sexta-feira, 27 de maio de 2022

Vera Magalhães: Duelo de rejeições definirá se haverá segundo turno

O Globo

A diferença de 21 pontos percentuais de vantagem de Luiz Inácio Lula sobre Jair Bolsonaro, mostrada pelo Datafolha, incendiou os partidários do petista, apavorou os governistas e intrigou alguns analistas de pesquisas, mas fez com que todos esses atores passassem a analisar como mais provável a decisão da eleição presidencial no primeiro turno pela primeira vez desde 1998, com o ex-presidente como favorito.

Ainda que a diferença não seja tão dilatada quanto o dado obtido pela metodologia do instituto -- de entrevistas de campo, diferente da maioria dos levantamentos feitos com frequência maior e por telefone --, o dado para o qual todas as pesquisas convergem é aquele segundo a qual a preferência por Lula ou Bolsonaro, bem como a rejeição a um ou a outro, tende a alimentar, de agora em diante, um processo de “alckmização" dos adversários, que pode levar a que a decisão da disputa se antecipe.

Trata-se de uma referência ao que houve com Geraldo Alckmin, hoje vice na chapa de Lula, em 2018. Ele tinha boa estrutura de campanha, tempo de TV, dinheiro e, ainda assim, viu suas intenções de voto não decolarem, e depois desidratarem, diante de um eleitor que passou a enxergar Bolsonaro como a única opção para derrotar o PT -- naquele ano, a força motriz principal do eleitorado.

Bernardo Mello Franco: O 2º turno já começou

O Globo

O Datafolha informa: se a eleição fosse hoje, Lula venceria no primeiro turno com 54% dos votos válidos. A nova pesquisa reforça o favoritismo do petista, cujo nome não aparece na urna há 16 anos. E evidencia as dificuldades de Jair Bolsonaro, que pode se tornar o primeiro presidente a fracassar numa campanha à reeleição.

Em votos totais, que incluem brancos e nulos, Lula tem 48% e Bolsonaro aparece com 27%. O terceiro colocado é Ciro Gomes, que empacou nos 7%. Os outros pré-candidatos têm desempenhos pífios, entre os 2% e o traço.

Com as desistências de Sergio Moro e João Doria, que tentavam roubar votos de Bolsonaro, a disputa se afunilou entre o atual presidente e o ex. Ainda há tempo para surpresas, mas elas se tornam cada vez mais improváveis. A quatro meses das urnas, o eleitor parece disposto a antecipar o segundo turno para o primeiro.

A ruína econômica impulsionou o crescimento de Lula, que aposta na memória dos tempos de prosperidade em seu governo. Ele abriu 36 pontos de vantagem para Bolsonaro entre os eleitores mais pobres. São os brasileiros que mais sofrem com a carestia e o desemprego.

Luiz Carlos Azedo: Quando a fortuna governa a política, e a virtude, não

Correio Braziliense

Bolsonaro corre o risco de perder a eleição no primeiro turno, para o ex-presidente Lula, o que contraria o instituto da reeleição, que favorece quem está poder para dar continuidade aos projetos

O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, discorre longamente sobre a sorte na política. “De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se lhe deva servir” (Quantum fortuna in rebus humanis possit, et quomodo illis it occurrem dum), o 15º capítulo de seu livro, foi escrito com a intenção subjacente de separar o Estado da Igreja, que exercia enorme influência sobre os principados italianos. À época, dizia-se que as coisas eram governadas pela fortuna e por Deus e que os homens não poderiam modificar o seu destino, que já estava predeterminado. Muitos deixavam-se governar pela sorte e perdiam o poder.

Com a cautela que seu pescoço exigia, Maquiavel resolveu dividir as responsabilidades: “Pensando nisso algumas vezes, em parte inclinei-me em favor dessa opinião. Contudo, para que o nosso livre arbítrio não seja extinto, julgo poder ser verdade que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase”.

Para explicar sua tese, comparou a fortuna aos rios torrenciais: “Quando se encolerizam, alagam as planícies, destroem as árvores e os edifícios, carregam terra de um lugar para outro; todos fogem diante dele, tudo cede ao seu ímpeto, sem poder opor-se em qualquer parte. E, se bem assim ocorra, isso não impedia que os homens, quando a época era de calma, tomassem providências com anteparos e diques, de modo que, crescendo depois, ou as águas corressem por um canal, ou o seu ímpeto não fosse tão desenfreado nem tão danoso”.

Vinicius Torres Freire: Qual vai ser o golpe de Bolsonaro para evitar derrota no primeiro turno?

Folha de S. Paulo

Ano eleitoral e eleitoreiro ainda está longe de acabar, mas o arsenal de mágicas ficou menor

Jair Bolsonaro (PL) não perdeu os votos que juntou no início deste ano, mostra o Datafolha. Lula da Silva (PT) ganhou, bastantes até para vencer a eleição no primeiro turno. O problema do candidato que ora ocupa o Planalto volta a ser como não perder na primeira rodada. O que vai ou pode inventar, por exemplo, em termos de favores econômicos? O ano eleitoral e eleitoreiro ainda está longe de acabar, mas o arsenal de mágicas ficou menor.

Até as pesquisas de março ou abril, Bolsonaro deve ter se beneficiado de Sergio Moro (União Brasil) ter sido tirado da disputa, da discreta e inesperada despiora da economia no início desde 2022 e de alguns favores econômicos.

A julgar pelo Datafolha, a colheita magra de intenções de votos acabou, por ora. Vai ser mais difícil colher safra melhor na segunda metade do ano.

Segundo as melhores estimativas disponíveis, que ainda assim muita vez estão erradas, a economia teria crescido bem no primeiro trimestre, menos no segundo e começaria a encolher a partir de julho, fechando a segunda metade do ano no vermelho.

Reinaldo Azevedo: O Datafolha e a câmara de gás

Folha de S. Paulo

Se Bolsonaro vencer, golpe deixa de ser um risco e passa a ser uma certeza

Não temam tanto um autogolpe de Jair Bolsonaro caso ele perca a eleição no primeiro turno ou no segundo. A democracia será golpeada se ele vencer, o que é possível, embora pareça improvável, como revelam números do Datafolha.

Se a eleição fosse hoje, Lula teria 54% dos votos válidos no cenário mais provável, não precisando ir para o embate final. O petista tem 48% das intenções de voto e é rejeitado por 33% apenas. Votariam no atual presidente 27%, e 54% o rejeitam. Nota: a eleição não é hoje.

Por mais que Bolsonaro vocifere, não é a derrota que o torna especialmente perigoso. A exemplo de todo autoritário, a vitória lhe assanharia ainda mais a sede de mando. Um golpe da derrocada já nasceria sob o símbolo da farsa.

Já a vertigem da vitória teria mais chance de arrastar aventureiros. Essa é não mais do que uma constatação, não um convite para uma causa. Não tenho argumentos para a neutralidade diante de um massacre ou da câmara de gás.

Bruno Boghossian: Do salão para a cozinha

Folha de S. Paulo

Presidente pediu apoio em dois encontros para reduzir vantagem de Lula com eleitor mais pobre

Durante uma feijoada num apartamento do Morumbi, há duas semanas, um convidado perguntou a Jair Bolsonaro como os empresários poderiam ajudar sua campanha à reeleição. O presidente chamou os funcionários da cozinha, falou sobre os perigos de uma vitória da esquerda em outubro e pediu aos endinheirados que fizessem o mesmo com outros trabalhadores.

Quem contou a história foi o próprio Bolsonaro. Dias depois daquele almoço, ele foi a um evento com donos de supermercados e sugeriu que eles falassem com "os mais humildes" em suas lojas. "É reunir pelo menos uma vez por semana com o pessoal no canto e dar a palavra: 'Onde está apertando o calo de cada um de vocês?'. Para ganhar a confiança."

Bolsonaro sabe onde seu calo aperta nesta eleição. Quando pediu apoio dos mais ricos na feijoada do Morumbi, o presidente se referiu aos trabalhadores da cozinha como um "pessoal que ganha, em média, R$ 2.000 por mês", segmento em que ele enfrenta uma desvantagem arrasadora.

Dora Kramer: Agora é cinza

Revista Veja

João Doria não é causa, é antes um dos sintomas da lenta e autofágica derrocada do PSDB

Partidos, assim como as democracias numa definição contemporânea, não padecem de morte súbita, definham por ações de sabotagens lentas e graduais. Internas ou externas. No caso do PSDB a lenta derrocada vem sendo produzida no interior do organismo partidário há pelo menos vinte anos.

Portanto atribuir a atual estação fundo do poço a João Doria é um misto de erro, injustiça e autoengano. Para não falarmos em má-fé. O ex-governador chegou à vitrine do tucanato em 2016, quando se elegeu prefeito de São Paulo. É, antes, um dos sintomas, e não a causa das asneiras autofágicas que o PSDB já vinha cometendo mesmo antes de deixar o poder, em 2002.

No momento o partido está numa enrascada. Não consegue construir um mínimo de uniformidade sobre como se posicionar na eleição presidencial: com candidatura própria, na carona incerta do MDB ou ao deus-dará na base do cada um por si.

Um processo, segundo Marcus Pestana, dirigente do partido e pré-candidato ao governo de Minas Gerais, malconduzido, sem conversas produtivas nem transparência a respeito das intenções de cada ala. Produto, na avaliação dele, da junção de razões políticas justas com interesses bem menos nobres ligados à distribuição do Fundo Eleitoral, “instrumento de cooptação de caciques, o pior vírus que já se instalou na política brasileira”.

Rogério F. Werneck: Lula, Alckmin e a conquista do centro

O Globo

É difícil que Lula atraia o eleitor de centro sem se mover para o centro. Ele ainda não se deu conta que o ‘timing’ pode ser crucial

A menos que ainda possamos vir a contar com superpoderes de Simone Tebet, o que nos aguarda em outubro é o que mais se temia: um mano a mano entre Lula e Bolsonaro. Sairá vitorioso quem conseguir conquistar, em encarniçado segundo turno, apoio decisivo dos eleitores de centro que ainda resistem à escolha entre os dois candidatos.

É dessa perspectiva que se afigura a cada dia mais intrigante resistência de Lula a dar demonstrações claras e inequívocas de que está disposto a se mover para o centro do espectro político. E, nunca é demais insistir, tal movimento teria que se dar ao longo do eixo que verdadeiramente importa, que é o da condução da política econômica.

Sobre isso, Lula continua fechado em copas. E o pouco que deixa entrever, em esparsas declarações à mídia, só contribui para reforçar a percepção de que ele continua resistindo a se mover para o centro e, pior, propenso a se mover para a esquerda.

Cristian Klein: Produção em alta da Fascisbras

Valor Econômico

Empresa tem sócios no aparato estatal e na iniciativa privada

A empresa de intolerância e atrocidade nacional - a Fábrica de Ataques Sistemáticos Contra Inimigos Sociais (Fascisbras) - está batendo recorde de produtividade nesta semana. A companhia, uma sociedade de economia mista, cujos sócios estão no Estado e na iniciativa privada, na polícia e nas milícias digitais, nos gabinetes e certos círculos empresariais, registrou desempenho digno de comemoração pelo presidente da República.

Até o fim do ano, no período pré e pós-eleitoral, a expectativa é que o grupo lance uma linha de produtos numa estratégia agressiva de dominar o mercado (golpe), o que se junta à ‘expertise’ na destruição de reputações e de vidas, setor bastante explorado durante a pandemia.

Bolsonaro, cujo comportamento é como se CEO do conglomerado fosse, parabenizou as tropas que mataram 26 pessoas, entre as quais inocentes, na segunda maior chacina na história do Rio. Não sem razão. A equipe quase bateu a meta da última e recordista operação, em maio do ano passado, no Jacarezinho, onde foram recolhidos 28 cadáveres - na maioria peças de reposição do tráfico.

Maria Cristina Fernandes: O tiro que pode perturbar as eleições

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Turbulência que se teme em outubro não vem da ação das Forças Armadas

A turbulência que se teme nas eleições não vem da ação das Forças Armadas, mas de sua omissão. No roteiro traçado por um ex-ministro da Defesa, ainda hoje um dos principais interlocutores civis no meio militar, uma eventual derrota do presidente Jair Bolsonaro levaria seus apoiadores mais exaltados a uma tentativa de invasão de prédios públicos, notadamente o Tribunal Superior Eleitoral, que divulga o resultado oficial da disputa.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, face ao risco, pediria ao presidente da República uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). O comandante em chefe a recusaria, por óbvio, principal beneficiário que é de uma baderna que reside, por enquanto, no campo da imaginação.

Como qualquer um dos Três Poderes pode conceder a GLO, o governador apelaria, então, à presidente do Supremo Tribunal Federal, cujo prédio também é alvo. Não falta quem, além das estátuas da liberdade em frente às lojas da Havan, queira dar ao Brasil uma réplica do 06/01/2021.

A ministra Rosa Weber não hesitaria em concedê-la, mas o comandante em chefe pode resistir para evitar que, a exemplo do que aconteceu na invasão do Capitólio, em Washington, a tropa atue na contenção dos baderneiros.

José de Souza Martins*: Incertezas do ensino doméstico

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Os pais podem inventar a educação que querem dar a seus filhos, mas não podem reinventar a sociedade na qual seus filhos terão que viver

Diferentes sociedades reinventam a educação de conformidade com os desafios da circunstância e com o surgimento da consciência de que os conteúdos e modos de educar vigentes têm insuficiências que pedem inovações. Os que querem a educação escolar dos filhos em casa, a querem porque estranham que a educação na escola não faça deles cópias do que acham que eles próprios são.

O problema é que, se a inovação não der certo, porque mais resultado de palpite do que de conhecimento especializado, multidões de crianças e adolescentes serão prejudicadas e ficarão despreparadas para viver na sociedade tal qual ela é.

Os pais podem inventar a educação que querem dar a seus filhos, mas não podem reinventar a sociedade na qual seus filhos terão que viver. É a escola convencional que, além de educar, pode socializar, na convivência cotidiana com os diferentes, para os desafios cotidianos das mudanças da realidade social.

É possível que os militantes da causa do ensino doméstico estejam infelizes com a educação brasileira porque não tem sido ela fábrica da sociedade por eles concebida. Querem mastigar para os filhos as verdades que a vida não confirma.

Claudia Safatle: Será longa a guerra contra a inflação

Valor Econômico

Só estabilizar a relação dívida/PIB é uma péssima gestão de risco, diz Arminio

A guerra contra a inflação será mais longa e mais custosa do que se imagina. A convergência das expectativas de inflação para a meta de 3,5% poderá ocorrer só lá por 2024, elevando-se, aí, o tempo de juros altos necessário para domar os preços. A taxa de juros para este ano está em 8,5%. A curva cai um pouco e fica em torno de 6% ao ano a perder de vista.

“Isso cria um problema potencialmente muito sério. Corre-se o risco de adquirir uma inércia que há tempos não víamos”, alerta o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, sócio-fundador da Gávea Investimentos.

À pergunta sobre quando ele acredita que a taxa de inflação vai poder estar ancorada na meta de 3,5%, Armínio não arrisca uma resposta. “Qualquer coisa que eu fale tem uma dose de subjetividade, não tem um modelo que resolva isso com tanta incerteza no horizonte: ano de eleição, incerteza sobre o que a futura administração vai fazer. E a economia teve uma reação no primeiro trimestre, mas a expectativa é que a política monetária faça o efeito que ela foi desenhada para fazer, que é dar uma segurada na economia, o que cria um ambiente político e social tenso.”

Eliane Cantanhêde: Uma loucura!

O Estado de S. Paulo

Pró-Pinochet, Stroessner, Ustra e Daniel Silveira, contra Nise da Silveira e Paulo Freire

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro enaltece sanguinários como Augusto Pinochet, Alfredo Stroessner e Carlos Brilhante Ustra e faz homenagem de duas horas no Planalto para um sujeito como Daniel Silveira, seu governo ataca a psiquiatra Nise da Silveira, o educador Paulo Freire, o cientista Ricardo Galvão, o compositor Chico Buarque e a nossa diva do teatro Fernanda Montenegro.

O Congresso aprovou a inclusão da Dra. Nise no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, mas Bolsonaro vetou, alegando que não é possível avaliar “a envergadura” do trabalho dela, e bolsonaristas da Câmara já articulam trocar a Dra. Nise por Olavo de Carvalho, o canastrão rejeitado pela própria filha que xingava até nossos generais aos palavrões. Isso, sim, é uma loucura!

Fernando Gabeira: Nacionalismo como álibi na Amazônia

O Estado de S. Paulo.

Os que defendem a devastação abandonam o discurso nacionalista e caem nos braços dos grupos internacionais que utilizavam como bicho-papão

Apesar de seu caráter propagandístico, a visita do bilionário Elon Musk ao Brasil merece atenção.

Em primeiro lugar, o objetivo declarado de conectar à internet 19 mil escolas da região amazônica é inatacável. Isso será excelente para o precário ensino na Amazônia e poderá, ainda, fortalecer uma série de atividades como medicina à distância e negócios sustentáveis com o mundo. Portanto, o único problema aí, se houver, é uma questão de avaliar preços e concorrentes para ver se essa é mesmo a melhor proposta. O Brasil não está começando neste campo.

Avançando um pouco no discurso de Bolsonaro e de Musk, falou-se também do monitoramento ambiental da Amazônia, que seria fortalecido com a infraestrutura montada pelo bilionário. O problema é que já temos um monitoramento na Amazônia, realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e disponível para todos os que se interessem em combater queimadas e desmatamento.

Entrevista| Silvio Pons*: Moscou está isolada, mas da África à Índia muitos não seguem o Ocidente

Il Riformista & Gramsci e o Brasil.

A guerra e a narrativa de Putin. As ideias dos socialistas europeus e o risco de um novo, devastador conflito no Oriente. Il Riformista discute a questão com um dos mais respeitados estudiosos do “planeta” russo, Silvio Pons, docente de História Contemporânea na Escola Normal Superior de Pisa, presidente da Fondazione Gramsci. Entrevista a Umberto De Giovannangeli.

Em Bruxelas o senhor participou de um encontro da FEPS (Foundation for European Progressive Studies), que reúne as Fundações e os centros de investigação dos partidos socialistas, social-democratas e progressistas da Europa. Os socialistas e a guerra. Professor Pons, há um ponto de vista comum?

Sobre algumas questões seguramente existe. Defender a Ucrânia como país democrático e independente é um objetivo que unifica todos os socialistas europeus. E o mesmo se pode dizer sobre a afirmação de uma perspectiva de trégua e, depois, de paz, embora seja ainda muito difícil dizer como e quando se verificará. De resto, na tradição do socialismo europeu há uma particular sensibilidade ao tema da agressão de uma grande potência imperialista e à resposta que é necessário dar a esta agressão na perspectiva de uma política da União Europeia, que está num sistema de alianças ocidentais mas deve também definir os próprios interesses como Europa.

Fernando Carvalho*: Calote na Comissão de Anistia

Todos sabemos que o Brasil vive uma situação democrática resultado da superação de uma ditadura militar que durou 21 anos. A ditadura aconteceu em 1964, tempo em que ainda existia a guerra fria. Todos conhecemos o papel do embaixador americano Lincoln Gordon de apoio aos militares golpistas. Segundo Chomsky "Nós instalamos o primeiro verdadeiro grande estado de segurança nacional, estado semi-nazista da América Latina, com tortura de alta tecnologia, e assim por diante". Todos conhecemos também o papel de Bolsonaro ao longo dos seus vários mandatos de deputado federal. Espécie de restolho da ditadura militar, nunca fez segredo disso, ao contrário sempre verbalizou seus conhecidos elogios à ditadura militar que, segundo ele, "deveria ter matado trinta mil pessoas, inclusive FHC". Sempre foi favorável à tortura e dizia que por meio do voto não se muda nada. E outros absurdos mais. 

Mas, por ironia da História, Bolsonaro chegou à presidência da República. Ele procura o tempo todo vender aos militares a ideia de que com ele o regime militar está de volta ao poder ou a caminho. Colocou milhares de militares em cargos civis no governo. Participa de eventos de formatura de militares, coisa que nunca acontecia com presidentes civis. Procura dar aumento de salário para militares e policiais. E concedeu soldo de marechal em pensões vitalícias para centenas de militares de alta patente e até para um coronel torturador. Como se tivesse querendo seduzir nossa elite militar para a Operação Capitólio Brazuca.

Hélio Schwartsman: Polícia do Rio desafia o Supremo com operações

Folha de S. Paulo

Desobediência parece ensaio para eventual confronto entre STF e Bolsonaro

Um dos mais terríveis monstros da mitologia grega, a Hidra de Lerna tinha corpo de dragão e várias cabeças de serpente. Vivia nos pântanos da Argólida e seu hálito era venenoso. Pior, ela era praticamente imortal, já que, quando uma de suas cabeças era destruída, surgiam duas em seu lugar. O monstro foi derrotado por Hércules, que, depois de esmagar inutilmente muitas cabeças, decidiu mudar de tática. Pediu a seu sobrinho Iolau que queimasse o pescoço do bicho logo após o corte de uma cabeça. Com a ferida cauterizada, elas não se regeneravam. Deixo para os fãs da psicanálise especular sobre o significado simbólico do monstro.

Flávia Oliveira: O extermínio é projeto

O Globo

É assentada no extermínio dos jovens negros moradores de favela — ligados ou não ao varejo de drogas ilícitas — a política de segurança do governo fluminense. Não bastassem as estatísticas sobre a predominância de pessoas pretas e pardas entre os moradores das comunidades populares, sequências de fotos das vítimas de homicídios sepultam dúvidas. Cláudio Castro foi içado ao Palácio Guanabara em substituição a Wilson Witzel, o governador que mandava “atirar na cabecinha”, sinal verde à execução sumária. No poder, dobrou a aposta. Manteve a decisão do companheiro de chapa de suprimir a Secretaria de Segurança, substituída por duas pastas, de Polícia Civil e Polícia Militar. Acumula recordes nefastos por matanças sucessivas protagonizadas pelas Forças que comanda.

Desde outubro de 2020, quando assumiu interinamente o governo, após a Alerj aprovar a abertura do processo de impeachment de Witzel, o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni-UFF) contou 74 operações policiais com três ou mais homicídios; ao todo, foram 327 mortes. A partir de maio de 2021, com Castro efetivado no cargo, houve 83 mortes em 16 chacinas, incluídas aí as duas mais letais da História do estado: Jacarezinho 2021, com 28 mortos, dentre os quais um policial; Vila Cruzeiro, na última terça, 23 óbitos (a polícia reduziu em três o total de vítimas informado anteriormente). Uma mesma gestão acumular o primeiro e segundo lugares em letalidade de intervenção policial numa série histórica iniciada em 1989 não é acaso, coincidência, fatalidade, efeito colateral. É projeto.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Termômetro eleitoral

Folha de S. Paulo

Datafolha apura vantagem maior de Lula ante Bolsonaro e menos espaço para 3ª via

Pesquisa Datafolha sobre intenção de voto para presidente divulgada nesta quinta (26) traz o que parece ser a melhor explicação para os recentes rompantes de Jair Bolsonaro (PL) contra instituições democráticas: voltou a crescer a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O levantamento anterior, de março, havia trazido boas notícias para o presidente. A distância entre ele e o petista caíra pela metade na declaração espontânea, em que o entrevistado simplesmente responde em quem pretende votar.

Agora, nesse tipo de pergunta, a dianteira do ex-presidente mais que dobrou e atingiu 16 pontos percentuais, ou 38% a 22%, ante 30% a 23% dois meses atrás.

Na pesquisa estimulada, em que uma lista de candidatos é apresentada ao entrevistado, Lula registra 48%, ante 27% de Bolsonaro e 7% de Ciro Gomes (PDT), com os demais ficando no máximo em 2%.

A margem para uma terceira via parece mais estreita. Lula e Bolsonaro somam 75 pontos e deixam 25 livres para outros concorrentes —eram 31 em março.

Como se trata de um novo cenário político devido sobretudo às desistências de João Doria (PSDB) e Sergio Moro (União Brasil), não se pode fazer uma comparação direta entre esse resultado e os de levantamentos anteriores.

Mas isso não impede ninguém de notar que, considerando os votos válidos (excluídos brancos, nulos e indecisos), Lula agora marca 54%, cifra em tese suficiente para vitória num primeiro turno hoje.