segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Opinião do dia: Roberto Freire

"O lulopetismo tem se revelado como um projeto que passa ao largo da continuidade do processo democrático, republicano e necessariamente pluralista, tão arduamente consagrado na Constituição Cidadã de 1988 e em todas as conquistas subsequentes, que nos legaram o maior período de vigência plena das liberdades democráticas em nossa história.

A ultradireita e o lulopetismo estão de mãos dadas, objetivamente, um alimenta-se do outro, na desestabilização da democracia e nas tentativas e narrativas que buscam deslegitimar o processo eleitoral, dentro e fora do país, cada um a seu modo.

Derrotá-los é possível, necessário e desejável. Depende de nós."
------------------
Roberto Freire é presidente do PPS e candidato a deputado federal por São Paulo (2323. “Desestabilizadores”, 6/9/2018

Marco Aurélio Nogueira*: Debate mostrou que há um futuro mais à frente

- O Estado de S.Paulo

Candidatos afastaram a violência e valorizaram o diálogo, a racionalidade e a generosidade, elementos básicos de uma sociedade democrática

Apesar das ausências de Jair Bolsonaro e do PT, o debate não foi morno: diferenças apareceram e os candidatos puderam esclarecer alguns de seus pontos programáticos. O clima moderado e a serenidade fizeram a diferença. Ganharam os eleitores.

Todos mantiveram seus perfis de atuação, sem novidade. O bom ambiente, porém, incentivou-os a deixar de lado ataques fúteis e jogadas de efeito. Tentaram melhorar a comunicação com o eleitor, simplificando a linguagem e a apresentação de números, por exemplo. Alckmin saiu-se bem nesse quesito, assim como Ciro Gomes e Alvaro Dias. Mas nenhum deles chegou ao nível da agitação simplória e demagógica de Guilherme Boulos, que perdeu mais uma oportunidade para se mostrar como uma opção convincente de esquerda.

Geraldo Alckmin manteve-se mais uma vez excessivamente aprisionado a São Paulo, enquanto Ciro se soltou do Ceará. O ex-governador paulista permaneceu frio e objetivo, com um discurso centrado na racionalidade administrativa. Ciro, por sua vez, conteve sua verve inflamada, dosou as palavras e mostrou maior disposição para cooperar e dialogar com os demais.

Juntamente com Marina, destacou-se. Ambos apresentaram propostas exequíveis e transmitiram firmeza na defesa de suas posições. Marina deve ter ganhado pontos ao defender a Lava Jato, a prisão em segunda instância, a Justiça como reparação e a gestão pública como recurso estratégico.

Marcus André Melo: Clareza de responsabilidade

- Folha de S. Paulo

O dilema do eleitor: quem culpar? Quem premiar?

O eleitor médio brasileiro está muito longe de agir como um “deus da vingança e da recompensa” —a expressão famosa é de V. O. Key (1908-1963). Para punir ou premiar pelo desempenho, ele ou ela deve ser capaz de atribuir responsabilidades. Como demonstrou Margit Tavits (Universidade de Washington), a corrupção e a ineficiência grassam onde não há clareza de responsabilidade.

Destaco três fatores que minam a capacidade de escolher, premiar e punir agentes políticos: partidos fracos; coalizões superdimensionadas/heterogêneas e corrupção sistêmica.

Os partidos não funcionam como “atalhos cognitivos” para os eleitores como ocorre com as marcas na escolha de itens de consumo pelo consumidor. Quando a identificação partidária média é baixa, o voto passa a se basear em heurísticas de baixa eficiência, como bravatas populistas e hiper-personalismos.

As coalizões superdimensionadas são produtos da colossal fragmentação política. A questão ubíqua para os candidatos majoritários tornou-se com que coalizão irão governar. As coalizões embaraçam a responsabilização: é fácil atribuir a culpa pelo mau desempenho a parceiros da coalizão. Pode-se afirmar que foram corruptos, incompetentes, ou “traidores”. Pior quando as coalizões são pós eleitorais (como as que envolveram o PMDB, PP e PR nos governos Lula), pois o eleitor não é informado sobre alianças.

Demétrio Magnoli: Haddad, a história aberta

- O Globo

Uma leitura circunstanciada das sondagens eleitorais indica que Fernando Haddad, o Lula de reposição, é o favorito para subir a rampa do Planalto em janeiro de 2019. Bolsonaro dificilmente perderá uma vaga no segundo turno, pois as chances de Alckmin repousam apenas na esperança de que a propaganda eletrônica produza um milagre. Há tempo suficiente para os eleitores lulistas receberem a notícia da reposição —e quase 70% deles dizem-se prontos a seguir a ordem de Lula. No turno final, a rejeição a Bolsonaro elege qualquer adversário. A chance real de vitória situa Haddad numa encruzilhada histórica: ele deve optar entre inércia e ousadia.

A via inercial é a reiteração da narrativa negacionista adotada pelo lulopetismo desde 2016. O núcleo dessa narrativa encontra-se na qualificação do impeachment como “golpe parlamentar”, que tem repercussões para trás e para frente. Numa ponta, o PT recusa-se a fazer a crítica da política econômica dilmista. Na outra, consequentemente, rejeita o princípio do equilíbrio fiscal.

Marcio Pochmann, coordenador do programa econômico de Lula/Haddad, argumenta que o erro do governo Dilma não foi a política de explosão de gastos, mas sua reversão, em 2015, pela entrega do Ministério da Fazenda a Joaquim Levy. A tese insana foi assumida pelo próprio Haddad, que a expôs em entrevista a “O Estado de S.Paulo”: “Houve uma decisão de política econômica equivocada, com um ministro da Fazenda que expressava a ruptura do que tinha sido feito em 13 anos”. A acrobacia revisionista suporta o programa da restauração do dilmismo: abolição do teto de gastos, rejeição da reforma previdenciária, cancelamento da reforma trabalhista.

Fernando Limongi: Tiro curto

- Valor Econômico

Se só um prevalecer, Haddad e Alckmin dificilmente perdem

A campanha começou para valer. Será uma corrida de tiro curto. Resta pouco mais de um mês para o primeiro turno. É a hora do 'ou vai, ou racha'.

Contudo, vale ouvir a voz da sabedoria e da experiência. Tempos atrás, em entrevista ao Valor, Eduardo Cunha afirmou que as campanhas eleitorais se concentram em duas semanas: a que abre o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) e a que antecede o primeiro turno.

O início da campanha eletrônica coincidiu com o afastamento definitivo da candidatura Lula. A decisão era esperada e não surpreendeu ninguém. O PT continua a fingir que acredita que Lula será candidato. Mais uma vez, diante do precipício, o partido lançou a corda bamba sobre a qual caminha. Por enquanto, evitou o tropeço fatal e avançou. A operação para fazer de Fernando Haddad o sucessor oficial de Lula, cedo ou tarde, terá que ser desfechada.

A forma de proceder e a estratégia serão definidas pelo ex-presidente. Tudo passa por Lula, não resta outra instância decisória no partido. É dele, e só dele, a palavra final. Fernando Haddad anunciou que visitaria Lula nesta segunda-feira para receber as instruções dos passos a tomar.

Mesmo os mais otimistas concordam que o perfil do herdeiro selecionado - um paulista da gema com pinta de almofadinha - pode gerar problemas. Nove em dez petistas preferiam que Jaques Wagner tivesse aceito a incumbência. Diz-se que esta era a intenção do próprio Lula, mas que Wagner teria resistido a aceitar a missão, temendo troca do certo (a cadeira no Senado) pelo duvidoso. Se isto for verdade, então há petistas que duvidam da capacidade do ex-presidente de transferir votos.

Fala a favor do sucesso da estratégia do PT a ausência de alternativas deixadas aos seus simpatizantes. Ao torpedear o acordo entre o PDT e o PSB, o PT retirou de Ciro Gomes a escada de que poderia se servir para atrair os eleitores que orbitam em torno do PT.

Nas últimas pesquisas, Marina Silva foi a maior beneficiada nos cenários em que Lula não figurava como candidato. A candidata da Rede, mesmo sem tempo de TV e com os arranhões deixados pelo rescaldo da última campanha, continua a marcar presença entre os eleitores mais pobres e identificados com o PT. A seu favor conta ainda a maior simpatia que pode angariar no centro.

Haddad, Marina e Ciro disputarão as preferências dos eleitores dispostos a, mas impossibilitados de, sufragar Lula. Nas próximas pesquisas eleitorais, Lula deixará de figurar como opção e o cenário neste quadrante da disputa ganhará maior inteligibilidade. Em algum momento, Fernando Haddad receberá o bastão do ex-presidente e iniciará o pique em direção à linha de chegada. Ciro e Marina correm por fora, esperando que o petista tropece e caia.

Cida Damasco: Dupla incerteza

- O Estado de S.Paulo

Atentado a Bolsonaro e PT mantêm indefinições no cenário eleitoral

Era para ser a semana do PT e de Fernando Haddad, com a aguardada confirmação oficial de sua candidatura à Presidência da República, no lugar de Lula, e a redução da principal fonte de incertezas do cenário eleitoral. O atentado a Jair Bolsonaro (PSL) na quinta-feira, contudo, levou ao extremo o grau de violência na disputa pela sucessão de Temer, que já havia se manifestado nos tiros contra o ônibus da caravana de Lula – e, em consequência, ampliou as dúvidas e os temores sobre a evolução do quadro político e econômico daqui para a frente, inclusive sob o ponto de vista institucional. Às portas do último trimestre do ano, quando empresários e executivos costumam se dedicar ao planejamento do próximo exercício, a palavra de ordem é uma só: esperar.

Segundo as pesquisas mais recentes, Bolsonaro vinha se consolidando como primeiro colocado na classificação para o segundo turno e tudo o que os analistas tentavam identificar era como a distribuição dos votos de Lula definiria o ocupante da outra vaga, especialmente qual seria o tamanho da transferência para Haddad. Agora, porém, a partir da agressão ao candidato do PSL, surgem novas indagações. As principais são como será o efeito do afastamento de Bolsonaro do corpo a corpo nas ruas – e também qual será o impacto das investigações e especulações sobre a autoria do crime.

Nas campanhas políticas, passada a perplexidade dos primeiros momentos, tem início uma recalibragem cuidadosa, como já se previa, com a suspensão dos ataques frontais ao candidato do PSL, mas com a preocupação de não contribuir para sua vitimização.

O tucano Geraldo Alckmin, por exemplo, que vinha atacando pesadamente Bolsonaro, ajustou sua campanha no fim de semana, condenando a agressão mas sem poupar a linha de atuação do próprio candidato, com destaque para a mensagem “não é na bala, nem na faca” que se vai construir uma nação. As redes sociais já começam a refletir alguma “volta” às posições originais. Sinais mais claros, porém, devem ser captados por pelo menos cinco pesquisas eleitorais programadas para a semana, começando com a do Instituto Datafolha, hoje, e a do Ibope, amanhã.

Vinicius Mota: Acabou o monopólio

- Folha de S. Paulo

Surge com Bolsonaro outra corrente que denuncia complôs, questiona legitimidade do pleito e avilta a imprensa

A batalha simbólica em torno da tentativa de assassinar Jair Bolsonaro escancara uma mudança notável na arena política brasileira. A esquerda perdeu o monopólio das narrativas conspiratórias.

Não espanta a reação imediata, epidérmica, de militantes esquerdistas ao esfaqueamento. Aquilo haveria de ser armação para beneficiar o próprio candidato do PSL, uns sugeriam, outros declaravam mesmo.

O preenchimento instantâneo, com os fragmentos que estiverem à mão, do longo e acidentado caminho entre um fato e a sua causa é uma faculdade do cérebro humano. Provavelmente nos ajudou mais que atrapalhou no curso de centenas de milhares de anos de evolução.

Seu uso político sistemático nas últimas três décadas no Brasil se restringia na prática a correntes oriundas do socialismo. O marxismo, ao pressupor uma engrenagem subterrânea e um conflito binário como motores da história, facilita a tarefa.

Segundo a fábula, antes de Lula ser eleito um complô das elites sabotava o desejo do povo. Depois, a crítica e a oposição ao governo tornaram-se armas de quem não queria dividir aeroportos com a ralé.

Bolsonaro rompeu a monotonia. A facada, espalham seus seguidores, foi uma tramoia entre os esquerdistas e a mídia, infestada deles, para evitar o triunfo eleitoral do capitão.

Leandro Colon: As consequências do imponderável

- Folha de S. Paulo

Hipótese mais plausível do pós-atentado aponta para fortalecimento da polarização entre bolsonaristas e petistas

Sobram teorias políticas sobre as consequências eleitorais do atentado cometido contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

A primeira delas é a queda da alta rejeição do deputado e um crescimento considerável a seu favor nas pesquisas estimuladas. É um cenário que, se for confirmado, o colocará facilmente no segundo turno.

Aliados e familiares de Bolsonaro ousam em apostar em uma vitória dele já no primeiro turno —algo bem improvável diante da fragmentação competitiva entre os demais nomes, sobretudo em relação aos que atuam no campo de esquerda.

A outra teoria diz que a repugnante facada em Bolsonaro atrapalhou os planos de Geraldo Alckmin (PSDB) de mirar na desconstrução do capitão reformado para conquistar parcela de seu eleitorado e, assim, ter chances de não ficar pelo caminho.

Ricardo Noblat: Bolsonaro e a construção de um novo mártir

- Blog do Noblat | Veja

Ele e Lula lutam para ser lembrados

Se o PT pode apresentar Lula como mártir de um Brasil que queria ser feliz de novo, por que o PSL não pode fazer o mesmo com Jair Bolsonaro, mártir de um Brasil que suplica por ordem e segurança?

No caso de Bolsonaro, tanto mais, acreditam seus filhos candidatos a deputado e a senador que dependem dele para se eleger, e uma legião de outros candidatos país a fora.

No martírio de Bolsonaro tem sangue explícito e perigo de morte, tudo filmado à luz do dia. No de Lula, desespero pessoal e isolamento em uma cela à prova de holofotes.

O processo de construção de Lula mártir dura meses e foi concebido nos seus mínimos detalhes. O de Bolsonaro mártir, só teve início quando ele deu entrada no hospital de Juiz de Fora.

É recente, portanto, ainda engatinha e está sujeito à improvisação. A primeira peça foi o vídeo da roda de orações ao pé do leito de Bolsonaro mal ele acabara de ser operado.

A segunda peça, a foto de Bolsonaro em uma cadeira do hospital Alberto Einstein, em São Paulo, simulando o gesto de quem atira com uma arma, sua marca registrada.

A terceira, de péssimo gosto, foi a fotografia tirada pelo senador Magno Malta, do Espírito Santo, que mostra parte do corpo nu de Bolsonaro com todas as marcas da cirurgia.

A peça que deverá se tornar o ícone da campanha do candidato daqui para frente é a recriação da camisa suja de sangue usada por Bolsonaro na hora em que foi esfaqueado. É a mais preciosa.

Cada um ao seu modo, Lula e Bolsonaro esperneiam na maca para não serem esquecidos – Lula da cela, Bolsonaro do leito. Sem dúvida que não serão, embora por razões diferentes.

Alckmin e a hora do desespero
É tudo ou nada para Geraldo Alckmin, candidato do PSDB a presidente da República. Improvável que lhe traga boas novas a pesquisa de intenção de votos do Datafolha que começou a ser aplicada há pouco e cujos resultados serão revelados logo mais à noite pelo Jornal Nacional, da Rede Globo.

Para vencer ou ser derrotado mais rápido, Alckmin só terá um caminho daqui para frente: desconstruir a imagem positiva de Jair Bolsonaro junto a um expressivo contingente de eleitores. Sem tomar votos de Bolsonaro, Alckmin não irá a lugar algum. Morrerá na praia mesmo com a maré baixa.

Celso Rocha de Barros: O atentado vai ajudar Bolsonaro?

- Folha de S. Paulo

Não é possível cravar uma resposta definitiva, porque atentados a candidatos são raros

A Bolsa de Valores subiu quando Bolsonaro levou uma facada. Não foi porque os investidores torcessem pela morte do candidato do PSL –as notícias iniciais eram de que o ferimento havia sido superficial. Na verdade, torciam para que a simpatia popular pela vítima ajudasse Bolsonaro a vencer a eleição.
Estavam certos? A facada vai render votos a Bolsonaro?

Não é possível cravar uma resposta definitiva, porque atentados a candidatos são raros, e é difícil isolar, em cada caso, o que nos resultados eleitorais foi ou não foi causado pelo atentado.

Minhas suspeitas são as seguintes:

Em primeiro lugar, não vejo como uma onda de simpatia causada pelo atentado seja grande no caso de Bolsonaro, um candidato cuja rejeição é imensa.

Acho difícil que um eleitor que responde “não votaria de jeito nenhum em Bolsonaro” de repente pense “opa, ele levou uma facada, seu programa econômico e sua atitude diante das mulheres subitamente me parecem muito melhores”.

Para isso acontecer, o eleitor terá que ter deixado que a emoção do momento seja muito mais forte do que o cálculo econômico e/ou o julgamento de valor que o haviam levado a rejeitar Bolsonaro anteriormente. Isso seria bastante surpreendente. O eleitor é racional.

Uma eventual onda de simpatia pode, sim, levar Bolsonaro a ganhar alguns pontos nas pesquisas, mas não acho que vai levantar o teto imposto por sua taxa de rejeição.

Em segundo lugar, não acredito que qualquer ganho de curto prazo gerado por empatia seja durável. A comoção do atentado não deve durar um mês.

Em debate sem Bolsonaro, presidenciáveis pedem fim do ódio

Candidatos pregam pacificação e condenam violência em primeiro encontro após ataque contra Jair Bolsonaro

No primeiro encontro após o ataque contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), presidenciáveis usaram o debate promovido por Estadão, TV Gazeta, Rádio Jovem Pan e Twitter para condenar o ódio e a violência e pregar a pacificação do País. O radicalismo na política foi tratado como entrave ao desenvolvimento e foram lembrados a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e os tiros contra a caravana do PT. Internado no Hospital Albert Einstein, Bolsonaro não participou. Com poucos embates e mais propostas, de educação e segurança, por exemplo, o debate teve como outro destaque o combate à corrupção. No segundo bloco, Geraldo Alckmin (PSDB) falou sobre a ação de suposto caixa 2 da qual é alvo. “Estranho que isso ocorra a menos de 30 dias das eleições.” Já Henrique Meirelles (MDB) foi questionado sobre o dinheiro que tem no Caribe e afirmou que se destina a uma fundação para investir em educação no Brasil depois que ele morrer.

Candidatos evitam ataques e defendem ‘pacificação’

Adriana Ferraz, Marianna Holanda, Pedro Venceslau e Gilberto Amendola | O Estado de S. Paulo

Os candidatos à Presidência da República levaram para o debate TV Gazeta/Estado/Rádio Jovem Pan/Twitter, realizado na noite de ontem, em São Paulo, a mensagem de repúdio à violência que dominou a campanha nos últimos dias após o atentado contra Jair Bolsonaro (PSL). Internado após ser esfaqueado durante uma agenda eleitoral na quinta-feira passada, em Juiz de Fora (MG), o presidenciável do PSL não participou.

No primeiro encontro após o episódio, o radicalismo na política foi tratado como um entrave ao desenvolvimento do País. Em suas participações iniciais, Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB) defenderam a necessidade de se pacificar o ambiente público e a sociedade.

Com isso, houve espaço para os presidenciáveis tratarem de temas como educação, saúde, saneamento básico e até regulamentação fundiária. Marina defendeu proposta de educação integral. Ao falar sobre saneamento básico, Alckmin disse que o investimento na área, além do benefício direto à população, gera emprego. “Saneamento é emprego na veia, gera muita obra e muito emprego.” De olho no eleitorado feminino – maioria entre os indecisos –, Meirelles disse que, se eleito, vai punir empresas que paguem salários diferenciados entre homens e mulheres que exerçam a mesma função.

Presidenciáveis são confrontados com casos de corrupção

Alckmin diz que situação de Aécio é diferente da de Lula, já condenado; Marina é questionada sobre não ter deixado PT logo depois do mensalão

Adriana Ferraz, Gilberto Amendola, Marianna Holanda e Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo

O primeiro debate após o atentado contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), promovido ontem pelo Estado em parceria com a TV Gazeta, a Rádio Jovem Pan e o Twitter, retomou a discussão sobre o combate à corrupção nos embates entre os postulantes ao Planalto. O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) respondeu pela primeira vez em um encontro com adversários sobre a acusação de improbidade administrativa em ação apresentada pelo Ministério Público de São Paulo, no dia 5. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT também foram alvo.

O tema da corrupção dominou o segundo bloco do debate. Já na primeira pergunta, Alckmin teve de responder sobre a ação na qual é acusado de enriquecimento ilícito por suposto caixa 2 da Odebrecht na campanha de 2014. “Estranho que isso (a acusação) ocorra a menos de 30 dias das eleições.”

Ao ser questionado por Marina Silva (Rede), o tucano disse que é preciso diferenciar o caso de Lula, condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, e do senador Aécio Neves. “Ele (Lula) foi condenado em segunda instância. Aécio nem julgado foi. Lei é para todo mundo. Quem deve, deve responder, deve ser punido. Quem não deve, deve ser absolvido.”

Marina respondeu que “PT e PSDB passaram a ser faces da mesma moeda”. “O que diferencia

Aécio é o fato de ter foro privilegiado. Por isso, somos a favor de acabar com o foro, para não criar dois pesos e duas medidas no processo de combate à corrupção”, disse Marina. Na tréplica, Alckmin relembrou o passado petista da candidata. “Marina esteve 20 anos no PT. Em 2006, ocorreu o mensalão. Ela não saiu do PT. Só saiu em 2008. Nós sempre estivemos do outro lado de onde estava o PT.”

Debate pós-atentado tem candidatos cautelosos e clima morno

Presidenciáveis desejaram melhoras a Jair Bolsonaro, esfaqueado em ato de campanha, e pregaram pacificação no ambiente político

Por João Pedroso de Campos | Veja

O terceiro debate entre candidatos à Presidência da República, neste domingo, 9, o primeiro após o atentado a faca contra Jair Bolsonaro (PSL), teve tom morno, poucas trocas de farpas, presidenciáveis cautelosos e pregações contra o radicalismo e o discurso de ódio nas eleições. O encontro foi organizado pela TV Gazeta em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo, as rádios Eldorado e Jovem Pan e o Twitter e aconteceu na sede da emissora, em São Paulo.

Participaram do debate Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede). Internado desde a sexta-feira 7 na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Albert Einstein, na capital paulista, Bolsonaro não compareceu, assim como Cabo Daciolo (Patriota). O PT, que tem até a próxima terça-feira, 11, para substituir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato ao Palácio do Planalto, ficou sem representante no programa.

Quatro dos seis candidatos no debate fizeram menção logo em suas primeiras manifestações ao esfaqueamento sofrido por Bolsonaro em um ato de campanha em Juiz de Fora (MG) na última quinta-feira, 6. Apenas Dias e Boulos não falaram do caso logo de cara.

Meirelles classificou a agressão como “episódio lamentável”, Alckmin desejou “pronto restabelecimento” ao adversário, Ciro disse querer que o deputado federal “são e salvo” para um “debate cordial, porém sério, dado que eu não penso nada parecido com ele” e Marina Silva lamentou o “momento difícil” no país, ilustrado pelo fato de, no debate, “faltam duas candidaturas, uma por impedimento judicial outra porque está no hospital”.

No segundo bloco, Boulos lamentou “todo tipo de violência” e lembrou, além do atentado contra Bolsonaro, da morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), um crime até agora sem solução, e os tiros contra um ônibus da caravana do ex-presidente Lula no Rio Grande do Sul, ambos em março. “Todas as diferenças que tenho com Bolsonaro vamos resolver na política, não na violência”, disse o candidato do PSOL. “Quem perde com uma campanha marcada por clima de violência é a democracia“, acrescentou.

Mais à frente, Ciro voltou a pedir diálogo e disse que “é preciso substituir a confrontação odienta por combate de ideias”. Já Alckmin pregou, em duas ocasiões, no primeiro bloco e nas considerações finais, um “esforço conciliatório”. “Todas as vezes que o Brasil fez um esforço conciliatório, ele avançou mais”, ponderou.

Em debate, candidatos pedem pacificação do país

No terceiro debate entre os candidatos presidenciais, predominaram os apelos pela pacificação do país e do processo eleitoral.

Apelo à pacificação une adversários em debate

Três dias após ataque a Bolsonaro em Juiz de Fora, presidenciáveis pregam conciliação na disputa eleitoral. Próximos nas pesquisas, Ciro Gomes, Marina e Alckmin tentam explorar pontos fracos dos rivais para se isolar na segunda posição

- O Globo

SÃO PAULO - Reunidos três dias após o atentado contra Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas de intenção de votos, os candidatos à Presidência protagonizaram na noite de ontem um debate sem agressões e marcado por pedidos de pacificação do país e do processo eleitoral. Embolados na disputa pelo segundo lugar, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) fizeram menção a Bolsonaro, que, por um acordo entre todos os participantes, não teve sua ausência ressaltada por um púlpito vazio, como previa a regra do encontro promovido por TV Gazeta, Estadão, rádio Jovem Pan e pelo Twitter. Ele ainda está hospitalizado em recuperação da facada sofrida na quinta-feira.

Em comparação com os debates anteriores, o de ontem teve tom mais cordial entre os adversários, com menos acusações pessoais. Nas suas considerações finais, Marina opinou que “o Brasil não chegará a lugar nenhum dividido” e que é preciso “para a face do ódio, dar a face do amor; para a da violência, o respeito às ideias dos outros”. Em seguida, Alckmin pregou “pacificação e um esforço conciliatório”. Ciro, logo na abertura, se apresentou desejando boa recuperação a Bolsonaro. Ao pedir menos radicalização, Henrique Meirelles (MDB) questionou Alckmin por ter feito propagandas que atacam Bolsonaro.

PONTOS FRACOS
Marina e Ciro apareceram empatados com 12 pontos na pesquisa do Ibope divulgada na semana passada, com Alckmin apenas três pontos atrás. Hoje, o Datafolha divulga um novo levantamento. Na disputa para tentar se isolar em segundo lugar, os três tiveram alguns embates ontem, em que procuraram expor pontos fracos dos rivais.

No primeiro bloco, Marina lembrou o crescimento da violência no Ceará, estado que já foi governado por Ciro e por seu irmão, Cid Gomes. Ela questionou o pedetista citando que “o número de homicídios dobrou nos últimos dez anos no Ceará”.

Candidatos soam repetitivos e não emocionam

Paulo Celso Pereira | O Globo

Se o primeiro debate entre os presidenciáveis foi marcado pelas estripulias de Cabo Daciolo e o segundo, pela lição dada por Marina Silva em Jair Bolsonaro, o terceiro encontro, ontem, na TV Gazeta, tende a desaparecer em breve da memória dos telespectadores. Diante do atentado contra o líder das pesquisas, os seis participantes adotaram tom moderado, e o mais palpitante que se viu foram algumas poucas e leves alfinetadas.

As três ausências do palco evocavam o nonsense da corrida eleitoral a 28 dias do pleito: Bolsonaro não compareceu, pois ainda convalesce da facada que tomou; o PT não participou, por ainda não ter lançado o candidato que substituirá Lula, preso e barrado pela lei da Ficha Limpa; e Daciolo informou que não poderia ir pois, neste momento, está em jejum e orações.

A principal novidade do encontro foram as recorrentes alfinetadas de Henrique Meirelles em Geraldo Alckmin. Disputando o eleitorado tradicionalmente alinhado aos tucanos, o ex-ministro da Fazenda abriu o programa questionando a sinceridade do ex-governador de São Paulo em relação à ideia de pacificação política, já que sua campanha manteve ataques a Bolsonaro. Mais tarde, Meirelles voltou a tentar encurralá-lo questionando a expansão do domínio das facções criminosas paulistas pelo país.

Candidatos pregam fim do ódio na política e trocam farpas em debate

Anna Virginia Balloussier , Denise Perotti , Catia Seabra , Marco Rodrigo Almeida, José Marques, Rodrigo Borges Delfim e Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

Alckmin mira críticas no PT repete método de Aécio em 2014 e associa Marina ao partido de Lula

SÃO PAULO - No primeiro debate após o atentado contra Jair Bolsonaro (PSL), candidatos a presidente pregaram o fim do ódio e da violência na política e voltaram a trocar farpas entre si.

Sem a presença de Bolsonaro, de Cabo Daciolo (Patriota) e de um candidato do PT, o evento, realizado por TV Gazeta, jornal O Estado de S. Paulo, rádio Jovem Pan e Twitter, teve rusgas pontuais entre os presidenciáveis.

Geraldo Alckmin (PSDB) mirou suas críticas no PT e procurou associar Marina Silva (Rede) ao partido de Luiz Inácio Lula da Silva, de quem ela foi ministra, como fez Aécio Neves (PSDB) em 2014.

“Ela esteve 20 anos no PT. Em 2006 tivemos o mensalão e ela não saiu do PT. Só saiu em 2008”, criticou. “Nós não, nós sempre estivemos do outro lado.”

Marina afirmou que “PT e PSDB passaram a ser faces da mesma moeda, apesar de aparentemente fazerem a polarização”.

O tucano, por sua vez, foi alvo preferencial de Henrique Meirelles (MDB).

“O senhor prega a pacificação. No entanto, quando o candidato Jair Bolsonaro ainda estava na sala de cirurgia, seu programa de televisão o atacava fortemente”, afirmou ao questionar se o tucano promove “a radicalização ao invés da pacificação”.

Alckmin respondeu que “certamente o candidato Henrique Meirelles não viu os meus spots [propagandas]. Em nenhum momento pregamos qualquer tipo de violência. Apenas o que mostramos foram frases, não ditas por mim, para dizer exatamente que esse não é o caminho”, referindo-se a peça que mostra Bolsonaro atacando mulheres.

Contundência do debate também foi vítima do atentado de Juiz de Fora

Paira temor de que o eleitor médio esteja propenso a encarar negativamente toda agressividade

Sérgio Rodrigues | Folha de S. Paulo

O debate começou dando a impressão de ter sido atingido nas entranhas pela mesma facada que vitimou Jair Bolsonaro em Juiz de Fora.

Num momento tenso e minado por indefinições, paira no ar o temor de que o eleitor médio esteja propenso a encarar negativamente toda manifestação de agressividade, que nem sempre tem fronteira nítida com a intolerância e o ódio.

Os candidatos que restaram na arena pareciam pouco dispostos a desafiar essa ideia. O bate-boca entre Guilherme Boulos e Henrique Meirelles, perto do fim do primeiro bloco, foi a primeira tentativa de quebrar o gelo.

“Eu não vou chamar o Meirelles, eu vou taxar o Meirelles”, anunciou o candidato do PSOL. Ouviu de volta que o Brasil é um país dividido entre “quem trabalha e quem não trabalha”.

As frases de efeito podiam não ser grande coisa, mas, com pouca escolha devido às posições modestas que ocupam nas pesquisas, Boulos e Meirelles deixaram claro que a agressividade não era proibida.

Entre os candidatos mais bem cotados, porém, as palavras-chave do primeiro debate após o atentado sofrido pelo líder nas pesquisas continuaram a girar em torno de “civilidade”, “moderação” e “equilíbrio" ¬(ou da encenação desses atributos, o que na gramática da telenovela eleitoral dá no mesmo).

Angela Bittencourt: Pesquisa capta o clima após atentado e TSE

- Valor Econômico

Bolsa Família é 'puxadinho' no Orçamento de 2019

Feriados nos EUA e no Brasil encurtaram a primeira semana de setembro, mas não controlaram a temperatura ambiente, que explodiu. Nos EUA, mais um desafeto de Donald Trump escreveu no jornal "The New York Times" - em artigo anônimo - fazer parte da "resistência interna" que trabalha para frustrar "as piores inclinações" do presidente. Trump ficou enfurecido, mas não o bastante para esquecer de ameaçar novamente a China com tarifa extra de US$ 267 bilhões de produtos daquele país. No Brasil, o candidato do PSL a presidente, Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto, sofreu um ataque a faca durante um comício em Juiz de Fora, na quinta-feira, dia 6.

Hospitalizado, Bolsonaro passou por uma cirurgia. Transferido para São Paulo, segue hospitalizado. O agressor, detido imediatamente, já está em um presídio de segurança máxima. A Polícia Federal (PF) investiga o caso, que marcou o fim da semana em que o Brasil foi destaque na mídia internacional pelo incêndio que destruiu o Museu Nacional.

Nesta semana, a política segue como protagonista em três campos: policiais em busca de supostos envolvidos adicionais com o ataque a Jair Bolsonaro; pesquisas eleitorais; e questões judiciais que envolvem as eleições pela tangente.

Amanhã, 11 de setembro, termina o prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral para que o Partido dos Trabalhadores (PT) apresente o nome do substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato a presidente da República na eleição de outubro. No dia 1º de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) considerou, por seis votos a um, Lula inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. Lula é condenado em 1ª e 2ª instâncias por corrupção passiva e crime de lavagem de dinheiro.

A defesa do ex-presidente já recorreu três vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF). Fernando Haddad, vice-presidente na chapa petista que se desmonta com a decisão do TSE, é visto como o possível sucessor de Lula na condição de candidato da legenda. A expectativa é que essa decisão seja tomada nesta segunda, em Curitiba, na sede da Polícia Federal, onde Lula está preso desde abril. Seja qual for a decisão, ela deve ser comunicada formalmente ao TSE, amanhã.

Na quinta-feira chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o processo que condenou o ex-presidente Lula no caso do tríplex em Guarujá. A peça jurídica foi encaminhada pelo TRF-4, de Porto Alegre. O recurso especial impetrado pela defesa de Lula tenta reverter a decisão dessa corte regional. A defesa poderá refazer o pedido cautelar para que o ex-presidente aguarde em liberdade a tramitação de todos os recursos. Antes, essa possibilidade já lhe foi negada porque o documento ainda não havia chegado àquela jurisdição.

Agora que o recurso lá está, informou uma fonte do meio jurídico, ele poderá ser julgado em até 40 dias, embora a expectativa seja de julgamento mais célere. Contudo, não tão célere a ponto de Lula ser libertado e conseguir participar do processo eleitoral que está a menos de um mês da votação.

No fim de semana, os principais candidatos interromperam suas campanhas, em parte em solidariedade ao adversário ferido; e, em parte, para repensar suas estratégias e aguardar resultados de pesquisas feitas por dois grandes institutos. O Datafolha faz sondagem nacional e divulga o resultado ainda hoje. Essa pesquisa Datafolha - a primeira registrar o impacto do atentado contra Bolsonaro - foi encomendada pela Rede Globo e pelo jornal "Folha de S.Paulo". Não traz informação sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e testará Fernando Haddad como candidato pelo PT.

Crime contra Bolsonaro ameaça Alckmin

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - O atentado contra o deputado Jair Bolsonaro, atingido por uma facada em uma atividade de campanha em Juiz de Fora (MG), quinta-feira, mudou o eixo da eleição presidencial. Passado o impacto do primeiro momento, as aferições feitas pelas demais campanhas indicam que o candidato do PSL deve subir entre três e cinco pontos na pesquisa a ser divulgada hoje pelo Datafolha. É um crescimento significativo, mas não o bastante para levá-lo à vitória no primeiro turno - o que é o maior temor de seus adversários. Na disputa pela segunda vaga, o candidato mais ameaçado é Geraldo Alckmin, do PSDB, que assina as principais peça de desconstrução de Bolsonaro na propaganda eleitoral do rádio e TV.

O monitoramento das campanhas, no entanto, ao mesmo tempo em que detectou o crescimento de Bolsonaro, indica estabilidade de Geraldo Alckmin, Marina Silva (Rede Sustentabilidade) e Ciro Gomes (PDT). O candidato do PT, Fernando Haddad, deve ainda aparecer atrás dos candidatos do PSDB, Rede e PDT, na pesquisa Datafolha. Mas em curva ascendente. A disputa pela segunda vaga segue indefinida, mas as ações de Haddad estão em alta no circuito Congresso - Palácio do Planalto - principalmente se o PT definir logo a situação sobre quem será o seu candidato, o que Lula tenta adiar para o dia 17.

A mudança no eixo da campanha se dá justamente porque agora o que está em jogo é a segunda vaga, salvo eventual reversão de expectativas por erro de Bolsonaro ou fatos novos. À primeira vista, os estrategistas das campanhas avaliam que é contraproducente bater em Bolsonaro. A dúvida é se os quatro vão bater um nos outros, numa disputa autofágica. O PT de Haddad já não investia contra Bolsonaro, preferindo se concentrar no PSDB, seu mais tradicional adversário. Ameaçado, Alckmin mantém Bolsonaro na mira, mas deve aprofundar os ataques ao PT. Uma das novas peças diz que Haddad não é Lula, como diz a propaganda do PT. "É Dilma, é Haddad", afirma.

Fernando Gabeira: Luzia abrindo cabeças

- O Globo

Era pobre a nossa visão de tapar buracos no orçamento de organismo que precisa de proteção sistêmica

Luzia já não está mais entre nós. Depois de 11.500 anos, sucumbiu à crise brasileira no último dia de Pompeia, o incêndio que levou os afrescos que sobreviveram ao vulcão Vesúvio.

A noite do incêndio foi uma das mais difíceis para mim. Pesadelo, tristeza, raiva e uma dose de culpa. No Congresso, destinei verba parlamentar para o Museu Nacional. O desastre mostrou como era pobre nossa visão de tapar buracos no orçamento de organismo que precisa de uma proteção sistêmica.

Infelizmente, compreendi tudo isso muito tarde, daí minha tristeza e raiva com as chamas. Na verdade, não foi apenas a passagem de Luzia que abriu minha cabeça.

À volta ao jornalismo, tratando de pequenos museus locais, sobretudo em lugares que precisam deles para encontrar sua identidade e agregar valor às suas riquezas naturais, compreendi que eles não são um fardo que deva ser tratado com migalhas. Na viagem à Rússia, onde escritores, sobretudo do século XIX, são cultuados, e há museus de todo tipo, ficou claro para mim que não se trata apenas de preservar a memória, mas transformá-la também numa fonte de renda através do turismo.

Em viagens pelo Brasil, vejo quase toda semana algum tipo de museu. Mantido por um empresário, o Instituto Ricardo Brennand, em Recife, é uma boa surpresa. Nele existem, entre outros, os quadros do holandês Frans Post, que nos deixou belas imagens sobre o Brasil Colonial. É uma coleção que só perde para a da própria Holanda.

Tive boa impressão do Museu Mazzaropi, em Taubaté, construído numa área em que também foram reproduzidos os cenários dos seus filmes: é um hotel fazenda.

Aqui no Brasil, temos um pouco o complexo do novo mundo, da permanente construção e destruição. Nosso lema parece ter surgido da frase de Marx, que também é o título do livro de Marshall Berman: “Tudo que é sólido desmancha no ar”.

Cacá Diegues: O fogo de nossas lembranças

- O Globo

O Brasil é um país onde as coisas acontecem, para o bem ou para o mal, de um modo inusitado e quase sempre esquisito. É como se precisássemos disfarçar nossa história, contá-la de um jeito difícil de entender, rebuscado e criptografado, como se evitássemos seguir rumo racional e coerente para narrar o que nos sucede ao longo do tempo. Parece que não queremos mesmo que nos conheçam e nos entendam, preferimos a incredulidade e a dúvida, um surrealismo artificial montado para não permitir comparações com a regra do jogo no resto do mundo. O que nos acontece, contado por nós mesmos, parece, de tão absurdo, narrativa organizada para enganar os trouxas, mesmo que às vezes resulte numa piada de mau gosto. Mas é tudo verdade.

O herói de nossa Independência foi um príncipe português, filho do rei de Portugal, a metrópole que nos havia colonizado. Mas quem assinou o decreto que formalizou a Independência foi a mulher do príncipe, dona Maria Leopoldina, princesa austríaca. Sessenta e sete anos depois, a República foi proclamada por um dos mais íntimos amigos do Imperador, um general que se arrependeu do que fez. A República, um golpe de Estado contra o desejo da maioria da população, foi uma desforra dos senhores de terras contra a Abolição, a libertação dos escravos assinada pela princesa Isabel, afilhado imperador, na ausência deste.

Os primeiros 40 anos de República serviram para dar continuidade ao poder imperial dos latifundiários, através de sucessivas eleições fraudulentas e subestimação permanente do que era popular e nacional. A revolução liberal de 1930, feita para encerrares ses tempos oligárquicos, acabou produzindo a primeira expressiva ditadura no país, o Estado Novo, que durou oito anos. Em 1945, o ditador foi deposto, e o povo elegeu o ministro da Guerra da ditadura como primeiro presidente da nova República. E este, por sua vez, seria sucedido pelo próprio ditador deposto que, assim, voltava ao poder pela vontade do povo, através de uma eleição consagradoramente democrática. Uma nova ditadura imposta por civis e militares, a partir de 1964, só terminaria 21 anos depois, sob a presidência de um político que fora dirigente máximo do partido do regime autoritário.

Carlos Pereira: Por que tanta antipatia por partidos não ideológicos?

- Ilustríssima / Folha de S. Paulo

Não há contradição na coexistência de partidos protagonistas, mais definidos, e coadjuvantes, bem menos rígidos, no mesmo sistema político. A presença desses dois tipos de legendas é justamente o que constitui os presidencialismos multipartidários.

Siglas de aluguel, pseudopartidos, partidos oportunistas, partidos gelatinosos, partidos sem caráter, partidos não programáticos, ideologicamente amorfos, fisiológicos, não representativos, partidos de uma pessoa só... São apenas alguns dos adjetivos recebidos pela maioria dos partidos políticos no Brasil.

Diante de tamanha carga negativa, não é surpresa que a opinião pública tenha nutrido antipatias em relação ao multipartidarismo e ao presidencialismo de coalizão. A combinação institucional de representação proporcional para o Legislativo e presidencialismo só tem aumentado mundo afora. No Brasil, entretanto, tem sido fortemente criticada por supostamente ser causa de praticamente todas as mazelas da política brasileira.

Outrora visto como solução ao presidencialismo oligárquico e regionalista da Primeira República, nosso sistema eleitoral de voto proporcional com lista aberta agora padeceria de uma grave e terminal enfermidade: a hiperfragmentação partidária e sua decorrente corrupção generalizada.

Essas críticas vêm de praticamente todos os candidatos à Presidência, que apregoam uma espécie de reforma política supostamente redentora. Alguns dos presidenciáveis até mesmo proclamam a necessidade da extinção do próprio sistema político brasileiro.

Ao mesmo tempo, o mundo parece caminhar em direção ao proporcionalismo, em busca de uma ampla inclusão representativa do maior número possível de interesses da sociedade no jogo político. No Brasil, em direção oposta, tem-se discutido a necessidade de mudanças no modelo de representação com a implantação de iniciativas que reforçam o sistema majoritário (como por exemplo, a defesa do voto distrital puro ou misto).

Argumenta-se que esse mecanismo reduziria o número de partidos e seria capaz de aproximar eleitores e legisladores, aumentando assim a representação política.

A esperança é a de que a atual pletora de partidos políticos em nosso sistema seja reduzida, dando aos eleitores melhores condições para identificar as diferenças ideológicas e/ou programáticas entre os partidos, proporcionando assim maior representação e legitimidade política.

Sistemas eleitorais, congruência ideológica e representação política
A grande promessa da democracia representativa seria a congruência entre as preferências dos eleitores e o comportamento dos partidos políticos e dos governos.

O pressuposto básico é que, quanto maior a congruência entre o que a maioria das pessoas pensa e o comportamento dos partidos políticos, melhor a representação política e, consequentemente, maior a qualidade da democracia.

Existe uma literatura acadêmica muito extensa que explora vários aspectos da representação política em perspectiva comparada.

Em especial, há pesquisas que investigam qual sistema eleitoral seria mais representativo: se a representação proporcional, quando a alocação de cadeiras em um distrito eleitoral para o Legislativo obedece a uma distribuição proporcional de votos que os partidos e/ou as coligações receberam nas eleições; ou o majoritário distrital, quando o candidato que recebeu o maior número de votos ocupa a única cadeira disponível em um distrito eleitoral.

Dentre os inúmeros estudos que identificam que sistemas proporcionais ofertam maior congruência entre eleitores e representantes se destaca o livro seminal de Arend Lijphart, "Electoral Systems and Party Systems" (sistemas eleitorais e sistemas partidários), publicado em 1994.

Lijphart demonstra que sistemas proporcionais, especialmente em distritos multinominais e de grande magnitude, apresentam vantagens de representação e de inclusão consideráveis em relação às mais variadas formas de regras eleitorais majoritárias, em que apenas um representante é escolhido por distrito.

O inventário da violência na política: Editorial | O Globo

PT ficou mais agressivo com debacle de Dilma e Lava-Jato, criando espaço para a direita

Atos de violência na política costumam derivar de processos de degradação nos embates pelo poder. Quando degeneram e escapam dos limites legais e das regras básicas de convivência civilizada e democrática, há irrupções como a de Juiz de Fora.

O ataque à faca ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), por Adélio Bispo de Oliveira, não surgiu do nada, independentemente da sanidade metal do agressor.

A confusão mental demonstrada por Bispo não leva a qualquer conclusão. Mas a origem de comemorações irresponsáveis nas redes ditas sociais são reveladoras.

Não precisa haver uma conspiração por trás do atentado para se confirmar um indesejável acirramento entre forças políticas. A atmosfera criada não era saudável para a democracia.

Felizmente, o fato levou os principais candidatos a baixarem o tom, solidarizando-se com Bolsonaro.

O que se espera crie espaço para um efetivo confronto de propostas, a fim de que o eleitor defina seu voto da forma mais equilibrada possível, exigência feita pela difícil situação do país nas finanças públicas.

Até o fim das eleições, mais turbulências à frente: Editorial | Valor Econômico

A economia brasileira não deve ter tranquilidade até outubro, como admitiu o próprio ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, na última quarta-feira, em entrevista ao Valor. O atual comandante da economia colocou a eleição acima da crise dos países emergentes como vetor das recentes turbulências nos mercados, em especial no de câmbio.

Ainda que seja difícil a avaliação sobre quem é ou não o maior responsável pelo atual quadro de volatilidade nas condições financeiras do país, que tem custado caro para o crescimento da economia, não se pode negar que a incerteza eleitoral tem um peso relevante. Talvez menos pelas preferências políticas de grande parte dos integrantes do mercado e mais pela falta de clareza de quase todos os candidatos sobre como pretendem conduzir a inescapável agenda de reformas, em especial a da Previdência.

Além disso, a elevada fragmentação do quadro político brasileiro reforça as preocupações sobre a possibilidade de avanço da necessária reforma previdenciária. Isso sem falar em outros temas urgentes, como a necessidade de simplificação e maior progressividade do sistema tributário brasileiro e a revisão de incentivos fiscais para quem não precisa.

"Eu tenho convicção de que se o Brasil se afastar das reformas será muito difícil o país continuar crescendo. O mercado sabe disso e está olhando para onde vamos", afirmou Guardia.

O comentário do ministro da Fazenda merece ainda mais atenção se lembrarmos que a situação internacional pode se tornar mais complicada para o Brasil e os demais países emergentes nos próximos meses e também em 2019. Os Estados Unidos estão crescendo fortemente e já há quem aponte que o nível de atividade econômica já esteja acima do potencial, exigindo, em algum momento, uma atitude mais agressiva do que a até agora adotada pelo Federal Reserve (Fed) na condução da política monetária.

Uma nova crise? : Editorial | Folha de S. Paulo

Embora mais regulada após o terremoto financeiro de dez anos atrás, economia mundial ainda mostra sinais de instabilidade; Brasil corre contra o tempo

A marca de dez anos da falência do banco americano Lehman Brothers, evento catalisador da crise financeira que então se espalhava pelo mundo, suscita oportuno debate a respeito de seu legado e da capacidade da economia global para lidar com novos choques.

Do lado positivo, o sistema bancário se mostra mais sólido do que antes. Regulação apertada e maior exigência de capital para o funcionamento das instituições reduzem o risco de novo colapso.

Mas a sombra da crise continua a se projetar, mesmo uma década depois, quando se tem em conta que a maioria dos 24 países onde houve problemas ainda não retornou à tendência anterior de crescimento da renda, segundo o Fundo Monetário Internacional(FMI).

O pesado ônus para os governos também permanece. O nível agregado de endividamento público chega a 84% do Produto Interno Bruto mundial, 20 pontos percentuais a mais que em 2008, devido à combinação de menor arrecadação, políticas de proteção de emprego e custos associados ao resgate do sistema financeiro.

A calmaria da inflação: Editorial | O Estado de S. Paulo

A maior e melhor surpresa de agosto foi trazida pelos números da inflação, muito bem comportados apesar da forte alta do dólar, várias vezes negociado acima de R$ 4,00. Houve deflação de 0,09% registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência mais importante para a política de juros e para várias outras ações oficiais. Foi a menor taxa para o mês desde 1998, quando os preços caíram em média 0,51%. Deflação é um fenômeno raro em agosto e muito bem-vindo numa fase de insegurança externa e, mais importante, de ampla incerteza eleitoral no Brasil. Mas quem quiser celebrar deve continuar atento. As pressões cambiais ainda poderão ter efeitos inflacionários nos próximos meses, especialmente se o quadro político se tornar mais inquietante e justificar mais temores quanto ao futuro da economia. Nesse caso, o Banco Central (BC) poderá antecipar a elevação da taxa básica de juros, ancorada há alguns meses em 6,50%.

Pelas projeções do mercado, o próximo ano será encerrado com juros básicos de 8%. A expectativa é de elevação gradual do custo do crédito, compatível com uma alta muito lenta da inflação. Se as pressões inflacionárias forem mais fortes do que se tem previsto, o custo do dinheiro poderá subir mais velozmente, dificultando a recuperação da economia e encarecendo a dívida pública. Um presidente voluntarioso poderá, naturalmente, conter a alta dos juros. Isso provocará estragos muito maiores um pouco mais à frente.

A incerteza quanto à eleição e quanto à seriedade do próximo governo é hoje o principal fator de turbulência cambial. A alta de juros nos Estados Unidos e as tensões comerciais entre grandes potências têm causado instabilidade no mercado de câmbio e devem continuar produzindo esse efeito por algum tempo. Mas algumas moedas, incluído o real, têm sido afetadas bem mais intensamente que as outras.

Obra-prima nacional sobre Hannah Arendt é revisitada

Análise de Celso Lafer sobre Hannah Arendt ganha nova edição

Autor brasileiro foi aluno da filósofa judia-alemã e publicou obra de referência em 1976

Rodrigo Petronio* | Aliás / O Estado de S. Paulo

Hannah Arendt é uma das vozes mais importantes da Filosofia do século 20. Dentre os investigadores pioneiros de sua vida e obra, podemos destacar Elizabeth Young-Bruehl, Jerome Kohn e Margaret Canovan. Por uma curiosa coincidência, o leitor brasileiro tem o privilégio de contar com dois intelectuais de altíssima envergadura nessa seara: José Guilherme Merquior e Celso Lafer. Para a felicidade dos admiradores dessa imensa pensadora, a Paz &Terra acaba de lançar a terceira edição de Hannah Arendt: Pensamento, Persuasão e Poder, obra definitiva de Celso Lafer sobre a autora judia-alemã, originalmente publicada em 1979 e agora bastante expandida, enriquecida e atualizada.

Lafer foi aluno de Arendt na Universidade de Cornell, em 1965. E depois se tornou seu interlocutor e um de seus principais comentadores estrangeiros. Esse é um fator decisivo para a perenidade desta obra. Embora os capítulos pertençam a épocas distintas, o conjunto consegue pintar um afresco dinâmico da evolução do pensamento da autora. E pode ser considerada, em termos internacionais, um clássico dos estudos arendtianos.

A obra da autora é analisada passo a passo e cotejada com seus principais comentadores, em um constante cruzamento entre vida e obra, pensamento e realidade. Alguns fios atravessam toda a argumentação. Um deles diz respeito à importância da experiência para a formulação de sua filosofia. Trata-se de uma filosofia política, de uma ética e de uma metafísica cujos conceitos são sempre alimentados pela experiência imediata de Arendt com algumas questões decisivas do século 20.

Para Lafer, essa articulação entre conceito e experiência emerge de um reposicionamento da categoria do juízo. À medida que a vivência da historicidade é sempre dramática e narrativa, a razão não pode se apoiar em um dispositivo universal ou em dados puros do apriorismo. O conteúdo da experiência é produzido a partir de uma cena temporal e afetiva. Toma forma por meio de um emaranhado de escolhas, empenhos, compromissos.

Em outras palavras, ao reler os clássicos do Ocidente, sobretudo Agostinho e Kant, Arendt estabelece um novo estatuto para o juízo e para a contingência. A rede intersubjetiva de juízos singulares e contingentes seria o insumo da vida do espírito. E, portanto, a intersubjetividade seria a região emergente das formas de vida comuns e compartilhadas, ou seja, de toda política, na acepção mais vasta desse conceito, e não a aspiração a uma eventual universalidade abstrata.

Arendt teria encontrado desse modo um meio caminho entre a deontologia (universalismo formal) da razão pura e o consequencialismo utilitarista e liberal. Por isso o projeto de sua obra segue três vetores: o pensar, o querer e o julgar. Os atos intencionais, a dimensão volitiva e a esfera dos valores são inseparáveis. Seriam três facetas da vida do espírito em sua totalidade. Esses matizes de seu pensamento geraram dificuldades de compreensão por parte de seus críticos, frustrados diante da impossibilidade de enquadrá-la na vertente liberal-conservadora ou social-progressista.

Lafer esquadrinha cada detalhe desse mosaico vivo de referências. Demonstra a oposição estrutural entre violência e poder. E, ao fazê-lo, explicita as contradições de reivindicações sociais que se apoiam na deslegitimação das instituições. O retrato sobressai como a síntese entre pensamentos monistas-centrípetos e pluralistas-centrífugos.

Outro aspecto importante esmiuçado por Lafer se refere às três experiências do espírito: o animal laborans, o homo faber e a vita activa. A estrutura tridimensional não pode ser empobrecida por nenhum sistema de produção ou nenhum regime de poder. Diferente da ênfase dada à mortalidade, Arendt lança luzes sobre a condição humana, centrada na noção de natalidade. O humano é um animal em constante nascimento. Essa reorientação demarca as diferenças entre seu pensamento e as filosofias de seu antigo mestre Heidegger.

Fernando Pessoa: Acordar

Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rocio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.

Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja
A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.

Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...

Deita-me as mancheias,
Por cima da alma,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Meu coração chora
Na sombra dos parques,
Não tem quem o console
Verdadeiramente,
Exceto a própria sombra dos parques
Entrando-me na alma,
Através do pranto.
Dá-me rosas, rosas,
E llrios também...

Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palác ios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.

Por isso, não te importes com o que eu penso,
E muito embora o que eu te peça
Te pareça que não quer dizer nada,
Minha pobre criança tísica,
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também..