quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Hoje, l'Unitá completa 85 anos


No dia 12 de fevereiro de 1924, Antonio Gramsci fundava o jornal l'Unitá.


Parabéns!

UGT participa de evento internacional no dia da Mulher

DEU NO SITE DA UGT

O papel da mulher no Mercosul, na sociedade, na família,no trabalho, na política e nos espaços de poder será o tema principal das atividades auto gestionadas, a serem realizadas no dia 7 de março, no município Santana do Livramento, situada na divisa entre o Brasil e Uruguai . A promoção é da UGT (União Geral dos Trabalhadores) através da Comissão de Mulheres, da Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul (CM- CCSCS). A escolha da cidade gaúcha deve-se ao fato de estar localizada na fronteira com o Uruguai, separada apenas por uma avenida.“É nessa cidade do extremo sul do Rio Grande do Sul onde ocorre o maior índice de casos de violência contra a mulher”, justifica Eleuza de Cássia Bufelli Macari,coordenadora do projeto e secretária-adjunta da Secretaria de Relações Internacionais, da UGT.

No dia 8 será realizado um ato público com a participação de delegações dos quatro países que integram o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). A previsão é reunir pelo menos 10 mil pessoas e para isso contará com a participação das centrais sindicais dessas nações sulamericanas. Cássia lembra que na próxima Conferência Internacional do Trabalho, da OIT prevista para julho, um dos temas a ser abordado é relacionado ao trabalho e família. Com isso, o evento em Santana do Livramento será uma forma da CM-CCSCS promover um debate de forma qualificada visando garantir às trabalhadoras das nações que formam o Mercosul seus direitos.

A dirigente da UGT espera que nesse dia, as atenções das autoridades e das mulheres brasileiras, argentinas, uruguaias e paraguaias estejam voltadas para Santana do Livramento. A coordenadora da Comissão de Mulheres de Centrais Sindicais do Cone Sul esclarece que a definição de políticas públicas como saúde, educação, emprego e renda,além da garantia de acesso no âmbito da região, considerem a perspectiva de gênero, em especial as especialidades das mulheres, maiores vítimas, quando da ausência do Estado e mais vulneráveis em momentos de crise. "A cidade de Santana do Livramento, por ser separada do Uruguai apenas por uma avenida, tem registrados muitos casos de violência contra as mulheres e nenhuma providência é tomada porque uma cidade espera pela outra", conclui Cassia Bufelli Macari.

O tabu da maconha

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


Você acha que o Rio é uma cidade insegura por causa da violência das quadrilhas de traficantes de drogas que dominam as favelas da cidade? Pois saiba que a reunião da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia - que apresentou ontem seu relatório final propondo a descriminalização do uso pessoal da maconha como maneira de reduzir a demanda e o tratamento dos viciados como uma questão de saúde pública - foi realizada num hotel do Rio porque, na última hora, os promotores do encontro, que estava marcado para a Cidade do México, não se sentiram em condições de garantir a segurança dos participantes, entre eles os ex-presidentes do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, César Gaviria, da Colômbia e Ernesto Zedillo, do próprio México, que dividem a presidência da comissão.

Este é um exemplo da gravidade da situação que afeta do México nesse momento, muito semelhante à vivida pela Colômbia anos atrás. A proposta da comissão faz parte de um projeto maior da Organização das Nações Unidas (ONU) de rever os últimos dez anos da política de combate às drogas no mundo, e será debatida junto com outras numa reunião ministerial em Viena, na Áustria, em março.

A região está em sintonia com a maior parte do mundo na condenação da política de repressão militarizada que vem predominando nos últimos anos por pressão principalmente dos Estados Unidos, com o apoio da Rússia e do Japão.

No momento há um intenso lobby internacional para engajar a nova administração de Barack Obama nesse esforço para que a visão mais liberal prevaleça, sem abandonar o "combate implacável" ao tráfico.

A tese básica é que a política de combate ao tráfico tem sido custosa e ineficiente, inclusive para os Estados Unidos, seu grande mentor. O gasto anual subiu de US$10 bilhões nos anos 1980 para US$35 bilhões atualmente. Em 30 anos, o número de presos condenados por crimes relacionados com as drogas subiu de menos de 50 mil para 500 mil, representando um em cada quatro presos nos Estados Unidos.

Enquanto isso, o preço das drogas está estabilizado ou decrescente, e o consumo não é reduzido. Os estudos mostram que o tráfico de drogas, além de tudo, induz a outros tipos de crime.

A comissão propõe a descriminalização da maconha por ser esta a droga de uso amplamente majoritário no mundo, e, ao mesmo tempo, cujos malefícios podem ser comparados aos do álcool e do tabaco. Este debate teria o dom de quebrar o tabu que o tema representa.

Segundo estatísticas, a média internacional de homicídios por 100 mil habitantes é de 5,98 em países não produtores de drogas, enquanto nos produtores sobe para 17,05.

Para reforçar a tese de que a legalização e a regulamentação do uso da maconha podem trazer benefícios, os defensores da tese comparam essa abordagem em nossos dias com fase da "prohibition" (proibição), como ficou conhecida a Lei Seca dos Estados Unidos, aprovada em janeiro de 1919, e que proibia a produção, venda e consumo de bebidas alcoólicas.

Mostrando que, como naquele tempo, a proibição das drogas não deteve o tráfico nem fez o consumo decrescer, chamam a atenção para o fato de que essa política, assim como nos anos 1920 criou condições para a atuação dos gângsteres, hoje em dia estabeleceu um mercado para o crime organizado em escala internacional.

Uma dos apoiadoras da comissão é a ONG do megainvestidor George Soros Open Society Institute, que promove políticas públicas em diversos países. Kasia Malinowska, diretora do programa global de políticas de drogas da OSI, acha que já é possível ver-se sinais de mudanças conceituais no novo governo dos Estados Unidos, que tenderia a adotar uma política de "redução de danos" na questão das drogas.

Um indício é que no site da Casa Branca sobre o assunto, confirmando o que Obama prometera na campanha eleitoral, já há a disposição de aceitar uma política de distribuição gratuita de seringas para proteger os viciados.

O problema é que a equipe do Departamento de Estado americano, que está em Viena atuando na preparação do documento final, ainda tem a perspectiva da posição mais radical do governo anterior, e teme-se que não haja tempo útil para que uma posição mais liberal já seja refletida no documento final, inclusive porque esta não deve ser a prioridade do novo Departamento de Estado neste momento.

A questão dos direitos humanos dentro da política de segurança pública é um dos pontos ressaltados pelos participantes da comissão, e há uma expectativa de que a nova política dos Estados Unidos de repressão às drogas leve mais em conta esse aspecto, mesmo porque o novo presidente Barack Obama já levantou muitas dúvidas, durante os debates eleitorais, com relação à violação dos direitos humanos no combate aos cartéis de drogas e o terrorismo na Colômbia.

A política de "guerra às drogas" tem na Colômbia um exemplo de sua ineficiência, com o governo Bush investindo milhões de dólares num programa que não teve efeito na contenção do tráfico, mas está tendo êxito na parte de segurança interna e no combate à guerrilha.

É provável que a política mude seu foco, passando a ações mais construtivas na parte institucional. Essa estratégia de reforçar os aspectos institucionais, sem abandonar o "combate implacável" aos traficantes, tem tudo a ver com a guerra das drogas em países como o Brasil, e às gangues que dominavam as favelas do Haiti.

Um dos coordenadores da comissão é o sociólogo Rubem Cesar Fernandes, do Viva Rio, ONG que atua nas favelas do Rio e acompanha também o trabalho brasileiro no Haiti.

O Brasil assumiu o comando da Força de Paz e usou a estratégia de prestar serviços básicos à população, depois de dominar as partes de Porto Príncipe que estavam controladas por gangues, o que foi fundamental para o êxito da força internacional de paz.

Janeiro tão ruim quanto novembro

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Na comparação anual, caíram a produção de carros, o tráfego de cargas, a carga de energia e a produção de embalagens

AS PISTAS que os economistas seguem para antecipar, de modo tentativo, a produção industrial indicam que janeiro não foi tão ruim como o desastroso dezembro, mas não deve ter sido melhor que a derrocada de novembro.

Produção de veículos, tráfego de caminhões pesados, consumo de energia elétrica e vendas de papelão ondulado são alguns desses indicadores coincidentes da produção industrial. Isto é, a evolução de tais setores num certo mês, combinados de maneira ponderada, indica, com probabilidade mais ou menos razoável, como foi o desempenho da produção industrial nesse mesmo mês. Os dados oficiais do IBGE demoram ainda para sair.

Em janeiro, a produção de veículos caiu 27% em relação a janeiro de 2008 (em dezembro, caíra 54%; em novembro, 29%, sempre em relação ao mesmo mês do ano anterior). A carga de energia elétrica foi 4% menor, segundo o ONS, o Operador Nacional do Sistema, que administra o despacho de eletricidade (ante queda de 4,9% em dezembro e alta de 0,5% em novembro). O tráfego de veículos pesados, o transporte de cargas, caiu 9,1% (ante quedas de 0,8% em dezembro e 1% em novembro), segundo a ABCR, a associação das empresas que administram estradas. A venda de papelão ondulado, as embalagens, declinou 8,3% (ante quedas de 4,5% em dezembro e de 2,2% em novembro).

Um dado mais parcial, embora relevante, também indica declínio forte ainda em janeiro, embora com melhoras em relação ao desastre de dezembro. Segundo estimativa da Comerc, empresa que negocia energia elétrica no mercado livre (grandes empresas), o consumo de energia aumentou 3% de dezembro para janeiro. Mas, na comparação anual, janeiro contra janeiro de 2008, a queda foi de quase 16%.

Com tais informações em mão, pode-se estimar que a produção industrial em janeiro deva ter recuado algo em torno de 7% na comparação anual (ante janeiro de 2008). Mas, a depender dos modelos e das correções de cálculo de tendência impostas pelos dados terríveis de dezembro, o recuo pode ser estimado em qualquer coisa entre 6% e 9%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista à Folha na semana passada, disse que esperava nova desaceleração da economia no primeiro trimestre de 2009. Obviamente, está mais do que certo que a economia encolheu muito no trimestre final de 2008.

Dois trimestres seguidos de retração vão fazer com que muito comentarista e/ou político diga que o país entrou em "recessão técnica", termo que não tem nada de técnico -é apenas mais uma das convenções imprecisas a respeito do já impreciso PIB. Mais relevante é que o "humor" social e econômico deve se deteriorar diante de tais resultados. Mais um motivo para o governo se concentrar no essencial, nas medidas de grande alcance, como as que tomou no crédito ou como as que deveria tomar para acelerar obras públicas e a queda dos juros.

Remendos disparatados, como os que estão sendo paridos sob inspiração do Ministério do Trabalho, apenas vão aumentar a confusão e o risco de que lobbies ganhem favores que em nada auxiliam o desempenho geral da economia.

Centro da questão

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


Dez mil hipotecas são executadas por dia nos Estados Unidos. Isso significa que dez mil famílias perdem suas casas. A cada dia. Esse é o centro da questão e não apenas pelas óbvias razões humanas, mas porque derruba mais ainda os papéis imobiliários, os imóveis, os ativos dos bancos, o consumo, o emprego. Justamente esse ponto recebeu menos atenção no pacote do Tesouro.

Nos EUA, executar hipoteca é fácil, e, quando a família perde o imóvel, a polícia simplesmente o retoma. Tão fácil quanto retomar um carro no Brasil. Lá não há longas esperas e recursos judiciais cabíveis aqui. A espiral que puxa a economia americana para baixo é a dos imóveis se desvalorizando, contaminando os papéis que vão arruinando os ativos dos bancos. Hoje, as ações dos bancos valem no mercado 20% do que valiam em 2006. Dos quatro mecanismos do pacote de Geithner, o mais vago, com menos dinheiro (US$50 bilhões), foi justamente o de ajuda ao mercado hipotecário. Ficou para ser detalhado depois.

O economista Thomas Trebat, da Universidade de Columbia, tem uma visão mais benigna do pacote do que os economistas e analistas que avaliaram o tema no primeiro dia, mas considera que o ponto falho é exatamente não pôr, no centro, a questão central: a hipotecária. - Justamente isso ficou para depois. Se tanta gente perde sua casa a cada dia e isso está deteriorando todas as expectativas, quanto mais tempo ainda se pode esperar?

As críticas mais duras foram feitas por outros analistas aos mecanismos que tentam capitalizar os bancos ou livrá-los dos ativos podres.

- Existem no mercado alguns talibãs que acham que é besteira tentar sanear os bancos e que o melhor é nacionalizar (estatizar) tudo. Discordo. Se há alguma forma de evitar que o Estado tome controle de tudo, é preciso ser tentado. Nós temos vivido aqui, por muito tempo, com um sistema privado. Ele está em crise, mas ainda é a melhor forma de organizar o mercado - diz ele.

No Brasil, no caso do Proer, os acionistas perderam suas ações. Aqui havia grupos controladores bem definidos, famílias donas dos bancos. Lá é diferente.

- Aqui o capital é extremamente pulverizado, os donos são os fundos de pensão, indivíduos com participações pequenas. Um sistema que tem funcionado. Uma vez passado o pânico, as instituições podem voltar a se organizar, voltará o apetite pelo risco, por que eliminar o sistema completamente como ele existe hoje?

Tentar salvar o modo de vida da banca americana através desses mecanismos imaginados, e mal explicados, pela equipe do governo não parece tão fácil.

O primeiro mecanismo é o Fundo Público Privado, que poderia chegar a US$1 trilhão. A dúvida é se o fundo conseguiria atrair algum capital privado. Quem acredita que não argumenta que ninguém demonstrou interesse em comprar os micos, não se sabe quanto valem e há o dilema básico: comprados a preço muito baixo, devastam os balanços dos bancos; comprados a preços mais altos, é um custo imposto ao contribuinte. Quem acredita que sim argumenta que o preço está tão mais baixo do que seu valor real que pode atrair investidores que apostem na melhora da economia. O Merrill Lynch avaliou em US$0,22 o preço de créditos lastreados em hipotecas. Elas já valeram muito mais, e poderiam se recuperar desse fundo do poço.

A segunda ideia é ampliar um programa chamado Talf para US$100 bilhões, através do qual o Fed empresta com garantia do Tesouro, tendo como contrapartida os recebíveis. A ideia seria ampliar esse programa para descongelar o mercado de crédito, dando liquidez aos recebíveis de cartões de crédito, financiamentos estudantil e de automóveis, hipotecas comerciais e até algumas hipotecas residenciais. O que o plano do Tesouro sugere é que basta esta elevação do programa para US$100 bi para que se consiga alavancar US$1 trilhão.

- Não é mágica. É que, se houver um comprador de última instância para esses papéis, o mercado pode voltar a comprá-lo. Os devedores desses recebíveis são pessoas que estão com dificuldade no momento, mas querem pagar.

O terceiro mecanismo é o da injeção de capital nos bancos com recursos do que restou do programa do governo Bush. Há duas críticas: que é um requentado da ideia do ex-secretário Henry Paulson e que faz uma exigência estranha de que os bancos passem por um "compreensivo teste de estresse", para saber se podem receber esses recursos. Trebat explica que isso faz parte do "teatro político". As pessoas estão perdendo suas casas, os contribuintes perdendo emprego, seus filhos têm risco de não ir para a universidade, os valores das aposentadorias caem. Como explicar que o Tesouro injeta capital nos bancos num governo que está começando? Só mesmo fazendo exigências a eles, como o de ser submetido a uma série de testes para ver se são realmente viáveis ou se o governo está jogando dinheiro fora.

Esse arsenal é que Geithner anunciou de forma tão vaga: ampliação da Talf, nova injeção de capital nos bancos e uma entidade para compra de papéis podres. Ficou faltando dizer como resolver a raiz do problema: a queda livre do valor das hipotecas. Tudo certo, exceto o principal.

Dom de iludir e confundir

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio da Silva tem uma espontaneidade seletiva. Diz o que lhe vem à cabeça de acordo com o que acredita saberá bem ao paladar da plateia na ocasião.

Na terça-feira precisava dar um jeito de convencer os prefeitos reunidos em Brasília que não haviam sido convidados a fazer o papel de massa de manobra eleitoral.

Não teve dúvida (nem criatividade): sapecou as aleivosias de sempre, desta vez caprichando de modo especial no dom de confundir para iludir.

Vestiu a carapuça do uso da máquina federal para fins eleitorais no espetáculo montado sob o gentil patrocínio dos cofres públicos e acentuou ele mesmo o caráter pejorativo da denominação "pacote de bondades", dada aos agrados distribuídos às prefeituras em troca da presença de seus titulares no comício.

Esquisito alguém se irritar daquela maneira por ser visto como benemérito. Houvesse o noticiário qualificado o presentinho como "pacote de maldades" ainda se admitiria uma reação mais animosa.

A zanga, então, só pode estar relacionada à consciência que Lula tem sobre a exorbitância cometida e sua contrariedade em ver isso exposto com clareza aos eleitores, ouvintes e telespectadores.

Ele, decerto, preferiria que os meios de comunicação fossem acríticos, não vissem, e se vissem não dissessem o que está à vista de todos, mas não pode ser dito, pois se trata de uma ilegalidade.

"Dona Dilma", como o presidente Lula agora chama a candidata à sua sucessão, é tida como candidata, recebida como candidata, apresentada como candidata, anda para lá e para cá como candidata, Lula faz de tudo para que assim ela apareça no noticiário, mas não admite que se digam as coisas como elas são. Quer que sejam ditas como lhe interessam.

No encontro de prefeitos, queria que as notícias relatassem uma reunião de trabalho entre o presidente, ministros e chefes de executivos municipais. Sem nenhum outro significado: de promover Dilma Rousseff, propiciar um passeio com presentes em substituição a uma marcha de reivindicações ou angariar simpatias de potenciais cabos eleitorais.

A própria forma do evento impediu que se desse a ele a interpretação pretendida. Lula anunciou que proporia aos prefeitos um pacto contra a mortalidade infantil, em favor do desenvolvimento, no combate ao analfabetismo.

Pacto pressupõe o cotejo de várias vontades e a formação de um consenso ao final. O que se viu foi um palco e uma plateia sem direito a voz a não ser para manifestar entusiasmo e agradecimento pelos brindes recebidos.

O presidente da República é avesso a críticas e, como na sua concepção autoritária do exercício do poder o chefe se confunde com a Nação, qualquer atitude diferente da reverência e subserviência mental é recebida como ofensa pessoal, tratada como crime de lesa-pátria.

Em nome da defesa da soberania (da vontade dele), Lula acha que vale tudo. Inclusive inventar para melhor manipular reações em seu favor. Acredita que ao presidente todas as homenagens são devidas, mas o chefe da Nação não deve nada a ninguém. Sequer respeito pelo contraditório natural da democracia.

Considera-se abusado em sua "inteligência" por "insinuações grotescas" de uso eleitoral de solenidade oficial, mas abusa sem contemplação da capacidade alheia de discernir, pretendendo interditar o raciocínio lógico e a liberdade de apreciações críticas.

Sem qualquer cerimônia, no encontro dos prefeitos o presidente da República misturou o conteúdo de uma única carta de leitor publicada em um jornal com a informação de que várias prefeituras estavam inadimplentes com o INSS e ainda assim poderiam renegociar suas dívidas, para dizer que a imprensa havia chamado seus convivas de "ladrões".

"Não deram sequer a oportunidade para vocês mostrarem que não são os ladrões que escreveram que vocês são."

Jornalista algum escreveu isso, mas foi dito pelo presidente, indignado porque "tem gente que pensa que o povo é marionete".

Altos e baixos

A Câmara não sabe da missa a metade. Não captou a mensagem da indignação geral contra o caso Edmar Moreira.

O problema da opinião pública não é com o deputado, mas com o conjunto da obra do colegiado, cujos líderes voltaram a agir como se nada tivesse acontecido.

Mal Moreira deu as costas da Mesa Diretora, suas excelências engavetaram proposta de divulgação na internet das notas fiscais dos gastos com a verba extra e deixaram para lá a ideia de fazer da corregedoria da Casa uma instância autônoma, provando que a sugestão inicial tinha o único objetivo de tentar livrar o castelão do constrangimento da renúncia.

Se os presidentes José Sarney e Michel Temer querem, conforma alegam, fazer do Congresso um ambiente para discussão de assuntos altos, como a crise econômica internacional, só conseguirão se mexerem primeiro no passivo de assuntos baixos.

FHC atribui discurso de Lula à campanha eleitoral

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Tucanos reagiram nesta quarta-feira à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que disse, durante encontro com prefeitos, que há algo errado quando o estado mais rico da federação, São Paulo, governado por José Serra (PSDB), tem 10% de analfabetos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rebateu a declaração e disse que Lula está em campanha.

Já o ex-ministro da Educação do governo Fernando Henrique, deputado Paulo Renato de Souza (PSDB-SP), foi mais duro e chegou a chamar Lula de covarde e ridículo. Segundo ele, a média de analfabetismo em São Paulo vem caindo e hoje é de 4,6%. "Um presidente usar dados falsos, com claras intenções eleitoreiras, em qualquer parte do mundo é inadmissível. Foi um ato covarde, dito num ato de campanha eleitoral, sem dar o direito de qualquer pessoa responder para esclarecer que é mentira. Se a média nacional de analfabetismo é 11%, como poderia ser 10% só em São Paulo? Tentaram consertar depois dizendo que sua intenção foi dizer que 10% dos analfabetos estão em São Paulo, mas a emenda ficou pior que o soneto. Lula é ridículo", declarou Paulo Renato, acusando Lula de usar dados falsos, com a clara intenção de prejudicar eleitoralmente o governador José Serra.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo esclarece que o presidente Lula se equivocou sobre os dados relativos a analfabetismo em São Paulo. "Diferentemente da situação em todo o Brasil, que tem taxa de analfabetismo de 10% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado de São Paulo tem taxa de 4,6%, índice que cai ano após ano, melhorando, assim, o resultado de todo o Brasil. Vale destacar que em idade escolar São Paulo praticamente não tem analfabetos, que se concentram na faixa acima dos 60 anos", diz a nota.

Já José Serra preferiu contemporizar nesta quarta ao se referir à polêmica: "Eu não acho que o presidente tenha tido qualquer tipo de má-fé ou agressividade em relação a São Paulo. Foi uma menção a um número, mas um número errado. O Ministério da educação que errou dando a ele um número de 18 anos atrás. A falha foi do ministério, que deveria ter dado números confiáveis e atualizados ao presidente", disse Serra.

Ontem, por meio de nota, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República, buscou minimizar o fato informando que o presidente Lula não se referiu ao índice de analfabetismo de São Paulo, mas sim sobre o total de iletrados brasileiros que residem no Estado. A secretaria enviou números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2007, que mostra que 10,34% dos analfabetos do país estão em São Paulo. Na transcrição do discurso proferido pelo presidente, a Secretaria também acrescentou as palavras "do total", que não foi usada por Lula na frase que criou a polêmica.

Segundo FH, Lula está em campanha e, por isto, tem dado este tipo de declaração. O ex-presidente disse ainda que não há demora do seu partido, o PSDB, para lançar um candidato às eleições presidenciais de 2010. Segundo ele, a discussão sobre a corrida presidencial ganhou força na pauta política devido à exposição de ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em atividades promovidas pelo governo federal. "Não é que estamos demorando. O presidente Lula é que está se precipitando. Ele (Lula) já está com a candidata em punho andando pelo país todo", afirmou o ex-presidente.

Fernando Henrique lembrou que a legislação eleitoral não permite campanhas antes do prazo legal. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), esse prazo começa em julho de 2010, após a realização das convenções partidárias. "Não sei como vamos sair dessa. Ele (Lula), como é presidente, faz o que quer. Nós, se começarmos a lançar candidato agora, tem processo em cima".

Serra terá que ser o candidato de todo o partido, diz Aécio

Raquel Ulhôa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Na sua pregação pelas prévias partidárias para a indicação do candidato tucano à Presidência da República até no máximo janeiro de 2010, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, criticou ontem a forma tradicional de escolha dos candidatos do PSDB - "que levou a duas derrotas consecutivas" - e afirmou que José Serra, seu colega de São Paulo, pode até ser o escolhido, mas terá de ser "o candidato de todo o partido". Aécio defendeu um "novo PSDB" e o "reencontro" da legenda com o PMDB, numa aliança em torno de um projeto nacional pós-2010.

"Se o candidato escolhido for o governador José Serra, pelos instrumentos democráticos do partido, a candidatura estará em belíssimas mãos, ele tem todas as credenciais para ser um extraordinário candidato, mas é preciso que seja o candidato de todos nós, do PSDB", disse Aécio. Afirmou que seu esforço é para que o partido "escancare" e "democratize" suas decisões, para "renascer não apenas como um partido democrático no discurso, mas também na forma de agir".

Aécio distribuiu e recebeu afagos de parlamentares de todos os partidos em movimentada passagem pelo Congresso. Empenhou-se especialmente em afagos ao PMDB. Ao visitar o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), teve conversa reservada com ele e o líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (RN). Pemedebistas trataram de negar que tenha sido reiterado o convite para o governador ingressar o partido, com a possibilidade de disputar a Presidência da República por ele.

O entusiasmo do PMDB com uma eventual candidatura própria esfriou. Cortejado pelo PSDB de Serra - até agora o pré-candidato tucano mais forte segundo as pesquisas - e num momento de bom relacionamento com o governo, a cúpula do PMDB vê cada vez menos motivos para tomar um terceiro caminho.

Dirigentes do PMDB lembram que Temer acabou de ser eleito presidente da Câmara com apoio do PSDB e tem interesse em manter a boa convivência. Não querem dar a impressão de estar "insuflando uma dissidência" no PSDB, cobiçando Aécio. Além disso, pemedebistas avaliam que o mineiro pode estar estimulando notícias sobre uma eventual candidatura pelo PMDB apenas para se valorizar no PSDB.

Na conversa, Temer e Alves perguntaram a Aécio como está sua "luta" interna no PSDB. O governador disse que trabalha para que as prévias sejam regulamentadas até 30 de março, manifestou confiança e disposição de brigar pela consulta.

Aécio visitou Temer, os tucanos que integram a Mesa Diretora das duas Casas do Congresso e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), com quem almoçou depois. Com o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE), conversou sobre a divisão da bancada tucana, onde um grupo de deputados rejeita a liderança de José Aníbal (SP). Concordaram com a posição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que enquadrou os dissidentes. FHC pediu um ponto final nas divergências, que enfraquecem o partido.

"Não podemos continuar produzindo essas pautas. Temos de convencer a população que temos unidade, objetividade e racionalidade", disse Guerra. Ele pediu o empenho de Aécio pela unidade. Para tentar criar uma pauta positiva, a direção do partido pretende criar um núcleo que vai tentar organizar um discurso oposicionista.

Aécio condenou alianças partidárias feitas "em torno de pessoas", considerando-as frágeis por serem circunstanciais. Cobrou do PSDB a apresentação de um projeto nacional, em torno do qual o PSDB deve buscar a "mais ampla aliança", que atraia o PMDB. Defendeu um PSDB "sem ódios e radicalismos" e que realize as reformas necessárias.

Aécio minimizou a hegemonia paulista no PSDB. Disse que o partido nasceu pela força de lideranças do Estado, mas se fortaleceu e hoje é um partido nacional.

Aécio pretende viajar pelo país a partir de março, começando pelo Nordeste. O partido aguarda resposta de consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre prévias partidárias. Segundo Guerra, não preocupa o fato de a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) estar em campanha, enquanto o PSDB não tem candidato. "Se Serra e Aécio estiverem andando, não preocupa.

Preocupa se ela estiver na rua e eles, em casa".

De volta à cena o ex-Campo Majoritário

Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O ex-Campo Majoritário do PT paulista está se articulando rapidamente em torno da candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República e de um único nome na disputa para o governo de São Paulo em 2010. Com isso, procura retomar a hegemonia na estrutura nacional do partido e o poder de barganha que tinha no passado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A tentativa do ex-Campo Majoritário, agora distribuído em mais de uma tendência, é para que essa articulação recomponha o equilíbrio de poder interno do PT que deu a vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. A partir de 1998, e até 2002, prevaleceu um pacto de convivência entre um líder carismático conhecido nacionalmente e uma estrutura burocrática que era forte e capilarizada. Lula usava da estrutura para disputar eleições e sua popularidade contribuia para o crescimento da legenda. Recompor agora com Lula significa proporcionar à Dilma o uso de uma máquina partidária grande - e muito organizada no Estado mais rico da Federação - e capitalizar a excepcional popularidade de Lula. De quebra, a tendência pode ganhar mais densidade num futuro governo Dilma, se ela vencer as eleições.

Foram os integrantes do ex-grupo chamados por Lula no Palácio do Planalto, no começo do ano, e encarregados de transitar internamente o nome da ministra Dilma Rousseff como candidata à sua sucessão, em 2010. Os ex-prefeitos Marta Suplicy (SP) e Fernando Pimentel (MG) e o deputado João Paulo (SP) foram os encarregados da tarefa. Os paulistas articularam-se rapidamente. Venceram a resistência de José Dirceu. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, já deu uma declaração pública em favor da ministra - com a ressalva implícita de que a candidatura tem que obrigatoriamente passar pelo partido. Amanhã, haverá uma reunião de Dilma com os petistas paulistas, na casa da ex-prefeita. Simultaneamente, fecharam um acordo entre os três postulantes ao governo - Marta Suplicy, o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia e o ex-ministro Antonio Palocci - e vão se entender em torno de um único candidato. Isso levará um grupo grande e coeso para a candidatura de Dilma e fortalecerá a sua posição no Diretório Nacional.

No período que antecedeu ao escândalo do mensalão, o Campo Majoritário paulista era hegemônico, tanto na tendência como no partido. Enfraqueceu-se devido ao envolvimento de vários de seus integrantes no escândalo do mensalão, em 2005, e dividiu-se. O grupo perdeu posições no partido - apesar da eleição para a presidência nacional do deputado Ricardo Berzoini - e no governo, com a queda dos dois ministros mais poderosos do primeiro mandato de Lula: José Dirceu, da Casa Civil, e Antonio Palocci, da Fazenda. São Paulo perdeu espaço para outros líderes que cresceram na contramão das agruras sofridas principalmente por líderes que irradiavam do Estado a sua influência para o resto do país. O presidente Lula distanciou-se da legenda e garantiu uma reeleição quase que apenas contando com a sua popularidade. É certo, usou a estrutura partidária, mas sem estabelecer uma relação orgânica com o seu partido.

Dilma, no pontapé inicial de sua candidatura, conta com a popularidade de Lula, mas não conseguirá se viabilizar sem uma relação estreita com o PT, que continua grande e capilarizado mesmo depois de passar pelos revezes de 2005. Vai definir suas relações com o PT pelas mãos do ex-Campo Majoritário. O grupo que tenta se reunificar conta com a sua experiência de articulação interna, que lhe dá rapidez, e com a concordância tácita das outras tendências de que a candidatura deve ser a da ministra. Segundo um dos petistas envolvidos na articulação, para qualquer dos grupos é vantajoso que o partido capitalize a popularidade de Lula. Como é importante que o partido continue sendo governo, onde todos estão representados na estrutura ministerial.

Ao que parece, o ex-Campo retoma suas articulações com a força que tinha antes. Mostra-se capaz de passar como um trator por interesses que contrariem a sua estratégia. A vitória de dois peemedebistas para a presidência da Câmara e do Senado passa por uma articulação já em andamento para negociar, com cada diretório regional do PMDB, a aliança com Dilma. Na Câmara, o grupo lutou até o último minuto para conseguir a vitória do deputado Cândido Vaccarezza (SP) como líder. O outro candidato, Paulo Teixeira (SP), era aliado do ministro da Justiça, Tarso Genro (RS), que vê a sua postulação à Presidência da República reduzir-se a pó.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

E Lula ainda diz que isto não é campanha...

Leandro Colon e Flávia Foreque
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Na véspera, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a imprensa por atribuir tom eleitoral às medidas anunciadas no Encontro Nacional de Prefeitos. Ontem, último dia do evento, todos os holofotes da festa se concentraram na chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ungida por Lula para concorrer pelo PT à sua sucessão. A ministra discursou, anunciou subsídios para famílias pobres comprarem a casa própria, elogiou a plateia e arriscou uma convocação: “Nós precisamos de vocês”. O público parece ter gostado e houve até quem comparasse os estilos de Dilma e do chefe. “O discurso dela foi técnico, mas com informação”, resumiu o prefeito da cidade baiana de Tibagi, Sinval Silva (PMDB). No hall de entrada do Centro de Convenções, administradores municipais se apertaram em frente ao estúdio improvisado, onde tiravam fotografia e, por R$ 30, levavam um santinho feito à base de montagem, em que aparecem ombro a ombro e sorriso aberto ao lado do presidente da República e de sua fiel escudeira.

Vai um santinho eleitoral aí?

Prefeitos pagam para aparecer ao lado das imagens de Dilma e Lula. Dirigindo-se a cerca de 3,5 mil representantes de municípios, ela fez discurso de palanque e anunciou detalhes do plano de habitação

Aministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, teve ontem um dia de candidata. Ao encarar os 3,5 mil prefeitos que estavam em Brasília, ela fez um discurso técnico, mas com efeito político e eleitoral. Ciente de que precisará do apoio deles numa eventual campanha, Dilma disparou elogios aos presentes e fez uma revelação: a faixa de renda de quem será beneficiado pelo novo plano de habitação do governo federal. O programa, segundo ela, vai atender a quem recebe entre dois e dez salários mínimos (R$ 930 a R$ 4.650). Se a intenção era alegrar os prefeitos, Dilma conseguiu. A habitação tem sido ponto fraco dos municípios.

A esperada aclamação como candidata do PT não aconteceu, mas a ministra saiu do encontro aplaudida. Dilma, aliás, foi destaque num estande em que era possível fazer uma fotomontagem com a imagem dela e do presidente Lula. Os prefeitos fizeram fila para comprar uma. O serviço foi oferecido pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Na marcha dos prefeitos em abril do ano passado, a mesma lembrança foi vendida, mas apenas com a imagem de Lula. O preço era de R$ 20. Agora, foi acrescentada na mesma foto a ministra da Casa Civil, preferida do presidente para sucedê-lo na eleição de 2010. E o preço subiu para R$ 30.

Na avaliação das autoridades municipais, o discurso dela foi mais objetivo do que o de Lula. “Foi técnico, mas com informação”, avaliou o prefeito de Tibagi (BA), Sinval Silva (PMDB). Dilma deixou para o fim os detalhes sobre o plano de habitação. Até então, sabia-se da projeção de construir um milhão de casas, com subsídio do governo para quem entrar no programa. Ontem, a ministra foi além: revelou a faixa de renda e a ideia de estender o subsídio a todos os beneficiados, inclusive para os que ganham o teto (R$ 4.650). “Queremos que as pessoas tenham condições de pagar o aluguel e a prestação da casa. O subsídio será proporcional. Quanto maior a renda, menor será”, disse.

A ministra fez a defesa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e despejou elogios aos prefeitos: “Nós precisamos de vocês”. A resposta foi imediata. Prefeito de Ipiaú, na Bahia, Deraldino Araújo (PMDB) engrossou o coro de contentes. “Foi um discurso objetivo que aproximou o governo federal do municipal.”

Fotomontagem

Desde o início da manhã de ontem, uma tenda na área externa do Centro de Convenções oferecia a oportunidade de fazer uma fotomontagem com a imagem da ministra e do presidente Lula. A fotografia era entregue na hora. Apesar do preço salgado, R$ 30, houve fila. “Alegra o olhar”, incentivava o fotógrafo. O profissional não soube dizer quando a foto da ministra foi tirada. “Mas com certeza foi depois da plástica”, brincou.

E não foram apenas os políticos que se interessaram pelo mimo. O bancário Januário Rodrigues Neto pagou R$ 90 para garantir o registro de toda a família. “Eu pretendo colocar num álbum e guardar de recordação”, disse. Esse não vai ser o mesmo destino da foto do prefeito de Arenópolis (GO), Antônio Paião de Campos. “Vou mostrar para meus eleitores e familiares”, disse. “Ela traz um pouco de credibilidade porque é a candidata do presidente. E se amanhã for eleita, para a gente é bom”, concluiu.

“Foi a verdade”
Depois de criticar na terça-feira o noticiário que denunciava o “saco de bondades” do governo para atrair prefeitos à campanha de Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, ao chegar ao Palácio do Itamaraty, que a imprensa escreveu a verdade. “Vocês não escreveram maldade. Nem bondade nem maldade. Foi a verdade”, afirmou Lula, sem explicar a que se referia. Bem-humorado, Lula negou que estivesse irritado com a imprensa. “Apenas comentei fatos relevantes”, afirmou. “Faz muito anos que não tenho raiva. Aprendi que quando a gente tem raiva só a gente sofre. Porque a pessoa de quem a gente tem raiva não fica nem sabendo”, respondeu o presidente.

Um dia na capital

Do Centro de Convenções, onde foi possível curtir um coquetel oferecido ao fim do primeiro dia de evento, muitos dos prefeitos que vieram a Brasília para o encontro nacional com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se jogaram aos prazeres oferecidos pela noite candanga. Depois de uma passagem rápida pelo hotel, para mudar o visual terno-gravata-pasta 007 por trajes mais despojados, a maioria deles iniciou a maratona noturna pelas churrascarias, onde muitos partidos ofereceram jantares.

A direção do Partido Progressista, por exemplo, fechou um restaurante do centro da capital, para receber seus correligionários. O convescote atraiu prefeitos, primeiras-damas e vereadores. Teve deputados federais e até ministro. Márcio Fortes, comandante da pasta das Cidades, prestigiou o evento. De lá, Fortes seguiu para a festa do PT, numa casa de eventos do Setor de Clubes Sul, onde também estavam reunidos muitos dos administradores e legisladores municipais. Ali perto, numa famosa churrascaria às margens do Lago Paranoá, havia mais confraternização.

Era prefeito para todo lado na cidade. Em grupos de quatro, cinco ou mais, muitos deles circularam a pé pelas calçadas do Setor Hoteleiro Sul, famoso ponto de prostitutas e travestis. Tomar uma cervejinha comprada na loja de conveniência de um posto de gasolina nas imediações e acompanhar todo o burburinho virou passatempo para alguns. Houve até quem arriscasse uma xavecada nas “meninas”.

Taxista
No ponto de táxi, a presença de tantos “estrangeiros” na capital era só satisfação. A rotatividade foi alta na noite dessa terça-feira. “Tem corrida pra todo lado: barzinho na Asa Sul, Asa Norte, Pontão… e até pra aqueles lugares”, enumerou um taxista, 30 anos. “Aqueles lugares” são as boates com shows de striptease localizadas na Asa Sul e no Setor de Indústrias Gráficas (SIG).

A reportagem fez uma ronda por volta da meia-noite para conferir como estava a frequência nos “inferninhos” da capital. Pelo visto, os “turistas” que se arriscaram no roteiro se preocuparam com a discrição: grupos menores, de dois ou três, para não chamar a atenção.

A síndrome do presidente

EDITORIAL
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Mais o presidente Lula parece ficar fora de si, mais autêntico ele se revela. Nos seus furiosos destampatórios, quando perde a "postura" - como reconheceu, alterado, a certa altura do seu discurso de 50 minutos para alguns milhares de prefeitos e acompanhantes reunidos em um centro de convenções de Brasília na terça-feira - é que ele expõe as suas "metamorfoses". Os 84% de aprovação popular deixaram-no totalmente despreocupado com a possibilidade de ser prejudicado por alguma bobagem que fale ou mesmo por alguma das patranhas a que costuma recorrer em seus discursos cotidianos. Aos 63 anos, duas vezes titular da República, Lula ainda conserva, entalada, uma profunda compulsão de desforra da ordem social que o fez comer o pão que o diabo amassou, antes que conseguisse dar a volta por cima como nenhum outro brasileiro que tivesse passado pelas mesmas adversidades.

Lula, a figura pública, com a sua excepcional inteligência e senso de realidade, aprendeu a se conciliar com (e a desfrutar de) um sistema que o Lula, retirante, engraxate e operário, jamais perdoará. A dupla personalidade tem menos que ver com esquerda e direita - se algo não mudou nele é o seu entranhado desdém pelas ideologias - do que com o apaziguamento íntimo dos desencontros entre o "antes" e o "depois" de sua singular biografia. E é por isso que Lula não é cínico quando toma a calculada decisão de se deixar transtornar para jogar as suas plateias contra as "elites" e a instituição que mais ama odiar - a imprensa. Nem por serem de caso pensado, para acentuar a construída polaridade entre ele e "os de cima", como gosta de dizer, as suas investidas deixam de externar o que de inextricável lhe vai pelo espírito. Simplificadamente, é a lógica de sua (aparente) incoerência.

Está para nascer o governante que não se queixe dos meios de comunicação. Mas, no caso de Lula, trata-se de uma obsessão - parte da sua síndrome. Olhe-se ao redor e não se encontrará um líder nacional que diga que a leitura dos jornais lhe dá azia. Mesmo o ex-presidente Bush, que tem em comum com Lula o desprazer de ler, temperou com elogios à imprensa a confissão de que não se informava pelos diários, mas pelos assessores que os digeriam para ele. Foi, portanto, um ponto absolutamente fora da curva - quem sabe por ter achado que passou dos limites com a sua teoria gástrica do jornalismo - a sua surpreendente barretada à mídia, há dias.

"É preciso parar com essa mania de dizer que, porque a imprensa deu, é porque é contra o governo, porque não gosta do governo", admoestou sabe-se lá quem. "Se a imprensa deu e o fato aconteceu, em vez de a gente reclamar, tem de consertar."

Deve ter-lhe custado a retratação. Não surpreende, pois, que o verdadeiro Lula tenha voltado com tudo contra a mídia no grande comício político que foi o Encontro Nacional de Novos Prefeitos e Prefeitas. Ele disse que acordou "virado" com o noticiário sobre o pacote de bondades com que o governo os presenteou, a começar do escandaloso parcelamento, em até 20 anos, das dívidas das prefeituras com o INSS, beneficiando até aquelas que fizeram acordo com a Previdência em 2004 e não pagaram as prestações devidas. Foram "insinuações grotescas", atacou. Não foram nem uma coisa nem outra. A imprensa não insinuou nada, mas, sim, associou as bondades à promoção da candidata de Lula à sua sucessão, Dilma Rousseff. E não há nada de artificial no nexo, como ele próprio fez questão de explicar às mulheres dos prefeitos em reunião depois do comício com seus maridos, ao justificar a candidatura Dilma com os exemplos de Michele Bachelet, no Chile, e Cristina Kirchner, na Argentina.

Lula se disse triste "porque estão abusando da minha inteligência". Abusa da inteligência alheia o presidente que tenta tapar o sol com a peneira, negando o que não cessa de fazer, como fez no encontro com os prefeitos, quando, previsivelmente, elogiou a "mãe do PAC" (que subiu ao palco ao seu lado) e, sem mais aquela, soltou uma patranha direta contra o governador-presidenciável José Serra. Triste, no episódio, foi Lula negar que teria chegado aonde chegou sem a liberdade de imprensa, como não se cansava de lembrar. Agora, da nova "metamorfose" sai a versão de que "nunca fui eleito porque a imprensa brasileira ajudou", mas "porque o povo quis". Só que, antes disso, a imprensa apresentou Lula ao País e cobriu exaustivamente o seu percurso - no estrito cumprimento do seu dever de informar.

O direito de criticar

EDITORIAL
DEU NO ZERO HORA (RS)

Chamou a atenção do país a manifestação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura do Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, na última terça-feira. Diante de uma plateia formada por cerca de 3,5 mil administradores municipais, ele criticou duramente a imprensa por ter classificado o conjunto de medidas de incentivo aos municípios como pacote de bondades para alavancar a candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República. As críticas presidenciais foram amplamente divulgadas pela maioria dos órgãos de imprensa do país ontem, muitos deles se sentindo injustiçados pela generalização.

O presidente tem o direito de criticar a imprensa e até mesmo de fazer críticas infundadas. É da democracia. Da mesma forma, porém, precisa entender que um homem público na sua posição tem que conviver diariamente com a vigilância da mídia. A liberdade de opinião é essencial para o processo democrático. Em sua defesa, até mesmo eventuais excessos têm que ser tolerados, com o evidente resguardo de direitos individuais e coletivos que a legislação brasileira assegura aos cidadãos, sejam eles autoridades ou pessoas comuns.

Dois aspectos do noticiário incomodaram particularmente o presidente, segundo revelou no pronunciamento. O primeiro deles foi o título e a conotação eleitoral dispensados ao conjunto de ações governamentais para reforçar a parceria com os municípios. O outro foi o fato de um jornal carioca (O Globo) ter publicado uma carta de leitor reclamando que o presidente estaria dando dinheiro público para prefeito “bandido”. Lula aproveitou-se deste detalhe para fazer média com os prefeitos presentes, com o claro propósito de conquistar simpatia para a sua crítica genérica à imprensa. A demagogia era perfeitamente dispensável.

A maior parte da mídia brasileira reconhece no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) uma ação válida do governo para tirar o país do atraso. Também são meritórias – tenham ou não injunções eleitorais – as parcerias propostas aos municípios no sentido de reduzir o analfabetismo e a mortalidade infantil. O próprio parcelamento das dívidas das prefeituras com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ainda que beneficie maus pagadores, é uma medida elogiável por aliviar a pressão sobre municípios endividados. É um equívoco valorizar mais a visão crítica do que os efeitos deste conjunto de ações.

O momento do país exige mais tolerância. Não é hora de atrito, mas sim de muita responsabilidade – tanto por parte do governo quanto por parte da mídia – para que o país possa superar a crise econômica sem maiores sobressaltos. O pacote de benefícios aos municípios, seja lá que nome tenha, é bem-vindo. Mas deve continuar sendo fiscalizado atentamente pela população, por meio dos instrumentos de que ela dispõe para isso, entre os quais uma imprensa livre, independente e também sujeita às devidas críticas.

Coincidência de palanques para Dilma

Gerson Camarotti e Gustavo Paul
DEU EM O GLOBO

Cerca de 150 prefeitos do PT aproveitaram a viagem para o encontro com Lula, paga com dinheiro público, para comemorar o aniversário do partido. Os eventos foram um duplo palanque para a ministra Dilma, que fez discurso de candidata e pediu prioridade para as obras do PAC. O tesoureiro petista disse que tudo foi coincidência.

Palanque duplo para Dilma

RUMO A 2010

Prefeitos petistas aproveitam encontro oficial para ir à festa do partido; ministra é a estrela dos eventos

Em um período de menos de 24 horas, entre a noite de terça-feira e a tarde de ontem, a pré-candidata do PT e do presidente Lula para a eleição de 2010, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, se apresentou e discursou em dois palanques, divulgando as ações do governo e tratando de projetos políticos com companheiros de partido. Ontem, foi o principal nome do governo no segundo e último dia do Encontro Nacional de Prefeitos, organizado e patrocinado pelo Palácio do Planalto. Na noite da véspera, ela foi a estrela da festa de comemoração dos 29 anos do PT. Cerca de 150 prefeitos petistas, de um total de 558, aproveitaram a viagem oficial a Brasília, paga pelas prefeituras para o encontro organizado do Planalto, para ir também à festa do partido.

O jantar com 1.200 militantes e autoridades petistas do governo Lula foi estrategicamente programado para lançar a ministra como pré-candidata. Tanto que Lula não foi ao evento, ao contrário dos anos anteriores, para não ofuscar Dilma. Em sua apresentação, o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), lembrou que o processo interno do partido incluía a hipótese de prévias, mas que tudo indicava que a militância já havia adotado Dilma como candidata.

- Certamente, a ministra Dilma vai estar liderando a luta do nosso projeto democrático e popular no próximo ano. Já estou sentido que a militância está com você - disse Berzoini, dirigindo-se à companheira.

Sob aplausos e gritos de "Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma", a ministra demonstrou pouca intimidade diante de uma grande plateia. Num discurso com forte tom político, mas sem empolgar, ressaltou a história do partido e as conquistas do governo petista, como a inclusão de "20 milhões de brasileiros na chamada nova classe média do presidente Lula", além de ressaltar a trajetória do presidente. E não esqueceu os partidos aliados, fundamentais para 2010:

- Esse partido foi capaz de fazer as alianças necessárias para que a gente tivesse espaço democrático de transformação. Saúdo também todos os partidos que estruturaram a governabilidade nesses momentos em que estamos fazendo as transformações dentro da maior legalidade.

Ministra pede prioridade para as obras do PAC

Principal atração de ontem no Encontro Nacional de Prefeitos e Prefeitas, Dilma falou para milhares de prefeitos - embora em número menor do que a audiência da véspera, quando Lula foi lá - sobre como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pode ajudar os municípios.

- Meu apelo aos senhores é no sentido de que essas obras do PAC, que foram escolhidas com as prefeituras e os estados, tenham prioridade muito grande, resolvendo as pendências, titularidade, projetos, licenciamento e processos de licitações.

Do lado de fora do Centro de Convenções, onde ocorreu o encontro, fotógrafos improvisaram um estúdio para tirar fotos de prefeitos ao lado de uma fotografia manipulada digitalmente com Lula e Dilma. O Planalto informou que não tinha nada a ver com a iniciativa e que até tentou impedi-la, mas os profissionais alegaram que pagaram pela tenda à administração do Centro.

Dilma procurou esbanjar simpatia, sempre sorridente. Preocupada em agradar aos prefeitos, chamou-os de "partes centrais do nosso país" para o desenvolvimento econômico e social, mas trocou Paraná por Pará, ao citar o estado do prefeito de Maringá, Silvio Barros (PP), um dos escalados para falar das ações do governo em seu município. O outro foi o prefeito de Vitória, João Coser (PT).

Mas Dilma só conseguiu arrancar os primeiros aplausos depois de 35 minutos, quando anunciou o lançamento de um programa de habitação. Ela conteve a irritação com o corte prolongado no seu microfone, que chamou de "pequeno problema de som".

- Nós criamos toda uma política de sustentação de renda, elevamos o salário mínimo e estendemos a rede de proteção do Bolsa Família.

Aplaudida, concluiu em tom de campanha:

- Vou encerrar dizendo que nós precisamos de vocês, os prefeitos e as prefeitas, que são os grandes parceiros do país. Sem os municípios não fazemos política de qualidade. Contem conosco, nós contamos com vocês.

Ao final, em entrevista, a ministra estava de bom humor e chamou o PAC de uma vaquinha magra que está engordando.

- A vaquinha foi engordando. A cada diz que passa a vaquinha foi tendo projeto e está ficando uma vaquinha bem gordinha. Ela está na fase de transição, passando de uma vaquinha gorda para uma vaquinha de raça de primeira linha.

Na festa do PT, que seguiu o padrão petista de muitos discursos, cardápio e música questionáveis, Dilma, cercada o tempo todo por três seguranças do partido, foi assediada para fotos, abraços e conversas. Depois subiu para um andar reservado às autoridades, inclusive os 13 ministros presentes ao clube onde ocorreu a festa. Lá também ficou o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que recebeu vários elogios ao exibir uma vasta cabeleira um ano depois do implante capilar. Mas, apesar de excluídos da área VIP, os prefeitos foram os mais animados. Vários arriscaram passos de forró, embalados por Lázaro do Piauí, o autor da música "Deixa o homem trabalhar", da campanha de Lula de 2006.

O tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, disse que foi coincidência a festa do partido ocorrer no mesmo dia do encontro dos prefeitos. Contou que vários deputados compraram os convites mais baratos, de R$100, da festa do PT para prefeitos de suas regiões. O deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoino (PT-SP), era a estrela numa mesa com quatro prefeitos dos 11 petistas do Ceará que foram:

- Como todos estavam em Brasília para o encontro, aproveitaram para participar da festa do PT - explicou Guimarães.

A mesma explicação foi dada pelo prefeito de Joinville e ex-deputado Carlito Merss (PT-SC). Ele disse que dos 35 prefeitos catarinenses do PT, cerca de 20 estavam na festa do partido:

- É a festa do PT com o maior número de prefeitos, está até com cheiro de naftalina. Todo prefeito tirou o paletó do armário. Afinal, não é sempre que uma festa do PT acontece com tantos prefeitos em Brasília.

Entre os mais animados estava o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, que fazia questão de reafirmar sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro. Ele foi um dos poucos a admitir que pode não ter sido mera coincidência os dois encontros acontecerem no mesmo dia.

Lula fere lei ao antecipar campanha, diz FHC

Felipe Werneck
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tucano afirma que PSDB pode ir ao TSE para garantir condições iguais

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem no Rio que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "está em campanha" e repetiu quatro vezes, em dez minutos de entrevista, que "a lei não permite" isso. "Nós (do PSDB) estamos seguindo a lei. Talvez, se o presidente Lula continuar forçando antecipar a eleição, vamos ter de pedir autorização ao Tribunal (Superior Eleitoral). Porque não pode, simplesmente não é o momento de lançar."

Ele reconheceu, porém, que o tempo do PSDB "está encurtando". "Todo mundo sabe que os candidatos possíveis são dois, de Minas e de São Paulo. Minha posição é dar tempo ao tempo. Mas, como Lula está precipitando, nosso tempo está encurtando. Mas é preciso ver a lei. É loucura o que está acontecendo, fazer campanha neste momento."

Fernando Henrique fez o comentário após ser indagado sobre declaração de Lula, na terça-feira, diante de cerca de 3.500 prefeitos, em Brasília. Na ocasião, o presidente, sem citar o governador José Serra (PSDB), dirigiu-se ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) e afirmou que o Estado mais rico do País tem 10% de analfabetos. "Kassab, você vai cair da cadeira. Você não sabe e eu não sabia, mas no Estado de São Paulo ainda temos 10% de analfabetos. O Estado mais rico da Federação. Significa que tem alguma coisa errada", disse Lula.

"Nem sei se o dado é certo", comentou Fernando Henrique, antes de começar a acusar o presidente de fazer campanha para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, possível candidata do PT em 2010. "O presidente já está com a candidata andando pelo Brasil todo, está precipitando, mas a legislação não permite. Não sei como vamos sair dessa. Porque ele, como é presidente, faz o que quer. E nós, se começarmos a lançar candidato agora, vem processo em cima, porque é contra a lei", declarou. "Não quero entrar em campanha, quero respeitar a lei. Existe um calendário."

PRÉVIAS
Fernando Henrique afirmou que "em princípio" não é contra prévias no PSDB, "desde que haja uma prévia verdadeira". E pôs algumas questões: "Quem é que vai cadastrar? Quem tem direito a votar? Não são coisas simples."

Sobre o fato de seu partido ter rachado em relação à liderança na Câmara, disse que é uma questão local. "O que eu pedi a eles é que tomassem posição política com relação ao Brasil, ao governo, ao futuro. Em vez de brigar internamente, que briguem para fora."

Um dia após críticas, Lula faz afagos à imprensa

Tânia Monteiro
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Depois de criticar, em discurso inflamado, o noticiário que tratou o Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas como um ato político-eleitoral que beneficiaria a pré-candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ontem, em conversa informal com os jornalistas, que a imprensa escreveu a verdade. "Vocês não escreveram maldade... Nem bondade nem maldade. Foi a verdade", afirmou.

Contrastando com o a irritação do dia anterior - "Tem dia que a gente acorda virado e, se cair um pingo de suor no copo, vira limonada", dissera ele, na terça-feira -, Lula ontem negou que estivesse irritado. "Apenas comentei fatos relevantes", disse.

"Então a raiva passou?", insistiu um repórter. "Faz muito anos que não tenho raiva. Aprendi que quando a gente tem raiva só a gente sofre. Porque a pessoa de quem a gente tem raiva não fica nem sabendo que a gente tem raiva", respondeu o presidente.

Na terça-feira, Lula dedicou a maior parte de seu discurso de quase uma hora para quase 4 mil dirigentes municipais para reclamar dos jornais e dizer que a imprensa foi "pequena" ao afirmar que ele convocou o encontro prefeitos para anunciar medidas de apoio às prefeituras e, assim, promover a candidatura presidencial de Dilma.

Além de condenar a imprensa por ter classificado a ajuda aos prefeitos de "pacote de bondades", Lula criticou também a gestão tucana em São Paulo, sem citar o nome do governador José Serra, colocando prefeito Gilberto Kassab (DEM)constrangido, ao afirmar que o Estado mais rico do país tem 10% de analfabetos. Mais tarde, porém, apoiou a candidatura de uma mulher à Presidência.

REAÇÕES

Para o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), a reação de Lula contra a imprensa é "contraditória". O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) diz que "o presidente de vez em quando revela vocação para o autoritarismo".

Mercado de trabalho deve ter pior janeiro em dez anos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Depois de atravessar o pior dezembro da história, o mercado de trabalho deverá enfrentar neste ano o pior janeiro desde, ao menos, 1999 -ano da desvalorização do real. Com base em números preliminares, o ministro Carlos Lupi (Trabalho) disse que o saldo de vagas no mês passado foi negativo.

A última vez em que isso ocorreu foi há dez anos, quando o mercado perdeu 41.211 vagas. Em 1998, o mercado já havia fechado 85.320 vagas. A partir de 2000, janeiro tem sido um mês de aumento do emprego formal. No ano passado, o número alcançou o seu maior patamar para o primeiro mês do ano: 142.921 postos.

"Ainda não temos a radiografia total, mas janeiro e fevereiro serão meses muito difíceis. Janeiro também será negativo, de acordo com os dados preliminares. Só que será muito menos da metade do que ocorreu em dezembro", disse o ministro, que, há menos de um mês, chegou a afirmar que janeiro seria positivo na geração de vagas.

Em dezembro, o mercado de trabalho fechou 655 mil postos -foi o pior mês desde que o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) começou a ser elaborado, em 1992.Ao longo do ano passado, o mercado de trabalho formal acumulou saldo positivo de 1,452 milhão de vagas.

Na avaliação do ministério, alguns setores, como construção civil, serviços e agricultura, vêm mostrando recuperação em alguns Estados. Lupi destacou o aumento das contratações em janeiro, com provável saldo positivo, em seis Estados: Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rio Grande do Sul.

No Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais, porém, o mercado formal (com registro em carteira) continuará encolhendo em janeiro. Lupi disse que os setores siderúrgico, de extração mineral, de exportação de frutas e de couro e calçados são exemplos de áreas em que ainda não há indicativos de melhora.

"Vou a Volta Redonda ainda nesta semana para negociar um acordo e evitar demissões no setor siderúrgico. Eles estão com estoque para três meses e ainda vão reformar um forno. Vamos discutir uma saída", afirmou o ministro.

Para ele, em março o mercado de trabalho deverá voltar ao azul, com geração líquida de empregos. (Julianna Sofia)

Apesar de pacote, crise assusta prefeitos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Lula faz apelo para acelerar obras, mas municípios sofrem queda em receitas e seguram investimentos

O pacote aos municípios anunciado pelo governo federal não inibiu a chiadeira dos participantes do Encontro Nacional de Prefeitos, encerrado ontem em Brasília. Preocupados com o impacto da crise econômica, prefeitos ouvidos pela Folha disseram estar segurando investimentos e enxugando o quadro de funcionários.

Até gastos com cafezinho entraram nos cortes em Nanuque (MG). "Pisei no freio. Peguei a prefeitura endividada, e as perspectivas de arrecadação não são boas", afirma o prefeito da cidade, Nide Brito (PPS), que agora só bebe água do filtro no gabinete, compra pneus recauchutados e diz depender do governo federal para asfaltar as ruas e construir as escolas que prometeu na campanha.

Apesar do apelo do presidente Lula, que sugeriu dois turnos em obras dos municípios para gerar empregos e espantar a crise, os prefeitos preferem a cautela na hora de investir. "Estamos em compasso de espera. Ainda não pusemos a máquina na rua", afirmou o prefeito de Porto União (SC), Renato Stasiak (PMDB).

Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), uma das principais entidades municipalistas do país, a arrecadação do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) de janeiro caiu 1% em relação ao mesmo mês em 2008. Somando ao FPM os recursos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), a queda nas transferências vai para 3%. "É um indicativo muito ruim", afirmou o presidente da confederação, Paulo Ziulkoski. Aproximadamente 80% dos municípios tem o FPM como a maior fonte de receita, afirma a CNM.

A arrecadação do ICMS também preocupa. Prefeito de Pains (MG), Ronaldo Márcio (PT) diz que seu município está arrecadando 20% a menos do que em janeiro de 2008 com ICMS e FPM.

Durante o encontro dos prefeitos, o governo federal anunciou medidas que contemplam algumas reivindicações antigas dos prefeitos, como o parcelamento das dívidas das prefeituras com o INSS em até 240 meses. A medida permite que, ao parcelarem as dívidas e deixarem de ser inadimplentes, as prefeituras fiquem aptas a receber novos recursos federais.

Ontem, prefeitos elogiaram o anúncio, feito pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), de um programa de habitação popular em gestação no governo.

Prazo de 20 anos para dívidas municipais. MP testará promessas de autonomia do Congresso

Jarbas de Holanda

Uma das principais medidas do chamado pacote de bondades da União às administrações municipais, anunciado ontem pelo presidente Lula em megaencontro com cerca de 4.500 prefeitos – o alongamento do prazo de quitação das dívidas com o INSS, de 60 meses para 20 anos, por meio de uma Medida Provisória – poderá pôr rapidamente em xeque, testando-a para valer, a posição conjunta manifestada pelos novos presidentes da Câmara e do Senado em defesa de maior autonomia das duas Casas diante do Executivo, a partir da resistência ao uso abusivo de MPs. Resistência que, para ser efetivada, ademais da prática de rigor na pré-avaliação das reais urgência e relevância delas, precisará envolver sério exame da pertinência constitucional de cada uma.

Ora, sob a justificativa da necessidade genérica de ações cíclicas contra a crise econômica (em grande parte dependentes, mesmo, de mais gastos públicos, não em despesas de custeio mas para investimentos), o governo Lula, com a oferta de tal “bondade” às prefeituras devedoras do INSS, de um passivo superior hoje a R$ 14 bilhões, agravará o problema do crescente déficit previdenciário e por um caminho extremamente preocupante – o de perigosa “flexibilização” (a rigor desrespeito) da Lei de Responsabilidade Fiscal. Que constitui pilar básico (não obstante ainda carente de complementações importantes) dos bons fundamentos macroeconômicos do país construídos nos governos FHC e mantidos, até agora, nos dois mandatos do atual presidente, a partir da gestão do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Quanto à tramitação no Congresso da MP do refinanciamento das dívidas dos municípios ao INSS (se o Planalto confirmá-la, ignorando as consistentes objeções que a iniciativa suscitará), seus novos presidentes José Sarney e Michel Temer terão que confrontar, para honrarem a promessa autonomista, fortíssimo movimento de milhares de prefeitos em favor da aprovação. Movimento de caráter multipartidário, representativo do propósito maior do megaencontro ou comício realizado ontem em Brasília: a montagem de uma aliança direta com bases municipais dos diversos partidos em favor da candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff.

Temer explicita ambiguidade do PMDB

A conquista do comando das duas Casas do Congresso confirmou a avaliação – feita conjuntamente pelas alas peemedebistas da Câmara e do Senado, logo após as eleições municipais de novembro último – de que, dali por diante, a direção do partido deveria trocar o horizonte exclusivo de vinculação ao projeto lulista para 2010 pela abertura a opções de aliança com o PSDB oposicionista e de candidatura própria, sem prejuízo da manutenção de sua presença no Executivo, e até da ampliação dela por causa da maior dependência do Palácio do Planalto à legenda em face do reforço de seu papel com o enfraquecimento do PT. A ambigüidade da nova postura do PMDB foi bem explicitada em longa entrevista do presidente Michel Temer, na edição de segunda-feira da Folha de S. Paulo, com o título “É provável que o PMDB caminhe para a candidata do presidente”, e o subtítulo “Para deputado, além de Dilma, Aécio e Serra ‘são habilitados a comandar o país’; hipótese de ter nome próprio também não é rejeitada”. Seguem-se trechos da entrevista.

Vitórias no Congresso e divergência interna – “Folha: Qual será o impacto na decisão do PMDB das eleições do sr. para presidir a Câmara e de Sarney para comandar o Senado? Temer: Diz-se que o PMDB ficou muito forte porque ganhou as duas Casas. Mas, na verdade, o partido é forte porque elegeu muitos prefeitos, vereadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores e governadores...”. “Folha: As alas do PMDB da Câmara e do Senado têm divergências desde 1995. Com as eleições do sr. e de Sarney, a tendência é continuar a guerra? Temer: A divergência mais acentuada foi superada com minha eleição para a presidencia do partido um ano atrás. Vez por outra há rusgas. Mas a minha eleição e a de Sarney mostram que é preciso manter a unidade para chegarmos fortes em 2010”.

Popularidade de Lula. Serra – Aécio – Candidatura própria – “Folha: Lula tem hoje alta popularidade. O gerenciamento da crise pelo governo terá influencia na decisão do PMDB era 2010? Temer: Acho que sim, mas registro que Lula é um fenômeno de popularidade. No plano pessoal, tem 84% de aprovação (pesquisa CNT/Sensus) E está tomando medidas adequadas. Folha: Se a crise enfraquecer Lula, há chance de entendimento com a oposição na sucessão de 2010? Temer: Não sei dizer agora. O PMDB vai decidir coletivamente no momento próprio. Folha: o sr. é amigo do Serra. Descarta aliança com ele? Temer: Não descarto nenhuma hipótese. Tudo vai depender das relações políticas do PMDB com as eventuais candidaturas. Sem descartar, quero deixar claro, a hipótese de candidatura própria do PMDB. Os eventos recentes mostram a força que o partido adquiriu, que o credencia apresentar candidatura própria”. “Folha: Entre Serra, Dilma e Aécio, quem está mais preparado para ser presidente? Temer: Embora a resposta possa parecer mineira, os três. São três figuras habilitadas a comandar o país”.