domingo, 8 de julho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: cultura do trabalho, decência e honestidade

Já não se vê com clareza que valores guiam as chamadas classes médias emergentes. Mesmo que haja exagero na insistência com que se repete que milhões e milhões de brasileiros estão ingressando nas "novas classes médias", pois por enquanto se trata de novas categorias de renda, mais do que propriamente de uma nova "classe social", a transformação da renda em classe é questão de tempo: esta vai se formando. Seus membros pouco a pouco irão frequentar escolas razoáveis, criar uma teia de relações com acesso aos mesmos clubes e gozar das mesmas facilidades de recreação, trajar-se mais ou menos de modo igual (o que já ocorre), desenvolver uma cultura de trabalho qualificado e, de novo, comportar-se valorizando a decência e a honestidade.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex- presidente da República. ‘As classes médias na berlinda’, O Estado de S. Paulo, 01/7/2012

Corrupção e política :: José Arthur Giannotti

Muitas vezes já observei, embora poucas vezes tenha sido entendido, que uma ação política pode atravessar uma zona cinzenta, passar pelo purgatório, antes de se determinar como moral ou imoral. Por isso se torna imoral o partido que se apresenta como encarnação da pureza política. Engana ao esconder a possibilidade de que suas atuações se tornem imorais, se no fim do processo alguns de seus efeitos não forem corrigidos. E engana ainda mais quando, no poder, mostrar-se tão corrupto como seu adversário. Aumenta o risco de transformar a política numa possível guerra civil, pois, ao acusar o adversário de essencialmente corrupto, admite a possibilidade de que ele seja eliminado do espaço público. Compreende-se por que os partidos políticos ideologicamente mais consistentes deveriam cortar na carne quando seus partidários são apanhados com a boca na botija. Cuidariam de sua imagem para não se tornarem alvo de uma acusação destrutiva.

É bem verdade que nem sempre se pode julgar se uma determinada ação política vem a ser moral ou imoral. No caos urbano de São Paulo, por exemplo, a instalação do monotrilho, benefício para toda a população que viaja, valoriza certas propriedades e desvaloriza outras. A injustiça que afeta estas últimas pode ser compensada por outros meios, como a redução no pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) ou benefícios de outra ordem. Mas enquanto essas compensações não forem feitas a ação permanece indeterminada de seu ponto de vista moral.

A corrupção não sofre dessa ambiguidade. Embora cada ação política sempre vise a tornar-se coletiva, depende essencialmente de esforços individuais. Mas estes não podem perder de vista o alvo coletivo, reunindo companheiros e criando adversários. E quando a ação chega ao limite do conflito cria amigos e inimigos, um passando a visar a eliminação do outro, tanto na guerra civil como na guerra entre Estados. E nesse momento ela se torna totalitária, sem fissuras, impedindo que o outro exista ou se manifeste.

A ação política só vem a ser democrática se aceitar a existência do adversário. O outro faz parte de sua sociabilidade. Funciona naquela linguagem que se desenvolve entre o eu e o tu, mas sempre tendo no horizonte um ele que convive no espaço de nosso discurso. Por isso a ação política no limite corre o risco da guerra civil, quando uma parte tenta anular a outra, obrigada então a se defender. A institucionalização da democracia se dá na prática institucionalizante de sua história.

A decisão arma as ações num projeto político e desenha os limites além dos quais o inimigo é posto. As teorias decisionistas lidam com a oposição eu e tu e por isso têm servido para justificar toda sorte de autoritarismo. Se o eu e o tu se constituem num povo contra um inimigo comum, como admitir uma parte, um partido, que o negaria sem pretender destruí-lo? Mas a relação eu e tu já circula no meio de uma linguagem peculiar, de modo que a decisão se faz tendo um ele no horizonte, como parte do povo potencialmente amiga ou adversária. O decisionismo necessariamente não promove o totalitarismo.

Já que toda ação convive com sua negação, a ação política sempre permite que algum companheiro atue desrespeitando a meta coletiva. No entanto, não pode aceitar a corrupção como parte de seu projeto, como se fosse meio legítimo de alcançar seus fins. Isso a impediria de se tornar verdadeiramente coletiva, pois assim aceita uma diferença que não visa ao bem comum. Se muitos políticos fazem caixa 2 para assegurar suas campanhas, não é por isso que o partido como tal poderia abonar essa prática, muito menos adotá-la para seu próprio financiamento. A corrupção privatiza uma ação que sempre haveria de ser coletiva.

Quando um partido se imbui de uma missão histórica, acreditando que somente ele pode cumpri-la, termina fomentando a corrupção de seus membros. Pode até mesmo transformá-la em condição de governabilidade. Na posição sobranceira que lhe investe o projeto transformador, aceita que os fins justificariam os meios. Mas com isso se torna autoritário, pois o outro, ao denunciar sua imoralidade, se transforma num empecilho para que a revolução se realize, conforma-se num obstáculo a ser removido por inteiro. A revolução é uma das ações políticas mais intensas, ela acua o inimigo e abala seu poder, mas se torna autoritária tão logo pretenda eliminá-lo fisicamente, abrindo assim a fenda por onde se infiltra o terror. A guerra civil torna-se inevitável quando o outro passa a ser sistematicamente negado. Lembremos que em geral não há guerra sem limitação de certas liberdades democráticas.

A ação política tem efeitos muito peculiares no seu próprio modo de ser. Depois de eu ter pintado uma parede de uma cor, que mais tarde se mostra inadequada, nada me impede de repintá-la, pois a parede continua lá. Isso não acontece quando preparo um alimento que, passando de seu ponto de cozimento, não pode mais ser comido. A ação política é uma espécie de cozimento do coletivo, que, passando do ponto, destrói a unidade social. A corrupção política assumida não apodrece o Estado?

Há intelectuais que fazem política como se pintassem paredes. Constatam que a ação política vem sempre acompanhada de corrupção e, deixando de lado as peculiaridades de cada uma de suas formas, simplesmente aderem a esta ou àquela posição política, sem levar em conta a dinâmica da corrupção nela inscrita. Atuam como se fossem cozinheiros que pouco se importam quando servem alimentos ultracozidos.

Filósofo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP); é pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma compra retroescavadeiras:: Ferreira Gullar

No caso deste oitavo pacote, quem compra não é o cidadão, mas o governo. É ele quem se endivida

Como não me cabe fazer a análise técnica da política econômica do governo, limito-me a tecer comentários acerca desta ou daquela medida, quando é o caso.

Esse é o caso do último pacote anunciado por Dilma Rousseff e Guido Mantega, com pompa e circunstância, no Palácio do Planalto. É o oitavo pacote, emergencial como os outros, tentando conter a tendência da economia brasileira à estagnação.

Como disse outro dia, a festa acabou, o banquete que Lula encontrou pronto tratou de usufruir dele politicamente o mais que pôde, distribuindo benesses a torto e a direito, sem se preocupar com o futuro.

Garantiu desse modo a própria popularidade e elegeu Dilma, que recebeu como herança, além de ministros corruptos, o encargo de continuar a festa.

Mas, embora não tivessem percebido, a festa acabara e nenhuma medida havia sido tomada para manter a mesa farta. É que, para isso, seria necessário que o país crescesse e, para crescer, seria preciso investir nos setores estruturais. Sucede que isso não é próprio de governos populistas, uma vez que investimentos, cujos resultados custam a aparecer, não interessam.

Acontece que o processo econômico não obedece à vontade de Lula, pois tem suas próprias leis e exigências. Disso resulta que, esgotado o potencial contido nas medidas do governo anterior, a economia começou a ratear, quase parando. Dilma acordou e começou a produzir pacotes.

Como se sabe, os partidos revolucionários não têm programa de governo, pois acreditam que, como o mal da sociedade é a burguesia, basta eliminá-la para chegar-se à sociedade perfeita.

Os exemplos não faltam. O PT, embora não fosse revolucionário de fato, trouxe deles essa herança e, assim, ao assumir o governo do país, adotou o programa do governo anterior, que havia combatido ferozmente. Mas ficou nisso: esgotadas as possibilidades do programa herdado, não tem o que pôr no lugar, a não ser os pacotes emergenciais que se sucedem.

Outra característica do governo petista, afora não ter programa, e por isso mesmo, é valer-se da propaganda para ganhar a opinião pública. Esse é um recurso muito usado pelos governos populistas, já que, para o povo em geral, quer o pacote dê resultado ou não, fica a notícia de que o governo está trabalhando, resolvendo os problemas.

O PAC é exemplo disso: para o grande público (o eleitor), o governo está "acelerando" o crescimento do país, mas, na realidade, dos R$ 80 bilhões aprovados no Orçamento deste ano, só gastou até agora menos de ¼ dele. Sabem por quê?

Porque lhe falta competência técnica para realizar os projetos. E, se lhe falta, é porque o preenchimento dos cargos executivos não é determinado por critério técnico, mas político. Não por acaso, o governo espantosamente admite que cada ministério pertence a determinado partido, que o usa politicamente.

E, por falar em acaso, foi exatamente agora, a poucos meses das eleições, que Dilma decidiu lançar seu oitavo pacote. Mas não foi só por isso. Foi também porque o pacote anterior, reduzindo os juros para estimular o consumo, não deu certo, porque as famílias já estão demasiado endividadas. Por isso mesmo, no caso deste oitavo pacote, quem compra não é o cidadão, mas o governo. É ele quem se endivida. É que alguém tem que comprar, do contrário o país para.

Aliás, para dizer a verdade, em todos os países, quem mais compra é mesmo o governo; no nosso, também. Daí que me pareceu estranho o modo solene como foi anunciado o pacote, em palácio e com a presença de empresários e prefeitos.

Fiquei sinceramente surpreso ao ouvir da boca do ministro Guido Mantega que o pacote consistia em comprar coisas como retroescavadeiras, tratores, caminhões, ambulâncias, que devem ser compras normais em qualquer governo, por meio de seus ministérios.

Mas quem comprará retroescavadeiras, desta vez, não será o ministro, mas a própria presidente da República. Estranho, não? Devo entender, então, que aquilo que deveria ser um procedimento corriqueiro é agora anunciado como uma extraordinária decisão presidencial. É isso mesmo ou sou eu que estou entendendo mal?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO/ILUSTRADA

O visionário da província:: Renato Lessa

De coadjuvante, Kassab virou operador de um sistema político sem princípios nem lastro social

Há cerca de seis anos, em 2006, o então prefeito de São Paulo, José Serra, renunciou ao mandato, conquistado nas eleições de 2004, para ingressar na corrida eleitoral ao governo paulista. Salto bem-sucedido, posto que lograria derrotar Marta Suplicy, qualificando-se, assim, à condição que, como sabemos, propiciaria mais à frente a reedição do ato de renúncia. Com José Serra, pela compulsão à repetição, aprendemos que renunciar é humano.

Por unilaterais e caprichosas, renúncias são ocasiões ímpares para pensar a respeito do peso dos contrafactuais na história humana. Não tivesse José Serra renunciado, e se reeleito fosse à Prefeitura de São Paulo em 2008, estaríamos hoje a falar de Gilberto Kassab, com a magnitude que o desagradável princípio de realidade nos impõe?

É certo que as ações humanas, se procurarmos estabelecer suas causas, podem ser submetidas ao abismo das regressões ao infinito. Detectada o que julgamos ser a causa de algo, sempre é possível indagar sobre causas dessa causa, e assim por diante - ou melhor, para trás -, até retrocedermos a um momento inaugural, seja ele o da moldagem de Adão ou da eclosão do bóson de Higgs. De todo o modo, ainda que isso seja verdadeiro, é inegável que na genealogia do animal político Kassab o efeito de causalidade exercido pela primeira renúncia de José Serra tem forte relevância.

Vá lá que o ato procriador praticado pelos pais do atual prefeito de São Paulo tenha sido uma condição necessária para que viesse a ter existência biológica. Contudo, parece ser indisputável o fato de que o ato de renúncia de Serra produziu um efeito político preciso, qual seja o da entronização de Kassab ao, digamos, primeiro time da elite política nacional. Suponho que não seja exagero imaginar que o ocupante do posto de prefeito da cidade de São Paulo, a mais importante cidade do hemisfério sul, não possa ser descrito de maneira diferente.

Determinar a causa eficiente do fenômeno não traz consigo a suposição de que havia intencionalidade na coisa: os efeitos procedem das causas, mas só adquirem fisionomia própria pelo que a elas acrescentam. Se a entronização de Kassab no campo político nacional derivou de um ato inicial, movido por considerações de oportunidade política de curto prazo, é importante não desvalorizar, para fins de interpretação, o que o personagem acrescentou de si ao presente que recebeu.

O personagem eminentemente local transformou-se em pouco tempo em um operador relevante no cenário nacional. Já não conta mais como prefeito: o que faz e o que se diz do que faz em São Paulo está aquém de seu peso específico no plano nacional. Para avaliar tal peso, as medidas são outras: um partido com mais de meia centena de deputados federais - o que representa 10% da Câmara de Deputados - e dois senadores.

A importância do kassabismo extrapola, contudo, a contabilidade parlamentar. O empreendimento do prefeito de São Paulo exibe de modo aberto a lógica do presidencialismo de coalizão, por meio de um truque de rara destreza: transformar meia centena de deputados obscuros, condenados às agruras das legendas de oposição, às quais em sua maioria pertenciam, em um conjunto disponível para trocas generalizadas. A sigla partidária, marca fantasia da organização, afirma-se negativamente, no que diz respeito a ideologias: não é de esquerda, de direita ou de centro. Quer isso dizer que se sente à vontade em qualquer ambiente. Ao modelo, em si mesmo generoso, do presidencialismo de coalizão, o partido do dr. Kassab propicia o acréscimo de potenciais 50 novos clientes, manobra extensiva aos municipalismos e aos "estadualismos" de coalizão.

Curiosamente, o dr. Kassab é o que vai de mais genuíno e autoevidente pela vida política nacional. Com ele não há riscos de decepção: qualquer domicílio o receberá de portas abertas, sem possibilidade de dano a seus, digamos, valores e princípios. O partido kassabista é sobretudo um experimento aberto de hiper-realismo político, em um grau que talvez nenhum dos partidos "relevantes" brasileiros esteja disposto a assumir. Mesmo o PMDB, mãe de todos os realismos, não dispensa, una y otra vez, menções a seus heróis e mitos de origem. Com os kassabistas, nada disso: eles expõem com clareza ofuscante os fundamentos correntes da política brasileira. É, pois, um empreendimento que elimina toda suspeita a respeito da opacidade das palavras. Para o kassabismo, as palavras são o que elas são, não escondem, iludem, parafraseiam ou aludem. Pretendem dizer o que a coisa é. Enfim, temos a tão desejada instalação da verdade na política.

Kassab indica o vice na chapa de Serra, arqui-inimigo do petismo, e apoia Patrus Ananias, herói petista, em Belo Horizonte. A senadora Kátia Abreu (PSD-PA), livre dos ares moribundos do ex-PFL, manifesta simpatia pela reeleição de Dilma Rousseff. E por aí vamos: tudo é permitido, tudo é divino e maravilhoso. Pensando bem, Kassab é mesmo um herói do presidencialismo de coalizão. Na verdade, um pequeno prestidigitador, a exibir o fato grave de que a existência de partidos "relevantes" e "coesos", bem como sua criação, nada tem a ver com o que se passa no plano da vida social. Política sem princípios e sem lastro social: há quem diga que se trata de uma "democracia consolidada".

Renato Lessa é professor titular de Teoria Política da Universidade Federal Fluminense; investigador associado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa; diretor-, presidente do Instituto Ciência Hoje

FONTE:: O ESTADO DE S. PAULO / ALIÁS

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Brasil tem 82 escolas de 1º Mundo em áreas pobres
Dilma, em suas palavras
Vento do sertão gera energia para 1,5 milhão
Laboratórios criam barreiras a genéricos

FOLHA DE S. PAULO
Pessimismo trava crescimento, diz chefe do BNDES
Aliado de Dilma ataca PT e cobra alternância de poder no país

O ESTADO DE S. PAULO
Governo tem R$ 59 bi para investimento, mas não consegue gastar
Servidor de Palmas acusa Delta de ação irregular
Caravana traça mapa da saúde pública

CORREIO BRAZILIENSE
Cidadanias são vendidas até pela internet
Divulgação da folha do Congresso vai revelar supersalários
País agora precisa vencer obstáculos

ESTADO DE MINAS
PSB acusa PT de quebrar aliança em BH
Mistério ronda paradeiro do companheiro de Dilma

ZERO HORA (RS)
Polícia fecha cerco ao tráfico nas escolas

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Vidas à beira do abismo
Previdência privada em hora delicada

PIB fraco afeta de investimentos a empregos

País pode crescer abaixo de 2% este ano, atingindo até o salário mínimo de 2014. Especialista recomenda privatizações

Henrique Gomes Batista

A cada divulgação de dados oficiais fica mais nítido que a economia brasileira patina pelo segundo ano consecutivo. Neste cenário, analistas dizem que, se o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) crescer 2% em 2012, já pode ser considerado um bom resultado, isso poque aumentam as apostas entre 1,5% e 1,8%. E o ritmo fraco do PIB começa a ser sentido na vida dos brasileiros, que estão mais receosos e temem que a crise se agrave, o que pode esfriar ainda mais a economia.

Mas o que significa para o Brasil crescer 2% ou menos este ano? Economistas ouvidos pelo GLOBO acreditam que os problemas tendem a ser cada vez mais sentidos pelas pessoas no seu cotidiano e pelas empresas. Uma forte redução dos investimentos causados pela frustração dos empresários, que esperavam crescimento na faixa de 4%, deve dificultar ainda mais a criação de empregos. Além disso, a renda per capita no país pode ter uma variação muito baixa e o salário mínimo deverá ter um crescimento fraco em 2014 - a atual regra faz com que o salário básico da economia seja reajustado levando em conta a inflação do ano anterior e o PIB de dois anos antes.

- Nossa projeção de crescimento é de 1,8% este ano e, depois dos últimos dados da produção industrial, está cada vez mais fácil que o crescimento fique perto de 1,5% do que de 2%. Apesar das medidas, como o corte de juros, não está garantido que a economia se aqueça no segundo semestre. E, se essa perspectiva não mudar, os problemas serão cada vez mais sentidos - afirma Armando Castelar, coordenador de Pesquisas Aplicadas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para o professor, a criação de empregos fica mais prejudicada. Ele lembra que um fenômeno pouco usual fez com que, nos últimos anos, o emprego e a renda se mantivessem crescendo acima da economia: as vagas foram abertas em setores muito específicos e intensos em mão de obra, como comércio, construção civil e bancos, além de parte dos dados representar uma formalização do mercado de trabalho:

- A geração de empregos é uma preocupação crescente agora. O fraco desempenho da economia nacional é fruto do baixo investimento. E o investimento tende a continuar baixo com isso, é um círculo vicioso - diz Castelar, que defende uma política agressiva para aumentar a infraestrutura, inclusive com a privatização de estradas, aeroportos e portos, para atrair mais investimentos e aumentar as expectativas.

Para o professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, o baixo crescimento, cerca da metade da média histórica do país como República (4,5%), chega às pessoas:

- Uma das consequências será um baixo crescimento do salário mínimo e geração de empregos medíocre - avalia, acrescentando que a culpa pelo atual resultado é, indiretamente, da própria presidente Dilma Rousseff. Para ele, o governo fez política eleitoreira em 2010, quando a economia cresceu 7,5% facilitando a eleição da presidente.

Apesar da redução do emprego, ele ainda deve crescer este ano em um volume maior que a expansão da População Economicamente Ativa (PEA). Para o economista Alex Agostini, da Austin Rating, o avanço da PEA é igual ao crescimento populacional, de 1,3% ao ano, enquanto o emprego formal deve crescer este ano 3,5%. Ele prevê uma alta do PIB de 1,9% este ano.

FONTE: O GLOBO

Brasil deve voltar a ser lanterna na América do Sul

País pode ser superado por Reino Unido e perder 6 lugar global

Para economistas, a culpa pela anemia do PIB brasileiro não pode ser integralmente creditada à crise global. O Brasil está se saindo pior que muitos países, o que seria indicativo de problemas estruturais internos. O país deve estar em 2012, pelo segundo ano seguido, na lanterna do crescimento econômico na América do Sul - excluindo o Paraguai, que vive um momento de forte turbulência política. O Brasil deverá, novamente, perder em desempenho para a média da economia global e pode crescer menos até que os Estados Unidos.

- Isso é um sinal de um problema estrutural. Porque países como Colômbia, Peru e Chile vão crescer entre 4% e 5% neste ano e nós não? - indaga o professor Armando Castelar, da FGV, para quem isso demonstra que o Brasil precisa enfrentar problemas estruturais, como a baixa competitividade, fazer reformas e incentivar o investimento.

Alex Agostini, da Austin Rating, lembra que essa situação deve levar o país a um fraco crescimento de PIB per capita , uma vez que a população se expande cerca de 1,1% ao ano. Além disso, o país deve perder a posição de sexta maior economia do mundo, conquistada no ano passado. O Reino Unido deve voltar a ultrapassar o PIB brasileiro, em dólares:

- Aqui o maior problema que ocorre é a cotação do real, pois na comparação internacional o PIB é medido em dólares. Mas se o país crescesse mais ficaria mais fácil defender esta posição - afirmou o economista, que espera um PIB brasileiro em 2011 de US$ 2,315 trilhões, US$ 120 bilhões a menos que o britânico.

Ele, contudo, cita alguns "benefícios colaterais" desta crise, como a redução dos juros.

Desempenho do governo Dilma fica abaixo da média

Além disso, o PIB baixo deve fazer que o governo Dilma tenha uma das menores taxas de crescimento das últimas décadas. O professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, diz que a situação econômica não é confortável:

- Após crescer 2,7% em 2011 e se chegar a 2% este ano, a média fica em 2,37% ao ano. Isso a coloca em 20º lugar entre os 26 presidentes do país, abaixo da média dos dois primeiros anos de Lula, FH, Itamar e Sarney.

O professor conta que, para Dilma repetir a média de 3,5% do primeiro mandato de Lula, o país precisaria crescer 4,6% ao ano em 2013 e 2014. E para chegar à média de crescimento da República, de 4,5%, o desafio é ainda maior: crescer em média 6,7% nos próximos dois anos.

Mas nem todos estão pessimistas. Cláudio Hamilton, diretor-adjunto da Diretoria de Estudos de Políticas Macroeconômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vê espaço para forte reação do PIB:

- A criação de emprego continua forte e há espaço para incentivar consumo com expansão do crédito. Grande parte das famílias começa reduzir suas dívidas.

FONTE: O GLOBO

Governo tem R$ 59 bi para investimento, mas não consegue gastar

O governo federal tem disponíveis R$ 59 bilhões para investimentos públicos, mas não consegue gastar, informa a repórter Raquel Landim. O valor se refere a obras previstas nos orçamentos da União que não saíram do papel. Os recursos foram "empenhados", mas não "liquidados" e "pagos" porque o investimento não foi realizado. O montante triplicou em relação aos 19 bilhões de 2007 quando foi lançado o PAC. Esses valores são só restos a pagar comprometidos com investimentos e não inclui os de custeio das despesas. A falta de eficiência da máquina pública e a complexidade do processo são as principais razões da não realização de obras

Governo tem R$ 59 bilhões para investir, mas não consegue gastar

Recursos foram "empenhados", mas não "liquidados" e "pagos" porque o investimento não foi realizado; montante triplicou desde 2007

Raquel Landim

O governo federal já acumula em caixa R$59 bilhões para investimentos públicos, que não conseguiu gastar. Esse valor é referente a obras previstas nos orçamentos anuais da União que não saíram do papel. Os recursos foram"empenhados", mas não "liquidados" e"pagos"porque o investimento ainda não foi realizado. No jargão técnico, são os chamados restos a pagar. O montante triplicou desde 2007,quando foi lançadoo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Naquele ano, estava em R$ 19 bilhões, conforme levantamento do economista Mansueto de Almeida com base em dados doSistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). Esses valores são só restos a pagar comprometidos com investimentos, e não incluem os de custeio das despesas do Estado. Boa parte desse dinheiro fica no caixa do governo por vários anos seguidos.Em janeiro,o volume de recursos "reinscritos" – que já vinha de anos anteriores a 2011 – somava expressivos R$ 20,7 bilhões. Em 2007, eram apenas R$ 1,84 bilhão – ou seja, multiplicaram por dez em seis anos. "Os valores sugerem que as previsões de investimento são infladas e não se transformam em obras efetivas. Estão acima da capacidade de execução do governo", disse Almeida.

Falta de eficiência. A falta de eficiência da máquina pública e a complexidade do processo são as principais razões da incapacidade de realizar obras. Os problemas começam nas licitações, que muitas vezes são questionadas na Justiça, passam pela dificuldade de obter licenças ambientais, autorizações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), e chegam até a paralisações de obras pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por irregularidades. De acordo com Francisco Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas,um relatório do Banco Mundial apontou que, entre o governo brasileiro tomar a decisão de realizar um grande investimento e a obra efetivamente começar, demora, em média, três anose dois meses."O Brasil não tem o hábito de investir há muito tempo." Os restos a pagar começaram a crescer nos anos 2000 por conta do contingenciamento que o País era obrigado a fazer para cumprir as metas fiscais acertadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI).O ajuste era feito na"boca do caixa", cortando investimentos para cobrir despesas de custeio. Na época, não havia espaço fiscal para mais investimentos. Com o"boom"das commodities e o crescimento do mercado interno, a economia brasileira cresceu, elevando a arrecadação. O problema agora não é falta de dinheiro – embora, mesmo que conseguisse, o governo não poderia gastar os R$ 59 bilhões acumulados ao longo dos anos ao mesmo tempo, porque comprometeria a meta de superávit primário.Mas poderia elevar os investimentos em R$ 5 bilhões a R$ 10 bilhões no ano sem problemas. Também não falta foco, jáque a equipe econômica identificou que elevar os investimentos é o caminho para o crescimento sustentável. Segundo os analistas, a questão é a capacidade gerencial. "A partir do PAC, houve um esforço estruturado para investir mais,mas a máquina não consegue dar conta", diz Claudio Frischtak, sócio da consultoria InterB. Após o fim do ajuste na "boca do caixa", a execução do investimento público melhorou, mas ainda está longe do ideal. Em 2004, o governo executou apenas 26,3% dos investimentos previstos.Em 2011, esse porcentual estava em 43,3%.

Faxina. Na administração Dilma outra questão aumentou ainda mais a dificuldade de investir. A"faxina"promovida pela presidente para combater a corrupção em alguns ministérios teve o efeito colateral negativo de desorganizar a administração pública e travar os investimentos. No ano passado, esse efeito ajudou a conter a inflação e era discretamente comemorado no governo. Hoje a paralisia dos investimentos atrapalha a recuperação da economia. No primeiro semestre do ano, o governo desembolsou R$ 18,9 bilhões para investimentos, apenas 2,1% acima dos R$18,5 bilhões do mesmo período de 2011, mas ainda inferior ao primeiro semestre de 2010, conforme o Contas Abertas. Dilma tem feito um esforço para reduzir os restos a pagar, que responderam por 74% do total investido.O problema é que isso acaba comprometendo o orçamentoe cria uma"bola de neve". Procurado, o Tesouro não deu entrevista.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Candidatos buscam votos nas mídias sociais

Bom resultado na última eleição faz campanhas desenvolverem estratégias específicas para redes

Bruno Góes

Os candidatos à prefeitura do Rio sabem que a campanha nas redes sociais é importante para um bom resultado nas urnas. Se no pleito anterior as ferramentas ajudaram a catapultar candidaturas, como a de Marina Silva (PV), este ano a expectativa é ainda maior. Muitos cariocas começam a transformar o Facebook em uma arena de debate político, com discussões e debates sobre o futuro da cidade.

A candidatura do prefeito Eduardo Paes (PMDB) à reeleição, que pretende gastar até R$ 25 milhões, não quis dar detalhes da estrutura que está montando para esta área. Entretanto, representantes de outras campanhas, que possuem menos recursos, falaram sobre o tema.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), candidato com maior penetração nas redes sociais até agora, conta com a ajuda do produtor e empresário do Teatro Mágico, Gustavo Anitelli, de 29 anos. Ele tem a experiência de ter montado a estratégia de sucesso do grupo musical na web, e se prontificou a contribuir nestas eleições.

- Vamos trabalhar em três eixos: monitoramento, articulação e produção de conteúdo. Mas o que nós temos que trabalhar mais é na articulação, para que a campanha tenha sucesso - diz ele. Uma das ações mais recentes de simpatizantes da candidatura foi acrescentar "Freixo" ao sobrenome dos seus perfis no Facebook.

A candidatura de Rodrigo Maia (DEM) conta com o movimento #rioestamosdeolho, ação de fiscalização dos problemas da cidade por meio das redes sociais. Antes de começar a campanha, no entanto, um tropeço: para divulgar a iniciativa na TV, o DEM forjou perfis no Facebook. Fotos de pessoas retiradas de sites estrangeiros foram atribuídas a cariocas que criticavam o trabalho da prefeitura. Rodrigo Maia disse não saber se as fotos eram de outras pessoas, pois tratava-se de "uma questão técnica", e justificou a construção dos perfis como uma possibilidade de proteger a identidade de servidores.

O coordenador da campanha de Aspásia, Paulo Senra, tem por enquanto apenas três pessoas na equipe para cuidar das redes sociais, mas pretende usar a força dos militantes do PV na rede e o aprendizado adquirido na campanha de Fernando Gabeira em 2008 para surpreender.

Já a candidatura de Otávio Leite (PSDB) terá uma equipe de até 15 pessoas trabalhando nas redes sociais. A equipe está focada na divulgação do dia a dia do candidato e de sua biografia nas redes sociais. Segundo o coordenador de mídias sociais Júlio Uchôa, a página do tucano no Facebook ganha a adesão de mais de 300 pessoas por dia.

-Vamos tentar aumentar espontaneamente o número de pessoas no Facebook para poder espalhar a candidatura, dar visibilidade ao Otávio - disse Júlio Uchôa.

FONTE: O GLOBO

PSB acusa PT de quebrar aliança em BH

Socialistas mostram carta em que afirmam que a coligação proporcional dependeria de algumas condições. Na abertura da campanha petista ontem, Patrus Ananias não compareceu e o atual vice-prefeito, Roberto Carvalho, fez as vezes de candidato.

PSB culpa PT pelo fim da aliança

Acusados pelos petistas de descumprirem acordo eleitoral, socialistas reagem mostrando carta em que afirmam que a coligação proporcional só seria feita mediante condições

Bertha Maakaroun

Os socialistas reagiram ontem às críticas do PT de que teriam quebrado um acordo por escrito entre as duas legendas para a coligação proporcional do PSB com o PT para a Câmara Municipal de Belo Horizonte, o que motivou a ruptura da aliança. Segundo o presidente municipal do PSB, João Marcos Lobo, foi feito um grande esforço para a reedição da aliança que tinha como partidos nucleares o PSB, o PT e o PSDB. No entanto, o socialista enumerou os pontos que motivaram o PSB a não formalizar a chapa para a Câmara Municipal com os petistas. "Na carta que enviamos ao PT, em 9 de abril, reiteramos o acordo em torno da chapa majoritária com o vice do PT e, em relação à coligação proporcional, manifestamos aceitação em fazê-la com o PT e outros partidos aliados, a partir de condições que seriam definidas após a indicação do vice", disse João Marcos Lobo.

Embora não tenham sido indicadas na carta, as "condições" foram explicitadas na negociação, segundo João Marcos Lobo. "Pedimos ao PT que enviasse os candidatos de sua chapa proporcional. Sinalizamos também com a questão da governabilidade de um eventual futuro governo, já que havia na Câmara Municipal vereadores do PT fazendo oposição ao prefeito Marcio Lacerda. Além disso queríamos um compromisso de apoio expresso dos pré-candidatos a vereador do PT durante a campanha", explica ele. Em entrevista ao lado dos vereadores Daniel Nepomuceno, Alexandre Gomes e Fábio Caldeira, João Marcos Lobo sustentou: "Nenhuma dessas condições foi cumprida".

O vereador Fábio Caldeira disparou: "O PT enxergou o poder como fim, queria conquistar mais cadeiras. Se fosse um rompimento programático, a população poderia compreender". O vereador Alexandre Gomes disparou: houve arrogância do PT. Fomos desrespeitados com essa exigência de chapa proporcional".

Admitindo ter havido uma reunião na casa de Walfrido Mares Guia, na sexta-feira, 29 de junho, véspera das convenções, da qual participaram Marcio Lacerda e Miguel Corrêa Júnior (PT), João Marcos Lobo afirma que nem naquele encontro a chapa petista foi aberta. Algumas estimativas de vereadores eleitos de cada partido, com ou sem a coligação, teriam sido projetadas, segundo ele, mas sem muito precisão, uma vez que a chapa do não teria sido explicitada.

Às "condições" não cumpridas pelo PT, somavam-se outros problemas, afirma João Marcos Lobo. "O PSDB e todos os outros partidos da aliança questionavam por que o PT teria o privilégio de indicar o vice e ainda ter a coligação proporcional", disseram.

Além da resistência dos aliados, entre vereadores do PSB e candidatos da legenda à Câmara Municipal, o descontentamento era enorme diante da possibilidade da coligação proporcional com o PT. Em maio, ameaçaram a renúncia coletiva da chapa proporcional caso a coligação com o PT se confirmasse para a Câmara Municipal de Belo Horizonte. A questão era puramente matemática: com uma bancada hoje de três vereadores, os candidatos socialistas contavam com os votos de legenda alavancados por Lacerda para eleger mais dois ou três parlamentares. Se o PT se coligasse, levaria boa parte dessas cadeiras.

Dentro deste contexto, a direção municipal do PSB, deliberou, em 30 de junho, por não se coligar proporcionalmente com o PT. "Fizemos esforços em todos os sentidos para chegarmos a um acordo e reeditarmos a aliança. Apesar da diversidade ideológica, a aliança deu resultados e o governo funcionou muito bem", afirma João Marcos Lobo.

FONTE: ESTADO DE MINAS

PT ataca logo no primeiro ato

Na abertura da campanha petista, Patrus não compareceu, mas Carvalho se encarregou de fazer duras críticas a Lacerda

Daniel Camargos

Aproximadamente 100 militantes iniciaram a campanha petista ontem, na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte, desfalcados da principal estrela: o candidato Patrus Ananias (PT). Quem aproveitou e fez às vezes do candidato foi o atual vice-prefeito e coordenador da campanha de Patrus, Roberto Carvalho (PT). "O pedido para o registro da candidatura foi feito na quinta-feira e ainda não deferido. O Patrus achou melhor esperar para começar a campanha", explicou Carvalho. Além disso, o candidato passou por uma pequena cirurgia no nariz anteontem e a recomendação médica foi evitar esbarrões ou contatos físicos neste fim de semana.

Roberto assumiu a postura de criticar a administração de Marcio Lacerda (PSB), da qual é vice-prefeito. "Ele (Lacerda) pensa que a cidade é uma empresa", critica. Carvalho acusa o prefeito de tentar privatizar ruas, o mercado do Cruzeiro e ter esvaziado os conselhos da juventude e os centros de cultura. "Foi eleito um governo de esquerda, mas quem governou foi a direita", avalia Carvalho.

Outra acusação de Carvalho – e que deve marcar o tom da campanha – é que Lacerda não fez um governo voltado para os mais pobres. "Não fez uma casa para pobres nos últimos três anos", afirmou. As diferenças entre os dois começaram, segundo Carvalho, em 2009, quando surgiu conflitos na Ocupação Dandara, no Bairro Céu Azul, na Região da Pampulha. "O prefeito disse que eu deveria ficar de fora da comissão, pois sou muito bonzinho e resolveria os problemas do pessoal", lembrou.

As rixas se seguiram-se durante todo o mandato até o rompimento definitivo no ano passado. Carvalho foi o principal defensor da candidatura própria no PT e, mesmo não sendo candidato, viu sua tese prevalecer quando o PSB não aceitou a coligação proporcional. O nome de Carvalho foi apontado, ele chegou a registrar a candidatura, mas depois abriu mão para Patrus, que unia mais alas do partido. Para Carvalho, o prefeito Lacerda foi "ingrato" ao preferir o apoio do PSDB. "Eu estava errado com a aliança, pois achei que era possível, mas vi que era impossível misturar água com óleo", entende o vice-prefeito, que não deixou a prefeitura apesar das divergências. "Não saí porque fui eleito", afirma.

Outra estratégia de ataque apontada pelo presidente estadual do PT, Reginaldo Lopes, será mostrar, segundo ele. que as áreas controladas pelo PSDB na PBH são as piores, com destaque para saúde e transportes. "A candidatura do Marcio Lacerda segue o modelo tucano", afirma Lopes. O presidente do PT-MG também aproveitou para criticar as dívidas do governo estadual e se gabou, dizendo que os principais investimentos em curso em Belo Horizonte vem do governo federal, controlado pela presidente Dilma Rousseff. Lopes, entretanto, não garantiu a presença de Dilma no palanque de Patrus.

Correria. "Vamos ter uma semana para organizar a campanha e fazer o trabalho que deveria ser feito em dois anos", afirma Carvalho. A pressa é maior, segundo o coordenador, pois com a desistência das outras três candidaturas o quadro eleitoral caminha para um pleito de um turno apenas. Leonardo Quintão (PMDB) apoiará Patrus e será um dos coordenadores da campanha petista. Já Délio Malheiros (PV) é o vice de Marcio Lacerda (PSB) e Eros Biondini (PTB) também desistiu para apoiar Lacerda.

Propostas

O presidente municipal do PSB, João Marcos Lobo, preferiu não responder os ataques dos petistas. Disse que a campanha será propositiva e que o objetivo de Lacerda será mostrar o que foi realizado no governo. "A avaliação do governo, que percebemos nas pesquisas, é que o Marcio Lacerda é o prefeito mais bem avaliado do Brasil, com quase 80% de aprovação", afirma Lobo. Sobre a tentativa dos petistas de ligarem Lacerda ao PSDB e nacionalizar a disputa o presidente do PSB diz que o objetivo de Lacerda será discutir os problemas da cidade. "A eleição deste ano é local", entende Lobo.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Aliado de Dilma ataca PT e cobra alternância de poder no país

Aliado estratégico do Planalto, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), diz a Natuza Nery que são os petistas que têm criado problemas a Dilma.

Campos é visto pelo PT como possível adversário da presidente nas eleições de 2014. Ele afirma que seu partido deve apoiar a reeleição de Dilma, mas defende a alternância de poder. "É importante ter a perspectiva do contraditório".

"O PT cria mais problema para Dilma do que o PSB"

Governador Eduardo Campos acusa petistas de fazer "guerra por espaço"

Presidente do PSB diz que partido deve apoiar reeleição de Dilma em 2014 apesar de atritos com tradicional aliado

Natuza Nery

Visto por setores do PT como virtual candidato à Presidência em 2014, o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, afirma que o partido da presidente Dilma Rousseff a atrapalha mais do que o PSB.

Campos diz, contudo, que apoiará a eventual campanha de reeleição de Dilma, insinuando que seu projeto de poder é para 2018.

Nas últimas semanas, PSB e PT romperam em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.

Folha - Que crise é essa do PSB com o PT?

Eduardo Campos - Não damos dificuldades para o governo Dilma. Significa que nosso partido vai ser satélite do PT? Não é da nossa história, nem da nossa política.

É essa a raiz da discórdia, não querer ser satélite do PT?

O que tem Fortaleza a ver com Belo Horizonte? São Paulo a ver com Recife? O PSB agora virar inimigo oculto do PT chega a ser ridículo. Ser colocado como inimigo número um e a gente ver históricos adversários virarem amigos de sempre. Está errado.

O senhor está falando de Paulo Maluf [que se aliou ao PT em São Paulo]?

Estou falando de muitos outros, não só do Maluf. Você vê em Curitiba: Gustavo Fruet [ex-tucano e ex-deputado de oposição] virar o melhor amigo do PT, e o PSB virar o inimigo? Nós não vamos fazer o jogo de alguns, que querem afastar de Dilma aqueles que têm mais identidade com o governo dela.

O sr. está falando do ex-ministro José Dirceu?

De todos. Se estiver nisso, falo dele também. A história que nos trouxe até aqui não deve colocar dúvida na cabeça do presidente Lula, nem na minha, nem na da presidente Dilma sobre a qualidade da relação que temos.

Mas chegou perto, né? Ele chegou a ter essa dúvida...

Vamos ter que ter paciência para esperar a história daqui pra frente. Quem viver 2014, verá. Porque eu já vi muita gente ser subserviente, agradável, solidária em meio de mandato e, quando bate a primeira crise, muda imediatamente de lado. Como nunca mudamos de lado, eu sei onde vou estar em 2014.

Onde?

Do lado que sempre estive. Acho que o PSB deve em 2014 apoiar Dilma para se reeleger presidente.

O sr. não será candidato...

E quem disse que eu seria?

Seus correligionários...

Toda vez que fui candidato, eu disse que era candidato. Ser candidato contra Dilma só porque eu quero ser? Ela está na Presidência e tem a prerrogativa da reeleição. Para a reeleição de Dilma, o problema não somos nós.

Qual é o problema?

O próprio partido dela [o PT] cria mais problema para ela do que o PSB. No sentido que vocês noticiam e no sentido de tentar tirar de perto dela quem pode ajudá-la.

Se a economia erodir a popularidade da Dilma e Lula não for candidato, o sr. sai para a Presidência?

Não trabalho com essa hipótese. Temos debates muito mais importantes do que [debater] quem será prefeito dessa ou daquela cidade. O que está em jogo é o ciclo de expansão econômica com inclusão social. O consumo ainda pode dar algum resultado, mas chegou a hora de fazermos um grande esforço para alavancar investimentos públicos e privados. Essa que é a pauta brasileira, não essa futrica.

O PSB está avançando nos Estados, no Congresso. Vocês pedirão a vice do PT em 2014?

Nunca fizemos isso. Agora mesmo, em São Paulo, o PT escolheu a [deputada Luiza] Erundina [do PSB, para vice do petista Fernando Haddad]. Lula buscou um quadro da minha geração, o Haddad. Se fôssemos o inimigo número um do PT, não teríamos sido os primeiros a apoiá-lo. Colocamos a vice que o PT entendia que era a que mais ajudava, a Erundina.

Ela não ajudou muito...

Quando ela saiu, liberamos Haddad para escolher o nome que quisesse. Foi isso que fizemos com largueza de coração.

Com tanta frustração, o que o segura ao lado do PT?

Não vou sair desse itinerário. Temos uma frente política construída há muitos anos, que ajudou o Brasil a melhorar. Claro que minha relação com o presidente Lula, que eu conheci ainda menino, a ajuda que ele me deu e a meu Estado eu prezo muito.

O PT diz que o senhor é uma espécie de monstro criado por Lula, que o ajudou muito com recursos.

Pago preço do ciúme que muitos têm. Mas Lula sabe também que conta conosco. Em 1989, [o avô de Campos, Miguel] Arraes era governador de Pernambuco, tendo voltado de 16 anos do exílio, e o PT gritava na porta do palácio: "Arraes, caduco, Pinochet de Pernambuco". Mas isso não impediu meu avô de abraçar a primeira eleição de Lula, porque nós não fazemos política tendo como referência a guerra de espaço, de aparelhar, de ter uma garrafa a mais [no governo]. Nossa referência na política é o interesse do povo e do país.

O PT aparelha?

Não. Estou dizendo que somos diferentes, formas diferentes de pensar, ver o mundo. Você não pode imaginar que o Brasil deste tamanho vai ter um partido único, que vai ser dono da verdade, dono do poder, dos 5.000 municípios, dos 27 Estados, do Brasil, por um século. Você não pode imaginar que esse seja o projeto do povo brasileiro. É bom que tenha alternância de poder. É importante ter a perspectiva do contraditório.

Em 2014 serão 12 anos de PT no poder. É muito?

Acho que dá para ter 16. Eu só, não. A sociedade também está achando. Como o PSDB está em São Paulo há 16 anos.

E está bom 16 anos de PSDB em São Paulo?

O povo achou que sim.

Dá para ter 20 anos de PT?

Vinte? Há um ciclo que vai se abrir no Brasil depois de 2014. É um ciclo até geracional, tanto na oposição quanto no campo do governo. Agora, atropelar isso em nome de projeto pessoal não é uma coisa correta. Dilma está presidente da República sem nunca ter pedido para ser candidata.

A base aliada reclama de Dilma. O senhor faz algum reparo ao estilo dela?

Ela tem a base muito ampla. Acho que não há dificuldade insuperável. Vamos ajudá-la a proteger o Brasil da crise. Não podemos permitir que joguem a presidente nesse debate da eleição municipal.

Mas ela entrou na articulação de Belo Horizonte.

Em BH eu compreendo, da mesma forma que ela compreende minha articulação aqui em Recife. Precisamos dar força a ela para o governo ganhar [na economia] o ano de 2012. Dilma não tem por que jogar carga ao mar.

É um pedido para ela não ajudar Humberto Costa [candidato petista de Recife]?

Não. Tem coisas que não se pede, eu sei que ela é justa.

Se 2014 é o ano da Dilma, e 2018 será um novo ciclo, não há mais espaço para o Lula?

Lula sempre terá espaço. Agora, o que eu tenho ouvido dele é que o seu grande objetivo é ajudar Dilma a se reeleger.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em crise com o PSB, PT volta a estreitar aliança com o PMDB

Planalto emite sinais de que vai apoiar candidatura de peemedebista à presidência da Câmara no próximo ano

Planalto nunca levou a sério acordo que prevê revezamento do PT com o PMDB no controle da Câmara dos Deputados

Natuza Nery

BRASÍLIA - A crise entre o PSB e o PT está reaproximando o partido de Dilma Rousseff de seu principal parceiro na coalizão governista, o PMDB.

Não para menos, a presidente sinalizou nesta semana que a presidência da Câmara em 2013 pode ficar nas mãos de um peemedebista.

Um acordo feito pelos dois partidos quando o deputado Marco Maia (PT-RS) assumiu a presidência da Câmara em 2011 prevê que os petistas apoiem um nome do PMDB para o cargo no próximo ano.

O Planalto jamais mostrou simpatia por esse acordo e nunca se comprometeu de fato com ele, mas na terça-feira, durante jantar com Marco Maia, Dilma fez um gesto nesse sentido, de acordo com relatos de seus interlocutores.

A presidência da Câmara é cobiçada pelo deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Na segunda-feira, enquanto negociava com seu vice Michel Temer (PMDB) uma candidatura alternativa à do PSB à Prefeitura de Belo Horizonte, a presidente teria dito, conforme relatos, que a parceria entre PT e PMDB era preferencial e que as duas siglas deveriam estar juntas não só na capital mineira, mas também na Câmara.

No encontro foi feita uma avaliação dos movimentos do presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, e de sua eventual candidatura presidencial em 2014 ou 2018.

Governador de Pernambuco, Campos é uma aliado histórico do PT e amigo pessoal do ex-presidente Lula.

Fora da órbita

Divergências internas, porém, têm deslocado o PSB para fora da órbita petista. Amostra do afastamento entre os dois aliados é o número de alianças, nas capitais, entre as siglas nas eleições deste ano: cinco. Em 2008, o PSB apoiava o PT em 10.

Na atual campanha, os socialistas se aliaram ao PT em São Paulo após pedido pessoal de Lula, mas romperam em Recife e Fortaleza de forma quase tão traumática quanto em Belo Horizonte.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, criticou os socialistas e disse que as rupturas indicavam que eles "querem se afirmar em alguns lugares, principalmente no Nordeste, em cima do PT".

Os rachas contaminaram a união nacional, a ponto de importantes petistas acusarem Campos de traição.

Nos bastidores, aliados do governador dizem que o projeto é torná-lo vice-presidente em 2014, ao lado de Dilma ou de Lula. Assim, pavimentaria sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2018.

Mas, com os rompimentos recentes, o PT passou a enxergar o risco de ter Campos no flanco adversário já na próxima eleição presidencial.

Foi esse temor que jogou o PT novamente nos braços do PMDB. No passado, Lula chegou a comentar com aliados que seu sonho era ver Eduardo Campos como vice do candidato do PT em 2014.

No governo havia quem defendesse o fortalecimento do PSB no Congresso para trocá-lo pelo PMDB, visto como um aliado perigoso, até infiel.

Apesar do gesto de Dilma a favor do acordo na Câmara, isso não significa necessariamente que o Planalto vá apoiar qualquer nome ao cargo ou que Henrique Eduardo Alves está nele garantido. Afinal, precisa ser eleito pela maioria dos pares.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em SP, candidatos buscam eleitores de Marina Silva

Conceito de sustentabilidade está presente em todos os programas de governo a serem debatidos; postura ética também pesará

Julia Duailibi, Felipe Frazão

Em busca de 1,3 milhão de votos que a então presidenciável do PV Marina Silva teve na eleição de 2010 na cidade de São Paulo, os candidatos à Prefeitura criaram estratégias próprias para alcançar os "marineiros", que hoje representariam cerca de 15% dos 8,6 milhões de eleitores da capital.

Ainda sem saber para onde esse voto migrará, analistas tucanos e petistas avaliam que se trata de um eleitor sensível ao tema da sustentabilidade e da ética. É também alguém que está cansado da dinâmica PT versus PSDB.

Há ainda outro perfil de eleitor "marineiro", que seria o paulistano conservador, concentrado na periferia e evangélico, religião da ex-candidata a presidente. Nas pesquisas qualitativas do grupo de Marina, porém, há uma certeza: o eleitor dela é o formador de opinião. O voto religioso teria sido decisivo na votação geral dela.

A ex-senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente teve votos espalhados por toda a cidade (veja mapa). Mas obteve desempenho melhor em Lauzane Paulista, zona norte, com 23,67% dos votos. A região tem maioria de católicos (53%), de acordo com o Datafolha de 2008. A maior parte da população, 57%, tem renda acima de 3 salários mínimos. O pior desempenho foi em Parelheiros, zona sul, com 16,21% dos votos. O bairro tem 25% de evangélicos. Lá 71% da população (71%) ganha até 3 salários mínimos.

Mesmo em busca dos "marineiros", os candidatos relativizam a importância de receber apoio público de Marina, porque ela não elegeu nenhum parlamentar de seu grupo em 2010 e não pretende declarar seu voto agora, conforme sinalizou a aliados - apesar da histórica relação com o PT, ao qual foi filiada.

A aliança do PT com o deputado Paulo Maluf (PP) é apontada como impeditivo ao candidato Fernando Haddad por membros do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), do qual Marina faz parte. Integrantes do IDS inclusive colaboram com o programa de governo de Haddad - é o caso, por exemplo, de Maria Alice Setubal.

Marina já conversou com emissários do PT, como o coordenador do programa de governo de Haddad, Aldo Fornaziere. A ex-senadora também já conversou com a candidata Soninha Francine (PPS), que adotou o slogan "Um sinal verde para São Paulo" e é a que propõe com mais veemência intervenções ambientais. Ela tem ao lado o empresário Ricardo Young, candidato a vereador - até agora, único apoiado pela ex-ministra. Assim como Marina, ele abandonou o PV em 2011. O PPS tenta agendar evento de Young com Marina e Soninha para o dia 12. "Não poderíamos deixar nosso eleitor sem um tipo de comunicação", diz Young.

Além de Haddad e Soninha, Gabriel Chalita (PMDB) e Carlos Giannazi (PSOL) assinaram compromissos de governo da ONG Cidades Sustentáveis. Giannazi diz tratar de sustentabilidade há 30 anos. E levar vantagem pela conduta ética. Chalita pediu ajuda ao ex-marineiro Fábio Feldmann para elaborar seu programa de governo, focado em reduzir desigualdades da cidade, incentivando a economia sem danos ao ambiente.

José Serra (PSDB) quer divulgar as ações no governo do Estado e na Prefeitura. O programa dele tem um capítulo voltado para bicicleta e mobilidade e outros sobre a questão ambiental - preparados pelos secretários adjuntos do Estado, Rubens Rezeck, e do Município, Leda Ascherman.

Celso Russomanno (PRB), que comprou briga pela volta das sacolinhas plásticas aos supermercados - ato visto como ecologicamente incorreto -, diz ser defensor do meio ambiente e que para ele "falar sobre meio ambiente é passear". Paulinho da Força (PDT) quer tratar os problemas ecológicos mais graves em cada subprefeitura da periferia, promovendo o que chama de "desenvolvimento integrado".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em Recife, um tucano com a alma verde

Paulo Augusto

O tucano Daniel Coelho, candidato a prefeito do Recife pela coligação PSDB/PPS/PTdoB, entra em sua primeira campanha majoritária de partido novo em relação ao último pleito – era do PV –, mas ainda abraçando as causas verdes que o tornaram conhecido – como a ecologia e o desenvolvimento sustentável.

Os primeiros atos de campanha deixam claro que esta será uma forte bandeira a ser empunhada – o pontapé inicial foi uma trilha ecológica no Engenho Uchoa –, bem como o resgate de algumas questões muito presentes quando o tucano ainda era vereador de oposição no Recife: hoje, realizará uma caminhada por todo a extensão do viaduto Capitão Temudo, onde deve expor críticas à questão das calçadas.

Ainda definindo as funções estratégicas de sua campanha – como a coordenação, que pode ficar com Raul Jungmann, embora ainda não se tenha batido o martelo –, Daniel Coelho e sua vice Débora Albuquerque (PPS) só devem intensificar as agendas externas quando estiverem com todo o material de campanha impresso – o que deve acontecer no decorrer desta semana. A partir daí, iniciam-se também as gravações de imagens para o guia eleitoral, que terá início em agosto. Então, será dada a largada para a segunda etapa de sua campanha.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Servidor de Palmas acusa Delta de ação irregular

Responsável pela fiscalização dos serviços da construtora Delta em Palmas (TO) entre 2007 e 2011, o engenheiro Luiz Marques disse em depoimento à Polícia do Tocantins que Pedro Duailibe - cunhado do prefeito Raul Filho (PT) e ex-secretário de governo - e Jair Correa Júnior - ex-secretário de Infraestrutura - comandavam a empresa na cidade, relatam os repórteres Fernando Gallo e Lailton Costa. Mesmo fora da prefeitura, ambos são homens de confiança do prefeito

Servidor sugere fraude e acusa aliados de prefeito de chefiar Delta em Palmas

Investigação. Em depoimento à Polícia Civil do Tocantins, engenheiro responsável por fiscalizar limpeza urbana municipal diz que serviços de coleta de lixo da empreiteira não eram conferidos; ex-secretário nega irregularidades; Raul Filho vai depor à CPI na terça

Fernando Gallo e Lailton Costa

PALMAS - Um funcionário municipal de Palmasafirmouemdepoimento à Polícia Civil do Tocantins que dois ex-secretáriosdoprefeito Raul Filho (PT) são os reais responsáveis pelos negócios locais da Delta.A testemunha apontou ainda indícios de fraude nos serviços prestados pela empreiteira na cidade. O prefeito petista está convocado pela CPI do Cachoeira para depor na terça-feira em Brasília a fim de explicar suas relações coma Delta ecomo esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Num vídeo gravado em2004 e revelado na semana passada pelo Fantástico, da TV Globo, o então candidato Raul Filho promete benefícios na administração a Cachoeira,em troca de ajuda em sua campanha. Dois anos depois como petista já eleito,a Delta obteve contratos milionários de limpeza urbana – eles ainda estão em vigor e vão até 2014. A empreiteira é apontada pela Polícia Federal como integrante de um esquema corruptor do qual Cachoeira também faz parte. O engenheiro Luiz Marques, que era responsável pela fiscalização dos serviços da Delta na capital entre 2007 e 2011, afirmou no depoimento à polícia que Pedro Duailibe, cunhado de Raul Filhoeex-secretário de Governo, e Jair Correa Júnior,ex-secretário de Infraestrutura, comandam a empresa na cidade. Ainda em seu depoimento, prestado em agosto do ano passado, Marques disse que Raul Filho tem ciência do que ocorre entre a prefeitura e a empreiteira. A Polícia Civil abriu inquérito a fim de reforçar as investigações sobre suspeitas de fraudes nos serviços da Delta.A apuração ainda está em andamento e vem servindo como complemento a uma ação civil de 2010 movida pelo Ministério Público contra a empreiteira e servidores da Prefeitura de Palmas. Um dos alvos da ação, Marques assumiu o papel de acusador no inquérito policial. Pedro Duailibe foi exonerado do cargo em abril, após assumir que era para ele um depósito de R$ 120 mil feito pelo tesoureiro da Delta no Centro-Oeste, Rodrigo Dall Agnol, na conta de uma assessora fantasma de sua irmã, Solange Duailibe. Solange é deputada estadual e primeira-dama de Palmas. Jair Júnior, que também é alvo da ação civil, deixou a prefeitura no fim de 2010.

Planilhas. O engenheiro disse à polícia que o trâmite normal de fiscalização dos serviços da Delta não era seguido. Segundo ele, as planilhas de medição do serviço de coleta de lixo já lhe chegavam prontas, com a assinatura do secretário, que normalmente é o último a assinar. E acrescentou que, nos contratos feitos com outras empresas,as anotações das medições eram feitas por um subalterno seu, depois seguiam para que ele conferisse, produzisse e assinasse as planilhas. Só então elas seguiam para Jair Júnior assinar. Luiz Marques declarou à polícia que algumas vezes um funcionário da prefeitura de nome Gleidson o procurou para trocar as planilhas mesmo depois de feitos os pagamentos à Delta com base nas planilhas anteriores. E disse que chegou a ser procurado à noite,em casa,para que assinasse documentos e que tudo o que dizia respeito a pagamentos à Delta era tido como prioridade. O engenheiro declarou que um dos contratos de emergência entre a prefeitura e a empresa – foram quatro dispensas de licitação – chegou pronto à secretaria. Ele sustentou ainda que Jair Júnior usava um carro da Delta quando era secretário e tinha um genro que trabalhava na empresa, em Rio Verde, cidade de Goiás. Um outro servidor do mesmo departamento, Raimundo Gonçalo, responsável pelas medições do serviço da Delta em campo, admitiu à polícia que a Delta pagou bilhetes aéreos para que seu filho Ronaílson fosse ao Rio participar de uma seletiva de um time de futebol. Ele negou, porém, ter havido "troca de favores".

Ex-secretário nega irregularidades; empresa vê só ilação

 O cunhado do prefeito Raul Filho, Pedro Duailibe, negou comandar a Delta em Palmas. "Como secretário, mantive as relações necessárias à função." Ele declarou não ter ciência de fraudes na elaboração de planilhas de medição dos serviços da Delta. Duailibe confirmou que conhece o engenheiro Luiz Marques e que mantém relação "informal" com ele, nunca para falar da Delta O Estado tentou contato com o ex-secretário Jair Corrêa Júnior, mas não obteve sucesso. O prefeito Raul Filho informou que não quer dar entrevistas agora. A assessoria da prefeitura avisou que ele só se manifestará sobre o assunto no depoimento aos parlamentares da CPI do Cachoeira, na terça. A Delta afirmou, em nota, que "são falsas todas as ilações acerca de manipulação contratual da Delta Construção" em Palmas. A empreiteira disse desconhecer "o teor dos depoimentos" à polícia do Tocantins e que "irá se pronunciar quanto a eles" só judicialmente.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A vez das obras:: Merval Pereira

Os desafios da construção da infraestrutura nos países da região, e em especial no Brasil, têm sido objeto de diversos fóruns de discussão. O tema deve voltar a ser prioritário para o governo brasileiro, que tem no aumento dos investimentos em obras uma maneira de combater a crise econômica que está abalando nossa economia. No relatório que entregou ao Mercosul depois de pedir demissão do cargo de secretário executivo daquela organização regional, por falta de condições para atuar, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães chamou a atenção para a importância fundamental desse setor:

"As deficiências da infraestrutura de transportes, de saneamento, de energia e de comunicações dos países do Mercosul, e a reduzida integração entre as distintas redes dos quatro países, tornam prioritários os investimentos em infraestrutura, (...) base indispensável para a expansão da atividade produtiva e comercial, e para a formação de mercados internos nacionais e regional mais dinâmicos, capazes de absorver a mão de obra e de agregar valor, e elevar o nível de renda e desenvolvimento humano."

"(...) A construção da infraestrutura e a geração de empregos são elementos fundamentais para a redução da pobreza e para criar condições dignas de vida para a maioria da população a longo prazo."

Em outro nível, realizou-se em Madri, patrocinado pela Secretaria Geral Ibero-Americana (Segib), seminário sobre os desafios da infraestrutura na Ibero-América, com destaque para a situação brasileira.

A representação brasileira contou, além da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, com dirigentes de diversas empreiteiras como Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, de representante do Funcef e do diretor de Infraestrutura do BNDES, Roberto Zurli Machado. As empreiteiras espanholas estavam também presentes ao encontro, o que demonstra o interesse nas obras da região.

As conclusões vão na mesma direção do diagnóstico de Pinheiro Guimarães, segundo um empresário brasileiro presente à reunião: o déficit de infraestrutura de transporte na América Latina prejudica a competitividade da região.

Para ampliar os mercados e obter maior integração das empresas ibero-americanas em cadeias de valor global, é preciso eliminar particularmente o atraso da infraestrutura de transporte, fundamental para aumentar o tamanho do mercado e promover deslocamentos de pessoas dentro de cada país e entre os países. O investimento num país pode criar comércio ou gerar benefícios num país diferente, mas esses projetos transnacionais têm uma característica própria, como foi ressaltado nas discussões de Madri: estão sujeitos às regulamentações de vários Estados soberanos, o que aumenta os riscos políticos, da regulamentação e dos tipos de câmbio. A redução desse déficit de infraestrutura exige a participação do setor público, pelas capacitações de planificação e fiscal, de redução de riscos e a visão e responsabilidade sobre o que é mais conveniente para cada país.

Mas requer também a participação do setor privado complementando a ação dos governos com suas capacidades técnica e de gestão, além do acesso a recursos financeiros disponíveis nos mercados.

A resposta ao déficit existente de infraestrutura tem de se compatibilizar com o máximo rigor na seleção de projetos, retirando-se deles qualquer conotação política.

O quadro institucional e os procedimentos de avaliação econômica devem alinhar-se com os incentivos dos diferentes agentes envolvidos, para que sejam selecionados os projetos que melhor contribuição possam dar para os usuários.

Foi opinião predominante, segundo os relatos, que as experiências dos últimos anos mostram que o êxito das alianças entre o setor público e privado (APP) se assenta numa divisão de responsabilidades, de acordo com as condições e os requisitos específicos de cada país.

O maior desafio de uma boa aliança público-privada é equilibrar o poder de negociação entre os setores antes da execução de investimento, durante, mas também depois de ele acontecer.

Uma das principais preocupações dos investidores, revelada nos debates, é a mudança registrada no poder da negociação desde a etapa do investimento (que favorece o investidor) até a etapa operativa (que inclina a balança para o setor público).

A distribuição de responsabilidades permite definir os incentivos das partes, os riscos de não execução e o da renegociação que possam ser minimizados.

Os instrumentos de apoio da parte do setor público inserem-se na aliança, diminuindo alguns riscos, mas introduzindo riscos políticos e os associados à capacidade fiscal do próprio setor público.

Sendo os investimentos em infraestruturas de alto custo e de retorno a longo prazo, a atração de capitais privados e a operação efetiva das alianças público-privadas requerem quadro jurídico e institucional estável e que proteja os direitos das partes.

As licitações abertas às empresas de outros países aumentam a concorrência entre os participantes e permitem uma redução dos custos de infraestrutura.

Para conseguir uma concorrência equilibrada entre todos os atores, é importante assegurar capacidade técnica e financeira, com índices financeiros compatíveis, em consonância com o tamanho da licitação.

A exigência de garantias é uma prática comum para assegurar que as empresas cumpram seus compromissos, mas a sobreposição delas não melhora a efetividade do processo, encarecendo-o desnecessariamente, podendo acrescentar riscos políticos ao projeto.

Os fundos de pensões são fonte potencial de financiamento de longo prazo em moeda local, inclusive porque os projetos de infraestrutura proporcionam fluxo de dividendos e rendimentos relativamente seguros e regulares.

Os fundos de infraestrutura têm também um papel a desempenhar no financiamento, e sua criação deveria ser facilitada na legislação e nas regulamentações locais.

FONTE: O GLOBO

Os prefeitáveis :: Flávio Tavares

A palavra-título deste artigo não consta dos dicionários, mas viceja agora em todos os lados. Os prefeitáveis e as prefeitáveis surgem pelo ar ou por terra e, se houver mar, podem vir até na caravela de Pedro Álvares Cabral para atrair olhares em todos os lugares, sejam lares ou bares. Em cada município, candidatos a prefeito farejam votos, juntos a um enxame de aspirantes a vereador.

A eleição de prefeito é fundamental. É ele que lida com os problemas prementes das ruas e do tráfego, das cloacas invisíveis ou do lixo na calçada e, a todo instante, está em nossas casas, na pia da cozinha e na água do chuveiro.

Não se exige dele que tenha simpatia de estrela de cinema ou TV para catar votos. Pode até ser sisudo, se souber cuidar de coisas concretas – a poluição urbana, a brutal transformação das cidades em pombais verticais que escondem o céu e ocultam o sol. E que faça da rua um sítio de convívio, não o covil de hoje, sob o terror dos assaltos.

Que saudades de quando passeávamos à noite na rua, a pé e sem medo!

A partir de 1951, as capitais elegeram seus prefeitos, até aí nomeados pelo governador, e a eleição em Porto Alegre foi renhida. A apuração mudava a cada hora e só nos minutos finais Ildo Meneghetti (ex-prefeito nomeado) superou Leonel Brizola (ex-secretário estadual de Obras) por pouco mais de mil votos. Na campanha, cada qual exibia a condição de "engenheiro" para se mostrar apto a governar a cidade.

Na eleição de 1955, de novo Brizola candidatou-se pelo Partido Trabalhista. Um grupo de intelectuais, artistas, jornalistas e estudantes (eu entre eles) decidiu enfrentá-lo e lançar “um nome novo e corajoso” – o radialista Cândido Norberto, deputado pelo Partido Socialista e, sempre, o mais votado na Capital. O advogado Germano Bonow capitaneava o grupo. Xico Stockinger desenhou os cartazes e Josué Guimarães redigiu as frases da campanha. Erico Verissimo telegrafou de Washington, solidário. Maurício Sirotsky Sobrinho e Arnaldo Ballvé cederam espaços na Rádio Gaúcha. Rubens Maciel, da Faculdade de Medicina, encabeçou o manifesto de professores da URGS. E, para surpresa geral, João Goulart liberou seu amigo Valdir Borges (diretor e acionista do jornal “A Hora”) para apoiar Cândido Norberto.

Mas o deputado estadual mais votado na Capital em duas eleições, ficou em terceiro lugar, superado por dois engenheiros. Ele era só “um radialista” e a metrópole tinha de ter um comandante de obras!

A visão de que a profissão define o agir das pessoas era tão arraigada naqueles anos em que éramos o Estado mais politizado do país, que todos (menos nós) arrumaram um engenheiro para se opor ao favorito Brizola, que afinal foi excelente prefeito. Para enfrentá-lo, a coalizão liberal-conservadora (PL, UDN e PSD) tinha um grande nome – Décio Martins Costa, do Partido Libertador, pioneiro da pediatria no Estado e fundador do Hospital da Criança. Mas o abnegado doutor Décio era médico, num tempo em que bom prefeito devia ser “um técnico” e a coligação buscou em Caxias o engenheiro militar Euclydes Triches, que fora correto prefeito do município. Triches mal conhecia a Capital e ficou muito longe de Brizola, mas “por ser engenheiro” superou o radialista Cândido, imbatível campeão de votos nas eleições legislativas.

Até os democratas-cristãos do PDC, recém-surgidos no Sul e com poucos votos, conseguiram um engenheiro, Edmundo Casado Marques. Mas na disputa, a profissão teve relação direta com o cargo e “prefeitável mesmo” só quem tivesse curriculum técnico.

Agora, entre sete candidatos, (três grandes e quatro nanicos) a Capital decidirá pelo futuro concreto ou pelo blá-blá-blá oco?

Jornalista e escritor

FONTE: ZERO HORA (RS)

Valerá a pena?:: Janio de Freitas

Câmaras Municipais são a fonte da desgraceira que vai galgando, como trepadeira venenosa, alturas legislativas

O jogo está iniciado. Partimos outra vez para 90 dias de discussões, promessas, apelos, acusações, insultos, marquetices. Tudo movido por fortunas. E reunido como um espetáculo grotesco com a pretensão de seduzir-nos, em nosso mínimo poder de premir uns poucos botões ao fim dos três meses.

Tem valido a pena? Todo esse longo e fundo intervalo justifica-se mesmo? O gasto de tanto dinheiro, na maioria das vezes mal-intencionado já na doação, não tem sido um desperdício abusado, com tantas carências em tão grande número de cidades?

Uma minoria de prefeitos, entre os mais de 5.500, faz por não ser uma presença indesejável ou inútil no seu município. Uma minoria mínima naquela minoria, mostra-se à altura da honra recebida do eleitor. Dá sentido ao cargo, dá sentido à administração pública.

Mas o que dizer das Câmaras Municipais? Ali e acolá, uns quantos vereadores têm seriedade e bons propósitos. A realidade, porém, pelo país todo, é de Câmaras Municipais reduzidas a abrigos de negócios ilícitos, quase todos à custa de alguma parte do território ou da vida da cidade.

Não lhes bastando a baixeza a que foram levadas, as Câmaras Municipais são a fonte da desgraceira política que vai galgando, a partir dali, como trepadeira venenosa, as alturas legislativas -Assembleias Estaduais, Câmara dos Deputados, Senado da República. E destes também para os ramos de governo.

As próximas eleições vão aumentar em mais de 5.000 o número de vereadores. É a contrapartida, avalizada pela Justiça Eleitoral, ao ressurgimento de propostas para que as Câmaras Municipais se tornem menores.

O que é ruim vai piorar. Porque, para os venais, os associados a atividades ilícitas, os desclassificados, é mais fácil eleger-se do que é para os bem-intencionados. Já se sabe como será ocupada a grande maioria das novas cadeiras.

Pois é, o jogo está iniciado outra vez. E, para o bem ou para o mal, temos a nossa parte nele.

O outro

Sereno, seguro, inteligente nas inquirições, ao presidir a CPI da Infraero o deputado Marco Maia (PT-RS) deixou a impressão de que seria um bom presidente da Câmara. Concorreu e ganhou. Mas a impressão revelou-se enganosa.

Marco Maia, hoje, é um caso exemplar de presunção e arrogância. O que seria problema dele e de quem não lhe dê resposta adequada. Mas há um lado ruim também para o país: na condução da Câmara, adotou um corporativismo primário e demagógico.

Em dia da semana passada, ao ver os repórteres, foi disparando com ar de deboche: "Ponham em letras garrafais: aumentada a verba dos deputados". É que teve a sem-cerimônia de aumentar em 30% aquela "verba de gabinete" com que os deputados contratam parentes, parentes de outros políticos, gente do faz de conta que vai ao gabinete e gente que nem de conta faz.

Em outro dia da semana, quando deveria receber comitivas que levavam a Brasília assinaturas populares pelo fim do voto secreto na Câmara e no Senado, Marco Maia caiu fora, sem a menor consideração. Que voltassem no dia seguinte, e pronto.

O Senado aprovou na quarta-feira, por 56 a 1 e por 55 a 1 nas duas votações, o fim do voto secreto no plenário em processos de cassação de mandato. Na Câmara, a segunda e final votação do projeto não está nem entre as consideradas para próximas prioridades. Marco Maia alia-se aos líderes contrários ao voto aberto.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO