terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

OPINIÃO DO DIA - Hannah Arendt: A Renúncia ao Poder

"O único fator material indispensável para a geração do poder é a convivência entre os homens. Estes só retêm poder quando vivem tão próximos uns dos outros que as potencialidades da acção estão sempre presentes; e, portanto, a fundação de cidades que, como as cidades-estado, se converteram em paradigmas para toda a organização política ocidental, foi na verdade a condição prévia material mais importante do poder.

O que mantém unidas as pessoas depois de ter passado o momento fugaz da ação (aquilo que hoje chamamos «organização») e o que elas, por sua vez, mantêm vivo ao permanecerem unidas é o poder. Todo aquele que, por algum motivo, se isola e não participa dessa convivência renuncia ao poder e torna-se impotente, por maior que seja a sua força e por mais válidas que sejam as suas razões."

Hannah Arendt, in 'A Condição Humana', pág. 251- 11º edição. Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2010.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
O Reino Unido da Sapucaí
O Cordel encantado do Salgueiro
Em três dias de carnaval, 122 mortos em rodovias federais

FOLHA DE S. PAULO
Presos superam em 81% número de vagas em SP
Recém-nomeado, Lupi é exonerado de cargo de assessor na Prefeitura do Rio
Governo temia a ação de ONGs na Amazônia

O ESTADO DE S. PAULO
UE deve dar socorro recorde à Grécia
Lupi perde cargo de assessor após dois dias

CORREIO BRAZILIENSE
Trânsito já matou 122 e o feriado nem acabou
Bafômetro até nos bares
Propaganda eleitoral "importada"

ESTADO DE MINAS
Depois da ficha limpa, a vez da verba da saúde
Estradas: Acidentes já mataram 21 no feriadão em MG

ZERO HORA (RS)
Polícia Federal do RS é a que mais prende
Avançam tratativas para renegociar dívida da Grécia

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Batuques e cores
Oriente Médio

O milagre da multiplicação dos candidatos:: Fernando Abrucio

A Prefeitura de São Paulo tornou-se um dos postos mais cobiçados do país para os partidos brasileiros. Vários deles querem lançar candidatos, num número inédito, e propostas de alianças são feitas por todos – e para todos – os lados. Os dois principais polos do sistema político, PT e PSDB, estão gastando todas as suas energias e envolvendo suas lideranças mais expressivas nessa disputa. Há chances de haver mais uns cinco candidatos de legendas importantes, incluindo aí o PMDB, praticamente ausente das últimas eleições na capital paulista. Tanto interesse desperta duas perguntas. Primeira: qual é o sentido de tanta cobiça por esse cargo? E segunda, e não menos relevante: que projeto de cidade está em jogo?

A primeira questão conduz a respostas mais claras a respeito de projetos de poder. Tanto petistas como tucanos pensam que a disputa pela prefeitura é uma prévia para a eleição a governador, em 2014. O PT quer destronar o PSDB de seu domínio por quase 20 anos no Estado. Os pessedebistas querem manter essa estrutura tão importante para a sobrevivência do partido, sobretudo se tiverem uma nova derrota no pleito presidencial. O PMDB enxerga numa possível – e inédita – vitória na cidade de São Paulo uma forma de reconstruir sua força no plano estadual e, especialmente, ganhar um poder maior de barganha na coalizão nacional com o petismo, garantindo a posição de vice numa bem provável candidatura da presidente Dilma à reeleição.

Entre os partidos médios e pequenos, a lógica do poder também é bem nítida. PCdoB, PDT, PRB e outros que fazem parte do governismo no plano federal pretendem lançar candidatos para tentar mostrar ao PT, com quem se aliaram numa convivência recente cheia de conflitos, que merecem receber maior atenção do que têm tido ultimamente. Ainda é possível vislumbrar nessas possíveis candidaturas uma forma de fixar nomes – talvez até ideias – num território político com muitos votos para eleições proporcionais.

A posição estratégica do prefeito Gilberto Kassab passa por duas questões. Uma é apoiar não só quem tenha maiores chances de vencer, mas, principalmente, obter do vencedor um compromisso de não pôr a gestão Kassab, agora e no futuro próximo, na berlinda. Se a eleição paulistana for vencida por um opositor claro ao governo Kassab, seu poder de barganha no xadrez político estadual e nacional diminuirá muito. O atual prefeito não está lutando para fazer seu sucessor. Sua meta é evitar que um inimigo político tome seu posto.

Soma-se a esse objetivo a pretensão de obter um espaço político, pós-eleições municipais, que permita a Kassab continuar como líder partidário influente com Dilma e, especialmente, ser uma peça-chave na próxima eleição estadual. Ele pode concorrer ao Senado, ser vice, ou, na hipótese menos pretensiosa, conquistar uma vitória estrondosa para a Câmara Federal. Qualquer coisa menor do que isso será uma derrota para alguém que, inesperadamente, construiu uma legenda que desorganizou a oposição no plano nacional e construiu uma via pró-Dilma por fora da coalizão governista. Kassab se tornou o jogador mais imprevisível e habilidoso do sistema político em 2011.

Ainda no plano das lideranças, o ex-presidente Lula e, com menor intensidade, o governador Alckmin são atores centrais na eleição paulistana. Lula porque atuou fortemente para lançar um candidato sem experiência eleitoral, que traz uma imagem nova para o PT, contra a vontade da principal política local, a ex-prefeita Marta Suplicy. Alckmin, até agora, não entrou com tudo na disputa. A própria montagem das prévias revela que não há um ator hegemônico no PSDB. Ele sabe que uma derrota estrondosa para o petismo pode ser a maior ameaça a seu projeto de reeleição. Diante dessas duas situações, Alckmin tenderá a ser mais ativo e incisivo quando o nome tucano for definido.

Um ator relevante poderá aparecer no último ato: o ex-governador José Serra. Ele já está acostumado a se colocar como candidato no minuto final e, novamente, o PSDB não tem segurança sobre as chances eleitorais dos nomes apresentados até agora. Serra foi prefeito, tem um recall muito forte na cidade, mas agora sua taxa de rejeição é altíssima. Se for concorrente e vencer, pode dar adeus à eleição presidencial. Se perder, entra para a segunda divisão dos políticos brasileiros. Não é uma escolha fácil nem para Serra nem para seu partido.

Desenhado o cenário e definidos os atores, falta o mais importante: saber quais serão suas falas. Claro que a mise-en-scène é sempre importante no teatro da política, pois o público também é cativado pela encenação. Mas o futuro da cidade exige algo mais. Nomes e projetos de poder estão na mesa, num processo de negociação e disputa. Mas ainda não se disse quais são os planos dos partidos e candidatos para melhorar a gestão pública da maior cidade brasileira.

Comecemos pela relação entre os possíveis concorrentes, com suas alianças e bases de apoio, e sua posição diante do governo municipal atual. Evidentemente será muito difícil para o PSDB se colocar como a "maior oposição ao prefeito Kassab". Por vias tortas ou não, os tucanos foram peça-chave da prefeitura paulistana nos últimos oito anos – e os nomes do alto escalão estão aí para quem quiser ver. Para se transformar em oposicionistas, teriam de ter mudado de lado muito antes. E, mesmo que tentem convencer os eleitores de sua nova posição, fica a pergunta: no que seria diferente a visão de cidade tucana em comparação com o modelo político-administrativo vigente?

A confusão entre projeto de poder e projeto para a cidade também bateu à porta do PT. Como justificar a oposição feita ao prefeito Kassab nos últimos oito anos? Decerto podem ser encontrados pontos em comum, mas, analisando um só aspecto caro ao petismo paulistano, fica a pergunta: qual é a avaliação que farão do setor de transportes municipais nos últimos oito anos?

Em menor grau, tais indagações podem ser colocadas para os outros candidatos, uma vez que quase todos os partidos apoiaram o prefeito Kassab, cuja vice veio do PMDB. A única forma de sair dessa armadilha é apresentar um projeto claro para modernizar São Paulo. Terão de dizer o que farão com as arcaicas subprefeituras, como implantarão carreiras meritocráticas em setores estratégicos do serviço público, que formas de participação cidadã serão incorporadas à governança local, quando e de que maneira implantarão um planejamento estratégico eficaz para a cidade, qual será o projeto para o centro e as periferias urbanas da metrópole, para ficar em alguns do temas mais candentes. Se esse roteiro não for apresentado, e logo, aos eleitores, todo o jogo político dos últimos meses será apenas um teatro de sombras.

Fernando Abrucio é doutor em ciência política pela USP e professor da Fundação Getulio Vargas (SP)

FONTE: REVISTA ÉPOCA

Dores dos cortes:: Valdo Cruz

Divulgado estrategicamente dias antes do Carnaval, o corte de R$ 55 bilhões no Orçamento atingiu em cheio as famosas emendas parlamentares -dinheiro que deputados e senadores mandam para suas bases eleitorais.

Amortecidos pela véspera do período momesco, os protestos devem reinar na volta dos trabalhos do Congresso pós-Carnaval.

Mas não é só ali, no Legislativo, que os cortes geraram queixas e farão Dilma administrar tensões. Dentro da própria equipe econômica o tema divide opiniões.

Guido Mantega defendeu o corte de R$ 55 bilhões. Seu secretário-executivo, Nelson Barbosa, preferia uma tesourada um pouco mais suave para vitaminar os investimentos públicos federais.

As divergências entre os dois, num momento em que o ministro da Fazenda se tornou alvo de tiroteios, azedaram ainda mais o clima dentro do ministério.

Ciente dos atritos, o recado presidencial resume-se a três itens. Primeiro: Guido Mantega e Nelson Barbosa ficam onde estão e precisam se acertar. Os dois contam com seu apoio e admiração. Se o secretário-executivo da Fazenda decidir sair do seu posto, será chamado a assumir outro -mas não acredita que isso aconteça.

Segundo: não acha ruim que eles divirjam, faz bem para o debate "interno" do governo. Detesta, porém, que divergências em sua equipe ganhem as páginas dos jornais.

Terceiro: o corte de R$ 55 bilhões no Orçamento não é decisão desse ou daquele assessor, mas dela. Dilma segue adepta de sua nova visão de rigor fiscal, de olho na redução da taxa de juros para um dígito.

Afinal, ela sabe que o Banco Central só terá condições de seguir reduzindo os juros se o ajuste fiscal prometido for cumprido.

Ou seja, quem esperava mudar a opinião presidencial, aparentemente, pode desistir. A vida da base aliada, principalmente, será dura.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Sob mira, as cadernetas:: Celso Ming

O governo Dilma não está interessado só em desestimular aplicações nos fundos referenciados ao DI (Depósito Interbancário). Pretende alterar, também, regras da caderneta de poupança, de modo a rebaixar sua rentabilidade.

O problema de fundo é conhecido. A caderneta paga remuneração quase fixa. Juros de 0,5% ao mês (ou de 6,17% ao ano, uma vez compostos em 12 meses) mais fração da Taxa Referencial de Juros (TR). Na prática, traz retorno entre 7,0% e 7,5% ao ano e disputa a preferência do aplicador com outras três vantagens: (1) liquidez imediata, ou seja, possibilidade de saques a qualquer momento (com perda de rendimento se não for no “dia certo”); e isenção de (2) taxa de administração; ou do (3) Imposto de Renda, cobrado sobre a maioria das remunerações de aplicações.

O governo tem pressa na derrubada dos juros básicos, hoje de 10,5% ao ano, pelo Banco Central – que, por sua vez, já avisou que estão próximos os dias em que alcançarão um dígito (abaixo de 10,0% ao ano). Outras manifestações dos dirigentes da área dão a entender que podem cair abaixo dos 9,75% ao ano, nível que caracterizaria a queda a um dígito.

Nessa paisagem, a caderneta passa a ser um problema. Mantido seu retorno de 7,5% ao ano, logo chegará o dia em que pagará mais do que os fundos de renda fixa, especialmente os fundos DI (atrelados à Selic) – cujo rendimento está sujeito ao Imposto de Renda e cujo patrimônio é reduzido pelo sistema “come-cotas” montado pelas taxas de administração. Assim, a migração das aplicações financeiras para cadernetas ficaria inevitável – a menos que o governo passe, como quer, a tesoura de poda na remuneração da caderneta.

O problema não será solucionado só com um passeio de caneta ao pé de um texto de medida provisória. Como ficou dito, a caderneta garante liquidez imediata. O aplicador pode buscá-la de volta quando quiser. E, no entanto, só pequena parcela desses recursos está nos bancos. Foram emprestados ao tomador de financiamentos para a casa própria, que tem 10, 15 ou 20 anos para devolvê-los em prestações mensais, com juros e correção prefixados em contrato. Um dos riscos é o esvaziamento das aplicações em poupança, o que deixaria os bancos a descoberto.

Mas o aplicador poderia ficar sem opção e se manter fiel ao velho amor – rendimento a conta-gotas, mas confiável. Assim, no entanto, seria preciso prever possível reviravolta. Vamos que, adiante, seja preciso puxar novamente os juros básicos para cima. A aplicação das cadernetas poderia ficar desastradamente para trás e, para evitar novo esvaziamento, o governo teria de voltar a puxar para cima o rendimento da caderneta. Nesse caso, o descasamento entre ativos (mais baixos) e ativos (mais altos) dos bancos viria por outro fator e abalaria o sistema.

O outro risco é político. A caderneta sempre foi considerada o investimento dos pobres e dos simples. O achatamento de sua remuneração poderia levar a crer que o governo estaria metendo a mão na aplicação do povão. Pelo seu forte impacto em ano eleitoral, essas mexidas provavelmente não sairão antes de novembro.

CONFIRA

Aí está a evolução do consumo de etanol nos últimos 5 anos. Enquanto o consumo de gasolina aumentou 18,8%, o de etanol caiu 13,8%.

Gasolina subsidiada. Esse tombo no consumo de etanol teve a ver com o mau desempenho do setor. Esse, por sua vez, deveu-se tanto à queda de produção de cana-de-açúcar, em consequência da falta de investimentos e, em algumas regiões, também pela seca. Mas o principal fator subjacente da queda de produção de etanol está no achatamento dos preços da gasolina, que tiram competitividade do etanol.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Escravos da modernidade:: Vladimir Safatle

Na semana passada, a imprensa veiculou a notícia de que uma construtora servia-se de trabalho escravo.

A obra não era uma hidrelétrica na região Norte ou em algum lugar de difícil acesso, onde sempre é mais complicado descobrir o que se passa. Na verdade, a obra encontrava-se quase na esquina com a avenida Paulista.

Trata-se da reforma de um dos mais conhecidos hospitais da capital paulista, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Ironicamente, a empresa responsável pela obra chama-se "Racional" Engenharia.

Como não podia deixar de ser, a empresa afirmou que os trabalhadores respondiam a uma empresa terceirizada e que os dirigentes desconheciam realidade tão irracional. Este foi o mesmo argumento que a rede espanhola de roupas Zara utilizou quando foi flagrada servindo-se de mão de obra escrava boliviana empregada em oficinas terceirizadas no Bom Retiro.

É muito interessante como empresas que gastam fortunas em publicidade e propaganda institucional são tão pouco cuidadosas no que diz respeito às condições aviltantes de trabalho das quais se beneficiam por meio do truque tosco da terceirização. Quando se contrata uma empresa terceirizada, não é, de fato, complicado averiguar as reais condições a que trabalhadores estão submetidos, se seus turnos são respeitados e se seus alojamentos são decentes.

Há de se perguntar se tal desenvoltura não é resultado da crença de que ninguém nunca perceberá o curto-circuito entre imagens institucionais modernas, requintadas, "racionais", e sistemas medievais de exploração.

No fundo, essa parece ser mais uma faceta de um velho automatismo brasileiro de repetição: discursos cada vez mais elaborados e modernos, práticas cada vez mais arcaicas. Afinal, tal precariedade foi feita em nome de novas práticas trabalhistas, mais flexíveis e adaptadas aos tempos redentores que, enfim, chegaram.

Não mais a rigidez do emprego e do controle dos sindicatos, mas a leveza do paraíso da terceirização, onde todos serão, em um horizonte próximo, empresas. Cada trabalhador, um empresário de si mesmo.

Que essa flexibilidade tenha aberto as portas para uma vulnerabilidade que remete trabalhadores à pura e simples escravidão, isto não retiraria em nada o brilho da ideia. Pois apenas os que temem o risco e a inovação poderiam querer ainda as velhas práticas trabalhistas. Pena que o novo tenha uma cara tão velha.

Pena também que, como os gregos mostrem a cada dia, quem paga o verdadeiro preço do risco sejam, como dizia o velho Marx, os que já perderam tudo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O passo seguinte:: Míriam Leitão

Uma nova reunião ontem em Bruxelas dos ministros das finanças da Zona do Euro foi o suficiente para deixar as bolsas animadas. O mundo não leva tão a sério assim o carnaval e tudo continua funcionando.

O que se pode esperar é um acordo que permita a liberação de mais uma prestação do empréstimo para a Grécia, com a qual o país irá rolar a dívida que vence em março. Isso é a solução? Não.

Uma análise feita pelas autoridades que representam os países do euro e os credores, a troica (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), projeta que, mesmo se a dívida grega for reduzida em C 100 bilhões, pelo sucesso da negociação com os bancos, o país em 2020 estará com dívida de 129% do PIB. Eles exigiam 120%. No final do dia já aceitavam 125%. Que diferença faz? Qualquer um desses números é absurdamente alto. Qual a capacidade de um país, qualquer que seja, manter um ajuste tão longo em suas contas para conseguir um resultado tão medíocre? Todo ajuste fiscal é de longo prazo e precisa da manutenção de metas de superávits cumpridas por vários anos para se conquistar indicadores melhores.

Mas a partir de um determinado ponto o país só faz encolher, o que eleva a dívida pública mesmo se os juros forem zero. A Grécia está prisioneira dessa armadilha. Este é o quarto ano em que o PIB vai diminuir, então a dívida aumentaria mesmo se em volume permanecesse estável, porque seria mais alta como proporção do PIB. Mas não permanece estável porque os juros têm subido quanto maior é a crise no país.

Qualquer ajuste além de um determinado ponto não é economicamente viável e pode não ser viável politicamente.

Num artigo publicado no "Financial Times", o articulista Wolfgang Münchau disse que "nós estamos num ponto em que o sucesso não é mais compatível com a democracia".

Ele acha que se os credores tiverem sucesso em impor ao novo governo uma política econômica estarão criando a primeira colônia da Zona do Euro.

O compromisso assumido pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva não é comparável à carta que as autoridades da Zona do Euro exigiram dos candidatos à próxima eleição grega, de abril. Na Carta aos Brasileiros, o que Lula se comprometia era do interesse geral; a manutenção da estabilidade do real. A Carta afastou os temores em relação à mudança de partido no poder, e ele foi eleito. Agora, o que se quer dos gregos não tem apoio na maioria da sociedade.

Se o remédio amargo for rejeitado democraticamente, como pode ser imposto? "Como impedir um novo governo grego e um novo parlamento de unilateralmente mudar o acordo?", pergunta o articulista do "Financial Times". A proposta alemã de que se adie eleições é simplesmente ultrajante.

Não há solução sem dor para a Grécia, mas ela tem que procurar por ela mesma que dor prefere sentir. Os gregos querem ficar no euro, mas começam a achar que é impossível.
A saída do euro vai significar um grande calote interno nos poupadores gregos porque a conversão para a nova moeda, que pode ser a volta ao centenário dracma, será feita com perda de valor do principal hoje poupado em euros. Haverá um empobrecimento adicional dos gregos.

Mas não se pode impor a alternativa de ficar a um preço que signifique determinar de Bruxelas os destinos de Atenas. Ou de Berlim.

O que Bruxelas deveria estar pensando agora é qual é o passo seguinte. Se a Grécia sair do euro, sairá também da União Europeia? Se a saída for imposta, será uma violência. Se ficar, os trabalhadores desempregados da Grécia irão para os outros países da Europa pressionando um mercado de trabalho que está com dificuldade de atender à demanda por emprego. Então, expelir a Grécia como se fosse um corpo estranho não funcionaria.

Depois de queimarem as mãos na dívida grega, os bancos vão olhar com suspeição para Portugal.

E pode-se imaginar um cenário em que se force a saída de Portugal do euro e da União Europeia? Hoje, o presidente da Comissão Europeia é um português: José Manuel Durão Barroso. E mesmo se isso for feito, não será o fim da crise.

A Zona do Euro tem demonstrado desde o começo desta crise uma enorme incapacidade de ter visão estratégica. Em que ponto mesmo quer chegar? Por mais meritório que tenha sido o objetivo inicial da moeda comum — aprofundar a unidade — o fato a se reconhecer neste momento é que não foram tomadas as devidas precauções para um momento de crise, como a atual. E dado que não se pode alterar o passado, é preciso ver adiante e ter um objetivo futuro.

Não há de ser o acordo que estava sendo fechado ontem. O parlamento grego pode aprovar um pouco mais de corte nas pensões como o que estava ontem em discussão, os ministros reunidos em Bruxelas podem aprovar o novo acordo, a Grécia pode receber a nova parcela do empréstimo e cumprir seus compromissos de março, e os bancos podem fechar o acordo de abatimento da dívida. Se tudo isso acontecer, se o melhor cenário em cada caso for atingido, o que se terá ao final? Um país em recessão, com uma dívida acima de 120% do PIB, com déficit alto, com um quinto da mão de obra trabalhando para o governo.

Até os sacerdotes da Igreja Ortodoxa Grega são funcionários públicos e têm isenção fiscal. A Grécia carrega ainda o custo de ter tido durante muito tempo — até recentemente — um sistema previdenciário que permitia a aposentadoria muito precoce.

A Europa está diante de dilemas que marcarão seu projeto comum. Mas seus líderes não parecem ter um plano estratégico. Cada passo é apresentado como a solução final. Mas a crise sempre volta.

FONTE: O GLOBO

Os pacotes e a ambulância:: Clóvis Rossi

A suposta ajuda europeia está apenas sangrando países à beira da exaustão em todo o continente

A União Europeia discutia ontem o segundo pacote de ajuda a Grécia. Ops, eu disse ajuda? Deveria dizer mais um passo para sufocar um país já exangue.

Os grandes números sobre as consequências dos sucessivos pacotes europeus para a Grécia são eloquentes: o país entra no quinto ano consecutivo de recessão; o desemprego estourou dos 7,4% quando eclodiu a grande crise global de 2008 para os 21% atuais; a renda familiar caiu 30% nos anos de "ajuda".

Pelo menos foram corrigidos deficit e dívida, que o raciocínio convencional aponta como os problemas da Grécia? Não. A dívida saiu de 109% do PIB, no primeiro trimestre de 2007, para os atuais 159%, ao passo que o deficit, que deveria terminar 2011 em 7,6%, bateu em 9%, como proporção do PIB.

Passemos dos grandes números para o cotidiano. O jornal "El País" visitou Portugal, um dos países "ajudados", e recuperou o drama de João António Espadeiro, 84 anos, marca-passo no peito, que vive em Morão, no Alentejo, a uns 200 km de Lisboa.

Quando se sente mal, o que não é raro em uma pessoa dessa idade, ainda mais com problemas cardíacos, "seo" João não pode pedir uma ambulância para levá-lo ao hospital mais próximo, em Évora, a 70 km. Não pode porque a "ajuda" europeia a Portugal foi condicionada a cortes até na gratuidade do transporte em ambulância para necessitados como ele.

Pagar a ambulância roubaria € 36,50 (R$ 83) de sua única fonte de renda, a aposentadoria de € 475 (R$ 1.076). Ah, por favor, não venha me dizer que a aposentadoria de "seo" João é generosa, na comparação com padrões brasileiros. Os padrões brasileiros é que são miseráveis.

Também não venha me dizer que os "joões" de Portugal, da Grécia, da Espanha etc. são os responsáveis pela crise, porque viveram à tripa forra (para usar uma expressão bem portuguesa). Conforme seu gosto e sua visão de mundo, você pode listar uma dúzia de culpados -dos políticos irresponsáveis aos banqueiros gananciosos, passando por vários outros suspeitos-, mas não incluiria aposentados e a grande maioria dos assalariados.

Que, no entanto, pagam o custo até mais que os verdadeiros culpados. Basta ler até quem aprova os pacotes de austeridade, caso de Jean Pisani-Ferry, diretor do Centro Bruegel de pesquisas sobre políticas econômicas europeias, em artigo para o "Monde" de ontem: Pisani-Ferry começa lembrando que entende que os tecnocratas do FMI só pensem em programas como os que estão sendo aplicados. Mas, completa, "a União Europeia é uma entidade política que fez da justiça social um de seus objetivos fundamentais. Ela não pode demandar uma redução do salário mínimo e ter como secundário o fato de que a evasão fiscal dos 10% mais ricos se traduza por uma perda de um quarto das receitas do Imposto de Renda" [caso da Grécia].

O economista afirma que não se trata de negar a necessidade de um programa de austeridade, mas fecha o raciocínio com a observação de que o programa em curso "é tardio, mal concebido e iníquo".

Está explicado por que é errado dizer que se trata de "ajuda"?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Lupi perde cargo de assessor após dois dias

Lupi perde cargo de assessor especial após dois dias

Ex-ministro foi nomeado por Eduardo Paes na sexta para representar o Rio em Brasília; prefeito, porém, voltou atrás

Sergio Torres

RIO - O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), exonerou o ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do cargo de assessor especial da prefeitura do Rio em Brasília. A nomeação havia sido publicada na última sexta-feira no Diário Oficial do município. O ex-ministro do governo Dilma Rousseff durou apenas dois dias na função.

Como a nomeação ocorreu às vésperas do carnaval, Lupi, certamente, não teve tempo de fazer alguma coisa. A exoneração foi anunciada pelo prefeito no Sambódromo, na noite de domingo. Pela função de assessor especial, o ex-ministro receberia salário de R$ 8,5 mil.

De acordo com nota oficial divulgada pela assessoria de imprensa da prefeitura, a exoneração foi decidida de comum acordo. Após uma conversa, Paes e Lupi entenderam "por bem não ser adequado que ele (o ex-ministro pedetista) assuma as funções de assessor no gabinete do prefeito".

O teor do comunicado contrasta com o tom entusiasmado de Lupi, ao falar na sexta-feira sobre a nomeação.

"Ele (Eduardo Paes) quer que eu faça um trabalho pelos interesses do Rio, possíveis emendas, projetos. Fazer a ponte com Brasília. Como fui ministro e tenho boa relação com todo mundo, vou fazer esse meio de campo", dissera ele na ocasião.

De volta este ano à presidência nacional do PDT, que integra a base aliada do governo municipal, Lupi é funcionário concursado da Prefeitura do Rio, onde ingressou em 1985.

Ele deixou o Ministério do Trabalho no início de dezembro do ano passado. Estava no cargo desde 2007, nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua gestão, a pasta teria se envolvido em negociações suspeitas com organizações não governamentais (ONGs) com quem firmara contratos. Além disso, Lupi acumulou dois cargos públicos irregularmente por cinco anos, o que é vedado pela Constituição.

Com apoio da maioria dos membros da Executiva, Lupi voltou à presidência do PDT.

O ex-ministro, porém, ainda enfrenta resistências no partido. Um grupo de pedetistas se opõe ao seu nome por entender que as suspeitas em torno de sua gestão no Ministério do Trabalho mancham a imagem da legenda.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Partidos aliados a Dilma vão ser adversários nas eleições

Em 25 capitais, tendência é de confronto entre ao menos duas siglas governistas

Assim como em disputas passadas, interesses locais dos candidatos a prefeito falam mais alto do que arranjo nacional

Maria Clara Cabral, Simone Iglesias

BRASÍLIA - Aliados nacionalmente, os partidos que dão sustentação à presidente Dilma Rousseff devem patrocinar disputas entre si em praticamente todas as capitais nas eleições municipais de outubro.

Levantamento feito pela Folha tendo como base os sete principais partidos da aliança dilmista (PT, PMDB, PDT, PSB, PC do B, PP e PTB) mostra que em 17 capitais o confronto entre mais de três dessas siglas é bem provável.

Apenas no Rio o apoio à reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB) é esperado.

Mesmo em Belo Horizonte, com um arco de aliança amplo para a reeleição de Márcio Lacerda (PSB), deve haver enfrentamento com o PMDB.

Nas sete demais capitais, há pelo menos dois pré-candidatos da base.

É o que ocorre em Vitória. Lá, a maioria dos governistas está com Iriny Lopes (PT), mas a exceção é o ex-governador Paulo Hartung (PMDB).

A definição oficial das candidaturas será em junho, com as convenções partidárias.

Em capitais como São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Recife, o número de candidatos é ainda maior.

Na capital paulista, cinco partidos da base têm pré-candidatos: Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PMDB), Netinho de Paula (PC do B), Paulo Pereira da Silva (PDT) e Luiz Flávio D"Urso (PTB).

Principal aliado do PT em âmbito nacional, o PMDB deve disputar em 21 capitais. É a legenda com o maior número de pré-candidatos, ficando na frente, inclusive, do PT, que trabalha com a possibilidade de lançar 18 nomes.

Histórico

A discrepância entre as disputas para as prefeituras e a aliança partidária que dá sustentação ao governo federal já ocorreu em outras eleições.

Em 2008, por exemplo, PT e PMDB, os dois maiores partidos da coalizão nacional, se enfrentaram em 17 das 26 capitais em jogo.

O professor de Ciência Política da Universidade de Brasília David Fleischer lembra que nas disputas municipais a tendência é que prevaleçam os arranjos paroquiais.

"As questões locais e a sobrevivência dos partidos fazem com que todos queiram disputar. A eleição municipal serve de base para o aumento do número de deputados, senadores e governadores."

Apesar disso, o alto número de postulantes causa preocupação ao Planalto. Na última reunião com os dirigentes dos partidos, Dilma tentou acalmar os ânimos dizendo que nem ela nem o vice Michel Temer (PMDB) iriam se envolver nas campanhas. A orientação é que ministros, o vice e a própria presidente não apoiem um candidato em capitais com conflito na base.

Para o presidente nacional do PT, Rui Falcão, a falta de acordo não é prejudicial.

"É legítimo que na eleição municipal cada partido lance seu candidato, ainda mais em cidades com possibilidade de segundo turno. Isso em nada afetará a base da presidente Dilma, até porque o PT fará uma campanha sem ataques pessoais", afirmou.

Além de problemas com aliados, o PT enfrenta também conflitos internos.

Em Recife, o prefeito João da Costa seria candidato à reeleição, mas outros três petistas querem a vaga. Em Porto Velho, há prévia marcada para 25 de março.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PT joga as fichas para eleger Haddad

Petistas traçam a conquista da prefeitura de São Paulo como prioridade do partido com vista a interromper a hegemonia tucana no governo do estado, daqui quatro anos

Paulo de Tarso Lyra

A vitória do PT na disputa pela prefeitura de São Paulo é, na cabeça do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro passo para consolidar o projeto hegemônico petista. Depois de o partido conquistar a Presidência da República em 2002, 2006 e 2010, Lula quer retomar a prefeitura paulistana e, em 2014, vencer também o governo estadual, um bastião político controlado pelo PSDB desde 1994. "São Paulo é a última trincheira organizada da oposição ao governo federal", admite o presidente estadual do PT em São Paulo, deputado Edinho Silva.

Para que isso dê certo, é fundamental a eleição do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, na maior cidade do país. Mas não só. Pelos planos dos estrategistas, o partido de Lula precisa se sair bem na capital, no grande ABC, na Grande São Paulo (Osasco e Guarulhos, por exemplo) e em cidades polo, como Campinas, Ribeirão Preto, Santos e São José do Rio Preto.

Lula tem dito muito claramente aos interlocutores petistas que a sua nova missão será desalojar o tucanato de São Paulo. "Nós provamos que o PSDB fez mal aos brasileiros. Agora, temos mostrar que eles também fizeram mal aos paulistas", repete ele, como mantra, segundo comentários de mais de um correligionário. O plano é ambicioso, mas a tarefa não é tão simples.

O ex-presidente atropelou a democracia interna petista e impôs a candidatura de Haddad. Em seguida, começou as articulações para ampliar o leque de alianças. Não se furtou, inclusive, de conversar com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), outro que tem dado sinais ambíguos e contraditórios nessa disputa. Ora pode estar no palanque com o PT, ora com o PSDB, caso o candidato tucano seja José Serra.

Uma liderança petista confessou que o "namoro" com os pessedistas traz outro conforto para o PT. O partido pode poupar-se, nesse momento, de assediar o PMDB do pré-candidato Gabriel Chalita. "Se o PSD vier, virão PSB, PR e PDT. Imagine se Haddad perder a eleição mais importante para o PT por causa do PMDB? Com que cara o vice-presidente Michel Temer vai olhar para o Lula e a Dilma depois?" questiona o cacique petista.

Mas o PT precisa desesperadamente ampliar seu leque de coligações. O partido só tem 30% do eleitorado. 

Já ganhou duas vezes a prefeitura paulistana, mas em momentos muito específicos. Em 1988, Luíza Erundina — hoje no PSB — foi eleita com menos de 30% dos votos (naquela época não tinha segundo turno). Em 2000, novo êxito, com a vitória de Marta Suplicy. Mais uma vez, em situação especialíssima: além de contar com o apoio do então governador tucano, Mário Covas, ela se beneficiou da rejeição ao ex-prefeito Paulo Maluf, desgastado após a desastrosa gestão de Celso Pitta.

Palácio dos Bandeirantes

Outra dificuldade para o PT é atrair o eleitorado de centro, que em São Paulo ainda é forte e representativo. O PIB paulistano tem aversão ao partido e a Lula e mesmo a tese da sacralização do ex-presidente diante da possibilidade de cura do câncer de laringe não permite sonhos de mares menos revoltos para os petistas. "O PSD começa a ocupar esse espaço que antes pertencia ao PMDB. Mas tenho dúvidas se é boa para nós essa aliança", afirma o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), crítico da dobradinha com Kassab.

Passado dezembro, o PT começará a pensar quem serão os nomes do partido para a disputa ao governo de São Paulo, em 2014. Um nome forte é o do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. Mas alguns dirigentes defendem que os prefeitos eleitos em outubro devem concluir seus mandatos. Com isso, uma nome que ganha força é o do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. "Ele terá, contudo, de fazer uma grande gestão no ministério para pleitear algo", diz um petista.

Planos petistas em São Paulo

64 prefeitos (o estado tem 645 munícipios)
47 vice-prefeitos
522 vereadores

Focos do partido e prováveis candidatos

São Paulo — Fernando Haddad
Osasco — João Paulo Cunha
Guarulhos — Sebastião Almeida
São Bernardo — Luiz Marinho
Santo André — Carlos Grana
Campinas — Artur Henrique (presidente da CUT) ou
Márcio Pochmann (presidente do Ipea)
Ribeiro Preto — João Gandini
São Carlos — Oswaldo Barba
Franca — Gilson Pelizaro
Araçatuba —Cido Sério
Bauru — Apoiará Rodrigo Agostinho (PMDB)
Cubatão — Márcia Rosa de Mendonça Silva
Guarujá — Sidnei Aranha
São José dos Campos — Carlinhos Almeida
Taubaté — Deve apoiar Padre Afonso (PV)

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Dirigentes em São Paulo preferem ficar 'em cima do muro'

A articulação por uma aliança com Gilberto Kassab gerou entre os petistas um grupo que, publicamente, se coloca "em cima do muro". Entre os quais se encontram o pré-candidato Fernando Haddad, alguns vereadores e os presidentes municipal e nacional do PT, respectivamente Antonio Donato e Rui Falcão. Estes dois últimos são largamente contrários à aliança, mas publicamente optam pela neutralidade porque funcionam como árbitros do processo eleitoral no partido - um em âmbito local e outro nacional - e ocupam cargos na institucionalidade da legenda.

Entre os contrários à possível entrada de Kassab estão a maior parte do núcleo haddadista que hoje trabalha na pré-campanha, vereadores e deputados que formaram em São Paulo o hoje desfeito grupo de Marta Suplicy (PT-SP), além da própria senadora e de toda a base petista ligada aos movimentos sociais e populares da sigla.

Do lado favorável estão Lula, seus articuladores políticos mais próximos, como o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho; o presidente do PT paulista, Edinho Silva; o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, além do novo líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto. Rechaçam a aproximação com o prefeito também vereadores ligados ao PTLM, grupo controlado por Tatto que representa cerca de 25% do diretório municipal. / F.G.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Prefeito jura apoio a Serra

Em fevereiro do ano passado, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, começou a articular a formação de uma nova sigla já com o intuito de disputar as eleições municipais de 2012. Após cerca de sete meses, em 27 de setembro, o TSE concedeu o registro ao partido: nascia o PSD.

Antigo aliado do tucano José Serra, de quem assumiu a Prefeitura em 2006, defendia desde o início uma aliança entre PSD e PSDB em São Paulo. Diante da demora dos tucanos em escolher o seu candidato, Kassab começou a sondar a possibilidade de uma parceria com o PT, cujo candidato é o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.

No entanto, recentemente Serra passou a dar sinais de que poderá rever a posição de não disputar a Prefeitura e Kassab abortou as negociações com os petistas. Embora procure manter as portas abertas com o PT, o prefeito promete agora dar apoio "incondicional" ao ex-governador.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Orçamento 'turbina' favoritismo de Paes

Desde 2008, caixa da prefeitura do Rio dobrou; em 2012 a previsão é de R$ 20,5 bi

Wilson Tosta

RIO - Candidato à reeleição com o apoio dos governos federal e estadual, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), enfrentará o pleito de 2012 com favoritismo turbinado pelo forte crescimento do caixa da Prefeitura do Rio.

Em quatro anos, a cidade praticamente dobrou seu orçamento, dos R$ 10,4 bilhões de 2008 para R$ 20,5 bilhões previstos para 2012, apresentando no ano passado receitas nominais totais (sem correção da inflação) 62,7% maiores do que quando Paes foi eleito. O aumento coincidiu com a expansão de investimentos do município, de 5,88% para 16,6% no período (apenas 2,9% em 2009). O pico foi no ano passado: 23,7% das verbas orçamentárias, segundo a Secretaria da Fazenda. Paes, contudo, não quer vincular o bom momento fiscal à recandidatura.

"Nem penso nisso", brinca Paes, na conversa com o Estado. Ele destaca, contudo, que, diferentemente de outros governos, não deixou o ápice dos investimentos para o último ano de governo - ele ocorreu em 2011 - e afirma esperar que, no ano passado, a cidade do Rio, em termos relativos, tenha sido o ente federado do País que mais investiu , na comparação com o total do orçamento. O Rio vive uma explosão de obras públicas, tocadas pelos três níveis de governo, visando à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016, com participação expressiva da prefeitura.

Apesar da "modéstia" do prefeito, a bonança financeira, o alinhamento das máquinas federal, estadual e municipal e a base que praticamente reproduz o espectro que sustenta a presidente Dilma Rousseff, somadas à fraqueza da oposição, o tornam o mais forte candidato ao Palácio da Cidade. "Minha leitura é que reeleição é avaliação de governo", afirma.

"Se (os eleitores) acharem que as coisas melhoraram, reelegem; senão, mandam para casa." Paes vê os bons resultados de caixa como resultado do que chama de "umbigo do dono no balcão", ou seja, o acompanhamento muito próximo do dia a dia da administração da cidade.

"Toda segunda-feira, participo da reunião do que chamamos de Comitê de Programação Financeira, para ver caixa, gastos etc.", conta. "Tem aí alguma coisa de português, de dono de botequim." A boa situação financeira do Rio permitiu que o prefeito, além de expandir os investimentos, sobretudo em obras, a partir de 2009, pudesse conceder reajustes salariais aos servidores todos os anos - pelo menos para corrigir a inflação. "Talvez sejamos o único governo a fazer isso", especula, no que deverá ser uma de suas bandeiras eleitorais durante a campanha.

O prefeito também afirma que aumentou os gastos com Saúde de 15% para 25% - somados com despesas com Educação, mantidas em 25%, chega-se a metade do orçamento para os dois setores somados. "Em saúde, saímos de R$ 1,8 bilhão para R$ 4 bilhões", declara.

Economia. Para o secretário municipal da Casa Civil, Pedro Paulo, uma combinação de crescimento da economia com medidas administrativas da Prefeitura do Rio, como a adoção da nota fiscal eletrônica e de metas de arrecadação, além de uma reestruturação da dívida municipal, ajudaram a elevar a receita da cidade. Houve ainda redução relativa das despesas de pessoal, que dos 56% das despesas totais que consumia antes do início da atual gestão, recuou para aproximadamente 45%, segundo o secretário. Os gastos com funcionários cresceram abaixo do aumento da receita.

"A gente segurou bem, buscando dar eficiência a esse gasto, que não fosse um gasto que simplesmente disparasse e acompanhasse o crescimento do orçamento", diz Pedro Paulo. Sindicatos das áreas de educação e médica, porém, queixam-se de salários baixos e de terceirizações de unidades de saúde para Organizações Sociais, que não dariam qualidade ao atendimento e tornariam precárias relações de trabalho, na versão dos sindicalistas ouvidos pelo Estado.

O sistema de objetivos estabelecidos para os servidores é parte do esforço para dar "eficiência" ao funcionalismo, de acordo com o secretário. "Todos os servidores da prefeitura têm metas para cumprir. E aí a área de Fazenda tem meta de arrecadação. Bateu aquela meta, tem ali um bônus", afirma Pedro Paulo, explicando que o funcionário pode receber até dois salários extras por ano caso seu setor atinja ou supere o que foi fixado como limite.

Pelo acordo com o Banco Mundial, a prefeitura contraiu um empréstimo - a juros mais baixos que os brasileiros e com prazo até 2040 para pagamento -de US$ 1,045 bilhão. Com esse dinheiro, quitou 20% da dívida do município com a União, que era de R$ 5,95 bilhões, habilitando-se, segundo o próprio contrato de renegociação, a reduzir a correção do débito de 9% para 6% anuais, além do indexador pelo IGP-DI.

Com isso, o peso da dívida nos gastos totais do Rio caiu de cerca de 8% para 4%, gerando uma sobra anual de R$ 300 milhões, de acordo com a Secretaria da Fazenda.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Militares criticam opiniões de ministras e omissão de Dilma

Em nota, presidentes dos três clubes da reserva atacaram declarações de Maria do Rosário e de Eleonora Menicucci

Tânia Monteiro

BRASÍLIA – Em sinalização de como os militares da reserva estão digerindo a instalação da Comissão da Verdade, presidentes dos três clubes militares publicaram um manifesto censurando a presidente Dilma Rousseff e atacando as ministras dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e da Secretaria das Mulheres, Eleonora Menicucci, por supostas críticas dirigidas à caserna.

A carta, embora assinada por oficiais da reserva, traduz a insatisfação de militares da ativa, que são proibidos de se manifestarem. Eles se queixam de Maria do Rosário por supostamente estar questionando a Lei da Anistia e da titular da pasta das mulheres por "críticas exacerbadas aos governos militares".

Os militares reclamam que Dilma, como comandante em chefe das Forças Armadas, deveria ter repreendido suas auxiliares, e não ter aplaudido o discurso de posse da nova ministra, endossando suas palavras supostamente contra a categoria. "Os Clubes Militares expressam a preocupação com as manifestações de auxiliares da Presidente sem que ela, como a mandatária maior da nação, venha a público expressar desacordo", diz a nota.

Ao se queixarem da postura da ministra Maria do Rosário, os militares citam que ela deu declarações na qual "mais uma vez asseverava a possibilidade de as partes que se considerassem ofendidas por fatos ocorridos nos governos militares pudessem ingressar com ações na Justiça, buscando a responsabilização criminal de agentes repressores, à semelhança ao que ocorre em países vizinhos".

Na nota, os presidentes dos clubes Militar, Naval e da Aeronáutica reclamam de Maria do Rosário alegando que "mais uma vez esta autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF", que rejeitou a revisão da Lei da Anistia. "A Presidente não veio a público para contradizer a subordinada."

Nova ministra. O manifesto censurou ainda a presidente Dilma por ter afiançado o discurso supostamente revanchista de posse de Eleonora. Segundo os militares, a nova ministra "teceu críticas exacerbadas aos governos militares e, se auto-elogiando, ressaltou o fato de ter lutado pela democracia (sic), ao mesmo tempo em que homenageava os companheiros que tombaram na refrega". Os militares ressaltaram que "a plateia aplaudiu a fala, incluindo a sra Presidente".

Procurada ontem, Maria do Rosário disse que não leu o manifesto e que, portanto, "não comentaria" o documento. A ministra Eleonora não foi localizada pela reportagem.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Propaganda eleitoral para uma minoria

Devido à captação do sinal de outras cidades, população de 90% dos municípios do país assistem na tevê às propostas de candidatos de outros locais. Resolução do problema em discussão no TSE pode interferir na transmissão.

Erich Decat, Diego Abreu

Considerado um dos principais artifícios para conquistar o voto dos eleitores e alvo de disputa pelos partidos, o programa eleitoral gratuito transmitido na tevê deve sofrer mudanças este ano. Como há apenas 512 emissoras para cobrir os 5.565 municípios brasileiros, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estuda mudar a forma de transmissão, obrigando as redes a veicularem pronunciamentos de candidatos de diferentes cidades. Caso a modificação seja aprovada, as localidades que hoje não sintonizam a propaganda de seus respectivos candidatos poderão conhecer as propostas de cada um. A medida pode causar interferência inclusive na programação das tevês do Distrito Federal, onde não são realizadas eleições para prefeito e vereador.

O texto com as novas regras deve ser votado pelo TSE até o fim do mês. Antes disso, um grupo de trabalho comandado pelo relator da matéria, ministro Arnaldo Versiani, deve se reunir com entidades do setor de comunicação para coletar sugestões para o novo texto. "O fato de existirem poucas emissoras passa por uma questão política e de custo. É muito caro se fazer televisão hoje, principalmente quanto a equipamentos e produção", avalia o diretor de Assuntos Legais da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Rodolfo Machado Moura.

Uma das alternativas estudadas pelo TSE prevê que, se no município principal de determinada região houver mais de uma emissora, as demais terão que transmitir a propaganda própria dos candidatos a prefeito e vereador das cidades vizinhas. No caso da capital federal, as tevês locais poderiam ter que veicular a propaganda de municípios do Entorno. Ainda não foi definido, no entanto, o critério de quais emissoras deverão passar a propaganda para a cidade principal e quais para as secundárias. Algumas redes, segundo integrantes do TSE, defendem que aquela que tiver maior audiência transmita para a região principal. Outras defendem que a escolha seja por sorteio.

O ministro Versiani admite a hipótese de as tevês do DF transmitirem a propaganda para o Entorno, embora demonstre ser contrário a essa possibilidade. "Seria um problema nós, que não temos eleições municipais, termos que assistir à propaganda eleitoral. Isso não seria adequado", opinou. Ele, porém, avisa que caberá aos tribunais regionais eleitorais (TREs) a definição.

Nas mãos dos TREs

De acordo com o ministro Henrique Neves, do TSE, as novidades nas propagandas deste ano decorrem da minirreforma eleitoral. "Até 2008, nas últimas eleições municipais, os partidos poderiam pedir para reservar 10% do tempo de propaganda para transmitir aos municípios que não têm geradora própria. Na prática, isso não ocorria muito, com exceção do Rio de Janeiro. Os diretórios regionais, talvez por interesse de deixar o tempo total para a capital, não selecionavam os municípios que teriam direito a esses 10%", explica.

Um dos pontos previstos na resolução é que a apuração e a definição dos municípios contemplados com a transmissão ficará a cargo dos TREs. O problema é que a maior parte dos tribunais não têm o controle sobre a quantidade de cidades capazes de produzir propagandas próprias. "A gente espera que esse trabalho de mapeamento pelos TREs, com o nosso auxílio e com a colaboração do Ministério das Comunicações, possa ser feito nos meses de março e abril", afirmou Versiani. "O que sabemos é que menos de 10% dos municípios têm propaganda própria."

O ministro sintetizou qual será a proposta do TSE. "O objetivo da minuta é fazer com que os municípios realmente grandes, que sejam vizinhos das capitais, tenham propaganda própria na TV. A gente quer adotar uma experiência que o Rio de Janeiro já fez nas eleições de 2008. São municípios importantes, localizados próximos à capital, que ficam privados da propaganda", detalhou Versiani.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Recife: Costa recebe aliados e oposicionistas

O Carnaval é sempre um bom termômetro para os políticos medirem a popularidade. Em ano de eleitoral, vale também sentir como está o clima entre os aliados e adversários. É com esse espírito que o prefeito do Recife, João da Costa (PT), recebe hoje em sua casa, no bairro da Macaxeira, vereadores e deputados federais da base governista e também da oposição. É de domínio público que o petista enfrenta fortes resistências entre aliados e correligionários, que se negam a apoiá-lo para mais um mandato. O almoço será uma oportunidade cavada pelo prefeito para se aproximar dos deputados federais e vereadores, tentando, assim, diminuir as arestas, já que passado o período de momo, não haverá mais como adiar o debate em torno da sucessão.

O anúncio do almoço, entretanto, foi uma das principais polêmicas da semana passada envolvendo João da Costa. Causou mal estar porque embora o encontro estivesse sendo tratado por interlocutores da prefeitura como um evento privado, alguns vereadores reclamaram da “pompa” institucional empregada na divulgação do evento e ainda da exclusão de alguns nomes da Casa da lista de convidados.

Um dos questionamentos foi o fato de os convites para o almoço terem sido impressos em papel timbrado da PCR, e enviados pelo cerimonial da própria Prefeitura. Muitos entenderam tratar-se de um almoço oficial e consideraram “deselegante” a atitude do prefeito em deixar de lado vereadores que fazem oposição ou são desafetos políticos, a exemplo do ex-presidente da Câmara, que cumpriu mandato nos dois primeiros anos da gestão do prefeito, Múcio Magalhães (PT). Oposicionistas como Priscila Krause (DEM), Aline Mariano (PSDB) e Sérgio Magalhães (PSD) também ficaram de fora. Após a repercussão negativa do fato, o prefeito recuou, enviando convites para os vereadores antes “esquecidos”. (B.S)

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

BH: Disputa interna pelo vice

O PT de Belo Horizonte ainda nem resolveu a briga interna para ver se apoia ou não a reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB) e uma outra disputa avança no bastidor: quem vai ser o vice na chapa do socialista. Rompido com o atual companheiro, Roberto Carvalho – que inclusive trabalha por uma candidatura própria do partido –, Lacerda deverá ter um outro petista ao seu lado para concorrer a mais quatro anos de mandato. Pelo menos quatro nomes se movimentam com mais força pela vaga, que pode ser ainda mais atraente. Com a possibilidade de Lacerda concorrer ao governo do estado em 2014, o novo vice pode ser alçado a titular para os dois anos restantes à frente da prefeitura.

Nomes colocados, o quadro só deve se definir em 18 de março. Nesta data serão eleitos os delegados para o encontro da legenda que escolherá a tática eleitoral. Esta pode caminhar para o apoio a Lacerda ou um nome do PT como cabeça de chapa. Certos de que a primeira opção vai vencer, apoiadores da aliança tentam emplacar um vice. Estão no páreo o presidente estadual do PT, Reginaldo Lopes, o deputado federal Miguel Corrêa Junior, o ex-deputado federal Virgílio Guimarães e o estadual André Quintão. Por fora correm também, sem grandes chances, os nomes do deputado estadual Paulo Lamac e do secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães.

Tudo vai depender de quem tem o maior grupo. Os mais empenhados em garantir a vaga de vice seriam Miguel e André. O primeiro leva vantagem por ter um grande número de apoiadores no PT de BH. É aliado de primeira hora do ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e tem trânsito entre os vereadores de BH. Já André Quintão tem a seu favor o fato de representar o grupo do ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, que agrega uma grande ala do partido. Reginaldo Lopes, apesar de ser outra opção para pacificar o partido, poderia abrir mão em favor de Miguel Corrêa. Virgílio Guimarães também estaria disponibilizando o nome, mas sem trazer consigo um grupo de peso.

O trabalho é para evitar levar a escolha do vice para a votação. O PT já antecipou seu calendário deixando para janeiro a inscrição das teses de atuação nas eleições e quer definir o mais cedo possível a chapa para as eleições. Por enquanto, os "candidatos" a vice adotam a cautela. André Quintão disse desconhecer seu nome entre as possibilidades. "A prioridade do PT neste momento é decidir se vai apoiar ou não o Marcio Lacerda, definir qual será a tática eleitoral. Qualquer discussão sobre vice é prematura", afirmou.

Discurso semelhante tem Reginaldo Lopes, que transferiu seu título eleitoral para Belo Horizonte. Apesar da mudança, ele nega que tenha relação com a composição de chapa. "Vim para ajudar na unidade partidária. Essa questão de ser vice é uma conjuntura política do partido, não existe candidato a vice e portanto eu não sou", afirmou.

Já Miguel Corrêa indicou a disposição de entrar na chapa, mas acredita que só dentro de dois meses isso será decidido. "Toda pessoa que está na vida pública e tem carinho especial por sua cidade quer. Para mim, seria uma honra compor chapa com o Marcio Lacerda", afirmou. (J.C)

FONTE: ESTADO DE MINAS

Discurso afinado em um clique

A oito meses da escolha de prefeitos e vereadores, sites de consultoria política proliferam, com ofertas de serviços que vão de conselhos à preparação de textos para os candidatos

Juliana Cipriani

Falar bem – e conquistar votos pela palavra – é uma arte que nem sempre os candidatos dominam, mas isso está longe de ser um problema. Na internet, em sites de consultoria política, é só preencher formulários e receber pronto o material feito por especialistas da área. O serviço pode custar de R$ 200 a R$ 3 mil. O mercado das campanhas eleitorais para candidatos a vereador e prefeito em outubro já se movimenta. Aliás, "já" não é o termo ideal neste caso. A filosofia ensinada é que quem quer conquistar uma cadeira no Executivo ou no Legislativo já está é atrasado para começar a trabalhar sua imagem.

Promessas de bons resultados estão ao alcance de todos. "Solicite um discurso clicando aqui", diz um site. Os especialistas ensinam palavras-chave e dão dicas de roupas para fazer corpo a corpo. Tudo precisamente calculado para garantir o seu voto. Um discurso simples e uma linguagem metafórica. É a dica do especialista em marketing político Luiz Roberto Dalpiaz Rech, de Porto Alegre, há 28 anos no ramo. "Está aí o maior comunicador do mundo, que foi Jesus Cristo, para comprovar. Ele falava por parábolas. O ex-presidente Lula usava metáforas. As pessoas entendem mais fácil", disse.

Mas a sugestão é genérica. Para elaborar um discurso mesmo, segundo Roberto, é preciso encaixar as palavras ao perfil do pretenso político. Como regras básicas, ele indica adotar uma fala positiva. "Jamais fazer discursos depressivos e deve-se evitar a palavra não, que geralmente é ignorada pelo inconsciente no meio da fala". Agora, prestou atenção? Então, "agora" é uma palavra indicada para trazer de volta a atenção do eleitor distraído. Roberto aconselha o candidato a não falar mal de concorrentes, mas, se o fizer, que use o "mas" e destile o veneno depois de dizer algo positivo. Isso anulará tudo de bom que falou antes.

Para estimular a participação do seu interlocutor, o político deve trabalhar canais sensoriais para três tipos de espectadores. Use o verbo "veja", para atrair pessoas mais focadas no visual, "ouça" para os auditivos e "sinta" para os sinestésicos. O consultor fala ainda em "âncoras", que são palavras, cheiros ou características que podem se tornar marcas dos candidatos. Toda a consultoria é virtual. "Tem candidato que assessorei sem nunca apertar sua mão", diz Roberto. O interessado diz o assunto que deseja abordar e preenche um formulário de duas páginas com várias perguntas antes de receber o discurso pronto.

Uma assessoria política para campanha de vereador fica, em média, em R$ 8 mil . Mas o ideal, segundo os marqueteiros, é planejar até dois anos antes, o que dobra os custos. Um discurso pela internet, segundo Roberto, pode custar de R$ 300 a R$ 1,5 mil. A reportagem achou preço menor. Em uma outra consultoria, o publicitário Sullyvan Andrade cobra R$ 199,99 por lauda. Em seu site, ele ensina que deve haver introdução, desenvolvimento com problemas e soluções e o resgate da autoestima do eleitor. Também é preciso demonstrar fé e sentimento de localidade. Segundo as dicas, o nome do candidato, o slogan e o número devem ser repetidos três vezes.

Parentes e amigos

Outro especialista em assessoria política, Marco Iten também diz que uma campanha bem organizada para vereador deve começar cedo. É conversar com vizinhos, parentes, amigos e conhecidos. Há 30 anos no mercado, ele aconselha: "Em um ambiente de mais disputa e uma certa resistência ao político, chegar na frente é importante". Não há padrão de preços, segundo ele. Em Belo Horizonte, por exemplo, a preparação de um candidato a vereador pode custar de R$ 50 mil a R$ 100 mil. Uma campanha inteira estaria na cifra dos milhões. Mas depende do perfil do candidato. Enquanto uns podem precisar de fonoaudiólogo e media training, outros podem agregar segmentos importantes e, com isso, obter multiplicadores de graça.

O discurso também depende do candidato e do eleitor. É preciso conhecer o problema da localidade aonde se vai e tocar no assunto prometendo resultado. Postura e vestimenta adequadas contam tanto quanto as palavras e entonação. Se estiver falando com um público da terceira idade, por exemplo, Marco Iten ensina que se deve evitar falar em futuro.

"Assuntos mais ligados à família, realização, bem-estar e saúde são ideais, além de escutar mais do que falar." Para os jovens, discursos rápidos e linguagem próxima. Se puder mostrar intimidade com tecnologias e coisas próximas ao universo deles, melhor. Termos como juventude, trabalho, família e um toque de bom humor são indicados. A profissão do candidato também norteia o trabalho. Um jornalista, por exemplo, pode falar em conhecimento para transformar. Já um médico usaria palavras como vida, tratar e cuidar do eleitor.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Em carta, 12 países pedem prioridade ao crescimento

Alemanha e França ficam de fora de movimento liderado pelo primeiro-ministro italiano, Mario Monti

Os protestos populares em Atenas há dez dias parecem ter servido para reverter a predominância da filosofia da austeridade sobre o estímulo ao crescimento que reinava na União Europeia. Ontem, chefes de Estado e de governo de 12 países entregaram uma carta ao Conselho Europeu e à Comissão Europeia pedindo a reorientação das políticas econômicas do bloco. Para eles, a crise das dívidas também se deve à falta de crescimento.

A recepção da carta foi confirmada por assessores de Herman Van Rompuy, presidente do conselho, e José Manuel Durão Barroso, da comissão. Entre as assinaturas constam a do primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, e a do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron. Completam a lista os líderes políticos da Espanha, Mariano Rajoy, além de Holanda, Irlanda, Suécia, Polônia, República Checa, Eslováquia, Estônia e Letônia.

No texto, os líderes afirmam: "A crise à qual estamos confrontados é igualmente uma crise de crescimento". Para contorná-la, os signatários pedem a adoção de políticas de estímulo à economia e a liberação de mercados e serviços no interior da UE.

O principal porta-voz do grupo é Monti, que visitou líderes políticos de Alemanha, França e Inglaterra nas últimas semanas com o objetivo de convencê-los a inverter a prioridade acordada ao rigor no interior do bloco.

Em recente discurso em Milão, Monti defendeu que a prioridade da Europa na crise grega deveria ser a de relançar o crescimento. "Eu creio que na ocasião da cúpula europeia de 1.º e 2 de março veremos uma União Europeia que concentrará energia no crescimento, visto que a fase mais dramática da crise grega terá passado."

Segundo o ministro das Relações Exteriores da Itália, Enzo Moavero, as discussões nos bastidores da UE estão em andamento, em um trabalho de convencimento e conscientização sobre a situação do bloco. "Nós endereçamos as cartas a muitos governos, inclusive os da Alemanha e França, mas nossa cooperação prosseguiu até aqui com os que mostraram interesse de seguir em frente."

Segundo fontes em Bruxelas, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, não assinaram a carta por não concordarem com as propostas de liberalização dos mercados internos na UE. A França, em particular, é sensível ao tema, em especial neste momento em que Sarkozy enfrenta eleições à sucessão, e está em desvantagem frente ao candidato do Partido Socialista (PS), François Hollande.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Espanha e Portugal vivem dia de protestos contra austeridade

Em Valencia, houve manifestações contra os cortes orçamentários e, em Lisboa, contra a privatização da EDP

VALENCIA/ ESPANHA - A Espanha e Portugal viveram ontem mais um dia de protestos contra os planos de austeridade adotado pelos respectivos governos. Em Valencia, no leste da Espanha, diversos incidentes foram registrados, quando a polícia atacou uma manifestação de centenas de estudantes que protestavam contra os cortes orçamentários.

Os jovens, convocados pelas redes sociais, se reuniram na frente do instituto Lluis Vives, um colégio da cidade, para protestar contra os problemas que deixaram várias escolas sem calefação nas últimas semanas porque o governo regional não paga as contas.

Os conflitos começaram entre os manifestantes e um cordão policial que protegia as instalações da instituição e, em seguida, estendeu-se para as ruas próximas quando os jovens se dispersaram. Os policiais usaram cassetetes e alguns manifestantes foram agredidos já caídos no chão. "Houve detidos, mas não sabemos quantos", declarou um porta-voz da polícia.

Já em Lisboa, os trabalhadores da Energias de Portugal (EDP) participaram de manifestação contra a privatização da empresa e dos serviços públicos em geral, alertando ainda para as condições de trabalho de terceirizadas contratadas pela EDP.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Alemanha pressiona Grécia a abrir mão da sua democracia

Wolfgang Münchau - "Financial Times"

Quando o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, propôs que a Grécia adiasse suas eleições como condição para receber nova ajuda, chegamos ao ponto em que o sucesso não é mais compatível com a democracia.

Shäuble quer prevenir uma escolha democrática "errada". Similar é a sugestão de que as eleições aconteçam, mas uma grande coalizão permaneça no poder, independentemente do resultado.

A zona do euro quer impor sua escolha de governo à Grécia, no que a transformaria em sua primeira colônia.

A origem da proposta é um dilema legítimo. Schäuble sabe que é arriscado liberar fundos antes de uma eleição. O que impede que o novo governo mude o acordo? Não ajuda o fato da Grécia ter um histórico ruim de implementar políticas.

Mas, para superar a desconfiança, a zona do euro está procurando garantias inacreditavelmente extremas.

Uma coisa é os credores interferirem no gerenciamento de políticas de um país beneficiário. Outra é dizer a ele para suspender eleições. Na própria Alemanha, isso seria inconstitucional.

Falta de confiança é a razão pela qual o pacote grego foi adiado até o último minuto possível e porque as últimas propostas contêm pedidos tão perigosos, como a presença permanente dos credores e do FMI no país. Logo, haverá mais austeridade e, em algum momento, alguém vai reagir.

A estratégia alemã parece ser tornar a vida na Grécia tão insuportável que os próprios gregos vão querer sair da zona do euro. A chanceler alemã, Angela Merkel, certamente não quer ser vista com uma arma na mão.

É uma estratégia de suicídio assistido, uma tática extremamente perigosa.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Sofrer sem ganhar :: Paul Krugman

Programas de austeridade impostos aos países em crise, especialmente na Europa, têm se revelado, na prática, um fracasso catastrófico

Na semana passada, a Comissão Europeia confirmou o que todos suspeitavam: as economias que ela monitora estão encolhendo, não crescendo. Não é uma recessão oficial ainda, mas a única questão real é qual será a gravidade da retração.

E essa retração está atingindo países que nunca se recuperaram da última recessão. Apesar de todos os problemas dos Estados Unidos, seu produto interno bruto finalmente ultrapassou seu pico anterior à crise; o da Europa, não. E alguns países estão sofrendo dissabores do nível da Grande Depressão: Grécia e Irlanda tiveram quedas de dois dígitos na produção; a Espanha enfrenta 23% de desemprego; e a retração atual da Grã-Bretanha já é mais prolongada que a que enfrentou nos anos 1930.

Pior ainda, alguns líderes europeus - e uma boa quantidade de players americanos influentes - ainda estão casados com a doutrina econômica responsável por esse desastre.

As coisas não precisavam estar tão ruins. A Grécia estaria enfrentando um problema grave independentemente da decisões políticas tomadas, e o mesmo vale, em menor escala, para outros países da periferia da Europa.

Mas as coisas foram agravadas bem mais que o necessário pela maneira como líderes da Europa, e, mais amplamente, sua elite política, substituíram moralização por análise e fantasias pelas lições de história.

Especificamente, a economia de austeridade do começo de 2010 - a insistência de que governos deviam cortar gastos mesmo em face do alto desemprego - virou moda nas capitais europeias. A doutrina afirmava que os efeitos negativos diretos do corte de gastos sobre o emprego seriam compensados por alterações na "confiança", que os cortes de gastos radicais acarretariam um aumento dos gastos industriais e de consumo, enquanto os países que não conseguissem fazer esses cortes sofreriam uma fuga de capitais e uma alta das taxas de juros. Se isso lhe parecer algo que Herbert Hoover poderia ter dito, você está certo: parece mesmo e ele disse.

Agora, os resultados estão visíveis - e eles são exatamente o que três gerações de análise econômica e todas as lições da História poderiam ter-lhes dito que ocorreria. A fada da confiança não apareceu: nenhum dos países que cortaram gastos viu o antecipado crescimento do setor privado. Em vez disso, os efeitos depressivos da austeridade fiscal foram reforçados pela queda dos gastos privados.

Mais ainda, os mercados de bônus continuam sem querer cooperar. Mesmo os bons alunos da austeridade, países que, como Portugal e Irlanda, fizeram tudo que lhes foi pedido, ainda enfrentam custos siderais para a captação de empréstimos. Por quê? Porque os cortes de gastos deprimiram profundamente suas economias, solapando suas bases fiscais de tal maneira que a relação de dívida para o PIB, o indicador do padrão de evolução fiscal, está se agravando ao invés de melhorar.

Enquanto isso, países que não entraram no trem da austeridade - mais especialmente o Japão e os Estados Unidos - continuam tendo custos de captação muito baixos, contrariando as previsões soturnas dos falcões fiscais.

Nem tudo deu errado, porém. No fim do ano passado, os custos para espanhóis e italianos tomarem empréstimos subiram, ameaçando um derretimento financeiro geral. Esses custos agora caíram em meio a suspiros gerais de alívio. Mas a boa nova foi, de fato, um triunfo da antiausteridade: Mario Draghi, o novo presidente do Banco Central Europeu (BCE), desconsiderou os preocupados com inflação e arquitetou uma grande expansão do crédito, que é precisamente o que o médico havia receitado.

O que será preciso, então, para convencer a Convenção da Dor, as pessoas de ambos os lados do Atlântico que insistem em que os cortes permitirão avançarmos para a prosperidade, de que ela está errada? Afinal, os suspeitos de sempre foram rápidos em declarar morta para sempre a ideia do estímulo fiscal, depois que os esforços do presidente Obama não conseguiram produzir uma rápida queda do desemprego - apesar de muitos economistas terem advertido previamente que o estímulo era demasiado pequeno.

Até onde posso dizer, porém, a austeridade ainda é considerada responsável e necessária, apesar de seu fracasso catastrófico na prática.

A questão é que poderíamos realmente fazer muita coisa para ajudar nossas economias pela simples reversão da austeridade destrutiva dos últimos dois anos. Isso vale mesmo para os Estados Unidos, que evitaram uma austeridade estrita em nível federal, mas tiveram grandes cortes de gastos e emprego nos níveis estadual e local. Lembram todo o barulho sobre se havia projetos prontos em número suficiente para tornar factível o estímulo em larga escala? Bem, não importa: tudo que o governo federal precisa fazer para dar um grande impulso à economia é prover ajuda aos governos de níveis inferiores, permitindo que esses governos recontratem as centenas de milhares de professores que dispensaram e recomecem a construir e a manter projetos que cancelaram.

Vejam, eu compreendo por que pessoas influentes relutam em admitir que ideias políticas que, a seu ver, refletiam uma sabedoria profunda na verdade não passam de uma loucura total e destrutiva. Mas já passou da hora de deixarmos para trás as crenças ilusórias sobre as virtudes da austeridade numa economia deprimida. / THE NEW YORK TIMES

Tradução de Celso Paciornik

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO