sexta-feira, 6 de março de 2020

Opinião do dia – O Estado de S. Paulo*

Ou seja, entre o país de Bolsonaro, que faz do exercício da Presidência uma comédia pastelão, e o país de Paulo Guedes, em que reformas complexas podem ser aprovadas em apenas 15 semanas, desconsiderando todas as circunstâncias, encontra-se o Brasil real – onde cerca de 23 milhões de desempregados, desalentados e subempregados são obrigados a viver a dura realidade da crescente falta de perspectiva.


*Editorial. “Piada de mau gosto”, O Estado de S. Paulo, 5/3/2020

José de Souza Martins* – Por acaso

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

O acaso é frequente nas tradições brasileiras. Por acaso, o presidente é assim mesmo. Por acaso as coisas acontecem fora da pauta cívica e do que é próprio da organização e da liturgia do Estado

O acúmulo de gestos, atos, atitudes, palavras, palavrões, nestas últimas semanas do Brasil transfigurado, o novo Brasil surpreendente e, mesmo, assustador, provoca o temor de que algo está sendo tramado. O que pode transformá-lo em algo bem diverso do que o povo brasileiro conhece e respeita.

A alegação presidencial de que o governante se apoia em 31 milhões de pessoas com as quais se comunica pelas redes sociais e, portanto, não pelo “Diário Oficial”, mostra que o Brasil político é hoje dominado por uma fonte alternativa de legitimidade, fora do marco das instituições e da Constituição. Diversa da legitimidade procedente do voto popular que se expressa em duas fontes complementares de poder, as casas do Legislativo e o Executivo. Este mesmo, descaracterizado por um discutível presidencialismo de condomínio familiar, escorregadio em face da lei e da ordem. Os guardiões das instituições calam-se na cumplicidade do silêncio.

O apoio presidencial à convocação de manifestações contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal reforça o temor de que as instituições estão concretamente ameaçadas. Pescadores de águas turvas têm tido uma função antidemocrática na história política do Brasil e já não há como não notar que a pátria está sendo de nós todos usurpada.

Pode-se dizer que tudo isso é apenas um conjunto de acasos, expressões de imprudência, de falta de educação, de carência de civilidade dos que se aboletaram na organização do Estado a partir de 1º de janeiro de 2019. O Brasil é assim mesmo, disse-me alguém. Melhor não perder tempo com essa gente. Ora, é isso mesmo que essa gente quer, que não prestemos atenção naquilo que destoa do que deveria ser.

César Felício - A aposta de Ronaldo Caiado em 2022

- Valor Econômico

Governador quer que Bolsonaro mude chapa na reeleição

Cuidado, Hamilton Mourão, há perigo na esquina. A se concretizar a estratégia traçada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), o presidente Jair Bolsonaro terminará convencido a reformular a chapa presidencial quando concorrer à reeleição, em 2022.
O governador goiano administra uma massa falida em forma de governo estadual, mas deste posto é um dos mais articulados defensores do governo federal dentro do universo da política tradicional.

Em palestra na noite de quarta-feira na Casa do Saber, um “think tank” em São Paulo, Caiado assim respondeu a uma pergunta do mediador sobre a possibilidade de Bolsonaro perder a eleição de 2022 para o PT: “Costumo chamar urna de vossa excelência. Respeito urna. Errar todo mundo erra e quatro anos no governo não é nada. Na última avaliação de popularidade do presidente que vi, ele estava com 34% de bom e ótimo. É relativamente confortável, favorece a convergência na classe política. Se tivermos bom senso e humildade de criar uma chapa complementar, vejo chance de fechar no primeiro turno”.

No fim do encontro, em conversa particular, Caiado detalhou aonde queria chegar. Seu propósito maior é retirar o DEM das articulações para a construção da autoproclamada candidatura de centro para abraçar o bolsonarismo. Pretende convencer o presidente a fazer o casamento com a política tradicional e conquistar a hegemonia por meio de um movimento fora da sua base de fiéis ardorosos. Deste modo, Bolsonaro converteria automaticamente maioria eleitoral em maioria política.

O governador foi candidato a presidente em 1989 e provavelmente não descartaria um convite para compor esta chapa, mas a articulação não visa a isso. Caiado enxerga como possíveis nomes os atuais ministros do DEM, ou quadros novos que venham a se filiar. Fala com mais entusiasmo do ministro da Saúde, o discreto Luiz Henrique Mandetta.

Lu Aiko Otta - Ruídos na política reeditam “pibinhos”

- Valor Econômico

Declarações do governo desviam o foco da enorme lista de mudanças que precisam ser feitas para romper o ciclo de baixo crescimento

Aqui em Goiás, onde está encravado o “quadradinho” do Distrito Federal, costuma-se chamar de “situação de vaca não ‘conhecer’ bezerro” os momentos de desorganização como o que se viu na Esplanada dos Ministérios após o anúncio do “pibinho” de 1,14% em 2019, um resultado mais mirrado do que os do governo Temer.
Começou com o presidente Jair Bolsonaro escalando um humorista para comentar a taxa de crescimento econômico. Depois, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou não ter entendido o “alarde” em torno do resultado, porque o esperado era 1%.

Pareceu um recado a quem espalhou, nos bastidores da Esplanada, que há frustração no Planalto com a economia fraca e com o “posto Ipiranga”, que na campanha eleitoral prometia uma recuperação rápida. Em novembro de 2018, disse que o país poderia entrar 2019 crescendo a 3,5%.

O desconforto com o “pibinho” foi escancarado ontem por um integrante da sua equipe, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. “Não é normal país em desenvolvimento como o Brasil crescendo 1% ao ano”, afirmou. Horas depois, Guedes respondeu pela imprensa. “Se Mansueto esperava que PIB fosse crescer 3%, deve estar frustrado; nossa previsão sempre foi 1%.”

De quebra, o ministro renegou a estimativa de crescimento de 2,4% em 2020 divulgada por sua pasta. Disse que é um cálculo da Secretaria de Política Econômica (SPE), e não seu. Guedes aposta em 2%.

Toda essa estridência desvia o foco da enorme lista de mudanças que precisam ser feitas para romper o ciclo dos “pibinhos” e colocar o Brasil numa trajetória de crescimento sustentado. São medidas que dependem fundamentalmente do Congresso Nacional.

O próprio ministro imprimiu tom dramático à lista de pendências no Legislativo. Reunido com movimentos de rua para pedir-lhes apoio à agenda de reformas, disse que o governo tem 15 semanas para mudar o Brasil. Este é o prazo até o recesso parlamentar de julho. Depois disso, o calendário eleitoral vai dominar as atenções no Legislativo. Temas complexos, como reformas, têm menor chance de avançar.

Armando Castelar Pinheiro* - O PIB e a felicidade

- Valor Econômico

Protestos no Chile vão mudar dramaticamente a forma como o país funciona

Dos textos que li sobre os protestos do final do ano passado na América Latina, um dos mais interessantes foi o de Sebastian Edwards, professor da UCLA (bit.ly/39iyhDc). Edwards tenta explicar porque no Chile, depois de o PIB per capita mais que triplicar entre 1985 e 2018, a desigualdade cair, até mais que no Brasil, entre 2000 e 2016, e o país conquistar o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano da América Latina, o povo foi (e vai) para as ruas protestar com tanta força, a ponto de se querer trocar a Constituição atual.

A resposta para ele é que as pessoas percebem os resultados do modelo de desenvolvimento adotado pelo país de forma diferente do que mostram os indicadores econômicos. Edwards ilustra isso com a posição do Chile no Índice de Qualidade de Vida construído pela OCDE (bit.ly/2x6quu3). Dentre os 40 países para os quais há dados para 2017, o Chile está na 34ª posição, apenas uma à frente do Brasil, um país cuja renda per capita é 37% menor. No geral, há uma correlação entre renda e posição no ranking do indicador, mas essa é menos que perfeita: Austrália e Islândia, por exemplo, estão mais bem situadas do que os EUA, ainda que tenham PIB per capita mais baixo.

Dos 11 indicadores que compõem o índice, o Brasil fica na frente do Chile em cinco: meio ambiente, saúde, satisfação com a vida, comunidade (Chile é o 4º pior entre os 40) e engajamento cívico (Chile é o pior dos 40 países). O Chile, por sua vez, supera o Brasil em renda, moradia, empregos, educação, equilíbrio de vida e segurança (neste o Brasil tem a pior posição entre os 40 países).

Essa discussão acabou me levando ao recém-lançado livro do economista e professor do London School of Economics, Richard Layard, “Can We Be Happier? Evidence and Ethics” (bit.ly/39dVExE). Layard é uma espécie de guru da proposta de que o objetivo principal das políticas públicas, em especial da política econômica, não deveria ser promover o aumento do PIB, mas da felicidade.

Luiz Carlos Azedo - O tesouro de Ali Babá

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

“Não existe transparência nas negociações nem ampla divulgação da destinação das emendas, num histórico de desvios de recursos públicos e formação de caixa dois eleitoral”

Na noite de quarta-feira, velhas raposas políticas se reuniram na casa do ex-senador Heráclito Fortes em Brasília, ponto de encontro de bombeiros e conspiradores, dependendo das circunstâncias. Um ex-deputado que hoje integra a assessoria do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), resumiu o paradoxo político do momento: “Não entendo tantos desentendimentos, nenhum governo liberou mais emendas parlamentares do que o atual e nunca um presidente teve tanto apoio do Congresso para aprovar suas reformas quanto Bolsonaro”.

Paradoxos desafiam a opinião concebida e compartilhada pela maioria. É esse o caso. Bolsonaro não somente liberou dinheiro a rodo para os deputados do chamado Centrão durante o ano passado, como endossou todos os acordos anteriormente feitos com a Comissão de Orçamento, que é dominada pelo bloco de partidos conhecido como Centrão da Câmara (PSL, PL, PP, PSD, MDB, PSDB, Republicanos, DEM, Solidariedade, PTB, Pros, PSC, Avante e Patriota). Sem esses partidos, Bolsonaro põe em risco a própria governabilidade e não tem a menor possibilidade de dar continuidade às reformas do ministro da Economia, Paulo Guedes. Tanto que fez um novo acordo para a manutenção dos seus vetos, cuja concretização dependerá da aprovação de três projetos de lei que mandou para o Congresso regulamentando a liberação das emendas parlamentares. Pelo acordo, haverá uma “rachadinha” dos R$ 30 bilhões.

Hélio Schwartsman - Volta à normalidade?

- Folha de S. Paulo

Qual seria o melhor democrata para governar os EUA?

Joe Biden renasceu das cinzas e disputa, já na condição de favorito, com Bernie Sanders a indicação do Partido Democrata para concorrer à Presidência dos EUA. Qual dos dois tem mais chance de derrotar Trump? E qual o melhor para governar, caso se sagre presidente?

Até algumas semanas atrás, Trump era tido como um candidato quase imbatível à reeleição. Desfrutava da vantagem de já ocupar o cargo e de comandar o país em tempos de bonança econômica, com níveis confortáveis de crescimento e baixo desemprego. Ele continua a gozar do bônus de ser o "incumbent", mas a emergência da covid-19 lança incertezas sobre o estado da economia nos próximos meses. Uma desaceleração já é certa; a dúvida é se virá a recessão. Em qualquer caso, a mudança de curso joga a favor dos democratas.

A sabedoria convencional reza que moderados (Biden) levam vantagem sobre os mais radicais (Sanders) num pleito nacional. Penso que, em alguma medida, a assertiva é correta, especialmente neste caso, já que Sanders se declara socialista, o que é anátema para um bom pedaço da população americana. Mas, nos últimos tempos, a política tem dado mostras de que a normalidade nem sempre triunfa.

Bruno Boghossian – Mofo antidemocrático

- Folha de S. Paulo

Petista se distancia de líderes de esquerda que criticaram o ditador venezuelano

Lula soltou um "peraí" quando lhe perguntaram se Nicolás Maduro era um democrata. Numa entrevista há duas semanas, o petista se negou a comentar os atos de repressão registrados no país vizinho. Disse apenas que o venezuelano foi eleito democraticamente e que agiu de modo democrático por não ter prendido seu principal opositor.

A hesitação indica que o ex-presidente continua amarrado às velhas alianças ideológicas da região. Lula não chama Maduro de democrata, mas se recusa a condenar os abusos do regime e a encarar o autoritarismo com o devido repúdio.

Nove anos após deixar o poder, o petista se distancia de líderes de esquerda que fizeram críticas categóricas ao governo venezuelano. O uruguaio José Mujica já declarou que ali opera uma ditadura. A chilena Michelle Bachelet liderou a produção de relatórios da ONU sobre a violação de direitos humanos na Venezuela.

Ruy Castro* - Surdez por opção

- Folha de S. Paulo

Qualquer coisa contra Bolsonaro entra por um ouvido de seus apoiadores e sai pelo outro

Sempre que Jair Bolsonaro encara formalmente uma câmera para o que considera um importante pronunciamento, tem a seu lado um intérprete de Libras. Que, como se sabe, é a Língua Brasileira de Sinais, dirigida aos, com todo respeito, surdos. O Brasil tem 10 milhões de surdos, e, não fosse pelo intérprete, eles seriam os únicos patrícios a gozar do privilégio de não escutar as mentiras e grosserias com que Bolsonaro brinda os ouvintes. Mas nem os surdos são poupados. As afrontas à nação são traduzidas para seus olhos.

Os surdos de verdade não têm nada com isso, claro. Os apoiadores de Bolsonaro é que parecem sofrer de deficiência auditiva. As denúncias de que seu governo está destruindo o meio ambiente, as relações internacionais, os direitos humanos, a educação e a cultura entram-lhes por um ouvido e saem pelo outro, sem um estágio interno que lhes permita registrar e refletir.

Ao fingir não escutar sobre certas atitudes de Bolsonaro —como as mamatas que ele dispensa a igrejas evangélicas, a tal ou qual rede de televisão e até ao Exército em troca de apoio político—, é como se esses apoiadores só tivessem orelhas, não ouvidos.

Reinaldo Azevedo – O que é PIB? E a morte da democracia

- Folha de S. Paulo

Não é o golpe que nos ameaça, mas a desordem que esmaga a esperança

Jair Bolsonaro é um homem que não tem receio de trazer a público as suas ignorâncias, exercitando, a seu modo, a modéstia intelectual socrática sintetizada no “só sei que nada sei”. Estreou no mundo dos estadistas indagando: “O que é golden shower?” E continua a sua saga em busca da iluminação: “O que é PIB?”

Entre uma pergunta e outra, tentou depor o governante de um país vizinho; mandou comemorar o golpe de 1964; abriu guerra contra a imprensa independente; deu apoio a sucessivas manifestações da extrema direita xexelenta contra o Congresso e o Supremo; emprestou suporte moral a um motim de policiais fardados e armados; promoveu, por vias oblíquas, agitação nos quartéis das Forças Armadas...

Insaciável, transformou em cinzas o que havia de positivo na política ambiental brasileira, espantando os investimentos; criou toda a sorte de dificuldades para a aprovação da reforma da Previdência, que só avançou porque lideranças do Congresso, Rodrigo Maia em particular, tomaram a tarefa para si; conferiu ares de política de Estado à homofobia, à misoginia e à intolerância.

E não é, meus caros, que nem assim o Brasil acabou? Segundo querem alguns, tudo segue na mais absoluta normalidade, com as instituições funcionando plenamente. Não fosse a estridência da imprensa, asseveram esses realistas, os ânimos não estariam tão exaltados. Os bêbados de tanta luz (também de luz...) asseguram que esse negócio de marcha em favor do fechamento do Congresso e do Supremo, com o apoio do presidente, é coisa normal das democracias. É? Um outro exemplo, por favor... Adiante.

Vinicius Torres Freire - Carnaval no governo, cinzas na economia

- Folha de S. Paulo

Autoridades econômicas colaboram para aumentar o paniquito no mercado

Era um daqueles dias de pânico nos mercados financeiros, quando muita gente não sabe bem o que está fazendo nem para onde o vento sopra. O ministro da Economia deu mais uns tiros nesse desconcerto.

Para quê? O tempo está fechando. Já há paniquito entre os negociantes de dinheiro grosso, "o mercado", mas também questões reais na praça, além dos lobbies de costume.

Nesta quinta-feira (5), o pessoal da finança pediu ao Banco Central que atenue a corrida do dólar. Foi também dia de pregar que o BC não reduza a taxa básica de juros daqui a duas semanas.

O mercado já jogou a "sua" taxa básica de curto prazo no chão, mas argumenta que nova queda da Selic vai colaborar para alta adicional do dólar e alimentar riscos de inflação, com o que os juros de prazo mais longo já sobem. Na terça-feira (3), o Banco Central sugeriu que tal coisa não tende a acontecer.

Caso fosse duradoura e relevante, essa alta das taxas de juros de prazos mais longos encareceria o financiamento dos negócios, de fato. Mas a alta dos juros mais longos nem durou nada, nem foi relevante e nem alguém tem ideia segura do destino do dólar e de seus efeitos na inflação. Até mesmo o impacto da crise que veio da China no PIB brasileiro é incerto.

O tiroteio de frases de Paulo Guedes pode dar em nada, assim como a desordem desta quinta-feira na praça financeira --por vezes isso simplesmente passa. No entanto, como o governo de Jair Bolsonaro é dado ao disparate atroz contínuo, o ambiente anda estressado e a desconfiança aumenta.

Por exemplo, há cada vez mais fofoca sobre a permanência de Guedes no governo, o que não está em questão, mas é um exemplo dos efeitos nocivos do rumorejo constante, desde janeiro em nível de gritaria graças às crises de Bolsonaro.

Um governo de outro mundo – Editorial | O Estado de S.Paulo

Enquanto preocupações atrapalham a bolsa, jogam o dólar para cima e levam o mercado a rever projeções, o ministro Guedes diz que o País está reacelerando

Danos econômicos já se espalham por todo o mundo, produzidos pela epidemia de coronavírus, mas o governo brasileiro tem-se comportado como se estivesse em outro planeta. O crescimento mundial poderá cair de 2,6% em 2019 para cerca de 1% neste ano, segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), formado por 500 dos maiores grupos financeiros do mundo. No Brasil, já há quem projete expansão abaixo de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB). Exportadores de petróleo voltaram a rebaixar a demanda mundial esperada para este ano, enquanto a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata) calcula perdas entre US$ 63 bilhões e US$ 113 bilhões, em 2020, para a indústria da aviação civil. Mas os brasileiros deveriam ficar tranquilos, garantiu na quarta-feira, em Brasília, o ministro da Economia, Paulo Guedes.

O Brasil, segundo ele, está longe de ser “uma folha ao vento do comércio internacional”. Além disso, o País avança, de acordo com o ministro, em sentido oposto ao do resto do mundo. “Agora o mundo começou a desacelerar e nós estamos reacelerando – estamos fora de fase com eles.”

Se o ministro falou, essa deve ser a posição oficial de seu Ministério e também do governo, mas nem dentro do Ministério há entendimento. Isso é evidenciado pela confissão do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, em palestra ontem de manhã. “Durmo preocupado”, disse ele, “por não saber o que vai acontecer com o crescimento do mundo. A gente sabe o que é a China crescendo 6%, 7% ao ano. Não sabe o que é a China crescendo 3% ao ano. Que vai acontecer com o mundo num cenário de crescimento baixo, em que ainda se está numa fase de recuperação? Assusta.” O Brasil, lembrou o secretário, também é afetado pela piora mundial.

Fernando Gabeira - O psicodrama na divisão do bolo

- O Estado de S.Paulo

A discussão sobre o Orçamento acabou revelando mais uma vez os limites do populismo

Não creio que seja demagógico dizer que o momento no Brasil deveria reunir os Poderes para um debate sobre a economia de recursos. Mas a crise surgida nos últimos dias gira em torno de R$ 30 bilhões. O Congresso garantiu para si este naco do Orçamento. O governo vetou. Possivelmente vão rachar esse bolo.

Houve muita hesitação, mas desfecho previsível. Começou com a frase do general Heleno, concluída com um sonoro “f...-se!”. Durante a semana sites nas redes sociais anunciavam a manifestação do “f...-se” para 15 março. Essa batalha pode não acontecer, como a de Itararé. Estão marcadas manifestações da oposição e do governo para dias 14 e 15. Elas podem até ser grandes, mas o sentido original, a disputa pelo dinheiro do Orçamento, é um pouco confuso neste momento histórico.

O Orçamento mesmo está se distanciando da realidade. Primeiro, porque surgem gastos imprevisíveis, como os do combate ao coronavírus, e os militares, com o motim de policiais no Ceará. No caso do coronavírus, não se trata apenas do que se vai gastar, estimado em R$ 350 milhões, suficiente se a situação permanecer num estágio relativamente favorável: não há evidência de transmissão do vírus no território nacional. 

O problema econômico do coronavírus é o que se deixa de ganhar. As dificuldades vividas pela China, a semiparalisação na Itália são só alguns indícios de que o crescimento global será reduzido pela disseminação do vírus. Aliás, de passagem, é bom lembrar que o Brasil é um país singular: marca grandes demonstrações de massa num período de coronavírus. Nesta mesma época, a Suíça está proibindo reunião de mais de mil pessoas e a própria Olimpíada de Tóquio pode ser adiada.

Eliane Cantanhêde - Que surpresa?

- O Estado de S.Paulo

É normal crescer 1%? Não. Não é normal, mas não é surpresa e faz todo o sentido

O ministro Paulo Guedes manifestou “surpresa com a surpresa” diante do pibinho de 1,1% de 2019, que conseguiu a proeza de ser menor que o 1,3% de 2017 e 2018, apesar de pesos e condições políticas bem diferentes: o presidente Michel Temer assumiu após um impeachment, Jair Bolsonaro chegou com a força do voto.

Na verdade, porém, não houve “surpresa” com o pibinho, mas, sim, desânimo, decepção e preocupação com o futuro. Se no primeiro ano de um governo cheio de gás foi assim, como será o segundo? Em 2019, houve Brumadinho, os embates EUA-China, se quiserem dá para incluir a crise suína na China. Em 2020, há coronavírus, Bolsas derretendo, dólar disparando e previsão de desaquecimento global, que já antecedia tudo isso. E não é só. Há muito mais para atrapalhar.

Na barafunda, uma constatação incomoda: a agenda do governo parece ter se esgotado em 2019, com a reforma da Previdência e o programa de privatizações e concessões deixado praticamente de bandeja por Temer. Logo, não dá para pular de otimismo para este ano. Nem para os próximos.

Como o que está ruim sempre pode piorar, há um mesmo fator político em 2019 e 2020 segurando investimentos, confiança e a própria recuperação do Brasil: o presidente Jair Bolsonaro, que insiste em viver em guerra e ultrapassa limites mínimos de civilidade e de respeito ao cargo.

Celso Ming - A turbulência cresce e aumenta as incertezas

- O Estado de S.Paulo

Analistas continuam no escuro sobre o impacto do coronavírus na economia mundial

Os analistas continuam no escuro sobre o impacto do surto do coronavírus na economia mundial. No Brasil, a escuridão parece ainda mais densa. Sobram palpites e até apostas de vários calibres, que, no entanto, não passam de palpites e de apostas. Enquanto isso, o medo se espalha e vai empurrando pessoas e empresas para refúgios seguros, seja lá o que isso hoje signifique.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), instituição melhor informada sobre o que acontece, vem passando sinais contraditórios. Reconhece, por exemplo, que a China, epicentro da epidemia, vem contendo o vírus com impressionante rapidez. Mas não esconde que o flagelo se alastra pelo resto do mundo, a ponto de estar muito perto de reconhecer a existência de uma situação geral de pandemia.

Os governos dos senhores do mundo, o G-7 (do Grupo dos Sete), prometem ação coordenada de políticas públicas, tanto na área de saúde para estancar o contágio quanto na da economia, para contra-atacar os efeitos paralisantes sobre a atividade produtiva, o emprego e o mercado de ativos financeiros.

Enquanto isso, os grandes bancos centrais ou voltaram a derrubar os juros ou se preparam para isso, que é para irrigar a economia com mais recursos e mais crédito. Mas sobre essa decisão pairam mais dúvidas do que certezas. O caroço do problema não é nem de falta de dinheiro nem de falta de crédito. Os juros nos países avançados já estão tão baixos – em grande número de países, chegam até a ser negativos –, que fica difícil imaginar como juros ainda mais baixos possam ajudar a recuperar a economia.

Bolsonaro não tem ideia da agenda de presidente – Editorial | O Globo

A confirmação de que a economia demora a reagir obriga o Planalto a só tratar de temas relevantes

Por mais que o presidente Bolsonaro tenha se esforçado para se esquivar de perguntas sobre o baixo desempenho da economia no ano passado, com a evolução do PIB se mantendo no nível decepcionante de 1%, a realidade de uma economia quase estagnada continua a existir e, cada vez mais, pressiona sua gestão.

A atitude que se espera do presidente é reagir à inércia que tomou conta do seu governo com respeito às reformas. Precisa reativá-las, uma resposta adequada à virtual estagnação da economia.

Isso requer o envolvimento direto do Palácio nas articulações com o Congresso, falha recorrente do governo Bolsonaro. O que faz aumentar as preocupações com o alheamento do presidente e as demonstrações de que não entende as suas funções.

Podia não ter encontrado a imprensa na quarta-feira, dia da divulgação do PIB de 1,1%, se não queria falar sobre o assunto.

Mas na porta do Alvorada decidiu ir ao encontro dos repórteres com uma performance debochada e desrespeitosa, em que um humorista com faixa presidencial saiu do carro oficial para oferecer bananas aos jornalistas. Transformou o Palácio em circo.

Bolsonaro constrói com eficiência a imagem de alguém que não está à altura do cargo. Mostra não entender a dimensão da agenda presidencial. Dela consta não apenas apressar as reformas, como também resistir a pressões que devem surgir para abandonar o ajuste fiscal, a fim de supostamente acelerar a retomada da economia com mais gastos públicos.

Merval Pereira - Sem compostura (2*)

- O Globo

Brincar com crescimento pífio do PIB é brincar com desemprego, é menosprezar consequências no cotidiano do cidadão

Vivendo na bolha virtual das redes sociais, o presidente Bolsonaro espanta-se quando os jornais independentes estampam nas manchetes sua falta de compostura. Diz que jornalista é raça em extinção, mas se incomoda quando identificam nele a contrafação do palhaço contratado.

Numa metalinguagem involuntária, um palhaço orientava o outro sobre que perguntas fazer para os jornalistas, enquanto bananas eram distribuídas. O que em Chacrinha era pura arte brasileira, em Bolsonaro e Carioca é a explicitação de uma visão de mundo apequenada pela atuação permanente no lado escuro da sociedade.

Beppe Grillo, o cômico italiano, youtuber e blogueiro, que criou um partido político de extrema-direita com influência importante na política italiana, é o que há de mais próximo de Bolsonaro na política internacional. Não por ser de extrema-direita, mas por ser palhaço.

Apalhaçado também é Trump, assim como foram Hitler e Mussolini, em comum todos de extrema-direita chegados ao poder em momentos críticos da vida de seus países e do mundo.

Como não podia deixar de ser, Bolsonaro enfrentou reações negativas sobre sua postura em relação ao resultado do PIB. "PIB? O que é PIB? Pergunta para eles (jornalistas) o que é PIB", disse Bolsonaro ao humorista Márvio Lúcio, conhecido como Carioca, caracterizado como o presidente, que chegou ao Palácio da Alvorada num carro oficial da Presidência, ao lado do chefe da Secom, Fabio Wajngarten.

Brincar com o crescimento pífio do PIB brasileiro é brincar com a taxa de desemprego, é menosprezar as conseqüências no cotidiano do cidadão de baixa renda ou sem renda. Bolsonaro, de tão tosco, deixa pistas sobre suas impropriedades, e até mesmo suas ilegalidades, pelo caminho.

Flávia Oliveira - PIB per capita quase parando

- O Globo

Brasil tem um dos maiores níveis de concentração de riqueza do planeta

Desde que o paquistanês Mahbub ul Haq e o indiano Amartya Sen, Nobel de Economia em 1998, apresentaram ao mundo o Índice de Desenvolvimento Humano, nos anos 1990, o PIB per capita perdeu relevância como indicador social. Os dois economistas não aceitavam que condições de vida nos países fossem comparáveis apenas sob a ótica da geração de riqueza, via soma da produção de bens e serviços. À divisão do Produto Interno Bruto sobre o total de habitantes, dimensão da renda, acrescentaram variáveis de educação (alfabetização e anos de escolaridade) e saúde (esperança de vida). E o IDH tornou-se o termômetro mais adequado para medir, ainda que de forma resumida, o progresso de uma sociedade.

A renda per capita perdeu espaço nos resultados das contas nacionais, mas ainda guarda significado. Anteontem, o IBGE informou que a economia brasileira cresceu modestíssimo 1,1% no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. O que fora pibinho — apenas 1,3% ao ano, no biênio de Michel Temer, na Presidência, e Henrique Meirelles, na Fazenda — tornou-se pibículo com Paulo Guedes no (super) Ministério da Economia. É pouco para uma gestão que assumiu prometendo muito, e para um país com urgência em reverter os dois anos de recessão aguda do derradeiro mandato de Dilma Rousseff: -3,5% em 2015; -3,3% em 2016.

A variação do PIB per capita foi mais dramática. Nocauteada na crise, modesta na recuperação da atividade, a capacidade de geração de riqueza do país fica ainda menor quando confrontada ao ritmo de aumento da população, cerca de 0,8% ao ano. A renda por habitante despencou mais de 9% no triênio 2014-2016; subiu 0,5% ao ano em 2017 e 2018, com o fim do ciclo recessivo; avançou apenas 0,3% no ano passado. Desde o início da década, só cresceu mais de 1% em duas ocasiões: 2011 (1%) e 2012 (2,1%).

Bernardo Mello Franco - Os limites da tesoura

- O Globo

Após o terceiro pibinho seguido, Rodrigo Maia defendeu a retomada do investimento público. O deputado disse o óbvio, mas o tema andava banido do debate econômico

“A gente não consegue organizar um país apenas fazendo as reformas e cortando, cortando, cortando”. A frase caberia na boca de economistas ligados à esquerda. Mas foi dita por Rodrigo Maia, um político afinado com o mercado financeiro.

Na quarta-feira, o presidente da Câmara apontou os limites da tesoura. Depois de o IBGE confirmar o mau desempenho da economia no ano passado, Maia disse que “o setor privado sozinho não vai resolver os problemas”.

“A grande mensagem do PIB é que a participação do Estado também será sempre importante para que o Brasil possa crescer”, afirmou. O deputado disse uma obviedade, mas defender o investimento público parece ter virado uma heresia desde a posse de Michel Temer.

Em 2016, os economistas ultraliberais prometiam uma nova era de prosperidade. A recessão ficou para trás, mas a fada da confiança não apareceu. O terceiro pibinho consecutivo mostra que a receita da austeridade fracassou em tirar o país do atoleiro.

Nos últimos três anos, o Congresso retalhou direitos trabalhistas, aprovou o teto de gastos e cortou as aposentadorias de quem não usa farda. Os resultados na economia real foram pífios, mas os fundamentalistas de mercado se recusam a fazer uma autocrítica.

Rogério Furquim Werneck - Mudar o Brasil em 15 semanas

- O Globo / O Estado de S. Paulo

Não existe uma base parlamentar governista que possa dar celeridade à aprovação dos projetos

Aleluia! O governo afinal se deu conta de quão pouco tempo lhe resta para aprovar o complexo programa de reformas que pretende extrair do Congresso, neste problemático ano de eleições municipais. No início desta semana, ao tentar atrair o apoio de movimentos de rua à aprovação das reformas pendentes, numa reunião em Brasília, o ministro Paulo Guedes soou o alarme com certa grandiloquência: “Temos só 15 semanas para mudar o Brasil”.

É o que falta para o recesso parlamentar de julho. O governo bem sabe que, quando retomarem os trabalhos em agosto, deputados e senadores já estarão com a cabeça virada, mobilizados com as campanhas eleitorais que terão de enfrentar nos municípios.

Mesmo que as relações do governo com o Congresso fossem impecavelmente harmônicas e o governo contasse com o apoio irrestrito de ampla base parlamentar, o cronograma apresentado pelo ministro, para tramitação em 15 semanas dos muitos projetos contemplados, já pareceria pouco factível. Menos factível ainda parece quando se leva em conta a tumultuada relação que o Planalto continua a manter com o Congresso e, pior, a completa inexistência de base parlamentar governista que possa dar celeridade à aprovação dos projetos.

Míriam Leitão - A resposta contra a crise e o vírus

- O Globo

Governo não dará estímulo fiscal. Estagnação do PIB e risco externo serão enfrentados com reformas, que estão paradas no próprio governo

O presidente Jair Bolsonaro mudou vários pontos da reforma administrativa, mas tem adiado insistentemente o seu envio ao Congresso. Ela e a proposta de reforma tributária estão paradas no governo. O problema é que diante do baixo crescimento do ano passado e dos riscos de desaceleração forte da economia internacional, por causa do coronavírus, a agenda de reformas é a resposta que a equipe econômica gostaria de dar para manter um clima positivo na economia do país.

Na semana que vem, a projeção de crescimento oficial será revista de 2,4% para 2%. As previsões de várias instituições do mercado financeiro são de crescimento menor e há várias delas refazendo os cálculos para baixo. A explicação dada dentro do Ministério da Economia é que apesar de ter sido apenas 1,1% de alta do PIB, no último trimestre o país cresceu 1,7% em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior. E que a composição do PIB mudou, há muito mais presença do PIB privado que do governo.

O governo não pensa em adotar qualquer estímulo fiscal, ao contrário de alguns países que estão anunciando expansão de gastos. A avaliação feita no governo é que a economia brasileira tem uma “dinâmica própria” e, portanto, será menos atingida. E que é possível estimular o crescimento através das reformas. A crise internacional decorrente do coronavírus já atingiu o país, na verdade. Estão em queda todas as projeções de alta do PIB e já houve um forte impacto no câmbio. Para se ter uma ideia, a cotação de R$ 4,65 de ontem representa uma alta de 16% desde 30 de dezembro, quando estava em R$ 4,00.

Doria lança candidatura de Bebianno a prefeito do Rio

O ex-ministro Gustavo Bebianno foi lançado pelo governador de São Paulo, João Doria, como o nome do PSDB para a disputa eleitoral à prefeitura do Rio. Eles são desafetos do presidente Jair Bolsonaro.

Xadrez Carioca

Doria lança Bebianno e quer apoio de Witzel, que avança por nome próprio

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - Dois movimentos ligados a governadores que se apresentam como adversários do presidente Jair Bolsonaro mexeram no tabuleiro das eleições para a prefeitura do Rio. O tucano João Doria (PSDB) lançou a candidatura do ex-ministro Gustavo Bebianno — outro desafeto do presidente da República — pelo partido. Doria ainda deu a entender que busca o apoio do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), ao nome de Bebianno, citando a “boa atmosfera” que tem com o colega. Já a juíza Glória Heloíza apresentou ao Tribunal de Justiça (TJ) seu pedido de exoneração da função, um passo concreto em direção à sua candidatura, como informou o colunista Ancelmo Gois. Ela é a preferida de Witzel para representá-lo na disputa municipal.

O gesto de Doria de patrocinar o nome de Bebianno, com direito a uma entrevista coletiva conjunta em São Paulo, teve ainda uma consequência de impacto nacional no PSDB. O presidente do partido, Bruno Araújo, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, duas das principais lideranças tucanas, manifestaram publicamente incômodo com a forma como o governador paulista impôs o nome de Bebianno, atropelando a ex-secretária de Cultura

“Consenso nunca é de imediato. A maior parte do partido não sabe o que aconteceu”

Gustavo Bebianno, pré-candidato à prefeitura do Rio, sobre as reações no PSDB à sua indicação

do Rio Mariana Ribas, que havia sido anteriormente anunciada como pré-candidata à prefeitura do Rio pelo PSDB. É um indício de que Doria pretende fazer prevalecer indicados seus como candidatos do partido em importantes capitais este ano.

Até agora, a corrida eleitoral do Rio tem 12 pré-candidatos que foram testados pelo Datafolha em dezembro (ver tabela ao lado), em pesquisa contratada pelo GLOBO e pela “Folha de S.Paulo”. No cenários apurados pelo instituto, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) aparece com 22% das intenções de voto. Em seguida, em empate dentro da margem de erro, ficou o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), com 18%. Depois, está o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), com 8%. Crivella vem buscando se aproximar do presidente Jair Bolsonaro para garantir seu apoio na corrida pela reeleição. Contudo, por causa da alta rejeição —sua gestão é reprovada por 72% dos cariocas, de acordo com o Datafolha —, o mais provável é que ele receba um apoio “velado” de Bolsonaro.

Monica de Bolle* - A economia da epidemia

- Revista Época

A esta altura da epidemia que se alastra rapidamente pelo planeta é razoável dizer que não sabemos absolutamente nada. Nessas situações, a reação é a mais extrema possível

Já compraram montanhas de desinfetantes para as mãos, máscaras, papel higiênico? E quanto a pilhas, antitérmicos, termômetros e vitamina C? Velas e lanternas? Já não há álcool ou sabonete líquido nas farmácias? Vai faltar comida?

O comportamento que tem levado ao desaparecimento de medicamentos das farmácias, ao sumiço de produtos de higiene pessoal e de alimentos não perecíveis das prateleiras dos supermercados é o mesmo que leva às corridas bancárias. Explico: a crise bancária típica ocorre quando as pessoas, temendo que os bancos não serão capazes de devolver seus depósitos, correm para sacá-los o mais rapidamente possível.

Como os bancos não mantêm 100% dos depósitos em caixa, se todos os depositantes correrem ao mesmo tempo, alguns de fato não receberão o dinheiro de volta, justificando o pânico inicial.
Nenhuma farmácia ou supermercado estoca toda a quantidade de suprimentos que a população pode vir a demandar em casos excepcionais. Logo, quando há uma epidemia, ou o risco de que ela aconteça, as pessoas farão exatamente a mesma coisa que fazem quando imaginam que não terão acesso a seus depósitos: correm para as farmácias e para os supermercados, esgotando produtos. Os afortunados garantirão seus suprimentos, enquanto os demais ficarão a ver navios. Esse é apenas um dos aspectos da economia da epidemia.

Outro aspecto é o comportamento das pessoas diante de situações de incerteza. Incerteza não é risco — incerteza é tudo aquilo que pode ser descrito como um imponderável desconhecido, enquanto risco envolve algum conhecimento sobre a probabilidade de diferentes cenários. A esta altura da epidemia que se alastra rapidamente pelo planeta é razoável dizer que não sabemos absolutamente nada — inclusive não sabemos aquilo que não sabemos.

‘Se Estado é corrupto e ineficiente, a solução não é asfixiá-lo’, diz Lara

Lara Resende critica viés fiscalista, fruto de liberalismo anacrônico

Por Hugo Passarelli | Valor Econômico

SÃO PAULO - A atual política econômica do governo brasileiro está asfixiando e destruindo o Estado, o que elimina a chance de se criar uma economia de mercado e saudável, segundo o economista André Lara Resende. Um dos formuladores do Plano Real, ele considera que esse viés fiscalista é fruto de mitos e de um liberalismo anacrônico de Chicago dos anos 1960. Lara Resende fez essas declarações ontem em São Paulo, no lançamento do livro “Consenso e contrassenso, por uma economia não dogmática”.

“Depois dos absurdos que foram feitos nos governos do PT, o Brasil sofre de um estresse pós-traumático e não pode ouvir falar em gasto público” disse o ex-presidente do BNDES, ao apresentar as linhas gerais de sua obra.

Esse entendimento leva à condução de políticas públicas equivocadas, afirmou Lara Resende. Segundo ele, a defesa desse viés não significa que se pode gastar sem responsabilidade ou em projetos com objetivos bem delimitados. Mas a maneira como o ajuste fiscal está sendo conduzido é um “sacrifício autoimposto” que vai acabar levando a um resultado oposto, que é desorganizar e conduzir o Estado para uma falência, disse ele.

“Os defensores do atual governo diziam muito que o Brasil estava caminhando para virar a Venezuela. Mas o perigo hoje é muito maior do que era, você pode caminhar para a Venezuela para a esquerda ou para a direita” O exemplo do país vizinho mostra que a recessão é o que leva, sim, à inflação, segundo ele.

Nesse contexto, o economista aponta uma visão anacrônica hoje sobre as reformas necessárias para acelerar o crescimento e melhorar o bem-estar da sociedade. “É preciso repensar e organizar o Estado para torná-lo competente. Com as novas possibilidades que a tecnologia nos dá, vamos pensar o que se pode fazer hoje em vez de pensar nas reformas que deveríamos ter feito na segunda metade do século passado.”

O que a mídia pensa - Editoriais

Um governo de outro mundo – Editorial | O Estado de S. Paulo

Danos econômicos já se espalham por todo o mundo, produzidos pela epidemia de coronavírus, mas o governo brasileiro tem-se comportado como se estivesse em outro planeta. O crescimento mundial poderá cair de 2,6% em 2019 para cerca de 1% neste ano, segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), formado por 500 dos maiores grupos financeiros do mundo. No Brasil, já há quem projete expansão abaixo de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB). Exportadores de petróleo voltaram a rebaixar a demanda mundial esperada para este ano, enquanto a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata) calcula perdas entre US$ 63 bilhões e US$ 113 bilhões, em 2020, para a indústria da aviação civil. Mas os brasileiros deveriam ficar tranquilos, garantiu na quarta-feira, em Brasília, o ministro da Economia, Paulo Guedes.

O Brasil, segundo ele, está longe de ser “uma folha ao vento do comércio internacional”. Além disso, o País avança, de acordo com o ministro, em sentido oposto ao do resto do mundo. “Agora o mundo começou a desacelerar e nós estamos reacelerando – estamos fora de fase com eles.”

Poesia | Fernando Pessoa - Meto-me para dentro

Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.