terça-feira, 10 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Anistia a golpismo e impeachment no STF são absurdos

O Globo

Investigados pelo 8 de Janeiro devem ser condenados ou inocentados em julgamentos justos

Em manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro defenderam a anistia aos processados pelo 8 de Janeiro, ao próprio Bolsonaro na esfera eleitoral e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelos inquéritos relativos a atos antidemocráticos e à disseminação de desinformação. Nenhuma das ideias tem o menor cabimento.

Moraes se tornou uma espécie de alvo preferencial dos bolsonaristas por conduzir inquéritos que tramitam em segredo de Justiça e têm resultado em medidas contra parlamentares, aliados e propagandistas de Bolsonaro. Ao colocá-lo a seu lado no palanque do 7 de Setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também ajuda, de modo impróprio, a lhe conferir um protagonismo político incompatível com o papel de um juiz. Mas é preciso ir além das aparências para avaliar os fatos.

Merval Pereira - Perigo à vista

O Globo

O perigo dessa disputa religiosa está no fato de, ao se tornarem pivôs da vitória, os evangélicos bolsonaristas ganharem um poder maior do que já têm, pondo em risco um conceito democrático fundamental, a laicidade do Estado

A disputa pelo voto evangélico é um dos aspectos mais perigosos das eleições brasileiras recentes, especialmente agora, quando ele pode decidir o resultado na Prefeitura de São Paulo. O atual prefeito, Ricardo Nunes, e o dissidente bolsonarista Pablo Marçal estão empatados no eleitorado evangélico, e Marçal já passou a dianteira entre os eleitores de Bolsonaro, que oficialmente apoia Nunes.

Isso mostra, inicialmente, que o ex-presidente perde força na capacidade de induzir a escolha de seus seguidores. A paz entre os grupos de extrema direita foi tentada pelo filho Zero Dois de Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro, mas logo fracassou diante da ameaça real que Marçal representa para o grupo do ex-presidente. A tentativa falhou, sobretudo, porque Marçal não aceita se subordinar a Bolsonaro, exatamente porque disputam o mesmo eleitorado.

Pedro Doria – Tem um clima pintando

O Globo

O banimento do X, no Brasil, não é um gesto isolado

Nos acostumamos, no Brasil, a enxergar os acontecimentos nacionais pelo nosso umbigo. Como se tudo fosse jabuticaba, algo nosso particular. Mas o país não é uma ilha, e estamos mais envolvidos no centro dos grandes debates globais do que muitos se permitem perceber. A decisão de banir a plataforma X já completa uma semana e, diferentemente do que o debate público faz parecer, ela não é um evento isolado.

No fim de agosto, a polícia francesa prendeu Pavel Durov, dono do Telegram. Ele é acusado de ser permissivo com conteúdo envolvendo pornografia infantil na plataforma. Foi liberado sob fiança de € 5 milhões, deve comparecer à delegacia duas vezes por semana e está proibido de deixar a França enquanto aguarda julgamento. Durov tem um discurso similar ao de Musk: considera que não deve controlar o que se fala no espaço digital que criou.

Pedro Cafardo - Por que o sr. D agradece a Tombini, Ilan e Campos Neto

Valor Econômico

Nos últimos 20 anos, para quem tem capital, mesmo pequeno, foi mais fácil e seguro viver de renda do que tentar empreender

Este texto é sobre uma história simples, mas que sugere reflexão, contada pelo senhor D. Ele começa com um agradecimento aos três presidentes do Banco Central dos últimos dez anos: Alexandre Tombini, Ilan Goldfajn e Roberto Campos Neto, respectivamente nomeados por Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.

No início, a narração dele parece irônica, própria de um crítico da política de juros altos do BC. Mas em seguida ele faz um relato detalhado de seus ganhos financeiros em dez anos. Fica uma dúvida sobre a ironia.

O senhor D conta que em 2014, aos 55 anos, decidiu antecipar sua aposentadoria como empregado celetista para abrir um negócio, uma pequena metalúrgica de precisão, sua área de especialização. Ficou animado com a expectativa de criar a empresa com o dinheiro que receberia de Fundo de Garantia, férias atrasadas e outras indenizações. Mas surpreendeu-se ao ver que, feitas as contas, acabou com uma bolada de R$ 3 milhões, incluindo aí poupança que já tinha no banco e indenização da mulher, a senhora D, que também optou pela aposentadoria antecipada.

Míriam Leitão - Os problemas e a briga da direita

O Globo

Bolsonaro conseguiu levar milhares para a Paulista, mas coleciona derrotas que vão do fracasso de candidatos às brigas na extrema direita

Jair Bolsonaro conseguiu reunir uma multidão na Avenida Paulista, mas, ao mesmo tempo, viu as fraturas dentro do seu grupo e já sabe que vai perder a eleição no seu reduto. Na Polícia Federal prosseguem outras investigações que podem levar a novos indiciamentos tanto dele, quanto do seu candidato no Rio. A direita extrema se divide e não surge daí uma linha democrática. Do ponto de vista das ideias, a emergência climática é outra complicação. Atinge em cheio o negacionismo desse grupo político e da parte do agro que o apoia. Não há mais como negar.

A escolha do ministro Alexandre de Moraes como alvo do dia 7 de setembro é bem óbvia. Ele é o presidente do inquérito que mais ameaça Bolsonaro e a todos os que cometeram crimes na preparação e na execução da tentativa de golpe de 8 de janeiro. Por isso, ele diz que Moraes é “pior do que Lula”. Lula o derrotou em 2022. Moraes pode mandar prendê-lo. O ataque a Alexandre de Moraes tentou aproveitar o momento em que o ministro sofreu desgaste com a suspensão do X e por ter supostamente quebrado o rito ao pedir ao TSE informações públicas sobre perfis que defendiam golpe de Estado.

Maria Cristina Fernandes - Bolsonaro perde o monopólio da direita

Valor Econômico

Hoje Marçal assusta o eleitor moderado como Bolsonaro também o fazia antes de se eleger, mas é ofensiva estratégia para herdar seu eleitorado

O bolsonarismo arrumou uma encrenca com o ato de 7 de Setembro. A ideia era se valer da força da direita na eleição paulistana e da última grande efeméride antes da disputa pelas mesas diretoras para bombar duas pautas que passam pelo Congresso: a anistia pelo golpismo do 8/1 e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

Findou passando recibo para a concorrência de Pablo Marçal. O candidato do PRTB não se limitou a transformar a Avenida Paulista no laboratório de sua preferência no eleitorado bolsonarista. Saiu ovacionado ao se evidenciar como herdeiro de Jair Bolsonaro num ato convocado para pressionar pela devolução dos direitos políticos do ex-presidente. Não foi por 2024, mas por 2026 que se puseram em conflito.

Joel Pinheiro da Fonseca - A direita tem dono?

Folha de S. Paulo

Marçal não é mero 'voto de protesto', como Tiririca foi no passado

Narcísico, megalomaníaco, soberbo e lacrador foram alguns dos xingamentos usados por Silas Malafaia para se referir a Pablo Marçal depois do protesto de 7 de Setembro na Paulista. O motivo do protesto era, em tese, a liberdade de expressão, mas o que se viu na avenida foi mais um ato político do bolsonarismo.

O curioso é que o público do bolsonarismo parece estar ficando menos… bolsonarista. E não é que tenha aberto mão dos valores que movem o movimento. Só mostra disposição de se descolar da liderança de Bolsonaro para votar em outros que melhor os incorporem. Grande parte deles pretende votar, não no candidato apoiado por Bolsonaro, Ricardo Nunes, e sim em Pablo Marçal.

Muito se pode criticar a direita brasileira, mas uma coisa ela tem mostrado: é mais fiel a seus valores que a seus líderes. O mesmo não se pode dizer da esquerda brasileira, que dos anos 90 até hoje tem apenas um e único líder.

Dora Kramer - Do medo nada se leva

Folha de S. Paulo

Guardiões da legalidade não devem ser temidos nem estimados, mas respeitados

O que se ouviu na avenida Paulista no último sábado, 7 de Setembro, algum efeito terá sobre deputados e senadores. O Senado, no entanto, não atenderá aos pedidos de impeachment do ministro Alexandre de Moraes nem a Câmara aos de anistia para condenados pelos atos golpistas que culminaram no 8 de janeiro de 2023.

Ao menos não na atual composição do Congresso. Disso sabem as lideranças, cujo estrato mais identificado com aquelas propostas aposta na pressão permanente na expectativa de que o ambiente lhe seja mais favorável depois da eleição de 2026.

Rosane Borges - Capitalismo canibal: como se opor?

Folha de S. Paulo

Fim de modelo exige, entre outras coisas, a superação do reducionismo econômico

"Capitalismo Canibal" (ed. Autonomia Literária), de Nancy Fraser, é daquelas obras que chegam em hora oportuna com um título que consegue expressar a máxima "o conceito alcançou a realidade". A filósofa e feminista recoloca o capitalismo em cena, uma vez que, segundo ela, o termo esteve fora dos escritos dos pensadores marxistas nas últimas décadas.

O livro defende que "o capital está destruindo todas as esferas da vida, consumindo a riqueza da natureza, aprofundando o racismo, sugando a nossa capacidade de cuidar uns dos outros e destruindo a prática política". Todos esses tópicos compõem o cartão postal do nosso tempo e configuram o capitalismo do século 21.

Eliane Cantanhêde - Fumaças e erros no ar

O Estado de S. Paulo

Brasil: envolto em fumaça e andando em círculos na política externa, sem chegar a lugar nenhum

Ao vencer a eleição de 2022 e anunciar ao mundo que “o Brasil voltou”, o presidente Lula trazia com ele alívio pelo fim do governo Bolsonaro e expectativa do retorno de políticas públicas essenciais, reinserção do País no mundo e recuperação da liderança na área ambiental. Em resumo, Lula prometia repetir os acertos e deixar para trás os erros dos dois mandatos anteriores. Tem sido assim?

“Pária internacional” com Bolsonaro, o Brasil colhe fracassos com Lula, como mediador nas guerras de Rússia e Ucrânia e de Israel e Palestina e a política externa anda em círculos, sem chegar a lugar nenhum, não por culpa do Itamaraty. Lula e o assessor Celso Amorim jogaram as expectativas lá em cima, mas o Brasil não teve fôlego para tanto.

Carlos Andreazza - A punição eleita

O Estado de S. Paulo

Vote não por realizações de governo. Por forra instantânea

A campanha de Pablo Marçal tem fundamento na ideia de punição. É explícito. Declarado mesmo. Algo de intensidade sem precedente no Brasil.

Vote – não para eleger – para punir. Não por realizações estruturais de governo. Por forra instantânea. Um discurso construído sobre a projeção-promessa, para efeito em curtíssimo prazo, do castigo.

Do castigo – eis a bênção prometida – ao que representariam os adversários, atores num velho teatro entre farsantes.

Vote e puna. Vote para punir. Vote punindo. Eleja a punição.

Não há discurso – incluídos debates e entrevistas – em que Marçal não peça voto como instrumento para punir. Para humilhar. É o compromisso do candidato. Vote e, ao contabilizar da urna eletrônica, seja patrono do achincalhe geral. Danem-se os quatro anos contratados, se condenada a corriola já.

Rubens Barbosa - Oceanos e desafios climáticos

O Estado de S. Paulo

Incluir os oceanos como componente central nas estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas será fundamental para o sucesso das negociações nas COPs

Os oceanos, fundamentais para a manutenção da vida na Terra, nem sempre estão entre as principais prioridades climáticas globais. Eles são responsáveis pela maior parte da produção do oxigênio no planeta, atuam como absorvedores de carbono e reguladores climáticos, possuem uma rica biodiversidade e sustentam milhões de pessoas em todo o mundo. Apesar de sua importância, a proteção dos oceanos não tem a visibilidade que têm o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa na agricultura e na indústria.

Reconhecendo essa negligência, a ONU criou a Década do Oceano (2021-2030) para destacar a importância dos oceanos na agenda global. Essa iniciativa busca promover a conservação marinha e o uso sustentável dos recursos oceânicos.

Jorge J. Okubaro - Devolver a capacidade de sonhar

O Estado de S. Paulo

Com recursos, disposição, organização e seriedade, é possível melhorar a vida das pessoas e abrir horizontes para jovens e crianças em condição de vulnerabilidade

Ainda neste ano as 220 mil pessoas que vivem em Heliópolis, a grande comunidade instalada nos limites da Capital com a cidade de São Caetano Sul, ganharão uma sala de concerto para 533 espectadores e com palco para orquestra de cem músicos. O responsável pela obra é o Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos que há mais de 27 anos se instalou em Heliópolis e realiza um trabalho social com crianças e jovens em situação de vulnerabilidade. Trata-se de um projeto idealizado em 2005, para abrigar a Orquestra Sinfônica Heliópolis.

Luiz Carlos Azedo - Lula nomeia deputada negra para Direitos Humanos

Correio Braziliense

Macaé Evaristo assume uma pasta na esfera de controle político da primeira-dama Janja da Silva, que interferiu diretamente na crise que levou à demissão de Silvio Almeida

O desfecho da crise aberta pelas denúncias do MeToo Brasil contra o ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida — que foi escrachado publicamente e demitido do cargo, por suposta importunação e assédio contra a ministra da Integração Racial, Anielle Franco, e outras mulheres —, seguiu o roteiro previsível: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, nomeou para o cargo a deputada estadual de Minas Gerais Macaé Evaristo (PT), que já era uma das mais cotadas para a pasta, ao lado da deputada federal Benedita Silva (PT-RJ). O ex-ministro ainda esperneia, nega as acusações e revela bastidores da disputa política com Anielle.

A própria natureza da crise foi determinante para a sucessão do ministro por uma mulher negra e petista. "Recebi um convite muito afetivo do presidente Lula, que diz conhecer minha trajetória de luta pelos direitos humanos e antirracista", disse Macaé, que é muito ligada ao ex-governador Fernando Pimentel.