Folha de S. Paulo
Congresso troca o comando no dia 1º, mas sem
sinal de rever a fantástica fábrica de imprimir dinheiro
Em 1º de fevereiro o comando do Congresso
será trocado e muito provavelmente Hugo Motta (Republicanos-PB)
e Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP)
vão assumir as cadeiras de presidente da Câmara e do Senado,
respectivamente.
Toda renovação pressupõe alguma esperança de
mudança, mas sempre há exceções.
Motta deve ser o mais jovem presidente da Câmara da história —ele tem 35 anos—, mas já está em seu quarto mandato na Câmara e chega ao cargo pelas mãos de Arthur Lira (PP-AL), o atual ocupante do posto. Alcolumbre volta ao cargo que ocupou de 2019 a 2021 e após emplacar em seu lugar o hoje presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Retomando ao segundo parágrafo desse texto,
então, nada indica sinais de renovação. Isso apesar de haver um modelo que
exigira uma ampla rediscussão de seu formato e volume. As conhecidas emendas
parlamentares.
Reportagem
de Mateus Vargas mostrou que de 2020 a 2024 os 594 deputados federais
e senadores destinaram 150 bilhões de verbas federais para obras e
investimentos em seus redutos eleitorais. Isso representa uma média de mais de
R$ 80 milhões por dia, todos os dias. Úteis, sábados, domingos, dias santos,
feriados.
Os valores se quadruplicaram em relação a
igual período anterior, o que transformou a maior parte dos parlamentares em
vereadores de luxo cujos mandatos são consumidos em sua quase totalidade na
gerência da bolada com ministérios, prefeituras e lobistas.
As emendas assumiram nos últimos anos o
protagonismo do dia a dia do Congresso.
É impressionante que o modelo tenha atingido
essa magnitude, consumindo cerca de 20% das despesas discricionárias do governo
federal. Mais impressionante é a transparência ausente ou precária, além das
incontáveis suspeitas de corrupção.
Motta e Alcolumbre não dão qualquer sinal de
mudança e mesmo que tivessem tal disposição, seria improvável obterem algum
apoio no "chão de fábrica".
Fevereiro, que poderia trazer ventos de
mudança, tende a trazer os mesmos ventos de sempre —dessa vez, a renovada
ameaça de retaliação ao governo, que na visão do mundo legislativo, está por
trás das decisões
trava-emendas do ministro do STF Flávio Dino.
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