quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna*

¨Somos herdeiros de uma história que começou tisnada pela mácula do latifúndio e da escravidão, que ainda pesam como chumbo às nossas costas, e com a república experimentamos o fascismo com o Estado Novo de 1937, no regime do AI-5 em 1968, e que, de forma latente, nos ameaça agora e não podemos ignorar os sinais sombrios que eles emitem para nós. Como sempre, o melhor remédio para enfrentá-lo é a união de todos os democratas.”

*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio. “O que ainda nos falta”. Blog Democracia Política e novo Reformismo, 18/2/2022.

Merval Pereira: Maluca corrida

O Globo

A última novidade na corrida presidencial é a percepção de que o presidente Bolsonaro pode não ser um “pato manco”. A eleição está difícil para a terceira via, até porque Bolsonaro estabilizou e, com ajuda do Centrão, continua na margem de 20% a 25% nas pesquisas. É bom para ele, porque, se for para o segundo turno — não acredito na vitória de Lula já no primeiro —, conseguirá reviver a polarização de 2018, e não se sabe o que pode acontecer. A campanha será radicalizada, e todo o passado petista de envolvimento com corrupção, no mensalão e no petrolão, será reavivado.

O salto alto da militância petista está fazendo com que erros políticos ajudem a recuperação de Bolsonaro. No Rio, onde o presidente Bolsonaro e seu clã têm origem, o PT não está conseguindo o apoio do prefeito Eduardo Paes na composição para a disputa do governo e Senado, o que já está enfraquecendo Lula e fortalecendo Bolsonaro, que apoia a reeleição do governador Cláudio Castro.

“Pato manco” é uma expressão usada principalmente na política americana (lame duck), que define o político que continua no cargo, mas, por algum motivo, não tem chance de disputar a reeleição e perde a expectativa de poder. A expressão nasceu na Bolsa de Valores de Londres, no século XVIII, em referência a um investidor que não pagou suas dívidas e ficava exposto à pressão dos credores. A ave (e o político) com problemas torna-se presa fácil dos predadores.

Malu Gaspar: A eleição da velha política

O Globo

Entre tantas incertezas, pelo menos uma coisa parece bem definida pelo subtexto das movimentações para a disputa presidencial. Esquerda, direita e centro concluíram que, depois de uma eleição completamente fora dos padrões em 2018, vem aí uma disputa das mais tradicionais, em que a velha política (ou a política velha) dará as cartas.

Em 2018, Bolsonaro não tinha partido forte, não tinha coligação e nem coalizão partidária e dispunha de apenas oito segundos por dia no horário eleitoral da TV. Construiu sua narrativa à margem da mídia tradicional, calcada na capilaridade das redes sociais e do WhatsApp — e claro, em muitas fake news.

Mas o outsider virou presidente e, embora tente manter o discurso de candidato antiestablishment, na prática está cada vez mais enquadrado pelo Centrão e pelos marqueteiros tradicionais.

Míriam Leitão: O risco russo diante da História

O Globo

O momento é de extremo perigo global, e o que o presidente Vladimir Putin está fazendo pode significar o fim do mundo como o conhecemos desde o pós-guerra. É o que pensa o embaixador Rubens Ricupero. Para o mercado financeiro, a análise é a de que “já está no preço” uma ocupação ao leste do país, mas não uma invasão total. Eles se prepararam para essa reação de Putin e em relatório aos clientes os bancos já explicavam que era dado como certo que a Rússia enviaria mais tropas para a Ucrânia.

O que todas as análises concordam, seja no mercado financeiro, seja na política internacional, é que as sanções não vão deter Putin. O governo russo está sentado numa montanha de reservas cambiais, US$ 640 bilhões, e pode resistir à suspensão do acesso ao mercado internacional de capitais. Num relatório, o banco UBS avalia que se houver uma escalada do conflito isso levaria a um boicote completo do petróleo e gás russos. Com isso, o petróleo iria a US$ 125 o barril por dois trimestres, o que elevaria a inflação e reduziria em 0,5 ponto percentual o crescimento mundial.

Luiz Carlos Azedo: Eleições presidenciais serão em alta tensão

Correio Braziliense

Bolsonaro está inconformado com as investigações sobre fake news, que atingem diretamente seus operadores nas redes sociais

A campanha eleitoral nem começou, mas a tensão entre Jair Bolsonaro e os ministros Édson Fachin, que acaba de assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e Alexandre de Moraes, que presidirá a Corte durante a votação, aumentou. O presidente da República não foi à posse de ambos e, ontem, o secretário-geral da Presidência, general Luiz Ramos, criticou Fachin nominalmente. Na mesma linha, durante evento do banco BTG Pactual, Bolsonaro vez novos ataques direcionados aos ministros do Supremo, sem citar nomes.

“Nós precisamos de paz para ter liberdade e devemos lutar por isso. Não vai ser o chefe do Executivo que vai jogar fora das quatro linhas, mas, por favor, dois ou três no Brasil: não estiquem essa corda. Vocês vão ter que vir para as quatro linhas. Afinal de contas, todos nós temos limites”, declarou. A referência é endereçada também ao ex-presidente da Corte, Luís Barroso. Bolsonaro arrematou: “Alguns poucos, dois ou três, acham que não têm limites e ficam brincando de nos controlar, de desrespeitar a nossa Constituição.”

Bruno Boghossian: Síndrome do abandono

Folha de S. Paulo

Presidente sente abandono e explora medo do PT para fazer cobrança a empresários

Jair Bolsonaro se sente abandonado. Depois de contar com o apoio de investidores e empresários para chegar ao Planalto, o presidente se queixou da apatia desses grupos com sua campanha à reeleição. No evento de um banco, ele se irritou com aqueles que consideram certa uma vitória de Lula nas urnas: "Dá para deixar rolar tudo numa boa? Quem chegar chegou? Tudo bem?".

O presidente tenta usar a seu favor a liderança do petista nas pesquisas e aplica uma tonalidade renovada à campanha do medo da volta de Lula. Nos últimos dias, ele agitou diante dos conservadores um perigo iminente da liberação do aborto e lançou maus agouros aos endinheirados que já fazem projeções econômicas para um futuro governo do PT.

Ruy Castro: Intestinos de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Quando eles explodirem, mantenha distância da hacienda em que se resume hoje o poder. Bleargh!

Em todos os filmes do Zorro, de Douglas Fairbanks e Tyrone Power a Antonio Banderas, a derrubada do governo que oprime e explora o México só precisa que o herói vare com sua espada o chefe de polícia, depois de lhe fazer um Z na testa, e o povo, portando archotes, derrube os portões da hacienda do governador corrupto e de sua família e prenda todo mundo. É empolgante, mas a ideia de que uma hacienda podia servir de metáfora para simbolizar um país sempre me soou implausível.

Maria Hermínia Tavares: A urgência da adaptação à mudança do clima

Folha de S. Paulo

Políticas de proteção social precisam considerar o espectro da crise ambiental

tragédia de Petrópolis veio repetir uma verdade para além de sabida: os mais pobres serão sempre as primeiras e principais vítimas da natureza em transe, com o notório dar de ombros das grandes empresas, como sucedeu em Mariana e Brumadinho; a negligência dos governantes; ou o seu misto de desinteresse e incapacidade de disciplinar a ocupação urbana.

Como secas calcinantes ou dilúvios bíblicos, incêndios ou inundações, desmoronamentos ruinosos ou marés gigantescas, pandemias, rompimentos de barragens ou vazamentos de petróleo, catástrofes ambientais —a maioria decorrente do aquecimento do planeta— passaram a fazer parte do novo normal.

Eis por que especialistas em mudanças climáticas chamam a atenção para duas estratégias igualmente cruciais: mitigação e adaptação. No primeiro caso, trata-se de estabelecer e cumprir compromissos com iniciativas para reduzir as emissões de carbono a fim de impedir o crescimento descontrolado da temperatura terrestre.

Vinicius Torres Freire: Caiu chuva, cai o dólar, inflação sobe

Folha de S. Paulo

Crise da eletricidade passa, real se valoriza, mas preços ainda fervem por vários motivos

As represas das usinas hidrelétricas não tinham tanta água em fevereiro desde 2014, quando passaram a ocorrer secas horríveis, com risco de racionamento e conta de luz cara. O preço do dólar cai desde o início do ano, mas é cedo para haver refresco nos preços, ainda que a valorização do real possa conter reajustes dos combustíveis, no curtíssimo prazo. A inflação alta ainda vai longe, no ritmo de pelo menos 9% ao ano até junho.

Não é registro de mera aritmética econômica. A inflação tem efeito direto na veia da política. É um dos motivos pelos quais Jair Bolsonaro e comparsas tentam inventar medidas para agradar a tais e quais grupos, limitados, mas que talvez rendam votos suficientes para garantir uma vaga no segundo turno.

Maria Cristina Fernandes: Minas sem autoridade

Valor Econômico

PM se rebela no segundo maior colégio eleitoral do país, em que o presidente da República não tem palanque

O senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) esteve no gabinete do governador de Minas Gerais na semana passada na companhia do deputado federal e ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), na tentativa de fazê-lo vice na chapa de Romeu Zema à reeleição.

Marcelo Álvaro deixou o governo depois de ser acusado pelo Ministério Público Eleitoral de comandar um laranjal com as verbas do fundo partidário.

Quando o deputado e o senador deixaram a sede do governo mineiro, o presidente Jair Bolsonaro permanecia sem palanque no segundo maior colégio eleitoral, aquele que, desde 1989, é a bússola da eleição presidencial. Quem ganha em Minas, vence no Brasil.

Depois de se eleger nas asas do bolsonarismo em 2018, Zema quer distância do presidente. Estreante na política, conduz governo itinerante, ora visitando prefeitos como fazia com os lojistas de sua rede varejista, ora gravando vídeos para o Tik Tok em que lava pratos, faz pão de queijo e flexões abdominais.

Cristiano Romero: Luz: pela hora da morte

Valor Econômico

Oferta abundante de energia não resulta em preço baixo no país

O Brasil, segundo o Plano Nacional de Energia (PNE 2050), elaborado pela Empresa de Planejamento Energético (EPE), tem potencial para produzir energia em abundância até o fim da primeira metade deste século, muito acima do crescimento da demanda no mesmo período. Ainda que a economia brasileira, por algum milagre, volte a crescer a taxas respeitáveis - o que, de fato, exigirá intervenção do divino, uma vez que a média anual de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) na década de 2010 foi de apenas 0,5%, o bônus demográfico já acabou e a produtividade hoje é baixíssima -, não faltará luz para iluminar residências, mover meios de transporte e colocar máquinas em funcionamento.

William Waack: Jair imponderável II

O Estado de S. Paulo

Judiciário e Ministério Público enfrentam operação para desacreditar as eleições

A recuperação de Jair Bolsonaro registrada em algumas pesquisas não altera até aqui a forte probabilidade de que ele perderá as eleições. Profissionais em pesquisas e caciques políticos mantêm a suposição de que é o candidato mais fácil de ser derrotado.

Como Bolsonaro pretende reagir? Esferas do Judiciário e do Ministério Público preparam-se para uma contestação dos resultados, baseada na afirmação (falsa) de que o sistema eleitoral é viciado por juízes e pelos equipamentos eletrônicos.

A operação para desacreditar as eleições está em curso. Há dúvidas sobre a existência de uma ordem de “Estadomaior” para declarar as eleições como fraudulentas, mas o notável aumento de volume de fake news nessa direção sugere algum tipo de esforço centralmente coordenado.

O subprocurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, admitiu que propagar falsidades sobre o sistema eleitoral constitui fake news e, portanto, passível de punição – e é ele quem denuncia. O mesmo dizem o presidente que sai e o presidente que entra no TSE. O próximo na fila, Alexandre de Moraes, preside no STF o inquérito sobre fake news, cujo alvo principal é o campo bolsonarista.

Eugênio Bucci*: Sobre a extinção da imprensa

O Estado de S. Paulo

O jornalismo não está em crise porque os líderes autoritários, que o xingam de ‘lixo’ (à moda dos nazistas), conseguiram enfim derrubá-lo

Há dois anos, em janeiro de 2020, o presidente da República olhou para um pequeno grupo de jornalistas no portão do Palácio da Alvorada e bradou: “Vocês são uma espécie em extinção”. Seus apoiadores, amontoados bem ao lado, riam e babavam, em agitações libidinais. O chefe de Estado prosseguiu: “Acho que eu vou botar os jornalistas do Brasil, éééé..., vinculado (sic) ao Ibama. Vocês são uma raça em extinção”. Mais risadas ao fundo. A voz do governante exalava um júbilo azedo. Ele falava como se comemorasse uma bonança e, no seu estilo bestial de celebrar, disparava agressões aos profissionais da imprensa que acorriam à entrada do Alvorada para registrar seus descalabros diários.

Naqueles tempos, estava em alta o famoso “cercadinho”, uma espécie de curral improvisado ao lado da portaria do palácio. Religiosamente, a autoridade máxima do País ofendia aos gritos homens e mulheres dedicados a apurar notícias para informar a sociedade. Eram recorrentes os xingamentos sexuais, chulos e repugnantes. Ele exultava, em êxtase com o papel que inventara para si mesmo, qual seja, o de profeta da aniquilação de uma “espécie”.

José Serra*: Escola pública: para que e para quem?

O Estado de S. Paulo

É preciso remontar a educação numa perspectiva plural, que reconhece múltiplas entradas e diversos caminhos de formação

Todas as sociedades desenvolveram alguma forma de ensino além da educação infantil estritamente familiar, voltadas para transformar a criança em adulto. Sociedades dotadas de escrita criaram algum tipo de escola que transferia para os seus alunos os valores e conhecimentos indispensáveis para pertencer a essa civilização.

Esta preparação do aluno para a vida adulta foi sistematizada no modelo de escola pública, geralmente atribuída ao regime bonapartista: um ensino formal, padronizado num currículo nacional de conhecimentos e atividades, destinado a formar o adulto, com as competências necessárias ao exercício da cidadania.

Dentre todas as insuficiências atribuídas à educação no Brasil, creio que a mais grave seja o desconhecimento da razão de ser da escola pública, que consiste em formar o cidadão. Isto é, um adulto capaz de entender e exercer seus direitos e deveres, e de buscar as opções a seu alcance, seja para dar continuidade à sua educação, seja para se colocar no mercado de trabalho, sem nunca ficar prisioneiro de suas opções.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

É preciso investigar intervenção de Flávio na Receita

O Globo

É grave a revelação de que pelo menos cinco servidores da Receita Federal foram mobilizados durante quatro meses para apurar se os dados fiscais do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) haviam sido acessados de modo irregular e depois repassados ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), dando início ao caso que ficou conhecido como Escândalo das “Rachadinhas”. De acordo com as denúncias, o ex-PM Fabrício Queiroz comandava um esquema de desvio de parcela dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio, quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, a mobilização do aparelho do Estado em benefício do filho Zero Um aconteceu depois de uma reunião, revelada pela revista ÉPOCA, envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e advogados que representavam Flávio e haviam encaminhado o pedido de investigação ao então secretário especial da Receita, José Barroso Tostes Neto.