Em sabatina no Senado, o ministro da Justiça licenciado Alexandre de Moraes, indicado pelo presidente Temer para o Supremo, fez críticas à interferência do Judiciário no Legislativo e no Executivo, que chamou de “ativismo judicial”. Na Comissão de Constituição e Justiça, onde 13 dos 27 senadores são citados ou investigados na Lava-Jato, Moraes disse que agirá com total imparcialidade e lembrou que não integrará a turma do STF que atua nos casos da operação. A indicação foi aprovada por 19 votos a sete na CCJ. A votação no plenário será hoje.
Contra o ‘ativismo judicial’
Em sabatina para o STF, Moraes fala em risco de ‘guerrilha institucional’ entre poderes
Eduardo Bresciani e Cristiane Jungblut | O Globo
-BRASÍLIA- Em uma longa sabatina, que se estendeu da manhã à noite de ontem, o ministro licenciado da Justiça e indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, minimizou a atuação que terá na Lava-Jato na Corte e criticou o chamado ativismo judicial, afirmando que o Judiciário não pode substituir o Legislativo. Disse não dever “favor político” pela indicação e avisou que não se julgará impedido de atuar em processos envolvendo a gestão do presidente Michel Temer.
A crítica ao “ativismo judicial” foi um aceno aos senadores diante das recorrentes queixas de que o Judiciário estaria “legislando” indevidamente. Moraes alertou que, se a atuação do STF for muito acentuada, surge um embate com o Congresso, que pode gerar uma “guerrilha institucional” sem ninguém para arbitrar o conflito entre poderes. A primeira reação surgiu ontem mesmo, com o decano do Supremo, Celso de Mello, discordando do provável futuro colega.
Preparado para responder a questões sobre o fato de ter ocupado o Ministério da Justiça, destacou que desde a década de 1940 chegaria a 45% o percentual dos ministros do STF que teriam como origem o Executivo ou o Legislativo. Ele prometeu atuar com imparcialidade e independência no cargo.
O ministro esquivou-se de posicionamentos definitivos em alguns temas, como a possibilidade de mudanças no foro privilegiado ou na legislação sobre o aborto. Sem avançar no debate sobre a legalização das drogas, defendeu a diferenciação entre traficantes e usuários, e que o foco da política pública seja enfrentar o crime organizado e não os pequenos traficantes.
Diante de investigados e citados na Lava-Jato (caso de 13 dos 27 integrantes da CCJ), Moraes sustentou que apoiou a operação enquanto ministro da Justiça e destacou elogios recebidos por investigadores. Minimizou o papel que terá na Corte como revisor da Lava-Jato, porque se restringirá a casos que serão analisados no plenário, o que só ocorre em julgamentos dos presidentes da Câmara e do Senado. Ele criticou ainda vazamentos sobre investigações, definindo-os como criminosos.
Após a sabatina, a CCJ do Senado aprovou a indicação de Moraes ao STF por 19 votos a 7. O plenário examina seu nome hoje .