Leniência com crimes ambientais interfere no clima
O Globo
Em vez de contribuir para capturar gases
poluentes, Amazônia se transformou em fonte de emissões
Não é alarmismo de cientistas paranoicos. É
fato: de acordo com dados do Copernicus, instituto de monitoramento climático
mantido pela União Europeia, durante pelo menos cinco dias o sudoeste da Amazônia foi
a região do planeta que mais emitiu gases de efeito estufa. Mais que áreas
poluidoras da China,
da Índia ou polos urbanos e industriais dos países ricos. Em vez de funcionar
como o proverbial “pulmão do mundo” — chavão cunhado há décadas que não
corresponde faz tempo à realidade — e de capturar gases poluentes, a Floresta
Amazônica começa, ao contrário, a agravar o aquecimento global. Cientistas
temem que a tendência se torne irreversível.
A causa da inversão de papéis é o desmatamento, agravado por incêndios devastadores sem precedentes. De 1º de janeiro a 9 de setembro, os 82 mil focos de fogo detectados foram o dobro dos mapeados no mesmo período do ano passado. A Amazônia chegou a tal ponto depois de muito descaso com a ocupação desordenada da região onde fica a maior floresta tropical do planeta. É fundamental cobrar do Executivo medidas de combate ao fogo e proteção da floresta. Mas a responsabilidade vai além. Precisa se estender ao Legislativo, onde ainda tramita uma “boiada” de projetos enfraquecendo a lei ambiental. E também ao Judiciário, onde são frequentes casos de leniência com crimes contra a natureza.