domingo, 27 de novembro de 2022

Luiz Carlos Azedo - Menos ambição e mais modéstia

Correio Braziliense

Os trilhos nos quais o novo governo deve e pode avançar são o fortalecimento da democracia, com respeito a suas instituições, e uma agenda ambiental de vanguarda.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito sem um programa de governo. Sua estratégia de campanha foi resgatar as realizações de seus dois mandatos, o que não foi suficiente para garantir sua eleição no primeiro turno, mas o deixou na cara do gol, no segundo. Para vencer, porém, teve que ampliar ainda mais as alianças e contar com a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro, que era maior do que a sua, para se eleger por estreita margem de votos. Sendo mais específico, Lula teve 3,5 milhões de votos a mais no segundo turno; Bolsonaro, 7 milhões. Com toda certeza, a candidata do MDB, senadora Simone Tebet, os partidos que o apoiaram no segundo turno tiveram um papel decisivo nessa transferência de votos. A chamada "terceira via" foi esmagada pela polarização no primeiro turno, mas não a ponto de não fazer alguma diferença no segundo.

O drama de Lula ao assumir seu mandato é cumprir as promessas de campanha, principalmente o Auxílio Brasil/Bolsa Família de R$ 600 mil, que também serviu de plataforma para Bolsonaro junto às parcelas mais pobres da população, embora esse valor não tenha sido previsto no Orçamento da União de 2023. Lula gerou grande expectativa para os eleitores de baixa renda, principalmente as donas de casa, de que garantiria a comida na mesa, com direito a cerveja e picanha no fim de semana. Essa é a lembrança afetiva do seu governo no imaginário popular, como fora o frango a R$ 1 do Plano Real, na eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.

Merval Pereira - Hora da definição

O Globo

Propostas de Jereissatti e Alessandro Vieira abrem caminho para uma solução para a PEC de transição que corresponde à necessidade, com controle fiscal

O desagrado dos agentes do mercado financeiro com a fala do provável futuro ministro da Fazenda Fernando Haddad reflete bem a relação conflituosa entre o presidente eleito Lula e o mundo financeiro que sempre existiu, uma tradução política da tendência anacrônica esquerdista do PT que, depois da China, deveria ter sido adaptada.

Apesar de o pessimismo do mesmo mercado ter sido desmentido na prática no primeiro governo Lula, que deu continuidade à política econômica de Fernando Henrique, ficou um gosto amargo devido ao final do segundo mandato e, principalmente, aos dois mandatos desastrosos de Dilma Rousseff, quando o PT implantou suas ideias econômicas próprias e levou o país a uma grave crise financeira.

Míriam Leitão - A verdade muito além do fiscal

O Globo

O que gera mais incerteza? O golpismo de Bolsonaro ou a falta de definição sobre a âncora fiscal do novo governo?

O ex-ministro Fernando Haddad foi falar com os banqueiros, em nome do presidente Lula, na sexta-feira e defendeu ideias civilizatórias, democracia, normalidade na relação entre poderes e respeito ao pacto federativo. A bolsa caiu e o dólar subiu. A explicação é que acharam que ele foi “vago”. Haddad não podia dar detalhes de coisa alguma, nem ministro é. Mas cabe pensar neste tipo de reação. Bolsonaro abriu guerra com o Judiciário, brigou com estados e municípios, não reconheceu a derrota nas urnas e até hoje conspira contra a democracia. O que gera mais incerteza? O golpismo de Bolsonaro ou a falta de definição sobre a âncora fiscal do novo governo?

Maldita é palavra feia e forte, mas a única possível para definir a herança deixada por Bolsonaro. Há uma devastação no país. Quem seleciona números para dizer que o país melhorou comete erros. Números nada dizem sem o contexto. O orçamento é inexequível. E é também uma arapuca que está tirando capital político e drenando as forças do governo eleito.

Na economia, a arrecadação subiu? Sim, mas em grande parte pela alta da inflação, o que é uma forma espúria de melhorar os dados fiscais. Algumas despesas cresceram em ritmo menor? Sim, mas porque não houve aumento real de salário mínimo em quatro anos e os salários dos servidores civis foram congelados, enquanto os dos militares subiam. A visão seletiva de alguns indicadores não permite uma análise do que está ocorrendo no país.

Elio Gaspari - Arthur Lira arrastou as fichas

O Globo

Presidente da Câmara colocou uma boa parte do Centrão no colo de Lula, antes mesmo de o governo ter começado

Goste-se ou não do deputado Arthur Lira, nas últimas semanas ele foi um mestre. Durante a campanha, Lula condenava sua posição de senhor das verbas do orçamento secreto. No dia da eleição, ele foi um dos primeiros a reconhecer o resultado. Nos dias seguintes, jogou parado enquanto o comissariado petista se enrolava com a PEC da Transição.

Passaram os dias, e no PT já se admite que ele seja reeleito para a presidência da Câmara. Só um sonhador poderia acreditar que um governo obrigado a enfrentar uma oposição feroz seria capaz de aprovar uma emenda constitucional, com os votos de três quintos da Casa, hostilizando seu presidente. O senador Renan Calheiros avisou que a PEC era uma barbeiragem, mas não foi ouvido.

Em poucas palavras, Lira colocou uma boa parte do Centrão no colo de Lula, antes mesmo de o governo ter começado. Na contrapartida, colocou uma parte dos planos de Lula no colo do Centrão.

O que parece ser um amargo limão poderá ser uma limonada. Lula precisa da paz política e, desde o século passado, o Centrão a oferece.

O problema está na relação do Planalto com os congressistas. Em seu primeiro mandato, Lula deixou que as coisas deslizassem para o mensalão e deu no que deu. Quando os maus costumes voltaram a explodir, já no governo de Dilma Rousseff, a encrenca estava na Petrobras e nas empreiteiras.

Bernardo Mello Franco – A polícia de Bolsonaro

O Globo

Criada para patrulhar rodovias, corporação virou braço armado do projeto de Bolsonaro

As instituições começaram a funcionar para Silvinei Vasques. O diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal virou réu por improbidade administrativa. É acusado de usar a estrutura e a imagem do órgão para favorecer a candidatura derrotada de Jair Bolsonaro. Vasques chegou ao cargo graças à proximidade com o primeiro-filho Flávio Bolsonaro. Nos últimos anos, encarnou como ninguém o aparelhamento do Estado a serviço do clã presidencial.

Na ação, o Ministério Público Federal enumerou oito momentos em que o policial fez campanha pelo capitão — sempre de farda e ostentando o distintivo da PRF. Em entrevista a uma rádio governista, chamou o presidente de “mito”. Em solenidade, entregou ao ministro da Justiça uma camisa com o número do candidato à reeleição. A série culminou com um pedido explícito de voto. Na véspera do segundo turno, Silvinei publicou a foto de uma bandeira do Brasil. A legenda parecia uma ordem aos subordinados: “Vote 22 — Bolsonaro presidente”.

Felipe Nunes e Thomas Traumann* - Eleição que calcificou o país

O Globo

Decisão do voto deixou de ser só a expressão de uma preferência política e passou a ser manifestação de uma identidade

Ao final da eleição de 2018, achávamos que o Brasil havia experimentado uma ruptura, em que as campanhas de TV e rádio, o uso da máquina pública e o financiamento eleitoral deixaram de ser ferramentas decisivas. Quatro anos depois, os fatos mostraram que a vitória de Jair Bolsonaro não foi uma ruptura — um evento capaz de interromper definitivamente uma tendência observada na História —, mas um acontecimento fora da curva. A derrota de Bolsonaro em 2022 mostrou que, mais que os instrumentos de campanha, são as profundas divisões na sociedade brasileira que determinam o resultado.

A campanha de 2022 mostrou que a decisão do voto deixou de ser apenas a expressão de uma preferência política e passou a ser manifestação de uma identidade. O interessante é que não se trata de mera compatibilidade partidária, mas de uma identidade consolidada em torno do sentimento do que é ser petista ou antipetista. Tomando emprestado um termo usado pelos cientistas políticos John Sides, Chris Tausanovitch e Lynn Vareck para descrever a polarização nos EUA pós-Donald Trump, a eleição de 2022 no Brasil calcificou o mecanismo de escolha, em que os interesses perderam força para as paixões.

Dorrit Harazim - Verde-amarelo

O Globo

Coube ao capixaba Richarlison pegar este Brasil ainda inseguro e presenteá-lo com felicidade cristalina, leve, livre e solta

F. Scott Fitzgerald dizia não acreditar muito na felicidade. Nem na miséria humana, por sinal. “São coisas que você vê no palco, nas telas de cinema ou em livro. Mas elas nunca acontecem de fato na sua vida”, escreveu em 1933. Talvez o celebrado autor de “O grande Gatsby” não tenha sido posto à prova. Fosse ele brasileiro votante em 2022 e tivesse conseguido barrar nas urnas a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, Fitzgerald talvez concordasse que a vida real comporta, sim, momentos de real felicidade. E, se tivesse podido assistir ao gol voador de Richarlison na Copa do Mundo do Catar, na tarde de quinta-feira, dificilmente resistiria ao arrastão de alegria, felicidade e júbilo que contaminou a nação. Houve os que resistiram, aglomerados em frente a quartéis e abduzidos pela miragem de uma reviravolta golpista. Jamais saberão o que perderam: o instante certo para estar do lado certo da História.

Hélio Schwartsman - O valor dos símbolos

Folha de S. Paulo

Equipe de transição parece mais coluna social que grupo de trabalho

Com mais de 400 integrantes e aumentando, a equipe de transição de governo de Luiz Inácio Lula da Silva parece mais um recorte de coluna social do que um grupo de trabalho. Desde que não tenham se esquecido de incluir algumas pessoas que vão efetivamente reunir informações para depois repassá-las aos futuros ministros, facilitando os primeiros passos da futura administração, não penso que seja um mal.

Eu diria até que, depois de quatro anos de trevas sob Bolsonaro, o país precisava de algo assim, um espaço simbólico no qual indivíduos com as mais diferentes orientações políticas e ideológicas possam se reunir civilizadamente para traçar diagnósticos e debater políticas públicas.

O presidente eleito também está usando as nomeações para sinalizar que, de sua parte, não haverá disposições revanchistas. Prova-o o convite a Alexandre Frota para que se incorporasse à equipe. Frota, que acabou desistindo de assumir o posto, é um ex-bolsonarista que se elegera deputado como um dos mais estridentes críticos do PT e de Lula.

Bruno Boghossian - Lula, o superministro

Folha de S. Paulo

Autoridade concentrada no presidente eleito trava articulações e sinais sobre economia

No mesmo dia, dois petistas que frequentam o círculo de conselheiros de Lula admitiram que a equipe de transição está com problemas. O senador Jaques Wagner disse que a falta de um ministro da Fazenda atrapalha a proposta para alargar o Orçamento de 2023. A presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, não gostou do comentário e afirmou que a principal falha é a articulação política.

No fundo, os dois auxiliares do presidente eleito têm razão. A mais de um mês da posse, Lula não tem nenhuma obrigação de revelar seus ministros. A ausência de nomes para comandar as principais áreas do governo, no entanto, passou a travar alguns pontos do trabalho da equipe de transição.

Muniz Sodré* - O barato do absurdo

Folha de S. Paulo

Mark Twain tem algo a dizer aos perplexos com o embotamento das faculdades mentais de extremistas

"É mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que foram enganadas". Assim, "nunca discuta com pessoas estúpidas, porque vão lhe arrastar para o nível delas e acabar vencendo por experiência". Estas duas boutades ferinas de Mark Twain podem servir de guia para os perplexos com o embotamento das faculdades mentais de extremistas.

De fato, é tarefa inglória argumentar sobre o grau de realidade de um fato, quando o interlocutor foi emocionalmente capturado por outra certeza, absurda. O fato: TSE, STF, militares, observadores internacionais, governantes à esquerda e à direita no mundo reconhecem a lisura das eleições brasileiras. Mas um empresário retruca: "Creio que é fraude. Mandei caminhões para protestar".

Janio de Freitas - Estes dias árduos

Folha de S. Paulo

Notas desnudam persistência antidemocrática do bolsonarismo militar

O encadeamento é eloquente. Surpreendente, não. O golpismo, como associação de primarismo e perversão, não se extingue pela luminosidade de um resultado eleitoral honesto. Como a outra criminalidade, menos pretensiosa e mais disseminada.

A obstrução simultânea de estradas por todo o país indica, nos apoios como alimentação gratuita, banheiros e faixas e símbolos idênticos, uma coordenação nacional do protesto. Danos se acumulam, mas a pressão persistente do tal mercado é só contra a falta de indicação imediata do novo ministro da Fazenda/Economia. Às estradas, segue-se a ocupação pedestre das frentes de quartéis.

Instalado esse ambiente, os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica emitem nota que se pretende dúbia, mas sua aceitação dos atos golpistas é clara. Até estimulante. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, volta ao assunto das urnas, com tergiversações para o reconhecimento de que os repentinos experts do Exército não detectaram sequer indício de uma falha, uma que fosse, para desqualificar as urnas e a apuração.

Vinicius Torres Freire - Lula 3 ainda sem rumo econômico

Folha de S. Paulo

Fala do petista foi tida como sinal de que não há plano para a dívida

Nenhuma pessoa sensata esperava que Fernando Haddad fosse ao almoço anual dos banqueiros para fazer um discurso de ministro da Fazenda ou que anunciasse diretrizes concretas da política para gastos e dívida do governo Lula 3.

Foi o que disseram os próprios executivos financeiros que foram ao almoço da Febraban, na sexta-feira. O que chamou a atenção de várias dessas pessoas foi:

1. Haddad não deu sinal de que Luiz Inácio Lula da Silva tenha algo a dizer de diferente do que vem afirmando desde que deu sapatadas na ideia de controle do endividamento público;

2. Haddad falou de reforma tributária, inadimplência e estabilidade a fim de ocupar o tempo, de modo a não tratar de nenhum assunto espinhoso;

3. Haddad não teve autonomia para nada, "falou menos que a equipe da transição na economia"; foi para representar Lula do modo mais "neutro" possível, o que é "compreensível", mas insuficiente;

4. Haddad disse que a "qualidade" do gasto público precisa melhorar, o que ninguém discute. Mas, como foi "omisso" sobre a "quantidade", deu um "sinal desconfortável".

Gente mais irritada disse que "Haddad e o PT estão fora da realidade". Que o governo do PT ainda está "perdido ou vai seguir o que o Lula disse depois da eleição".

Gente mais analítica, por assim dizer, afirmou que o tempo do governo para publicar as diretrizes de um programa econômico e nomear uma equipe está acabando. Ainda assim, essas pessoas mais neutras dizem que, sem equipe, "não adianta especular" e que "ainda é possível corrigir tudo, basta querer".

Eliane Cantanhêde – Lula entra em campo

O Estado de S. Paulo

Instalado em Brasília, Lula deve anunciar os primeiros nomes do governo

Treino é treino, jogo é jogo e a transição começa para valer nesta semana, com a chegada do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva a Brasília, já recuperado da inesperada cirurgia das cordas vocais e, atenção, pronto para anunciar os primeiros e mais significativos nomes do ministério.

Essa é uma das questões centrais, pela ansiedade e pelas pressões que provoca, não só do mercado, mas do setor produtivo, dos candidatos a ministérios e de todas as áreas. E o foco recai, evidentemente, sobre o novo ministro da Economia: nome, passado, ideias, personalidade. Ou seja: o que ele projeta.

Lula já causou estresse desnecessário ao dar de ombros, duas vezes, à estabilidade fiscal. Agora, joga Fernando Haddad no fogo, também duas vezes, ao deixar vazar seu nome na Fazenda, com Persio Arida no Planejamento, e despachá-lo para um almoço na Febraban de uma hora para outra, exatamente no meio do falatório sobre a equipe econômica.

Rolf Kuntz - A piada pronta e a ameaça golpista

O Estado de S. Paulo

Antes de deixar a Presidência, Bolsonaro planta aliados na Comissão de Ética e, por ora, nada permite prever a moderação de seus seguidores antidemocráticos e violentos

A semana começou com uma piada pronta, Jair Bolsonaro recorrendo a uma comissão de ética, mas a graça logo sumiu, quando golpistas alinhados ao presidente derrotado intensificaram bloqueios de estradas e violências contra pessoas. As manobras chegaram também à Justiça. A tentativa do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de contestar de novo a eleição foi parte de mais um conjunto de ações antidemocráticas lideradas ou apoiadas pelo chefe de governo. A jogada foi repelida e punida pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, com multa de R$ 22,9 milhões e bloqueio do fundo partidário. Dirigentes do PP e do Republicanos, partidos da coligação bolsonarista, negaram envolvimento na ação e deixaram o PL sozinho na aventura. Faltam, no entanto, autoridades policiais empenhadas em reprimir o banditismo bestial voltado até contra crianças.

Cristovam Buarque* - Doutrina Lula

Blog do Noblat / Metrópoles

Manter relações diplomáticas com diversos polos nacionais e multinacionais, mas com política externa orientada para o conjunto do mundo

No começo do século XX, o Ministro Barão do Rio Branco percebeu que o polo das decisões mundiais migrava da Europa para os Estados Unidos. Abriu a embaixada em Washington-DC e nomeou para embaixador Joaquim Nabuco, um dos mais respeitados políticos da época. Um século depois, o Ministro Celso Amorim e o Presidente Lula perceberam que a política internacional saia do polo norte-americano e ingressava em um mundo multipolar. A política externa brasileira adquiriu presença internacional e foi capaz de se relacionar com o mundo inteiro.

José Goldemberg* - Ciência, tecnologia e reindustrialização

O Estado de S. Paulo

Em vez de ‘fechar’ o País, Brasil deveria ter adotado o ‘pulo do gato’ que um dia a Coreia do Sul deu. Novo governo pode reverter este processo

A reindustrialização do Brasil é uma das prioridades que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva elencou na sua primeira declaração pública. Esta é uma declaração da maior importância, porque a reindustrialização vai afetar de maneira positiva todas as atividades de pesquisa e ensino superior do País e da educação em geral, duramente atingidas pelas políticas de indiferença e descaso que o atual governo adotou nos últimos quatro anos.

O sucesso do setor agropecuário no Brasil – que nos levou a ser um grande produtor e exportador de grãos – deve muito à atividade de pesquisa e difusão da Embrapa e de algumas excelentes escolas de agricultura, como a Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), a de Viçosa e outras. Não só tecnologias para enriquecimento dos solos foram desenvolvidas, como também pesquisas científicas de ponta permitiram a seleção de melhores cepas e o consequente aumento da produtividade.

Em contraste, parte da indústria se manteve operando com tecnologias obsoletas, sem incentivos para procurar as universidades e institutos de pesquisa para ajudá-la a resolver seus problemas e aumentar sua produtividade.

As causas para este atraso são antigas e, na análise de Edmar Bacha, se devem à adoção de um modelo de desenvolvimento baseado na proibição de importações para estimular a produção de similares nacionais.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Lei para combater desinformação precisa melhorar

O Globo

Sem legislação que atribua deveres a plataformas digitais, ônus de proteger a democracia recairá sobre Judiciário

Os quatro anos de governo Jair Bolsonaro são sem dúvida o mais duro teste enfrentado pela Constituição de 1988, promulgada para restabelecer direitos civis esmagados durante 21 anos de ditadura militar. Apesar de todas as ameaças contra a democracia, que partiram do próprio Palácio do Planalto, as instituições resistiram, as eleições foram realizadas e vencidas pelo candidato de oposição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A vitória de Lula impede que Bolsonaro permaneça no Planalto por mais um mandato, mas ao mesmo tempo acirra o sentimento que mobiliza manifestações golpistas em torno da narrativa conspiratória que ataca a urna eletrônica e vê a tábua de salvação na intervenção militar. Na atual circunstância, tal movimento não tem condição de prosperar. Ainda assim, precisa ser combatido pelas instituições.

Tal combate, cujo protagonismo foi assumido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), deixou claro que o arcabouço jurídico brasileiro se mostra incapaz de enfrentar a contento as ameaças à democracia, especialmente as que usam o meio digital. Para combater a enxurrada de desinformação e deter essas ameaças, o TSE lançou mão de expedientes inéditos, por vezes questionáveis, como o bloqueio de contas em redes sociais, o veto a expressões ou conteúdos, mesmo quando publicados em veículos de imprensa, e, na semana passada, uma multa de R$ 23 milhões aplicada ao partido do candidato derrotado.