sexta-feira, 10 de abril de 2009

PENSAMENTO DO DIA

“O “novo modo de pensar” é o cenário em que se projetam e para o qual talvez finalmente convirjam os princípios inspiradores da perestroika, aspectos do pensamento antropológico e sociológico da Igreja pós-conciliar, a busca de novas “idéias integradoras” que desde o início dos anos 1980 ocupa as principais socialdemocracias européias (o europeísmo socialista e o “eco-socialismo”, acima de tudo), o novo pensamento político dos grupos dirigentes mais avançados do Terceiro Mundo (às voltas com as conseqüências nefastas do neocolonialismo e com as “catástrofes” provocadas pelas reagnomics), as tradições políticas inspiradas na não-violência, as concepções do socialismo como desenvolvimento integral da democracia, a visão nova da constituição e do desenvolvimento do gênero humano inspirada no pensamento da “diferença sexual”, as novas ideais de progresso fundadas na “consciência do limite” e no conceito de “desenvolvimento sustentável” e outros filões de pensamento.”

(Giuseppe Vacca, presidente da Fundação Instituto Gramsci de Roma, no livro, “Pensar o mundo novo”, pgs.196-7 – Editora Ática, São Paulo 1996)

Gestão anticrise

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


A repercussão da crise econômica nas finanças de estados e municípios já está se transformando em fonte de crises sociais e políticas graves, especialmente nas regiões menos desenvolvidas do país, que dependem de transferências do governo federal. Além do decréscimo da atividade econômica, também reduziu a arrecadação, a concessão de isenções, especialmente do IR e do IPI, com que o governo federal tenta reativar o mercado interno. O perigo é que muitas prefeituras paralisem os serviços básicos de saúde, educação e coleta de lixo por falta de dinheiro. O programa de apoio a estados e municípios que o governo deve anunciar na próxima semana objetiva amenizar essas perdas, que deveriam também ser compensadas pelos investimentos nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que, no entanto, não conseguem deslanchar.

Em contraposição à ineficiência federal, que coloca em xeque a candidatura da ministra Dilma Rousseff, identificada para o bem e para o mal com o PAC, existem alguns governos estaduais, de diferentes filiações partidárias, mas todos identificados com a oposição, que estão demonstrando como atuar em momentos de crise. Todos são exemplos de gestão pública moderna, tema que estará no centro do debate sucessório.

O Espírito Santo, governado pelo peemedebista Paulo Hartung, é considerado pelo economista Cláudio Porto, da empresa de consultoria Macroplan, especialista em análises prospectivas e gestão pública, "de longe", como o estado que se antecipou mais e deu uma resposta mais organizada à crise.

Depois do Espírito Santo, o estado que teve uma posição mais proativa e agressiva foi São Paulo, governado por José Serra, provável candidato do PSDB à sucessão de Lula. Minas Gerais, governado pelo tucano Aécio Neves, outro potencial candidato à Presidência, e o Distrito Federal, governado pelo democrata José Roberto Arruda, são outros exemplos de boa atuação administrativa durante a crise, na avaliação de Cláudio Porto, que dá consultoria atualmente ao governo do Espírito Santo e já trabalhou com os governos de São Paulo e Minas, e por isso tem uma boa visão interna dos processos decisórios.

Com exceção do Distrito Federal, os outros três estados têm sua economia baseada nos setores mais modernos, ligados à exportação, e por isso sofreram mais fortemente os efeitos da crise.

O governo de São Paulo anunciou, em fevereiro de 2009, medidas para aquecer a economia e combater a crise financeira. Autorizou a antecipação, para o primeiro quadrimestre do ano, período em que a crise se abate com maior rigor, da compra de bens duráveis, e também inverteu as fases do processo licitatório, o que poderá torná-lo mais célere.

No campo dos incentivos aos investimentos privados, para desonerar setores estratégicos, autorizou o adiamento do Imposto sobre Mercadorias e Serviços (ICMS) pago na aquisição de bens de capital. Outra medida prorroga a redução de alíquota do ICMS de 18% para 12% até 31/12/2009.

Os micro e pequenos empresários terão acesso facilitado aos empréstimos do Fundo de Aval Estadual (FDA), e o governo irá equalizar a taxa de juros em financiamentos concedidos a micro e pequenas empresas, e reservar até R$80 mil às micro e pequenas empresas nas compras governamentais.

Já em novembro do ano passado, o governador de Minas, Aécio Neves, anunciou um conjunto de medidas de flexibilização tributária e de aumento de crédito para o setor produtivo (injeção de R$1,3 bilhão), para ajudar empresas de vários setores a enfrentar os efeitos da crise.

Prometeu ainda dar mais agilidade aos procedimentos fazendários em 2009. Além disso, o Orçamento de 2009 prevê investimentos do estado da ordem de R$11 bilhões, com a expectativa de executar a integralidade dos investimentos.

Por um período de seis meses, as empresas mineiras terão mais prazo para o recolhimento do ICMS, o que contribui para aumentar a liquidez das empresas.

O governo do Distrito Federal tem hoje R$1,6 bilhão em caixa e está priorizando as obras. As maiores intervenções foram feitas em relação ao serviço público. O GDF decidiu suspender novos concursos e congelar, por pelo menos três meses, os benefícios e reajuste dos servidores públicos (que seria, em média, de 5,5%).

Foi criada ainda uma comissão de avaliação da receita e das despesas que analisará, a cada três meses, a disponibilidade orçamentária e financeira a que ficarão condicionados os futuros reajustes salariais do funcionalismo.

Este tipo de estrutura também foi criada no Espírito Santo, que tem um Comitê Gestor do Programa de Controle e Eficiência do Gasto Público.

O governo do Espírito Santo anunciou um investimento de R$1 bilhão para o estado até 2010, o que só foi possível devido às medidas de contenção adotadas desde setembro do ano passado, quando a crise começou: o estado conseguiu fazer poupança e manter o nível de investimento.

Esta nova etapa do planejamento estratégico do estado reflete uma profissionalização da gestão cada vez maior no Espírito Santo, analisa Porto. Por trás desses bons resultados do governo capixaba está um esforço de modernização da gestão: a simplificação de processos e um sistema de gestão intensiva de projetos.

Praticamente não existem atrasos nos projetos do governo do Espírito Santo. Claudio Porto, presidente da Macroplan, destaca que uma das grandes dificuldades enfrentadas na esfera governamental é justamente conseguir realizar os investimentos previstos no orçamento. "Do governo federal, por exemplo, apenas 52% do orçamento de 2008 previsto para o Espírito Santo foram executados".

Ex-BBB no BB

Coluna do Ancelmo Góis
DEU EM O GLOBO


Max, o vencedor do "Big Brother", gravou ontem participação no "Casseta & Planeta" em que o personagem "Luís Bigbrotherácio Lula da Silva" o convida para assumir o Banco do Brasil:

- Companheiro, já que você se deu bem no "BBB", que são três bês, vai arrebentar no BB, que são só dois.

Mal desnecessário

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Dizer que a maioria dos congressistas brasileiros não convive bem com a democracia seria um exagero tão distante da realidade quanto afirmar que o Congresso em sua totalidade tem os preceitos básicos ligados mentalmente no piloto automático.

Boa parte considera relativos conceitos como liberdade de expressão, nela contido o direito da sociedade à informação, respeito às leis e decoro no exercício da função pública.

Justiça seja feita, essa inadequação a normas que em democracias mais avançadas nem são postas em discussão não se limita ao Parlamento.

Está latente e aparece, por exemplo, quando figuras proeminentes da cultura nacional resolvem por identificação ideológica fazer o elogio público das "mãos sujas"; teoria segundo a qual a malfeitoria é inerente à atividade política, um mal necessário na democracia.

Nesse aspecto, um artista que aceita crimes de corrupção quando cometidos por políticos de sua preferência não difere de um deputado ou senador que defende seu direito à transgressão porque as "coisas funcionam assim".

Não há, tampouco, distinção entre a alegação de que a divulgação de escândalos é coisa da imprensa inimiga a serviço da conspiração das elites e a mais nova teoria difundida na Câmara sobre a melhor maneira de reagir à recente série de denúncias sobre o Poder Legislativo.

Ao enunciado, na voz do presidente Michel Temer: "Vejam que a cultura política vai sendo construída de uma maneira que, se nós não repudiarmos um pouco, não tivermos uma ação muito concreta em relação a isso, não estaremos fazendo um benefício à democracia".

Uma sugestão de "ação concreta" benfazeja, de autoria do deputado Cândido Vaccarezza: alertar aos integrantes da Mesa Diretora para tomar "cuidado" ao escolher os temas de debate, "a fim de não ajudarmos aqueles que não querem difundir notícias, mas fazer disputa, em geral com posições conservadoras, contra o Parlamento brasileiro".

O arremate da lavra do deputado Ricardo Barros: "Cada vez que uma boa intenção não for valorizada pela imprensa e deixar de ser realizada, eles (os jornalistas) vão aprender que, quando decidirmos dar um passo na direção certa, ou eles valorizam ou o passo não será dado."

Em miúdos: se a Câmara de alguma forma não criar obstáculos à divulgação de informações sobre o que se passa lá dentro, a democracia correrá perigo, já que a liberdade de expressão é instrumento dos conservadores e estes, por princípio, combatem a existência do Parlamento. Defendem a ditadura, portanto.

Isso posto, qualquer decisão apresentada como restauradora da moralidade deve ser elogiada pela imprensa. Se não for, locupletam-se todos. Só de raiva.

Homem trabalhando

Extinta a fartura, o presidente Luiz Inácio da Silva começa a querer vender bravura no mercado eleitoral. O problema é que o outro mercado examina a mercadoria sob critérios mais objetivos: reage de acordo com o que as coisas lhe parecem ser e não conforme o governo diz que as coisas são.

Lula quis dar à demissão de Antonio Lima Neto da presidência do Banco do Brasil a conotação de uma guerra santa contra os juros altos com ele no papel de santo guerreiro.

Não levou em conta um dado: nessa seara, ninguém acredita em almoço grátis.

A reação negativa deveu-se à percepção nítida de que há uso político de um tema complexo, numa decisão cuja única medida de consequência é a popularidade do presidente.

Se o gesto for lido como heróico pela massa e servir de barreira de contensão a novas quedas nos índices de aprovação, Lula terá atingido seu objetivo. Esta, e não a " queda do spread", é sua verdadeira - e, dependendo do que mais vier por aí, desatinada - obsessão.

Carimbado

Não fez bem à pretendida imparcialidade investigativa de Protógenes Queiroz a aliança firmada com deputados do PSOL e do PT durante o depoimento de quarta-feira na CPI dos Grampos. Parceria esta evidenciada no veto à exibição de um resumo das contradições do delegado e na diferença de tratamento nas respostas dadas aos deputados. Aos amigos, algum esclarecimento era oferecido; aos outros, só o silêncio garantido pelo habeas corpus do Supremo.

Quando Raul Jungmann, do PPS, perguntou se a ministra Dilma Rousseff fora investigada, o delegado calou. Quando Nelson Pelegrino, do PT, repetiu a indagação, Protégenes negou, mas não o deixou sem resposta.

Para Jungmann recusou-se até a dizer se era verdadeira ou falsa a carta endereçada ao presidente dos Estados Unidos com ilações de suspeitas sobre as relações do presidente Lula com o banqueiro Daniel Dantas.

Não se sabe qual seria a resposta em caso de insistência, porque, a despeito do espanto com a ausência de negativa, ninguém voltou ao tema.

FH diz que PAC é mais marketing do que realidade

DEU EM O GLOBO

- O presidente Lula falou em marolinha, mas já se sabe que a crise chegou ao Brasil e vai afetar fortemente as perspectivas de crescimento. Quando o governo fala em PAC, fala em investimentos em infraestrutura que não chegam a 1% do PIB. Se o governo não investiu em infraestrutura quando a economia ia bem, que dirá agora, que a crise começa a bater na porta. Enfim, o presidente Lula faz muita propaganda do que faz, mas pouca coisa sai do papel.

O ex-presidente participou da abertura de seminário em homenagem a Ruth Cardoso, falecida em 2008. O reitor de Columbia, Lee Bollinger, anunciou que a universidade, em parceria com a Fullbright Foundation, terá bolsa de estudos anual com o nome de Ruth Cardoso, para estudiosos dos temas de antropologia social, no valor de US$5 mil mensais. O programa do seminário promoveu uma revisão do trabalho da antropóloga e da influência que exerceu não só nas universidades brasileiras como também em centro americanos de estudos sobre América Latina. A organização coube à universidade, em parceria com Lilia Moritz Schwarcz, da USP.

Crise tende a fazer classe C voltar à pobreza, diz FHC

FERNANDO CANZIAN
De Nova York
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Tucano está nos EUA para evento sobre Ruth Cardoso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) afirmou ontem que haverá um retrocesso na tendência de migração da chamada classe D/E para a C no Brasil por conta da crise econômica.

Em sua opinião, quanto mais longeva a crise, mais forte será o retorno para a classe D/E de parte dos 41 milhões de brasileiros que fizeram a travessia para uma vida mais confortável durante o governo Lula.

"Vai haver um retrocesso em termos. Entre o pessoal atendido pelo Bolsa Família, não. Pois continuará recebendo. As pessoas ligadas ao mercado é que são o problema", disse em entrevista a jornalistas.

FHC está em Nova York participando de seminário na Universidade de Columbia em homenagem a sua mulher, Ruth Cardoso (1930-2008). Um dos temas centrais do encontro foram os trabalhos e pesquisas conduzidos pela ex-primeira-dama em favelas e comunidades pobres brasileiras.

O seminário foi idealizado pelo brasilianista e professor da Columbia Albert Fishlow, e pretende rever a obra acadêmica e política de Ruth Cardoso. A homenagem reúne até hoje cientistas sociais, ex-alunos da antropóloga, políticos e membros da sociedade civil.

"Ruth sempre foi muito próxima desses estudos, dos movimentos sociais. Ela sempre foi muito criativa e inovadora na definição e no modo de abordar esses temas, sobretudo nos anos 1970 e 1980", disse FHC.

Ele afirmou que, até antes de morrer, a mulher estava fazendo pesquisas em Cidade Tiradentes, distrito pobre paulistano. "Ruth dizia que a quantidade de "lan houses" que havia por lá é incrível. Isso muda a política e deixa os partidos em posição complicada. Os partidos eram a expressão de um grupo social organizado. Hoje, como a mobilidade social é enorme, as classes não são estáveis. Os eleitores agora se identificam muito mais com o candidato, não com o partido. É tendência da sociedade contemporânea."

Em sua homenagem à mulher, FHC afirmou que ontem foi a primeira vez que falou sobre Ruth com "calma". "Talvez porque esteja falando em inglês. Pois o maior problema é a sua ausência", disse.

No seminário, o governador de São Paulo, José Serra , amigo de longa data do casal Cardoso, enfatizou que Ruth conseguiu, por meio do conselho Comunidade Solidária, apaziguar o conflito que existia entre o Estado e a sociedade civil. "Havia a ideia de que o Estado estava sempre errado e a sociedade civil, sempre certa." Para Serra, Ruth conseguiu criar políticas sociais, onde tanto iniciativas de cima para baixo quanto de baixo para cima conviveram e tornaram-se efetivas.

Mudança de presidente faz BB perder R$ 5 bi em 2 dias

Felipe Frisch, Eduardo Rodrigues e Lino Rodrigues
DEU EM O GLOBO

Na contramão da alta da Bolsa, ações do banco caem 10,75%

A mudança do presidente do Banco do Brasil levou a instituição a perder R$5,2 bilhões, em valor de mercado, em apenas dois dias. Na contramão da alta da Bolsa de Valores de São Paulo, as ações do BB caíram 2,82% ontem, acumulando perda de 10,75% em apenas dois dias. Para analistas, a tentativa do Planalto de usar o banco para forçar a queda de juros vai prejudicar os resultados do BB. Além disso, especialistas dizem que a simples troca no comando do banco, que será presidido por Aldemir Bendine, ligado ao PT, não levará à queda do spread bancário (diferença entre o custo de captação de dinheiro e a taxa dos empréstimos), como quer Lula. O primeiro ato do BB para reduzir o spread será nos empréstimos a microempresas, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Página 17

BB já vale R$5 bi a menos

Queda das ações em dois dias, devido à troca na presidência, reduz valor de mercado a R$43 bi

A ingerência política sobre o Banco do Brasil (BB) já custou R$5,211 bilhões em valor de mercado à instituição em apenas dois dias. Essa é a desvalorização do BB na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) - considerando o preço de todas as suas ações - depois que o governo demitiu Antonio Lima Neto da presidência do banco e o substituiu por Aldemir Bendine, ligado ao PT, com o intuito de forçar a queda do spread (diferença entre o custo de captação e os juros cobrados nos empréstimos).

Na terça-feira, os acionistas do BB foram dormir com papéis de um banco que valia R$48,491 bilhões. Ontem, depois da queda acumulada das ações de 10,75% em dois dias (de 8,15% na quarta e mais 2,82% na quinta-feira), o banco passou a valer R$43,280 bilhões. No mesmo período, a Bolsa subiu 3,91% pelo Índice Bovespa (Ibovespa).

Para analistas, as ações do BB sofreram um baque irreversível: mesmo que recuperem o que perderam nos últimos dias, serão por muito tempo avaliadas com um "desconto" maior frente a seus concorrentes. Isso já ocorre com a Petrobras em relação a similares estrangeiras.

- Parece que o mercado não estava dando atenção para o fato de que o BB era controlado pelo governo. Isso, com certeza, pode mudar a forma de avaliar a ação. Se você é acionista do banco, você quer lucro. Se o governo tira isso, o preço já mudou - disse Hersz Ferman, economista da Um Investimentos.

Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora, o caso é mais gritante pelo fato de o BB fazer parte do Novo Mercado da Bolsa, segmento de companhias com relações mais transparentes com os acionistas. E a empresa deve se pautar pela competitividade, para dar retorno ao investidor, afirmou.

Para o coordenador técnico da consultoria Tendências, Márcio Nakane, a simples troca da presidência do BB não levará à queda do spread. Esta é a intenção do governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a afirmar que reduzir o spread tinha se tornado sua "obsessão".

- Na marra a coisa não vai funcionar. O empréstimo é um contrato financeiro com o banco, e a taxa de juros é um de seus elementos.

Já para o professor de economia da Unicamp e diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Júlio Gomes de Almeida o governo precisa "dar um empurrãozinho" para que os bancos estatais baixem suas taxas:

- Se pedir muita licença, os bancos não vão baixar os juros.

Analistas veem maior exposição a risco

O BB liderou, no período agudo da crise, a expansão do setor público no mercado de crédito. A participação das três principais instituições federais - BB, BNDES e Caixa Econômica Federal - na concessão de novos financiamentos passou de 46,9% em dezembro de 2007 para 48,7% no fim do ano passado, segundo a Austin Rating.

- É normal que os bancos privados tomem mais precauções ao emprestar em um momento de forte estresse econômico. Os bancos públicos, então, ficaram responsáveis por destravar o crédito - disse Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.

Mas Rodrigues ressalta que o aumento na concessão de crédito pelo BB ameaça ultrapassar os limites de exposição a risco estabelecidos pelo Acordo de Basiléia. Estes dizem respeito à relação entre o crédito concedido e o patrimônio líquido de um banco. Atualmente, essa relação no BB estaria em torno de 15%, e não poderia ficar abaixo de 11%.

A avaliação dos analistas é que, para o BB expandir muito o crédito e derrubar juros e spreads, o banco teria de ser capitalizado pelo Tesouro. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou ontem ao GLOBO haver estudos nesse sentido.

- Nada mais justo do que o governo capitalizar os bancos públicos para ampliar o crédito. Mas é preciso tomar cuidado para não comprometer a qualidade das carteiras - disse Rodrigues, da Austin.

Um aporte de capital do Tesouro no BB esbarraria num obstáculo. O banco precisa aumentar seu percentual de ações em circulação, para atender ao que é exigido pelo Novo Mercado, de pelo menos 25%. Hoje, o BB tem 21,7% de seus papéis em livre circulação. E recentemente pediu mais prazo, até 2011, para se adequar a esses 25%, devido ao cenário adverso do mercado. Agora, os investidores estão ainda mais arredios às ações do banco. E, se o Tesouro fizer um aporte de capital, o BB terá de vender ainda mais papéis para atingir os 25%.

LEIA MAIS EDITORIAIS: O QUE PENSA A MÍDIA

Volta a maldição (O GLOBO)
A politização do Banco do Brasil (O ESTADO DE S. PAULO)
O BB do PT (FOLHA DE S. PAULO)
A função do Banco do Brasil (CORREIO BRAZILIENSE)
A politização dos juros (ZERO HORA/RS)
Uma polêmica troca de comando
(A GAZETA/ES)

Melhor assim

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO

Chic é. O Brasil receber uma carta do FMI - Ah! As cartas do FMI! - propondo que o pais vire credor do Fundo e o governo poder responder que sim, que atende ao pedido. Isso no mesmo momento em que o México está pedindo empréstimos à velha moda e a Argentina pode também ir pelo mesmo caminho. Na longa e tumultuada relação do Brasil com o Fundo houve tudo, menos isso.

O fato mostra que o Banco Central estava certo, e seus críticos errados, em acumular reservas cambiais, ainda que a história seja mais complicada. Foi um péssimo negócio do ponto de vista de um investidor. O BC comprava dólar, que se desvalorizava, e investia em títulos do Tesouro americano que rendem cada vez menos, e ao mesmo tempo mantinha uma dívida numa moeda que subia e a juros espantosamente altos.

O BC foi criticado porque mantinha juros altos e isso derrubava mais o dólar, que já caía em outros países, por outras razões. O BC comprava dólar para tentar impedir a sua queda. Mas carregar moeda cadente, e se endividar em moeda que se fortalecia a juros altíssimos, era um péssimo negócio, diziam os críticos. E era. A diferença é que para um banco central a lógica é diferente do que para um investidor comum. Olhando para trás, pode-se dizer que o Brasil poderia ter crescido mais e aproveitado melhor a época de boom se os juros tivessem sido menores. Vários economistas dizem isso, um deles o diretor da Escola de Economia da FGV, Yoshiaki Nakano. Ele me disse isso na semana passada e repetiu ontem no Valor Econômico.

Outros economistas argumentavam que, com o histórico do Brasil na área inflacionária, só restava ao BC perseguir à risca a meta de inflação.

Seja errando no varejo, seja pagando um preço alto, o fato é que o Banco Central acumulou reservas cambiais num volume que dá mais conforto na travessia do momento de dificuldade.

Chic é. Inédito é. Mas quem viu a longa caminhada do Brasil até que esta carta chegasse a Brasília sabe o quanto custou cada passo da estrada: a renegociação da dívida deixada pelos militares, a abertura da economia, a estabilização, os vários ajustes fiscais, a flutuação do câmbio, o esforço dos exportadores, as privatizações, a superação da crise bancária, a Lei de Responsabilidade Fiscal, os superávits primários, a estabilidade de regras mesmo com mudanças políticas. Tudo jogou um peso nesse processo.

Uma das máximas do fim dos anos 70 e começo dos anos 80, no governo militar, quando o Brasil assinava cartas anuais com o FMI se comprometendo com metas que nunca cumpria, é que dívida não era para ser paga, mas sim "administrada". Foi impossível administrar o impacto no Brasil da quebra do México em 1982. O Brasil fez duas maxidesvalorizações e uma baita recessão para ter dólares para pagar o empréstimo do FMI.

No começo da democracia, o lema era "não pagaremos a dívida com o sangue do povo brasileiro". Mesmo assim, o país fez várias negociações, entremeadas por um período de suspensão do pagamento por absoluta falta de dólares em caixa em fevereiro de 1987. Da dívida velha herdada dos militares, acrescida pelos novos empréstimos para pagar os antigos, inadministráveis, o Brasil só se livrou numa longa renegociação, que envolveu troca de papéis velhos por novos bonds em que os credores aceitavam dar descontos na dívida.

Em 1995, o México quebrou de novo. O Brasil, no começo do Real, aguentou o primeiro tranco. Vieram outros colapsos na Ásia, na Rússia e depois no Brasil em 1999. Vieram novos socorros do FMI e do Tesouro americano. A melhora nos anos seguintes permitiu a recompra da dívida velha que começou no governo Fernando Henrique e continuou no governo Lula. Essa era a dívida que o quando oposicionista Lula da Silva tanto prometeu não pagar ou fazer auditoria.

Dos dois grandes momentos de sufoco, nas décadas passadas, ficou um trauma: sempre que o México quebrou, o Brasil, mais cedo ou mais tarde, o seguiu. Desta vez tudo parece diferente.

O México acaba de pedir socorro ao FMI. Recebeu US$46 bilhões de empréstimo por um ano na nova, e bem mais macia, linha de crédito: a Flexible Credit Line. O país vem sofrendo o impacto da queda da economia americana da qual é cronicamente dependente. O peso já perdeu um terço do seu valor desde agosto, e o país deve ter uma recessão de 3,3% este ano. O presidente do Banco Central do México disse que, com esse empréstimo, a economia mexicana estará "blindada". Essa palavra deveria ser evitada!

Ontem, os rumores eram que a Argentina também estaria negociando um acordo com o FMI, em que o país aceitaria uma supervisão nas contas nacionais. A jornalista Débora Thomé informa no seu blog Notícias das Américas, que está no site www.miriamleitão.com, que isso só aconteceria depois das eleições legislativas, porque a campanha contra o FMI é uma obsessão dos Kirchner. Como é ultrapassado esse antagonismo!

Emprestar alguns bilhões ao FMI não faz do Brasil potência, não abona os erros que têm sido cometidos na administração da crise, não impede que o Brasil sofra o impacto dela, como vem sofrendo. Mas faz o país mais próximo da Índia, que ontem também anunciou um aporte de US$11 bilhões, que do México ou da Argentina. Melhor assim.

Emprego industrial recua pelo 5º mês

Janaina LageSucursal do Rio
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Na comparação com fevereiro de 2008, nível de vagas no setor teve a maior queda desde o início da série, em 2001

Crescimento de 1,9% na folha de pagamento das empresas, segundo o IBGE, é consequência dos gastos relacionados às demissões

O nível de emprego industrial registrou queda de 1,3% em fevereiro na comparação com janeiro. O resultado representa o quinto mês seguido de taxas negativas. Segundo especialistas, os dados de fevereiro indicam que 2009 será um ano de corte de vagas no setor.

Ante fevereiro de 2008, o emprego industrial teve queda de 4,2%. Trata-se do pior resultado desde o início da série histórica, em 2001. "Essa queda reflete os efeitos da crise e a base alta de comparação. Em fevereiro de 2008, a economia estava aquecida e a indústria estava na fase de contratações", diz Ariadne Vitoriano, analista da consultoria Tendências.

Para Isabella Nunes, do IBGE, os resultados mostram que a reação da indústria no começo do ano não surtiu efeito sobre o mercado de trabalho.

"O movimento de corte de vagas atingiu 13 dos 14 locais pesquisados. As maiores pressões vieram de São Paulo, Minas Gerais e Centro-Oeste. A crise atingiu a maior parte dos setores, principalmente meios de transporte e máquinas e equipamentos." Somente em São Paulo, a queda no nível de emprego industrial foi de 3,6% em relação a igual mês de 2008.

De acordo com cálculos do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), desde outubro o nível de emprego na indústria caiu 5,2%. "Se a política econômica do governo brasileiro não agir de forma mais rápida e eficaz para a recuperação do crédito e do ânimo dos consumidores, o emprego industrial no país poderá sofrer, infelizmente, forte revés em 2009", diz o Iedi.

Em fevereiro, houve reação da folha de pagamento, com alta de 1,9% em relação a janeiro, após quatro meses seguidos de queda nesse tipo de comparação. Apesar disso, Nunes avalia que o aumento está mais relacionado ao pagamento de demissões e indenizações do que a uma melhora do mercado.

O indicador de horas pagas teve a maior queda desde o início da série, de 5,7% em relação a fevereiro de 2008. Na comparação com janeiro, o recuo foi de 0,4%.

Tradicionalmente, o primeiro passo para a ampliação da mão de obra é o aumento do número de horas pagas. O empresário tende a pagar mais horas extras antes de optar pela contratação de funcionários.

As boas notícias da inflação

Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Com a capacidade ociosa muito alta em vários setores, a queda da inflação tende a se prolongar até 2010

A INFLAÇÃO no primeiro trimestre do ano surpreendeu -para melhor- os analistas do mercado financeiro. Para o IPCA esperava-se algo como 1,5% no período fechado de três meses. O resultado final foi de apenas 1,2%.

O mesmo ocorreu com a inflação medida no atacado, com o IGP-DI calculado pela Fundação Getulio Vargas fechando o trimestre com deflação de quase 1%, influenciada por cadeias fundamentais para a formação de preços na indústria, como petroquímica e metalurgia.

Com esses números, é possível esperar uma inflação ao consumidor em 2009 bastante abaixo do centro da meta fixada pelo Banco Central.

Mas as melhores notícias sobre o comportamento da inflação estão nos detalhes de alguns grupos restritos de preços. É o caso da inflação de serviços, que abrange itens como alimentação fora da residência e serviços pessoais de vários tipos.

Esse grupo sempre apresentou, no passado, uma dinâmica mais perversa devido à elevada inércia e aos resquícios de indexação. Seus componentes persistem em alta mesmo depois de uma fase de aceleração da inflação geral, e também são os últimos a responder à redução da demanda.

Pois foi aí que tivemos surpresas agradáveis no primeiro trimestre.

No grupo chamado pelos economistas da Quest Investimentos de Serviços Livres Diversos, que representa cerca de 10% do IPCA, tem havido uma tendência de acomodação nos últimos meses e o aumento em março foi de apenas 0,13%. A mesma dinâmica benigna pode ser encontrada no grupo de materiais de construção, que vinha apresentando taxas de inflação bem acima da média. Agora a moderação atinge uma gama muito grande de produtos. Se essa tendência se mantiver por mais tempo, teremos um sinal importante para a política monetária.

Esse comportamento favorável na inflação é resultado da desaceleração econômica verificada nos últimos meses. Com a capacidade ociosa muito alta em vários setores, inclusive no mercado de trabalho, a tendência de queda da inflação pode se prolongar até 2010: é possível que o IPCA fique abaixo de 4% no ano que vem. Com isso, haverá dois efeitos positivos sobre o crescimento da economia brasileira.

O primeiro virá da preservação do poder aquisitivo dos salários, na medida em que eles foram corrigidos a taxas nominais bem mais altas nos meses que antecederam a crise. Com a inflação na margem correndo perto de 4% ao ano, ou mesmo abaixo disso, o poder de compra da população empregada permanecerá defendido. Isso é valido principalmente para o salário mínimo. Medido em termos de cestas básicas, ele se encontra hoje no pico dos últimos anos. Essa é uma grande diferença em relação ao nosso histórico de crises, sempre agravadas por choques de inflação que corroíam a renda.

O segundo efeito positivo virá dos juros mais baixos, conforme o Banco Central se sinta confortável para continuar o processo de ajuste da taxa Selic. Com as informações que temos hoje, não há por que o Copom moderar o ritmo de redução dos juros em sua próxima reunião, marcada para os dias 28 e 29 deste mês.

É possível que a taxa Selic caia para algo perto de 8% até o último trimestre do ano, mesmo tendo em vista a gradual recuperação da economia esperada para os próximos meses. Juros em queda terão efeitos positivos sobre o Orçamento do governo e sobre a atividade econômica, compensando em parte a queda na arrecadação de tributos.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).