terça-feira, 28 de junho de 2022

Cristovam Buarque*: Fome dos que comem

Correio Braziliense

Há duas fomes no Brasil de hoje: a fome de comida, que maltrata e mata, e a fome da moral, dos que assistem à tragédia sem indignação com o sofrimento dos outros, nem inteligência para perceber o custo social e econômico para todo o país.

Assistimos constrangidos aos 33,1 milhões de brasileiros dormindo, acordando e sobrevivendo sem se ter o que comer, ao mesmo tempo que sabemos que essa fome não decorre da escassez de alimentos no país. Nosso território não é desértico, não estamos vivendo uma guerra, não fomos invadidos. É vergonhoso que a fome ocorra num país que está entre os maiores exportadores do mundo, onde o agronegócio produz safras recordes sucessivas, em que os supermercados estão sempre abastecidos, e a televisão divulga dezenas de publicidades para vender comida e apresenta horas por dia de programas realities com concursos, lições e turismo de gastronomia.

Alguns países, mais populosos, também têm contingentes de famintos, mas nenhum deles tem tanta comida disponível, tanta propaganda de alimento, nem tanta apologia à gastronomia ao lado dos noticiários da fome na televisão. A fome de alguns não vem, também, da disputa pela comida que é suficiente para alimentar muitos brasis; a falta de educação também não decorre da necessidade de negar a educação a alguns para oferecer a outros. Ambas as fomes, de comida e de educação, são resultado da maldade, da insensibilidade e da estupidez.

Merval Pereira: Uma volta ao passado

O Globo

Há um quê de paradoxal nas atitudes do presidente Jair Bolsonaro em busca dos votos que lhe faltam para ser reeleito. Está criando uma crise econômica e institucional que tornará ingovernável o país que pretende manter sob seu controle. Parece até que a intenção inconsciente é quebrar o Brasil caso tenha de entregar a faixa presidencial a um sucessor. Figura de linguagem, claro, porque tudo indica que Bolsonaro não entregará a faixa a ninguém, como fez o general João Figueiredo, muito menos ao ex-presidente Lula.

Está aí o paradoxo: ganhar pelas próprias mãos um país em crise institucional e econômica ou perder e deixar para o sucessor uma terra arrasada. Essa mesma terra arrasada que caberá a ele governar se conseguir reverter o quadro eleitoral. Semelhante ao que aconteceu com Lula, que tomou medidas temerárias para eleger Dilma Rousseff sua sucessora e iniciou a crise econômica em que estamos até hoje.

Na encarnação anterior à Lei de Responsabilidade Fiscal, esse paradoxo era muito corriqueiro. O incumbente deixava dívidas para trás, em situações mais radicais até os móveis dos palácios eram estragados propositalmente. Há casos famosos, como o governador de Alagoas Silvestre Péricles, que sujou as paredes do Palácio Floriano Peixoto com excrementos para recepcionar o adversário que ocuparia seu lugar, Arnon de Mello, pai do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello.

Carlos Andreazza: Lira jantando

O Globo

Não é normal que presidente da Câmara — ou do Senado — ofereça jantar em honra a ministros do Supremo. Qualquer que seja o ministro; qualquer, a razão. Não é normal que político — de alto ou baixo clero — convide juiz para convescote em casa; qualquer que seja o tempo. A razão para recusar sem ser deselegante é a prudência que oferece: não existe refeição grátis em Brasília.

Fulanizemos: o que pretenderá alguém como Arthur Lira ao promover celebração a ministro do STF, no caso Gilmar Mendes, senão demonstrar Poder? Seria gesto para comprometer miudamente, não fosse sobretudo um comprometimento ao exercício impessoal do poder na República. Com todas as vênias: não pode um juiz aceitar afago daquele cujo foro tem lugar no tribunal que compõe.

Se os ministros do Supremo erram nos convites oficiais que fazem, vide a infiltração militar golpista no TSE, quanto errarão nos informais que aceitam?

Não é normal — não se for a República — que juiz de tribunal superior transite naturalmente entre políticos. Não é normal que ministro de Corte constitucional seja articulador-formulador de soluções para impasses políticos.

Sacrifica-se a percepção de Estado de Direito quando os mais poderosos, inclusive os guardiões da Constituição, concertam-se em confrarias.

Andrea Jubé: Bolsonaro marca Lula para virar o jogo no Nordeste

Valor Econômico

Marqueteiro orientou Bolsonaro a capitalizar Auxílio

O juiz nem apitou o início do jogo eleitoral, mas a bola está rolando faz tempo, como observou o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, em conversa com o Valor na semana passada.

Para tentar roubar a bola dos pés do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está ganhando de goleada no Nordeste, o presidente Jair Bolsonaro deflagrou uma ofensiva na região.

Há 11 dias, ele faz marcação cerrada ao adversário: nesse período, já repetiu, ou repetirá o roteiro do petista em três escalas: Rio Grande do Norte, Alagoas e Bahia.

Lula cumpriu agenda em Natal no dia 16 de junho. Um dia depois, Bolsonaro desembarcou na capital do Rio Grande do Norte.

Neste mesmo 17 de junho, Lula teve compromissos em Maceió (AL), ao lado do senador Renan Calheiros (MDB). Hoje, quando completam 11 dias da visita do petista, é a vez de Bolsonaro aterrissar na capital de Alagoas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) - principal adversário de Renan -, acompanhará Bolsonaro na entrega de 1.120 casas populares a famílias alagoanas de baixa renda.

Finalmente, neste sábado (2), Lula e Bolsonaro cumprirão agendas, simultaneamente, em Salvador, na comemoração da Independência da Bahia. Segundo o ex-ministro da Cidadania e pré-candidato ao governo João Roma (PL), Bolsonaro chegará ao Estado na véspera: no dia 1º, ambos anunciam início das obras do Rodoanel em Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador.

Joel Pinheiro da Fonseca: A via que não foi

Folha de S. Paulo

Quem é tolo o bastante de ainda ter esperanças na terceira via?

É irrelevante declarar-se apoiador de algum dos candidatos da "terceira via" neste momento. Digo sem receio, portanto, que sou irrelevante. Meu consolo é que tenho consciência disso.

Ainda acho que encerrar o desastre que é o governo Bolsonaro é prioridade inegociável, mas também não quero ver o Brasil retroceder a um governo do PT que não só não reconhece os erros que geraram tanto a crise econômica quanto a revolta antipolítica como os reforça, com mais ênfase do que nunca.

Muito se falou sobre a terceira via desde o ano passado, mas nada mudou. Comentar pesquisa eleitoral é um tédio sem fim. O apoio a Bolsonaro está no mesmo patamar há dois anos. A intenção de voto em Lula também não sai do lugar, que é o de uma vantagem confortável e com chances de vitória no primeiro turno. Se uma pesquisa apresenta uma ligeira modificação, lá vem a próxima indicar o retorno à média.

Hélio Schwartsman: As linhas tortas de Deus

Folha de S. Paulo

Covid e guerra na Ucrânia põem candidatura de Bolsonaro em risco

A eleição presidencial de 2018 foi totalmente atípica. Triunfou um postulante que não tinha tempo de TV, recursos financeiros à farta nem mesmo um partido sólido atrás de sua candidatura. Pior, Jair Bolsonaro representa um extremo ideológico. Democracias contemporâneas criaram o sistema de eleição em dois turnos justamente para evitar que esse tipo de candidato vença.

Os novos números do Datafolha sugerem que o pleito de 2022 será uma disputa mais típica, a segunda mais convencional possível. O cenário mais comum é o presidente que se apresenta para a reeleição ganhar. É o que ocorre em 80% dos casos. Nas situações em que ele perde, quase sempre há uma crise econômica provocando o que se convencionou chamar de "feel bad factor", um mal-estar generalizado que contamina a política. É o cenário que se desenha agora.

Alvaro Costa e Silva: Ligue o Arthur Lira e seja feliz

Folha de S. Paulo

Deputado que desconsiderou pedidos de impeachment busca mais poder

A mania começou no futebol. O atacante marcava um gol daqueles que até você faria. Então saía em disparada gritando para si mesmo: "Eu sou foda!".

Depois virou moda no mercado editorial. O português Miguel Esteves Cardoso leva a culpa de ser o pioneiro, ao lançar em 1994 o best-seller "O Amor é Fodido" —aliás, um belo romance. De 2010 a 2020, era impossível entrar numa livraria sem se deparar com os títulos de autoajuda: "Seja Foda", "Ligue o Foda-se e Seja Feliz", "Como Ser uma Pessoa Foda", "Liberdade, Felicidade e Foda-se", "A Sutil Arte de Ligar o Foda-se", "Seja Foda, Seja Inteligente", "Ninguém é Fodido por Acaso", "Coragem e Foda-se o Resto", "Fodeu Geral" e --o meu preferido-- "Como Ser uma Mãe Foda".

Cristina Serra: Aborto, cidadania e democracia

Folha de S. Paulo

Autoridades precisam entender que nós, mulheres, temos o direito supremo sobre nossos corpos, vidas e escolhas

A Suprema Corte dos EUA fez o país andar meio século para trás ao derrubar o entendimento de que o aborto era um direito constitucional das mulheres. Agora, estados conservadores poderão proibir o aborto por meio de legislações locais. Permitir que governos interfiram dessa forma em assunto tão íntimo é uma violência suprema contra as mulheres.

Aqui no Brasil, o risco de retrocesso é ainda maior. Embora o aborto em decorrência de estupro seja permitido por lei desde 1940, nem todas as brasileiras têm a garantia de que conseguirão acesso a esse direito, como ficou claro no caso da menina de 11 anos, de Santa Catarina, violentada e grávida.

Em razão de alguma crença fundamentalista, um médico, uma promotora e uma juíza tentaram impedir o aborto (não conseguiram, felizmente). Que fique claro: o feto resultante de um estupro é a sequela de uma violência e nenhuma mulher deve ser obrigada a carregar no ventre o produto de um crime.

Eliane Cantanhêde: Independência sim!

O Estado de S. Paulo

Recados do presidente de Portugal, ao vir duas vezes ao Brasil antes das eleições

Ao vir ao Brasil duas vezes no mesmo semestre, às vésperas das eleições, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, um país invadido por brasileiros, cria uma situação ruim, desconfortável, e outra boa, neutralizante.

A ruim é que as visitas e fotos podem ser interpretadas como apoio à reeleição de Jair Bolsonaro. A boa é que, com ele e outros estrangeiros, Bolsonaro vai pensar duas vezes antes de repetir nos 200 anos da Independência as ameaças à democracia do ano passado.

No último encontro, Rebelo de Sousa ficou chocado com Bolsonaro, que, isolado no mundo, sem entender de geopolítica internacional nem de questões bilaterais, saiu contando piadas de péssimo gosto.

Pedro Cafardo: As lições do Brasil desenvolvimentista

Valor Econômico

O discurso de reformas dos neoliberais deu com os burros n’água

Está nas livrarias e circula no meio acadêmico desde o fim do ano passado um livro que pode jogar luzes sobre o atual momento brasileiro: “O Brasil Desenvolvimentista e a Trajetória de Rômulo Almeida”, do economista Alexandre de Freitas Barbosa, professor de história econômica e economia brasileira no IEB-USP.

Nos anos 1950, conta o autor, os “intelectuais orgânicos do Estado”, encarregados da montagem da infraestrutura econômica e social subjacente à industrialização, trabalhavam como parceiros. De um lado atuavam os desenvolvimentistas “stricto sensu”, como Rômulo Almeida, Ignácio Rangel, Jesus Soares Pereira e Cleando de Paiva Leite. De outro, os desenvolvimentistas “mercadistas”, como Roberto Campos, Lucas Lopes e Glycon de Paiva.

Movidos por ideologias, os dois grupos de funcionários de carreira do governo tinham projetos de desenvolvimento diferentes para o país. Os primeiros propunham a diversificação do mercado interno, reformas de base e mudança nas relações centro-periferia, por meio do planejamento estatal. Para os “mercadistas”, muito preocupados com o equilíbrio fiscal e cambial, os dados da nação (território, população e dotação de fatores produtivos) formavam uma equação que deveria levar à acumulação de capital. E o papel do Estado seria supletivo, deixando ao setor privado e ao capital estrangeiro a tarefa de dinamizar e ampliar o mercado.

Os dois grupos se reconheciam como parceiros, embora discordassem sobre meios e fins do desenvolvimento capitalista no Brasil. Só em 1959, quando o país rompeu com o FMI, os “mercadistas” deixaram o governo e mais tarde se aliaram aos liberais Eugênio Gudin e Octávio Gouvêa de Bulhões.

António Guterres*: Energia renovável é o plano de paz para o século XXI

O Globo

Nero foi acusado de tocar lira enquanto Roma ardia em chamas. Hoje alguns líderes fazem pior: jogam combustível no fogo. A resposta de algumas nações à crescente crise de energia tem sido dobrar o uso de combustíveis fósseis — despejando bilhões de dólares em carvão, gasolina e gás, aprofundando a emergência climática.

Os indicadores climáticos continuam a quebrar recordes, projetando um futuro de ferozes tempestades, inundações, secas, incêndios e com temperaturas inabitáveis em vastas áreas do planeta. Novos investimentos na exploração de combustíveis fósseis são ilusórios — eles não são a resposta e nunca deveriam ser. Estão no noticiário diariamente os danos que fazemos ao planeta. Combustíveis fósseis são a causa da crise climática.

Energia renovável é o plano de paz para o século XXI, a resposta para limitar os distúrbios climáticos e impulsionar a segurança energética. Mas a batalha por uma transição energética rápida e justa não está sendo travada em campo. Investidores ainda apoiam combustíveis fósseis, e governos distribuem bilhões para subsidiar carvão, petróleo e gás — US$ 11 milhões por minuto.

Míriam Leitão: Economia mundial e riscos da China

O Globo

A China pode surpreender no segundo semestre, crescendo mais do que o mercado projeta, e isso num contexto de crescimento no Ocidente sendo abatido pelos juros altos. O país está usando velhos métodos de forçar o crescimento, até pelo medo político em relação ao desemprego, que chega a 18,4% entre jovens de 16 a 24 anos. Politicamente, a China entra agora num período de incerteza com a mudança no grupo que comanda o país, ao lado de Xi Jinping, ao fim do período de 10 anos das atuais lideranças. Em relação ao Brasil, os chineses querem manter as conexões, independentemente do resultado das eleições. Esse panorama da China é a visão do embaixador Marcos Caramuru, que foi cônsul-geral no país, embaixador e por fim consultor, morando ao todo 12 anos por lá.

— Os chineses são pragmáticos em relação ao Brasil e agora estão mais isolados do mundo, pela pandemia, pela guerra da Rússia e, principalmente, pela perda do diálogo com os Estados Unidos no governo Biden. Os erros do governo Bolsonaro não são suficientes para os chineses perderem o interesse no Brasil. Eles não estão num momento em que possam desprezar alianças que têm, seja por vínculos comerciais, econômicos ou políticos. Estão se sentindo isolados. Eles não vão abdicar de ter conexões conosco. Se o PT ganhar, o diálogo fica mais fácil — disse Caramuru.

Rubens Barbosa*: Relações Brasil–China

O Estado de S. Paulo

Espera-se que não aconteça o que ocorreu com o caso dos EUA, em que a institucionalização ficou, em boa parte, na intenção.

As relações Brasil-China ganharam novo impulso com a realização, em maio passado, da sexta sessão plenária da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban). A Cosban, criada há 18 anos, é copresidida pelo vice-presidente do Brasil e pelo vice-primeiro-ministro da China, e é o fórum mais importante para discutir, em alto nível, a orientação estratégica da cooperação bilateral.

No encontro, ficou evidenciada a diversidade do relacionamento bilateral, que abrange as áreas de comércio, investimento, finanças, energia e mineração, agropecuária, ciência, tecnologia e inovação, cooperação espacial, indústria e tecnologia da informação, cultura e educação. Entre outras medidas aprovadas, podem ser mencionadas a intenção de ampliar a colaboração na facilitação de comércio, para evitar barreiras protecionistas, em especial sanitárias e fitossanitárias; diversificação das exportações brasileiras, inclusive no setor agropecuário, com a inclusão de produtos industriais de maior valor agregado; e a expansão da cooperação em inovação e sustentabilidade.

Foi dado destaque à cooperação, de mais de 30 anos, na área espacial, com novos projetos e o início da negociação do Plano Sino-Brasileiro de Cooperação Espacial 2023-2032.

Maia acena com apoio a Freixo e diz que 'manter Santa Cruz ajuda Castro'

Maia afirma que a candidatura de Santa Cruz tira votos de Freixo, principal adversário de Cláudio Castro ao governo do Rio e admite possibilidade de coligação

Por Gabriel Sabóia / O Globo

Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (PSDB) afirmou que a candidatura de Felipe Santa Cruz ao governo do Rio "está a favor do governador Cláudio Castro", apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Durante participação no Fórum Brazil UK, na Universidade de Oxford, na Inglaterra, Maia externou publicamente, pela primeira vez, a vontade de apoiar Marcelo Freixo (PSB) ao cargo. Pai dele e ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (PSDB) tem propostas de Freixo e Santa Cruz para ser vice em suas respectivas chapas. Lideranças do PT e do PSDB tentam atrair Eduardo Paes e Santa Cruz para a aliança que tem Freixo como nome ao governo. Paes, no entanto, se mantém irredutível e pretende manter a empreitada do ex-presidente da OAB.

— No Rio, temos um ciclo iniciado em 1998. Cesar Maia e Eduardo Paes tentaram romper este ciclo, mas não conseguiram (perderam eleições). Freixo é um bom cara de diálogo, que tenta ampliar a base dele. Eu não posso olhar o meu estado, onde as milícias estão tomando conta de todas as instituições. Como mudar este ciclo no Rio? A candidatura do Felipe, se for viável, ótimo. Mas, hoje ele só tira votos do Marcelo (Freixo) e não tira do Cláudio (Castro). Então, é uma candidatura a serviço do governador, queira ele ou não — disse Maia, que completou:

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Jogo perigoso

Folha de S. Paulo

Com ataque às urnas e vice general, Bolsonaro investe em eleitor fiel e ameaça

Jair Bolsonaro (PL) pode ver o copo meio cheio ou o meio vazio na mais recente pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial.

De mais favorável, a partir de sua perspectiva, preservou o apoio de 28% do eleitorado —parcela equivalente, na margem de erro, à de 27% apurada em maio— mesmo após nova rodada de dolorosos reajustes dos preços dos combustíveis.

Trata-se de um contingente considerável, até espantoso, para um governante que passou pelas intempéries de uma pandemia e de uma onda inflacionária global, tendo gerido ambas pessimamente.

Entretanto Bolsonaro permanece num distante segundo lugar na disputa, rejeitado por 55% e sob risco de perder já no primeiro turno, e tem cada vez menos chances de impulsionar sua candidatura.

A principal aposta governista, a ampliação do Bolsa Família a um custo de quase R$ 90 bilhões neste ano, mostrou-se até aqui um fiasco em termos de intenções de voto. À base de desespero, cogita-se agora elevar o valor do auxílio.

Diante das duas leituras, o mandatário prefere satisfazer seus apoiadores fiéis a moderar discurso e prática na busca de novos eleitores. Foi o que fez no domingo (26), em entrevista a um programa de simpatizantes na internet.

Bolsonaro retomou a defesa do pastor evangélico Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação preso na semana passada em meio a uma investigação sobre corrupção na pasta. O caso, aliás, pode ser novo foco de atrito entre o presidente e o Judiciário, se avançarem as suspeitas de interferência do Planalto na atuação da Polícia Federal.