sábado, 19 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

STF segue a lei ao adotar medidas contra Bolsonaro

O Globo

Ex-presidente já deu inúmeras provas de que seu maior objetivo é salvar a própria pele

Está dentro do regramento legal brasileiro a Justiça tomar medidas preventivas contra Jair Bolsonaro. Em sua petição, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou “novas medidas cautelares que possam assegurar a aplicação da lei penal e evitar a fuga do réu”. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou que Bolsonaro terá de usar tornozeleira eletrônica, não poderá falar com diplomatas nem com seu filho Eduardo Bolsonaro, não poderá usar redes sociais e será obrigado a ficar em casa à noite e aos fins de semana.

A decisão de Moraes está baseada no que ele considera “claros e expressos atos executórios e flagrantes confissões da prática de atos criminosos” com o objetivo de obstruir as investigações e atentar contra a soberania nacional. Está implícita, porém, a tentativa de evitar que ele busque asilo político numa embaixada ou saia do país ilegalmente antes do fim do julgamento em que é acusado de tentar dar um golpe de Estado. Seria uma desmoralização para o Judiciário e um mau exemplo para o futuro se ele conseguisse driblar decisão de tamanha relevância para a democracia brasileira.

A difícil resposta brasileira – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Que fazer com os produtos que não poderão ser destinados aos Estados Unidos? Depende do setor, mas todos perderão

Só existe uma possibilidade de Brasil e Estados Unidos estabelecerem uma negociação técnica em torno das tarifas: a reviravolta completa na posição do presidente Donald Trump. Ele precisaria abandonar o tipo de chantagem que impôs — trocar o tarifaço pela anistia a Bolsonaro. Qual a chance de acontecer? Perto de zero.

O leitor certamente estranhará esse “perto” de zero. Mas estamos falando de Trump, um político que não tem nenhum problema em mudar de lado. E sabemos que, nos meios empresariais americanos, muita gente tem dito, nos bastidores, que seria mau negócio também para os Estados Unidos derrubar o comércio com o Brasil. Mas abandonar a chantagem seria abandonar Bolsonaro. Improvável, se não impossível. Além disso, Trump não está nem um pouco preocupado com questões técnicas.

O STF político por inteiro – Pablo Ortellado

O Globo

Há alguns anos, o Supremo, diante do descaminho autoritário do bolsonarismo, adotou a teoria da democracia militante. A teoria foi elaborada nos anos 1930 pelo jurista alemão Karl Loewenstein para proteger a democracia liberal das ameaças de grupos fascistas.

Segundo Loewenstein, os fascistas se valiam das liberdades asseguradas pela Constituição para se organizar com o objetivo de derrubar o próprio regime democrático. Por isso, a democracia deveria desenvolver mecanismos de autodefesa, como a proibição de que grupos políticos usem uniformes ou portem armas, a imposição de punições severas para atos de subversão da ordem democrática e, em última instância, o banimento de organizações cuja ideologia e visão de mundo sejam incompatíveis com os princípios democráticos.

Exercícios de futurologia - Eduardo Affonso

O Globo

Salvo pela cavalaria americana (e sua taxação de 50%), Lula é reeleito em 2026. Por mínima margem de votos, conquista o quarto mandado, quebrando o próprio recorde de presidente mais idoso (80 anos, com energia de 70 e tesão de 68). O centro democrático (esquerda ponderada, liberais e direita racional) não tinha mesmo como votar no candidato da oposição, Eduardo Bolsonaro. Lula regula as redes, aumenta a contribuição sindical, impõe sigilo de 200 anos aos gastos do governo, investe no slogan “Milionários contra paupérrimos” e consegue no STF reeleições infinitas. Apoia a China na retomada de Taiwan e condena Israel pela guerra ao narcotráfico.

A relação Brasil e Estados Unidos - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Embora as relações entre os dois países tenham sido pacíficas por 201 anos, um fio de tensão permeia o seu tecido agora

Brasil e Estados Unidos são dois países gigantes do Hemisfério Ocidental em território, população, recursos naturais e parque industrial. Jamais guerrearam entre si, seus governos têm relativamente poucas disputas e, muitas vezes, ajustaram suas relações desde que José Silvestre Rebello apresentou suas credenciais ao presidente James Monroe, em maio de 1824, como primeiro representante do Império independente. Embora as relações entre os dois países tenham sido pacíficas por 201 anos, um fio de tensão permeia agora o seu tecido. As tarifas impostas por Donald Trump tumultuam uma relação que, em outros tempos, chegou a ser pacífica e profícua.

A previsibilidade dos imprevisíveis - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O ritmo se acelerou. Havia um calendário – digamos assim – para a condenação de Jair Bolsonaro. Até certa previsibilidade. Calendário informal público; que estava plantado na imprensa e pacificado no debate, assentado também nos cálculos para projeção eleitoral: o expresidente seria julgado entre setembro e outubro de 2025. E de repente essa aceleração, materializada nas medidas cautelares determinadas contra ele.

Impossível não considerar – como elemento deflagrador das restrições – o que terá havido de novidade desde a semana passada: a crescente carga de Trump, instrumentalizando o poder comercial dos EUA, afinal contra a economia do Brasil; o que Lula chamou de “chantagem inaceitável em forma de ameaça às instituições brasileiras”. Crescente carga de Trump – incentivada pelos Bolsonaro, em prol de Bolsonaro.

Economia ‘teflon’- Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

Testar a nossa resiliência num cenário com Trump é como mexer ovos em frigideira riscada

A mídia internacional e vários órgãos de análise descrevem o atual momento da economia mundial como uma economia “teflon”. Esse termo é usado para apresentar economias que parecem resistir a choques – como crises políticas, crises externos ou turbulências financeiras – sem grandes efeitos negativos sobre o crescimento.

A despeito da inflação persistente, tensões comerciais e a retração do crescimento, a economia global tem se mostrado surpreendentemente resiliente diante de múltiplos choques. Mas, o “teflon” está se desgastando paulatinamente.

Bolsonaro sente o gostinho da cadeia - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Trapalhadas do clã favorecem governo, que precisa ser cuidadoso para não cair na armadilha da soberba

As medidas cautelares que o STF impôs a Jair Bolsonaro se desenham como uma prévia, um "amuse bouche", da pena de prisão a que ele quase certamente será condenado. É bom que o capitão reformado vá experimentando aos poucos as restrições de liberdade a que será submetido. Imagino que o gradualismo diminua o risco de depressão carcerária. Saúde em primeiro lugar.

Se as informações de que o ex-mandatário preparava uma fuga são confiáveis, as medidas adotadas estão plenamente justificadas. Seria muito ruim para a Justiça se Bolsonaro conseguisse furtar-se a sanções penais por crimes graves que tenha cometido e pelos quais tenha sido julgado numa corte que tem falhas, mas que fica ainda muito aquém de configurar-se como tribunal de exceção.

Tornozeleira sobe efervescência do tarifaço - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Componente político do ataque comercial dificulta o trabalho de Alckmin em buscar um acordo

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de determinar o uso de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro adicionou água quente na efervescência política que o tarifaço de 50% do presidente Donald Trump provocou no Brasil.

No caso brasileiro, o componente político do ataque comercial dificulta o trabalho do vice-presidente Geraldo Alckmin de buscar um acordo com os americanos para evitar a sobretaxa no próximo dia 1º de agosto.

O Pix da discordia - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Jogando quase parado, Lula lucra com incompetência e desvario da extrema direita

A mudança no Marco Civil da Internet, estabelecendo que as redes sociais daqui para frente terão a obrigação de remover conteúdos ilegais, implica em perder dinheiro. O prejuízo na conta dos plutocratas da tecnologia é a principal razão para o ardil de Trump, que busca atingir o STF com chantagens e retaliações ao país. De lambuja, age para salvar Bolsonaro, um colega golpista.

Garoto-propaganda do "America First", Eduardo Bolsonaro tem duas missões: trabalhar pela sua candidatura à Presidência e culpar Alexandre de Moraes pelo tarifaço. Mais até do que a Lula, que tem sido poupado das pancadas.

Inimigo do povo? - Renê Trentin

CartaCapital

Denunciar quem vota contra os trabalhadores não basta, é preciso educar para a escolha consciente dos nossos representantes no parlamento

O fenômeno dos vídeos que viralizaram nas redes sociais, produzidos por setores progressistas com o emprego de Inteligência Artificial, em resposta às últimas medidas escandalosamente antipopulares do Congresso Nacional, mostrou, de modo inequívoco, que as mídias digitais são um campo de batalha política e ideológica, um poderoso instrumento de conquista de mentes e corações para um determinado projeto político. A campanha focou, sobretudo, em questões como a recusa de tributar os ricos na batalha do IOF e o aumento do número de deputados federais.

A direita e a extrema-direita há muito perceberam o potencial dessas mídias e as elegeram como seu principal ambiente e instrumento de militância ideológica. Os métodos por elas empregados não costumam, porém, primar pela ética e pelo compromisso com a verdade: difundem-se notícias falsas, mentiras, desinformação, preconceitos de todo tipo, ataques pessoais, discursos de ódio. Tudo em nome da manutenção dos mandatos dos representantes desses setores, à custa da ignorância e da vulnerabilidade intelectual em que buscam manter a população.

Apocalipse no STF - André Barrocal

CartaCapital

Flávio Dino encara a missão de restabelecer o equilíbrio político no Brasil. Terá o apoio da corte?

Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, é um cristão devoto. Outro dia abriu uma divergência na Corte e votou contra o relatório de um colega, Kassio Nunes Marques, que propõe derrubar uma lei potiguar que obriga bibliotecas públicas a manterem Bíblias, um processo inconcluso. Em 3 de julho, estava em Lisboa, em um convescote anual organizado por outro juiz do STF, Gilmar Mendes, e disse que, por ser religioso, acredita no “apocalipse”. Era um comentário metafórico para definir o possível desfecho de um caso explosivo em suas mãos. Três ações levadas ao Tribunal em 2024 defendem a inconstitucionalidade das emendas parlamentares impositivas e o formato “Pix”, um modo de liberação a jato dessas verbas orçamentárias. “Do ponto de vista institucional”, afirmou Dino, a anulação dessas emendas “seria uma coisa meio apocalíptica”. Uma refundação do sistema político, algo que o togado parece disposto a levar adiante.

Peripécias do liberal-fascismo - Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

“Se você não é igual a mim, não tem direito a existir”, vocifera o igualitarismo de manada

As trumpadas de Donald Trump expõem, “a céu aberto”, as pérfidas soluções engendradas pelo liberal-fascismo. Essa visão do mundo, aparentemente contraditória, infesta o pensamento (sic) das camadas enriquecidas – e também das empobrecidas e ressentidas – que se esbatem na sociedade americana.

O economista Thomas Ferguson bateu pesado: “Os eleitores percebem a farsa. Perderam a confiança no sistema e se cansaram de ambos os partidos, alimentados pelo dinheiro. Ao final da Presidência de Obama, a participação eleitoral havia caído para o nível mais baixo em décadas”.

Em nuestra América, o ultraliberal-fascismo viceja nas mãos do presidente argentino, Javier Milei. Recentemente, Milei vergastou o Estado: “O Estado é a representação do Maligno na Terra. Cada vez que o Estado avança há mais pobreza, mais calamidades, miséria”.

Trump e o fim da globalização - Marcus Pestana

O nível de integração da economia global variou, ao longo da história, em função do estágio de desenvolvimento das comunicações e dos transportes.  Sistemas de navegação, navios, cartografia, radares, GPS, telégrafo, rádio, telefonia, internet, ferrovias, automóveis, rodovias, pontes, viadutos, túneis, aviões foram inovações essenciais, cada qual à sua época, para a avanço de uma ampla rede de comércio internacional e integração produtiva.

Já na Antiguidade, vastos impérios foram formados a partir de Roma, Pérsia, Egito, China e Macedônia. Mesmo durante a Idade Média, tida como uma era de retrocessos, assistiu-se uma intensa expansão de rotas comerciais.

Grande impulso houve no período mercantilista, com países como Inglaterra, Holanda, França, Espanha e Portugal lançando-se aos oceanos, em busca de matérias primas, metais preciosos e zonas de influência, incorporando ao mapa as Américas e a Oceania.  

Falta um projeto - Ivan Alves Filho*

Eu acredito que todo democrata radical, isto é, aquele que alcança a raiz do problema e percebe que a política se infiltra em todos os domínios da vida, deve estar refletindo sobre o que se passa com o Brasil há algumas décadas. A saber:

* Temos uma das piores distribuições de renda de todo o mundo;

* Somos um dos países mais violentos do mundo, com a terceira ou quarta população carcerária do planeta;

* Nossas carências em matéria de infraestrutura urbana (transporte, saneamento básico, favelas se multiplicando) são estarrecedoras;

* Contabilizamos, oficialmente, cerca de cinco milhões de brasileiros residindo fora do país;