quarta-feira, 22 de outubro de 2025

A mancha do petróleo, por Bernardo Mello Franco

O Globo

O Ibama autorizou a Petrobras a perfurar o primeiro poço em águas profundas na Bacia da Foz do Amazonas. A licença saiu a três semanas do início da COP30. Lula quer se apresentar como defensor do clima, mas seu discurso será manchado pela nova aposta nos combustíveis fósseis.

A decisão encerra uma longa disputa no governo. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tentava barrar a exploração de petróleo na região. Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, pressionavam pela liberação imediata.

Lula arbitrou a contenda a favor dos ministros e contra a ministra, que fica ainda mais isolada em Brasília. Seus adversários não estão apenas no Congresso. Espalham-se pelo Planalto e pela Esplanada.

A nova derrota de Marina foi festejada por Davi Alcolumbre. O presidente do Senado não disfarça o sonho de transformar o Amapá num emirado amazônico. Ontem ele manifestou “grande entusiasmo” com a licença. Está ansioso para abrir a torneira dos royalties, que também seduzem políticos de Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte.

A animação é estimulada pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard. Em tom ufanista, ela definiu a autorização como uma “conquista da sociedade brasileira”. A estatal investe no marketing da sustentabilidade, mas está ansiosa para aumentar suas emissões de carbono.

A exploração da Margem Equatorial tem grande potencial econômico, mas negar seus riscos ambientais é flertar com o autoengano. Além da ameaça de um vazamento de óleo, a atividade ampliará a queima de combustíveis, principal causa do aquecimento global e dos eventos climáticos extremos.

Na COP27, em 2022, Lula encantou ambientalistas ao discursar em defesa de uma economia global “menos dependente de combustíveis fósseis”. Três anos depois, ele terá que se esquivar da turma para evitar um constrangimento em Belém.

Se a aposta der errado, não será por falta de aviso. Em abril, o presidente ouviu um apelo do cacique Raoni para desistir de buscar petróleo na Foz do Amazonas. “Podemos ter consequências muito grandes, que não conseguiremos parar”, disse o líder caiapó.

 

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