sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Operação contra Refit revela que unir esforços é essencial

Por O Globo

Ação contra criminosos envolveu Receita, Procuradoria da Fazenda, MPs, polícias e secretarias estaduais

Foi oportuna a megaoperação deflagrada nesta quinta-feira para desarticular um esquema de sonegação fiscal em cinco estados e no Distrito Federal. A operação cumpriu mandados de busca e apreensão contra 190 alvos ligados a empresas de combustíveis e ao grupo Refit, dono da antiga Refinaria de Manguinhos. Batizada Poço de Lobato, a ação reuniu mais de 600 agentes e envolveu Receita Federal, Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, polícias, Ministérios Públicos e secretarias de São Paulo e outros estados — mostra de que a cooperação entre diferentes instituições é fundamental para combater atividades criminosas.

Comandado pelo empresário Ricardo Magro, que mora em Miami, o Refit é acusado de ser o maior devedor de ICMS no estado de São Paulo e um dos maiores devedores da União. Segundo o MP paulista, o esquema de fraude fiscal causou prejuízos a estados e ao governo federal estimados em mais de R$ 26 bilhões. Autoridades informaram ter bloqueado R$ 10,2 bilhões em bens dos acusados.

Governo e Congresso perdem com embates, por Vera Magalhães

O Globo

Lista imensa de choques não é boa para nenhum dos lados, menos ainda para um país com tantas urgências, da segurança à estabilidade fiscal

A facilidade de arregimentar maiorias e impor derrotas, algumas delas amargas, ao governo pode dar aos presidentes da Câmara e do Senado a impressão de que saem vitoriosos dos embates, mas a conta de perdas e ganhos com a manutenção desse ambiente não é tão simples como parece.

A rebordosa da PEC da Impunidade deveria ter ensinado a deputados e senadores, ainda mais às vésperas de ter de ir pedir votos nas suas bases, que há um limite que a sociedade está disposta a aceitar para conchavos, defesa de pautas corporativistas e descaso com temas como meio ambiente, justiça tributária e combate à impunidade.

As operações recentes da Polícia Federal em parceria com a Receita Federal têm explicitado as relações nada republicanas de empresários envolvidos em toda sorte de delinquências com cabeças coroadas do Parlamento.

Fim do ciclo, por Pablo Ortellado

O Globo

Está na hora de encerrar os inquéritos contra as mobilizações antidemocráticas e de conferir transparência ao processo

Com a condenação de Jair Bolsonaro e dos generais conspiradores transitada em julgado, encerramos o ciclo de resposta institucional ao golpismo dos anos de 2022 e 2023. De lá até agora, o Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu poderes extraordinários que esperamos ter sido excepcionais e transitórios. Está na hora de encerrar os inquéritos contra as mobilizações antidemocráticas e de conferir transparência ao processo, para que a sociedade possa avaliar o que foi feito.

Cruzadinha no xadrez, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Jair Renan deixou Balneário Camboriú para visitar o pai na cadeia em Brasília. “Tentei levantar o ânimo do meu velho”, declarou, ao sair da Polícia Federal. O Zero Quatro disse ter levado “alguns livros” para o capitão. A frase despertou a curiosidade dos repórteres, que quiseram saber os títulos escolhidos. “Trouxe um caça-palavras para ele”, informou o vereador.

O chefe do clã nunca foi conhecido pelo hábito da leitura. Apesar disso, sempre teve opiniões fortes sobre a cena editorial. No Planalto, tentou interferir no formato dos livros didáticos. “Os livros hoje em dia, como regra, é (sic) um montão, um amontoado de muita coisa escrita. Tem que suavizar aquilo”, ordenou, em janeiro de 2020.

Hugo Motta foi estrela de jantar oferecido pela Refit em Nova York, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Presidente da Câmara é criticado por não pautar projeto contra devedores contumazes

O presidente da Câmara, Hugo Motta, foi a estrela de um jantar oferecido em Nova York pela Refit, alvo da megaoperação da Receita Federal contra fraudes fiscais.

O jantar ocorreu há seis meses, na noite de 12 de maio. Estava presente o dono da refinaria, Ricardo Magro, além de outros empresários e políticos brasileiros.

Na época, a Refit já era conhecida como a maior sonegadora de ICMS do país.

A irresponsabilidade fiscal do Congresso, por Bráulio Borges

Folha de S. Paulo

Não é só o Executivo federal que deve ser cobrado

Legislativo precisa apontar fontes de financiamento para as isenções

Estão em discussão no Congresso várias pautas-bomba fiscais, como a regulamentação da aposentadoria especial de agentes comunitários (aprovada no Senado nesta semana), aumentos dos limites de faturamento do Simples e MEI, ampliação dos critérios de elegibilidade para o BPC/Loas e criação de adicional de insalubridade para professores. Caso todas elas sejam aprovadas, o impacto sobre as contas públicas pode chegar a R$ 100 bilhões no acumulado de 2026 e 2027.

Ainda que algumas dessas medidas possam ser meritórias (várias certamente não o são), o problema é que o Congresso brasileiro quase nunca aponta a fonte de financiamento para essas novas medidas – algo que poderia ser feito por meio de aumento da carga tributária, por uma redução de outras despesas e renúncias fiscais ou por uma combinação delas. Esse tipo de postura do Congresso é uma afronta à responsabilidade fiscal, em particular ao artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Centrão vai mesmo barrar Messias? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Grupo parlamentar costuma criar problemas para o governo e depois vender soluções

Apesar de desserviços prestados ao país, bloco funciona como anteparo a forças antissistema

Senadores do chamado centrão vão mesmo vetar o ingresso de Jorge Messias no STF? É difícil dizer. A estratégia básica do grupo é criar dificuldades para extrair facilidades. Se o governo Lula der a Davi Alcolumbre compensações que o parlamentar considere justas, é perfeitamente possível que ele se torne, da noite para o dia, o melhor amigo de Messias.

Ocorre que, de tempos em tempos, o centrão promove um reajuste geral da tabela de preços. Desfere um golpe mais duro contra a administração para indicar que o apoio passou a custar mais caro. É numa dessas que o indicado de Lula para o tribunal pode ter seu nome vetado.

Lula enfrenta parada indigesta, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Na democracia, presidente algum se sustenta em estado de contraposição acentuada ao Parlamento

Lula tem muito a perder se não assumir a tarefa de reequilibrar o jogo de forças com o Congresso

Convites de presidente de República habitualmente não se recusam, ainda mais quando dirigidos a autoridades que estão na mesma cidade e sem afazeres que as impeçam de comparecer. A não ser que as ausências contenham significado e recado explícitos de contrariedade.

Foi assim interpretada a decisão dos presidentes da Câmara e do Senado de faltar à cerimônia de assinatura da lei de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.

O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e o senador Davi Alcolumbre (União-AP) atiraram em várias direções: conseguiram que as ausências tivessem mais destaque que o projeto e mostraram que o desacerto vai além de atritos com líderes petistas —alcança o presidente Lula (PT).

Radiografia do 'falso 9', por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

'Falso 9' é o 9 que não entra na área, não leva bico no tornozelo e raramente faz gol

Tostão, em 1970, foi o protótipo do 'falso 9'. Mas nunca mais houve um Tostão. Só falsos 'falsos 9'

Rara a semana em que não escuto um comentarista de futebol se referir ao "falso 9". Está aí um número que não consta nas costas das camisas dos jogadores: "Falso 9". Nelas, lê-se apenas 9, e cada time tem um. O 9 é o centroavante, um sujeito grande, forte, pesado, e tem de ser assim. Pela sua posição —jogando de costas para o gol, prendendo os zagueiros na área e fazendo o pivô para os companheiros que vêm de frente—, o 9 é talvez o jogador mais sacrificado do time. Passa o jogo levando bicos no tornozelo, pisões no calcanhar, trompaços na bunda e sussurros ao ouvido, tudo aparentemente inócuo, mas cujo somatório vai doer e muito, no vestiário, depois do jogo.

Dos livros e da literatura, por Ivan Alves Filho*

Escrevi uma vez que a Literatura vai além da própria Literatura, incorporando todas as esferas da vida. No Brasil, o melhor da nossa Literatura pode até não ter um conteúdo panfletário – e eu penso que não tem –, mas é uma cultura de resistência, no sentido de mergulho na nossa identidade e nos impasses promovidos pelas nossas mazelas sociais. Isto é, ela pode ser apreendida a partir de sua dimensão social, estética, ou, ainda do seu caráter experimental e de seus aspectos regionais. E pode ser até a soma disso tudo, enquanto expressão profunda de cada um de nós. Eu vejo a Literatura quase como um complemento da Biologia: ela é uma história de vida. Há algum tempo conheci a palavra guarani tekoporã, que significa algo como “viver com beleza” (de tekó, modo próprio de ser ou cultura, e porã, beleza, o bem). 

Literatura é isso: uma vida em coletividade, com beleza. Daí a sua grandeza e importância em nossas existências. A Literatura busca a verdade, mas de uma maneira própria: pelo belo. Essa é a sua forma de integração ao mundo e de interpretá-lo. O belo como o elo com o mundo. A realidade sintetizada em palavras.