terça-feira, 8 de junho de 2010

Reflexão do dia – Marco Antonio Villa



"A discussão sobre a 'mexicanização' política do Brasil (não a novelesca) é antiga. Em 1970, após a grande vitória da Arena, falou-se em mexicanização. Disseram que a Arena era o PRI. Em 1986 falaram que o PMDB era o PRI, após a vitória cachapante de novembro. Nem a Arena ou o PMDB tiveram qualquer semelhança com o PRI. O PRI era um partido de Estado e que carregava a mística da Revolução de 1910. Surgiu em 1929 (como PNR) com o objetivo de institucionalizar a revolução, evitando que os caudilhos empurrassem a política para ser resolvida nos campos de batalha. Virou PRM durante o sexênio de Lázaro Cárdenas e PRI durante o mandato de Ávila Camacho. Dominou a cena política até 2000 com uma estrutura de partido única na América Latina (a filiação não era individual mas por organizações).

No Brasil nunca tivemos algo do gênero. O PT também não é o PRI. Mas poderemos ter uma mexicanização à brasileira com o PT, caso vença as eleições de outubro. O PT funcionaria como o partido que daria a coloração ideológica para a base. Não seria o partido hegemônico, mas aquele que daria organicidade ao bloco do poder, que teria, na partilha do Estado, a liderança do PMDB. Poderia combinar crescimento econômico, atendimento das demandas de várias classes e suas frações e paulatino asfixiamento das liberdades (que Lula tentou mas não conseguiu).
"



(Marco Antonio Villa, no blog do Villa, em 7 de junho de 2010.)

Baixarias:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A campanha presidencial brasileira está atingindo graus de baixeza política que se costuma criticar nas eleições americanas. Por lá, é habitual na época da eleição surgirem livros escandalosos com supostas revelações contra os candidatos, um hábito que os marqueteiros republicanos cultivaram e que acabou sendo usado também pelos democratas contra George W. Bush.

Mas o surgimento de dossiês com supostas acusações que derrubarão o candidato tal ou qual já está se tornando uma nociva tradição, graças ao PT.

Agora, sabe-se que a campanha da candidata oficial Dilma Rousseff tentou contratar ex-agentes de informação para montar dossiês contra o candidato do PSDB, José Serra, e parentes dele, além de grampos telefônicos, o que introduz na disputa eleitoral um tom acima de ilegalidade.

Junto a tudo isso, anunciase em press releases escandalosos distribuídos como propaganda política um livro de um jornalista investigativo que supostamente revelaria os bastidores das privatizações, com denúncias de corrupção.

Nas campanhas eleitorais americanas, episódios semelhantes já relatados aqui na coluna ficaram tristemente famosos, como o filmete de propaganda eleitoral dos veteranos de guerra do Vietnã acusando o candidato democrata de 2004 John Kerry de não merecer as medalhas e honrarias por bravura que recebeu.

Um livro foi publicado com o título de “Unfit for command” (“Despreparado para comandar”), tendo ido para a lista de best-sellers.

Outros candidatos a presidente também foram alvos de campanhas difamatórias, como o próprio George W. Bush e Bill Clinton, mas os dois foram reeleitos.

Um dos livros mais violentos contra o expresidente Bush foi escrito por Molly Ivins, uma jornalista de esquerda do Texas, que, a começar pelo título, marcou o presidente com um apelido depreciativo: “Shrub”, o mesmo que “Bush” em inglês, uma espécie de arbusto.

O livro “Shrub: The short but happy political life of George W. Bush” (“A curta mas feliz vida política de George W. Bush”) faz acusações pesadas sobre negociatas e acordos políticos.

A relação passada de Barack Obama com o ex-pastor radical reverendo Jeremiah Wright, ou com William Ayers, professor de Chicago que participou de um grupo terrorista nos anos 60 do século passado, foram assuntos do livro “Um caso contra Barack Obama, a improvável ascensão e a não examinada agenda do candidato favorito da mídia”, de David Freddoso, um jornalista de direita da “National Review”, lançado em plena campanha de 2008.

Aqui no Brasil, o PT estaria inaugurando uma nova estratégia eleitoral ao abrigar no comitê eleitoral de sua candidata o jornalista que lançará seu livro em plena campanha, com acusações contra Serra.

As explicações dadas até agora pela direção do PT sobre a participação do comitê eleitoral na produção de dossiês contra o candidato tucano não passam de tentativas vãs de escapar da acusação central: por que o jornalista Luiz Lanzetta, principal responsável pela montagem da assessoria de imprensa do comitê eleitoral da candidata oficial, reuniria-se com dois ex-agentes de órgãos de informação? Se foi ele quem convidou os arapongas, ou se foi contatado por eles, não faz a menor diferença.

O fato concreto é que quem não está interessado em dossiês e grampos telefônicos não marca reunião com conhecidos personagens que atuam na clandestinidade do sistema de informações.

Da mesma maneira, não se justifica a indignação de Dilma Rousseff por ter sido apontada por José Serra como responsável pelo dossiê, e muito menos o processo do PT contra o candidato tucano.

Se Lanzetta trabalhava no comitê eleitoral de Dilma, sendo um dos principais responsáveis pelo esquema de comunicação da campanha, qualquer decisão que tomasse seria de responsabilidade final da candidata, mesmo que ela não soubesse de nada.

Esse vício petista de a principal figura política fugir da responsabilidade alegando desconhecimento vem de longe, a começar pelo escândalo do mensalão.

O presidente Lula se disse traído num primeiro momento, os principais líderes petistas choraram na tribuna da Câmara quando o marqueteiro Duda Mendonça confessou na CPI que recebera dinheiro ilegal no exterior pela campanha de Lula, mas pouco a pouco a versão oficial foi se modificando.

Lula, de não saber de nada, acabou sendo o primeiro a justificar o ocorrido, afirmando que se tratava de dinheiro de caixa dois, que seria muito comum nas campanhas eleitorais brasileiras.

Hoje, já disse várias vezes que o caso não aconteceu, ou que o que aconteceu foi uma trama tucana para pegar petistas em uma armadilha.

Até hoje o episódio dos “aloprados” petistas em São Paulo na eleição de 2006 para o governo estadual não foi esclarecido, apesar de toda a alardeada eficiência da Polícia Federal.

Assessores diretos do presidente Lula e do então candidato ao governo paulista pelo PT Aloizio Mercadante foram apanhados em flagrante com um monte de dinheiro para comprar um suposto dossiê contra o tucano José Serra, e ninguém sabia de nada, ninguém viu nada.

E ninguém está preso.

Desta vez, a coisa se repete com requintes de ilegalidade, pois estavam tentando até mesmo grampear o candidato adversário, e ninguém também sabe de nada.

O responsável pela contratação de Lanzetta, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, homem de confiança de Dilma, a quem conhece desde a luta armada contra a ditadura militar, não sabe de nada, mas está sendo afastado do comando da campanha, de onde o próprio Lanzetta já foi saído.

E a candidata fica indignada com a insinuação de que ela tem responsabilidade sobre o que ocorre em sua própria campanha eleitoral.

Durma-se com um barulho desses.

Dragão tatuado no braço:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A tensão que assola o ambiente na campanha presidencial da oposição não se deve à procura de um candidato, ou candidata, a vice de José Serra. Isso é, no máximo, um problema.

Bem como é um transtorno a perda da dianteira folgada transformada em empate nas pesquisas com a adversária Dilma Rousseff. Tudo isso é do jogo. Preocupa, mas não é suficiente para abalar os nervos de gente habitualmente fleumática, acostumada a disputar eleições.

O que desnorteia o PSDB são os movimentos e os objetivos do ex-governador Aécio Neves. O que anda acontecendo no meio dos tucanos é uma crise de confiança.

Não obstante os desmentidos, disfarces e tentativas de identificar "mensageiros ocultos" por trás dessa notícia que virão a seguir, não há outra maneira de definir a situação.

E como se obtém esse tipo de certeza? Ao menos aqui nessa seara não é atendendo à solicitação de alguém interessado em envolver outrem (no caso, Aécio Neves) em intrigas partidárias ou reproduzindo "informação" de um desafeto que relata sua versão dos fatos com intuito de criar constrangimento ao personagem que procura atingir.

Esse truque é bastante comum. Está em uso agora no mais novo caso de dossiê a provocar engalfinhos entre PT e PSDB.

Mas retomemos. A certeza de que Aécio Neves é alvo de aguda desconfiança do núcleo de coordenação de campanha resulta da soma de conversas, reações, avaliações, fatos presentes e passados. Não de quaisquer conversas.

A base é que sejam fundamentadas em gente com acesso às decisões e que não tenham por Aécio um mínimo resquício de antipatia. Do contrário a premissa será falsa e a conclusão estará errada.

Onde hoje o mineiro provoca o mais forte desapontamento é exatamente onde todo tempo residiu a ideia de que todo e qualquer movimento dele deveria ser respeitado e reconhecido pelo conjunto do partido como forma legítima de se afirmar politicamente no cenário nacional. Sob a seguinte lógica: o que é bom para Aécio acabará sendo bom para o PSDB.

Aí se incluem cordialidades político-eleitorais com Lula em 2006 ao tempo do voto "lulécio"; visitas no ano de 2007 ao PMDB para fotos enquanto grassavam versões (sempre desmentidas e depois retomadas) sobre possíveis filiações ao partido; aliança em 2008 com o petista Fernando Pimentel na eleição da Prefeitura de Belo Horizonte e fazer um "laboratório" para lançar Pimentel ao governo de Minas em 2010 com o apoio de Aécio; demonstrações de apreço político a Ciro Gomes, inimigo assumido daquele que viria a representar o partido na eleição presidencial.

A partir do fim da eleição municipal, iniciou-se o jogo da candidatura presidencial paralelamente ao da candidatura a vice. Aécio defendia as prévias internas, mas não fazia movimentos efetivos para que elas concretizassem.

Em setembro de 2009 chegou a combinar com a direção do PSDB que tiraria uma licença do governo para viajar pelo País a fim de "trabalhar" os diretórios, mas do anúncio não evoluiu à prática.

Em dezembro desistiu da candidatura, assegurou que não seria vice. Por três vezes negou peremptoriamente, mas sempre por iniciativa de alguém de seu grupo o assunto renasceu inúmeras vezes.

Com isso, o processo de escolha atrasou, se desgastou e hoje a quantidade de nomes postos e retirados da cena dá a impressão de que todos correm da missão como de uma doença contagiosa.

Muito bem. Se o núcleo de decisão do PSDB desconfia de que foi vítima das artimanhas de Aécio, por que não encerrou o assunto antes e tocou o processo sem ele?

Medo do efeito de um "racha" e dependência real de Minas.

Moedas, porém, têm duas faces. Dois parceiros de Aécio foram vítimas de cordas excessivamente esticadas em longos, muitas vezes incompreensíveis, nem sempre no interesse coletivo dos respectivos partidos, lances de vaivém: Fernando Pimentel e Ciro Gomes. Ambos abatidos por Lula.

Se o presidente resolver eleger Hélio Costa ao governo de Minas será um poderoso adversário ao projeto prioritário de Aécio de manter o controle político de seu Estado.

A outra face da velha moeda:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Ficou para trás aquele Lula sem gravata, a quem se atribuía a responsabilidade pelo estado de desencontros, provocações, conivências, suspeitas e informalidades republicanas, nos dois mandatos, sob risonha condescendência em relação ao que separa o país que temos daquele outro que queremos (e ninguém sabe exatamente qual seja). Bateu em porta errada quem o culpou pela proliferação risonha e franca dos costumes comprometedores de uma República que só existia na nossa nostalgia do futuro. A verdade é que Luiz Inácio Lula da Silva é o produto eleitoral da mal contada história que se acumulou à porta da República e ainda não foi coletada, filtrada e passada adiante. Fica mais fácil entender o que se passa e preparar-se para o que vem por aí quando se verifica que não foi propriamente Lula quem deixou o Brasil desse jeito, e sim o Brasil que o elegeu pelo voto direto.

As pesquisas de opinião puseram as coisas no lugar provisório para quem lê também nas entrelinhas. Lula bate com a cabeça no teto das pesquisas. Não estava na cogitação presidencial reformar aquele país que não foi obra dele, pois recusou a empreitada – quando estava com a faca e o queijo na mão – ao se apresentar a oportunidade. Reforma política só na hipótese de tremor institucional que rache o próprio governo. Bastava-lhe o Brasil como se apresentava. Não se sentia eleito para mais do que isso e, antes de sair, vem convencendo a opinião pública, e se convencendo, de que sua parte em dois mandatos era mesmo revelar o Brasil aos brasileiros. A outra face da moeda, que começa a circular depois de sair, terá a sua efígie. O mesmíssimo Lula – curado da expectativa que o precedeu, de barriga cheia com dois mandatos (resistiu ao terceiro que ele mesmo recusou diante do perigo à vista), com 80 e tantos por cento de admiração popular pela maneira como faz e não acontece – não se livrará da responsabilidade do que vier a acontecer, daqui por diante, como consequência, tanto a previsível como a outra.

Um presidente da República que chega a ser multado cinco vezes pela Justiça Eleitoral, antes de começar a campanha, pode estar fazendo ouvidos de mercador mas não quer fazer história. Desse julgamento que se esboça, o presidente Lula não se livrará assim que puser o pé fora do mandato, que é quando a verdade sobre os governantes sai das gavetas e ganha potencial incalculável. No modo petista de entender a política, a campanha presidencial tem uma zona de sombra sob a qual tudo é permitido, principalmente o eufemismo burocrático denominado dossiê. Nada de bom se pode esperar de um princípio que traz em si o fim segundo o qual, quanto pior, melhor. Porque, então, quanto melhor, pior. Dependendo de quem é um e quem é o outro.

PTrificado :: Melchiades Filho

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Em público, Lula tem reiterado que é hora de "despaulistizar" a política no Brasil. Mas é justamente a seção paulista do PT que saiu fortalecida da pré-campanha.

A crise do dossiê anti-Serra serviu para desidratar a última liderança capaz de desafiar o velho -e contestado- status quo do partido.

Fernando Pimentel, melhor amigo de Dilma Rousseff e apontado, com justiça ou não, como o responsável pelos novos aloprados, teve ontem de desistir da candidatura ao governo de Minas Gerais.

Caso saísse vencedor no segundo maior colégio eleitoral do país, o ex-prefeito de Belo Horizonte seria um contrapeso a Antonio Palocci, José Dirceu, Marta Suplicy, Rui Falcão e outros petistas de São Paulo que se aproximaram de Dilma e hoje até lhe indicam o que vestir.

Nos demais Estados, não pintou outro nome. O PT não cresceu como o previsto na era Lula. No Nordeste, por exemplo, foi o aliado PSB que mais posições conquistou.

Em contrapartida, desde os tempos áureos do Campo Majoritário não se via o PT paulista tão unido.

As várias forças do partido no Estado voltaram a se agrupar em 2009, por uma questão de sobrevivência. Havia ainda a ressaca dos vários escândalos (mensalão, aloprados 1, quebra do sigilo do caseiro). E havia o desconforto com o projeto de eleger ao Planalto uma ministra desconhecida e inexperiente. Não fazia sentido desperdiçar energia com rivalidades locais.

Agora, ironicamente, os paulistas se abraçam por causa das boas chances de vitória à Presidência.

Não cuidam só de assegurar a atenção da candidata e a influência sobre os rumos da candidatura.
Empenham-se, também, em tomar o controle da máquina da campanha, sobretudo a publicidade e a comunicação, e fincar âncora nessas áreas num governo Dilma.

Dividir esse mercado futuro com Pimentel não cabia no roteiro.

No submundo da arapongagem :: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Tem supostos demais e dossiê de menos no "suposto dossiê" encomendado pela campanha de Dilma Rousseff. O que era uma história de espionagem dentro da campanha do PT transformou-se, de uma hora para outra, numa investigação sobre o papel de José Serra nas privatizações, no governo FHC. No submundo da arapongagem brasiliense, um entulho da ditadura, nada é sólido e tudo se desmancha no ar: o que começou no regaço de Dilma, numa reviravolta da trama acabou no colo de Serra.

A surpresa é o candidato do PSDB esquentar um assunto que parecia de vida curta, uma lambança num comitê do PT que não foi adiante. Gato escaldado tem medo de água fria. É possível que Serra, o alvo real dos aloprados de 2006 (pelo menos é assim que ele se considera), talvez tenha resolvido agir preventivamente. Talvez. É certo que um livro sobre as privatizações do PSDB deve ser lançado após a Copa do Mundo. Mas também não há como responsabilizar Dilma por um dossiê que só parece existir no plano do "suposto".

O que há, e não é de hoje, é uma disputa de poder no comitê da campanha do PT que já havia sido contornada por Dilma, no jeito Dilma de ser, quando a história da arapongagem se tornou pública. Dizia que o PT espionava o PT, além dos adversários. Tudo leva a crer que se trata de uma peça de ficção a denúncia segundo a qual havia escuta nos telefones dos coordenadores da campanha com fins preventivos. Mas é evidente que a campanha de Dilma, como outras campanhas, recolhe informações sobre os adversários, sobretudo, para usar no programa de televisão, o que não é ilícito - até agora que sugere que foram adotados métodos ilegais para a obtenção de informações.

"Amigo de 40 anos" de Dilma Rousseff, o fato é que o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel nunca se impôs como o comandante de fato da campanha petista. Pimentel sempre foi uma espécie de "outsider" na nomenclatura petista. E desde que passou a despachar em Brasília, o ex-prefeito sempre teve os olhos mais voltados para a política mineira, dividiu atenção e energia e ficou sob o assédio do grupo do PT paulista no comitê. Formalmente, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, é o coordenador de uma campanha que aos poucos ficou à feição do ex-ministro Antonio Palocci e de outro "amigo de 40 anos" da candidata Dilma, o deputado estadual Rui Falcão (SP).

Falcão entrou na campanha como representante do PT, não como um integrante do grupo de Marta Suplicy, como costuma ser identificado no aparato partidário. Na realidade, em sua nova empreitada eleitoral, candidata ao Senado, Marta renovou o time que costumava acompanhá-la nas eleições que disputou até perder a prefeitura de São Paulo para José Serra (a interlocutores, Falcão disse que de fato não está próximo da atual campanha de Marta, mas que mantém boas relações e fala com alguma frequência, ao telefone, com a ex-prefeita).

Falcão responde, na campanha, por uma área para a qual esteve cotado na composição da nova direção do PT: comunicações. Ao chegar, encontrou todos os espaços preenchidos por Pimentel. Segundo pessoas próximas a Pimentel, o que correu a seguir foi uma tentativa de Falcão para aninhar na campanha empresas do círculo do PT paulista, o que teria deflagrado uma intensa disputa comercial no comitê eleitoral. Internamente, Falcão negou qualquer interesse pessoal em beneficiar alguma empresa e que houvesse motivos para a briga até porque campanha teria espaço suficiente para abrigar a todos. Prova disso seria que a empresa paulista de comunicação que já prestava serviços ao PT também foi contratada.

Nos contatos para contratar uma empresa de segurança, efetivamente, a campanha de Dilma conversou com o escritório de um conhecido serviço de arapongagem de Brasília. À frente, a turma de Pimentel. Agentes ligados ao escritório chegaram a fazer uma inspeção na casa onde funcionam serviços da campanha de Dilma, como aqueles relacionados à internet, pesquisa e imprensa. Detectou vários "furos" na segurança, inclusive dos telefones. A contratação (deste escritório especificamente) não chegou a ser efetivada, mas a movimentação expôs as divergências internas da campanha que levaram Dilma Rousseff a mandar "parar tudo".

No submundo da arapongagem há góndolas ao gosto do freguês. Originariamente, o que Pimentel queria era contratar um serviço de segurança a fim, entre outras coisas, de conter vazamentos de informações da campanha. A conversa evoluiu para uma contraproposta: a montagem de um serviço para neutralizar um suposto (outra vez) esquema de espionagem - e chantagem - que estaria sendo operado pela campanha do PSDB.

Até onde se sabe, a conversa do comitê de Dilma com os arapongas em questão parou por aí - ficaram as histórias de que o deputado e ex-delegado da Polícia Federal Marcelo Itagiba (PMDB) estaria fazendo dossiês sobre a base aliada do governo e que um livro sobre as privatizações chega às lojas depois da Copa do Mundo. Supostamente, com o relato sobre o envolvimento de familiares de Serra com o processo. Uma denúncia que frequenta o noticiário a cada eleição de que Serra participa, desde 2002, sem que nada tenha sido provado.

O episódio dos aloprados sem dúvida dá a Serra razões para prevenção. Naquela época, o que a operação policial mostrou é que um grupo tentava falsificar um dossiê que envolveria os tucanos em irregularidades no Ministério da Saúde - o tucano concorria ao governo de São Paulo contra o hoje senador e novamente candidato Aloizio Mercadante. Alguns milhões de reais foram apreendidos nas operações policiais, mas a PF nunca chegou à origem do dinheiro. Os principais implicados na fase policial também foram exonerados pelo Ministério Público.

Por outro lado, ao transformar em cavalo de batalha uma denúncia que não se sustenta em pé, Serra dá sua contribuição pessoal para uma campanha cujo "trailer" aponta para um nível baixo.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Aécio mobiliza prefeitos em favor de tucano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na primeira aparição ao lado de Serra após voltar de férias, ex-governador cobra apoio de aliados ao presidenciável e descarta dissidência no PSDB mineiro

ENVIADO ESPECIAL

MONTES CLAROS - Pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra visitou Montes Claros ao lado do ex-governador Aécio Neves, que mobilizou os aliados em favor da candidatura do tucano. O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), que vai tentar a reeleição, também participou do encontro com lideranças e prefeitos da região norte de Minas.

Na primeira aparição com o ex-governador paulista desde que voltou das férias ao exterior, Aécio cobrou ontem dos cerca de 60 prefeitos do PSDB, PPS, DEM, PP, PTB e PSC presentes no auditório do Automóvel Clube o voto casado em Anastasia e no presidenciável tucano, chamado sempre de "presidente Serra".

Aécio encerrou seu discurso conclamando as lideranças a manter as "mangas arregaçadas" para eleger Serra: "Rumo à vitória da decência, para encerrar esse ciclo de governo que não interessa mais ao País."

Após o evento, em entrevista coletiva, o ex-governador mineiro mandou recado a eventuais dissidentes. "Se não estiver (com Serra), sai do PSDB."

Reivindicações. Presidente da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene, o prefeito de Patis, Valmir Morais (PTB), entregou ao presidenciável do PSDB a Agenda de Desenvolvimento do Norte de Minas, documento com reivindicações da região ? como a construção de um porto seco e de um aeroporto específico para a exportação de frutas da área irrigada do São Francisco, a renegociação das dívidas de pequenos e médios produtores rurais; além de incentivos para a exploração de minério de ferro e gás natural na região.

Morais deixou claro que Aécio é a "bússola" dos políticos mineiros e disse que a mesma lista foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato à reeleição em 2006, classificando o resultado como uma "decepção". "Não recebemos satisfação nenhuma", afirmou.

Serra se comprometeu em levar "muito em conta"" o documento na formulação de seu programa de governo. O tucano também prometeu a duplicação de estradas e a construção de um câmpus universitário na cidade.

Ao final, depois de ressaltar a fama da cachaça de Salinas ? cidade vizinha a Montes Claros ? e reclamar que não havia ganhado "nenhuma garrafinha", Serra disse que, se for eleito, pretende acumular, durante seis meses, a presidência da República com a presidência da Sudene.

Continuidade. Aécio e Anastasia mantiveram o discurso confiante ao comentarem a definição pelo senador Hélio Costa (PMDB) como candidato da base aliada de Lula ao governo de Minas. O governador disse que acredita numa vitória no primeiro turno da eleição. E Aécio reiterou o discurso de continuidade contra o risco de retrocesso no Estado. "Qualquer que seja o adversário, estamos prontos para vencer. Por uma razão: Minas não quer retrocesso, Minas quer continuar avançando", afirmou.

Interpelado pelo PT, Serra visita Aécio

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, esteve ontem no Norte de Minas junto do ex-governador Aécio Neves, que vai concorrer por uma vaga ao Senado na chapa tucana. Na ocasião, Serra afirmou desejar que a campanha deste ano não tenha “baixarias”, ao responder a uma pergunta sobre o caso de um suposto dossiê do qual teria sido vítima. Ontem, o PT interpelou Serra judicialmente, para que ele confirme ou não declarações de que a ex-ministra Dilma Rousseff, sua principal rival na disputa à Presidência, seria responsável pelo suposto documento.

Pesquisa Junto a Aécio, Serra também fez comentários sobre a recente pesquisa Ibope, que mostra a subida da petista em relação ao o tucano no percentual de intenções de voto, que coloca ambos empatados com 37%.

– Pesquisa eleitoral vai ter muita até lá (as eleições) e eu não costumo comentar. A campanha eleitoral vai mesmo acelerar depois da Copa do Mundo – disse Serra.

Também indagado sobre as pesquisas, Aécio demonstrou otimismo: – Sou extremamente otimista em relação à vitória do companheiro José Serra.

Serra irá para a convenção sem vice escolhido

DEU EM O GLOBO

Presidente do PSDB diz que partido e aliados terão até o fim de julho para completar a chapa

MONTES CLAROS (MG) e BRASÍLIA. O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), admitiu ontem que a escolha do candidato a vice na chapa do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, deverá mesmo ficar para depois da convenção nacional do partido, marcada para este sábado, em Salvador: — Não vai dar para resolver isso até a convenção, embora nossa ideia fosse resolver logo — admitiu Guerra.

A prioridade da coordenação da campanha tucana esta semana é organizar a convenção que formalizará a candidatura de Serra. Como o vice da chapa não estará definido, deverá ser delegado à Executiva Nacional do PSDB o poder para referendar posteriormente o nome do escolhido, assim como de novas alianças que possam ser garantidas até 30 de junho.

— Não é obrigatório decidirmos até a convenção o nome do vice. Nosso prazo para isso vai até 30 de junho — reiterou o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).

Ontem, a primeira viagem de Serra ao norte de Minas Gerais teve clima de campanha a pleno vapor. Ao lado dos também tucanos Aécio Neves, ex-governador do estado, e Antônio Anastasia, atual ocupante do cargo e candidato à reeleição, Serra fez corpo a corpo e elogiou Aécio, que tem forte apelo entre os líderes da região.

— Vamos governar juntos o Brasil, vamos governar juntos Minas com Anastasia governador, vamos governar juntos com esse grande líder que é o Aécio Neves — discursou Serra para cerca de 300 pessoas, incluindo prefeitos, deputados, vereadores e outros líderes políticos e empresariais da região.

Serra mira em Dilma e critica 'jogo sujo' na eleição

DEU EM O GLOBO

Sem citar nominalmente rival petista, tucano diz que dossiê é "característica desse pessoal"

MONTES CLAROS (MG). O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, pediu o fim da “baixaria” e do “jogo sujo” na eleição, e voltou a acusar ontem a sua oponente petista, Dilma Rousseff, pelo suposto dossiê que estaria sendo montado contra o tucano e sua filha, Verônica Serra. Serra evitou citar nominalmente Dilma ou outro integrante do PT, mas disse que esse tipo de atitude é “característica desse pessoal”: — O que precisa acabar é a baixaria, é contratar arapongas, é espionar, é denegrir famílias — disse o tucano. — A gente precisa acabar no Brasil (com essa história de) que a cada eleição, como em 2006, a gente fica encontrando essas coisas que não fazem nenhum bem ao processo democrático. Estamos voltando àquela velha prática, característica desse pessoal, de jogo sujo, abaixo da cintura, ataques a familiares e coisas do gênero.

Em evento ao lado do ex-governador de Minas Aécio Neves e vários outros líderes tucanos em Montes Claros, ao norte de Minas, Serra se mostrou irritado ao ser perguntado sobre o assunto, principalmente sobre a ação que o PT apresentou à Justiça para que ele explique a acusação de que Dilma seria “responsável” pela questão.

— Esse episódio de dossiê deve ser jogado na lata de lixo da História.

Não contribui em nada para nossa democracia — disse.

Em seguida, no entanto, voltou a direcionar a artilharia contra a campanha petista, que, segundo ele, abriga “todas as pessoas, ou algumas delas” envolvidas no escândalo.

E declarou que não deve explicações sobre nada relacionado à questão.

— Tudo que a imprensa publicou deve ser respondido por quem? Pela candidata que chefia a sua campanha. O resto é factóide. Basta vocês olharem as revistas, os jornais, que vocês vão ver quem é que tem que dar explicação para o Brasil a respeito do que está acontecendo.

Quem tem que dar explicação é a candidata que é chefe da sua própria campanha, como eu daria se houvesse acontecido algo no meu caso — afirmou o tucano.

Já Aécio Neves rebateu informações divulgadas na última semana de que a montagem do suposto dossiê teria partido do próprio ninho tucano, durante a disputa entre ele e Serra pela indicação do partido para a disputa presidencial.

— Exijo respeito. A minha trajetória política é conhecida. E nós sabemos onde estão os aloprados. Até endereço têm — disparou, referindo-se à mansão em Brasília alugada pela campanha petista para o trabalho da equipe que seria responsável pela montagem do dossiê.

Aécio: Engajamento total em Minas

DEU NO ESTADO DE MINAS

Presidenciável do PSDB recebe a garantia de Aécio Neves de seu compromisso com a chapa tucana. Primeira atividade pública dos dois foi em Montes Claros, em encontro com prefeitos

Luiz Ribeiro

O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, recebeu, ontem, o compromisso do ex-governador Aécio Neves de engajamento total em sua campanha. A manifestação foi feita em Montes Claros (Norte de Minas), onde, pela primeira vez desde que ambos se desincompatibilizaram dos governos de Minas e de São Paulo para a disputa da eleição de outubro, Aécio apareceu publicamente ao lado de Serra numa atividade política, que contou ainda com a presença do governador Antonio Anastasia, que vai concorrer à reeleição.Embora o trabalho para a busca de votos só deverá começar em 4 de julho, prazo final para a homologação das candidaturas, a visita do presidenciável tucano a Montes Claros foi em clima de campanha eleitoral. Depois de participar de um encontro com lideranças, no Automólvel Clube, que contou com a participação de cerca de 300 participantes, ao lado de Aécio, Anastasia, deputados federais e estaduais e candidatos a deputado, José Serra caminhou a pé do local da reunião até o Café Galo, ponto conhecido e parada obrigatória de políticos que visitam a cidade.

Do Automóvel Clube até o conhecido estabelecimento, Serra e comitiva percorreram cinco quarteirões, atravessando a Praça Doutor Carlos, a mais central da cidade, em horário movimentado. Ao longo do trajeto, o pré-candidato a presidente do PSDB, parou em algumas lojas e atendeu pedidos para tirar fotos ao lado de eleitores. Houve o mesmo assédio com Aécio. No Café Galo, cerca de 200 pessoas esperavam pelos pré-candidatos com bandeiras e faixas, a maioria deles integrantes de uma claque que animou o encontro no Automóvel Clube. Serra ficou no local por cerca de 10 minutos, posando para as fotos com a xícara de café, juntamente com Aécio e Anastasia.

Participaram do encontro cerca de 60 prefeitos, segundo cálculos da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), que organizou o evento. Para a entidade, o número de participantes foi uma prova de afastamento da ameaça à campanha de Serra pela "Dilmasia", movimento que visa o voto casado dos prefeitos na presidenciável petista Dilma Roussef f, e na reeleição do governador Antonio Anastasia.

O presidente da Amams, Valmir Morais de Sá, falou em nome dos prefeitos da região: "Nós vamos seguir uma bússola, que é o ex-governador Aécio Neves. Vamos seguir a direção que ele indicar. Não tem meio caminho". Em discurso inflamado, Aécio Neves – que resistiu em ser candidato a vice de Serra para concorrer ao Senado – reiterou que está engajado na campanha do ex-governador paulista e de Anastasia para a reeleição em Minas. Ele convocou os prefeitos a acompanhá-lo. "Quem seguir Aécio Neves, quem acompanha Aécio Neves vota em José Serra e Anastasia", disse o ex-governador mineiro, lembrando que "não se faz política sem companheirismo".

O ex-governador José Serra fez um discurso recheado de frases de efeito e elogios a Aécio, que classificou como "a grande liderança que Minas Gerais oferece ao Brasil." Prometeu que, se eleito, vai investir maciçamente na saúde e na educação, priorizando o ensino profissionalizante. "Vamos entupir o Brasil de escolas técnicas". Disse que também que sempre disputou eleições não com o intuito de tirar algum benefício pessoal, mas com o espírito de "um servidor do povo brasileiro."

Questionado, em entrevista, sobre qual será o seu principal discurso de campanha, Serra respondeu: "O meu principal discurso de campanha é que aquilo que Brasil pode (fazer) mais, especialmente nas áreas onde andou para trás, na prática. É o caso da saúde, da segurança, do ensino, inclusive do ensino profissionalizante, que não acompanha as necessidades do Brasil. Essas são as áreas cruciais, para atender as famílas, principalmente as pessoas mais pobres". Ele evitou comentar resultados das pesquisas. "A pesquisa é apenas a fotografia de um momento", disse. Serra alegou ainda desconhecer qualquer tipo de levantamento que aponta resistência ao seu nome por parte de um grupo de prefeitos mineiros, incluindo filiados ao PSDB.

Vice

O PSDB realizará a convenção para a homologação do nome do ex-governador paulista José Serra como candidato a presidente da República no sábado. Mas a escolha do candidato a vice na chapa somente será feita no fim do mês. A informação foi repassada, ontem, pelo ex-governador Aécio Neves. Ele repetiu que a escolha do vice deverá ser feita exclusivamente pelo próprio Serra, mas que ele também deverá participar da indicação. "A questão continua sendo uma prerrogativa do Serra. Mas acredito que ele deverá consultar os companheiros", afirmou o ex-governador mineiro, que também reafirmou que a escolha deve ser feita com calma.

Aécio pede votos para Serra em Minas

DEU EM O GLOBO

"Talvez não haja alguém com mais disposição que eu para ajudar Vossa Excelência", diz ele

MONTES CLAROS (MG). Na visita ao norte de Minas, o ex-governador Aécio Neves, que deverá disputar o Senado pelo PSDB, pediu voto para Serra.

Declarou que percorrerá o estado para dizer “diretamente à dona de casa, ao estudante, ao empresário, ao homem do campo: me ajudem a continuar trabalhando por Minas Gerais”.

— Volto a Minas, como fiz na última semana, para dizer que neste estado, e talvez não haja no Brasil alguém com mais disposição do que eu, mais determinado do que eu, para ajudar a que Vossa Excelência chegue à Presidência da República para que encerremos este ciclo de governo que não interessa mais ao país. A partir de agora, mangas arregaçadas — afirmou Aécio, durante corpo a corpo com Serra e o governador Antonio Anastasia, que disputará a reeleição.

Aécio estava de férias até semana passada.

PT nacional enquadra petistas de Minas e fecha apoio a Hélio Costa

DEU EM O GLOBO

Para Dutra, partido forte no estado é o "PL: Palácio da Liberdade"

Maria Lima e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Num clima descrito por petistas mineiros como de “velório”, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, formalizou ontem decisão do partido e da pré-candidata Dilma Rousseff de enquadrar o PT de Minas e forçar o apoio ao peemedebista Hélio Costa na disputa pelo governo do estado.

Assim, enterrou a pretensão do PT mineiro de lançar ao cargo Fernando Pimentel, exprefeito de Belo Horizonte e um dos coordenadores da campanha presidencial.

Com a decisão, fica garantida a realização da convenção do PMDB, sábado, para a formalização da aliança nacional entre os dois partidos em torno da candidatura Dilma.

PSB, PR e PRB devem apoiar Anastasia Ao final de um dia de longas e tensas reuniões, com participação direta de Dilma, Dutra anunciou que Pimentel será candidato ao Senado e que um nome do PT, ainda a ser escolhido, será o vice da chapa de Hélio Costa.

Dutra admitiu que Costa terá de liderar um processo de entendimento para atrair partidos da base que não se recusam a apoiá-lo, como já anunciaram apoio ao tucano Antonio Anastasia, candidato de Aécio Neves.

Por enquanto, apenas o PT, fraturado e abatido, e PCdoB garantiram trabalhar para Costa.

O PSB do prefeito Márcio Lacerda avisou que, sem o PT no páreo, apoiará Anastasia. O PR de Clésio Andrade também deve ir com o tucano, além do PRB.

— Estou indo para o velório.

Mas mesmo com a alma ferida, o PT vai trabalhar para tentar eleger Hélio Costa e Pimentel.

Mas o PSB, o PRB e o PR vão embora para o Anastasia — disse o deputado Reginaldo Lopes , presidente do PT de Minas, ao chegar para o anúncio.

— Não temos controle sobre o voto do eleitor. Se o eleitor mineiro vai de Dilmasia ou de Serrosta, quem pode controlar? Nós não vamos fazer campanha para o Anastadilma, mas a vontade do eleitor não tem controle — afirmou Dutra, referindose à possibilidade de o eleitor votar em Dilma e Anastasia ou em Serra e Costa.

Costa disse que vai negociar o preenchimento de sua chapa para tentar obter mais apoio: — Estamos em negociações avançadas que poderão redundar numa composição até mesmo na chapa majoritária. Até porque ainda temos uma vaga ao Senado e duas suplências, que podem ser destinadas aos partidos da base. Notadamente deveremos continuar a conversar com PR, PDT, PRB e PCdoB — disse Costa Segundo Dutra, será uma eleição muito difícil, porque o partido mais forte em Minas é o “PL: Palácio da Liberdade”, alusão ao peso de Aécio.

Mesmo um pouco abatido, Pimentel fez questão de participar do anúncio. Disse que não sabe se conseguirá compatibilizar sua campanha com a de Dilma.

— Não sei. Acho que é compatível, mas isso tem de ser discutido com a própria ministra Dilma e os companheiros de Minas para ver qual é a demanda de um e de outro. O importante é que tivemos um processo de debate cristalino, que está encerrado.

Nós fechamos a chapa da unidade PMDB/PT, que responde à necessidade do acordo nacional e é a chapa com a qual vamos vencer a eleição em Minas — disse Pimentel.

O presidente da Câmara e candidato a vice na chapa de Dilma, Michel Temer, garantiu a Dutra que 90% do diretório do PMDB vão homologar a coligação, no sábado.

Cúpula do PT soube de dossiê no fim de 2009

DEU EM O GLOBO

A cúpula petista da coordenação da campanha de Dilma Rousseff sabe, desde o fim de 2009, da existência de um suposto dossiê contra o tucano José Serra e sua filha, Verônica Serra. O material passou a ser visto como uma arma secreta, a ser usada em caso de necessidade.

Cúpula do PT sabia de dossiê

Além de Pimentel, dirigentes da campanha de Dilma conheciam material contra Serra

Gerson Camarotti e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA - Apontado como bode expiatório no episódio do suposto dossiê contra o pré-candidato José Serra, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) não era o único que sabia das denúncias. Toda a cúpula petista que integra a coordenação de campanha da pré-candidata Dilma Rousseff tinha conhecimento, desde o fim de 2009, da existência de um farto material investigativo contra o tucano e sua filha, Verônica Serra. Ontem, dois jornalistas envolvidos no caso negaram a versão do delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa, de que o comitê petista desejou contratar serviços de espionagem.

Segundo relatos feitos ao GLOBO por dirigentes do PT, o partido esperava que aliados do exgovernador Aécio Neves (PSDB-MG) usassem o material durante o processo de disputa interna no PSDB para a escolha do presidenciável tucano.

Como isso não ocorreu, contou um integrante da campanha petista, houve a decisão coletiva de se ter acesso a esse material, que estava sendo investigado pelo jornalista Amaury Ribeiro Junior. Na ocasião, Amaury acabara de sair do jornal “O Estado de Minas”.

Na coordenação de campanha de Dilma, o dossiê passou a ser usado internamente como “arma secreta”, para ser usada, se necessário.

Amaury foi procurado, então, pelo jornalista Luiz Lanzetta, dono da empresa Lanza Comunicação, contratada para a área de comunicação da pré-campanha. Lanzetta se desligou da campanha no fim de semana.

O acerto feito com Amaury teria o propósito de se produzir um livro com todas as investigações feitas pelo jornalista contra Serra.

Pela estratégia, que recebeu o aval de todos os integrantes da coordenação de campanha da Dilma, o livro-dossiê seria publicado no período eleitoral. Assim, Amaury foi integrado originalmente à campanha petista.

Só em abril, com a oficialização da pré-campanha, houve a decisão de um grupo do PT de ampliar o núcleo de inteligência do comitê de Dilma, o que causou um racha interno. Lanzetta, o empresário Benedito Oliveira Neto e Amaury participaram do encontro em abril com Onézimo.

Jornalistas querem ser acareados com delegado

No PT, a versão é que Onézimo foi infiltrado pela campanha tucana para detonar a crise no comitê de Dilma. Em entrevistas, Lanzetta e Amaury desafiaram ontem Onézimo a manter, em público, a acusação de que tenha sido sondado para montar esquema de espionagem contra Serra.

Segundo os dois, foi o delegado quem se ofereceu para desmontar um suposto grupo de produção de dossiês que teria sido organizado pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) contra políticos da base aliada, principalmente do PMDB. Amaury disse que gostaria de ser acareado com Onézimo.

Os dois decidiram partir para o ataque depois de a revista “Veja” publicar, no fim de semana, entrevista em que Onézimo diz ser sido procurado para fazer investigações, inclusive com uso de grampos telefônicos, contra Serra e Itagiba. A proposta teria sido feita numa reunião em 20 de abril, num restaurante em Brasília.

— Se ele falou isso (sobre espionar Serra), vamos reconstituir os fatos: quem falou, a que horas falou, como foi. Vamos fazer uma acareação.

Esse negócio (de espionagem) é uma mentira, que tem que vir à tona — disse Amaury.

Lanzetta e Amaury contam que tiveram encontro com Onézimo porque estavam em busca de uma empresa para investigar vazamentos de dados confidenciais do escritório central da pré-campanha de Dilma. Os dois chegaram a Onézimo por sugestão de Idalberto Matias, o Dadá, ex-agente do Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Amaury disse ainda que, duas semanas depois do primeiro encontro, Onézimo cobrou R$ 1,8 milhão para fazer o suposto serviço de contra-espionagem. A proposta não teria sido aceita, segundo Amaury.

Itagiba negou que tenha feito dossiês e disse que há uma tentativa de se desviar o foco do episódio: — O que temos hoje? De um lado um grupo que diz que estava lá porque foi chamado para fazer dossiês. E de outro, outro grupo que diz que recebeu a oferta de dossiês. De qualquer forma, estavam todos em uma reunião para praticar um delito. E que, quando confrontados, montaram suas historias para se justificar, querendo imputar a culpa a uma terceira pessoa. Que se instaure um inquérito policial para investigar o que eles faziam reunidos lá.

Procurado pelo GLOBO, Idalberto não retornou a ligação. Onézimo não foi localizado.

Guerra de dossiês é antidemocrática: Editorial/O Globo

DEU EM O GLOBO

A folha corrida do PT não ajuda nos desmentidos da candidata do partido

No final do primeiro turno das eleições de 2006, uma operação clandestina, criminosa, de tentativa de fraude contra a candidatura do tucano José Serra ao governo de São Paulo foi abortada pela Polícia Federal. Num hotel da capital paulista, Hamilton Lacerda, assessor e chefe da campanha do adversário de Serra, o senador petista Aloizio Mercadante, foi filmado levando a mala em que estaria R$ 1,7 milhão, depois apreendido, sacado de algum caixa dois partidário para comprar um dossiê que incriminaria Serra. Os tais documentos, sobre a gestão do tucano no Ministério da Saúde, eram fajutos, a montanha de dinheiro apareceu na imprensa e Lula perdeu a chance de ganhar no primeiro turno.

O candidato à reeleição tachou os conspiradores de “aloprados”, entre eles, além de Lacerda, um ex-secretário do Ministério do Trabalho, Oswaldo Bargas, que dava as cartas, em nome do governo e das centrais sindicais, no fórum criado, sem sucesso, para propor a reforma sindical, e Jorge Lorenzetti, comandante da churrasqueira do Planalto.

Assim, “aloprado” passou a adjetivar todo militante petista mais aguerrido, sem medir meios e maneiras na hora de trabalhar pelos chefes. Algo como, no tempo dos militares, os “bolsões sinceros porém radicais”, terminologia usada por generais para designar as forças de repressão que atuavam na clandestinidade.

Pois a alopragem petista esteve prestes a agir de dentro de um bunker de comunicação montado pelo comitê de Dilma Rousseff em Brasília. Segundo reportagem de “Veja”, assessores contratados por Fernando Pimentel, amigo pessoal de Dilma e um dos coordenadores da campanha, trabalhariam em um dossiê sobre Serra, citando negócios de Verônica, filha dele.

A denúncia teria sido um contra-ataque do núcleo paulista do PT conduzido por Rui Falcão, oriundo da máquina partidária no estado berço da legenda, para deslocar o grupo mineiro.

Uma típica luta pelo poder nos bastidores petistas, onde também se costuma desferir golpes abaixo da cintura, no estilo das virulentas batalhas sindicais.

A seriedade da história do dossiê ganhou tinturas mais fortes com a entrevista, publicada na última edição da revista, em que um delegado federal aposentado, Onézimo Sousa, declara ter sido procurado pelo braço mineiro do bunker petista para espionar Serra e o deputado tucano Marcelo Itagiba, também egresso da PF e que estaria montando um esquema idêntico de arapongagem para ser usado contra petistas.

Serra acusou diretamente Dilma, que ontem pediu ao tucano explicações por via judicial.

Resvala-se, portanto, para a judicialização da campanha. Será desanimador se as eleições enveredarem por esses caminhos tortuosos, quando se tem a chance de debater o futuro do país num momento muito especial, em que avanços sociais precisam ser consolidados por uma projeto de reforma do Estado, cada vez mais pesado para o contribuinte e menos eficiente.

A candidata se exime de qualquer culpa, e os tais assessores foram corretamente afastado.

Não poderia ser diferente, nem se deve, a priori, duvidar da palavra de Dilma. Mas o PT, com sua folha corrida de alopragens, não ajuda a candidata. Tem razão a candidata Marina Silva ao pregar “tolerância zero” com esse tipo de ação, de inspiração antidemocrática.

Esta deve ser a postura de todos, a começar pela Justiça e o Ministério Público eleitorais.

A miséria já teve uma “função social” :: Arnaldo Jabor

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Falar da miséria nos alivia porque, para nós, os bacanas, a miséria é apenas um problema existencial. Muitos artistas e intelectuais que falam na miséria como tema de livro ou filme, ou políticos que usam miséria como curral eleitoral, ganham dinheiro ou votos com a miséria dos outros. Ou seja, a miséria dá lucro.

Na verdade, para entendermos o horror que nos envolve, temos de analisar os que “não” são miseráveis, a burguesia, as classes médias, a estrutura do País, a formação torta do Estado.
Quem quiser fazer uma tese ou ficção sobre o atraso nacional tem de estudar os “formadores” da miséria – os séculos de oligarquias e patrimonialismo. Um estudo psicológico sobre alguns de nossos principais lideres políticos explicaria mais o País do que cem volumes economicistas. Nós fazemos parte da miséria brasileira. Em nós, e não nos morros e periferias, está o segredo, ou melhor, a explicação para a ignorância e o desabrigo de nosso povo.

A miséria de nossa formação não atingiu apenas os escravos libertos, os sub empregados, os analfabetos. A miséria atingiu a todos nós. Não na blindagem de nossos carros apavorados, mas na blindagem de nossos corações contra o lado de fora da vida. Não basta sofrermos com o “absurdo” da miséria. Ela é uma construção minuciosa feita por um sistema complexo. A miséria não é absurda, ela é uma produção.

Há alguns anos, a miséria era vista com vagos sentimentos caridosos. Ela era até idílica, nas “favelas dos meus amores”. Tolerávamos tristemente a miséria, desde que ela ficasse longe, quieta, sem interferir na santa paz de nosso escândalo. A miséria tinha quase uma... “função social”.

Contra nossa vontade, hoje sabemos que a miséria se entranha em nosso egoísmo, na busca maníaca de felicidade e prazer, esquecendo a existência do “outro” – este ser longínquo e desagradável. Pouquíssimos de nós pensam como o imperador filósofo Marco Aurélio: “O que é bom para a abelha tem de ser bom para a colmeia”.

Além disso, a miséria não está apenas naqueles que se lixam para ela, mas também nos que se acham seus “proprietários”, que a consideram seu latifúndio ideológico.

Existe a política da miséria dentro da miséria de nossa política. Transformar a miséria em bandeira, sem entender o conjunto que nos inclui, usar a miséria para uma simplificação oportunista de “ricos e pobres”, usar a miséria como um divisor de águas para a complexidade de nossos problemas é uma atitude miserável e resulta nos vexames a que temos assistido neste governo, que tem o alívio hipócrita de ser “contra” ela – isso justificou roubalheiras, crimes e mentiras, legitimou a invasão do Estado pelos “amigos” do povo, que fazem sucesso junto aos ignorantes que adulam na mídia da política virtual. Os pelegos sempre se disfarçaram de pobres.

A miséria está nos “sanguessugas”, está nas emendas espertas ao orçamento, está na sordidez do sistema eleitoral, está na falsa compaixão dos populistas, está nas caras cínicas, torpes, “lombrosianas” dos ladrões congressistas , está na lei arcaica e sem reformas, está na atitude olímpica e gelada de juristas impassíveis, está nos garotinhos na rua e nos garotinhos da política.

Mas, o tempo passou e a miséria cresceu – a espuma suja na champanha do progresso. Com o avanço da indústria de armas, das drogas, da internet, a miséria foi tocada pela evolução do capitalismo e começou a se modernizar. A violência é, de certa sinistra forma, um “upgrading” na miséria, antes tão dócil. A violência nos pegou de surpresa, com velhas armas. Ninguém sabe o que fazer. Antes, os governantes oscilavam entre a repressão sangrenta, entre a queima de favelas ou a construção de guetos. Mas hoje, a miséria é grande demais para ser erradicada. Somos miseráveis porque poderíamos ter um País muito melhor e não sabemos fazê-lo. A miséria habita nosso egoísmo, nossa cegueira proposital em não ver o mal e a dor dos desvalidos.

É miserável nossa fome de consumo supérfluo, é miserável nossa angústia por pequenos problemas, nossas neuroses de mínimas causas, é miserável o que pagamos a empregados frágeis, é miserável nossa ideia de posse no amor e no sexo. Somos miseráveis porque até os ricos poderiam lucrar com a justiça social, mas eles só pensam a curto prazo, somos miseráveis na alma, em nossa amarga alegria, em nossa ignorância política, em terrores noturnos, em síndromes de pânico, em noites vazias nos bares ameaçados, nos perigos das esquinas, em amores despedaçados, a miséria está no esforço para esquecê-la, no narcisismo deslavado que aumenta entre as celebridades, na ridícula euforia das sacanagens e nas liberdades irrelevantes.

A miséria está até na moda – vejam este texto de um catálogo “fashion”: “Use uma calça bacana, toda desgastada, bata na calça com martelo, dê uma ralada no asfalto, ou esfregue a calça com lixa, ou por fim, atropele seu jeans, passe por cima dele com o carro (blindado?). A moda pede peças puídas, como ficam depois de um ataque das traças ou baratas. E se você tem algo a dizer sobre a vida, diga com sua camiseta, nas estampas com frases no peito...”

Só que antes, só falava de miséria quem não era miserável, só falava em “fome” quem comia bem. Agora, os miseráveis nos olham e nos criticam.

Hoje, a miséria desfila nas ruas ameaçadoramente, de sandália, bermudas e corpo nu. Não se esconde pelos cantos mendigos. Nossas elites desatentas estão mais ligadas e percebem aos poucos que nós é que temos de nos reformar. Não tem mais jeito, a miséria tem de ser integrada a nossas vidas. Temos de conviver com ela, pois também somos miseráveis.

E mais: os miseráveis não esperam nada de nós ou dos governos. Estão indo à luta. Não resolveremos nada. Eles é que vão fazer isso. A miséria está nos modernizando.

O Brasil e o Tratado de Não-Proliferação:: Rubens Barbosa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Mesmo antes do fim da guerra fria, o desarmamento nuclear, a não-proliferação de armas atômicas e o uso pacífico da energia nuclear já eram preocupações da comunidade internacional. Em 1968 havia sido negociado o Tratado de Não-Proliferação (TNP), abrangendo essas três vertentes. Nos 40 anos seguintes, em vez de avançarmos no sentido de livrar o mundo da ameaça nuclear, tivemos recuos importantes no processo negociador.

Contrariamente ao disposto no TNP, Israel, Índia e Paquistão tornaram-se potências nucleares sem aderir ao tratado. A Coreia do Norte e o Irã, por sua vez, querem dominar a tecnologia para a construção de artefatos nucleares.

A situação agravou-se mais recentemente, com o temor de que grupos terroristas tenham acesso a produtos ou materiais nucleares. Essa questão passou a dominar quase obsessivamente a agenda doméstica nos EUA depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

A eleição do presidente Barack Obama e o fim do radicalismo "bushiano" abriram espaço para o governo de Washington propor iniciativas adicionais em relação à questão do desarmamento e também quanto à não-proliferação. O discurso de Praga sobre a eliminação total das armas atômicas, mais o acordo assinado em março com a Rússia para a redução dos arsenais de ogivas nucleares foram gestos táticos dos EUA para reduzir as críticas de inação na área do desarmamento, enquanto aumentavam as pressões sobre os países não-nucleares para conter os riscos da proliferação.

A Conferência de Segurança Nuclear, convocada pelos EUA em abril, e a quinta revisão do TNP, realizada em maio, no âmbito da Organização das Nações Unidas, foram instâncias utilizadas com esse objetivo, pelos países nucleares, para a aprovação de medidas e resoluções restritivas. Os temas do desarmamento e, sobretudo, o da não-proliferação nuclear, pela ameaça que representam para a paz e a segurança mundiais, em especial a partir da entrada em cena das redes terroristas, passaram a ser incluídos com alta prioridade na agenda internacional.

Para o Brasil, que desenvolve um programa nuclear importante e domina o ciclo completo do combustível, trata-se de matéria de grande interesse. A planta de enriquecimento de urânio em Resende (RJ) coloca o Brasil num seleto clube de fornecedores desse produto para centrais nucleares espalhadas pelo mundo.

O documento final do TNP contém uma avaliação dos últimos dez anos e um plano de ação que refletem, em larga medida, as posições defendidas pelo Brasil. O equilíbrio de ações em matéria de desarmamento e da não-proliferação confirmou a tese, sempre defendida pelo nosso país, de que ambos os processos se reforçam mutuamente, não sendo, portanto, necessário avançar simultânea e paralelamente com medidas concretas e verificáveis nos dois campos.

Sob o ângulo político, talvez o resultado mais importante tenha sido a decisão de discutir a criação, no Oriente Médio, de uma zona livre de armas nucleares e de outras armas de destruição em massa, em cumprimento da resolução sobre o assunto adotada no bojo do pacote que estendeu o tratado indefinidamente, em 1995, e até aqui paralisada.

No tocante ao desarmamento, apesar de menos ambicioso do que esperavam os países não armados nuclearmente, o plano de ação contém pontos positivos e, até certo ponto, inovadores, como a ideia de que a redução de arsenais deve abranger não só as armas empregadas, mas também as armazenadas, e que o processo de redução poderá envolver ainda as armas nucleares que os EUA mantêm em território europeu. Por outro lado, embora tenha ficado muito aquém do que era exigido pelos países não-nucleares, prevaleceu a ideia de se iniciarem consultas com vista à negociação de um quadro jurídico mais preciso do desarmamento nuclear.

Quanto à não-proliferação, a questão mais importante para o Brasil diz respeito ao tratamento dispensado à aplicação do Protocolo Adicional do TNP, com exigências adicionais para inspeções pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em plantas de enriquecimento de urânio e outras dependências ligadas ao programa nuclear.

A redação ambígua do documento final permitiu que tanto o Brasil como os EUA reivindiquem que suas preocupações foram plenamente atendidas. Em vez de linguagem aceitando a obrigatoriedade do Protocolo Adicional (como pretendiam as potencias nucleares), ficou estabelecido, segundo o Brasil, que se trata de documento voluntário e que concluí-lo ou não é um direito soberano de cada Estado. A conferência reconhece que se trata de um padrão de verificação apenas para os países que assinaram e aplicam o Protocolo Adicional. O protocolo, portanto, não pode ser considerado como um padrão de verificação geral das salvaguardas da AIEA.

Nossa interpretação não coincide com a dos países nucleares, em especial a dos EUA, que afirmam que, pela primeira vez, um documento oficial do TNP reconhece o Protocolo Adicional, juntamente com o Acordo de Salvaguardas da AIEA, como sendo o padrão avançado de verificação do TNP.

No tocante aos usos pacíficos da energia nuclear, as posições brasileiras também foram atendidas. Entre elas, o reconhecimento de que as opções em matéria de energia e de usos pacíficos da energia nuclear são soberanas e, portanto, devem ser respeitadas, inclusive as relacionadas com o desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear.

Os resultados da reunião de revisão do TNP são um passo positivo, embora limitado.

A questão das inspeções mais intrusivas da AIEA, de interesse do Brasil, e a decisão de tornar o Oriente Médio uma zona desnuclearizada continuarão, contudo, por muito tempo, sem consenso na agenda global.


Foi Embaixador em Washington (1999-2004)

Num monumento à aspirina:: João Cabral de Melo Neto


Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia.

Convergem: a aparência e os efeitos
da lente do comprimido de aspirina:
o acabamento esmerado desse cristal,
polido a esmeril e repolido a lima,
prefigura o clima onde ele faz viver
e o cartesiano de tudo nesse clima.
De outro lado, porque lente interna,
de uso interno, por detrás da retina,
não serve exclusivamente para o olho
a lente, ou o comprimido de aspirina:
ela reenfoca, para o corpo inteiro,
o borroso de ao redor, e o reafina.



(Em A educação pela pedra - 1966)