sábado, 8 de março de 2025

Opinião do dia - Friedrich Engels (nossa herança democrática )

“A ironia da história mundial vira tudo de cabeça para baixo. Nós, os “revolucionários”, os “sublevadores”, medramos muito melhor sob os meios legais do que os ilegais e a sublevação.  Os partidos da ordem, como eles próprios se chamam, decaem no estado legal criado por eles mesmos. Chamam desesperados, valendo-se das palavras de Odilon Barrot: la legalité nous tue, a legalidade nos mata, ao passo que, sob essa legalidade, ganhamos músculos rijos e faces rosadas e temos a aparência da própria vida eterna. E se nós não formos loucos a ponto de nos deixar levar para as ruas só para agradá-los, acabará não lhes restando outra saída senão violar pessoalmente essa legalidade que lhes é tão fatal.

*Friedrich Engels (1820-1895), prefácio de 1895 - As lutas de classes na França, de 1848 a 1850 (Karl Marx), pág.29. Boitempo Editorial, 2012

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Alta do PIB está alicerçada em bases movediças

O Globo

Comemoração não deve esconder a realidade: resultado deriva da política insustentável de gasto público

Depois de crescer 3,2% em 2023, a economia brasileira cresceu ainda mais no ano passado — 3,4%, segundo o dado oficial do IBGE. Trata-se de resultado fora do padrão. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois anos iniciais do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi superior aos obtidos por Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro no mesmo período. A média é igual ou próxima às registradas na metade dos primeiros mandatos de Fernando Henrique Cardoso e do próprio Lula. Nos últimos 30 anos, apenas o início do segundo mandato de Lula apresentou números bem superiores. Poucos previam resultado tão positivo. O desemprego está em nível baixo, 6,5%, a informalidade em queda e o rendimento salarial em alta.

País enfim bate o recorde de 'riqueza' de 2013 - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

PIB per capita de 2024 foi o maior; economia desacelera mais que o previsto e investe muito pouco

Em 2013, a renda (PIB) por pessoa no Brasil havia chegado ao nível mais alto da história. Em certa medida e na média, portanto, os brasileiros jamais haviam sido tão "ricos". Então, rolamos ladeira abaixo.

Apenas no ano passado, em 2024, o PIB per capita superou aquele recorde, como pudemos confirmar nesta sexta-feira (7), com os dados do crescimento da economia divulgados pelo IBGE.

Foi uma temporada no inferno da Grande Recessão (2014-2016), da quase estagnação de 2017-2019 e do desastre da epidemia (2020-2021). Foi uma depressão causada por tolice econômica e selvageria política em anos de azares para os quais não nos protegemos (secas terríveis, economia mundial em crises, queda do preço dos produtos que o país mais exporta).

O ano foi bom, sim. O crescimento do PIB e do PIB per capita foi o maior desde 2011 (a alta do PIB de 2021, de 4,8%, não conta, pois em grande parte foi recuperação do tombo de 3,3% do 2020 da epidemia). E daí?

O país das ressalvas – Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Estão engatilhadas duas PECS que aumentam a impunidade de parlamentares

Igual ao governo Lula, a avaliação negativa do Congresso bate recordes. Ao contrário do presidente, que se desespera de olho em 2026 e corre o risco de meter ainda mais os pés pelas mãos, senadores e deputados não estão nem aí. Findo o Carnaval, é hora de retomar a folia.

A homologação do acordo entre os três Poderes em relação às emendas parlamentares diminuiu a crise aguda de abstinência iniciada em agosto, quando o ministro Flávio Dino, do STF, determinou a suspensão de pagamentos. O dinheiro grosso —mais de R$ 148,9 bilhões nos últimos cinco anos— vai voltar a jorrar, mas com a exigência de ressalvas.

Tribunais dizem que Trump não é rei - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Mas preocupa a omissão do Legislativo, dominado por um Partido Republicano capturado por Elon Musk

Na política ninguém renuncia ao poder voluntariamente. Essa premissa levou os arquitetos do constitucionalismo moderno a engendrarem sistemas de freios e contrapesos, de forma que o exercício do poder sempre encontre resistência no exercício de outro Poder.

Como os demais populistas de sua cepa, Donald Trump dá sinais claros do seu desconforto com os limites ao exercício do poder estabelecidos pela Constituição. O uso abusivo e sistemático de ordens executivas, driblando a deliberação parlamentar, a postura intimidatória em relação aos servidores públicos e a ameaça de descumprimento de decisões judiciais são expressões de uma disposição de alargar os limites inerentes ao exercício do poder numa democracia liberal.

A Doutrina Trump – Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Presidente dos EUA é um oportunista de convicções políticas fluidas, mas mantém visão de mundo coerente

O Japão nos rouba, economicamente, e a Europa aproveita-se de nós fazendo com que paguemos por sua segurança. As duas mensagens apareceram no primeiro anúncio de TV publicado pelo então incorporador imobiliário Donald Trump, nos idos de 1987. A figura que hoje ocupa o Salão Oval é um oportunista de convicções políticas fluidas, mas mantém uma visão de mundo coerente. Dela emana aquilo que deve ser descrito como Doutrina Trump.

A "cidade brilhante no alto da colina" –a expressão, oriunda do sermão laico pronunciado em 1630 por John Winthrop, o puritano fundador de Boston, a bordo do navio Arbella, ressurgiu vezes incontáveis em discursos de presidentes republicanos ou democratas. Historicamente, para o bem ou o mal, os EUA exibiram-se a si mesmos e aos estrangeiros como um farol de reforma do mundo. Trump substitui a visão luminosa da cidade profética pela visão sombria de uma fortaleza em declínio, traída e explorada por pérfidos aliados.

Duas tolices sem tamanho - Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Grande parte dos conflitos e rancores que se formam na sociedade é ortogonal, ou seja, perpendicular ao eixo esquerda x direita

Quem acompanha o dia a dia de Brasília não precisa de uma lupa para perceber que não estamos voando num céu de brigadeiro.

Sabemos que a economia vai mal, com previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 crescerá pouca coisa acima de 2%. Em relação à eleição presidencial de 2026, ainda não estamos cem por cento livres das candidaturas de Lula e Bolsonaro, embora a maioria saiba que a reedição dessa tragicomédia é o caminho mais curto para uma tragédia. E o cenário internacional se desarranja a olhos vistos, em razão do oceano de asnices que desabou sobre a outrora exemplar democracia dos Estados Unidos.

Quando o atravessador é o governo – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

A inflação não é só de alimentos. Está espalhada. Quando a cada mês aparece um “culpado”, é sinal de que o problema é geral

Não é a primeira vez que Lula acusa atravessadores pelo aumento de preços. Ontem o presidente levantou essa suspeita no caso dos ovos. Antes, havia acusado distribuidores pelo preço dos combustíveis. A tática é manjada. Trata-se de tirar a responsabilidade do governo, encontrar um culpado externo e prometer “ir atrás” dele. Disse ontem que poderia tomar “medidas drásticas”.

Não explicou o que seriam, mas o cardápio é conhecido na história de governos populistas. Uma variável, muito praticada nas gestões peronistas na Argentina, é cobrar imposto sobre os exportadores para encarecer o produto no exterior, de modo que os produtores tenham de vender no mercado interno. Nunca funcionou. O exportador, diante do preço não compensatório, simplesmente deixa de produzir ou produz o mínimo para manter a fazenda funcionando. Fica o pior dos mundos. Negócio ruim para os produtores, perda de divisas para o país, escassez e preço alto para o consumidor.

Trump está em guerra com a universidade – Pablo Ortellado

O Globo

Em vez de fortalecer o pluralismo e o livre debate, o governo tem promovido repressão seletiva que ameaça a autonomia universitária e o próprio ideal de educação superior como espaço de pensamento crítico

O governo Trump declarou guerra às universidades. Essa é a opinião de 94% dos reitores de cem instituições de ensino superior que se reuniram em Yale. Trump tem adotado, também na educação superior, a estratégia de “choque e pavor”, impondo decisões de forma rápida e avassaladora. A abordagem parte do diagnóstico de que as universidades foram tomadas pelo esquerdismo woke, precisam ser derrotadas e energicamente submetidas a novas diretrizes, mais ou menos como Viktor Orbán fez na Hungria.

Uma das primeiras ações de Trump foi congelar o financiamento federal à pesquisa. Além disso, cortou parte do financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde, órgão responsável pelo financiamento da pesquisa em biomedicina. A medida retirou US$ 4 bilhões de apoio às instituições nos orçamentos dos projetos de pesquisa.

As melhores intenções – Eduardo Affonso

O Globo

'Ainda estou aqui' é bom por causa do roteiro, da fotografia, da direção, das interpretações — não pelas boas intenções

Ainda estou aqui’ mereceu todos os prêmios que amealhou mundo afora — o Oscar foi só o mais vistoso. E os mereceu não por contar uma história edificante de “resiliência”, “resistência”, “superação”. Nem por ter como protagonista essa nova Antígona, que luta pelo direito de saber a verdade sobre o desaparecimento do marido, poder enterrar seu corpo, conseguir uma certidão de óbito. Ou — usando uma das muitas metáforas do filme — para fazer pelo companheiro e pai de seus filhos o que fez pelo cachorro atropelado na frente de casa. É uma história forte e cheia de simbolismo, filmada enquanto o país ainda se recupera de um quase desastre institucional. Os prêmios reconheceram que havia ali um bom filme. É isso o que importa. Ou deveria importar.

Falhas e tensões mal processadas - Marco Aurélio Nogueira

Revista Será?

Não há nada pior para um governo no meio do mandato do que uma abrupta e consistente queda de popularidade.

Diz a tradição (que remonta a Maquiavel) que governos devem fazer o “mal”, o mais difícil e impopular, logo em seu início, para então poder distribuir benesses ao povo na parte final. Maquiavel falava numa época em que os mandatos não estavam predeterminados e não havia eleições. Hoje, os governantes não têm mais como seguir o conselho maquiaveliano. A vida ficou rápida e imprevisível demais, os problemas se acumulam e não há como programar no calendário as intervenções governamentais. Os governos estão forçados a seguir as imposições do real. Se forem capacitados, desenham um plano bem articulado e procuram cumpri-lo, o que não é fácil.

Além disso, em regimes de competição eleitoral permanente, os governos são arrastados por cálculos voltados para as próximas eleições, especialmente quando podem se recandidatar. Condicionam o desempenho governamental aos movimentos eleitorais, o que torna mais difícil fazer “entregas” substantivas à população. Há muita retórica, muitas promessas e pouquíssimo tempo para que frutifiquem. Com isso, o governo se desgasta, se debate com as mãos vazias.

Não há soluções simples para problemas complexos - Marcus Pestana

Na implantação das políticas públicas de saúde, simplismo e imediatismo desenham o caminho mais curto para o fracasso. O SUS, nascido do pacto democrático materializado na Constituição de 1988, tem uma bússola estratégica correta, uma arquitetura institucional sólida e uma base teórica robusta. Sua trajetória histórica é marcada por avanços inquestionáveis. O enfrentamento da pandemia do coronavírus foi seu último grande teste. No entanto, trinta e sete anos após o lançamento de sua pedra fundamental, o sistema nacional de saúde ainda possui lacunas visíveis no tocante ao investimento público per capita insuficiente (1/4 da média dos países da OCDE), às  falhas de gestão, na construção das redes assistenciais integradas, e na formação de seus recursos humanos.

Fui secretário de saúde de MG (2003/2010), presidente do CONASS (2005/2006) e titular da Comissão de Seguridade Social e Saúde da Câmara dos Deputados (2011/2018), quando conheci o SUS por dentro, sua complexidade, seus desafios e limitações.

Moral e política do petróleo - Cristovam Buarque

O dilema de Lula: olhar para a humanidade ou defender o eleitor?

O presidente Lula tem a chance de levar para a COP30, em Belém, metas ambiciosas para uma economia mundial sem combustíveis fósseis e a inclusão de compromisso com a educação para mudar a base da crise ambiental, em frágil equilíbrio pressionado pela voracidade por consumo e ganância por lucro. O problema: terá de optar entre a moral para cuidar da humanidade e a política para atender aos eleitores locais. A exploração de petróleo provoca desequilíbrios ecológicos, mas a população quer produção de petróleo na “Amazônia Azul”. Apesar da nomeação de André Corrêa do Lago e de Marina Silva, Lula perderá força moral se optar pela política e autorizar a Petrobras a fazer as pesquisas para aumentar, em vez de reduzir, a produção de petróleo. O eleitor não vota por barrar o aumento do nível do mar daqui a vinte anos, quer mais petróleo que permita reduzir o preço da gasolina.

Dolores Ibárruri (La Pasionaria) - Dia Internacional da Mulher

(1895-1985): Conhecida como "La Pasionaria", pseudônimo que adotou ao escrever para o jornal "El Minero Vizcaino", nasceu na Espanha no País Basco, seu nome verdadeiro era Isidora Ibárruri Gómez. Ingressou no Partido Comunista Espanhol em 1920. Em 1930 tornou-se membro do Comitê Central. Foi redatora do jornal Mundo Obrero, órgão do PC Espanhol, no qual dedicou-se às questões femininas. Foi presa pela primeira vez em 1931 e, em seguida em 1933. Com a vitória da Frente Popular foi eleita deputada. É de sua autoria o imortalizado grito de guerra "No Pasaran!", pronunciado após um pronunciamento do General Franco. Após a derrota na guerra civil espanhola refugiou-se na União Soviética. Em maio de 1944, no exílio, tornou-se Secretária Geral do Partido Comunista Espanhol e em 1960 é escolhida Presidente do Partido. Após a morte de Franco, retornou à Espanha tendo sido novamente eleita Deputada