domingo, 27 de março de 2022

Paulo Fábio Dantas Neto*: Sinais amarelos e conversas de cozinha

Em artigo publicado há poucos dias na revista Política Democrática, n.41 transmiti, de modo sucinto, três impressões. Primeiro a de que pesquisas recentes indicam que se forma uma nova conjuntura pré-eleitoral, na qual reacendem-se, para Jair Bolsonaro, algumas esperanças, ainda que oscilantes, de reeleição; segundo a de que as oposições (tanto a de esquerda quanto aquela que tenta se colocar como “terceira via”) ainda não reagiram a esses sinais, seja por uma aproximação entre ambas para formar uma unidade já no primeiro turno, ou por uma efetiva e resoluta política de “conquista do centro” por parte de Lula, duas variantes do que poderia ser uma estratégia voltada a sepultar, no primeiro turno, as chances de reeleição do presidente.  Menos ainda se vê esboço de sucesso de um sempre ensaiado processo, no chamado centro e na centro-direita, de entendimentos agregadores com vistas a uma candidatura convergente própria - cada dia mais improvável – capaz de tirar Bolsonaro do até aqui confortável segundo lugar, ou pelo menos, de impedir que chegue ao segundo turno em posição competitiva.

A terceira impressão é a de que a lenta e ainda incerta recuperação de Bolsonaro - combinada à conservação desse “ponto morto” oposicionista na disputa presidencial - aponta a uma consequência que suponho ser a mais temível para forças políticas e sociais comprometidas em salvaguardar o processo eleitoral e a própria democracia. Refiro-me, é óbvio, ao “segundo turno sangrento” entre direita e esquerda, embate de extrema tensão (por falta de um centro moderador influente, mesmo como força coadjuvante) e de resultado imponderável, entre Lula e Bolsonaro, com o país cindido de cima a baixo, isto é, da elite política ao eleitorado. Nessas condições específicas, a vitória de Lula poderia evitar o desfecho, digamos, mais trágico. Mas o imponderável se transferiria ao exercício do governo, tanto na hipótese de Lula tentar cumprir o que tem dito até aqui na pré-campanha, quanto na dele manter esse dito na campanha e tentar fazer o não-dito no governo. A aventura populista e o estelionato eleitoral seriam atitudes igualmente temerárias e conversíveis em fatores tendentes, na melhor das hipóteses (a da célebre habilidade do presidente evitar a pura e simples ingovernabilidade), a prolongar, por mais quatro anos, a crise de múltiplos níveis em que o país foi metido desde 2013/2014.

Merval Pereira: A via da esperança

O Globo

Já há pelo menos um acordo entre os integrantes da chamada “terceira via”: é preciso unir forças para atingir o objetivo maior, que é tirar o presidente Bolsonaro do segundo turno para enfrentar Lula. Há quem, como o deputado Rodrigo Maia, hoje Secretário no governo Doria, ache que o nome está errado. Teria que ser algo como “via da esperança”, como gosta Doria.  Está acertado entre os pré-candidatos do PSDB, governador João Doria, e do MDB, senadora Simone Tebet, e mais a direção do União Brasil que em junho se sentarão para avaliar quem está melhor nas pesquisas de opinião, e quem tem melhores condições de competir contra os dois favoritos.

Míriam Leitão: Manipulação da fé e democracia

O Globo

O único momento em que Jesus se enfureceu, na narrativa feita nos Evangelhos, foi quando ele encontrou os “vendilhões do templo”. O que tem acontecido no Brasil é mais do que o comércio na igreja. Parece o comércio da Igreja. Mercadeja-se em nome de Deus para os fins mais escusos. O voto dos fiéis é prometido como moeda de troca para que seja franqueado o acesso aos negócios do Estado. O uso da religião na política durante o governo Bolsonaro tem ofendido tanto os princípios religiosos quanto o ordenamento da República laica que os brasileiros decidiram na Constituição. Nada contra a fé evangélica, tudo contra a sua manipulação por pastores para atingir objetivos de poder e dinheiro.

Os fatos que a imprensa revelou nos últimos dias são estarrecedores. O fio condutor que leva os eventos ao Palácio do Planalto está explícito. No dia 8 de março, o presidente Bolsonaro disse publicamente diante de uma plateia de pastores: “Eu levo a nação para o lado que os senhores assim o desejarem.” Isso é confissão pública de afronta ao princípio constitucional do Estado laico. Nesta mesma fala ele usou expressões próprias dos evangélicos. Falou de si mesmo como “escolhido” e pediu que atendessem ao “chamamento de 2022”.

Elio Gaspari: Os pastores das sombras

O Globo /Folha de S. Paulo

O último escândalo é sempre o mais popular. O ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, terceirizou o acesso a recursos de sua pasta, transformando os pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura em corretores junto a prefeitos de pelo menos 15 cidades de 8 estados.

Gilmar é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e dirige o Instituto Teológico Cristo para Todos. Arilton é assessor de assuntos políticos da Convenção Nacional das Igrejas e preside seu conselho político.

dupla teria chegado ao ministério depois de um pedido do presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos meses, reuniram-se 19 vezes com Ribeiro e em alguns casos a agenda do ministro registrava o assunto: "alinhamento político".

Ribeiro, como seus três antecessores no ministério de Bolsonaro, é uma usina de incontinências verbais, mas nenhum deles foi apanhado criando a figura de corretores de verbas para construir ou reformar creches e escolas, bem como para conseguir equipamentos eletrônicos. Repetindo: equipamentos eletrônicos.

Os prefeitos de dois municípios revelaram que a dupla cobrava um capilé que ia de R$ 15 mil a R$ 40 mil para abrir os processos, bem como taxas de sucesso quando a verba fosse liberada. Pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento e Educação, o FNDE. Repetindo: FNDE.

Num caso, Arilton pedia 1 kg de ouro (cerca de R$ 300 mil). Noutro pediu que lhe comprasse mil Bíblias, a R$ 50 cada uma.

Bernardo Mello Franco: Brado retumbante

O Globo

O governo tem sido cobrado a apresentar um plano para celebrar o bicentenário da Independência. Talvez seja melhor deixar a ideia para lá. Uma campanha da Secretaria Especial da Cultura expõe a visão bolsonarista da efeméride. É uma visão caricata, apoiada em patriotadas e mistificações.

“A Independência do Brasil foi conquistada com um brado. Nossa liberdade, anunciada com uma exclamação”, derrama-se o site oficial. “Na bravura, que arde como brasa, se revigora o espírito patriótico que, um dia, apontando o céu, nos bradou a liberdade”, prossegue.

O portal também carrega nas tintas ao descrever Pedro I. O herdeiro da Coroa portuguesa emerge como um herói sem defeitos. “Um jovem príncipe, do alto de seu cavalo, ergueu sua espada. Refletindo nela a luz do sol, ao som das águas do Ipiranga, ecoou a voz em forte grito. Pela força de sua coragem, derrotou os que nos aprisionavam. Com a ousadia de sua afronta, fez soberana a nossa nação”, exalta o texto chapa-branca.

Luiz Carlos Azedo: Semana decisiva para a candidatura de Eduardo Leite

Correio Braziliense / Estado de Minas

Caso Eduardo Leite permaneça no PSDB, é bom João Doria pôr suas barbas de molho. Dirigentes tucanos e aliados já estão dispostos a pedir que desista da candidatura

Na semana em que se intensifica o troca-troca de partidos políticos, em razão da montagem de chapas majoritárias e proporcionais, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, deve definir o rumo que pretende tomar: primeiro, se permanece no cargo ou se desincompatibiliza; segundo, se troca o PSDB pelo PSD, ou não. São decisões difíceis e muito estratégicas, que envolvem alianças políticas locais e nacionais e o alcance de suas ambições políticas.

Dependendo do que decidir, será um fato político novo num cenário eleitoral polarizado, que está se cristalizando, entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de opinião, e o presidente Jair Bolsonaro, que concorre à reeleição com a vantagem estratégica de permanecer no cargo.

Como todo cenário complexo, a melhor maneira de tratar o assunto é desagregar suas variáveis. Comecemos pelo Rio Grande do Sul. Desde sua campanha ao governo gaúcho, Leite anunciou que não disputaria a reeleição, como já havia feito na Prefeitura de Pelotas. Esse é um compromisso de campanha que corrobora a superstição de que existe uma maldição no Palácio Piratini, que impede a reeleição de qualquer governador.

Eliane Cantanhêde: Lulil contra Bolsozema em Minas Gerais

O Estado de S. Paulo.

Quem vence em Minas, ganha a Presidência; Zema está com Bolsonaro, Kalil com Lula

Com 15,7 milhões de eleitores, 11% do total, Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do País, só atrás de São Paulo e reza a lenda, como confirma a realidade, que só chega a presidente da República quem vence nas Gerais. As coisas vêm mudando muito também por lá.

A polarização PT x PSDB evaporou e os ex-governadores Fernando Pimentel, petista, e Aécio Neves, tucano, vão disputar a Câmara dos Deputados, e olhe lá. A bola está com o governador Romeu Zema, do Novo, e o agora ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, do PSD.

Com estilo, trejeitos e até sotaque fortemente mineiros, Zema concorre à reeleição agarrado ao presidente Jair Bolsonaro. Também outsider na política, mas durão, direto e objetivo, Kalil se ancora em Lula, hoje favorito também no Estado.

Ao sair da Prefeitura na sexta-feira, dia em que ele e o Atlético (que o alavancou para a política) fizeram aniversário, Kalil, de 63, replicou Lula. “Eu preciso dele e ele de mim”, dissera o petista. “Concordo, mas eu preciso mais dele do que ele de mim”, ecoou o agora candidato.

Rolf Kuntz: ‘Gran finale’

O Estado de S. Paulo.

A saga se encaminha para um final com acordes de corrupção, estagnação econômica, inflação e insegurança financeira

Mistura de ópera bufa e de tragédia, o desgoverno de Jair Bolsonaro se encaminha para um gran finale. Os primeiros acordes incluem a bandalheira no Ministério da Educação e o caso da Wal do Açaí, a assessora parlamentar nunca vista em Brasília. Mas o libreto promete muito mais. Se o roteiro for seguido, o crescimento econômico será menor que o de 2019 e a inflação passará de novo sobre o teto da meta. Não são projeções agourentas de uma oposição intratável. São cenários desenhados por economistas do Banco Central (BC) e do mercado, gente dificilmente acusável de torcer pelo pior. Mas há algo mais: esses economistas vêm sendo seguidos, com algum atraso e a alguma distância, pela equipe do Ministério da Economia, forçada a rever seus números, apesar da fala sempre otimista e até triunfal do ministro Paulo Guedes.

A equipe econômica baixou de 2,1% para 1,5% o crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. A expansão ficará em 0,5%, segundo a mediana das estimativas do mercado, informou o boletim Focus da segunda-feira passada. A turma do Banco Central aposta em avanço de 1% neste ano, de acordo com o novo Relatório de Inflação, publicado trimestralmente. As três projeções mostram um país em descompasso com a economia global.

Bruno Boghossian: O corredor bolsonarista

Folha de S. Paulo

Com ajuda do centrão, presidente forma palanques competitivos para a disputa à reeleição

Jair Bolsonaro desenhou um corredor nas regiões Sul e Sudeste para guarnecer sua campanha à reeleição. Em contraste com a estrutura política quase inexistente de 2018, o presidente avançou na montagem de palanques competitivos em estados que podem ser cruciais para seu desempenho na disputa.

O comitê de Bolsonaro desobstruiu caminhos e tenta reconstruir pontes com potenciais candidatos em Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio e Minas Gerais. Entre fiéis e simpatizantes, são chapas que podem compor dobradinhas com o presidente em estados que somam quase 82 milhões de votos –ou 55% do eleitorado do país.

Hélio Schwartsman: Metafisica estatística

Folha de S. Paulo

Se há algo ao mesmo tempo sutil e controverso, é a filosofia da probabilidade

O que significa dizer que há 30% de probabilidade de chover amanhã em sua cidade? No dia seguinte, choverá ou não choverá. Então, o que são esses 30%? Um jeito de entender a cifra é pensá-la como uma frequência. De cada 100 previsões de tempo iguais a essa, o cenário com chuva se materializará 30 vezes. Mas o que é uma previsão "igual a essa"? Se há algo que quase nunca se repete, é o conjunto dos parâmetros usados em um modelo climático.

Outro modo de compreender os 30% é encará-los como a confiança que o próprio meteorologista deposita em sua previsão. Ao anunciar os 30%, ele estaria dizendo que apostaria 7 contra 3 que não vai chover. Nesse caso, deixamos de falar do clima para falar de características subjetivas de quem o analisa.

Vinicius Torres Freire: Brasil vai comer poeira do deserto

Folha de S. Paulo

Sem acordo amplo, país corre risco de nova década de ruína econômica e democrática

A gente faz umas contas a fim de ver em que pé estarão a inflação e os preços da comida lá pelo fim da campanha eleitoral. A carestia talvez acabe com alguns votos de Jair Bolsonaro, se especula.

O IPCA vai passar de 12% ao ano em abril (está em 10,5%)? Ainda além de 8% em setembro? O dólar vai ajudar? A gente discute se uns décimos de porcentagem de miséria extra na vida do povo miúdo vão fazer diferença política.

Pode ser, mas a numeralha da planilha começa a parecer ridícula. Décimos do IPCA podem parar Bolsonaro? A isso se reduz a conversa? Ou a discutir se tantos tipos do centrão vão pular da barca do inferno para a candidatura tal ou qual? Se a prensa no Telegram pode colocar areia na máquina do ódio bolsonarista?

É assim que a oposição espera parar o tipo que, reeleito, promete lotar o Supremo com mais cúmplices, com mais desses cafonas grotescos, iletrados e adeptos de algum tipo de teocracia? São tipos que vão passar o pano jurídico capaz de nos transformar em uma espécie de Hungria misturada com Filipinas e Turquia, em convergência econômica para Serra Leoa, como disse um amigo, o "catch down" final. Talvez tenhamos militares aboletados de vez no comando do Estado e da economia, como na Venezuela ou na Putinlândia.

Janio de Freitas: Todo poder aos milicianos e mafiosos

Folha de S. Paulo

Assim se configura o que é tido como governo Bolsonaro

Quando não é milícia, é máfia. Assim se configura o que é tido como governo Bolsonaro. Assim são as forças operativas e extrativas instaladas no poder por efeito de deturpação eleitoral, com fraudulências judiciais, e de ingerência do comando do Exército no processo eletivo.

Se as motivações para a eleição deturpada eram diferentes, seus objetivos foram antidemocraticamente os mesmos.

A ideia de que esse governo despreza o caráter laico do Estado, associando-o outra vez à religião, não é errada, mas é imprecisa. Bolsonaro abriu o poder e os cofres públicos a uma corrente de pastores evangélicos que não é mais nem menos do que máfia de falsos pastores infiltrada no evangelismo.

É a bandidagem que multiplica alegadas igrejas para enriquecer, pela exploração criminosa da ingenuidade e do desamparo –e, esta a inovação de Bolsonaro, pela exploração das instituições oficiais e dos vários meios e cofres do governo.

Dorrit Harazim: Papéis invertidos

O Globo

Na primavera europeia de 1942, as tropas da Alemanha nazista já haviam atropelado a Ucrânia e a Bielorússia, então ainda pertencentes à esfera soviética, e avançavam cada vez mais URSS adentro. Para os generais do Alto-Comando de Josef Stálin, não parecia haver dúvida: a Wehrmacht de Adolf Hitler tentaria conquistar o maior troféu daquela frente continental — Moscou, capital do Império Soviético. Erraram feio. A meta dos alemães era sitiar, ocupar e destruir Stalingrado, centro industrial e polo armamentista do país, que ainda por cima portava o nome do inimigo comunista.

Seguiu-se um épico de ferocidade histórica. Cada cidadão russo da cidade recebeu um fuzil e a mesma ordem de número 227: “Nenhum passo atrás”. Quem se rendesse ao inimigo podia ser executado. Também o exército invasor foi inequívoco nos seus comunicados aos moradores de Stalingrado: civis do sexo masculino (440 mil habitantes à época) seriam fuzilados. As mulheres, deportadas para trabalhos forçados na Alemanha.

Cristovam Buarque*: Os putins brasileiros

Blog do Noblat / Metrópoles

Há décadas, milhões de brasileiros, sobretudo do Nordeste, são forçados a abandonarem suas casas, em busca de sobrevivência em outras partes

Há 30 dias, assistimos perplexos e horrorizados as imagens das consequências das bombas jogadas por Putin na Ucrânia. Choramos e nos indignamos com esta violência que destrói prédios, força migração, mata civis, inclusive crianças e mulheres. Nem todos, porém, lembramos da nossa Ucrânia silenciosa e permanente ao nosso redor.

Há décadas, milhões de brasileiros, sobretudo do Nordeste, são forçados a abandonarem suas casas, em busca de sobrevivência em outras partes. As casas não serão destruídas por bombas e mísseis, mas já eram tão degradadas que pareciam bombardeadas por dentro, durante a própria construção precária. Nossos migrantes são chamados de pau de arara, mas de fato são nossos ucranianos.

Vinte milhões destes ucranianos brasileiros sofrem hoje a violência da fome. Dormem sem comer, com a geladeira e armários vazios. E ainda sofrem a violência de acordarem sem ter o que comer, mas assistindo pela televisão programas de conversas ao redor de mesa farta de comida. Depois, com os olhos ávidos e os estômagos vazios, assistem programas de culinária e gastronomia, que ensinam como fazer comidas com suculentos filés e apetitosas sobremesas.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Enquanto verbas do MEC são pilhadas, educação vive caos

O Globo

 O escândalo deplorável de corrupção no MEC que veio à tona nos últimos dias expõe um ministério desconectado da triste realidade do ensino brasileiro. Enquanto as disputadas verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) são pilhadas num esquema nebuloso, envolvendo pastores próximos ao clã Bolsonaro e ao ministro Milton Ribeiro, o caos administrativo se instala na pasta. De um lado, pedidos de propina em barras de ouro para liberar verbas públicas a prefeitos. De outro, a miséria digital que segrega principalmente os alunos mais carentes num mundo cada vez mais tecnológico.

Embora o acesso aos meios digitais tenha ganhado visibilidade durante a pandemia, com o fechamento equivocado das salas de aula e o fiasco do ensino remoto, o problema continua mal resolvido. Uma em cada cinco escolas permanece desconectada, como mostrou reportagem do GLOBO. Das que dispõem do serviço de internet, menos da metade o usa para fins pedagógicos (em 2021, eram 48%).