quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

— Há um sentimento crescente de que “eles”, o setor que se interessa por política, é diferente de “nós”, aqui da vida real.

Ao mesmo tempo, os partidos perderam o status de referência, diante de uma sociedade composta por muitas identidades.

— Ainda estamos com as formas tradicionais de representação política na cabeça. Olhamos o futuro com um olhar do passado. Tem mais ingredientes (na sociedade) do que ser de esquerda, centro, direita.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo. Foi presidente de República, no debate ‘E agora Brasil?’, O Globo, 18/10/2016.

Lula quer afastar desembargador

A defesa do ex-presidente Lula entrou com recurso questionando a parcialidade do desembargador João Pedro Gebran Neto, relator da Lava Jato no TRF.

Lula pede suspeição de desembargador da Lava Jato

• Defesa do ex-presidente alega que João Pedro Gerbran Neto, relator do caso no TRF da 4.ª Região, mantém ‘amizade íntima’ com o juiz Sérgio Moro

Mateus Coutinho Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

Após questionar a atuação do juiz federal Sérgio Moro na condução das investigações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em todas as instâncias, a defesa do petista entrou ontem com um recurso questionando o desembargador João Pedro Gebran Neto, relator dos recursos da Operação Lava Jato no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª Região.

A exceção de suspeição – que questiona a parcialidade do magistrado para julgar um caso – foi ajuizada perante o próprio Gebran sob argumento de que o desembargador se recusou a esclarecer se mantém relação de “amizade íntima” com Moro, que conduz a Lava Jato em primeira instância em Curitiba.

Ex-presidente diz ser vítima de ‘caçada judicial’

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva se considera vítima de “uma verdadeira caçada judicial”. Em artigo publicado ontem no jornal Folha de S.Paulo, o petista alega que, em 40 anos de atuação pública, seus adversários e a imprensa “jamais encontraram um ato desonesto” de sua parte. E às vésperas de completar 71 anos (no dia 27 de outubro), diz ver o seu nome “no centro de uma verdadeira caçada judicial”.

Anteontem, manifestantes em defesa do ex-presidente fizeram vigília em frente à casa dele, em São Bernardo, após informação circulada nas redes sociais sobre suposta prisão de Lula.

Sem citar o juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava Jato, Lula afirma que devastaram suas contas pessoais, as de sua esposa e filhos, grampearam seus telefonemas, invadiram sua casa e o conduziram à força para depor, sem motivo razoável ou base legal. “Estão à procura de um crime, para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar”, destaca no artigo.

Lula diz que “essa caçada” começou na campanha de 2014 e, mesmo assim, não desistiu de continuar percorrendo o País e nem desistiu da luta por justiça social. “Confio que cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos livros de história.” /

Sindicalistas defenderão Lula em campanha internacional

Thais Bilenky – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Com perspectiva pessimista sobre as acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sindicalistas lançarão nos próximos dias uma campanha internacional em defesa do petista.

Um vídeo sobre a trajetória política de Lula, hoje réu em três ações na Justiça, será encaminhado a organismos como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), além dos sindicatos em 155 países associados à CSI (Confederação Sindical Internacional), que responde pela campanha.

Diretores do Instituto Lula, o ex-ministro Paulo Vannuchi e a ex-assessora especial da Presidência Clara Ant acompanharam a produção da peça para evitar eventuais inconformidades.

Pesquisas indicam poucas viradas no 2º turno

Por Fernando Taquari e Marina Falcão – Valor Econômico

SÃO PAULO E RECIFE - A abertura das urnas no próximo dia 30 deve ratificar a vitória da maioria dos candidatos a prefeito que terminaram na frente no primeiro turno. Levantamento realizado pelo Valor com base nas pesquisas mais recentes do Ibope e do Datafolha, mostra apenas duas tendências de reviravolta. Nas 15 capitais em que houve amostragem até aqui, apenas em São Luís (MA) o segundo colocado conseguiu a ultrapassagem. Em Belém (PA) também ocorreu uma virada, mas dentro da margem de erro. Ambos os casos têm comum a derrota de prefeitos que buscavam a reeleição.

Candidato a prefeito da capital maranhense, o deputado estadual Eduardo Braide (PMN) teve uma ascensão meteórica em cerca de três semanas. A quatro dias do primeiro turno, aparecia em quarto lugar na pesquisa Ibope, com 5% das intenções de voto. Depois de surpreender os adversários e garantir uma vaga no segundo turno ao obter 21% dos votos válidos, o parlamentar assumiu a dianteira nesta reta final ao herdar a maior parte dos votos de Wellington do Curso (PP), terceiro colocado na corrida eleitoral, com 19%.

Renan quer votar reforma política e abuso de autoridade em novembro

• Pacote inclui ainda medidas de combate à corrupção

Cristiane Jungblut e Catarina Alencastro – O Globo

BRASÍLIA - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu nesta terça-feira que o Congresso vote a partir de novembro um pacote incluindo a reforma política, as medidas de combate à corrupção e o projeto que pune o abuso de autoridade. Renan disse que a Câmara e o Senado deveriam fazer um acordo para mexer nesses três pontos.

— Fizemos uma reunião com a Câmara para que logo depois do segundo turno possamos avançar na reforma política. E entendo que a reforma política deve ser conjugada com as leis de combate à corrupção e do abuso de autoridade. Esse aperfeiçoamento, mais do que nunca, se faz necessário no Brasil. Se fizermos essa conjunção para votarmos essas propostas, estaremos aperfeiçoando o Brasil e, consequentemente, suas instituições — disse Renan.

Renan defendeu ainda que a reforma política vote o fim da reeleição no país.

— Temos que fazer uma reforma política profunda que acabe com a reeleição.
Ele citou como prioridades na reforma política três pontos: fim da reeleição, instituição de uma cláusula de barreira e fim das coligações.

Centrão se posiciona contra voto em lista fechada

• Sistema é defendido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e pelo PT

Isabel Braga - O Globo

-BRASÍLIA- Defendida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e pelo PT, a mudança do sistema eleitoral para o chamado voto em lista nas eleições proporcionais foi rechaçada pelos partidos do centrão, em jantar com o presidente da comissão da reforma política, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), na última segunda-feira. Os líderes do centrão sustentam que esse tipo de sistema eleitoral dá muito poder aos presidentes de partidos e encontrará muita resistência nas bancadas. A proposta já encontra resistência no PSDB — que defende o voto distrital — e no DEM de Rodrigo Maia.

— Indiquei o deputado Efraim Filho (PB) para a comissão. Mas, na bancada, não tem voto a favor do voto em lista — afirmou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).

Rodrigo Maia, como presidente, não costuma votar a não ser em caso de empate.

— A maioria dos partidos do centrão não quer o voto em lista. Será partido virar cartório — afirmou o líder do PR, Aelton de Freitas (MG).

— O povo brasileiro quer votar em pessoas e não em uma lista fria. Não fizemos reunião formal, mas sinto que na bancada do PSD há resistência ao voto em lista — acrescentou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF).

A comissão criada por Rodrigo Maia ainda aguarda a indicação de nomes. Até ontem à noite, dez dos 34 integrantes tinham sido indicados. Lúcio Vieira Lima quer instalar a comissão amanhã, mas aguarda que os demais partidos apresentem seus nomes. Ele almoçou ontem com o deputado Vicente Cândido (PT-SP), que será o relator, para traçar a estratégia de andamento dos trabalhos da comissão. Além do sistema eleitoral, a comissão também deverá debater o financiamento das campanhas.

Os líderes admitem que não há clima para a volta do financiamento empresarial. Há quem defenda a criação de um fundo para as campanhas e os que defendem o aumento os recursos do fundo partidário nos anos eleitorais. Na reunião com o centrão, Lúcio evitou se posicionar.

— Vamos ouvir as propostas e debater as soluções — disse o peemedebista.

O presidente da Câmara voltou a defender ontem a necessidade de aproveitar o encerramento das eleições municipais para discutir a reforma política. E novamente promoveu a tese do voto em lista fechada. Maia diz que esse modelo promoverá a redução no número de partidos e o barateamento das campanhas. Hoje, diz, há um movimento pelo financiamento público e pela manutenção da proibição da doação empresarial.

— O que é inconstitucional é o brasileiro não se sentir representado por esse modelo. Metade da população não votou. Ou se absteve, ou votou nulo ou branco. Se a gente não entender que o problema é a falta de legitimidade desse modelo a gente vai estar cometendo um erro — disse Maia. (Colaborou Catarina Alencastro)

Petistas querem usar frente de esquerda

Petistas sugerem que Frente Brasil Popular dispute eleições

• Grupo formado por partidos e movimentos sociais contrários ao impeachment se apresentaria como uma frente de esquerda

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Em meio à busca por soluções para a maior crise da história do PT, militantes influentes sugerem que a Frente Brasil Popular (FBP), formada por partidos e movimentos sociais contrários ao impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, seja adaptada para disputar eleições com base na reforma política que tramita no Congresso.

A proposta foi apresentada pelo jornalista Breno Altman em reunião de petistas que integram a FBP, cerca de duas semanas atrás. O primeiro passo seria abrir a frente, que hoje só recebe partidos e entidades, para filiações individuais para, em um segundo momento, a depender da reforma política, disputar eleições.

“Também exigiria o amadurecimento das condições políticas, programáticas e organizativas para que a FBP viesse a se constituir em alternativa de poder, disputando eleições em todos os níveis. Mas seria um grande avanço se a FBP pudesse ser o embrião de uma coalizão política de toda a esquerda”, disse Altman.

Doria e PMDB negociam aliança

Por Cristiane Agostine e Estevão Taiar – Valor Econômico

SÃO LUÍS E SÃO PAULO - O PSDB e o PMDB devem reproduzir a aliança nacional em São Paulo, com vistas às eleições de 2018. O prefeito eleito, João Doria (PSDB), reuniu-se com o presidente do diretório municipal do PMDB, José Yunes, e com o pemedebista Marcio Toledo para negociar a participação do partido na gestão tucana. Na próxima semana, no dia 25, Doria discutirá o acordo com o PMDB em encontro com o presidente da República, Michel Temer.

A reunião de Doria com as lideranças pemedebistas foi realizada há cerca de dez dias. Marido da senadora Marta Suplicy (PMDB), derrotada na disputa pela prefeitura paulistana, Toledo tem participado diretamente das negociações.

Para o presidente do PMDB paulista, a tendência é de fechar acordo com a gestão Doria em breve. "Se a aliança entre os dois partidos dá certo no plano nacional, por que não dará certo em São Paulo?", disse Yunes. "Essa aliança será institucional e política", afirmou.

Tucano reunirá cinco ex-prefeitos em Conselho

Por Estevão Taiar – Valor Econômico

SÃO PAULO - O prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), irá criar um Conselho Municipal com a participação de pelo menos cinco de seus sete antecessores. O atual prefeito Fernando Haddad (PT), o ministro da Comunicações, Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD), a senadora Marta Suplicy (PMDB), e os deputados federais Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (Psol) aceitaram o convite feito ontem pelo tucano. O único que ainda não respondeu foi o ministro das Relações Exteriores, José Serra, também do PSDB, prefeito entre 2005 e 2006. Também é ex-prefeito de São Paulo o deputado estadual Antonio Salim Curiati (PP), que ocupou o cargo entre 1982 e 1983, época em que não havia eleição direta para o cargo.

Para analistas, BC deve iniciar novo ciclo de queda de juros

• Taxa Selic de um dígito volta ao horizonte de projeções para 2017 e 2018

Ana Paula Ribeiro - O Globo

-SÃO PAULO- O ambiente econômico mais favorável e a menor incerteza quanto aos rumos da inflação abrem espaço para uma redução mais agressiva dos juros por parte do Banco Central (BC) nos próximos meses. Com isso, o retorno da Taxa Selic para o patamar de um dígito voltou ao horizonte das projeções dos economistas. O novo ciclo de queda da Selic deve ter início hoje, com o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciando o primeiro corte de juros no país depois de quatro anos.

E crescem as apostas de que esse primeiro corte seja de 0,5 ponto percentual, o que derrubaria a taxa básica dos atuais 14,25% para 13,75% ao ano.

IMPACTO DAS REFORMAS
Na avaliação do economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, a economia se encontra em um ponto de virada e, com a inflação em queda — agora com a ajuda, mesmo que pequena, do preço dos combustíveis —, há espaço para uma sequência de cortes sucessivos de hoje até a última reunião do Copom de 2017. Ou dez cortes seguidos de 0,5 ponto, levando a Selic a 9,25%.

— Com a queda do IPCA, o juro pode ser cortado agressivamente. A expectativa é de uma redução muito grande, de 500 pontos básicos (5 pontos percentuais) até o fim do ano que vem — disse.

Dívida será controlada em 2 anos, diz Temer

• Em visita ao Japão, presidente afirma que tarefa é difícil, mas não impossível

- O Globo

-BRASÍLIA- Em visita ao Japão, o presidente Michel Temer disse que o controle da dívida pública brasileira só será alcançado dentro de dois a três anos. Segundo dados divulgados na última segunda-feira pelo Tesouro Nacional, o estoque da dívida pública federal em agosto chegou a R$ 2,9 trilhões.

— Ela (a dívida) é de difícil controle, não é? Mas talvez não impossível — afirmou.
Perguntado sobre a trajetória da dívida pública, respondeu:

— Não há dúvida que nesses dois, três próximos anos, não é fácil controlá-la, mas que nós estamos trabalhando para o absoluto controle lá para frente, não tem a menor dúvida disso. Medidas estão sendo tomadas, não é?

Temer disse que, por outro lado, a proposta de emenda constitucional (PEC) que limita os gastos públicos está sendo bem vista por outros países. Segundo ele, durante a cúpula do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizada em Goa, na Índia, houve grande interesse, principalmente, de russos e indianos pelo tema.

Haddad ganha força para presidir PT

• Prefeito derrotado em SP é visto como nome de consenso para acabar com racha entre correntes; ele nega ter conhecimento de proposta

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, passou a ser visto no PT como solução para presidir o partido, no próximo ano, e acabar com o racha que marca as discussões sobre a troca da cúpula. O nome tem a simpatia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, das tendências de esquerda e de parte expressiva da corrente majoritária, Construindo um Novo Brasil (CNB).

Haddad perdeu a eleição para João Doria (PSDB) e o PT amargou sua maior derrota desde 1992 na capital paulista. Nos bastidores, dirigentes da sigla ligados à CNB culparam o estilo do prefeito pelo revés, mas agora ele é citado no Instituto Lula como um dos poucos capazes de unificar o partido, que vive a maior crise dos seus 36 anos.

Preparando o terreno - Merval Pereira

- O Globo

O ex-presidente Lula vem fazendo nos últimos dias movimentos para desacreditar a Justiça brasileira claramente na tentativa de apresentar-se ao mundo — e nesse caso a internacionalização do debate com a ação no Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) faz parte da estratégia — como um perseguido político.

Ontem, publicou um artigo na “Folha de S. Paulo” denunciando o que seria uma perseguição política dos procuradores de Curitiba e do juiz Sérgio Moro. Ele assume a versão, que já havia sido veiculada pela direção do PT, de que as prisões de Antonio Palocci e outros petistas foram feitas perto das eleições municipais para desmoralizar seu partido.

No mesmo dia, seus advogados entraram com um pedido para que o desembargador João Pedro Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), considere-se impedido de julgar o pedido de suspeição do juiz Sérgio Moro, pois os dois seriam “amigos íntimos”.

Dinheiro move ‘reforma’ - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

• Suas Excelências devem ir devagar com o andor que a paciência do eleitor é de barro

Após anos de proposital letargia, eis que o Poder Legislativo resolve se mexer para fazer a reforma política. Ou melhor, o que ali se chama de reforma política. Pensam deputados e senadores (exceções de praxe, óbvio) no aperfeiçoamento de suas relações com o eleitorado quando põem o tema em pauta?

A julgar pelas propostas em andamento, tomaram-se em brios quando o “sistema” esvaziou-lhes os caixas de campanhas. E, sendo o assunto dinheiro, sabem o prezado leitor e a cara leitora como é: não se perde tempo nem se medem esforços. A ideia agora é criar um atalho para permitir a volta das doações de pessoas jurídicas.

Jogaram pedra na Geni – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

- A notícia foi divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral: uma beneficiária do Bolsa Família doou R$ 75 milhões a uma campanha política. Com ar de escândalo, a corte listou o caso entre os "indícios de irregularidades mais relevantes" do primeiro turno.

Ao avisar a imprensa, o TSE informou que "compartilhou imediatamente o material com o Ministério Público Eleitoral". A corte também acionou o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário para a abertura de uma investigação.

Rapidamente, vazou-se o nome da suspeita: Maria Geni do Nascimento. Ela se candidatou a vereadora pelo PDT em Santa Cruz da Baixa Verde, no sertão de Pernambuco. É lavradora, tem 56 anos e não completou o ensino médio.

Candidato de demolição - Rosângela Bittar

- Valor Econômico

• A urna municipal não mandou recado contra políticos

À sua maneira peculiar e conveniente, o ex-governador cearense Ciro Gomes interpretou o resultado das eleições municipais e definiu uma estratégia de combate aos adversários da próxima campanha presidencial desde já. Postulante pela terceira vez à Presidência, cargo que já disputou por diferentes partidos entre a meia dúzia de siglas que já frequentaram seu currículo, ele casou o que imagina ser recado das urnas municipais com seu traço comportamental marcante, a contundência verbal, montou e colocou em execução um plano.

Como acredita que o eleitorado deu vitória à anti-política, sua metralhadora passou a girar em direção aos alvos nos 360 graus à sua volta. Antes mesmo do resultado das eleições em segundo turno, Ciro começou a trabalhar. Apenas daqui a um ano a campanha terá que estar na rua com toda a força, candidatos deverão assumir posição em suas raias, mas o fato de notar uma coincidência entre o que acha que deseja o eleitorado e o que lhe pode oferecer, o ex-governador botou o bloco na rua.

Saudades da esquerda - Pedro Doria

- O Globo

O primeiro cargo político do ex-premiê Shimon Peres, em princípios dos anos 1940, foi como secretário da No’Al, o braço jovem dos Trabalhistas Sionistas, afiliado à Internacional Socialista. Israel, com suas fazendas comunitárias, nasceu como uma outra visão do socialismo, alternativa ao projeto soviético. A relação da esquerda com o judaísmo é de sangue. Marx era judeu. Trotsky, idem. E, até finais do século passado, era muito comum encontrar judeus em posições de destaque na juventude dos partidos de esquerda brasileiros. Hoje é raríssimo. O sentimento anti-israelense se tornou regra e flerta abertamente com o antissemitismo. A agressiva nota de uma facção do PSOL contra Peres é só a mostra mais recente.

A política como ela é - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• A pressa para a votação da reforma decorre da delação premiada de Marcelo Odebrecht, que será um tsunami político

Apesar do impeachment da presidente Dilma Rousseff e da derrota nas eleições municipais, que reduziram drasticamente as bases do PT em termos eleitorais – a 256 prefeitos, no primeiro turno, e 2.808 vereadores –, a legenda emplacou o deputado Vicente Cândido (PT-SP) como relator da reforma política que está sendo articulada pelo PMDB no Congresso, cuja comissão especial, na Câmara, deverá ser presidida pelo deputado Lúcio Viera Lima (PMDB-BA), irmão do ministro da Articulação Política, Geddel Vieira Lima. Os dois partidos estão aliados no sentido de bloquear qualquer possibilidade de renovação do sistema partidário em 2018, uma espécie de antídoto aos efeitos eleitorais devastadores da Operação Lava-Jato previstos para o pleito de 2018.

A PEC e a Borboleta - Monica de Bolle

- O Estado de S. Paulo

• O debate para aprimorar a PEC do Teto é saudável e deve continuar

Acabo de chegar ao Brasil para a semana de lançamento do meu novo livro Como Matar a Borboleta Azul: Uma Crônica da Era Dilma. Acabo de chegar ao Brasil depois de passar uma semana lendo diferentes opiniões sobre a controvertida PEC do Teto, a PEC 241, que prevê a limitação para o crescimento das despesas primárias do governo. Pelo que senti desde que cheguei, parece que o assunto está muito longe de se esgotar.

Tenho visto diversas posições favoráveis e contrárias à PEC. Algumas têm embasamento, outras não. Para refletir sobre a PEC com algum grau de seriedade e sem deixar-se levar pelas paixões, é preciso, primeiramente, avaliar os diferentes diagnósticos. Discussão sobre a PEC sem que se saiba qual o diagnóstico da pessoa que a defende ou ataca é como aceitar de bom grado tratamento invasivo sem que o médico tenha lhe dito qual doença lhe aflige. Vamos, pois, aos diagnósticos.

Mitos e verdades sobre a PEC 241 - José Márcio Camargo, André Gamerman

- O Globo

A Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno a proposta de emenda constitucional (PEC) 241. Esta é, possivelmente, a legislação mais importante, do ponto de vista econômico, desde o Plano Real. É a primeira vez que haverá um limite para o crescimento dos gastos do governo federal.

A PEC tem dois objetivos: estabelecer um teto para o crescimento dos gastos primários do governo federal e alterar o indexador dos gastos mínimos com saúde e educação.

A PEC estabelece que, nos próximos 20 anos, o limite máximo para o crescimento das despesas primárias do governo federal é a inflação acumulada nos 12 meses anteriores. A proposta não cria limites superiores de crescimento para gastos específicos, como saúde e educação. Apenas para o total de gastos. À exceção dos gastos com saúde e educação, nenhum outro item do Orçamento tem limite mínimo de gastos.

Paul.Samuelson@edu para Lozardo@gov - Elio Gaspari

- O Globo

• Gudin e Campos fingiam discutir meu livro, mas o que eles queriam era bajular o governo, tire o Ipea dessa

Prezado professor Ernesto Lozardo, ilustre presidente Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea O senhor me conhece, estudou no meu clássico “Introdução à analise econômica” e viu quando ganhei o Prêmio Nobel. Escrevo-lhe para compartilhar um episódio de 1973 que invadiu minha memória quando li a censura pública que o senhor impôs a dois pesquisadores do Ipea que criticaram os efeitos de uma medida proposta pelo governo que lhe nomeou.

À época, não dei maior importância ao que me aconteceu. Hoje, vejo o papelão em que me meteram. No segundo semestre de 1973 a editora Agir, que publicava meus livros no Brasil, estava traduzindo a nona edição do “Economics”. A certa altura, discutindo o fascismo, mencionei o regime militar brasileiro e seu crescimento de 10% ao ano. Lembrei que todos os regimes semelhantes tinham ido à breca.

Aqui d’el rey! - *Roberto Romano

- O Estado de S. Paulo

• Ainda vivermos no Antigo Regime, o mais corrupto da História moderna

Passam os séculos, mas a opinião popular resiste, soberana. O seu beneplácito favorece ou desgraça candidatos ao governo, parlamentos, togas. Como na Grécia antiga ou no Império Romano, reina quem controla a fantasia das massas. No século 20 regimes totalitários tangiam milhões com propaganda. Goebbels retomou o dito platônico: a mentira repetida se transforma em verdade (Rep., 415d).

Mas o que é opinião pública? Segundo Walter Lippmann, a consciência do povo não atinge o juízo lógico e manifesta um ponto de vista estreito. A democracia, diz ele, não objetiva garantir a dita opinião. Esta última deve ser controlada por instrumentos que garantam atos mentais ditados pelo governo: “a fábrica dos consensos será objeto de refinamentos (...) graças aos meios de comunicação de massa”, afiança o mesmo Lippmann no famoso Public Opinion.

À esquerda de Lippmann, J. Habermas publicou vários textos para explicar o fato. Mas, seguindo hábitos do mundo acadêmico, ele calou sobre escritos anteriores às suas análises. No Brasil, desacostumado à erudição e à ética científica, o volume de Habermas trouxe furor. Teses, artigos, debates discorrem sobre o assunto, na suposta óptica habermasiana. Vários estudiosos, no entanto, o antecederam. Entre muitos, cito Eric Voegelin. Perseguido pelo nazismo, ele se dirigiu aos EUA. Ali produziu teses relevantes sobre o mundo social e político. Não assumo seus pressupostos, mas nele temos diretrizes fecundas para o exame da vida atual. Já em 1937 Voegelin publicou um artigo com título expressivo: Expressão de opinião e formação de opinião. Outro escrito posterior discute a censura e a governabilidade, o segredo de Estado e a imprensa: O que o povo está autorizado a saber? (1937).

Hora de cortar – Editorial / Folha de S. Paulo

Após longos 15 meses em que manteve a taxa básica de juros da economia (Selic) nos mesmos 14,25%, o Banco Central parece não ter dúvidas de que deve começar a cortá-la nesta quarta-feira (19).

Espera-se que a redução inicial —estimada em no máximo 0,5 ponto— seja apenas a primeira de uma série. Se o governo ajudar a criar as condições necessárias, o BC poderá pretender uma taxa sustentável de um dígito. Para o momento, estão dadas as circunstâncias para o início desse novo ciclo.

De um lado, há tendência clara de queda da inflação de alimentos e de itens sujeitos à concorrência internacional. Ademais, embora incipiente, também é discernível a perda de ímpeto do preço de segmentos que costumam mostrar maior inércia, como o setor de serviços.

Uma cínica reforma da reforma – Editorial / O Estado de S. Paulo

A proibição de doações eleitorais de pessoas jurídicas para candidatos e partidos estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro do ano passado e já aplicada no atual pleito municipal provocou a reação previsível dos políticos: para eles, foi um desastre. Antes da conclusão dessa rodada eleitoral com a realização do segundo turno onde isso se tornou necessário, os políticos se articulam para, no âmbito da reforma política, restabelecer as doações de empresas. É a reforma da reforma.

A decisão do STF proibindo o financiamento de campanhas políticas por empresas privadas limitou a influência, no processo eleitoral, de interesses de grupos econômicos que corrompem o princípio “um cidadão, um voto”. É esse princípio que estabelece plena igualdade entre os cidadãos no momento mais significativo e decisivo desse processo, aquele em que cada eleitor escolhe seus representantes. Empresas não votam e, de resto, dispõem de muitas maneiras legítimas para defender seus interesses.

O equívoco de proibir a doação eleitoral por empresas – Editorial / O Globo

• Balanço sobre o financiamento de campanhas nesta eleição revela que, em vez de coibir irregularidades, a regra acabou criando novas zonas de sombra no abastecimento de contas

Contra todas as evidências, o sistema eleitoral em vigor apostou, ao alijar as empresas privadas das fontes de financiamento de campanhas políticas, que tal iniciativa contribuiria para combater a promiscuidade — que passa ao largo dos meios legais de abastecimento de recursos — na relação entre doadores e candidatos/partidos. Confrontada a norma com a realidade no primeiro sufrágio por ela regulamentado, reafirmou-se o que já era sabido: é no mínimo um erro de visão esperar que o alijamento do apoio legal a candidatos e a partidos por pessoas jurídicas acabará com a corrupção e o abuso do poder econômico nas eleições.

Em vez de moralizar as vias que abastecem de dinheiro as campanhas, o que se constata, nos balanços do primeiro turno, é que se ampliaram as zonas de sombra por onde circulam altas somas destinadas a prover, de forma ilegal, contas para fins eleitorais. Os indícios de irregularidades descobertos até agora são assombrosos, tanto pelas somas movimentadas quanto pelos artifícios empregados para burlar a lei.

Há Poetas que são artistas – Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...

Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem sei eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.