domingo, 18 de junho de 2023

Luiz Sérgio Henriques* - Ocidente e sociedade civil

O Estado de S. Paulo

É boa hora para pensar a ideia de Ocidente, da política democrática que nele afinal nasceu por causa de duras lutas sociais, e dos múltiplos desafios que hoje o ameaçam

Há verdade nas análises segundo as quais a chave para a compreensão da estrutura do mundo, aqui e agora, é o antagonismo entre democracia e autocracia. E convém acrescentar que as democracias parecem inseguras, sofrendo um assédio comparável àquele de um século atrás, quando a afirmação do fascismo e do nazismo, por um lado, e a do comunismo stalinista, por outro, pressupunham a obsolescência do mundo liberal, antes que este viesse a se refazer progressivamente com o New Deal e as experiências incipientes de algumas sociais-democracias já nos anos 1930.

Agora, como antes, o assédio não vem só de fora, dos “bárbaros à porta”, se é que de bárbaros invariavelmente se trata. Com desfaçatez e desassombro, a barbárie tem germinado dentro dos próprios muros das cidadelas democráticas. Pode-se discutir a partir de quando começaram a se desfazer o delicado compromisso social-democrático do pósguerra e a efetiva coesão social que o tornava atraente dentro e fora das muralhas.

Há poucos dias desapareceu Berlusconi, um político para quem a exibição acintosa dos vícios privados era um recurso de poder como qualquer outro. Antes dele, austera e inflexível, Thatcher garantia que a sociedade não existe a não ser como couto reservado a indivíduos possessivos de um capitalismo novamente “conquistador”. São apenas duas figuras emblemáticas, e outras mais agressivas, como Trump e avatares, se afirmaram com o tempo. Mas quando mesmo teve início a onda atual de “desdemocratização”, para usar o léxico de Huntington?

Paulo Fábio Dantas Neto* - Saúde pública, qualidade da política e o timing do debate institucional

Dos bastidores chega ao noticiário a informação de uma negociação de pequena política, envolvendo os ministérios do Turismo e da Saúde. No primeiro, ocupado por uma política filiada ao União Brasil, a discussão foi aberta pelo próprio partido (mais precisamente por sua bancada na Câmara), que não se vê representada pela ministra e quer trocá-la. Interessante não ser visível qualquer divergência recente que explique o pedido de troca. Na versão atual de quem está falando pelo União, a ministra é um jaboti indevidamente aboletado, lá atrás, em sua árvore. Como nem ela nem o marido, o Waguinho da Baixada, tem asas para alcançar o ponto em que da árvore do partido pode se acessar o ministério, seria, a princípio, um mistério quem a colocou lá.  Só não o é porque se sabe de duas coisas: que a chancela formal foi dada pelo partido e que o governo conversa não com esse ente jurídico, mas com alguns dos vários fragmentos políticos em que ele se divide em razão da lógica centrífuga que o anima. Se na hora da montagem do ministério, ouvir Bivar, o presidente da sigla, foi só um ato ritual para oficializar aquilo que  - sabe-se lá por qual raciocínio - se pensava ser uma concessão de espaço à bancada federal, agora quando um novo interlocutor (o antes preterido deputado Elmar Nascimento) apresenta  credenciais “partidárias” fornecidas pelo presidente da Câmara e não pelo do partido, chegou a hora de entender que o raciocínio anterior estava errado e que é preciso fazer do peixe frito um ensopado.

Celso Rocha de Barros* - Cid não planejou golpe sozinho

Folha de S. Paulo

Ajudante de ordens tentou organizar 'golpe-festa surpresa' a Bolsonaro

Na semana passada, a Polícia Federal encontrou no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, planos e conversas sobre como executar e justificar o golpe de Estado tentado pelo ex-presidente após a eleição de 2022.

No celular de Cid havia uma minuta de golpe, como a encontrada na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres. A minuta declararia estado de sítio e GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Os golpistas tomaram o cuidado de cobrir a assinatura do documento com uma folha de papel.

Mas esse não era o único plano sendo discutido. Segundo outros documentos presentes no celular de Cid, também se pensava em apresentar um documento ao comando das Forças Armadas relatando "abusos", tanto do Judiciário quanto da mídia, e pedir um golpe nos termos daquelas idiotices do Ives Gandra sobre artigo 142 e "Poder Moderador".

Não sei por que achavam que precisavam disso. Nenhum juiz sério aceitaria as teses de Gandra sem uma arma apontada para sua cabeça. Mas se os bolsonaristas já tivessem colocado a arma na cabeça do juiz, quem precisaria de um argumento jurídico? Qualquer tuíte do Carluxo bastaria, e a tese de Gandra é só marginalmente melhor.

Bruno Boghossian - O golpe no Estado Maior

Folha de S. Paulo

Envolvimento de militares da ativa é mais do que um constrangimento para Forças Armadas

Por dois meses, um militar lotado no Estado-Maior do Exército soprou as brasas do golpismo que ardiam no gabinete de Jair Bolsonaro. Após a derrota nas urnas, o coronel Jean Lawand Junior pedia que o presidente decretasse uma intervenção das Forças Armadas para melar a eleição. "Pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem", escreveu.

A expectativa de golpe não teria sobrevivido por tanto tempo se não houvesse simpatia pela ideia em altos círculos militares. Ainda que a agitação na reserva fosse mais aparente, sobram evidências de movimentações concretas na ativa e em postos importantes da hierarquia.

As mensagens de Lawand foram encontradas no celular de Mauro Cid, o inseparável ajudante de ordens de Bolsonaro. Segundo a revista Veja, o coronel da ativa cobrava providências e dizia que, ainda que a cúpula do Exército não apoiasse o golpe, o restante da corporação cumpriria ordens para uma intervenção.

Vinicius Torres Freire - Teoria e prática do golpe militar

Folha de S. Paulo

Oficiais-superiores do Exército estudaram subversão e queriam tomar STF

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou certa vez que bastariam um cabo e um soldado para fechar o Supremo. Disse tal coisa de modo fanfarrão e cafona, mas presciente —sabia com antecipação do que estava falando.

Em tom de quem pede para levar "umas brejas pro churras", o coronel Jean Lawand pediu ao "irmão" tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que convencesse o presidente das trevas a dar o golpe, em dezembro do ano passado, em troca de mensagens revelada pela revista "Veja". A conspiração golpista, porém, era maior e mais antiga.

Além de iletrado e vulgar, o apelo de Lawand parece pateta. Até mesmo Cid responde que Bolsonaro não daria o golpe por falta de confiança no Alto Comando do Exército.

Luiz Carlos Azedo - O 8 de janeiro foi muito além da invasão dos palácios

Correio Braziliense

O plano começou a ser arquitetado em outubro de 2022, com a tese de que as Forças Armadas seriam o “poder moderador”, que resolveria os conflito entre os Poderes

Às seis em ponto da tarde de 23 de fevereiro de 1981 começava a votação nominal para a investidura de Leopoldo Calvo-Sotelo como presidente do governo da Espanha. Cerca de 20 minutos depois, um grupo de guardas civis, encabeçado pelo tenente-coronel Antonio Tejero Molina, irrompeu no plenário do Congresso espanhol. “Quieto todo el mundo!”, gritou Molina, e mandou que se deitassem no chão. Ali presente, o vice-presidente do governo, o general Gutiérrez Mellado, repreendeu-o e ordenou que os invasores depusessem as armas. A resposta foi uma rajada de carabinas. Tudo sendo filmado para o mundo.

Pouco depois, sublevou-se em Valência o comandante da II Região Militar, general Jaime Milans del Busch, que declarou “estado de exceção” e pôs nas ruas algumas companhias de blindados. Às nove da noite, o Ministério do interior informava a formação de um governo provisório. À meia-noite, o subchefe de Estado-Maior do Exército, general Alfonso Almada, apresentou-se com duplo objetivo: convencer o tenente-coronel Tejero a depor as armas e assumir ele próprio o papel de chefe do Governo, sob as ordens do rei, em atitude claramente anticonstitucional.

Muniz Sodré* - A arrancada epidêmica

Folha de S. Paulo

Admite-se que em junho de 2013 'se chocavam ovos de cobra e se teciam teias de aranha'

Em junho de 2013, a perplexidade quanto à real finalidade das manifestações de som e fúria nas ruas adequava-se a uma estrofe do rapsodo Ascenso Ferreira: "Riscando os cavalos! / Tinindo as esporas / Través das coxilhas! / Saí de meus pagos em louca arrancada! – Para quê? Pra nada!".

Dez anos depois, sem que se esgote o assombro, admite-se que ali "se chocavam ovos de cobra e se teciam teias de aranha" (Salmos, 140:3). Perigosamente ambígua, a ebulição social da época presta-se a interpretações diversas, mas ficou marcada a "arrancada" da internet como megafone epidêmico.

De fato, numa perspectiva viável, o digital seria instrumento de uma irrupção epidêmica pouco visível. Etimologicamente, epidemia guarda o sentido de incidência próxima ("epi") sobre o povo ("demos"). Pode ser fala, influência, doença. Em princípio, portanto, algo físico. Mas a expressão "epidemia psíquica", do psicanalista Carl Jung, qualifica sonhos e fantasias individuais que refletiriam mutações sociais e tendências da vida inconsciente das nações. Para ele, o senhor da guerra e da morte na mitologia nórdica, Wotan, simbolizaria forças instintivas que encontraram expressão no nazismo.

Hélio Schwartsman – Ignorância

Folha de S. Paulo

Livro traça a história universal da ignorância

A ignorância é um mal que precisamos derrotar? O historiador Peter Burke, em "Ignorância – uma história global", mostra que as coisas não são assim tão simples. Uma das formas mais profundas de sabedoria é saber que (e o que) ignoramos. Sócrates, considerado um homem sapientíssimo, dizia saber apenas que nada sabia.

E as complicações não param por aí. Cada época se julga mais sábia do que a que a precedeu. Renascentistas pintaram a Idade Média como uma era de trevas e ignorância; os iluministas queriam usar a razão para eliminar a superstição. A grande verdade, porém, é que, embora hoje vivamos numa época cujo conhecimento coletivo supera em muito o de todas as épocas anteriores, no plano individual, cada um de nós não sabe muito mais do que nossos ancestrais. Há limitação física para quanto conhecimento um cérebro pode acumular.

Merval Pereira - Não basta sorte

O Globo

Banco Central independente tem a mesma característica simbólica, e custa ao PT entender que a política de juros do BC teve papel fundamental para o controle e queda da inflação

A propagada sorte do presidente Lula volta à discussão no momento em que os primeiros sinais de melhoria da economia despontam, prevendo um crescimento do PIB maior do que o esperado pelos analistas, e uma inflação decrescente e contida. Uma nova onda de commodities no mundo, uma safra agrícola recorde, e a perspectiva de aprovação no Congresso do chamado arcabouço fiscal, demonstração de que o governo está comprometido com o equilíbrio das contas públicas, indicam que o futuro pode ser melhor do que parecia até bem pouco tempo.

Há entre seus dois governos e este uma coisa em comum, além puramente da sorte de Lula: a compreensão, por parte da equipe econômica, de que o caminho para a recuperação do país é a persistência no tripé econômico firmado desde o Plano Real: câmbio flutuante, meta de inflação e equilíbrio fiscal. O ministro da Economia Fernando Haddad está tendo no atual governo o mesmo papel fundamental que Antonio Palocci exerceu no primeiro governo de Lula.

Bernardo Mello Franco – Golpismo em família

O Globo

Mulheres e filhas de oficiais organizaram acampamentos e engrossaram atos contra a democracia

A Polícia Federal começou a puxar mais um fio da máquina do golpe: a participação da chamada família militar nos ataques à democracia.

Os investigadores examinaram mensagens armazenadas no celular de Gabriela Cid. Ela é casada com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

O material ajuda a entender o papel de parentes de oficiais no processo que desembocou na depredação das sedes dos Três Poderes. E ainda dá novas pistas sobre o plano do capitão para impedir a posse do sucessor eleito.

Investigada pela falsificação de cartões de vacina, Gabriela Cid também ajudou a organizar o acampamento bolsonarista ao lado do Quartel-General do Exército. O local serviu como base para os atos de 8 de janeiro.

Numa das mensagens interceptadas pela PF, ela pede doações para os acampados. Em outras, tenta recrutar extremistas para “invadir Brasília”, o que levaria o então presidente a “agir”. “Convoca pelo amor de Deus as pessoas p Bsb”, escreveu Gabriela a uma amiga, 12 dias após a eleição do presidente Lula. “Temos que mudar o Brasil e as Forças Armadas estão ao nosso lado. Quem não puder vir p Bsb tem que ir p a frente dos quartéis”, acrescentou.

Dorrit Harazim - Pensando alto

O Globo

Para o coautor de ‘Como as democracias morrem’, se o ex-presidente voltar, será um autocrata autoritário, movido a esteroides

Sempre houve tempos de cinismo generalizado, quando a vida em sociedade ou nosso mundo interior se sentem atropelados por um fluxo ininterrupto de reveses. O artista belga René Magritte (1898-1967), órfão de mãe suicida e testemunha da desumanidade de duas guerras mundiais, conseguiu descobrir uma forma alternativa de ser, de viver e de criar. Na contramão da premissa tóxica de que, se você se concentra no pior, você estará mais preparado para a eventualidade de alguma calamidade futura. “Condeno a tirania cultural do pessimismo e do alarmismo”, escreveu em seu manifesto conhecido como “Surrealismo solar”. E pôs-se a pintar quadros que chamava de “contraofensiva à feiura rotineira de um mundo desagradável”.

Dias atrás, em Belo Horizonte, houve o lançamento mineiro da nova edição da revista da Academia Brasileira de Letras. O tema do evento, espelhando o conteúdo da publicação, foi o Brasil, com suas mazelas atuais e caminhos possíveis. Um comentário incidental feito pela ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia permaneceu pairando no ar, definitivo. “A vida é muito curta para não ser democrata”, resumiu a magistrada. Magritte aprovaria a concisão.

Míriam Leitão - A longa luta da Mata Atlântica

O Globo

Especialistas se reúnem em Minas Gerais para discutir formas de preservar o bioma e assim proteger o muriqui, o maior primata das Américas

A Mata Atlântica venceu dois ataques nos últimos dias. Na terça, dia 13, o STF decidiu, por unanimidade, não conhecer a Ação Direta de Inconstitucionalidade movida por Jair Bolsonaro contra a Lei da Mata Atlântica. No dia 5, o presidente Lula vetou dispositivos da lei aprovada no Congresso que facilitavam o desmate. Milagrosamente, a Mata Atlântica resiste. Como ela resiste? Nesse fim de semana, Caratinga, em Minas Gerais, tinha a resposta. Um grande seminário de cientistas foi realizado na cidade, na sexta e ontem, para comemorar os 40 anos de pesquisas sistemáticas em torno do muriqui-do-norte, o maior primata das Américas. Essa história animadora, vibrante, exemplar, não tem apenas 40 anos. O visionário produtor rural, Feliciano Miguel Abdala, decidiu nos anos 1940, há quase 80 anos, proteger mil hectares de mata e, dentro dela, uma população de macacos.

Primatólogos do Brasil e do mundo passaram a visitar a cidade para estudar os muriquis nos anos 1970. Um deles sempre presente foi o americano Russell Mittermeier, ex-dirigente da WWF e da Conservação Internacional, e hoje na Re:wild. E foi ele que sugeriu a uma estudante de Harvard, Karen Strier, que viesse fazer em Caratinga o seu doutorado.

Elio Gaspari - De Asmodeu@trevas para Lula@gov

O Globo

Vou direto ao ponto: Se você quiser pacto comigo, eu quero o Ministério da Saúde. Por menos, não tem acerto

Lula, você nunca me viu, mas eu te vejo. O Guimarães Rosa listou alguns dos meus nomes: sou o Arrenegado, o Cão, o Coisa-Ruim.

Escrevo-lhe porque suspeito que vosmicê queira fazer um pacto comigo. Falo porque sei. Como minto muito, dou-lhe exemplos factuais, ocorridos com seus antecessores. Creia.

Em 1996, Fernando Henrique Cardoso foi prensado pelo que já se chamava de Centrão e aceitou trocar a ministra da Indústria e do Comércio, Dorothea Werneck. Não confie na palavra do Canho, ouça Fernando Henrique. Naquele dia 26 de abril ele registrou:

“Hoje foi talvez o dia mais difícil, mas o mais duro para mim. (...) Fui à casa da Dorothea. Eu tinha que ir. (...) Eu me emocionei, ela chorou, eu também. (...) Ela acha que estamos fazendo um pacto com o Diabo.”

Veja como são as coisas, usam meu nome sem saber das minhas artes. Se o Fernando Henrique queria fazer pacto comigo, nunca tratei do assunto. Conhecendo-o, não tinha garantia de que entregasse o combinado.

Anos depois, tendo saído do governo, ele disse que a presidente Dilma Rousseff ia “fazer um pacto com o demônio o tempo todo.” Acertou, ela fez o pacto com meus agentes e perdeu o cargo em 2016.

Cacá Diegues - O roteiro do Tupinambá

O Globo

Foi essa literatura fora de época que construiu a alma de nosso país, como ela acabou sendo

O antropólogo Manuel Diégues Júnior se dedicou a Alagoas, sua terra natal, onde difundiu a obra de Gilberto Freyre, o mestre a quem também ensinou, como em “O banguê nas Alagoas”, em que conta como era a vida social, econômica e cultural no tempo dos engenhos. Coisa que Gilberto já tinha contado em sua própria obra.

Os livros, quase todos publicados na primeira metade do século XX, substituíram a ausência de obras de época que gerariam os costumes e a história de um período tão importante na formação do Brasil e dos brasileiros. Um período que nos ajudou a sermos o que somos. Para o bem e para o mal.

No fundo, foi essa literatura fora de época que construiu a alma de nosso país, como ela acabou sendo.

Eliane Cantanhêde – Uma semana do barulho

O Estado de S. Paulo

Lula em viagem mamão com açúcar e Brasília pegando fogo nos três poderes

Preparem-se para esta semana, com fortes emoções no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, especialmente nos dias 20, 21 e 22. Enquanto o presidente Lula viaja para Roma, Vaticano e Paris, num esforço para curar as feridas abertas na sua própria política externa, o Copom define a taxa de juros, o Senado vota o arcabouço fiscal e sabatina Cristiano Zanin para o Supremo e o TSE começa o seu julgamento mais eletrizante, a inelegibilidade ou não do ex-presidente Jair Bolsonaro, com a CPI do Golpe tomando os primeiros depoimentos.

Entrevista | Eduardo Giannetti: ‘A batalha das expectativas está sendo vencida’

Luiz Gilherme Gerbelli / O Estado de S. Paulo

Economista vê avanços do governo, mas diz que caminho para crescimento ainda é ‘longo’

“Uma coisa é conseguir virar o jogo na batalha das expectativas no curto prazo. Outra coisa é criar condições para um crescimento sustentável”

Economista, lecionou em Cambridge, USP e Insper. Elaborou os planos de governo de Marina Silva nas eleições de 2010 a 2018.

Na avaliação do economista Eduardo Giannetti, a nova gestão de Luiz Inácio Lula da Silva está conseguindo vencer a batalha das expectativas depois “de um começo muito claudicante”. Os sinais positivos, diz ele, estão na valorização do real em relação ao dólar, na alta recente da Bolsa de Valores e na queda do chamado risco País. “Se houvesse um pessimismo em relação ao Brasil, nós estaríamos vendo uma depreciação do real, como houve no início do ano, quando as dúvidas eram muito agudas.”

Eleitor de Lula no segundo turno de 2022 e conselheiro econômico da ministra Marina Silva em campanhas presidenciais, Giannetti destaca a boa visão do investidor internacional e a percepção de que o governo – por vezes, por influência do Congresso – tem optado pelo pragmatismo. “Estão vendo que o governo Lula tem um perfil na área econômica que é mais o do centro democrático liberal, não o do PT raiz.” 

A seguir, os principais pontos da entrevista:

Celso Lafer* - Kissinger aos 100

O Estado de S. Paulo

Kissinger é um exemplo do alcance estratégico do papel da palavra do intelectual na vida pública

Henry Kissinger, aos cem anos, é caso único no cenário diplomático internacional. Sabe sempre mesclar a capacidade de pensar com a de indicar rumos do agir. Reuniu com sucesso reflexão e ação no exercício do poder.

É também caso singular de quem, tendo deixado de exercer diretamente a gestão da diplomacia norte-americana, nunca deixou de ter nas décadas subsequentes às presidências Nixon e Ford relevante poder de influência. Em seus livros pós-governo, aprofundou seus temas recorrentes, como o papel das personalidades e da liderança na condução da política externa e do significado da China. Enfrentou o “novo” na dinâmica da ordem mundial, proveniente do advento da era digital e da inteligência artificial.

Kissinger é um exemplo do alcance estratégico do papel da palavra do intelectual na vida pública. Sua duradoura trajetória, no entanto, mais do que a de qualquer outro no seu campo, suscita tanto a animosidade das paixões quanto o sentimento de admiração.

Cristovam Buarque* - Apoiar sem comemorar

Blog do Noblat / Metrópoles

A educação de base no Brasil é tão pobre que aplaudimos medidas que deveriam nos envergonhar

A educação de base no Brasil é tão pobre que aplaudimos medidas que deveriam nos envergonhar; porque são necessárias, mas provam nosso atraso. É positivo o lançamento de programa visando alfabetizar nossas crianças aos 8 anos: mas, no século 21, já deveríamos estar alfabetizando em um segundo idioma, como o mundo contemporâneo exige e os ricos já fazem.

Há 50 anos o Brasil dá passos certos, mas insuficientes na direção de melhorar e universalizar a educação de base: merenda escolar, vinculação orçamentária, livro didático, garantia de vaga dos 4 aos 17 anos de idade, Fundef, Fundeb, PNE-I, PNE-II, Piso Nacional Salarial, Base Nacional Comum Curricular, Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, reforma do Ensino Médio. Mas continuamos com uma das piores e mais desigual educação no mundo.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Protecionismo americano levanta preocupação

O Globo

Em vez de repetir políticas que deram errado no passado, Brasil deveria aproveitar as novas oportunidades

Em discurso recente, o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, deixou clara uma inflexão estratégica na política americana que deverá ter impacto no mundo todo, em especial no Brasil. De modo previsível, destacou a disputa com a China como o maior desafio do futuro próximo. A surpresa foi a forma transparente como apresentou a resposta americana: uma guinada na política externa conduzida pelo país há décadas.

Em vez de insistir na premissa de que a integração econômica tornaria os países mais “responsáveis e abertos”, Sullivan usou o exemplo chinês para justificar uma reviravolta no conjunto de princípios outrora conhecido como Consenso de Washington. No lugar de livre mercado, abertura comercial e competição, fez uma defesa despudorada do retorno do protecionismo e da política industrial, dois fetiches do pensamento heterodoxo.