sexta-feira, 17 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Brasília atrapalha integração com governos locais ao politizar a tragédia

O Globo

Medidas anunciadas por Lula vão na direção certa, mas seu uso político prejudica ajuda à população atingida

Em sua terceira visita ao Rio Grande do Sul desde as chuvas que devastaram o estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou uma secretaria extraordinária, comandada in loco pelo ex-ministro da Secretaria de Comunicação Paulo Pimenta. O objetivo, diz o Planalto, é facilitar a articulação entre os governos federal, estadual e dos 497 municípios gaúchos.

Não se discute a necessidade de criar canais para dar celeridade às decisões envolvendo os três níveis de governo na assistência às vítimas e na reconstrução. Mas a nomeação de Pimenta, candidato potencial ao governo do Rio Grande do Sul pelo PT sem experiência na gestão de catástrofes, transparece mais oportunismo político que preocupação genuína com a população que perdeu tudo e, mais que nunca, depende da ajuda do Estado.

Fernando Abrucio – Os perigos da postura negacionista

Valor Econômico

Cresceram nos últimos meses o irracionalismo, a barbárie no comportamento público e a defesa de posições autoritárias e sectárias. É preciso denunciar e superar esse fenômeno

Um mal vem se impondo de várias maneiras na realidade política brasileira: o negacionismo em suas múltiplas formas. Pensava-se que com o fim da pandemia, a derrota (re)eleitoral de Bolsonaro e o fracasso do golpe de 8 de janeiro, o país estaria livre dessa ameaça e voltaria a ter um debate mais racional e pluralista. Depois de quatro anos de obscurantismo, sonhava-se em ter todos os principais atores políticos comprometidos com a democracia e a civilidade. Ledo engano. Cresceram nos últimos meses o irracionalismo, a barbárie no comportamento público e a defesa de posições autoritárias e sectárias. É preciso denunciar e superar esse fenômeno, antes que as portas do futuro se fechem para o Brasil.

José de Souza Martins: A tragédia gaúcha

Valor Econômico

Nestes momentos, os defeitos de nosso caráter nacional submergem para que emerja a nossa tradição camponesa do auxílio mútuo, da ajuda incondicional ao desvalido

A tragédia das enchentes e escorregamentos no Rio Grande do Sul, apesar de todas as mudanças negativas havidas na mentalidade do povo brasileiro desde 2013, mobilizou mais uma vez o espírito comunitário da nação. O sentido ocultamente transformador dessa grande tradição de silêncio social criativo revela-se na desconstrução da estrutura social brasileira, cada vez mais marcada por tensões e antagonismos sociais.

Desde o regime militar, acentuada e estimulada no regime negacionista recente, essa grande tradição social tem sido satanizada como comunista, que não é. Ainda nestes dias, em meio ao desamparo e à morte, os agentes do mal, por ação e omissão, conspiram e omitem-se.

O que é estranho a nossas tradições de cordialidade, as da precedência dos sentimentos em relação ao afã de riqueza e poder, como sugere, de outro modo, a famosa interpretação de Sérgio Buarque de Holanda.

César Felício - Lula dá partida às eleições de 2026 no RS

Valor Econômico

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou deliberadamente o calendário eleitoral do Rio Grande do Sul, ao nomear o ministro da Comunicação Social Paulo Pimenta para a pasta extraordinária que vai coordenar a reconstrução do Estado e o auxílio à população flagelada pela catástrofe.

Lula tinha opção. Seria possível manejar esforços em relação ao socorro ao Estado sem uma estrutura nova. A escolha de Lula, contudo, surpreende pouco. Um dirigente compromissado com a direita gaúcha ponderou, sob reserva: uma vez criado cargo dessa natureza, a única alternativa plausível ao nome de um político seria a indicação de um militar, o que daria um protagonismo às Forças Armadas, uma das coisas que o atual governo quer evitar.

Luiz Carlos Azedo - Lula já politizou socorro aos gaúchos

Correio Braziliense

Lula e Leite têm um adversário comum, Jair Bolsonaro. A força do ex-presidente no estado é inequívoca: foi o mais votado entre os gaúchos

Era meio inevitável, em se tratando do volume de recursos da União que serão destinados ao Rio Grande do Sul, a criação de uma autoridade federal para coordenar, controlar e direcionar os mais de R$ 50 bilhões em ajuda aos gaúchos que já estão anunciados pelo governo federal. Entretanto, ao escolher o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT-RS), para o cargo de ministro extraordinário de apoio à reconstrução do estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva politizou o socorro aos gaúchos, irremediavelmente. Pimenta é deputado federal, tem o estilo “bateu, levou” e não esconde a ambição de ser governador.

O governador Eduardo Leite (PSDB), durante o ato organizado por Lula em São Leopoldo, um dos redutos do PT no Rio Grande Sul, deu uma de bom cabrito e não berregou, porém, não gostou nem um pouco. As críticas à decisão de Lula ficaram a cargo das lideranças do PSDB, entre as quais o deputado federal Aécio Neves (MG), o principal defensor de uma candidatura tucana à Presidência em 2026 e opositor sistemático ao governo federal. A resposta de Eduardo Leite foi intensificar sua presença nas ruas e antecipar a liberação de recursos da ordem de R$ 2 mil, via Pix, para 45 mil famílias flageladas.

Vera Magalhães - Não há protagonismo sobre escombros

O Globo

Se assumir papel de disputa com Estado e municípios, Pimenta pode expor Lula num Estado que hoje tem perfil eleitoral mais à direita

A tragédia do Rio Grande do Sul é um epílogo de décadas de descaso com prevenção a desastres, com medidas recentes que retiraram recursos para dotar o estado de mais resiliência a intempéries, a despeito de o histórico e a situação geográfica sugerirem a tendência de que sejam recorrentes e severas, e com o afrouxamento do arcabouço ambiental que poderia reforçar a proteção a esses eventos.

O resultado é um estado destruído e submerso. Pensar que governantes possam cometer, além de todo esse histórico de erros, a bobagem de buscar protagonismo no manejo do caos é imaginar que sejam suicidas. Não costuma ser uma característica dos políticos. A cautela é necessária num momento em que não se tem a mais vaga ideia da quantidade de recursos e do tipo de ação que serão necessários para tirar o Rio Grande do Sul dos escombros.

Flávia Oliveira - Dignidade inegociável

O Globo

Não tem cabimento, a esta altura, um vereador ocupar a tribuna para defender derrubada de árvores

Até onde a vista alcança, o Rio Grande do Sul é dor, destruição. E vontade de recomeçar. A tragédia socioclimática que engolfou o estado, além da extensão, trouxe de ineditismo também a agonia duradoura. O Brasil é país, infelizmente, íntimo de desastres naturais e crimes ambientais. Que o digam Rio de Janeiro e Minas GeraisSão Paulo e BahiaAmazonas e Santa CatarinaMaranhão e Pernambuco. A devastação se dá, iniciam-se os resgates, começa a limpeza, computam-se os prejuízos — quase nunca ressarcidos.

Desta vez, está diferente. Maio passou da metade, e a água que invadiu Porto Alegre segue muito acima da cota de inundação do Guaíba. Cidades às margens da Lagoa dos Patos ainda veem o nível subir. A chuva para e volta; a lama fétida persiste. É luto sobre luto. É vida que não encontra jeito de voltar ao normal — nem mesmo ao cotidiano transtornado depois do trauma. Tudo em suspenso.

Eliane Cantanhêde - Assombrações

O Estado de S. Paulo

Petrobras traz de volta os fantasmas Abreu e Lima, Sete Brasil, Venezuela, fundos de pensão...

Os fantasmas dos dois primeiros governos de Lula e Dilma assombram o terceiro mandato do petista, assustando especialistas, afastando investidores e criando incertezas, quando Lula poderia capitalizar a atuação rápida na tragédia no Rio Grande do Sul. A demissão de Jean Paul Prates da Petrobras desagradou ao mercado e a ambientalistas e peca por falta de senso de oportunidade. Bem no meio da crise gaúcha, que livrou Lula de falar besteiras sobre política externa.

Celso Ming - A competição entre protecionismos

O Estado de S. Paulo

O mundo está ficando fortemente protecionista e cria um novo problema de política econômica para o Brasil. O produto brasileiro já não vai competir apenas com um produto produzido por economias liberais. O protecionismo brasileiro terá agora de competir também com o protecionismo dos outros.

Nesta segunda-feira, o presidente Biden, dos Estados Unidos, sobretaxou em 100% os carros elétricos da China. Não ficou só nisso. Aumentou substancialmente as tarifas de importação de semicondutores, baterias elétricas, painéis solares e minerais estratégicos.

Hélio Schwartsman - Desastres institucionais

Folha de S. Paulo

Trabalho sobre terremotos na Itália mostra como qualidade das instituições e participação da sociedade civil afetam a reconstrução

Quais os efeitos de longo prazo do desastre no Rio Grande do Sul? Sempre iluminador, Cesar Zucco me enviou um belo artigo dos economistas Guglielmo Barone e Sauro Mocetti que dá o que pensar. O paper se vale de um daqueles experimentos naturais com que as Parcas às vezes nos presenteiam.

Em 1976, um terremoto atingiu o Friul, no nordeste da Itália. Quatro anos depois, foi a vez do distrito de Irpinia, no sul do país, ser afetado por um sismo comparável. Os efeitos imediatos foram arrasadores em escala local, mas pouco significativos no plano nacional, o que permitiu aos autores criar controles para comparar o desempenho de cada uma das áreas com o que teria acontecido caso não tivessem sofrido os tremores.

Bruno Boghossian – Lula ungiu seu superministro

Folha de S. Paulo

Aumento de influência do chefe da Casa Civil virou marca no segundo ano de Lula

Poucos integrantes do governo Lula acumularam tanta antipatia de colegas no primeiro ano de mandato como Rui Costa. O chefe da Casa Civil era descrito por parlamentares e ministros como um político centralizador, ambicioso e ríspido.

Os adjetivos talvez permaneçam lá, mas a marca agora é outra. A consolidação do poder de Costa é um dos fenômenos deste segundo ano de governo. O ministro não só assumiu a confiança plena do presidente como expandiu sua influência.

Vinicius Torres Freire – O desastre gaúcho e o PIB

Folha de S. Paulo

Aumentar o socorro para o RS, além de inevitável, vai conter pessimismos

A economia do Brasil deve crescer 2,5% em 2024, estima o ministério da Fazenda, entre outras previsões e análises divulgadas nesta quinta-feira (16). É mais do que previa em março (2,2%), menos do que o PIB cresceu em 2023 (2,9%).

Desde o final do ano passado, também vinha melhorando a previsão mediana da centena de economistas compilada pelo Banco Central. Passou de 1,52% para 2,1% na semana passada. Bancos maiores preveem algo entre 2,2% e 2,5%.

Havia, pois, uma convergência de estimativas, para cima, para um ritmo maior do crescimento do PIB, embora ainda medíocre. Medíocre, mas maior do que a média de 1,4% ao ano que vimos entre 2017 e 2019, depois da Grande Recessão, antes da epidemia.

Havia. Então, sobreveio o horror no Rio Grande do Sul.

O pessoal da Secretaria de Política Econômica da Fazenda, que faz o estudo, avisa, claro, que não deu tempo de levar em conta a catástrofe. Nem haveria como. Não há dados para estimar nada.

André Roncaglia - O neoliberalismo não desperdiçará a tragédia gaúcha

Folha de S. Paulo

A mão invisível do mercado desregula o termostato natural da Terra

Num soluço fulminante da crise climática, mais de 80% do território gaúcho submergiu sob a força das chuvas torrenciais das últimas semanas.

As perdas humanas e materiais, incalculáveis até o momento, seriam motivo de uma reflexão mais profunda sobre a forma como ocupamos o solo e lidamos com a natureza. Todavia, o negacionismo político se uniu ao seu homônimo climático de forma desavergonhada para ocultar uma causa central dessa tragédia: o desmonte dos instrumentos de planejamento e monitoramento do Estado pela mercantilização do espaço (urbano e rural).

PD italiano parte para as europeias com políticas de justiça social na mira

EuroNews

A "Europa que queremos" é o slogan escolhido para o manifesto político do Partido Democrático (PD) italiano. Numa conferência de imprensa realizada na segunda-feira na Associação de Imprensa Estrangeira em Roma, a líder Elly Schlein lançou oficialmente a campanha eleitoral do partido às eleições europeias.

A intenção do partido é promover políticas de justiça social em vários setores.

Segundo Elly Schlein, a Europa deve tornar-se mais social e liderar a transição verde. Estes são alguns dos objetivos do programa político do Partido Democrático.

O aumento do salário mínimo e a melhoria do sistema de saúde italiano estão também entre as principais prioridades, juntamente com o apelo a uma maior solidariedade às política de migração na Europa.

E o aviso que Elly Schlein deixou na segunda-feira é muito semelhante àquele feito pelos Socialistas Europeus no lançamento da campanha às europeias.

"Somos a única barreira existente para limitar o avanço dos partidos de direita na Europa. Eu pergunto ao Partido Popular Europeu: até onde querem ir quando namoram partidos nacionalistas? Estão a trair a sua própria tradição política", acusou a líder do PD.

Schlein também destacou a necessidade de garantir direitos iguais para famílias não tradicionais e continuar a luta contra a violência de género.

"Temos de continuar a combater a violência de género. Penso que a votação da semana passada foi muito significativa e representou um importante passo em frente quando o Parlamento Europeu reconheceu o aborto como um direito fundamental que ainda é menosprezado neste país".

E enquanto espera conquistar mais apoio até 9 de junho, a líder do Partido Democrático reconheceu que o principal desafio poderá ser a fraca participação eleitoral

Usa o teu voto, ou outros decidirão por ti. Eleições europeias, 9 /6/24.

O voto pela democracia e pela Europa Social

De 6 a 9 de junho serão realizadas eleições para o Parlamento Europeu nos 27 países que integram a União Europeia. 

Essas não serão eleições comuns. Elas acontecem em um momento de ascensão dos partidos de extrema direita em todo o continente.

Tais partidos põem em risco os valores fundamentais da UE: a democracia, o bem-estar social, a sustentabilidade ambiental, a integração europeia, a cooperação mundial e a busca de soluções pacíficas para os conflitos internacionais. 

Por isso mesmo, há um grande esforço das forças democráticas de convocar os cidadãos para a participação no processo eleitoral.

É desnecessário lembrar das repercussões que a vitória dos partidos democráticos terá nas demais regiões do planeta, como na América Latina e no Brasil.

O Parlamento Europeu produziu um vídeo emocionante em defesa da democracia. Vale a pena conferir: