Raquel Ulhôa e Paulo de Tarso Lyra, de Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO
A cúpula do PMDB aguarda o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da viagem que está fazendo a China, Turquia e Arábia Saudita, para cobrar uma solução - e rápida - para os principais confrontos estaduais do partido com o PT, sob pena de estar ameaçado o apoio nacional dos pemedebistas à candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência da República.
O problema considerado mais emblemático é o de Minas Gerais, onde o PMDB tem o candidato até agora mais competitivo, segundo as pesquisas, mas o PT rejeita apoiá-lo, mesmo sendo ministro do governo Lula - Hélio Costa (Comunicações). A situação de Minas é relevante, porque o Estado tem o maior número de delegados do PMDB que irão decidir, na Convenção Nacional de junho de 2010, se o partido fará aliança com Dilma, com o candidato do PSDB ou terá candidato próprio.
"Sem os votos de Minas, a gente não ganha a convenção", afirma o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), um dos defensores do apoio à candidatura do governo. Por isso mesmo, é ele quem faz a cobrança mais dura por uma ação efetiva de Lula sobre os diretórios regionais do PT que se negam a apoiar candidatos do PMDB nos Estados, ainda que mais competitivos.
"O PT terá que decidir se a prioridade para o partido é ou não a eleição da ministra Dilma presidente. Para nós, o fundamental são as nossas bases estaduais. Queremos estar no projeto nacional com o presidente Lula, mas não podemos sacrificar nossas bases", diz Alves. Ele diz que Lula antecipou o processo eleitoral, ao lançar a candidatura de Dilma, e que o PT e o PMDB são os partidos que mais têm candidatos a governador. "Não podemos brigar em tudo que é canto", afirma.
O líder está se reunindo com os deputados pemedebistas mais representativos de cada Estado para analisar a relação com o PT. É o resultado desse levantamento que a direção do PMDB levará a Lula, segundo Alves, tão logo ele retorne da viagem. "Teremos uma conversa muito séria e sincera", diz.
O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), calcula que, dos 27 Estados, a aliança entre PT e PMDB é certa em nove, "bem encaminhada" em outros nove e praticamente impossível no restante. Para o secretário de comunicação do PT, Gleber Naime, uma grande aliança nacional com o PMDB vai sempre esbarrar nas particularidades regionais dos dois partidos. "Mas precisamos nos esforçar, para dar continuidade aos avanços do governo Lula".
O embate entre PT e PMDB em Estados eleitoralmente estratégicos - como Rio Grande do Sul, Bahia e Rio de Janeiro, além de Minas - também preocupa petistas que consideram a aliança entre as duas legendas fundamental para a construção da candidatura da ministra.
A avaliação é que a cúpula nacional do PT não está agindo com energia sobre os diretórios estaduais, que, em sua maioria, preferem lançar candidatura própria a apoiar o PMDB. A queixa estende-se a Lula, que, segundo petistas e pemedebistas, estaria deixando os problemas avançarem demais.
Com isso, tanto petistas quanto pemedebistas estão avançando nas articulações de seus próprios interesses, e o afastamento pode se tornar irreversível. "É igual pasta de dente: depois que sai do tubo não volta mais", afirmou um observador do processo.
Como em 2010 não estará em vigor a regra que obrigava os partidos a repetirem nos Estados a aliança nacional (verticalização), o PMDB, em tese, pode se compor livremente em cada local e, ainda assim, estar na chapa de Dilma. O problema, como alertam os próprios petistas, é que a candidatura da ministra precisa ser construída e, para isso, é fundamental ter palanques fortes, especialmente nos maiores colégios eleitorais.
Em alguns Estados onde os aliados estarão separados poderia até render dois palanques a Dilma, o que pode levar a outro problema: há locais em que a relação é tão conflituosa que pode obrigar a ministra a optar por um dos candidatos aliados ou ignorar comícios no Estado.
Por esses fatores, manter os aliados unidos deve interessar mais ao PT que ao PMDB, que não tem candidato próprio à Presidência e prioriza a eleição de governadores.
A falta de alianças consistentes causaria outro problema ao PT: comprometeria a quantidade de deputados e senadores a serem eleitos pelo partido. E uma boa base parlamentar é fundamental a qualquer projeto de governo nacional.
Uma das razões dessa aparente falta de conexão entre a Executiva nacional e os diretórios estaduais do PT pode estar no vazio político instalado na cúpula. A atual direção, com Berzoini (SP) à frente, está em fim de mandato. Em novembro, o partido realiza o PED (Processo de Eleições Diretas) para a troca dos comandos nacional e estaduais. E há indefinição quanto à nova presidência.
O mais cotado, Gilberto Carvalho, não pode assumir as rédeas do processo pré-eleitoral, porque continua exercendo função de chefe de gabinete da Presidência. Além disso, Lula ainda não decidiu se libera Carvalho para a missão partidária. O resultado é um vácuo de comando, que começa a preocupar petistas atentos ao jogo eleitoral.
Apesar da resolução aprovada no dia 8, estabelecendo que as alianças estaduais só podem ser feitas depois da definição da aliança nacional, a mensagem parece não ter chegado aos Estados. Continuam prevalecendo os interesses locais, em detrimento da aliança nacional.
Um dos locais onde há mais atrito é o Rio Grande do Sul. A determinação nacional é de apoio ao candidato do PMDB, provavelmente José Fogaça. Mas os petistas locais não aceitam. O ministro Tarso Genro é o pré-candidato do partido. "Eu sou da segunda geração do PT. O Genro é fundador. Não é possível que ele não tenha juízo suficiente para ver que seus gestos estão atrapalhando", reclamou um integrante do diretório nacional.
O PSDB, por sua vez, tenta montar uma estratégia pré-eleitoral nos Estados mais programática. Pretende formar palanques fortes para seu candidato a presidente - os governadores José Serra (SP) ou Aécio Neves (MG) -, mas não está jogando todas as fichas numa aliança nacional com o PMDB. "Não vamos fechar projetos regionais incoerentes com o projeto nacional. O desespero é deles [PT]", disse o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES), presidente do Instituto Teotonio Vilela, ele próprio candidato a governador para garantir palanque a Serra.
Uma preocupação é comum a PT e PSDB: não querem depender de pemedebistas que estão "em cima do muro" e, mais à frente, podem mudar de lado. Essa é uma das explicações dos petistas para a resistência em apoiar Fogaça no Rio Grande do Sul. Como o PMDB também conversa com o PSDB, o PT teme ficar isolado e, consequentemente, deixar Dilma sem palanque consistente no Estado. Entre Dilma e Serra, o PMDB do Rio Grande do Sul escolhe nenhum dos dois. Defende candidatura própria.
Nesse jogo, há outras peças sobre a mesa. Por exemplo: pemedebistas temem que a doença de Dilma a tire do jogo e o PT fique sem opção. Avaliam, ainda, que se a candidatura de Dilma não decolar e Serra se mantiver na liderança, o tucano terá maior poder de atração. Um ministro próximo do presidente afirma que não será o número de cargos que garantirá fidelidade do PMDB a Dilma. "Se entregarmos a Esplanada inteira e Serra disparar nas pesquisas, eles mudam de lado", diz.