quinta-feira, 7 de março de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Oponiões

 

Combate à dengue exige mais de governos e cidadãos

O Globo

Todos sabem o que precisa ser feito para evitar epidemia maior — atacar os focos do mosquito

O Brasil já registra neste início de ano 1,3 milhão de casos de dengue e 329 mortes (outras 767 estão em investigação). Ao menos nove unidades da Federação apresentam incidência de mais de 300 casos por 100 mil habitantes, situação que, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), configura uma epidemia. O cenário mais preocupante ocorre no Distrito Federal, com 4.276 infecções por 100 mil. Esses números expõem a incapacidade de governos e da própria sociedade de lidar com uma doença que, diferentemente da Covid-19, reaparece como uma velha conhecida.

Governo federal, estados, municípios e a população sabem — ou deveriam saber — o que fazer para evitá-la, uma vez que surtos e epidemias são recorrentes. É preciso combater os focos do mosquito transmissor, o Aedes aegypti (em 75% dos casos, ele está dentro das próprias residências), tapar caixas-d’água, recolher objetos que acumulam água parada, remover lixo, limpar os pratos dos vasos de plantas etc. Sabe-se tudo isso — mas nem todos fazem.

António Guterres* - Investir nas mulheres é apostar na igualdade de gênero

O Globo

Onde quer que haja conflitos, catástrofes climáticas, pobreza ou fome, são elas as que mais sofrem

A luta pelos direitos das mulheres nos últimos 50 anos é uma história de progresso.

As mulheres e as meninas demoliram barreiras, desmantelaram estereótipos e impulsionaram o progresso rumo a um mundo mais justo e igualitário.

No entanto o progresso está ameaçado, e a igualdade plena continua a anos-luz de distância, sendo que as crises mundiais afetam de forma mais severa as mulheres e as meninas. Onde quer que haja conflitos, catástrofes climáticas, pobreza ou fome, são elas as que mais sofrem. Tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, tem havido uma reação contra os direitos das mulheres, incluindo seus direitos sexuais e reprodutivos, que impede e até reverte o progresso.

As novas tecnologias, que têm enorme potencial para desmantelar as desigualdades, agravam muitas vezes essa situação, seja pela desigualdade no acesso, por algoritmos com preconceitos enraizados ou pela violência misógina — que vai desde os deepfakes até o assédio dirigido a mulheres específicas.

Merval Pereira – Percepções

O Globo

A direita tomou conta dos meios digitais e divulga sua narrativa com muito mais poder de fogo do que o sistema de comunicação do governo

Recentemente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse que deveríamos reagir com cautela diante de pesquisas indicando percepções dos cidadãos que podem não corresponder à realidade. Ele se referia à percepção de que a corrupção aumentou no país nos últimos tempos, revelada pela Transparência Internacional.

Fora o fato de o ministro não gostar daquela instituição não governamental por considerá-la ligada aos procuradores de Curitiba na Operação Lava-Jato, ele também não gosta de percepções que coloquem em questionamento sua visão sobre a própria operação, de que foi um entusiasta, para depois tornar-se seu maior adversário.

Mas, como diz o pesquisador Felipe Nunes, da Quaest, é um perigo colocar em dúvida a percepção do eleitor, pois é com base nela que o eleitorado avalia os líderes políticos, e não na realidade tal qual vista pelos interessados na disputa. A mesma coisa acontece agora com a aprovação do governo Lula, que sofreu queda, fazendo retornar o clima de calcificação que se estabeleceu no país na eleição de 2022.

Malu Gaspar - Democrata de conveniência

O Globo

Imagine o que seria o cenário político do Brasil hoje se a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF), controlados por Jair Bolsonaro, tivessem com uma canetada cassado os direitos políticos de Lula e de Simone Tebet por 15 anos e impedido os dois de disputar as eleições de 2022. Ou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tivesse trocado a data da votação para 31 de março só para render homenagem à ditadura militar.

Daria para acreditar que uma eleição nessas condições teria um resultado justo? A pergunta é obviamente retórica e um tanto absurda, já que tal situação seria impensável no Brasil — onde, apesar da onda golpista dos últimos anos, ainda temos uma democracia.

Não é o caso da Venezuela, onde a Controladoria-Geral e o Supremo, dominados por Nicolás Maduro, retiraram da disputa deste ano seus dois principais opositores — e ainda mudaram a data do pleito, que tradicionalmente ocorre em dezembro, para 28 de julho, aniversário do falecido presidente Hugo Chávez.

Para Lula, porém, levantar qualquer dúvida sobre a lisura das eleições venezuelanas é prejulgamento.

— Não podemos jogar dúvida antes das eleições acontecerem, que aí começa discurso de prever antecipadamente que vai ter problema — afirmou o presidente brasileiro a jornalistas ontem no Palácio do Planalto. — Temos que garantir a presunção de inocência, até que haja as eleições para que a gente possa julgar se foi democrática ou decente.

Míriam Leitão - Freire Gomes e o Alto Comando

O Globo

O ex-comandante do Exército não tratou do espinhoso tema da minuta do golpe nas reuniões do Alto Comando

O general Marco Antonio Freire Gomes não chegou a comunicar ao Alto Comando o que estava sendo proposto a ele pelo então presidente da República, Jair Bolsonaro, e o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, nas minutas do golpe. É essa a informação que se tem dentro do Exército. O Alto Comando tem função consultiva e não deliberativa e houve seis reuniões no ano de 2022. Em pelo menos duas foram discutidos temas como manifestações na porta dos quartéis e participação na Comissão de Transparência Eleitoral, mas o assunto do decreto presidencial não foi tratado.

— Ele pode ter consultado alguns, mas chegar e mostrar o documento no Alto Comando, isso não aconteceu. O comandante é o responsável pela tomada de decisão. Ele não tinha outra decisão a tomar que não fosse a de cumprir a lei. Que não é mérito nenhum, ele tem que cumprir a lei. Era uma ordem inexequível. Se ele desse essa ordem para baixo, os comandantes militares de área não poderiam cumprir. Uma ordem ilegal não se cumpre — me disse um oficial que estava no Alto Comando no governo Bolsonaro.

Maria Cristina Fernandes - Veto à reeleição só interessa ao Congresso

Valor Econômico

PEC que estenda o mandato presidencial para cinco anos e faça coincidir as eleições para os sete cargos eletivos não será chancelada pelos deputados

“Não tem nenhum país importante do planeta que não tenha reeleição. Quatro anos não dá pra gente fazer o que quer”, o presidente já chegou à roda de senadores reunidos no Alvorada na noite de terça-feira, disposto a provocá-los sobre o tema.

Na roda, além de Jorge Kajuru (Podemos-GO), autor da PEC que põe fim à renovação dos mandatos executivos, e Marcelo Castro (MDB-PI), que é o relator, estavam os senadores Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Davi Alcolumbre (União-AP), Jaques Wagner (PT-BA), Renan Calheiros (MDB-AL), Omar Aziz (PSD-AM), Weverton Rocha (PDT-MA), Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), Eliziane Gama (PSD-MA), Beto Faro (PT-PA), Veneziano Rego (MDB-PB) e Otto Alencar (PSD-BA).

Ainda estavam todos em pé quando o presidente chegou. O tema não invadiu a parte mais formal da reunião, destinada a alinhar as pautas de interesse da atual mesa com aquelas do governo, ali representado, além de Lula, pelos ministros palacianos (Alexandre Padilha, Rui Costa e Paulo Pimenta) e por Fernando Haddad (Fazenda).

Luiz Carlos Azedo - Algo está errado — economia vai bem; aprovação de Lula, não

Correio Braziliense

Indicadores econômicos vão bem: queda da inflação, aumento do emprego, crescimento de quase 3%. Se não é a economia, o problema está a política

Segundo a Lei de Murphy, “se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará errado”. A frase é atribuída ao capitão e engenheiro norte-americano Edward Aloysius Murphy Jr., um dos responsáveis pelo desenvolvimento de testes sobre os efeitos da desaceleração rápida em pilotos de aeronaves, que registravam a frequência cardíaca e a oxigenação do sangue dos pilotos. O aparelho estava defeituoso e Murphy foi chamado para consertá-lo. Foi quando descobriu que a instalação estava errada e disse a frase famosa.

A Lei de Murphy não tem base científica, mas foi adotada no planejamento sempre que as coisas começam a dar errado. Na verdade, é uma questão de probabilidades. A tese de que o pão cai sempre com a manteiga para a parte de baixo, por exemplo, tem 50% de chance de se confirmar — mas depende da altura da queda, porque muitas vezes não há tempo ou energia suficientes para o pão dar uma volta completa. No fundo, o que torna a Lei de Murphy um sucesso é a memória. Sempre vamos nos lembrar quando algo não deu certo e poderia ser evitado. É o caso da pesquisa Genial-Quest divulgada ontem.

Vinicius Torres Freire - Economia melhor, Lula pior

Folha de S. Paulo

Aprovação do governo Lula 3 piora desde meados do ano passado, apesar de renda em alta

avaliação de Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro foi a pior das pesquisas da Quaest. Nas análises dos resultados, lia-se que as declarações sobre a guerra de Israel devem ter prejudicado o prestígio do presidente, assim como a alta da inflação de alimentos do início do ano. Destacava-se que Lula perdeu muitos pontos entre evangélicos. Pode ser.

Mais notável, no entanto, é que a "aprovação do trabalho" presidencial cai muito desde agosto do ano passado, quando estava no pico, com 60% de aprovação e 35% de desaprovação, um saldo de 25 pontos.

O tombo maior apareceu na pesquisa seguinte, em outubro de 2023: aprovação de 54%, desaprovação de 42%, saldo de 12 pontos. Na pesquisa de fevereiro, divulgada nesta quarta-feira (6), o placar ficou em 51% a 46%.

Os dados preliminares da economia que afeta o cotidiano não parecem explicar grande coisa, se alguma. Os preços de janeiro e a bobagem sobre a guerra de Israel não explicam o declínio contínuo e enorme desde agosto do ano passado.

Bruno Carazza - Sinal de alerta sobre a popularidade do governo Lula

Valor Econômico

Pesquisa Quaest mostra piora de avaliação entre grupos que sempre apoiaram o presidente

A fotografia parece a mesma de um ano atrás, mas nos detalhes é que se percebe a perda de brilho e uma certa mudança no semblante dos personagens.

Os números da pesquisa Genial Quaest que acabam de sair sobre a aprovação do presidente Lula e de seu governo são muito parecidos com o retrato de um ano atrás, quando seu terceiro mandato se iniciou.

Na linha do que o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, e o jornalista Thomas Traumann definiram no seu livro Biografia do Abismo, a sociedade brasileira está calcificada entre lulistas e bolsonaristas.

De forma geral, o panorama que saiu das urnas em outubro de 2022 continua intacto: Lula tem mais apoio no Nordeste, sua rejeição é menor entre as mulheres e sua aprovação é mais alta entre a população preta, menos escolarizada e com renda familiar mais baixa.

Eduardo Belo - Riscos, inflação e incertezas no cenário

Valor Econômico

Conflitos armados, eleições, crime organizado e acomodação das cadeias produtivas dão o tom do ano, aponta relatório

A economia global deve enfrentar um ano de inflação e incerteza e ao mesmo tempo algum crescimento - e muitos riscos no horizonte. A guerra entre Rússia e Ucrânia, já entrando no terceiro ano, e o conflito entre Israel e Hamas são dois ingredientes importantes nessa receita. Essa é a previsão do relatório O Mundo em 2024, sobre as tendências e os desafios que devem influenciar o cenário da segurança neste ano. O relatório foi publicado em fevereiro pela empresa especializada em riscos Prosegur Research, da Espanha.

O documento passeia por temas como segurança, cibersegurança, tecnologia e meio ambiente. No capítulo econômico, os autores citam a previsão do Fundo Monetário Internacional de que a maioria dos países enfrentará inflação acima das metas - formais ou não - ao longo deste ano, bem como a previsão de aumento da dívida pública em muitos deles - Brasil incluído.

Eugênio Bucci* - Manchetes adversativas

O Estado de S. Paulo

Esperar que uma conjunção adversativa costure a junção pacífica entre um lado e outro do Brasil partido é um suspiro de otimismo

No sábado passado, dia 2 de março, os três principais jornais brasileiros trouxeram manchetes quase idênticas. O Globo, no alto da primeira página, proclamou: “Brasil cresce 2,9%, mas queda de investimentos é alerta”. O Estado procurou um enunciado mais detalhado: “PIB sobe 2,9%, mas investimento cai e pode travar desenvolvimento maior”. A Folha de S.Paulo arriscou uma variação: “PIB cresce 2,9% em 2023, mas estagna no segundo semestre”.

No centro das três, imperou a conjunção adversativa “mas”, em meio a duas assertivas contraditórias. Na primeira assertiva, antes do “mas”, a notícia foi o resultado positivo da economia brasileira em 2023 (quase no mesmo patamar do ano anterior, que alcançou a marca de 3%), o que surpreendeu positivamente os assim chamados “mercados”. A segunda assertiva, depois do “mas”, falou dos senões. O Estado e O Globo alertaram que, com os juros ainda altos, o capital aplicado na produção se retrai, o que não anima ninguém. Na Folha, o destaque negativo foi o declínio da atividade econômica no final do ano passado, prenunciando uma tendência de baixa para 2024.

William Waack - A Lava Jato como assombração

Estado de S. Paulo

A operação foi declarada morta e enterrada, mas seu fenômeno político persiste

O sepultamento jurídico da Lava Jato foi consumado bem antes de a operação completar agora seus dez anos. O enterro político tem se revelado mais difícil.

No lado jurídico, a derrota da Lava Jato apresenta aspectos específicos do campo do Direito, resumidos na frase “não se deve cometer crimes para combater crimes”. Mas envolve uma monumental disputa entre poderes institucionais: qual deles exerceria uma “tutela” sobre sociedade e política.

Como supremo poder, o STF se sentiu acuado e atacado pela Lava Jato e pelo Ministério Público (nem se trata dos rumores em torno de uma “Lava Toga”). Afinal, quem “faz história” e protege uma sociedade hipossuficiente, a que não é capaz de se defender sozinha?

Maria Hermínia Tavares* - Os sonhos sonhos são

Folha de S. Paulo

Centro poderoso ou esquerda radical não são respostas à extrema direita

No debate público sobre o momento político brasileiro há duas posições diferentes em tudo —menos em matéria de desconforto diante do governo de coalizão ampla que o presidente Lula encabeça.

A primeira sustenta que o país vive tempos de polarização política e que o PT no Palácio do Planalto só faz ampliar a divisão que cinde a sociedade e faz dos brasileiros torcedores prontos para o vale tudo.

A segunda posição, reconhecendo a força da extrema direita, prega que a esquerda, dada por morta, vítima de excesso de moderação e escassez de utopia, deva ressuscitar como polo igualmente extremado, radicalmente anticapitalista.

Fernanda Perrin - Bolsonaro, Trump e a Justiça

Folha de S. Paulo

Cálculo delicado entre banir ou liberar candidaturas tem custos dramáticos e pouco conhecidos

Jair Bolsonaro está inelegível. Donald Trump lidera a corrida pela Casa Branca. Frequentemente comparados nos últimos anos, a situação dos dois não poderia ser mais distante hoje, em razão de abordagens opostas adotadas pela Justiça de cada país.

No Brasil, o TSE condenou o ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido de recursos públicos e meios de comunicação para fazer campanha. Já nos EUA, a Suprema Corte invalidou na última segunda-feira (4) a tentativa de retirar o republicano da disputa por ter violado uma cláusula constitucional sobre insurreição.

Ruy Castro - Cagões em silêncio

Folha de S. Paulo

Alguns generais de hoje, crianças em 1964, eram das que, em perigo, corriam para as saias da mãe

O presidente Lula afirmou que não irá ficar remoendo o passado a respeito de 1964, porque os atuais generais eram crianças quando o golpe militar aconteceu e não tiveram nada a ver com ele. Tem razão. Como esses generais estão hoje entre os 60 e os 70 anos, tinham então menos de 10, idade em que, segundo Nelson Rodrigues, deviam estar raspando perna de passarinho a canivete. Ou passando mais tempo no banheiro do que estudando.

Por não serem responsáveis por 1964, os generais hoje na ativa não deveriam se sentir herdeiros do golpe e obrigados a defendê-lo das acusações de tortura, execução e desaparecimento de seus adversários. Ao contrário —sem envolvimento emocional com os algozes e vítimas, seu maior interesse deveria ser ilibar as Forças Armadas dessa nódoa, admitindo que foram tais e quais oficiais que cometeram os crimes, e não as Forças em conjunto. O "esprit de corps" de que não se livram só serve para explicar por que, culpado ou inocente, nenhum milico saía fardado às ruas das grandes cidades brasileiras durante a ditadura.

Conrado Hübner Mendes - Dormiu bem, general?

Folha de S. Paulo

Irritometria militar em off é o pico do servilismo jornalístico

No currículo oculto da formação em jornalismo existe uma disciplina chamada "Servilismo ao poder político e econômico". Ensina a prestar serviços privados a quem manda, e a se afastar da produção de qualquer informação útil ao interesse público ou bem comum. Dentro dessa disciplina, há um tópico ao qual o jornalismo brasileiro se dedica com muito gosto e engenho: a irritometria militar.

"Forças Armadas se irritam com revelações da PF sobre participação de militares na tentativa de golpe"; "A irritação da cúpula militar com a investigação da PF sobre o golpe"; "Cresce a irritação das Forças Armadas com atuação da Polícia Federal".

"Militares se irritam com prisão de Cid"; "Entenda o motivo da irritação das Forças Armadas com o caso das joias de Jair Bolsonaro"; "Nova crise provocada por Olavo de Carvalho escancara irritação de militares".

"A irritação das Forças Armadas com o decano do Supremo" (o decano era Celso de Mello, que ousou avisar a militares que, se não fossem depor, seriam levados, como qualquer cidadão, "debaixo de vara"); "A irritação dos militares com Alexandre de Moraes" (o ministro representaria uma "senha da indignação" entre militares).

É um jornalismo orgulhoso do privilégio dessa fonte tão especial, o general. Por isso não se reconhece como jornalismo de fofoca. Na tipologia das fofocas, existe a fofoca BBB (relato de fatos curiosos sobre atores que só se tornam conhecidos em razão da fofoca); e existe a fofoca sobre a vida privada de autoridades ou celebridades (onde a notoriedade dos atores precede a fofoca).

Ricardo José de Azevedo Marinho* - Águas de Março

Em muitas ocasiões, os verões brasileiros trazem a ideia de um devaneio de lazeres, de uma pausa no cotidiano, em que se esperam dias claros, diversão, leitura para alguns e, em todo momento, alegrias proximais emocionais. E no Brasil de hoje, viagens recreativas dentro e fora do país.

De fato o nosso país, que tem uma grande paisagem natural, costuma mostrar que está natureza variada e bela não é, como diz o nosso hino nacional com otimismo, “de amor eterno seja símbolo”, que tem nos faltado esse sentimento, por vezes indo a aspereza, dureza que franze a testa ao Grande Número, justo nos momentos em que menos queremos: no verão.

A esse azedume que nunca foi nosso juntam-se várias pragas e com o aumento do calor que as mudanças climáticas nos trazem, contando também com a ajuda da negligência, do desleixo e do mal, surgem chuvas e queimadas gigantescas e letais, catastróficas, para os quais nunca ninguém está totalmente preparado, a despeito da sua previsão.

É também muito triste quando perdemos mentes como a do Samuel Pinheiro Guimarães Neto (1939-2024) e a de Luiz Jorge Werneck Vianna (1938-2024), personagem que a despeito de suas idades avançadas, continuavam a servir de forma importante a vida democrática do país.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Tapetão eleitoral ...

O presidente Lula passou este ano e meio de mandato em viagens pelo mundo, tratando de assuntos planetários.   Não escapou de imiscuir-se em searas alheias.  Chegou a anunciar uma moeda nova para substituir o dólar no comércio internacional, defendeu o aumento o número de membros do Conselho de Segurança da ONU, palpitou sobre a invasão da Ucrânia e sobre a resposta de   Israel ao Hamas, prometeu financiamentos para a África e para a América Latina. Internamente, deixou entender que pretende disputar sozinho as próximas eleições presidenciais, como Putin, Maduro e Ortega, retirando concorrentes da corrida eleitoral. 

Seus escorregões retóricos, inciativas e opiniões intempestivas estão mostrando a distância do que pensa das promessas da campanha eleitoral de 2022. Algumas afirmações   deveriam constar, não apenas de uma agenda transparente, mas até serem submetidas a consultas públicas, no mínimo, ao Congresso Nacional. Se não se cuidar seu comportamento meio leviano tende a complicar-se nas eleições municipais de outubro. O País parece aproximar-se de uma crise de confiança no campo econômico, mesmo diante do anunciado crescimento de 2,9% do PIB de 2023, amparado no amaldiçoado agronegócio.