quinta-feira, 7 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

As razões — e os riscos — da vitória de Trump

O Globo

Ele responde a anseios de população insatisfeita, mas seu novo governo é um mergulho na incerteza

A volta do republicano Donald Trump à Casa Branca foi selada com uma vitória incontestável nas urnas. Ele derrotou a democrata Kamala Harris nos estados decisivos, recuperou a maioria no Senado, caminha para manter também o controle da Câmara e, contrariando as previsões, para vencer até na votação popular, somando confortavelmente mais de metade do total de votos. O mapa de seu desempenho nas urnas lembra o de 2016, quando irrompeu derrotando Hillary Clinton nos bastiões do Meio-Oeste antes tidos como redutos seguros dos democratas. Agora, independentemente da opinião que se tenha sobre a figura de Trump — capaz de despertar paixões antagônicas —, é preciso reconhecer que a democracia funcionou. Mais uma vez, ele chega ao poder por meios legítimos.

Novo normal da democracia nos EUA e o Brasil - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Se a mitigação da verdade, a deportação em massa, o poder desmedido das corporações e o desabrigo das minorias integram a democracia que o eleitor americano quis consagrar, os impedimentos à aproximação do Brasil do mundo autocrático tendem a se arrefecer

De outubro de 2019 para cá, 8.248 brasileiros foram deportados dos Estados Unidos em função de um acordo firmado entre os governos Jair Bolsonaro e Donald Trump. Os consulados brasileiros passaram a enviar ao governo americano, à revelia, documentos dos deportáveis que permitem sua entrada no Brasil. O acordo sobreviveu às posses de Joe Biden e Luiz Inácio Lula da Silva.

Um terço dos voos que pousaram em Confins com os repatriados o fez sob Lula. Pesou sobre a decisão do Itamaraty de manter o acordo, a despeito da mudança dos governos, o fato de os brasileiros já terem recebido a ordem final de deportação. Em última instância, porém, o acordo facilita a deportação em massa e, por isso, enfrentou a resistência do Itamaraty por décadas.

A vitória republicana na Casa Branca a caminho de se estender para as duas Casas do Congresso tem reflexos planetários, mas a continuidade dos pousos, quase quinzenais, ao longo desses cinco anos é uma demonstração de como os confrontos políticos encontram seu ponto de acomodação - nem sempre, é verdade, em benefício do interesse nacional.

Orçamento inchado, contas confusas - Maria Clara R. M. do Prado

Valor Econômico

O governo, por conveniência, estabelece suas metas fiscais pelo conceito de déficit primário, como se os juros não fizessem parte de suas obrigações

As tratativas políticas em torno da chamada “revisão dos gastos públicos” com vistas ao melhor alinhamento das contas do orçamento de 2025 com a receita, acabam por abrir espaço para o encaixe de despesas que normalmente fogem ao controle do governo. É o caso dos juros da dúvida pública federal. É possível fazer-se uma estimativa a priori, mas impossível cravar o valor mesmo aproximado daquele dispendido com antecedência.

Não se sabe o que o governo federal fará com os recursos cuja destinação em 2025 pretende rever através de um Projeto de Emenda Constitucional (PEC), mas que, em princípio, subtrairia dinheiro de alguns dos programas sociais que são a cara do próprio presidente Lula. Sabe-se, contudo, que o Ministério da Fazenda tem se esforçado para apresentar no fim do ano o prometido déficit primário zero, um pouco mais, um pouco menos. Aliás, já fez ajustes nos gastos para chegar à tal meta ainda em 2024.

Melhor é ser ignorado pelo futuro governo Trump - Assis Moreira

Valor Econômico

Pelo cenário atual em Washington, Brasil é um dos países mais vulneráveis a enfrentar tensões comerciais com o futuro governo

No seu primeiro mandato como presidente, Donald Trump utilizou sem hesitação a alta de tarifas de importação para punir tanto rivais como aliados e forçar as empresas a fabricar seu produtos nos EUA.

Confirmado para voltar à Casa Branca, Trump vem agora com plano ainda mais agressivo, de imposição de “tarifa universal” de 10% a 20% sobre a maioria das importações e de 60% sobre a China, o inimigo número um.

Economistas citados pelo “New York Times” comparam a provável imposição por Trump de barreiras comerciais em níveis não vistos em gerações a uma granada lançada no coração do sistema internacional de comércio baseado em regras comuns.

Sonho americano - Merval Pereira

O Globo

Todas essas mudanças geopolíticas mexerão com o mundo. Do nosso lado, serão poucas as mudanças diretas, até porque a América Latina não é exatamente prioridade dos Estados Unidos, seja o presidente democrata ou republicano

Há quem ache que os Estados Unidos entraram no modo oposição de votar nos últimos anos. O revezamento entre democratas e republicanos tem acontecido mais rapidamente, com dois incumbentes sendo derrotados a cada quatro anos: Trump em 2020 e Biden agora. Há quem ache que a alta abstenção no mínimo atrapalhou o resultado das pesquisas eleitorais e pode ter atrapalhado principalmente a candidata Kamala Harris.

Foi uma vitória avassaladora de Donald Trump, que agora está com todas as facas e queijos na mão. O Partido Republicano levou Câmara e Senado, e Trump ainda tem a Suprema Corte conservadora a seu lado, sequela de sua administração anterior, que já promoveu um retrocesso histórico na questão do aborto.

Lula ergue a bandeira branca para Trump – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O cenário novo pode ser ameaçador do ponto de vista da política interna, mas também oferece oportunidades geopolíticas para o Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parabenizou o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, pelo retorno dele à Casa Branca após quatro anos. "Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada", escreveu Lula. A mensagem equivale a uma bandeira branca, após o presidente brasileiro, às vésperas da eleição, ter afirmado que torcia pela vitória da vice-presidente Kamala Harris, a candidata democrata, e via o republicano, o presidente eleito, como uma ameaça à democracia.

Lula não tem outra opção, precisa manter boas relações com o novo presidente dos Estados Unidos, ainda que ele seja um aliado incondicional do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nesse caso, o que prevalece não é posição ideológica do PT, cuja presidente, Gleisi Hoffmann, na nota que o partido divulgou sobre a eleição de Trump, parecia menos preocupada com Trump e mais com o pacote fiscal que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad está prestes a anunciar, para conter a inflação e a escalada dos juros.

A onda Trump e o Brasil - Malu Gaspar

O Globo

Na manhã seguinte à vitória de Donald Trump, Brasília amanheceu tensa, mas as reações no governo Lula seguiram uma espécie de protocolo. O primeiro a falar em nome do governo foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, batendo na tecla de que, entre o que é dito em campanha e o que se faz no governo, pode haver um largo espaço.

— Após os primeiros resultados, já é um discurso mais moderado que o da campanha — tentou aliviar Haddad.

O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, foi na mesma toada, evocando a boa relação que Lula mantinha com George W. Bush em seu primeiro mandato e dizendo que o Brasil fará o “possível para ter uma conversa pragmática”. Nas redes sociais, Lula, que na semana passada afirmou torcer por Kamala Harris por ser “muito mais seguro para fortalecer a democracia”, cumprimentou Trump e pediu diálogo.

Radicais do Vale do Silício terão acesso direto ao Salão Oval - Pedro Doria

O Globo

É difícil acreditar que um governo Trump agirá, o que aumentará a responsabilidade da União Europeia em proceder

Elon Musk estava exultante, na madrugada em que se confirmou a vitória de Donald Trump, quando subiu com o presidente eleito ao palco. Musk apostou alto naquela candidatura. Gastou US$ 44 bilhões na compra do Twitter, mudou seu nome para X, converteu a rede numa plataforma social para o trumpismo, se expôs. E Trump voltará à Casa Branca.

Ele não era o único, no Vale do Silício, em êxtase. O valor de criptomoedas como o Bitcoin disparou, ontem, animando um dos mais importantes fundos de investimento daquela região da Califórnia, a Andreessen Horowitz. Seus fundadores, preocupados com a regulação do cripto, também estavam entre os principais apoiadores do novo presidente no mundo digital. E, claro, há J. D. Vance, o vice-presidente eleito, indicado por outros tantos nomes grandes.

‘Brace for impact’ - William Waack

O Estado de S. Paulo

Não foi Donald Trump quem inaugurou, mas ele aprofunda a era das incertezas

Uma das imagens mais poderosas que orientaram os estrategistas republicanos nas três últimas eleições foi a do Voo 93, título de um famoso (para a direita americana) artigo publicado em 2016. Voo 93 se refere ao episódio, durante os ataques terroristas do 11 de Setembro, no qual os passageiros de um dos voos sequestrados se rebelam contra os terroristas e tentam invadir a cabine.

Os republicanos tinham de tomar o cockpit do avião Estados Unidos ou morrer, pregava a doutrina eleitoral. Pois eles acabam de conseguir. Tomaram o Legislativo, o Executivo e a Suprema Corte que já era conservadora antes das últimas eleições. Mas assumiram o voo no meio de uma era das incertezas.

São Tomé e o pacote fiscal do governo - Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Um bom programa consolidaria a boa gestão de Haddad e a ideia de que governos de esquerda não precisam ser fiscalmente irresponsáveis

As nossas avaliações na Warren Investimentos indicam que é preciso um corte de gastos de mais de R$ 40 bilhões para cumprir a meta fiscal de 2025. Isso, no entanto, levando em conta a banda inferior da meta e as despesas não consideradas para fins do compromisso legal. O pacote fiscal precisa sair logo e em bases relevantes. Muitos ainda seguem como São Tomé, aguardando para pôr as mãos nas chagas e comprovar a nova realidade.

A saber, a meta de resultado primário (receitas menos despesas sem considerar os gastos com juros) é igual a zero para 2025. Há uma banda inferior, de R$ 31 bilhões, espécie de permissão para entregar um déficit primário e mesmo assim não romper a lei. Na verdade, essa banda deveria ser usada apenas em casos excepcionais.

Os economistas premiados com o Nobel e o Brasil - Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

Seus conhecimentos sobre instituições no sentido ‘lato’ são úteis para entender o que se passa no País

Três economistas receberam o Nobel deste ano: Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson. O comunicado sobre o prêmio disse que ele foi dado por estudos de como as instituições da sociedade são formadas e afetam a prosperidade de um país. Instituições são tomadas num sentido lato, não sendo necessário que tenham, por exemplo, uma sede. Isto é, as elites de uma sociedade, por exemplo, constituem instituições. O Congresso é uma instituição política, mas as suas ações têm também impacto social. Um caso interessante é o das duas Coreias, que depois de sua divisão se tornaram países muito diferentes, a do Sul prosperando e a do Norte ficando para trás, pois seus líderes as conduziram de formas diferentes.

O nacionalismo de Biden e Trump - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Biden manteve política comercial trumpista; a seu modo, são nacionalistas econômicos

Joe Biden manteve a política de Trump 1 de cobrar mais imposto de importação de produtos chineses e estendeu neste ano a restrição para bens como carros elétricos e baterias, painéis solares, minérios estratégicos, aço, alumínio, material hospitalar (seringas!) e chips.

Em outubro, Biden autorizou a instalação de uma mina de lítio em Nevada, ao norte de Las Vegas. O empreendimento é detestado por ambientalistas e defendido por fábricas de carros, entre outros. O governo vai financiar parte da construção da mina; diz que o minério é estratégico para a segurança e para a economia do país. Cerca de 80% da produção mundial de lítio vai para a fabricação de baterias.

A mina pode quadruplicar a produção americana de lítio até 2028. AustráliaChile e China, pela ordem os maiores produtores, fazem uns 90% da oferta mundial; Argentina e Brasil vêm a seguir. A extração do mineral é poluente, usa muita energia e água; por isso regulamentações complicam o negócio.

O PT à procura de novos rumos - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Lula venceu de olho no retrovisor, prometendo a reconstrução, sem nenhuma proposta inovadora

Conhecidos os resultados das disputas municipais, instalou-se acesa discussão pública entre líderes petistas e intelectuais de esquerda sobre os rumos do partido, diante de uma votação que confirma a sua perda de espaço nos principais colégios eleitorais do país.

Importante para o destino do campo progressista, o debate chega com muito vigor e atraso de alguns anos. O impeachment que interrompeu o mandato da presidente Dilma Rousseff, os desmandos jurídicos da Lava Jato, seu uso pelas forças de extrema´direita e, finalmente, a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 conduziram o PT a uma posição defensiva, na qual não parecia necessário –muito menos possível– que o partido refletisse sobre seus erros: a condução desastrada de política econômica depois de 2008, a condescendência em face da corrupção dos seus e dos aliados na coalizão de governo.

Vitória de Trump compromete projeto brasileiro para a COP30 e o G20 - Míriam Leitão

O Globo

O presidente novamente eleito Donald Trump sempre negou a mudança climática e manterá a mesma toada em seu novo mandato. Na primeira administração do republicano, ele tirou os EUA do Acordo de Paris, movimento inicial da mobilização global com estabelecimento de metas para redução de emissões de gases de efeito estufa. No atual momento, a conjuntura ficou muito mais grave. Com eventos climáticos cada vez mais extremos ficou claro que para cumprir o objetivo de conter o aquecimento global a um grau e meio será necessário aumentar as metas de redução dos gases de efeito estufa e é por isso que o Brasil está propondo a elevação das ambições, ou seja, das NDCs, como se denominam as metas nacionalmente determinadas, com o objetivo final de deter o aquecimento global a esse nível.

3 lições para Lula da vitória de Trump – Vera Magalhães

O Globo

Presidente brasileiro tem dois anos para evitar que Brasil replique EUA pela terceira eleição presidencial consecutiva

São inúmeras as diferenças entre os sistemas político e eleitoral, o funcionamento das instituições e a história democrática de Brasil e Estados Unidos. Mas o fato é que, desde 2016, os dois países têm vivido ciclos eleitorais semelhantes. A vitória inesperada de Donald Trump naquele ano foi sucedida pela ascensão metórica de Jair Bolsonaro dois anos depois. A derrota apertada do republicano em 2020 teve características muito semelhantes à sofrida pelo capitão reformado por aqui dois anos mais tarde. Agora, os Estados Unidos elegeram novamente Trump por uma margem maior que a prevista pelas pesquisas, e com crescimento do republicano em praticamente todo o país, não só nos ditos Estados vermelhos.

O assanhamento dos bolsonaristas com o feito inédito e ousado de Trump --reconduzido à Casa Branca sem esconder uma plataforma divisiva, revanchista, persecutória em relação aos adversários ou aos eleitores do outro lado e beligerante em relação a boa parte do mundo-- se deve a uma expectativa, que não deve se confirmar, de que sua vitória funcione como uma pressão sobre o Congresso e o STF brasileiros para livrar Bolsonaro da inelegibilidade. Mas esse é um assunto para outro texto.

Na nova eleição de Trump, o triunfo da perversidade - Cora Rónai

O Globo

Uma coisa é um voto de protesto numa figura pública duvidosa, outra é o voto num homem tão reconhecidamente perverso

“Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.” Nunca pensei que um dia diria isso, mas a Dilma tinha razão. Nessa eleição, não houve ganhadores ou perdedores: todos perderam. Mesmo que Kamala Harris tivesse saído vitoriosa (o que teria sido, antes de tudo, um alívio imenso), a realidade é que seria impossível ignorar a quantidade de eleitores americanos – "estadunidenses" – que considerou normal votar em Donald Trump. Ou, dito de outra forma, que achou, e ainda acha, Donald Trump normal.

Vitória de Trump vinga excluídos da prosperidade americana - Fernando Canzian

Folha de S. Paulo

Quem olhar por alto os indicadores da economia dos Estados Unidos neste 2024 considerará uma tremenda injustiça a vitória do republicano Donald Trump sobre a democrata Kamala Harris, representante de um governo que deve entregar o país com taxas muito positivas.

Nos últimos meses, os EUA evitaram o pior: um "hard landing", ou seja, uma recessão para conter a inflação pós-pandemia. A transição para a normalidade vem se dando de forma suave e surpreendentemente boa.

Até setembro, a inflação em 12 meses subiu 2,1% (para uma meta de 2%), e a taxa de desemprego era baixíssima, de 4,1%. Só naquele mês, 254 mil novas vagas de trabalho foram geradas.

Os principais índices do mercado de ações do país, como o S&P 500 e o Nasdaq —em que o grosso dos americanos que têm dinheiro investem— acumulam valorização superior a 30% em um ano.

Trump ofereceu caos, pede poder e os EUA topam - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Eleição coroa mutação da direita e põe democracia diante de ecos ameaçadores

No discurso de vitória, Donald Trump reivindicou "um mandato poderoso e sem precedentes". Durante a campanha, o republicano pediu para voltar à Casa Branca com autoridade expandida. Explorou com destreza o rancor de setores abalados por transformações econômicas e sociais, prometendo ultrapassar os limites que fossem necessários para atendê-los.

Os americanos toparam fechar mais um negócio com o magnata. Os EUA deram a Trump uma eleição confortável até nos estados-pêndulo que haviam sido responsáveis por sua demissão em 2020. Ofereceram ao republicano uma maioria no Congresso para cumprir suas promessas mais perigosas.

Trump voltou a capturar uma classe trabalhadora frustrada, desinteressada em esperar por uma mudança que os democratas não foram capazes de entregar, a despeito de bons números da economia. O republicano reuniu um grupo mais diverso do que em sua primeira eleição, melhorando o desempenho entre eleitores latinos e homens negros.

Vitorioso de novo, Trump não é um acidente da história - Carlos Eduardo Lins da Silva

Folha de S. Paulo

Republicano representa vigorosamente o pensamento e as convicções de uma porcentagem significativa da população dos EUA

Em 16 de junho de 2015, Donald Trump, milionário da construção civil e celebridade da mídia com seu programa "O Aprendiz", anunciou das escadas rolantes de sua dourada Trump Tower que iria se candidatar à Presidência dos EUA. Muita gente achou que não passava de mais um de seus lances para valorizar sua imagem e aumentar sua fama.

Nos primeiros meses, houve até um debate no meio jornalístico sobre se a imprensa deveria cobrir sua campanha na seção de política ou de entretenimento.

Depois de sua vitória em 2016 e nos anos seguintes, muitos passaram a considerá-lo um acidente da história, um tropeço passageiro na sólida caminhada da democracia americana prestes a celebrar 250 anos em 2026.

Agora, com sua recondução para um novo mandato, parece claro que essa interpretação é equivocada e ingênua. Trump representa vigorosamente o pensamento e as convicções de uma porcentagem significativa da população do país: de 25 a 33% dos cidadãos com direito a voto e cerca da metade dos que efetivamente exercem esse direito.

Vitória de Trump representa risco elevado para o Brasil e para o governo Lula - Matias Spektor

O Estado de S. Paulo

Retorno de Trump é ameaça para o Brasil menos pelas diferenças ideológicas entre ele e Lula, e mais por causa do pacote de políticas que o republicano Trump pretende implementar

A vitória de Donald Trump nas eleições desta semana representa um risco elevado para o Brasil e para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O principal perigo não reside nas diferenças ideológicas entre os dois presidentes, mas no pacote de políticas que Trump pretende implementar, com impacto econômico direto sobre o Brasil.

Para seu segundo mandato, Trump já contratou um cenário inflacionário, decorrente do fechamento progressivo do país ao comércio internacional e da imposição de restrições à entrada de imigrantes no mercado de trabalho americano. Mesmo que essas políticas sejam aplicadas com menos intensidade do que sugere a retórica de campanha, elas inviabilizarão a redução da taxa de juros por parte do Federal Reserve (Fed), o banco central americano.

O centro-direita deu um passo à frente - Ricardo Leitão

O Brasil que saiu das eleições municipais é um país conservador, com líderes políticos do centro-direita que se fortaleceram com o resultado das urnas: Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo; Ratinho Jr., governador do Paraná; Romeu Zema, governador de Minas Gerais; Ronaldo Caiado, governador de Goiás, e Eduardo Paes, prefeito reeleito do Rio de Janeiro. Administram estados e cidade (Paes) do Sudeste e Centro-Oeste, regiões mais ricas e populosas, que concentram os maiores colégios eleitorais. Na eleição presidencial de 2026 – quando serão inevitavelmente ouvidos – movem-se desde já orientados por dois objetivos: vencer a aliança de partidos da esquerda liderada pelo PT e impedir a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República, apoiada pela extrema direita.

O resultado das eleições municipais lhes favorece. A esquerda só venceu em duas capitais, com João Campos, do PSB, no Recife, e Evandro Leitão, do PT, em Fortaleza. Em todas as outras capitais, os partidos de esquerda (PT, PSB, PCdoB, Psol e PDT) elegeram o menor número de candidatos desde 1985, ano em que todas as sedes estaduais passaram a ter eleição direta para o Executivo. Os partidos de esquerda chegaram a controlar oito das nove capitais nordestinas em 2004; agora vão governar apenas duas. Na eleição municipal passada, em 2020, o PT não elegeu nenhum prefeito de capital em todo o País. 

Hidrogênio Verde: O Potencial do Brasil na Economia do Futuro - Cláudio Carraly*

O hidrogênio verde é um pilar essencial na transição para uma economia de baixo carbono, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa e o cumprimento de metas climáticas globais. Diferente do hidrogênio cinza, produzido a partir de combustíveis fósseis e responsável por altas emissões de CO2, o hidrogênio verde é obtido por eletrólise da água utilizando eletricidade de fontes renováveis, como solar e eólica, o que elimina a emissão de poluentes e gera apenas oxigênio.

A Agência Internacional de Energia - IEA projeta que o hidrogênio verde poderia fornecer até 24% das necessidades energéticas globais até 2050, contribuindo para uma redução de até 20% nas emissões de CO2, no entanto, seu custo de produção ainda é um desafio, sendo significativamente mais elevado que o do hidrogênio cinza e azul (produzido com captura de carbono na atmosfera). A redução desses custos é crucial para a viabilidade econômica e expansão do uso do hidrogênio verde.