momento com Maduro”, lembrou o presidente do PPS.

Futuro melhor
Roberto Freire afirmou que o País deve tomar cuidado para não regredir nas conquistas sociais e democráticas, ao destacar que o PT também defende regimes autoritários.

“Uma outra face da mesma moeda. O lulopetismo também é antidemocrático e defende ditaduras à la Maduro. O Brasil não tem condições de ser uma Venezuela. Não pode regredir para ser uma outra ditadura como pretende esse vice-presidente do Bolsonaro, que também é um grande defensor de ditaduras, tortura e torturadores. Precisamos estar atentos porque com essas visões o Brasil não terá um futuro melhor. Será um retrocesso. Por isso é preciso derrotá-los no próximo dia 07 de outubro”, conclamou o dirigente do PPS.

Após Bolsonaro questionar urnas eletrônicas, Toffoli diz que elas são 'confiáveis'

Ministro defendeu as urnas e disse que os sistemas são abertos para auditagem

Rafael Moraes Moura e Amanda Pupo | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, disse nesta segunda-feira, 17, que as urnas eletrônicas brasileiras "são totalmente confiáveis". "As urnas eletrônicas são totalmente confiáveis. Os sistemas são abertos para auditagem, a todos os partidos políticos", afirmou Toffoli durante café da manhã, nesta segunda-feira, com jornalistas. “Tem gente que acredita em Saci Pererê”, comentou Toffoli, em referência ao famoso personagem do folclore nacional.

Em transmissão ao vivo no domingo, 16, o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, disse que as eleições 2018 podem resultar em uma "fraude" por causa da ausência do voto impresso. Vice na chapa, o general Mourão disse nesta segunda, 17, que a fala de Bolsonaro precisa ser "relevada". "Vocês têm que relevar um homem que quase morreu há uma semana, fez duas cirurgias."

Em junho deste ano, por 8 a 2, o STF derrubou a adoção do voto impresso nas próximas eleições. O uso do voto impresso para as eleições deste ano havia sido aprovado pelo Congresso Nacional em 2015, na minirreforma eleitoral.

Ao falar das eleições presidenciais de 2014, Toffoli lembrou que o então candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, pediu uma auditoria nas urnas após ser derrotado por uma pequena margem de votos para Dilma Rousseff (PT). "Geralmente os que perdem a eleição reclamam. O então senador Aécio Neves perdeu a eleição porque não teve votos em Minas Gerais. Por que as urnas estariam dando votos pra ele em São Paulo, e não em Minas Gerais, se o sistema era o mesmo? Não tem absolutamente sentido", comentou Toffoli.

'Ele quer justificar a derrota antecipada?', diz Alckmin sobre fala de Bolsonaro

Tucano diz Brasil é 'exemplo de avanço tecnológico' e discorda de possibilidade de fraude no resultado das eleições, como indicou o candidato do PSL

Mariana Haubert | O Estado de S.Paulo

Em queda nas pesquisas de intenção de voto nas eleições 2018, Geraldo Alckmin(PSDB) afirmou nesta segunda-feira, 17, que o receio demonstrado pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL) de que as eleições deste ano poderão ser fraudadas poderia ser uma justificativa para uma derrota antecipada.

"Por que ter fraude? Ele quer justificar a derrota antecipada? Eu disputei dez eleições. Ganhei, perdi. Não teve fraude nenhuma. Aliás, o Brasil é um exemplo no mundo de avanço tecnológico, de avanço eleitoral que tem até uma justiça eleitoral", disse Alckmin, em agenda de sua campanha.

Neste domingo, 16, Bolsonaro publicou um vídeo ao vivo na internet, direto do Hospital Albert Einstein, onde está internado. Nele, o candidato atacou as pesquisas de opinião que apontam sua derrota no segundo turno e o crescimento do petista Fernando Haddad. Acamado, com aparência debilitada e chorando em vários trechos da transmissão, Bolsonaro levantou a possibilidade de haver fraude nas eleições de outubro para beneficiar o PT e disse que, caso Haddad seja eleito, ele libertaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, e o nomearia ministro.

Alckmin diz que Bolsonaro está querendo 'justificar a derrota' ao falar em fraude

Tucano rebate declarações do candidato do PSL de que 'não há garantia nas eleições'

Cristiane Jungblut | O Globo

BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, reagiu às declarações do líder nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro (PSL), de que poderá haver fraude na eleição deste ano. O tucano disse que Bolsonaro pode estar querendo "justificar uma derrota antecipada" e defendeu o modelo da urna eletrônica, afirmando que o modelo brasileiro é um exemplo para o mundo. Estagnado nas pesquisas e dentro do discurso de pregar o voto útil, Alckmin disse que vai trabalhar para reduzir o ódio no país e para ser uma opção à polarização entre Bolsonaro e Fernando Haddad(PT).

A declaração de Alckmin faz coro ao posicionamento do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Neste domingo, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais e disse que poderia haver fraude na eleição, lembrando que sempre defendeu o voto impresso.

— Por que ter fraude? Ele está querendo justificar a derrota antecipada? Por que fraude? Disputei dez eleições: ganhei, perdi, e não teve fraude nenhuma. Aliás, o Brasil é um exemplo para o mundo de avanço na área tecnológica, eleitoral, tem até uma Justiça Eleitoral — disse Alckmin, enfatizando que o mundo está preocupado com o Brasil neste momento. Para ele, é preciso construir uma alternativa a Bolsonaro e Haddad. Ele tem dito que votar em Bolsonaro é o "passaporte para a volta do PT ao poder".

— Isso não vai acontecer (polarização Bolsonaro e Haddad num segundo turno), vamos trabalhar muito para que o Brasil tenha uma opção melhor, para que o país saia dessas aventuras e possa realmente trilhar o que interessa para a população. Precisa reduzir um pouco o ódio político, e a gente pensar no Brasil — disse o tucano, acrescentando que é preciso fazer um "esforço conciliatório" o país.

Marina age para tentar reduzir vantagem de PT e PSL no Nordeste

Por Daniela Chiaretti | Valor Econômico

ARACAJU - O Brasil se preocupa demais com o pré-sal, mas o Nordeste é o nosso "pré-sol", costuma dizer Marina Silva. Em campanha ontem em Aracaju, a candidata à Presidência da coligação Rede-PV divulgou seu projeto de impulsionar a energia solar no Brasil.

Foi uma das raras vezes, durante a campanha deste ano, que ela explorou um tema ambiental. A ex-senadora tem preferido falar sobre educação, saúde e segurança.

O plano, batizado de "Sol para Todos" pretende tornar a capacidade de geração solar no Brasil equivalente ao de uma usina de Belo Monte até 2022. O foco é o Nordeste. O apelo à energia limpa também rebate no bolso do eleitor, que pode baratear a conta de luz.

O Nordeste é campeão de insolação. Tem incidência média de 5 kilowatts por metro quadrado - o índice da pioneira Alemanha é 3,6 kilowatts por metro quadrado. Este é um dos dois motivos para Marina ter escolhido a região para detalhar seu programa energético de instalar 1,5 milhão de telhados solares no Brasil em quatro anos.

O outro é conquistar o eleitorado nordestino intensamente disputado nos últimos dias, principalmente por Fernando Haddad, do PT e Ciro Gomes, do PDT.

Em queda nas últimas pesquisas de intenção de voto, parte da estratégia de revigorar a campanha é mostrar que Marina pode ser uma opção de voto útil ao que os marineiros denominam de "nova polarização" - as fortes candidaturas de Jair Bolsonaro e de Fernando Haddad.

"O Nordeste foi altamente impactado pela recessão produzida nos governos Dilma-Temer: a taxa de desemprego lá é de 17% contra 13% da média nacional", diz o release da campanha.

Estagnado, Alckmin tenta reverter votos ‘bolsodoria’

Vera Rosa / Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Geraldo Alckmin (PSDB), estagnado nas pesquisas, tenta evitar debandada de aliados e quer reforçar sua visibilidade. Sem contar com o engajamento do Centrão, Alckmin deverá investir em SP para barrar o voto casado em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente e João Doria (PSDB) para governador, o chamado voto ‘bolsodoria’.

A campanha do ex-governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, tenta evitar uma debandada de aliados e quer reforçar a visibilidade do tucano em São Paulo nas três semanas que restam antes do primeiro turno. Ainda sem contar com o engajamento dos partidos do Centrão, Alckmin pretende investir no próprio quintal para evitar o triunfo do voto casado no candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e no nome tucano para o Palácio dos Bandeirantes, João Doria. A ideia é impedir a consolidação do chamado voto “bolsodoria” no maior colégio eleitoral do País.

Apesar de ter o maior tempo no horário eleitoral no rádio e na TV, Alckmin continua estagnado nas pesquisas. Oficialmente, integrantes do bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade pedem mudanças no tom da campanha, mas, nos bastidores, já procuram candidatos que consideram mais viáveis para o segundo turno.

Os líderes do Centrão foram convocados pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), coordenador político da campanha, para uma reunião de emergência hoje na capital paulista. Porém, já há sinais de abandono na aliança tucana. O coordenador da campanha de Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olímpio (PSLSP), disse ontem que líderes do Centrão estão se aproximando do presidenciável do PSL.

Manuel Bandeira: Enquanto a chuva cai

A chuva cai. O ar fica mole...
Indistinto... ambarino... gris...
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.

Torvelinhai, torrentes do ar!

Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.
Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.

Volúpia dos abandonados...
Dos sós... - ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer...

Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!

A chuva cai. A chuva aumenta.
Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!

Eu te bendigo, água que inundas!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!

E eu te amo! Quer quando fustigas
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.

É que na tua voz selvagem,
Voz de cortante, álgida mágoa,
Aprendi na cidade a ouvir
Como um eco que vem na aragem
A estrugir, rugir e mugir,
O lamento das quedas-d'água!