segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Fernando Gabeira - Mentiras, juros e esperança

O Globo

Só posso dizer sobre taxa de juros que é preciso uma discussão inteligente e civilizada, assim como um avanço na política econômica

Muitos temas competiram na minha cabeça. Escrever sobre o que nesta semana? Originalmente pensei num artigo sobre um Santos dos nossos dias, o deputado republicano George Santos, de origem brasileira.

Ele é sem dúvida o maior mentiroso dos últimos tempos. Nos programas de TV americanos, basta citar seu nome para que a plateia ria. Lembra-me algumas histórias de criança, Pinóquio, Barão de Munchausen.

Minha ideia era mostrar que, apesar de mentir sobre tudo, ele mentiu com tanta maestria que conseguiu se eleger pelo Terceiro Distrito de Nova York. Aos republicanos, apresentava suas credenciais de trabalho no mercado financeiro, na Goldman Sachs; aos liberais democratas, apresentava sua falsa origem, avós escapados dos campos de concentração. Ele se fazia de duro ou de vítima, de acordo com as bolhas da internet.

Antonio Gois - Pluralismo e liberdade

O Globo

Diálogo respeitoso e em alto nível entre divergentes nos torna, individualmente e coletivamente, mais inteligentes e tolerantes, qualidades tão escassas nos últimos tempos

O abaixo-assinado divulgado neste mês por estudantes do Centro Acadêmico XI de Agosto, contrários à volta da ex-deputada estadual Janaína Paschoal ao cargo de professora da Faculdade de Direito da USP, trouxe à tona mais uma vez o debate sobre a liberdade de cátedra em instituições de ensino. Felizmente neste caso podemos dizer – pegando emprestado um termo que gerou tantos debates em círculos políticos e acadêmicos nos últimos quatro anos – que as instituições funcionaram. Os alunos manifestaram sua opinião, mas a direção da Faculdade rechaçou de pronto a ideia e vários professores, alguns fazendo questão de destacar o quanto divergiam politicamente de Janaína, também saíram em sua defesa no episódio.

Conta de luz sobe 48,7% puxada por imposto e subsídio, enquanto custo da energia avança 28,5%

Por Bruno Rosa / O Globo

Aumentos são acumulados desde 2015, quando país teve 'tarifaço' na fatura

Rio - Com o peso maior de subsídios e impostos, a conta de luz subiu bem mais do que o custo de geração de energia no país desde 2015. Naquele ano, o brasileiro sofreu com um tarifaço que chegou a 70% em razão da medida provisória 579, que baixou artificialmente os preços, antecipando a renovação das concessões e acabou provocando uma desorganização no setor elétrico.

Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o preço por megawatt/hora da tarifa residencial subiu de R$ 462,80, em 2015, para R$ 688,30 no fim do ano passado. Isso significa um aumento de 48,7%. O custo de geração, que representa o aumento do preço da energia para a distribuidora, passou de R$ 202,70 para R$ 260,50 no período, um incremento de 28,5%.

A garfada de subsídios e impostos deve continuar aumentando nos próximos anos, segundo especialistas. Segundo a Aneel, a previsão é que os subsídios somem quase 13% das contas de luz pagas pelos brasileiros este ano, o equivalente a um montante de R$ 33,40 bilhões, com alta de 1,5% em relação ao ano passado ou meio bilhão de reais.

País registra recorde de pedidos de recuperação judicial em 3 anos

Márcia de Chiara, Lucas Agrela / O Estado de S. Paulo

Embora varejo esteja mais exposto, empresas do agro, da indústria e de serviços também pedem ajuda

Vencimento de dívidas renegociadas, inflação alta e consumo fraco fizeram 92 empresas recorrerem à Justiça em janeiro, incluindo Americanas e Oi.

A onda de recuperação judicial esperada para 2020, por causa das restrições da pandemia, chegou com quase três anos de atraso. Nos últimos meses, as empresas tiveram de conviver tanto com o fim dos programas governamentais e o vencimento de dívidas renegociadas no passado pelos bancos quanto com juros altos (Selic de 13,75%, a maior desde 2017), inflação pressionada e consumo fraco.

Nesse cenário, companhias recorrem à Justiça para ganhar tempo, arrumar a casa e preservar o negócio. Em janeiro, o volume de recuperações judiciais requeridas foi o maior para o mês em três anos, segundo dados da Serasa Experian. E a perspectiva, segundo consultorias, é que haja um boom de pedidos de recuperação e de falências no primeiro quadrimestre.

Pesos-pesados do mercado e empresas tradicionais deram mostras de esgotamento financeiro. A Oi, que saiu da recuperação judicial em dezembro, fez um pedido de tutela à Justiça que indica uma segunda recuperação para honrar as dívidas da primeira. A DOK Calçados, dona da Ortopé, entrou com o pedido de proteção judicial contra seus credores.

Já a Pan, de chocolates, e a Livraria Cultura não resistiram e foram à falência (no caso da Cultura, revertida mediante liminar na semana passada). Além disso, a Americanas, em um caso particular de problemas nos balanços, também entrou com pedido de recuperação judicial. A Marisa, do setor de vestuário, optou por reescalonar a dívida de R$ 600 milhões fora do âmbito judicial.

Pelos dados da Serasa, 92 companhias pediram ajuda da Justiça para adiar o pagamento de dívidas em janeiro, segundo o levantamento da Serasa Experian obtido com exclusividade pelo Estadão. A alta é de 37,3% ante janeiro de 2022 e de quase 90% ante janeiro de 2021.

Ruy Castro - Não é só isso que se vê

Folha de S. Paulo

Quantos de fora do Rio saberão que a Mangueira é muito mais que o endereço do seu barracão?

Quando a Mangueira pisar o Sambódromo na madrugada desta segunda-feira, levantará a avenida, como faz em todos os Carnavais. Sua torcida é imensa e nacional. Quantos de fora do Rio, no entanto, sabem que, assim como as outras escolas cariocas, Mangueira não é só o endereço de um barracão, mas uma comunidade que já se via e se sabia como tal desde o século 19, muito antes do primeiro tamborim? E que como tal foi cantada em samba e verso por muita gente boa? Exemplos.

Camila Rocha - Lula avança no debate sobre economia

Folha de S. Paulo

Repercussão sobre decisões mostra que comunicação pode fortalecer agenda do governo

A maioria dos brasileiros é a favor da batalha de Lula pela queda da taxa de juros. Segundo dados da pesquisa Genial/Quaest, divulgada no dia 15 de fevereiro, 76% acham que Lula está certo em tentar forçar uma queda na taxa de juros, enquanto apenas 16% discordam.

A luta contra os juros é mais popular que a avaliação positiva do governo (40%) e que a aprovação do comportamento de Lula na Presidência (65%). Ao mesmo tempo, apenas um terço dos entrevistados sabe que o Banco Central é responsável pela definição da taxa de juros e que seu atual presidente foi indicado por Jair Bolsonaro.

Entre os temas mais lembrados relacionados ao novo governo Lula também foram citadas medidas econômicas recentes como: aumento do Bolsa Famíliaaumento do salário mínimo, investimentos externos do BNDESisenção do Imposto de Renda e ações para redução de preços e inflação.

Alfredo Maciel da Silveira* - Quando os “juros altos” se tornam falsa questão

É inegável a alta relevância do atual debate brasileiro sobre nossas altíssimas taxas de juros. Principalmente, haverá de ajudar-nos a localizar suas causas estruturais, ainda obscuras para muitos de nós. E diante da persistente inflação que ameaça a estabilidade macroeconômica, enseja novas questões quanto ao imperativo do crescimento econômico acelerado e sustentado. Para muitos, os da chamada “ortodoxia”, não há dilema, não haveria um “nó górdio” a romper. O crescimento econômico viria espontaneamente das forças do mercado (quanto crescer e desde quando, não se sabe...), uma vez garantido o clima de confiança dos agentes econômicos nas gestões fiscal e monetária! Este é o “Brasil Maravilha”, das melhores práticas internacionalmente comprovadas, embasadas nas mais laureadas autoridades acadêmicas...

Mas...

De qual economia, de qual país, estamos mesmo tratando?

Analistas “ortodoxos” não se cansam de nos recordar dos tempos “dilmáticos” recentes, da conjugação de baixa forçada dos juros básicos da economia com aumento do gasto público em despesas correntes, previdenciárias (em cascata ao aumento nominal do salário mínimo) e transferências sociais, com estagnação econômica e alta inflação, fenômeno contemporâneo conhecido como “estagflação”. Um papel central da explicação vem do fato de as expectativas dos “agentes” econômicos, especialmente os do mercado financeiro, anteciparem a alta da inflação que em sequencia se autoconfirma.

Marcus André Melo* - O carnaval da política e o maior bloco do mundo

Folha de S. Paulo

Crescerá o sentimento de conluio da classe política

O maior bloco de Carnaval do mundo é o Galo da Madrugada. Mas temos provavelmente também agora o maior bloco parlamentar já registrado. Ele reúne 20 dos 23 partidos com representação na Câmara dos Deputados (87% do total): são 496 parlamentares ou 97% dos membros da casa.

O bloco reúne, entre outros partidos, o PT e o PL. Também integram o bloco: PCdoB e PV (que compõem a federação com o PT), União Brasil, PP, MDB, PSD, Republicanos, PSDB, Cidadania, Podemos, PSC, PDT, PSB, Avante, Solidariedade, Pros, Patriota e PTB. Apenas o Novo (3 deputados) e a federação formada por Psol e Rede (14 deputados) não participam do bloco.

A aberrante situação da Câmara não se repete no Senado, mas o quadro é igualmente bizarro: o maior bloco reúne 31 senadores de três partidos governistas, dois formalmente independentes e um de oposição. Participam partidos do governo e da oposição. A clivagem ideológica ou governo-oposição é virtualmente inexistente. Os partidos do núcleo duro do bolsonarismo estão divididos em dois blocos: o PL forma um bloco a parte, e os Republicanos e Progressistas outro.

Carlos Pereira* - Política, carnaval e rivalidade

O Estado de S. Paulo

Polarizar no carnaval faz parte da pilhéria, mas na política gera disfuncionalidades

“Vassourinhas vs. Lenhadores”; “Cariri Olindense vs. Homem da Meia-Noite”; “Pitombeira dos Quatro Cantos vs. Elefante de Olinda”; “Batutas de São José vs. Madeira do Rosarinho”.

A história do carnaval pernambucano se confunde com rivalidades entre os brincantes de suas troças carnavalescas. Até uma modalidade de frevo foi criada, o “frevo de abafo”, para ser tocado bem alto e sem compromisso com a afinação quando uma agremiação percebe que a outra está se aproximando e assim “abafar” o hino da rival.

Existem vários relatos de que algumas dessas rixas chegaram até às “vias de fato”, com confrontos físicos polarizados, muitos deles violentos, inclusive com arremessos de “tamancos” nos simpatizantes da troça adversária.

Demétrio Magnoli - A paz e a paz de Lula

O Globo

Terminou o inverno amargo da guerra posicional de atrito na Ucrânia. A Rússia deflagrou sua ofensiva no Leste, cuja meta mínima é avançar até os limites das províncias de Luhansk e Donetsk, ocupando todo o Donbass. A Ucrânia prepara uma futura contraofensiva no Sul, cujo objetivo é a reconquista de Melitopol, cindindo ao meio as forças russas na “ponte terrestre” entre Rússia e Crimeia. Lula declarou que quer ajudar a mediar a paz na Ucrânia. Se fosse verdade, deveria torcer pelo fracasso da ofensiva russa e pelo sucesso da contraofensiva ucraniana.

A hipotética tomada de todo o Donbass pela potência invasora só prolongaria o conflito, pois uma esmagadora maioria dos ucranianos rejeita a troca da paz pela entrega de um quarto de seu país aos russos. O insucesso da ofensiva putinista seguido por uma retomada ucraniana dos territórios meridionais provocaria um choque político e militar dramático, talvez suficiente para levar o Kremlin à mesa de negociações. Nesse caso, sob pressão de seus aliados ocidentais, o governo ucraniano poderia aceitar uma vitória parcial: o recuo da Rússia até as posições ocupadas em 24 de fevereiro de 2022

Almir Pazzianotto Pinto* - O fascínio venezuelano

O Estado de S. Paulo

Incapaz de entender os caminhos do desenvolvimento fundado no trabalho, Lula fez a opção pelo assistencialismo

A psicologia deve ter recursos para explicar a incontida admiração do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por países como Venezuela, Cuba, Nicarágua e outras ditaduras latino-americanas. O fascínio assume tal proporção que os adota como modelos de governo.

Quem acompanhou a trajetória política de Lula, iniciada em 1975, ao assumir a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, deve ter constatado a visão míope que nutre do processo econômico, da ideologia liberal, do comércio internacional, do regime de livre iniciativa, tudo empacotado e reduzido ao assistencialismo e à questão sindical.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Agronegócio do Brasil é crítico para abastecer o planeta

O Globo

Previsão de safra recorde é alerta sobre a necessidade de traçar estratégias e suprir carências do setor

O Brasil nunca foi tão decisivo para o abastecimento mundial de alimentos. O agronegócio deverá ultrapassar pela primeira vez a marca dos 300 milhões de toneladas de grãos produzidos. A projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2022/2023 é de 310 milhões. Há 15 anos, a produção não passava de 135 milhões. De lá para cá, a colheita de soja quase triplicou, a do milho cresceu 142% e a do trigo dobrou. Pelos cálculos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil deverá se manter como o número um no ranking dos maiores exportadores de soja, com 55% do mercado, e poderá liderar as vendas no mercado de milho, desbancando os americanos. Confirmada a previsão, será a primeira vez em dez anos que o país alcançará tal feito.