sábado, 12 de novembro de 2022

Entrevista | Amartya Sen: ‘Economia é secundária, o que importa são as pessoas’

Nobel de Economia diz que o Brasil tem muito a ensinar ao mundo e pode se desenvolver com justiça social

Thiago Bethônico / Folha de S. Paulo

Vencedor do Nobel de Economia em 1998, o pensador indiano Amartya Sen prefere se conter sobre as discussões econômicas. Segundo ele, o tema já recebe atenção demais —"praticamente o tempo todo"—, e há questões mais importantes, como a liberdade e as pessoas.

Em entrevista à Folha, Sen afirma estar preocupado com ameaças à vida humana em função da intolerância política, que se espalha no mundo. "Há muitas coisas acontecendo que são perturbadoras. Se elas são ou não economicamente perturbadoras é uma questão secundária."

O pensador indiano, que ganhou renome por seus estudos sobre a fome e por defender um desenvolvimento com liberdade, respeito aos indivíduos e bem-estar social, diz estar acompanhando a realidade brasileira até certo ponto.

Segundo ele, o Brasil tem muito a ensinar ao resto do mundo e, assim como qualquer país, tem a capacidade de crescer enquanto combate desigualdades.

"Justiça social não é uma fórmula abstrata. A justiça social é uma forma em que podemos ajudar uns aos outros, em que os ganhos que as pessoas obtêm podem ser compartilhados com outras pessoas", diz.

Sen publicou recentemente seu livro de memórias, lançado no Brasil pela Companhia das Letras com o título "Uma Casa no Mundo". Nele, o economista detalha como suas experiências pessoais influenciaram seu trabalho em prol da melhoria da condição humana.

A entrevista foi feita por videochamada, antes do segundo turno das eleições do Brasil:

No início do livro, o sr. fala sobre a situação na Birmânia [atual Mianmar] e aproveita para refletir sobre a intolerância política que vem ocorrendo em todo o mundo. O sr. acha que a intolerância política e regimes autoritários podem representar uma ameaça ao desenvolvimento econômico justo? 

Hélio Schwartsman - Generais voadores

Folha de S. Paulo

Ambos buscam refúgio em sutilezas da epistemologia

Para o pastafarianismo, o Universo foi criado pelo Monstro do Espaguete Voador, uma entidade invisível e indetectável, depois de um megaporre. Os pastafarianos também sustentam que o aquecimento global é consequência direta da redução do número de piratas em atividade nos sete mares.

Para as Forças Armadas brasileiras, embora nenhum indício de fraude tenha sido detectado durante as eleições, "não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento".

Cristina Serra - Lula e os nostálgicos de 1964

Folha de S. Paulo

Despolitizar as Forças Armadas é um dos maiores desafios da democracia no Brasil

Mais difícil para Lula do que a escolha do próximo ministro da Fazenda talvez seja a definição do titular da Defesa que irá substituir o bolsonaríssimo Paulo Sérgio de Oliveira.

Expert no jogo previsível do "morde e assopra", bem ao gosto do chefe, o general carrancudo disse, primeiro, que não houve fraude na eleição. Um dia depois, se desdisse, caprichando na dubiedade que alimenta grupos fanatizados e catatônicos com doses calculadas de teorias conspiratórias.

É a mesma ambiguidade proposital da nota emitida pelos três comandantes militares sobre os protestos golpistas na porta dos quartéis. A nota reivindica para as Forças Armadas o inexistente papel de "moderadoras". Os comandantes dizem ainda que as fileiras estão "vigilantes" e "atentas".

Alvaro Costa e Silva - O golpe do pato manco

Folha de S. Paulo

A prova de que o governo Lula já começou é o humor do mercado

É rotina numa democracia: um governo entra, outro sai. Vida que segue, como gostava de dizer o João Saldanha. Menos no Brasil, depois dos quatro anos em que ficou entregue à sanha bolsonarista. Não há como contestar o resultado das eleições, reconhecidas pelo STF e o TSE, pelos presidentes da Câmara e do Senado e pelos principais líderes mundiais. No entanto, um grupo minoritário insiste em jogar o país na instabilidade, alimentando teorias conspiratórias de fraude.

Demétrio Magnoli - Um livro para a fogueira

Folha de S. Paulo

Origem e história do identitarismo são decifradas em conjunto de ensaios

O "ópio dos intelectuais", como o qualificou Raymond Aron, já não é o marxismo, mas o identitarismo. Sua origem, história, morfologia e linguagem são decifradas em "A crise da política identitária", conjunto de ensaios lançado pela TopBooks e organizado por Antonio Risério, intelectual condenado no Santo Ofício da IRUD (Igreja Racialista dos Últimos Dias) e expurgado desta Folha.

São mais de 550 páginas, 20 ensaios inéditos, uma entrevista e alguns artigos de jornal (inclusive deste colunista). Os autores não formam um exército ideológico. Como explica o organizador, "o tom vai de um extremo a outro: da recusa à procura do diálogo". Há, inclusive, autores favoráveis a cotas raciais nas universidades.

A doutrina identitária habita lugar ambíguo. Nasceu na universidade e exibe-se como saber acadêmico, mas opera como movimento social e rejeita a aplicação das regras do método científico na avaliação de suas próprias teses. Wilson Gomes perscruta esse labirinto e oferece um manual sobre suas táticas polêmicas. Uma delas: diante de uma crítica a uma premissa do movimento identitário negro, "o crítico deve ser acusado de racista" e, "se possível, de supremacista branco e fascista". Você já leu isso, não?

Ascânio Seleme - Lula não terá lua de mel

O Globo

O presidente eleito não terá vida mansa nem nos primeiros meses de sua gestão. Apesar do alívio nacional que causou com sua eleição, Lula não deve esperar aquela tradicional lua de mel de três meses, cem dias, concedida a todo novo governante. Como será obrigado a dar provas das suas boas intenções, as cobranças começarão ainda muito cedo, virão antes mesmo da posse, com o anúncio dos ministros. Aliás, a primeira já se viu esta semana, com a subida do dólar e a queda da bolsa em razão de fala muito rápida do presidente eleito sobre equilíbrio fiscal, repetindo o que já havia dito antes como candidato. Mas agora, eleito, suas considerações mexeram com o mercado.

DOIS ANOS

Lula não terá o direito de errar. Desde o primeiro dia de governo sua obrigação será acertar, acertar e seguir acertando. Seja na administração pública, tentando satisfazer as principais necessidades do Brasil e dos brasileiros, seja na política, porque sem ela não se alcança qualquer objetivo. Sobretudo nos dois primeiros anos será vital apresentar resultados, mostrar inteiramente as diferenças que separam este do futuro governo, para que os protagonistas dos últimos quatro anos não ganhem força nas eleições municipais.

Ricardo Henriques - Emergência climática e educacional

O Globo

No Brasil, os desafios estruturais que as mudanças climáticas e a educação enfrentam são da mesma natureza

 ‘A eleição presidencial brasileira determinará o futuro do planeta”. Este foi, traduzido, o título de um editorial do New York Times publicado três dias antes do pleito que deu a Luiz Inácio Lula da Silva seu terceiro mandato. É sintomático do tamanho da expectativa que a comunidade internacional deposita no novo governo.

Esta situação dá ao país uma oportunidade de reconquistar seu protagonismo internacional, conforme estamos vendo na conferência do clima da ONU, a COP 27, e em sinalizações como a da Noruega em relação ao Fundo Amazônia. É fundamental, portanto, que nos posicionemos como liderança global que concilie a agenda ambiental e climática com o desenvolvimento econômico e social.

Para isso, precisaremos de ações ambiciosas, transversais e aceleradas em duas frentes: mitigação e adaptação. Em ambas será fundamental investir na educação e nos sistemas de formação profissional de forma a construir uma ponte que viabilize a instalação de uma economia de baixo carbono e que transforme nossas vantagens comparativas em competitivas.

Pablo Ortellado - Bolsonaristas precisam conceder a derrota

O Globo

Um dos traços distintivos do populismo, segundo a literatura acadêmica, é ser eleitoral, diferenciar-se de formas ditatoriais por aceitar a alternância no poder.

Foi assim com as experiências populistas europeias nos anos 2000, quando partidos populistas — como a Liga, que participou do governo italiano entre 2000 e 2006 e entre 2008 e 2011; ou o Partido da Liberdade, no governo austríaco entre 2006 e 2008 — passaram o poder depois a novas coalizões governamentais de forma regular. O mesmo aconteceu nos anos 2010 com forças populistas como o Cinco Estrelas, na Itália, ou o Syriza, na Grécia.

Há um temor de que o bolsonarismo seja um fenômeno de outro tipo, um populismo de tipo iliberal — com corrosão gradual das instituições democráticas — ou pior, um movimento que aponta diretamente para uma ditadura.

Acompanhar os grupos bolsonaristas em aplicativos de mensagens como WhatsApp ou Telegram é muito instrutivo. O discurso que encontramos ali confunde o bolsonarismo com o povo e, por meio disso, permite compatibilizar o apelo para uma intervenção militar com uma ideia distorcida de democracia — como se apenas um golpe de Estado pudesse recolocar o “povo” no poder.

Eduardo Affonso - O macarthismo do bem

O Globo

Muitos tentam silenciar a atriz, invalidando suas crenças, boicotando sua carreira, forçando-a a sair de cena

Para qualquer pessoa minimamente conectada com o século XXI, é difícil não discordar da Cássia Kis.

Onde ela vê um movimento de destruição da família, eu vejo o de construção de novos modelos, mais inclusivos. Quando ela diz que que “homem com homem não dá filho, mulher com mulher também não dá filho”, penso nos casais heterossexuais em que o marido é (como eu) infértil, ou a mulher (como a própria Cássia) já entrou na menopausa. Casais assim tampouco produzem filhos — e isso não os invalida como células familiares, não os torna afetivamente estéreis.

Cássia é profundamente católica; eu, visceralmente ateu. Ela fez um aborto quando jovem, hoje é militante pró-vida; eu era contrário ao aborto, me tornei pró-escolha. Havemos de ter outras divergências, porém — e tudo o que vem antes de uma conjunção adversativa passa automaticamente a segundo plano — nada disso me impede de respeitá-la como cidadã e como artista. Divergir dela e contestar seus argumentos só fortalece a ideia de que o diálogo seja a forma mais eficaz de vencer preconceitos e de conviver com diferenças.

Carlos Alberto Sardenberg - Sem noção

O Globo

Há um sinal claro de que a política econômica vai para o lado de deixar ‘nervosinhos’ os mercados

O mercado não fica “nervosinho”. Estressado? Sim, mas o pessoal se vira. As declarações de Lula e Mantega derrubam a Bolsa e jogam o dólar para cima? Ok, o negócio é comprar juros. Em apenas uma semana, os juros cobrados nos títulos do governo brasileiro com vencimento em janeiro de 2024 subiram de 11% para mais de 13% ao ano. Rendimento bom, não é mesmo?

Significado 1: os investidores cobram mais caro para financiar a dívida pública brasileira, na expectativa de que o governo Lula vá começar gastando sem qualquer regra de controle das contas públicas.

Significado 2: aumenta a despesa do governo com o pagamento de juros, reduzindo o espaço para outros gastos, sociais especialmente.

Significado 3: juros aqui permanecerão altos por mais tempo, com a inflação demorando para cair. Isso prejudica a população. Investidores financeiros se viram.

Lucas Carlos Lima* - Uma oportunidade que não pode ser perdida

O Estado de S. Paulo

O novo presidente tem uma grande chance diante de si: com sua política externa jurídica, influenciar um jogo que está repensando suas regras.

 “O Brasil está de volta ao jogo.” Parte do jogo é, por meio de sua política externa jurídica, tentar influenciar, modificar e aplicar as regras do próprio jogo de acordo com os interesses nacionais e buscando o melhor interesse do Brasil. Essas regras são conhecidas como o Direito Internacional.

Historicamente, por muito tempo, o Brasil foi mais um ruletaker (recebedor de regras) do que um rulemaker (criador de regras). Esse cenário alterou-se em virtude de articulações ativas e altivas (e também antes, desde Itamar Franco), de modo que a presença brasileira nas mesas de negociações e nas instituições internacionais garantia a voz brasileira na hora de modelar as regras internacionais.

Sabemos quais são os novos desafios que o presidente eleito irá encontrar no tabuleiro político das relações internacionais. Reconquistar lideranças não é tarefa simples, sobretudo num mundo cujas cadeias de produção se encontram abaladas, em que tensões (militares e econômicas) entre leste e oeste se agudizam e em que o multilateralismo se encontra em constante repensar. Às adversidades políticas se adicionam os desafios jurídicos, que podem ser sintetizados na formulação, interpretação e aplicação das regras do Direito Internacional a situações concretas. Podem-se vislumbrar ao menos três campos em que o Brasil terá de afinar sua política externa jurídica para otimizar resultados na proteção dos interesses nacionais.

João Gabriel de Lima* - Um encontro das águas no deserto

O Estado de S. Paulo

O que falta é que as propostas cheguem à única instância em que é possível resolver os problemas: a política

Poucos países têm tantos problemas quanto o Brasil. Mas se há um problema que não temos é a falta de conhecimento sobre nossos problemas. Quase todas as grandes questões brasileiras estão mapeadas, equacionadas e quantificadas. O que falta, na maioria das vezes, é que as propostas e soluções cheguem à única instância em que é realmente possível resolver os problemas: a política.

Duas palestras durante a COP-27 dão um vislumbre do que pode ser o Brasil quando a teoria gestada na academia encontra a prática do dia a dia dos governos. Um debate no Brazil Climate Action Hub, o movimentado pavilhão da sociedade civil, apresentou as principais conclusões do Projeto Amazônia 2030 – a associação de cientistas de renome internacional que se debruçou sobre os diversos aspectos da maior floresta tropical do mundo.

Marcus Pestana - O que fica de aprendizado sobre nosso sistema de governo?

Pela primeira vez, assistimos à derrota de um presidente no poder em sua tentativa de reeleição. Encontra-se em curso o processo de transição. Até aqui tudo parece caminhar bem. Lula, com sua experiência e habilidade política, sinaliza estar fazendo a leitura correta das eleições. Afinal, a margem de diferença de 1,8% foi a mais apertada de todos os segundos turnos ocorridos desde 1989 e a composição do Congresso determinou nova correlação de forças, com o fortalecimento das posições à direita, o enfraquecimento do centro político e uma bancada de esquerda insuficiente para sustentar o novo governo.

O ser humano é o único na face da Terra capaz de processar racionalmente os fatos, analisar criticamente resultados, avaliar a trajetória percorrida, como base para o aprendizado coletivo e a construção de soluções futuras.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Forças Armadas revelam sensatez em nota conjunta

O Globo

Exército, Marinha e Aeronáutica demonstram compromisso com democracia e harmonia social

As Forças Armadas revelam sensatez num momento em que o país ainda sofre os efeitos nefastos de uma eleição polarizada, marcada por uma guerra suja sem precedentes em campanhas. Em nota conjunta endereçada “às instituições e ao povo brasileiro”, elas defendem manifestações pacíficas, condenam excessos que restrinjam direitos individuais ou coletivos e reafirmam seu compromisso “irrestrito e inabalável com o povo brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil”.

Desde que foi proclamada a vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, o país tem sido sacudido por manifestações antidemocráticas que questionam o resultado do pleito. Primeiro, foram os bloqueios ilegais promovidos por caminhoneiros em rodovias. Depois, surgiram atos golpistas em frente a unidades do Exército.

Na nota, os comandantes da Marinha, almirante de esquadra Almir Garnier Santos, do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, afirmam que a Constituição garante a livre manifestação de pensamento, a liberdade de reunião pacífica e a liberdade de locomoção. Dizem ainda que “são condenáveis tanto restrições a direitos por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública”.