quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

 

Governo precisa rever políticas ineficientes

Folha de S. Paulo

Avaliação de programas e qualidade do gasto devem ter mais visibilidade; Orçamento não pode se basear só em mais receita

Já com grande atraso, o governo brasileiro começou a institucionalizar a avaliação técnica de políticas públicas no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), quando se tentava de modo atabalhoado conter o rombo orçamentário gestado nos anos anteriores.

Hoje, procedimentos do gênero já se valem de maior experiência e estrutura na administração federal. As conclusões e recomendações acerca de programas mal desenhados e despesas pouco eficientes, no entanto, mal saem das gavetas da Esplanada brasiliense.

O Ministério do Planejamento tem uma secretaria dedicada ao tema. Há um Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas (CMAP), formado por representantes de pastas econômicas, da Casa Civil e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Com a equipe qualificada reunida pela ministra Simone Tebet, criou-se a expectativa de que medidas mais efetivas seriam tomadas nessa seara —ou, ao menos, que o debate sobre a qualidade do gasto público teria maior visibilidade. Até aqui, isso não ocorreu, como observou a jornalista Adriana Fernandes, em coluna nesta Folha.

Lu Aiko Otta - Haddad mantém a aposta em zerar déficit

Valor Econômico

A aposta nos bastidores é que Lula atuará para apaziguar as relações com o Congresso e com isso reeditar a produtiva parceria entre Executivo e Legislativo do ano passado

Alvo de ceticismo dos especialistas em contas públicas e de ataques da ala política do governo, a busca do equilíbrio das contas públicas federais em 2024 seguirá como norte da equipe econômica. Aposta-se nos bastidores que a entrada em campo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apaziguar as relações com o Congresso Nacional seja capaz de reeditar a produtiva parceria vista entre Executivo e Legislativo no ano passado.

Em 2023, deputados e senadores atenderam em boa parte os pedidos da área econômica. Além de aprovar o novo arcabouço fiscal, deram sinal verde a medidas que ajudarão a colocá-lo em funcionamento neste seu primeiro ano de operação.

Zeina Latif - Crédito às empresas tende a se fortalecer em 2024

O Globo

O ano de 2023 fechou melhor do que o esperado. A tendência é de melhora paulatina ao longo deste ano. Há luz no fim do túnel nos mercados de crédito

O ano passado não foi fácil para o mercado de crédito; um ano marcado por estresse financeiro de consumidores e empresas. E agora, quais as perspectivas para 2024?

Apesar de os indivíduos ainda estarem em difícil situação financeira, o pior já passou. Assim, argumentei em artigo recente que há espaço para surpresas positivas no crescimento do PIB este ano, com a sustentação do consumo das famílias.

O foco de hoje é a pessoa jurídica, sendo que a tendência de melhora no segmento de pessoa física é boa notícia para a saúde financeira das empresas, pelo aumento da demanda de seus produtos e seu impacto benigno na avaliação de risco de crédito feita por instituições financeiras.

Fernando Exman - A ressaca da política externa no pós-carnaval

Valor Econômico

Tema não é considerado decisivo em disputas presidenciais, mas está presente no polarizado debate

Foi diferente o carnaval de 1912. E foram peculiares, também, os dias posteriores à folia originalmente prevista em calendário. Naquele ano, na verdade, o Brasil teve dois carnavais. Paradoxalmente, os festejos em dobro tiveram como origem a morte do Barão do Rio Branco, icônico ministro das Relações Exteriores, considerado por muitos um herói nacional e personalidade fundamental na construção dos pilares da política externa nacional.

José Maria da Silva Paranhos Júnior morreu no Rio de Janeiro no dia 10 de fevereiro, um sábado, exatamente uma semana antes do carnaval. Chefiou por dez anos a pasta, período em que desempenhou papel fundamental na definição das fronteiras do Brasil sem o uso da força. E isso valia até mesmo para os casos em que o desfecho não era totalmente satisfatório para o Brasil.

Um exemplo foi a definição da fronteira com a Guiana Inglesa por meio de uma arbitragem internacional, episódio diretamente relacionado à histórica contenda entre a Venezuela e a Guiana por causa do rico território de Essequibo. Um tema que, aliás, voltou ao topo das preocupações regionais e tem demandado um olhar especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ranier Bragon - Lista atualizada

Folha de S. Paulo

Grupo de 120 deputados une 70% do PL e demais bolsonaristas e antipetistas espalhados por União Brasil, PP, PSD, Republicanos e MDB

pedido de impeachment de Lula que deve ser protocolado nesta quarta-feira (21) é daqueles lances da política em que os próprios autores sabem que não vão dar em nada, mas ironicamente há uma utilidade ao governo.

A lista de signatários reúne de forma didática e atualizada a real oposição a Lula na Câmara.

Quem não acompanha o dia a dia de Brasília até se assusta com a informação de que cerca de 30 integrantes de partidos governistas assinariam o pedido que visa ejetar o petista da cadeira de presidente.

Sinal de erosão do apoio parlamentar do governo? Indignação com a comparação da ação de Israel em Gaza à de Hitler com os judeus? Motim? Nada disso.

Wilson Gomes* - Lula e a retórica do Holocausto

Folha de S. Paulo

É evidente que para criticar Netanyahu não havia necessidade de evocar Hitler com retórica do Holocausto

Lula precisaria fazer tantas declarações sobre o conflito em Gaza, esse que divide o mundo? Certamente, não. Não há interesses nacionais implicados nessa guerra que exijam que o presidente se considere parte envolvida. Um chefe de Estado, além disso, tem canais de influência que não passam por declarações públicas.

Entretanto, mesmo que fosse inevitável dar declarações públicas, Lula poderia caminhar sobre o que é mais consensual e entregar a mensagem humanista que lhe interessa. "Não é uma guerra entre soldados e soldados; é uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças" não é uma frase tão ruim.

Poderia ter parado por aí.

Martin Griffiths* - Fracasso moral do mundo em Gaza deveria envergonhar a todos

Folha de S. Paulo

Chanceleres do G20, usem vosso poder para salvar civis da vala comum

No momento em que o G20 se reúne no Brasil nesta semana, o número relatado de mortes nas hostilidades na Faixa de Gaza está se aproximando da marca dos 30 mil. Espero que tal fato dê motivos para que os chanceleres reunidos no Rio de Janeiro reflitam sobre o que seus países fizeram ou não fizeram para parar essa situação.

Dizer que a guerra em Gaza é cruel e constitui um exemplo de fracasso humanitário absoluto não é novidade. Não há necessidade de reafirmar o óbvio. Em vez disso, permitam-me que, em nome dos meus colegas humanitários, faça um alerta não só para o dia de hoje mas também para o que receio que aconteçerá amanhã.

O que tem ocorrido em Gaza nos últimos 137 dias é incomparável na sua intensidade, brutalidade e alcance. Dezenas de milhares de pessoas mortas, feridas ou enterradas sob os escombros. Bairros inteiros arrasados. Centenas de milhares de pessoas deslocadas, vivendo nas condições mais precárias, que foram agravadas com a chegada do inverno. Meio milhão de pessoas à beira da fome e sem acesso às necessidades mais elementares: alimentos, água, cuidados de saúde, latrinas. Uma população inteira está sendo destituída da sua humanidade.

Luiz Carlos Azedo - Diplomacia do governo Lula tem dualidade insustentável

Correio Braziliense

Uma política antiamericana no Brasil não tem a menor chance de dar certo, o que não significa apoio incondicional nem alinhamento automático aos EUA

Toda política externa bem-sucedida precisa de sustentação interna, ou seja, da construção de um amplo consenso nacional, para que seja realmente uma política de Estado e não meramente de governo, suas nuances não podem ser a essência da diplomacia. O que faz do Itamaraty uma das mais prestigiadas e reconhecidas chancelarias do mundo é sua capacidade de sustentar nossa política externa independente e pragmática desde a década de 1970, ou seja, em plena ditadura militar, adaptando-se às circunstâncias políticas sem perder seus objetivos estratégicos. Os presidentes passam, o Itamaraty fica. Em torno dela, construiu-se um consenso nacional.

Ministro Mauro Vieira diz que declarações da Chancelaria de Israel são 'mentirosas' e 'inaceitáveis': 'Nunca vi algo assim'

Por Amanda Scatolini / O Globo

Ministro das Relações Exteriores se manifestou após sua contraparte israelense, Israel Katz, ter chamado fala de Lula sobre Holocausto de 'vergonha para o Brasil'

Em meio à crise diplomática entre Israel e Brasil, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, classificou as manifestações recentes do governo do premier Benjamin Netanyahu como "inaceitáveis" e "mentirosas". Nesta terça-feira, o chanceler israelense, Israel Katz, cobrou um pedido de desculpas de Lula após a declaração sobre a ofensiva de Israel em Gaza — na qual o brasileiro comparou a ação com o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial —, rotulando-a como "promíscua", "delirante" e uma "vergonha para o Brasil".

— Uma Chancelaria dirigir-se dessa forma a um Chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante — disse Vieira a repórteres nesta terça-feira na saída da Marina da Glória, no Rio de Janeiro, local de reuniões do G20. — Uma Chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da História da diplomacia de Israel, com recurso a linguagem chula e irresponsável.

O ministro ainda expressou indignação com a forma como sua contraparte israelense dirigiu-se ao presidente, afirmando que a atitude do governo Netanyahu "e sua antidiplomacia não refletem o sentimento da sua população".

— O povo israelense não merece essa desonestidade, que não está à altura da História de luta e de coragem do povo judeu — disse Vieira. — Em mais de 50 anos de carreira, nunca vi algo assim.

Vera Magalhães - Política externa precisa mudar

O Globo

Lula não foi sequer alertado sobre as consequências que obviamente adviriam de sua manifestação a respeito da guerra em Gaza

À medida que baixa a espuma da reação das torcidas nas redes sociais à fala em que o presidente Lula resolveu comparar a guerra empreendida por Israel em Gaza ao Holocausto, percebe-se o tamanho do estrago de algo absolutamente desnecessário.

O presidente tem sido pessimamente assessorado nesse episódio, ouvindo só aqueles que aplaudem indistintamente o que quer que faça ou os que já têm inclinação ideológica tão clara no conflito israelo-palestino que o aconselham tendo em vista certa “sede de justiça” sem nenhum efeito geopolítico, diplomático ou ganho de imagem no front interno para Lula. Nada.

Ao pôr de lado o corpo técnico do Itamaraty e deixar de se subsidiar de dados históricos básicos antes de se lançar a uma comparação sob todos os ângulos descabida, Lula não foi sequer alertado sobre as consequências que obviamente adviriam de sua manifestação.

Palavras de um chefe de Estado num contexto tão delicado quanto o conflito israelo-palestino importam e resultam. O uso de termos como nazismo, fascismo, Holocausto e genocídio como muletas pode fazer sucesso com as claques, mas pega muito mal no mundo real, onde as decisões são tomadas.

Elio Gaspari - A irresponsabilidade de Lula

O Globo

Ele reciclou a usina de besteiras de Bolsonaro

Ao mandar Jair Bolsonaro para casa, o Brasil parecia ter se livrado de um encosto. Durante a pandemia, esse espírito duvidava da vacina, sugeria que o vírus da Covid-19 havia sido fabricado na China e exaltava a cloroquina. Lula recolocou o Brasil nos eixos na questão ambiental e atravessou o mundo para resgatar o encosto, escorregando na casca de banana de Gaza.

Nesta semana, em Adis Abeba, ele disse que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”. Com isso, abriu uma crise e foi declarado persona non grata pelo governo de Israel.

Lula já havia costeado o alambrado dias antes, no Cairo, com duas frases:

— O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque a Israel e o sequestro de centenas de pessoas. Nós condenamos e chamamos o ato de “ato terrorista”.

Falso. O ataque do Hamas aconteceu no dia 7 de outubro. Cinco dias depois o Itamaraty informou que a classificação do Hamas como organização terrorista competia à ONU. Posteriormente é que falou em terrorismo.

Bernardo Mello Franco - Netanyahu não quer desculpas de Lula

O Globo

Declaração de presidente brasileiro sobre Holocausto presenteou governo de Israel com a miragem de um inimigo externo

Lula errou ao citar o Holocausto em declaração sobre a matança de palestinos em Gaza. O nazismo escreveu um capítulo único na história da desumanidade. Não é preciso invocar o extermínio de 6 milhões de judeus para criticar as práticas do governo de Israel.

A crise poderia ter sido contornada com uma retratação rápida. Isso não ocorreu, e agora o caminho foi bloqueado pela reação de Benjamin Netanyahu e seu gabinete de extrema direita.

Ainda no domingo, o premiê israelense disse que as palavras de Lula eram “vergonhosas e graves” e apelou ao acusar o brasileiro de “tentar prejudicar o povo judeu”. Até aí, era chumbo trocado entre dois políticos que não podem ser acusados de inexperiência.

Vera Rosa - Lula ajuda ato de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Após declarações sobre Israel, resta a aliados do governo torcer para que chuva iniba manifestantes

Até mesmo aliados do presidente Lula admitem, nos bastidores, que ele deu munição para adversários ao comparar o ataque de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram exterminados. Em conversas reservadas, apoiadores de Lula calculam que o ato convocado por Jair Bolsonaro para domingo, na Avenida Paulista, tem tudo para reunir no mínimo 100 mil pessoas, incluindo agora uma legião de insatisfeitos com declarações de Lula.

Como na política uma imagem vale mais do que mil palavras, a foto da manifestação pode mostrar que o ex-presidente não está tão isolado como parece. Alvejado por investigações da Polícia Federal que o jogam no centro da estratégia montada para dar um golpe no País, Bolsonaro convocou seus eleitores para dizer que sofre “implacável perseguição política”.

Cláudio Carraly* - O Brasil e seu Poder ou “Soft Power” no Mundo

A política internacional a séculos é influenciada pelo poder do mais forte, o Estado para crescer precisava subjugar o outro e atrela-lo aos seus interesses esse modelo vem se reproduzindo desde a antiguidade, sendo replicada por todas formas de modelos econômicos e políticos da humanidade. O Brasil, porém, tem um diferencial, o poder de influenciar exatamente não pelo uso da força e coerção, mas por sua capacidade de ver os estados nacionais como iguais e soberanos, levando em consideração sempre o poder de sua respeitada diplomacia, não dividir o mundo entre inimigos e aliados é a real força do país chamado Brasil.

O cientista político e ex-secretário de Defesa estadunidense, Joseph S. Nye Jr., cunhou conceitos que explicam muito bem o desenho de forças que emergem do século 20 e adentram o século 21, são esses o “soft power” e “hard power”. Resumidamente para entendermos estas diferentes formas de influência e projeção de poder no contexto das relações internacionais, o soft power seria à capacidade de influenciar e persuadir os outros por meio de meios não coercivos, como cultura, valores, diplomacia e atração, enquanto o hard power se baseia no uso da força militar e econômica para alcançar objetivos políticos. O conceito de soft power foi popularizado por Joseph Nye em seu livro "Soft Power: The Means to Success in World Politics" (2004). Ele argumenta que o poder não se baseia apenas na capacidade de coagir ou forçar outros Estados a agir de acordo com seus interesses, mas também em atrair e persuadir outros a compartilhar suas metas e valores.