Valor Econômico
Falta de fôlego fiscal do país para investir une céticos e entusiasmados com acordo. A ver se tapete vermelho se traduz em benefícios concretos
A comitiva que está em Pequim esta semana tem
por missão arrancar dos chineses um pacote robusto a ser anunciado em 20 de
novembro por Xi Jinping naquela que é considerada a principal visita de Estado
do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A visita, que se seguirá ao
encontro do G20, no Rio, marca os 50 anos da relação bilateral.
Se há um novelo de arestas em torno desta
visita, há, pelo menos, um ponto em comum: o peso dado à parceria parte da
conclusão benigna de que o Estado não tem fôlego para os investimentos
necessários ao crescimento do país.
Esta visita começou a ser preparada em abril de 2023 quando Lula voltou de Pequim. De lá para cá estiveram na China tanto o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro da Indústria e Comércio e chefe, pelo Brasil, da comissão bilateral de cooperação, a Cosban, quanto a ministra do Planejamento, Simone Tebet, à frente da rota transoceânica, alvo da parceria.
Foi o ministro da Casa Civil, Rui Costa,
porém, quem, paulatinamente, concentrou a coordenação da pauta. Se é uma
decorrência das atribuições no PAC, seu papel, ao lado do assessor especial da
Presidência, Celso Amorim, também traduz a centralidade da pauta para Lula.
Quando Costa e Amorim já estavam a caminho do
aeroporto no domingo, representantes de outros ministérios a par das discussões
não tinham conhecimento de que a viagem se ultimara. No dia seguinte,
embarcaram o diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, e o secretário de
Política Econômica, Guilherme Mello.
São grandes as ambições, a começar pela
ideia, defendida por Amorim, de que a parceria traga o que nem aquelas firmadas
por Juscelino Kubitschek, nos anos 1950, para a vinda da indústria
automobilística, o fizeram: transferência de tecnologia, particularmente para a
transição energética. “Sem isso, não haverá acordo”, garante o assessor
especial de Lula.
De todos os envolvidos, Amorim é o menos
avesso ao programa chinês “Cinturão e Rota” sobre o qual não aplica o termo
adesão mas “sinergia” com o PAC. Só a ex-presidente Dilma Rousseff, hoje
presidente do banco dos Brics, lhe oferece concorrência no otimismo.
A “sinergia” é uma resposta pronta e acabada
a quem argumenta que o “Cinturão e Rota” não tem trazido vantagens a quem
aderiu e já acolhe desistências, como a Itália. Entre os 149 países envolvidos
na iniciativa, aquele que o assessor especial do presidente pinça para citar
“sinergia” semelhante àquela pretendida é a Rússia - desde o gasoduto até a
compra, pela China, de unidades fabris abandonadas em função das sanções
impostas àquele país.
A compra de fábricas automobilísticas no
Brasil começou antes desta “sinergia”. Primeiro veio a BYD, que se instalou na
antiga unidade da Ford, em Camaçari (BA), depois veio a BWM, que o fez naquela
da Mercedes-Benz, em Iracemópolis (SP). As negociações para o gasoduto “Poder
da Sibéria 2”, porém, estão paralisadas pela resistência chinesa a pagar o que
a Rússia pede pelo gás. O gasoduto começou a ser planejado depois da eclosão da
guerra da Ucrânia, que suspendeu parte das exportações russas para a Europa.
O acordo que se ambiciona passa por fábricas
de painéis solares, aerogeradores, ferrovias de alta velocidade, inteligência
artificial, hidrogênio verde a partir do biocombustível, aviões da Embraer para
a Defesa chinesa e uma fábrica de baterias para carros elétricos. Como se fosse
pouco, ainda se quer atrair a poupança chinesa para o maravilhoso mundo do juro
na lua do Brasil. Esta é a missão de Galípolo na comitiva.
Entre o céu e a terra, há uma infinidade de
senões. Da China, por exemplo, a mesma resistência que os chineses apresentam
ao preço do gás russo estaria sobre a mesa em relação ao custo da energia no
Brasil para movimentar uma unidade fabril de baterias.
No Brasil, as tratativas em curso navegam num
bonde de resistências com várias paradas na Esplanada dos Ministérios. Na
política externa teme-se o que possa vir a ser percebido como uma frente
adicional de alinhamento político já evidenciado no plano conjunto com a China
para a Ucrânia, especialmente ante as incertezas trazidas pela sucessão
americana.
Na política industrial, as suscetibilidades
convergem com preocupações como as da Anfavea. Na semana que antecedeu a viagem
da comitiva, representantes das montadoras pediram ao governo para acelerar o
gradual aumento de impostos sobre carros elétricos.
O Mover, programa de mobilidade verde
proposto pelo Executivo e aprovado pelo Congresso, já embute vacinas contra a
instalação de “maquiladoras”, tanto que a GWM antecipou o índice de
nacionalização de sua produção para usufruir dos benefícios fiscais do
programa.
O programa não foi suficiente para conter a
pressão da Anfavea, mas resistências como esta seriam mais facilmente superadas
se Alckmin, Tebet e Marina Silva, ministros da chamada “frente ampla”, da qual
Lula lançou mão para se eleger, fossem incorporados ao núcleo decisório da
parceria. Se Lula os tivesse ouvido em temas como a Venezuela, por exemplo, não
teria ido tão longe. São eles, também, que alcançam mais facilmente setores
temerosos de que o Brasil enfrente restrições americanas em função de um amplo
acordo com a China.
Tanto a turma dos céticos quanto aquela dos
mais entusiasmados converge na constatação de que esta aproximação se dá a
convite dos chineses. A ver se o tapete vermelho estendido ao Brasil se
traduzirá em benefícios concretos para o país.
Perfeito !
ResponderExcluirMuito bom! Restrições americanas são mais que esperadas, pois faz parte da defesa permanente dos interesses dos EUA sobre qualquer outro que baseia as decisões pouco ou nada democráticas emanadas do Executivo dos EUA.
ResponderExcluirSerá que a China se interessará pelo "maravilhoso mundo do juro na lua do Brasil"? Se forem mesmo capitalistas, os chineses não perderão esta oportunidade.
Vamos vender de uma vez o Brasil pra China, só não esqueçam de dizer que tudo é em nome da democracia......
ResponderExcluirNada será feito "em nome da Democracia" com a China. O que se fizer com a China será em nome da ECONOMIA! Como tudo o que foi feito com ela até agora, que levou a China a ser o maior parceiro COMERCIAL do Brasil. Se EUA e Europa têm pouco interesse de comprar nossos produtos, China, Índia, México e outros países têm grande interesse.
ResponderExcluirA ver... Espero que não seja navios,rs.
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