sábado, 17 de fevereiro de 2024

Cristovam Buarque - A mutilação do progresso

Revista Veja

As greves na educação provocam mais danos que as da indústria

Há anos, as redes públicas de ensino têm sido abaladas por greves, com reivindicação de mais recursos para as escolas ou por motivação política de sindicatos. Independentemente da justificativa, cada paralisação de aula mutila o progresso nacional. Na indústria, a força da greve está no imediato desabastecimento do mercado, por isso tende a ser rápida, e a fábrica retoma a produção sem prejuízo na quantidade ou na qualidade do produto. No caso da educação, os sacrifícios imediatos recaem sobre alunos e famílias; as greves se alongam e provocam prejuízos irreversíveis ao país. Diferentemente da linha de produção, a linha de formação não recupera plenamente o conhecimento que não foi criado na hora certa. Perdem alunos e professores. A greve na escola provoca evasão na quantidade e erosão na qualidade.

Marcus Pestana - Liberdade abre as asas sobre nós

Dizem que o ano, no Brasil, só começa após o Carnaval. Fora o exagero da caricatura, há uma verdade sobre uma certa trégua no debate público. Mas, neste período, as instituições não descansaram e desenvolveram diversas ações para elucidar os fatos relacionados ao triste 8 de janeiro de 2023. 

Tudo indica que importantes setores políticos, sociais, militares e empresariais se envolveram numa trama para interromper o processo democrático brasileiro e revogar nossa Constituição. Toda esta investigação tem que ser conduzida com rigor, serenidade e equilíbrio, assegurando a todos a presunção da inocência e o amplo direito de defesa.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Tropelias do bolsonarismo

CartaCapital

Golpistas visam fazer do Estado um ingrediente da culinária de rachadinhas

As investigações da Polícia Federal denunciaram o golpismo bolsonarista e receberam increpações de “perseguição” desferidas pelos acólitos do ex-presidente. Seria deplorável se as instituições do Estado estivessem mobilizadas para perseguir cidadãos, sejam eles ex-presidentes ou deserdados da vida, condenados a morar nas ruas.

Nas repúblicas modernas figuram entre as cláusulas pétreas aquelas relativas à representação legitimada pelo voto, à impessoalidade na administração pública, à constituição de um sistema de poderes e garantias fundados na lei. São essas as regras que comandam as investigações da Polícia Federal sob controle da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal

Pablo Ortellado - Diferenças superestimadas

O Globo

Temos mais evidências de que as meninas têm se tornado mais de esquerda em alguns lugares

Três semanas atrás, comentei aqui no GLOBO um levantamento feito pelo jornal britânico Financial Times mostrando a crescente disparidade política entre homens e mulheres jovens. A tese do artigo era que a diferença entre eles e elas se tornou mais acentuada, com os meninos mais conservadores e as meninas mais progressistas. O fenômeno era global, aparecendo em países tão diferentes como Estados UnidosReino UnidoChina e Coreia do Sul.

O artigo do Financial Times gerou enorme repercussão na imprensa em todo o mundo. Parecia mostrar, por um lado, o avanço do feminismo nas novas gerações e, por outro, uma espécie de reação machista nos mais jovens, cuja expressão mais extrema seriam os incels (“celibatários involuntários”, jovens misóginos que culpam o feminismo por não conseguirem ter relações sexuais).

Eduardo Affonso -Veados e caranguejos

O Globo

O Brasil é uma grande Andrelândia, aprisionado em modelo binário (e eventualmente paradoxal)

Andrelândia é uma cidadezinha do Sul de Minas, daquelas que poderiam perfeitamente ser o cenário de uma bucólica novela das 7 (no tempo em que novelas das 7 eram bucólicas). O casario colonial se espalha, como as contas de um rosário, em torno da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação (é assim que o hino municipal descreve a enorme praça ovalada, mais parecendo uma nau) no centro histórico daquela que um dia foi a Vila Bela do Turvo.

A meio caminho entre Ibitipoca e São Thomé das Letras, Andrelândia não ostenta a natureza intocada de uma nem os toques sobrenaturais da outra. Mas tem algo que a faz única: um bipartidarismo próprio, que — para o bem e, principalmente, para o mal — sobreviveu aos mais de 150 partidos políticos da nossa História.

Carlos Alberto Sardenberg - Vender comida, petróleo e minério

O Globo

Os setores produtores têm obtido fortes e constantes ganhos de produtividade, especialmente a agropecuária

O ano passado não foi propriamente amistoso para a exportação brasileira. Os preços dos produtos agropecuários sofreram queda de 10% nos mercados mundiais, em comparação com 2022. Na indústria extrativa, a queda foi maior, 12%, na mesma base de comparação. Entretanto as exportações brasileiras bateram um recorde histórico, alcançando a expressiva marca de US$ 344 bilhões. Qual o segredo? Ganhos de produtividade, permitindo maior quantidade embarcada.

Na soja, principal exportação nacional, o volume enviado ao exterior subiu quase 30%. No petróleo, alta de 18,5%, tudo compensando a queda de preços. Para este ano, as condições são parecidas: redução de preços, mais acentuada na agropecuária que no petróleo. Espera-se novo ganho de produtividade na agropecuária e maior volume na produção de óleo. Tudo somado e subtraído, a exportação de soja deverá render US$ 45 bilhões (ante US$ 53 bi no ano passado). A venda de petróleo poderá alcançar US$ 48 bi (mais que os US$ 44 bi obtidos em 2022). O terceiro maior item na pauta de exportação é o minério de ferro, que deverá trazer US$ 31 bilhões, quase o mesmo resultado de 2023.

E como vão esses setores por aqui?

Alvaro Gribel - Banco Central cauteloso e conservador

O Globo

Se por um lado o risco fiscal permanece no radar dos economistas, por outro, a política monetária sugere estabilidade e previsibilidade na transição que se aproxima

'A autoridade monetária tem que atuar com cautela e conservadorismo'. A frase, que bem poderia ter sido proferida pelo atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi dita, na verdade, pelo diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado ao posto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Galípolo, que deu entrevista ao economista-chefe do banco Bradesco ontem, é o principal cotado para substituir Campos Neto, ao término do seu mandato no final do ano. Ele indicou que o ritmo de cortes de meio ponto deve ser mantido nas próximas reuniões, o que já vem sendo decidido de forma unânime por todos os diretores do Copom. Se por um lado o risco fiscal permanece no radar dos economistas, por outro, a política monetária sugere estabilidade e previsibilidade na transição que se aproxima.

João Pereira Coutinho* - A democracia só sobrevive num país de democratas

Folha de S. Paulo

Debate sobre a defesa do sistema pondera quais os mecanismos de defesa de que dispomos para evitar o pior

É uma velha e difícil questão: como é que uma democracia se defende de partidos ou candidatos antidemocráticos? Permitindo que eles existam e possam vociferar as suas mensagens?

Ou banindo esses dois espécimes para que o sistema não seja alvo dos seus ataques —e, no limite, destruído por dentro?

cientista político Jan-Werner Mueller, em artigo para a Project Syndicate, regressa a essa questão. Com Donald Trump nos Estados Unidos e a Alternativa para a Alemanha (AfD) na Alemanha, as democracias questionam quais os mecanismos de defesa de que dispõem para evitar o pior.

Para Mueller, a solução não está em banir os partidos em questão —nos Estados Unidos, por exemplo, isso significaria banir o Partido Republicano, que é hoje o partido de Trump. Um ato suicidário do próprio sistema democrático, que passaria a ser um sistema de partido único.

Adriana Fernandes - Disputa em torno das emendas ameaça pauta econômica

Folha de S. Paulo

Risco é de que mais pautas-bomba ameacem as finanças públicas, embora lideranças neguem que o farão

volta dos trabalhos do Congresso após o Carnaval começa com a pressão dos deputados para que o presidente do SenadoRodrigo Pacheco (PSD-MG), coloque logo em votação o veto do presidente Lula (PT) ao artigo da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) que estabelecia um cronograma para o empenho das emendas.

Pacheco já sinalizou que pode deixar a votação para o fim de março, o que torna praticamente inócuo o efeito do cronograma, mesmo que o veto seja derrubado mais tarde, o que é esperado.

O calendário é uma peça importante no jogo político das eleições municipais deste ano, quando os governistas querem mostrar força aumentando a base de prefeitos e vereadores, plataforma indispensável para a campanha presidencial de 2026. As emendas são o principal mecanismo pelo qual os parlamentares destinam recursos para os seus redutos eleitorais.

Entrevista | Clara Mattei*: "As decisões econômicas são em grande parte decisões políticas, diz italiana que pesquisa austeridade

Uirá Machado / Folha de S. Paulo

Clara Mattei afirma que políticas de redução do Estado são espinha dorsal das economias modernas contra trabalhadores

SÃO PAULO - Celebrado por figurões como Thomas Piketty e Martin Wolf, o livro "A Ordem do Capital" propõe uma nova maneira de enxergar as políticas de austeridade adotadas por diferentes países.

Não como uma exceção impopular e dolorosa usada só para reduzir o déficit orçamentário em momentos de maior desequilíbrio nas contas públicas, mas como "o sustentáculo do capitalismo moderno", segundo a italiana Clara Mattei.

No livro, a pesquisadora volta à década de 1920 para mostrar como a austeridade surgiu depois da Primeira Guerra Mundial em países como Inglaterra e Itália, quando trabalhadores organizados cobravam mais direitos sociais.

Para Mattei, a austeridade foi naquela época —e continua sendo hoje— "uma reação antidemocrática às ameaças de mudança social vindas de baixo para cima". Daí o subtítulo da obra: "Como economistas inventaram a austeridade e abriram caminho para o fascismo".

Em entrevista à Folha, ela diz que "as decisões econômicas são em grande parte decisões políticas", mas que o "capitalismo é incompatível com a democracia no sentido de participação das pessoas nas decisões econômicas".

Maria Cristina Fernandes - Lula traça a risca de giz no PT

Valor Econômico

Discurso do presidente dá início à disputa de rumos no partido que quer ver presidido por Edinho Silva para preparar a reeleição e o pós-Lula com Fernando Haddad

“Estava numa reunião com Gleisi e outros dirigentes do PT. Eram 10h da noite e avisei que ia dizer isso pela última vez. ‘O PT faça o que quiser, mas eu vou falar. Falo isso e me calo.’ Se a gente quiser ganhar tem que trazer a Marta de volta pra ser vice de Boulos.” O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tinha chegado nem à metade de um discurso de 38 minutos e já se mostrava irrefreável.

Estava na Casa de Portugal, centro de São Paulo, no dia 2 de fevereiro, onde o partido se reunia para refiliar a ex-prefeita da capital Marta Suplicy e torná-la vice na chapa do deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP).

Naquela noite, fez questão de falar que Marta foi a prefeita que mais fez pelos pobres de São Paulo na frente do ministro da Fazenda e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, um dos quatro titulares da Esplanada presentes ao evento, e continuou a desfiar o rosário de queixas sobre o PT.

Listou todas as prefeituras na Grande São Paulo já governadas pelo partido, chegou à conta de 22 milhões de paulistas que chegaram a ficar sob o comando petista, e se disse inconformado que hoje a mancha vermelha no entorno da capital esteja reduzida a Mauá e Diadema. “Por que perdemos?”, perguntou, para responder em seguida: “O partido não é massa de manobra de candidato. Tem que ver quem tem condições de ganhar. E tem que fazer aliança com gente que não gosta de mim. Alguma coisa está muito errada se um partido que tem 20% de preferência consegue apenas 5% dos votos para vereadores em São Paulo”.

Dora Kramer - Último refúgio

Folha de S. Paulo

Bolsonaro se escora num comício que não será capaz de atenuar seus embaraços legais

Maior ou menor, qualquer que seja o tamanho da adesão ao ato convocado para o próximo dia 25 por Jair Bolsonaro, a foto estará garantida. Basta que se reduza ou se amplie o foco da lente, lá será visto um amontoado de pessoas prestando apoio ao ex-presidente.

Perfeito para efeito de postagens e reportagens. Mas e daí? É a pergunta que se impõe. Isso partindo-se do pressuposto de que a manifestação será mantida, se daqui até lá os fatos e/ou as contas de chegar sobre custos e benefícios não aconselharem a um recuo.

Seria um alívio para políticos que já confirmaram presença apenas porque não poderiam recusar de pronto o convite sem sinalizar oneroso rompimento. Caso do governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos), quando lhe apresentaram a saia justa para vestir e de outros que ainda hesitam em aderir.

Hélio Schwartsman - Etarismo presidencial

Folha de S. Paulo

Percepção dos americanos é a de que Biden está velho demais para exercer um segundo mandato

A campanha deflagrada por Trump para pintar Biden como um velho decrépito, incapaz de exercer o cargo de presidente dos EUA, parece estar dando frutos. Uma pesquisa da rede ABC mostrou que 86% dos norte-americanos acham que Biden, 81, está velho demais para exercer um segundo mandato. As gafes que ele comete não o ajudam.

Trump, apenas três anos e meio mais moço do que Biden, é considerado velho demais por 62%. Minha impressão é que o ex-presidente é protegido por sua inconsequência. Ele sempre disse tantos disparates que é quase impossível distinguir entre um despropósito calculado e um que seja fruto de confusão mental. Já Biden tem cada uma de suas falas, interações e até sua marcha cuidadosamente escrutinadas por todos em busca de sinais de envelhecimento.

Demétrio Magnoli* - Israel na encruzilhada

Folha de S. Paulo

Netanyahu ameaça implodir plano de paz, provocando um prolongado ciclo de violência

A guerra em Gaza atingiu uma bifurcação. As negociações em curso, entre EUA, Israel, Egito e Qatar, para uma longa trégua com troca de reféns por prisioneiros sinalizam um caminho. O caminho oposto é indicado pelo plano militar de Netanyahu de avançar as forças israelenses rumo a Rafah. Mais que uma bifurcação conjuntural, Israel encontra-se diante de uma encruzilhada histórica.

A via da trégua negociada aponta, no fim de uma longa e incerta estrada, para a meta da paz regional. Seus três pilares seriam a marginalização do Hamas, a criação de um Estado palestino e a edificação de um sistema de segurança compartilhado entre Israel e os países árabes.

Cláudio Carraly* - Nova Rota da Seda - A China Como Centro do Mundo

A República Popular da China, um dos países mais influentes do mundo e que potencialmente poderá se tornar a maior economia do século XXI, experimentou um crescimento econômico notável nas últimas décadas, tornando-se a segunda maior economia mundial, e ao continuar crescendo a taxas significativas, poderá chegar à liderança ainda nessa década. Investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento têm impulsionado o país para a vanguarda da inovação e tecnologia, setores como inteligência artificial, tecnologia 5G e energias renováveis têm sido alvos estratégicos, posicionando o país como líder global em diversas áreas de inovação. Com uma população colossal, representa um mercado consumidor massivo, seu potencial econômico é impulsionado pela crescente classe média e pelo aumento do poder de compra da população, o que atrai investimentos e estabelece o país como um centro vital para negócios globais. 

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Ocidente precisa estar mais unido contra a Rússia

O Globo

Morte de Navalny, opositor de Putin, deveria levar recalcitrantes a assumir postura mais firme contra o autocrata

A morte, anunciada pelas autoridades, do oposicionista russo Alexei Navalny, numa prisão a poucos quilômetros do Ártico, põe mais uma vez em evidência os métodos usados pelo regime de Vladimir Putin contra seus adversários. Navalny passa a integrar — ao lado de Boris Nemtsov, Anna Politkovskaya, Alexander Litvinenko, Evgeni Prigojin e tantos outros — a longa lista de opositores mortos desde que Putin chegou ao poder. Sobre todos esses casos, paira a indefectível sombra do Kremlin, cujos interesses costumam ser subitamente favorecidos pela extinção de rivais em circunstâncias suspeitas.