Folha de S. Paulo
Estratégia usada pelo nazismo e fascismo
italiano é reeditada no século 21 por movimentos populistas e pela ultradireita
[RESUMO] A fabricação do mito de um
passado glorioso, estratégia utilizada nas experiências fascistas do século 20,
é reeditada no século 21 pela extrema direita e pela direita populista, com o
mesmo intuito de implementar valores reacionários e fustigar o modelo de Estado
de Direito liberal. No Brasil, percebe-se isso no movimento bolsonarista e na
construção de um passado compartilhado judaico-cristão.
"Ele é o leão da tribo de Judá",
cantava a senhora com a mão direita ao alto e a mão esquerda no microfone. O
animal aparecia no manto que ela carregava nos ombros, junto às bandeiras de
Israel e do Brasil. "Oh, esperança de Israel", a mulher repetia,
entoando os versos de uma canção carimbada nos cultos evangélicos.
Naquele domingo, a reunião não era religiosa.
O canto da senhora enchia a esvaziada casa de eventos que abrigou a convenção
municipal do PRTB em São Paulo, confirmando a pré-candidatura do influenciador,
empresário e ex-coach Pablo
Marçal à prefeitura da capital.
Sem o apoio do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL), Marçal ativou símbolos caros para a direita
bolsonarista: Deus, família e os perigos do comunismo, das drogas e da
"ideologia de gênero". Israel foi mais um deles.
Cinco meses antes, as bandeiras do país
judaico haviam
tomado as ruas da avenida Paulista, no centro da cidade, em
manifestação em defesa de Bolsonaro. Do alto do carro de som, a
ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro (PL) pregou que política e religião devem, sim, se
misturar, e anunciou que o povo brasileiro é cristão.
Terminou seu discurso com um recado ao
Senhor: "Que tua verdadeira shalom esteja dentro dos muros de Israel. Nós
abençoamos o Brasil. Nós abençoamos Israel. Em nome de Jesus, amém".