Propor nova eleição na Venezuela não tem nexo
O Globo
Ideia foi aventada por Lula, Gustavo Petro e
Celso Amorim. Mas já houve pleito em julho — e Maduro perdeu
Na segunda reunião ministerial deste ano, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse aos presentes que o venezuelano Nicolás
Maduro deveria tomar a iniciativa de convocar uma nova eleição.
Uma semana depois, falou publicamente sobre o assunto. “Se Maduro tiver bom
senso, podia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até
convocar novas eleições”, disse. Horas depois, o presidente colombiano, Gustavo Petro,
defendeu a mesma ideia. Em seguida, o assessor para Assuntos Internacionais do
Palácio do Planalto, Celso Amorim,
negou ter formulado a alternativa, mas voltou a tratar o tema como uma
possibilidade. A ideia é um absurdo sem nenhum nexo.
Já houve eleição na Venezuela. Ela ocorreu em 28 de julho — e Maduro perdeu, apesar de o Conselho Nacional Eleitoral, dominado por chavistas, tê-lo declarado vencedor quando a contagem de votos não terminara, e era impossível chegar a tal conclusão. Em desafio ao clamor dentro e fora do país, os boletins com resultado individual de cada urna — conhecidos como “atas” — nunca foram apresentados pelas autoridades. O embaraço do governo com a situação inusitada só não é maior que a fraude. Maduro queria uma eleição apenas para passar um verniz de legitimidade em seu regime ditatorial. Desta vez, o oposicionista Edmundo González ganhou por margem tão eloquente — confirmada por apurações independentes com base nas atas que vieram a público, pela Organização dos Estados Americanos e pelo insuspeito Carter Center — que ficou simplesmente impossível justificar o roubo.