domingo, 13 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Corrupção com emendas corrói Orçamento

O Globo

Estão em curso no Supremo 80 investigações para apurar suspeitas de desvio de recursos por parlamentares

A explosão das emendas parlamentares nos últimos anos veio acompanhada de uma consequência nefasta: investigações e denúncias de corrupção. Há cerca de 80 inquéritos e procedimentos em curso com o objetivo de apurar suspeitas de desvio das emendas, conduzidos sob sigilo por nove ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) — pois os parlamentares desfrutam a prerrogativa de ser julgados lá.

A dimensão do escândalo é proporcional às cifras distribuídas pelo Parlamento, em patamar inédito entre as democracias. Em 2015, as emendas somavam R$ 5,4 bilhões (em valores atualizados). De 2019 a 2025, saltaram de R$ 18,5 bilhões para R$ 50,4 bilhões, mais de 170%. Em participação na Receita Líquida da União, cresceram de menos de 1% para cerca de 2,5%, aumentando mais que a arrecadação.

O fortalecimento do Congresso como definidor de despesas já seria problemático pelas distorções intrínsecas (ganham o dinheiro localidades com melhor relacionamento no Congresso, não as que mais precisam). Torna-se ainda mais preocupante com as evidências crescentes de que recursos têm sido desviados ao caixa dois de campanhas eleitorais. Degrada-se, assim, a qualidade da democracia.

Governadores aliados de Bolsonaro são os mais prejudicados pelo tarifaço - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A crise diplomática e comercial entre o Brasil e os EUA alimenta a polarização entre Lula e o ex-presidente, porém, agora, com a balança pendendo a favor do governo e contra a oposição

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros é uma sanção política sem precedentes, que viola não apenas as regras do jogo do comércio mundial, mas também as leis norte-americanas, como apontou o prêmio Nobel Paul Krugman. Politicamente, está sendo um tiro pela culatra, porque desestabiliza e divide internamente as forças de direita e prejudica sobretudo a economia dos principais estados governados por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Mais do que uma represália econômica, houve uma intervenção explícita na política interna do Brasil, conforme admitido na própria carta do republicano ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao condicionar a suspensão das tarifas ao arquivamento dos processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Justiça tributária na hora do debate - Míriam Leitão

O Globo

Cobrar mais de quem ganha mais não é dividir o país, mas sim elevar a justiça tributária e a qualidade da democracia

Em um país profunda e historicamente desigual é um bálsamo ouvir no discurso do cineasta Walter Salles que a democracia exige justiça, e parte desse objetivo se atinge buscando a justiça tributária. Houve uma distorção deste debate recentemente. O tema foi tratado como, se de um lado, houvesse um Congresso virtuoso, a favor de todos os contribuintes e, do outro lado, a sanha de um governo cobrador de impostos de todos os cidadãos. Cobrar mais impostos de quem tem renda maior não é dividir o país.

Os fatos estão bem distantes das mistificações feitas na guerra política. É preciso ter sempre em mente que o peso dos impostos é distribuído desigualmente no Brasil e de forma meio anárquica. Os grupos de interesses conquistaram ao longo do tempo o direito de que setores, áreas, produtos, aplicações, atividades pagassem menos impostos do que a maior parte da sociedade. Os pesos da carga tributária são mal distribuídos.

Patriotas contra a pátria - Bernardo Mello Franco

O Globo

Governador usou tarifaço de Trump como pretexto para viabilizar ida de aliado para os EUA, mas ministros da Corte não nasceram ontem

Na quarta-feira, Donald Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos do Brasil. Em nota lida nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro agradeceu e comemorou. “A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando”, gabou-se.

Eleito por brasileiros, o deputado reivindicou participação numa medida que causará prejuízo e desemprego no país. “Thank you, president Trump”, tuitou, no idioma do Pateta. O Zero Três já havia provado não ter medo do ridículo. No governo do pai, tentou atropelar a diplomacia profissional para ser embaixador em Washington. Questionado sobre as credenciais para o cargo, disse que fez intercâmbio e fritou hambúrgueres “no frio do Maine”.

A roda da sorte - Merval Pereira

O Globo

Abre-se espaço para a famosa terceira via que quebre essa polarização que nos leva a um beco sem saída

Não fossem Trump e Bolsonaro quem são, seriam surpreendentes os erros que cometem, um atrás do outro, na tentativa de evitar a punição deste último, que parece inevitável. Teria também o mesmo fim Trump, mas uma questão de prazo técnico, não de culpabilidade, o livrou da cadeia, pois foi eleito presidente, e com isso suspendeu o processo que pende sobre ele pelo mesmo crime, o de tentativa de golpe para impedir a posse do seu sucessor.

A Justiça brasileira, vejam só, foi mais ágil e mais eficaz que a americana, e Bolsonaro perdeu o direito de se candidatar por outro crime, cometido com a intenção de justificar perante os embaixadores dos principais países do mundo o golpe que se preparava para dar. O timing político-eleitoral não foi favorável a Bolsonaro, pois ele foi condenado à inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho de 2023, enquanto Trump ainda não vencera a eleição americana, o que só veio a acontecer em janeiro de 2025.

Trump sabe o que quer - Elio Gaspari

O Globo

A sanção de 50% contra o Brasil, atingindo todas as exportações nacionais foi geral, ampla e irrestrita

Desde 2005, quando Bush II impôs sanções específicas contra a ditadura venezuelana não se via coisa igual. A sanção de 50% contra o Brasil, atingindo todas as exportações nacionais foi geral, ampla e irrestrita. As primeiras sanções contra a Venezuela foram pontuais, contra pessoas.

carta de Trump tem 496 palavras e as 65 do primeiro parágrafo tratam de Jair Bolsonaro com clareza cristalina: “A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE! (Ênfase dele.)”

Segue-se o anúncio e a defesa das sobretaxas. Valendo-se de mais uma realidade paralela, Trump disse que elas compensarão políticas comerciais que “causaram (...) déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!”.

Palavras não bastam– Dorrit Harazim

O Globo

Por ora, prosseguem sem trégua as duas guerras que o presidente americano prometera encerrar em 24 horas

Benjamin Netanyahu retornou como queria de sua terceira visita a Donald Trump: de mãos vazias, sem cessar-fogo nem precisar interromper o esmagamento do que resta de vida possível em Gaza. Como mimo de consolação ao anfitrião, entregou-lhe apenas uma estapafúrdia indicação ao Nobel da Paz, honraria que Trump persegue há anos com cobiça obsessiva. É torcer para Trump não conseguir comprar a honraria num futuro distópico, quando integridade pessoal e valores universais tiverem se tornado sucata.

Por ora, prosseguem sem trégua as duas guerras que o presidente americano prometera encerrar em 24 horas. Se alteração houve nestes sete primeiros meses da era Trump 2, foi para pior, tanto na Ucrânia quanto, sobretudo, no inferno a céu aberto de Gaza.

Rendição impossível - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Jogar fora a soberania, a Constituição, a bandeira e os brios nacionais para salvar Bolsonaro?

O que Donald Trump exige, e o clã Bolsonaro defende, despudoradamente, ao vivo e em cores, é que o Brasil se renda à sua chantagem, cale o Supremo Tribunal Federal, rasgue a Constituição e a bandeira verde e amarela e jogue sua soberania no lixo com um único objetivo: livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro da cadeia.

Isso já era claro e agora está sendo assumido até pelo senador Flávio Bolsonaro, o mais sensato da família, que diz em entrevistas, com todas as letras, que basta “o Brasil voltar à normalidade” para que Trump recue da taxação de 50% em todos os produtos brasileiros que cheguem nos EUA. O que seria essa “volta à normalidade”? Segundo o senador, na GloboNews, “uma anistia ampla, geral e irrestrita”.

Ambição imperial - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Mais do que uma agressão comercial, a decisão de Trump foi uma tentativa de interferência nas instituições brasileiras

Pode-se duvidar e tomar como piada, mas de fato existe na Câmara dos Deputados uma Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional – sim, Defesa Nacional. Muito bem remunerados pelos cidadãos brasileiros, 23 integrantes dessa comissão aprovaram, nesta semana, moção de “louvor e regozijo” dirigida ao presidente americano Donald Trump. Mais tarde, no mesmo dia, o homenageado assinaria, na Casa Branca, a imposição de uma tarifa de 50% a produtos originários do Brasil.

Crise é oportunidade - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Governo brasileiro pode, se quiser, lidar com crise de forma digna, pragmática e profissional

O governo brasileiro pode, se quiser, lidar com a crise deflagrada pela tarifa de 50% de Donald Trump de forma digna, pragmática e profissional, visando os interesses nacionais.

Trump deixou claro, na carta a Lula, sua identificação com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse aspecto deve ser ignorado pelo governo. Ele não é determinante. Reflete apenas o desejo de Trump de se projetar como líder da direita internacional.

O governo, empresas e a Justiça dos EUA acusam o STF de extrapolar sua jurisdição e prejudicar companhias americanas ao impor a retirada, das redes sociais, de conteúdos considerados ilegais no Brasil.

O STF não pode ceder nisso. Mas, como sugeriu o ex-diretor-geral da OMC Roberto Azevedo, o governo brasileiro pode propor a criação de comissão binacional para discutir a regulação das redes sociais e inteligência artificial. Se Lula convidou um consultor da ditadura chinesa para assistir o Brasil nessa área, não deveria ferir a soberania discutir o tema com os EUA.

O tarifaço, o lobo e o cordeiro – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Esopo, escravo grego do século 6º antes de Cristo, foi quem escreveu as fábulas e, entre elas, a do Lobo e o Cordeiro, que se aplica ao tarifaço do presidente Trump ao Brasil.

A fábula teve muitas traduções e versões que não se afastam do argumento central. Eis aí. O lobo e o cordeiro encontraram-se num regato, onde foram beber água. Salivando, o lobo disse: “Vou te comer, porque há um ano falaste mal de mim.” O cordeiro respondeu que isso não era possível, porque ainda não tinha um ano de idade. O lobão, então, se apegou a outra narrativa: “Vou te comer porque estás sujando minha água.” “Não é possível, porque estás acima da correnteza e eu abaixo.” Mas o lobão não aceitou as razões do cordeiro e, crau!, o abocanhou.

O desgaste de Tarcísio com ministros do STF após tarifaço de Trump - Bela Megale

O Globo

Os movimentos de Tarcísio de Freitas após o tarifaço contra o Brasil anunciado por Donald Trump não foram bem recebidos por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O primeiro erro do governador de São Paulo, na avaliação de três magistrados ouvidos pela coluna, foi endossar, no início da semana, uma postagem de Trump de que haveria uma “caça às bruxas”contra Jair Bolsonaro no Brasil. Ao compartilhar a mensagem do presidente americano, Tarcísio escreveu que o ex-presidente “deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições”.

A tarifa como chantagem política – Juliana Diniz*

O Povo (CE)

Na prática, o Brasil recebeu uma carta-chantagem de Trump, que condiciona a redução da tarifa imposta à interrupção de um processo judicial em que é réu Jair Bolsonaro, em curso no Supremo Tribunal Federal

O que acontece quando líderes populistas usam a economia como arma política? Donald Trump pode nos demonstrar. Embora o americano venha utilizando seu jogo de tarifas para ameaçar parceiros comerciais há meses, foi a decisão de sobretaxar o Brasil que expôs com mais clareza a falta de racionalidade econômica da política tarifária de Trump. As tarifas não seguem uma lógica econômica, são antes usadas como sanções políticas aplicadas por um presidente imprevisível e irracional.

O caso brasileiro é mais grave também pelo ataque direto à soberania do país. Na prática, o Brasil recebeu uma carta-chantagem, que condiciona a redução da tarifa imposta à interrupção de um processo judicial em que é réu Jair Bolsonaro, em curso no Supremo Tribunal Federal. A condição é uma exigência de rendição. Nenhuma democracia livre pode submeter a autonomia de seu Poder Judiciário aos desejos de uma liderança externa.

Tarcísio rasteja para Trump, rasga fantasia e se queima de todos os lados - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Reação servil do governador paulista lembra canção de Raul Seixas sobre alugar o país e não funciona nem entre bolsonaristas

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, parece perdido. Dá lições de servilismo diante dos impactos do terrorismo tarifário de Donald Trump a serviço de Jair Bolsonaro e seu séquito golpista. Ao mesmo tempo, vendo a água subir, tenta buscar saídas estapafúrdias.

Como todos sabem, Trump determinou nova taxação de 50% sobre as exportações brasileiras sem nenhuma base econômica ou racional, alegando perseguição judicial ao capitão —alimento para a família do inelegível oferecer pública e descaradamente a soberania do país ao papai do Norte em troca de anistia ao papai enrolado daqui. Bem, só para lembrar, Trump é amigo da ditadura monárquica assassina da Arábia Saudita e brother de Putin.

Jair Bolsonaro organizou novo 8 de Janeiro contra carteira dos brasileiros- Celso Rocha de Barros

Folha S. Paulo

Trump esfrega o que o bolsonarismo sempre foi: um movimento violento, criminoso e que agora se revela como tropa avançada de fascistas estrangeiros mais poderosos

Jair Bolsonaro é o único presidente brasileiro que conseguiu aumentar impostos depois de deixar o cargo. O imposto Bolsonaro é bem maior e bem menos justo do que qualquer coisa proposta por Fernando Haddad e contribui para reduzir o déficit público americano, não o brasileiro.

A turma que destruiu a praça dos Três Poderes agora quer fazer um 8 de Janeiro na sua carteira, leitor.

Desta vez as "Déboras" querem assinar com batom a sua demissão. Ao invés de roubarem a toga do Alexandre de Moraes, querem roubar a mensalidade da escola do seu filho. Ao invés de esfaquearem o quadro do Portinari, querem esfaquear seu plano de saúde. Ao invés de quebrarem o vaso chinês ou o relógio antigo do Planalto, querem quebrar sua empresa.

Crise testa astúcia de Lula – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O governo assume a dianteira, mas pode perder a vantagem se desdenhar da força dos adversários

Até então acuado e sem discurso capaz de atrair o conjunto dos brasileiros, o governo viu na mão estendida involuntariamente por Donald Trump a chance de se reerguer. Precisa agora tratar de aproveitar o benefício e administrar a vantagem.

O presidente Luiz Inácio da Silva (PT) assumiu a dianteira na chamada batalha da comunicação, mas para perder essa condição não custa, caso se deixe levar pela onipotência e cometa a imprudência de menosprezar a capacidade de reação dos adversários. Internos e externos.

Imagem justa e veríssima do Congresso - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Cada deputado, um Justo Veríssimo de Chico Anysio, embolsa por mês R$ 341.297, e ao pobre eleitor é dado salário mínimo de R$ 1.518

Muito já se escreveu sobre humor, mas nada sobre seu poder antecipatório. Quando Freud diz que se trata de "um dom precioso e raro" (em "O Chiste e suas Relações com o Inconsciente"), adianta que pode ser também álibi para uma verdade que não podia ser expressa. No psiquismo, o inconsciente abre caminho pelo riso, sem o sofrimento dos sintomas, para uma realidade recalcada. Mas antecipar é virtude desconhecida ou deixada de lado.

Oportuno, assim, evocar Justo Veríssimo, personagem do saudoso Chico Anysio nos anos 90, prefiguração hilária de um deputado que abominava desprovidos da sorte, trabalhadores, o povo em geral. "Eu quero que o pobre se exploda!", seu bordão. A criação televisiva ia ao encontro de uma ácida denominação, recorrente na coluna de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), década de 60: "Depufede".