domingo, 1 de julho de 2012

OPNIÃO DO DIA – Josias de Souza : 2014

Dilma deixou de ser uma opção automática para 2014 entre as legendas que a rodeiam, eis a essência da contradição que ronda o Planalto. A depender da vontade dos gestores de alguns dos mais vistosos tachos partidários, irão ao forno projetos alternativos.

No PT, cresce a torcida para que a saúde e a conjuntura devolvam a Lula a ambição de candidato. Noutras agremiações intensificou-se a busca por paladares novos. Exímio farejador de oportunidades, Eduardo Campos, governador pernambucano e presidente do PSB, atravessa a rua para acenar de outra calçada.

Deve-se o fenômeno às peculiaridades que distinguem a presidência de Dilma das anteriores. Nas palavras de um partidário do projeto de Eduardo Campos, “ela fez um pacto com a opinião pública baseado na exclusão dos partidos.

Nessa versão, Dilma trata as legendas que lhe dão suporte a golpes de vassoura e desprezo. Chegou à fórmula da popularidade fácil adicionando à pseudofaxina críticas aos juros cobrados pelos bancos, tão demonizados quanto os políticos.”

FONTE: BLOG DO JOSIAS

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Setor público paga mais do que empresa privada
Geisel armou Pinochet
O homem que torturou Dilma
Governo vai dar incentivos à cadeia do etanol
CNJ: Brasil tem 150 juizes sob ameaça

FOLHA DE S. PAULO
Droga no Brasil é 'batizada' com anestésico e vermífugo
Edemar ergueu sua casa com verba de banco, diz auditoria
Justiça proíbe operadoras de telefonia de venderem celulares bloqueados

O ESTADO DE S. PAULO
Vereadores de SP burlam painel para votar e ter presença
Eleições 2012: Desafio São Paulo
Estagnada, Petrobras cria plano de emergência
Na curva do rio: Índios temem maldição da hidrelétrica
Brasiguaios festejam o ‘nosso Franco’
Governo vai retomar mutirão de cirurgias

CORREIO BRAZILIENSE
Droga de luxo invade Brasília
Real: 18 anos - O dia em que a inflação perdeu para o Brasil
Transparência: Aposentados são os próximos
Dor de cabeça para Dilma

ESTADO DE MINAS
Filhos do Real
PT lança Roberto Carvalho

ZERO HORA (RS)
Sul lidera atrasos em perícias do INSS
A arquitetura do candidato ideal

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Sobram planos de saúde e falta vaga nos hospitais
Paraguai divide opiniões entre especialistas

As classes médias na berlinda :: Fernando Henrique Cardoso

Desde abril até agora viajei bastante, saindo e voltando ao Brasil. Fui aos Emirados Árabes, ao México, ao Japão, à China e, na semana passada, ainda fui a Buenos Aires. Sempre participando de seminários ou fazendo conferências. Lia, naturalmente, os jornais locais que tinham edição em inglês. Por toda parte, um assunto dominante: a crise econômica. Em alguns países, mesmo com regimes políticos muito diferentes, como China e Brasil ou Argentina, alguma preocupação com a corrupção. Nessa mesmice, li com prazer em Buenos Aires, no La Nación, um artigo de Marcos Aguines, O orgulho da classe média, reproduzido no dia seguinte em O Globo.

Aguines desacredita da visão, que predominava nos círculos de esquerda, de que a classe média - a pequena burguesia, como era chamada - seria a Geni da História. Fascinados pelo papel revolucionário e liberador da revolução proletária e, mais tarde, pelo ímpeto das massas ascendentes, os ideólogos de esquerda - e não só eles, pois a moda pegou - não viam mais do que atraso e mesquinhez na classe média, os "desvios" pequeno-burgueses e a tibiez que lhe tiravam o ímpeto para transformar a sociedade. Provavelmente, em certas conjunturas históricas, especialmente na velha Europa, era assim que as classes médias agiam. Basta ler os romances de Balzac como Eugénie Grandet ou O Pai Goriot para sentir que essas camadas ficavam apequenadas, mesquinhas, diante da burguesia vitoriosa ou da nobreza decadente aliada à mesma. Entretanto, terá sido essa a posição das classes médias nas Américas e nos países de imigração?

Dou a palavra a Aguines: na Argentina, tanto no campo como nas cidades, as classes médias se expandiram e começaram a construir valores que deram suporte para três culturas, "a cultura do trabalho, a cultura do esforço e a cultura da honestidade". O mesmo, acrescento, terá ocorrido na Austrália ou no Canadá e, de outra maneira, nos Estados Unidos. E no caso brasileiro, terá sido distinto? Esmagadas entre a escravidão e o senhorio rural, agraciadas aqui e ali com algum título não hereditário durante o Império, as classes médias urbanas, compostas por profissionais liberais, funcionários públicos, militares, professores e poucas categorias urbanas mais, no que se iriam apoiar para manter as distinções e realizar algo na vida? Basicamente, na escola e nos valores familiares que levam ao trabalho. Tudo com muito esforço.

Com a chegada dos imigrantes, à medida que estes, motivados pelas necessidades de trabalhar, "faziam a América", do mesmo modo se incorporaram às classes médias trilhando os caminhos do estudo e buscando ostentar a "boa moral". No percurso dessa camada de imigrantes se viu a formação de algo que poderia se aproximar de uma "burguesia pequena", ou pequena burguesia: sua base econômica, em maior número do que no caso das populações brasileiras mais antigas, provinha de um pequeno negócio. Ainda assim sua inserção na sociedade e sua gradação social eram dadas pelas mesmas virtudes das antigas classes médias, a valorização do trabalho, o estudo "para subir na vida", a honestidade.

A própria base operária brasileira, a camada dos trabalhadores, usando outros instrumentos de ascensão social, como os sindicatos, e mantendo o ideal de trabalhar por conta própria, não fugiu deste padrão: escola-trabalho-decência. Obviamente, quando a sociedade se massifica, quando os meios de comunicação, TV à frente e, agora, a internet, dão os compassos da dança, o quadro é menos nítido. Já não se vê com clareza que valores guiam as chamadas classes médias emergentes. Mesmo que haja exagero na insistência com que se repete que milhões e milhões de brasileiros estão ingressando nas "novas classes médias", pois por enquanto se trata de novas categorias de renda, mais do que propriamente de uma nova "classe social", a transformação da renda em classe é questão de tempo: esta vai se formando. Seus membros pouco a pouco irão frequentar escolas razoáveis, criar uma teia de relações com acesso aos mesmos clubes e gozar das mesmas facilidades de recreação, trajar-se mais ou menos de modo igual (o que já ocorre), desenvolver uma cultura de trabalho qualificado e, de novo, comportar-se valorizando a decência e a honestidade.

Como se comportarão essas classes emergentes na política, quando se transformarem numa categoria social com características, anseios e valores próprios? É provável que se juntem, nas formas de comportamento e nos valores, às classes médias preexistentes. Estas, no momento, se sentem um tanto desconectadas da instituição que, sem ser a única, lhes abrigou e deu influência: o governo, o Estado. Justamente porque a política vem sendo percebida cada vez mais como um jogo de vale-tudo, onde a moral conta menos do que o resultado.

É hora, por isso mesmo, de reforçar, e não de menosprezar, os valores fundamentais ditos "de classe média" - estudo, trabalho, honestidade. Valores culturais não se impõem por lei, são modelos de conduta aos quais se juntam sentimentos positivos. Só a exemplaridade e a repetição enaltecida deles (na escola, na família, na mídia e na vida pública) vão aos poucos inculcando na mentalidade geral as formas que definem o que é bom, o que é ruim. Minha aposta é a de acreditar, como crê Aguines, que a velha e boa classe média, que já contribuiu para a formação da nação, ainda pode ter papel relevante e será capaz de contagiar com seus valores as camadas emergentes, pois estas a eles já são predispostas: melhoraram a renda com esforço e trabalho.

É certo que o descaso em nossa vida pública pelos valores básicos das classes médias diminui as chances de que eles venham a prevalecer. Há oportunidades, entretanto, para reforçá-los. O julgamento do mensalão é uma delas. Seja qual for o resultado, se o Supremo Tribunal Federal se comportar institucionalmente, sem medo de condenar ou de absolver, desde que explicando o porquê e sendo transparente, pode ajudar a demarcar os limites do inaceitável. Nem só de pão vive o homem. A decência e a honestidade são partes da vida. Convém reforçar os comportamentos que se inspiram nelas.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo; foi presidente da República

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Máquina pública em busca da reeleição

No Rio, prefeitos intensificam publicidade institucional, ações sociais e inaugurações de obras para se promover

Cássio Bruno, Dório Ewbank Victor

O uso da máquina pública por prefeitos no estado do Rio se intensificou antes do início oficial da campanha, marcada para a próxima sexta-feira. Candidatos à reeleição, eles investem de forma excessiva em propaganda institucional, realização gratuita de serviço sociais e inaugurações e visitas de obras, o que configura crime para a Justiça Eleitoral.

Em Nova Iguaçu, a prefeita Sheila Gama (PDT) contratou uma agência de publicidade por R$ 5 milhões. Até a última semana havia distribuição de jornais informativos com notícias sobre a administração da pedetista, além de anúncios de futuros projetos. Também é possível ver outdoors com as mesmas propagandas.

Uma das promessas divulgadas é o aeromóvel (veículo leve sobre trilhos). A iniciativa, apresentada há um ano e meio, nunca saiu do papel. Vai custar R$ 279 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. Segundo o Ministério das Cidades, não há previsão do dinheiro ser repassado. Sheila também recorre a ações sociais e visitas a obras. Na semana passada, ela esteve no bairro Mangueira com o candidato a vereador Nagi Almawy (PDT).

Em São João de Meriti, o prefeito Sandro Matos (PDT) faz reuniões com moradores, chamada de "prestação de contas". Nos encontros, Matos exibe vídeos com as ações de seu governo. Em março deste ano, Matos foi a Vilar dos Teles, no centro cultural do vereador Bebeto da Veggi (PHS), também candidato à reeleição. Pelo menos 500 moradores compareceram. No local, ele falou sobre a reforma de escolas e melhorias no sistema de drenagem na cidade.

Em Caxias, três representações contra Zito

Prefeitos de Campos e da capital aceleram a entrega de obras

Três representações por propaganda eleitoral extemporânea já pesam sobre o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito (PP), que tenta a reeleição. O Ministério Público o acusa de ter feito campanha antecipada por meio de adesivos, mídias sociais e também em um informe publicitário com as realizações do governo .

Em Campos, a prefeita Rosinha Garotinho (PR) faz propaganda institucional na cidade, parte dela no bairro da Lapa, onde mora. Toda região recebe obras de infraestrutura. A publicidade pode ser encontrada em postes e praças. Rosinha tentará a reeleição.

Na capital, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) acelerou as inaugurações de obras este ano. Em 6 de junho, o ex-presidente Lula pediu votos para o peemedebista durante a inauguração da Transoeste.

Para Maurício da Rocha Ribeiro, procurador Regional Eleitoral do Ministério Público Federal, as iniciativas tomadas pelos prefeitos caracterizam propaganda antecipada e uso da máquina pública:

- Eleição municipal é um inferno. Os prefeitos têm a máquina pública nas mãos. Os promotores eleitorais dos município têm a obrigação de fiscalizar.

Na quinta-feira, a Justiça Eleitoral tornou o prefeito de Maricá, Washington Quaquá (PT), inelegível por oito anos por ele ter distribuído notebooks a alunos da rede municipal, o que teria o beneficiado eleitoralmente. Em Niterói, o prefeito Jorge Roberto Silveira (PDT), que não disputará a reeleição, ficou inelegível por propaganda antecipada.

É dever prestar contas, diz prefeito

O prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos, afirma que realiza as "prestações de contas" desde 2009, quando ainda não era candidato à reeleição. Segundo ele, as reuniões não ocorreram apenas no centro cultural do vereador Bebeto da Veggi, mas também em igrejas e escolas particulares.

- É um dever do agente público prestar contas - diz Sandro Matos.

Em nota, o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, também nega qualquer irregularidade.

O procurador-geral de Campos, Fabrício Ribeiro, explica que as propagandas institucionais têm o objetivo de informar o cidadão como estão sendo aplicadas as receitas públicas do município.

Procurada pelo GLOBO, a prefeita de Nova Iguaçu, Sheila Gama, não comentou o caso.

FONTE: O GLOBO

PSB quer deixar papel de coadjuvante do PT

A estratégia do PSB de ganhar capilaridade nos municípios brasileiros tem como objetivo fortalecer a legenda para disputar, no futuro, a sucessão presidencial. A avaliação é do cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Marco Antônio Carvalho Teixeira, segundo o qual o partido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pretende deixar de ser uma linha auxiliar do PT no cenário eleitoral. O analista político considera ainda que o crescimento do número de candidaturas do PSDB nas eleições municipais deste ano faz parte do projeto do partido de voltar a ser uma legenda de expressão nacional, o que deixou de ser nos últimos anos.

O GLOBO: Qual a estratégia do PSB em aumentar o número de candidaturas nas capitais estaduais?

MARCO ANTÔNIO TEIXEIRA: O PSB está tentando eliminar a visão de que é um ator coadjuvante no cenário eleitoral, uma linha auxiliar do PT. Ele vislumbra se consolidar como um partido forte. E o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tem também as suas ambições. Ele quer se consolidar como liderança nacional, possivelmente tornar-se candidato a vice na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. E para isso o PSB tem de sair mais fortalecido.

O PSB tem potencial de ameaçar a hegemonia do PMDB nos municípios?

TEIXEIRA: Não acredito. O PMDB é um partido já muito fortalecido, sobretudo nos municípios. O PSB é um partido mais urbano, que se concentra nas grandes capitais brasileiras. O PSB só tem presença no interior em Pernambuco e no Ceará, estados em que governa.

A política de alianças adotada pelo PT poderá enfraquecer o partido?

TEIXEIRA: Sim, poderá. O enfraquecimento se reflete, por exemplo, nas eleições municipais de São Paulo. A maior parte daquela que era a base aliada do PT migrou para outros partidos. A sigla conta em São Paulo, basicamente, com PCdoB e com PSB, que continua no governo de Gilberto Kassab.

A desidratação do DEM pode beneficiar o crescimento do PSDB nos municípios brasileiros?

TEIXEIRA: No geral, sim. Em Salvador, no entanto, prejudicou o PSDB, que teve de abrir mão da candidatura. Há ganhos nacionais, mas perdas locais. A eleição deste ano será a primeira do DEM depois da criação do PSD. É mais do que compreensível que o partido esteja enfraquecido e tenha menos capacidade de lançar candidatura próprias.

O tempo de TV concedido ao PSD pode influenciar no resultado das eleições?

TEIXEIRA: Não acredito. O máximo que pode influenciar é em maior palanque eletrônico para candidatos apoiados pelo PSD. A decisão do Tribunal Superior Eleitoral fortaleceu o PSD dentro das coligações de que ele faz parte.

FONTE: O GLOBO

Jorge Roberto encerra ciclo político em Niterói

Eleito com mais de 60% dos votos em 2008, prefeito desiste da reeleição amargando a rejeição de 72% dos eleitores

Renato Onofre

Na semana em que anunciou o fim de seu ciclo político à frente da prefeitura de Niterói, o prefeito Jorge Roberto Silveira (PDT) lembrou das marcas de suas quatro gestões e admitiu que hoje o município precisa de um novo modo de administrar.

Eleito em 2008 com mais de 60% dos votos, Jorginho, como era chamado, viu seu índice de aprovação despencar, fazendo com que ele sequer tentasse a reeleição (o correligionário Felipe Peixoto tentará a vaga), e frustando o projeto do grupo político liderado por ele, que há pelo menos 20 anos está no centro do poder da cidade. Em fevereiro, uma pesquisa do IBPS apontou um índice de rejeição ao prefeito de 72%.

Para Sandro Corrêa, cientista político e pesquisador da UFRJ, alguns fatores explicam o desgaste político do prefeito:

- O excesso de tempo no poder e a nova dinâmica da cidade. Depois de anos à frente de Niterói, ele tem um desgaste como num casamento que acabou em separação. Além disso, hoje, quase cem mil eleitores têm menos de 30 anos. É uma geração que só viu Jorge Roberto como prefeito. Então, a cobrança é somente em cima dele e de suas promessas, cumpridas ou não.

Entre suas realizações, as que mais se destacaram foram a construção do Museu de Arte Contemporânea (MAC) e a implantação do Programa Médico de Família, importado de Cuba e copiado nacionalmente. Por outro lado, em sua última campanha, Jorge Roberto colocou entre suas promessas a conclusão do complexo arquitetônico. Este, no entanto, a seis meses do fim do mandato, está longe de ser concluído.

- Se fosse com qualquer outro, a aprovação seria maior, mas ela não é tão boa como eu gostaria porque sou eu o prefeito. É a expectativa - afirmou.

FONTE O GLOBO

Aliança dará a Paes mais da metade do tempo de TV

Com 20 siglas, prefeito do Rio terá 16 minutos

Italo Nogueira e Paulo Gama

RIO, SÃO PAULO - A mega-aliança de 20 partidos formada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), garantiu ao candidato à reeleição mais da metade do tempo de TV destinado à propaganda eleitoral.

Paes terá mais de 16 minutos em cada bloco do horário político, de 30 minutos de duração. Sua coligação é maior que a do governador Sérgio Cabral (PMDB) em 2010, que teve 16 partidos.

Para definir a duração da propaganda, a Justiça considera o número de deputados federais que cada partido da coligação elegeu em 2010. Por isso a ampla aliança formada por Paes lhe dá vantagem.

O tempo do atual prefeito na TV será três vezes maior do que o do segundo colocado na divisão, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM).

Maia terá pouco menos de quatro minutos para fazer sua campanha. Ele perdeu quase um minuto após o STF definir que o PSD, que apoia Paes, terá direito a participar da divisão do tempo.

Com a supremacia do peemedebista, os adversários do prefeito negociam um pacto de não agressão. O foco será atacar o que consideram pontos fracos de Paes para tentar provocar um segundo turno.

Também apostam na internet como alternativa para driblar o domínio de Paes na TV.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Schneider é confirmado como vice de Serra

Bruno Boghossian e Julia Duailibi

O pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, escolheu Alexandre Schneider (PSD), ex-secretário municipal de Educação, para a vaga de vice em sua chapa.

A informação foi confirmada ontem ao Estado pela coordenação de campanha do candidato. Schneider é uma indicação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD). O nome sofria oposição do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Ontem à noite, após tensa reunião no Palácio dos Bandeirantes, da qual participaram o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) e o secretário-chefe da Casa Civil, o também tucano Sidney Beraldo, Serra conseguiu o aval de Alckmin para confirmar Schneider na chapa.

O Estado apurou que o governador resistiu ao nome do ex-secretário, que abandonou o PSDB em 2011 para embarcar no partido de Kassab, que derrotou Alckmin na campanha municipal de 2008. O prefeito e Alckmin são adversários políticos no Estado.

Alckmin disse que não seria bom para o PSDB ter na vice alguém que havia abandonado o partido e contra quem há resistências entre os tucanos. Também argumentou que o PSD, de Kassab, estava aliado ao PT em diversas cidades no Estado, o que tornava também ruim a nomeação de um vice do partido.

Supremo. Para Serra e Aloysio, segundo relatos do encontro, a indicação deveria ser de Kassab, que se fortaleceu depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu conceder uma fatia maior de tempo ao PSD na propaganda eleitoral na televisão. Também destacaram que Kassab conseguiu articular o apoio de partidos, como o PV e o PR, para a campanha de Serra. O PTB e o PP, que são da base de Alckmin, por exemplo, decidiram que não vão apoiar a candidatura tucana.

No encontro no fim da noite, Alckmin manteve as barreiras à indicação de Schneider, que conta com o apoio da equipe de marketing do candidato. Ele é considerado um rosto novo numa eleição que terá candidatos que nunca disputaram uma campanha, como Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB).

Além disso, Schneider tem no currículo a educação como principal especialidade - o que, em tese, pode ajudar nos embates com Haddad e Chalita, que foram ministro e secretário estadual de Educação, respectivamente. Ambos já indicaram que vão trazer para o debate eleitoral temas como o déficit de vagas em creches. Schneider poderá servir de escudo aos ataques, alegando ter triplicado as vagas.

Serra já queria a indicação de Kassab, mas passou a sofrer pressões do PSDB para que o candidato a vice fosse do próprio partido. A decisão do STF que ampliou a participação do PSD no rateio do tempo de TV na propaganda eleitoral empurrou Serra na direção do nome indicado por Kassab. Antes da decisão judicial, o PSD teria direito a uma pequena fatia do horário eleitoral e do Fundo Partidário, por não ter participado da última eleição - a sigla foi criada em 2011. Agora, ganhou força ao deixar Serra com o maior tempo na propaganda eleitoral: 7min42s, contra 7min30s de Haddad.

Um corintiano que já pensava em ser prefeito

Ex-secretário municipal de Educação da gestão Gilberto Kassab, Alexandre Schneider ficou seis anos no cargo e trocou, no ano passado, o PSDB pelo PSD. Na época, comentava a pessoas próximas que não tinha interesse em se candidatar a vereador neste ano. Não escondia o desejo de um dia ser prefeito ou disputar um cargo majoritário. A vaga de vice na chapa de José Serra (PSDB) vai de encontro a esse desejo.

O ex-secretário sempre foi o nome preferido de Kassab para a vice de Serra. Ele deixou o cargo de secretário em abril, esperando a decisão final da coligação.
Schneider participou também do governo Mário Covas e foi adjunto de Aloysio Nunes Ferreira na Secretaria de Governo desde o início da gestão Serra na Prefeitura. Embora tenha deixado o PSDB, mantém a boa relação com Aloysio.

Aos 42 anos, é casado e tem três filhos. Seu time do coração é o Corinthians.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em Belo Horizonte, PT rompe com PSB e lança Roberto Carvalho

O Partido dos Trabalhadores decidiu por candidatura própria à prefeitura e aclamou o atual vice para enfrentar Marcio Lacerda (PSB). Fim da aliança com petistas deixa Lacerda sem companheiro de chapa e novo nome deve ser indicado pelo PSDB.

PT rompe aliança com Lacerda

Partido não aceita decisão do PSB de sair sozinho na disputa por vagas na Câmara e lança Roberto Carvalho candidato a prefeito. Descontentes esperam uma intervenção nacional

Isabella Souto

Meses depois de negociações e polêmicas, a novela envolvendo PT, PSB e PSDB teve um final inesperado: o fim da aliança que há quatro anos elegeu Marcio Lacerda (PSB) prefeito de Belo Horizonte. No início da noite de ontem – último dia para as convenções partidárias –, a Executiva Municipal do PT aprovou por 11 votos a quatro a indicação do vice-prefeito Roberto Carvalho como candidato do partido. Os tucanos, que também fizeram convenção ontem, comemoraram a decisão e deixaram a ata em aberto para tentar indicar o candidato a vice-prefeito. Para que o quadro mude é discutida a possibilidade de intervenção por parte da direção nacional do PSB para manter a principal reivindicação dos petistas, a coligação proporcional. Do lado do PT, ninguém acredita em interferências.

A reviravolta foi causada por uma carta enviada à convenção petista pelo PSB em que o presidente municipal, João Marcos Lobo, deixou claro que a legenda "decidiu lançar chapa própria para a eleição dos vereadores". Até então, a expectativa – e exigência – do PT para se manter na aliança era a composição na briga pelas 41 cadeiras de vereador. A carta foi lida em uma reunião tensa e marcada pela emoção. Os 11 petistas que votaram pela candidatura própria reclamaram de "traição" por parte do PSB e reafirmaram a necessidade de o PT de Belo Horizonte se impor.

"Quem está rompendo é o PSB, ao nos desrespeitar e descumprir um acordo. Ou nós nos colocamos como partido ou não seremos mais nada", afirmou Carvalho, ao proferir seu voto, sendo fortemente aplaudido. Até então, a convenção marcada para as 17h de ontem serviria apenas para que os cerca de 500 convencionais homologassem o nome de Miguel Correa Jr. como candidato a vice de Lacerda e a aliança com o PSB para a chapa de vereadores. Sem ter o partido do prefeito na coligação, a expectativa do PT era eleger três ou quatro vereadores – contra os atuais sete –, daí a opção por lançar candidato próprio, o que fortalece a legenda e a chapa proporcional.

A Executiva Nacional do PT se esquivou ontem de comentar o resultado final. A reportagem tentou falar por várias vezes com o presidente nacional do PT, deputado estadual em São Paulo Rui Falcão, sobre a possibilidade de intervenção, mas ele não retornou as ligações. A vereadora Neusinha Santos, aliada de Roberto Carvalho, disse que o diretório municipal teve a garantia do comando nacional de que não intervirá. Membro do diretório nacional, Gleber Naime referendou: "A direção nacional acompanhou o compromisso do PSB de fazer a coligação proporcional. Acho que a nacional não vai intervir".

TRAIÇÃO. Logo depois da decisão do PT , o deputado federal Miguel Correa Jr., o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel, o presidente estadual do PT, Reginaldo Lopes – que haviam comparecido à convenção do PSB que confirmou Lacerda –, e outras lideranças favoráveis à aliança com os socialistas se reuniram. Eles teriam recebido a garantia do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, de que será revista a decisão da legenda na capital, de forma a assegurar o acordo em torno da proporcional. O processo seria conduzido pelo secretário nacional do PSB, Carlos Siqueira, que desembarca hoje à noite em Belo Horizonte.

Caso contrário, o grupo petista que até então defendia a aliança com Marcio Lacerda promete fazer campanha para Roberto Carvalho, até porque também classificaram a atitude dos socialistas como traição. Na ata da convenção realizada ontem ficou em aberto o nome do candidato a vice-prefeito e a chapa de vereadores. Isso porque o PT ainda vai conversar com lideranças do PRB, PC do B e do próprio PMDB, que já oficializou a candidatura a prefeito do deputado federal Leornardo Quintão. O objetivo do PT é repetir em Belo Horizonte a aliança que elegeu Dilma Rousseff (PT) presidente da República e Michel Temer (PMDB) como vice-presidente. Lacerda não foi encontrado para comentar o rompimento do PT.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Se o PT voltar, PSDB está fora

A possibilidade de a direção nacional do PSB intervir em Belo Horizonte, pode provocar uma debandada ainda maior

Alessandra Mello e Leonardo Augusto

Uma possível intervenção da direção nacional do PSB para garantir a aliança com o PT na disputa por vagas na Câmara e evitar a candidatura própria de Roberto Carvalho (PT) pode esvaziar a chapa do prefeito Marcio Lacerda (PSB) que tentará a reeleição. Se o PSB for forçado a fazer coligação proporcional com os petistas, o PSDB vai se retirar da aliança e promete levar junto com ele PPS, PR e PP, além de quase todas as legendas nanicas. Caso haja mesmo interferência da direção nacional socialista em favor dos petistas, Lacerda terá a garantia apenas em sua chapa do PCdoB , PSD, PTdoB, PRP e do PT que, independentemente do resultado vai disputar essa eleição completamente rachado, a exemplo do que aconteceu em 2008. O presidente do PSB da capital, João Marcos Lobo, garante que não há a possibilidade de o comando nacional interferir na decisão.

Foi temendo a hipótese de contar com uma aliança pequena que o PSB decidiu sair sozinho na campanha para vereador. A pressão maior foi feita pelo senador Aécio Neves (PSDB), contrariado com a possibilidade de o PT levar a vaga de vice e também a coligação proporcional. Na convenção de ontem de manhã, antes da decisão do PT de lançar Roberto Carvalho como candidato, o PSB já previa a possibilidade de rompimento. Tanto que não formalizou as alianças para a chapa de vereadores, muito menos bateu o martelo sobre a questão da majoritária. A ata da convenção sinalizou a possibilidade de o candidato a vice ser o deputado federal Miguel Correa Jr. (PT) – que prestigiou o encontro, junto com o presidente estadual da legenda, deputado federal Reginaldo Lopes, e o ministro do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel –, mas deixou em aberto a possibilidade de alterar tudo caso as convenções do PT e PSDB marcadas para o fim da tarde trouxessem alguma surpresa. Por orientação do governador, os nanicos que fazem parte de seu arco de alianças e que já acertaram previamente com Lacerda, também deixaram as atas em aberto para debandar da coligação socialista caso haja alguma mudança.

As negociações para a disputa por vagas na câmara foi um dos motivos da ausência dos tucanos da convenção do PSB ontem. O senador Aécio Neves (PSDB), que participou junto com o governador Antonio Anastasia das convenções tucanas em Betim e Contagem, teria afirmado que o partido não apoiaria a reeleição do prefeito caso a legenda comandada por Walfrido em Minas fechasse o acordo com o PT. Outros dirigentes do PSDB também não participaram da convenção, o que serviu para pressionar os socialistas.

Minutos antes do início dos encontros do PT e PSB, marcador para começar na mesma hora, o PSB enviou uma carta aos dois partidos afirmando que lançaria chapa própria na eleição para a Casa, sem explicar os motivos da decisão.

Caso permaneça a decisão do PT de romper com o PSB os tucanos podem ocupar a vaga de candidato a vice-prefeito que já havia sido destinada ao Miguel Corrêa Jr. Isso é tudo que o PSDB desejava. Tanto que os militantes comemoraram efusivamente o anúncio feito pelo presidente da legenda, deputado federal Marcus Pestana, do rompimento de petistas e socialistas.:"Marcio Lacerda, você vai ver, a aliança não precisa do PT". Em seguida, gritaram o nome do deputado estadual João Leite para candidato a vice.

Apesar da comemoração, Pestana ainda se mostrou cético em relação à decisão do PT. "Acho que a poeira vai baixar e o bom vai prevalecer no PT", comentou o deputado, que aproveitou a situação para criticar o partido. Segundo ele, o PT não tem cultura de aliança "É sempre venha a nós", atacou. Pestana não quis adiantar quem poderá ser o vice, pretende esperar até o dia 5, prazo máximo para o registro de candidatura no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG).

FONTE: ESTADO DE MINAS

PSDB fecha com PPS e lança Daniel Coelho em Recife

Após especulações de que poderiam aderir à Frente Popular ou ao Democratas, tucanos optam por candidato próprio no Recife e se colocam como alternativa de oposição

Ayrton Maciel

Depois de uma pré-campanha marcada pela contra-informação de concorrentes interessados no apoio do PSDB, que asseguravam a retirada da candidatura tucana, o deputado estadual Daniel Coelho foi homologado, ontem, no auditório do Colégio Salesiano, candidato tucano à Prefeitura do Recife. A vice foi cedida ao PPS, que indicou a socióloga Débora Albuquerque, presidente da legenda no Estado. A coligação com os pós-comunistas foi acordada momentos antes da convenção do PSDB, que sofreu atraso para conhecer o fechamento da negociação. A aliança majoritária envolve os dois partidos e mais o PTdoB.

O PPS estava sendo disputado pelo PSB de Geraldo Júlio, que lidera a nova Frente Popular, e o oposicionista DEM, de Mendonça Filho, desde que o ex-deputado federal Raul Jungmann, retirou-se da disputa, na última quinta-feira (28). As conversas para a coligação foram assumidas diretamente pelo deputado federal e presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, e o próprio Jungmann, e concluídas na manhã de ontem.

O apoio do PPS ao candidato do PSDB chega a surpreender, na medida em que, nos bastidores, a informação era de que o governador Eduardo Campos – amigo pessoal de Sérgio Guerra – pressionava para ter a adesão dos pós-comunistas a Geraldo Júlio, depois de ter conseguido o apoio do PMDB. Parte do PPS defendia o acordo com o PSB. O próprio PSDB chegou a ser especulado como partido em iminente caminho de adesão à Frente Popular.

Com a homologação de Daniel Coelho, o campo das oposições no Recife passa a ter duas candidaturas: a do tucano e a de Mendonça Filho. “O apoio do PPS fortalece-nos. Dos candidatos da oposição, somos o único que uniu. O entendimento é que podemos representar as oposições. O PPS quis ficar onde sempre esteve, na oposição”, destacou Daniel.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Reencontro na convenção do PMDB de Recife

Ayrton Maciel

Com discursos de reconciliação, paz política e reencontro com a história, entre peemedebistas e socialistas, o PMDB sacramentou ontem, em convenção municipal na sede do partido, o apoio ao candidato da Frente Popular à Prefeitura do Recife, Geraldo Júlio (PSB). Sem a presença do líder maior do PMDB, Jarbas Vasconcelos – que está em recuperação de uma cirurgia no coração – o deputado federal Raul Henry, que retirou o nome da disputa pela oposição, e dirigentes peemedebistas receberam o governador Eduardo Campos (PSB) e Geraldo Júlio, selando a unidade entre os ex-adversários para enfrentar o PT de Humberto Costa e o DEM de Mendonça Filho, agora os dois principais oponentes da Frente.

Nos pronunciamentos, as diferenças foram minimizadas em nome de um projeto de mudança e de futuro para o Recife, com lembranças até de eleições em que o PMDB era de Jarbas e do ex-governador Miguel Arraes. Mas nas respostas aos questionamentos da imprensa, todos deixaram claro que vai ser preciso uma engenharia na montagem do projeto de gestão e um malabarismo na construção do discurso à população. A meta será ajustar as contradições para não transparecer que se trata de um confronto ao PT no poder na cidade – como quer o PSB – e, ao mesmo tempo, mostrar que o projeto petista está esgotado e há uma proposta de oposição e de futuro para o Recife, como deseja o PMDB.

Sem bandeirões nem militantes levados em ônibus, a convenção festiva foi substituída por um ato sem pompa de adesão. “O apoio que aqui aprovamos é resultado de uma reflexão profunda, ampla e consensual do PMDB, que tem consciência de que está em jogo o futuro do Recife”, justificou Raul Henry. “Olhamos para o futuro da cidade. O PMDB acumulou experiências de governança e de valores republicanos de transparência. Temos diferenças, mas é o próprio povo do Recife que exigiu uma alternativa diante do que foi acontecendo (o racha do PT). A cidade clamou. Poderia não me meter, mas decidi que era hora de buscar um caminho de paz e mudança. Vamos nos juntar aos bons para fazer melhor”, retribuiu Eduardo. “Tenho 30 anos de militância e 20 de experiência no serviço público, que exigiram de mim conhecimento técnico e também habilidade política. Nosso discurso é de unidade, paz política, não vamos perder tempo com críticas e agressões”, destacou Geraldo.

O reencontro PSB-PMDB, Jarbas e Eduardo, tem amplitude maior do que a episódica eleição do Recife. Para os peemedebistas, há uma nova configuração política no Estado, que iria fragilizar o PMDB se o partido estivesse fora da aliança, e que pode se estender para 2014, ano de eleições para senador, governador e presidente da República. “Não houve conversa com Eduardo sobre 2014. Nem sobre o Senado. Agora, de 2012 sai uma nova configuração, com uma tendência evidente de convergência para 2014. Hoje, há uma disputa PT versus PSB. Quem encarna o pensamento do PMDB é o PSB. O PT já faz o discurso da continuidade. O PSB fará o da mudança. A política tem contradições”, argumentou Henry.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Reaproximação tem caráter simbólico

Reatamento dos laços de Jarbas com Eduardo representa, de certa forma, a religação que não houve com o ex-governador Miguel Arraes, avô do governador

Sérgio Montenegro Filho

Longe de ser classificada como um simples “desarmamento”, a reaproximação entre Eduardo Campos (PSB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB) – rompidos desde o início dos anos 1990 – é uma iniciativa que atende a interesses de parte a parte. É público que o governador alimenta um projeto nacional, munido de uma popularidade que lhe permite sonhar, inclusive, com o gabinete principal do Palácio do Planalto. E o senador, por sua vez, é visto como uma variável importante nesses planos. Eduardo carece de uma interlocução com o lado progressista do PMDB – adversário do governo petista – no qual Jarbas transita com desenvoltura em todo o País. É tanto que, quando vai à tribuna do Senado, ele atrai as atenções não apenas de seus pares, mas da mídia nacional.

“Jarbas entrou numa fase em que tem procurado distensionar ao máximo suas relações”, afirma um auxiliar do senador. De fato, ele já foi visto conversando até com desafetos como o senador Armando Monteiro Neto (PTB) e o deputado Sílvio Costa (PTB), com quem já não falava há alguns anos. Mas o reatamento dos laços com Eduardo Campos traz uma carga de simbolismo, porque representa, de certa forma, a reaproximação que não houve com o ex-governador Miguel Arraes (PSB), falecido em agosto de 2005, com quem Jarbas dividiu por mais de dez anos o comando da Frente Popular de Pernambuco.

Consolidar a paz política, no entanto, não será tarefa fácil para nenhum dos lados. Embora os dois já estejam dividindo o mesmo palanque no Recife, será preciso algum esforço para minimizar o clima de inimizade que se criou entre os aliados de cada lado, que precisam ser convencidos da trégua. Alguns episódios de confronto deixaram mágoas profundas, como o caso dos precatórios, amplamente utilizado em campanha por Jarbas para vencer Arraes e, posteriormente, lançado contra o próprio Eduardo Campos nas disputas mais recentes.

Os dois principais embates nas urnas também deixaram rusgas. No pleito de 1998, quando impôs mais de um milhão de votos de vantagem sobre Arraes – que tentava a reeleição para o governo do Estado – Jarbas abriu um imenso abismo entre ele e o “outro lado”. Na eleição de 2010, foi a vez de Eduardo tornar esse abismo praticamente intransponível ao dar um troco ao peemedebista derrotando-o por cerca de três milhões de votos de diferença.

O último episódio de atrito entre os dois ex-desafetos envolveu a indicação da mãe do governador – a então deputada federal Ana Arraes (PSB) – para o Tribunal de Contas da União (TCU). Em um discurso inflamado, Jarbas acusou Eduardo de praticar “nepotismo” e “compadrio”, ao deixar seus afazeres no Estado para interferir diretamente na eleição de Ana, que conquistou a vaga no TCU.

Embora os dois já troquem elogios e até amabilidades, todo esse “peso” ainda paira no ar e terá que ser superado. O que parece ser a intenção que ambos demonstraram, no início do mês passado, em seu primeiro encontro público após duas décadas de confronto.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Campanha é permitida a partir do dia 6 de julho

Com o início do prazo legal, qualquer pessoa pode pedir voto; candidato deve estar atento aos prazos

Bruno Góes

Até o dia da realização do 1º turno das eleições municipais, no dia 7 de outubro, são diversos os prazos e exigências que precisam ser cumpridos por candidatos, partidos e cidadãos. Legalmente, a partir de 6 de julho os candidatos ou qualquer pessoa poderão ir às ruas para pedir voto. Antes disso, entretanto, os envolvidos nas campanhas já estão mobilizados para cumprir o calendário estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ontem, por exemplo, foi o último dia para a realização de convenções de partidos e coligações com o objetivo de escolher candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador. Hoje é o limite permitido para veiculação de propaganda partidária gratuita antes do início oficial da campanha nos meios de comunicação.

A partir deste domingo, também fica proibido "veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente, exceto programas jornalísticos ou debates políticos".

Na quinta-feira 5, será o último dia para os tribunais e conselhos de contas tornarem disponível à Justiça Eleitoral a relação dos candidatos que tiveram suas contas rejeitadas por "irregularidade insanável" e por "decisão irrecorrível do órgão competente". Os casos em que as irregularidades ainda estiverem sendo analisadas pelo Poder Judiciário não estão incluídos. No mesmo dia, a Justiça obriga a citação de todos os candidatos registrados na realização de pesquisas de intenção de voto.

Na sexta-feira, dia 6, a propaganda política na internet será permitida, exceto se for paga, e carros de som poderão ser usados (de 8h até 22h).

No sábado 7, será proibida a promoção ou demissão de servidores públicos, assim como dar vantagens e gratificações. Há algumas exceções, como a demissão de pessoas em cargos de confiança e a admissão para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos tribunais contas. O prefeito Eduardo Paes, portanto, que concorre à reeleição, não poderá fazer muitas mudanças no quadro dos servidores. Na mesma data, será proibida a inauguração de obras e a contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos.

O dia 18, quarta-feira, será a data-limite para que o Ministério Público impugne os pedidos de registro de candidaturas apresentados pelos partidos políticos ou coligações. Também será o prazo final para que qualquer cidadão apresente notícia de inelegibilidade sobre um candidato à Justiça Eleitoral.

Em agosto, divulgação obrigatória de relatório financeiro e início da propaganda na TV

Em 6 de agosto, o TSE estabelece a data-limite para a divulgação obrigatória na internet de relatório financeiro detalhado de cada campanha. O dia 8 será o último para que o pedido de substituição de candidatura às eleições seja feito em função de decisão judicial. O dia 12 do mesmo mês será o último dia para o sorteio de ordem de veiculação da propaganda eleitoral. Em 21 de agosto, começa a propaganda eleitoral no rádio e na TV.

O prazo final para que todos os recursos sobre pedido de registro de candidatos sejam julgados pela Justiça Eleitoral é 23 de agosto.

Em 6 de setembro, as campanhas terão que publicar novamente relatório financeiro. Eleitores que pediram transferência de título de eleitor tem o dia 7 como prazo final para retirada do documento. Para a segunda via, a data-limite é o dia 27.

FONTE: O GLOBO

O Brasil e o mundo:: Merval Pereira

No recente debate promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso sobre as tendências globais para 2030, ficou patente que o Brasil está bem posicionado para o futuro. O empresário Roberto Teixeira da Costa escreveu para o próximo numero da revista Política Externa um artigo onde relata os principais pontos do debate, do qual participaram representantes do ESPAS - European Strategic and Policy Analysis; da ISS - European Union Institute for Securities Studies; The Office of the Director of National Intelligence dos Estados Unidos; e do Atlantic Council.

O economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas no Rio, apresentou informações e projeções sobre o crescimento das classes C e D na economia brasileira que confirmaram o Brasil como partícipe de um importante movimento de inclusão social e emergência da classe média que vem sendo registrado no mundo nos últimos anos, especialmente na Ásia.

Teixeira da Costa avalia que "se nos detivermos em alguns outros temas levantados pelo estudo do Global Trends 2030, podemos constatar que o Brasil tem vantagens competitivas e comparativas naquele cenário e em alguns deles, nossa posição continuará diferenciada".

Além da mobilidade social acentuada, não corremos o risco de ter uma escassez de alimentos, pois temos ainda um grande potencial de áreas agricultáveis, alta produtividade no campo e um quesito básico: a água, que os analistas identificaram como produto escasso que gerará conflitos.

Na questão energética, com nosso potencial hidroelétrico, pré-sal, energia eólica, tudo indica que não teremos problemas nesse setor, analisa o empresário.

Os brasileiros têm mostrado excelente resposta às novas formas de comunicações. Dos mais de 901 milhões de usuários ativos do Facebook, 500 milhões acessam a rede social em aparelhos móveis.

Somos o segundo país com maior número de usuários totais (46 milhões), e ocupamos o sexto lugar entre os que mais usam o site em smartphones, tablets e outros dispositivos móveis, segundo a empresa de pesquisa Socialbakers.

O país fica à frente de Alemanha, França e Canadá em milhões de usuários móveis. A Índia, que recentemente perdeu a segunda posição em acessos totais para o Brasil, ocupa a terceira posição.

O policentrismo será acompanhado por um maior poder conferido à Ásia, onde metade da população mundial estará concentrada em 2030.

Projeta-se que a China terá 19% de participação do PIB mundial e será a maior potência mundial.

A Índia continuará crescendo e poderá tornar-se um exemplo bem sucedido de crescimento sustentável nas próximas duas décadas.

Portanto, haverá uma mudança do atual poder mundial dos USA, Europa e Japão, dependendo, é claro, da duração da atual crise mundial e do seu impacto em suas economias e de quanto tempo a Rússia levará para modernizar-se.

Ao redor de 2030 a Ásia estará a caminho de retornar a ser a potência mundial que era antes de 1500. Os Estados Unidos continuarão sendo a maior potência militar mundial, mas estima-se que a capacitação da China nessa área irá ampliar-se.

Uma constelação de países, incluindo Indonésia, Turquia e África do Sul vai tornar-se mais proeminente, como é o caso do Brasil hoje.

O México, superando o problema da segurança interna e dos narcotraficantes, estará nesse grupo. O National Intelligence Council dos Estados Unidos identificou 16 tecnologias capazes de mudar paradigmas ("disruptive tecnologies") com potencial de ter significado global até 2030 nos setores de energia, alimentos, água e temas relacionados a inovação, comportamento mental e anti-envelhecimento. O apoio governamental precisa estar presente para incentivar esses setores.

A The Economist indicou que a área de manufaturas sofrerá sensíveis modificações, o que batizaram como a "Terceira Revolução Industrial".

A digitalização no processo de fabricação será revolucionária. O desenho de um produto em 3D e posteriormente impresso, criará um objeto sólido pela construção de sucessivas etapas dos materiais empregados.

Como em outras revoluções, alertam para as consequências no mercado de trabalho. Alguns fabricantes de automóveis já produzem hoje duas vezes mais veículos por empregado do que uma década atrás.

Os empregos não estarão no chão da fábrica, mas sim nos escritórios próximos, cheios de engenheiros, especialistas em tecnologia (TI), técnicos em logística, mercadológos e outros profissionais.

Os trabalhos de produção no futuro irão requerer mais talento. Os consumidores, sem maiores dificuldades, irão ajustar-se a essa nova era.

A maior dificuldade estará com os governos que buscarão proteger indústrias e empresas já existentes e não favorecer aquelas inovadoras. Esses comentários, aliás, estão em linha com o que foi discutido no Global Trends, quanto as tendências de maior protecionismo pela concessão de subsídios e proteção às indústrias já existentes.

FONTE: O GLOBO

Hegemonias ameaçadas:: João Bosco Rabello

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de reconhecer ao PSD o direito a tempo de televisão e fundo partidário, proporcionais à sua bancada, consolida a legenda no cenário político como fator que não pode mais ser desconsiderado nas próximas sucessões presidenciais.

Com um deputado a mais que o PSDB, é a terceira força na Câmara e a quarta nas duas casas do Congresso Nacional. Sua parceria preferencial com o PSB, do governador pernambucano Eduardo Campos, produz uma soma que eleva ambos ao segundo lugar e projeta o fim da hegemonia de PT e PMDB na aliança governista.

A decisão do Supremo era a argamassa que faltava para solidificar a estratégia do PSD de servir de linha auxiliar ao governo da presidente Dilma Rousseff, cujo sinal externo mais recente foi o protagonismo da senadora Kátia Abreu (TO) na solenidade de lançamento do plano agrícola no Palácio do Planalto na última quinta-feira.

Nas eleições municipais a decisão pouco ou quase nada influi. A inferioridade na disputa é o custo do investimento na consolidação do partido, que impôs alianças indispensáveis à sua estruturação nos Estados e municípios. Mas para 2014 é ator incontornável.

Nesse contexto, a estratégia continua sendo a de apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, com vistas a um protagonismo real nas eleições de 2018 - por ora, o mesmo roteiro traçado por Eduardo Campos.

A ressalva é a de que o apoio é a Dilma e não ao PT, com o qual conviverá melhor no governo do que com o PMDB, eleito o verdadeiro adversário político pelo seu empenho em inviabilizar a conquista obtida anteontem no tribunal.

Mais autonomia. A consolidação do PSD como parceiro dá mais autonomia a Campos e Dilma em relação ao PT, embora a nenhum dos dois ocorra usá-la para confrontar o ex-presidente Lula. Mas ajuda a preservar a convivência impositiva da presidente com o partido que a elegeu e respalda ações pontuais de independência do governador, como a verificada agora no Recife, com o rompimento da aliança PSB/PT. As disputas internas nos dois principais partidos de sustentação do governo e a continuidade dos altos índices de aprovação de Dilma completam esse cenário, o que pode explicar as dificuldades recentes criadas pelo PT na Câmara e a mobilização da CUT por uma greve geral. São demonstrações de força de uma base fragilizada.

Fratura exposta. As divergências entre PT e PMDB em cidades estratégicas agravam feridas. O PMDB remói o rompimento em Campina Grande (PB), e a perda da vice em São Bernardo do Campo. Suas lideranças já condicionam a manutenção da aliança às presidências da Câmara e Senado para o partido.Ah, bom...!

A resolução do PT proibindo alianças com partidos de oposição (PSDB, DEM e PPS) virou água justamente em Londrina (PR), terra do ministro Gilberto Carvalho e do secretário nacional de Comunicação do partido, deputado André Vargas. A candidata a prefeita é Márcia Lopes, irmã de Gilberto, que deverá ter como vice um nome do PPS, do deputado Roberto Freire (SP), que faz oposição acirrada ao governo federal. Vargas justificou a exceção: "Foi inevitável porque aqui há muita corrupção."

Cassação à vista. É zero, hoje, a chance do senador Demóstenes Torres (GO) de escapar da cassação. Ele chegou a ter 25 votos a favor, mas os senadores concluíram que o voto secreto não os preserva da rejeição popular com a imagem diária do senador na Casa, como se nada tivesse acontecido.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Invasões recíprocas:: José de Souza Martins

No lançamento da candidatura do PMDB à Prefeitura de SP, política e religião se invadiram numa misturança que violou o respeito próprio de cada uma delas, afirma sociólogo

Um fantasma assombra a República desde a sua proclamação: a religião. Um outro fantasma assombra a religião desde que essa separação ocorreu: a República. De assombro em assombro, vamos recuando em relação aos valores democráticos, aqueles que asseguram as bases da consciência propriamente republicana, livre de pressupostos e constrangimentos estranhos à política. E também em relação aos valores propriamente religiosos, aqueles que pedem a paz do privado para o exercício ritual da fé, que é o âmbito da liberdade religiosa que a República assegurou. Religião deixou de ser um dever para ser um direito, livremente assumido. Essa é a diferença, que muitos não compreendem. Não ter religião já não é um defeito. Ter religião já não é, necessariamente, uma virtude.

A invasão da religião pela política partidária no último domingo, no lançamento da candidatura do PMDB à Prefeitura de São Paulo, e a recíproca invasão da política pela religião no mesmo ato, propõem um complicado problema. O candidato, versado em questões de Igreja, atrelou o ato partidário da praça ao prévio comparecimento à missa dos migrantes na Catedral, celebrada pelo arcebispo, arrastando consigo toda a cúpula de seu partido, mesmo quem não é católico. Uma misturança, o que a razão e a fé estranham em nome do respeito ao que é próprio de cada qual.

Os positivistas de 1889, já antes da Constituição de 1891, estabeleceram a separação entre o Estado e a Igreja. Na monarquia o próprio imperador nomeava os bispos e lhes pagava a côngrua, mandando prendê-los, se fosse o caso, como aconteceu na chamada Questão Religiosa. Da monarquia à República laica, foi um salto muito grande num país secularmente habituado à promiscuidade pré-moderna de política e religião. A separação do Estado em relação à Igreja, e a adoção do princípio de que o Estado não tem religião, de que o exercício da fé é livre e de que todas as religiões são toleradas, representou um imenso avanço no Brasil. A liberdade seria uma quimera se as pessoas não fossem livres para crer ou descrer e se não pudessem tomar decisões políticas, votar ou deixar de votar, em função unicamente dos ditames de sua consciência e de sua decisão racional. O eleitos representam a consciência política dos cidadãos, não a sua consciência religiosa.

O regime republicano não impediu que os brasileiros pudessem crer, que fossem católicos, protestantes ou professantes de qualquer outro credo religioso. Ou ateus e descrentes. Religião não é um atributo necessário ao bom exercício do governo. Um presidente carola, como foi Artur Bernardes, que nos jardins do Catete rezava ao anoitecer, quando o arcebispo dom Duarte lhe implorou que fizesse cessar o bombardeio da cidade de São Paulo, em 1924, que matava civis, também crianças e velhos, recusou. Mandou dizer-lhe que São Paulo era rico e poderia reconstruir sua bela capital. Nada falou sobre as vidas que motivaram o apelo. Sua religião não o fez mais humano nem o fez um estadista.

A República tampouco obrigou os brasileiros a crer nisto ou naquilo. Ou vetou o acesso de quem crê à representação política e mesmo à Presidência da República. Desde 1889, apenas dois presidentes da República foram protestantes: Café Filho, presbiteriano, e Ernesto Geisel, luterano. Todos os demais foram, ao menos nominalmente, católicos.

A decisão republicana foi boa também para a Igreja Católica e para as diferentes religiões que se difundiram no Brasil desde o Império. Com ela a Igreja se libertou da tutela do Estado, ganhou completa liberdade para ser plenamente igreja, sem sofrer interferências nas questões propriamente religiosas. O que a República proclamou é que, assim como o Estado não se mete nos assuntos da Igreja e das religiões, as religiões e a Igreja não se metem nos assuntos do Estado.

Infelizmente, estamos num progressivo recuo em relação a esse princípio fundante do nosso regime republicano. O neopopulismo brasileiro descobriu nas igrejas e nas religiões um verdadeiro curral de votos cativos, de gente crédula e dócil ao apelo eleitoreiro em suposto nome da fé. Não só os evangélicos têm sido assediados e não raro seduzidos pelas cantadas partidárias, mas também os católicos têm tido uma disponibilidade para a sedução que não é pequena. Já nas campanhas de Lula e do PT o uso abusivo do templo e até do púlpito não mereceu reparos.

Tudo seria compreensível num país atrasado como o Brasil, não fosse o avanço da ousadia não mais sobre as greis religiosas, mas agora também sobre o sagrado. Se as igrejas pretendiam afirmar sua identidade religiosa no plano político, mostrando força perante os candidatos e caíram na tentação do voto de cabresto, não se deram conta de que havia um preço a pagar. E o preço maior não era o voto, era a sutil invasão do sagrado pela política e pela politicagem. Foi isso que aconteceu na Sé e em sua praça no começo da última semana, o ato partidário praticado como ato pós-eucarístico, uma violação da essência do sagrado.

José de Souza Martins, sociólogo, professor emérito da USP, é autor de A política do Brasil Lúmpen, Místico (Contexto, 2011)

FONTE: ALIÁS / O ESTADO DE S. PAULO

Ajoelhado no milho:: Eliane Cantanhêde

Ponto para a diplomacia brasileira, que acalmou o Planalto, fechou com o uruguaio Mujica, baixou a bola de Cristina Kirchner e impediu que a turma de Chávez incendiasse o Paraguai.

Prevaleceu a proposta brasileira de reação à queda de Fernando Lugo, como dito aqui: uma "ação pedagógica", para evitar novas deposições-relâmpago, e um "isolamento calculado". Punição política, sim; sanções econômicas, não.

O país foi suspenso do Mercosul e da Unasul, mas continua beneficiário da TEC, a tarifa comum, e dos acordos, das obras, dos investimentos e dos financiamentos do BNDES. Ajoelhou no milho, mas não foi expulso da sala nem da escola.

Sai o Paraguai temporariamente, entra a Venezuela permanentemente no Mercosul, encerrando uma novela que se arrastava desde 2006 porque o Congresso paraguaio se negava a votar -ironicamente, cobrando democracia da Venezuela.

Incluindo o parceiro suspenso, o bloco passa a ter 12,7 milhões de quilômetros quadrados e mais de 260 milhões de consumidores. Ganha em densidade econômica o que poderia perder em credibilidade

política. Chávez, aliás, anda muito envolvido com os seus problemas internos, sem tempo e energia para criar problemas externos.

Vai-se discutir por um bom tempo se o que houve no Paraguai foi ou não golpe, mas a realidade costuma ter uma dinâmica bem diferente da retórica, da teoria, da ideologia.

Na prática, Lugo perdeu as condições de governabilidade e só voltaria "por milagre", como ele próprio admitiu. O Partido Liberal vai comandar a transição, e o Colorado -enraizado na máquina, nas instituições e na sociedade paraguaias, depois de 61 anos no poder- é o favorito nas eleições de 2013.

Os quase quatro anos do ex-bispo Lugo foram um parêntesis, quase uma ilusão. O jogo bruto da política não comporta ilusões nem iludidos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma deveria pedir uma aula a FH:: Elio Gaspari

A doutora Dilma e o chanceler Antonio Patriota deveriam revisitar a estudantada em que se meteram no Paraguai, comparando os próprios erros com outro episódio, ocorrido em 1996, quando as coisas deram certo, sem espetáculo.

Durante as festividades da Rio+20, Dilma e Patriota souberam que a Câmara dos Deputados aprovara a abertura do processo de impedimento do presidente Fernando Lugo por 76 votos a um. O doutor foi mandado ao Paraguai numa comitiva da Unasul para recolocar a pasta de dentes no tubo. A embaixada do Brasil em Assunção já advertira o governo, há semanas, a respeito da gravidade da situação. Fizeram o quê? Nada.

Havia o que fazer? Em abril de 1996, o presidente Juan Carlos Wasmozy soube que o comandante do Exército, Lino Oviedo, pretendia derrubá-lo. Pediu apoio ao Brasil, e o embaixador Márcio Dias disse-lhe que Fernando Henrique Cardoso não concordaria com um golpe. Era pouco. Ele queria ouvir isso pessoalmente. O diplomata combinou que Wasmozy iria a Brasília (pilotando seu avião), seria recebido no aeroporto pelo chanceler Sebastião do Rego Barros (dirigindo seu próprio carro) e seguiria para o Palácio da Alvorada. Conversou com FH e retornou durante a madrugada. O presidente brasileiro entrou em contato com seu colega Bill Clinton, e ele telefonou para Wasmozy dizendo-lhe que, em caso de ameaça, deveria ir para a embaixada americana.

Dias depois, Oviedo deu um ultimato a Wasmozy, anunciando que atacaria o palácio ao amanhecer. O presidente paraguaio foi para a embaixada americana com o ato de renúncia redigido. Lá estava o embaixador Márcio Dias, que o rasgou. (Wasmozy guardou o picadinho.) O dia amanheceu, e o golpe evaporou-se.

Tudo isso aconteceu sem holofotes ou estudantadas de um multilateralismo que no caso da patrulha dos chanceleres da Unasul serviu apenas para colocar o Brasil a reboque de uma política de ameaças inócuas.

Uma diplomacia profissional, a americana, falou o mínimo possível. Resultado: a doutora Dilma e seus companheiros fizeram a empada, compraram a azeitona, deram o mimo aos americanos e ficaram com o caroço. Como dizia o chanceler Azeredo da Silveira, atravessaram a rua para escorregar na casca de banana que estava na outra calçada.

A diplomacia multilateral faz espetáculos, arma consensos e, geralmente, dá em nada. A bilateral, como a do Brasil no Paraguai em 1996, dá trabalho.

FONTE: O GLOBO

Erros que custam caro :: Suely Caldas

Na época, Dilma Rousseff tentava reconstruir sua vida após a prisão e Lula ainda era diretor suplente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Era o fim do governo Médici e o então ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, mandou a FGV reduzir na marra a inflação para adequá-la ao clima de otimismo do "milagre econômico". A manobra consistia em a FGV transportar mecanicamente para o índice os valores de um autoritário e fantasioso tabelamento de preços decretado pelo governo e solenemente ignorado por industriais, comerciantes e consumidores. As lojas exibiam na parede o valor tabelado, mas vendiam pelo dobro, às vezes o triplo.

Governo Geisel, 1974, o sucessor de Delfim, Mario Henrique Simonsen, denunciou publicamente a farsa e corrigiu os números da inflação. A população pagou o preço do arrogante erro, a começar pelos trabalhadores, que tiveram salários achatados, corrigidos que eram pelo falso índice. O que moveu Médici e seu ministro? Diferentemente do austero Geisel, Médici era um militar populista: se na política a truculência da ditadura não ajudava, pelo menos na economia queria deixar um legado que lhe rendesse elogios, não importava se falso. Foi também o populismo delirante que motivou o ex-presidente Lula a fazer planos de investimento mirabolantes para a Petrobrás. Para agradar a eleitores e aos caciques políticos de sempre, prometeu construir um complexo petroquímico no Rio (Comperj) e três refinarias - no Maranhão, no Ceará e em Pernambuco. Investimentos bilionários, que logo começaram a consumir dinheiro com as pomposas inaugurações da pedra fundamental - bem ao gosto de Lula. Só que as obras das refinarias do Maranhão e do Ceará não saíram do papel e a de Pernambuco e o Comperj tiveram seus cronogramas adiados várias vezes e os orçamentos iniciais quadruplicados (de 2011 a de Pernambuco foi adiada para 2014 e seu custo saltou de R$ 4 bilhões para R$ 17 bilhões).

Como Simonsen em 1974, Graça Foster, em 2012, logo tratou de corrigir o erro, rever o plano de investimentos da estatal e nele aplicou um choque de realidade, afastando os delírios de Lula. Das refinarias só restou a de Pernambuco, e o Comperj, por enquanto, vai ficar com seus canteiros sugando dinheiro da Petrobrás, sem data definida para terminar. Ao corrigir o erro, Foster tenta recuperar a confiança de potenciais investidores e dos mais de 500 mil acionistas que apostaram dinheiro na empresa e ameaçam abandoná-la. O castigo imposto pelos governos Lula e Dilma à Petrobrás está reduzindo seu valor a pó. Da área de petróleo ela é a mais desvalorizada do mundo, vale menos do que a colombiana Ecopetrol, que não tem um quarto de seu tamanho. O realismo nos investimentos e o minguado reajuste dos combustíveis foi o que Graça Foster conseguiu arrancar do governo nessa primeira investida para tentar recuperar a empresa. Mas o mercado reagiu mal, considerou insuficiente e derrubou o preço das ações. Tomara que seja só o começo.

Erros políticos como os de Médici e Lula levam tempo para consertar. O populismo é assim mesmo: foca o curto prazo para ganhar dividendos políticos rápidos e causa enormes estragos no longo prazo. Dilma parece ser diferente de Lula nesse aspecto. Por isso é inexplicável essa estratégia desesperada de recuperar o crescimento econômico focando só em ações de efeito rápido que, na verdade, tiveram seu tempo esgotado e têm se mostrado inúteis. Depois de passar mais de um ano atirando a esmo e errando o alvo, Dilma parece ter se convencido de que o investimento é o mais poderoso indutor do crescimento. Mas pouco ou nada fez para afastar os entraves estruturais que, desde Lula, freiam o investimento privado. O próprio IBGE alertou em pesquisa na quinta-feira: a rodada recente de incentivos do governo não impulsionou novos negócios.

Assim, dia sim outro também, as previsões para o PIB em 2012 são refeitas ladeira abaixo e já chegam a 1%. Até o Banco Central reduziu a sua de 3,5% para 2,5%, no dia seguinte em que o ministro Guido Mantega garantiu que o País vai crescer "acima de 2,5%".

Suely Caldas é professora da PUC-Rio

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Alívio num mundinho enjoado:: Vinícius Torres Freire

Sucesso relativo da cúpula europeia alivia também a situação brasileira e tira da sala o bode do desastre

Governos e povos dos mercados do hemisfério Norte vão poder tirar férias da crise. Talvez o Brasil também. A cúpula europeia que terminou na madrugada de sexta-feira não acabou em fracasso.

Sim, os problemas básicos da maioria dos países da União Europeia permanecem.

Haverá ainda tensão com o endividamento de governos, piorado pelo arrocho de gastos públicos e salários, que sufoca o crescimento da economia e da receita de impostos.

Haverá ainda tensão política, embora mesmo a deprimida Grécia tenha votado (por maioria mínima) pela permanência na zona do euro.

Mas italianos, franceses e espanhóis dobraram a tzarina da economia europeia, Angela Merkel. O fundo europeu de socorro a países quebrados poderá ajudar também os bancos espanhóis, com o que o governo do país se livrará do fardo de tapar o rombo da dívida adicional que teria de contratar para tanto.

A ajuda se tornou possível porque os europeus entregaram a supervisão dos seus bancos ao Banco Central Europeu, mais um passo na união definitiva das economias. Os europeus, em suma, se amarraram mais uns aos outros, na saúde e na doença, mas ainda não na riqueza e na pobreza.

Ainda controverso, o fundão europeu poderá comprar títulos da dívida pública italiana, ajudando assim a baixar o custo do crédito para o país. A Alemanha admite tal coisa apenas se os italianos assinarem uma "carta de intenções", mas a mera possibilidade de ajuda alivia a tensão.

Então a Europa não vai quebrar nos próximos meses ou talvez anos, desconsiderada por ora a possibilidade de aparecer outro esqueleto no armário financeiro da eurozona.

E daí? Chances menores de desastre aumentam a confiança de empresários aqui e nos Estados Unidos, por exemplo. Podemos crescer um tico mais.

Mas a Europa continuará com os pés na lama por muito tempo ainda, andando devagar. Os EUA vão bem melhor, mas com dificuldades, que ficarão feias se os estímulos fiscais (gastos do governo) não forem renovados no ano que vem.

A China está em época de muda. Teve de abrir mão do ritmo alucinado de crescimento, de mais de 10% ao ano, que estava criando excessos perigosos (superinvestimento, em especial no setor imobiliário). O crescimento menor no resto do mundo reduz ainda o ritmo chinês.

A mudança para um padrão de crescimento voltado "para dentro" (mais consumo das famílias) do que para "fora" (muito investimento e exportação) pode fazer a economia chinesa tremelicar nos primeiros tempos da novidade. O mundo inteiro, pois, estará num ritmo mais lento, por um tempo razoável (três, cinco anos?).

Para nós, a mudança chinesa tende a reduzir o ritmo de crescimento do preço dos nossos principais produtos de exportação (recursos naturais). Não vamos poder contar com esses aumentos para financiar o aumento das nossas importações (do nosso consumo), como vínhamos fazendo faz quase uma década. O que vamos fazer diante das novidades?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Risco latino:: Míriam Leitão

A entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul é uma ironia, na semana em que o Paraguai é suspenso. O que o Paraguai fez a Venezuela faz sistematicamente. No Paraguai, o Congresso deu um golpe e derrubou o presidente usando uma lei que está na Constituição mas que fere princípios democráticos, como o do direito de defesa. O governo Chávez tem feito frequentes violências à democracia com roupagem de legalidade.

A ameaça atual da América Latina é exatamente a de golpe que não parece golpe. A presidente Dilma congratulou o bloco pela decisão de afastamento do Paraguai, na mesma reunião em que aproveitou a ausência do Paraguai para aprovar a entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul. Seria cômico, se não fosse sério. A cláusula democrática do Mercosul é valiosa, deveria ser respeitada, deveria ser a base do bloco, mas a entrada da Venezuela esta semana a desmoraliza. Em toda a região há riscos para a democracia, mas o maior é na Venezuela, onde Hugo Chávez, em campanha para reeleição, está no poder há 14 anos.

Há fatos cujo desenrolar pode definir que tipo de compromisso têm alguns países da região com os valores e princípios democráticos. O caso mais recente é o do Paraguai, que isolado do Mercosul fará sua campanha eleitoral. A torcida é para que seja uma eleição livre e limpa e que o eleito em abril de 2013 fortaleça as instituições. O novo governante Federico Franco virou o mais forte candidato nessa eleição.

O México está realizando eleições hoje e o resultado mais provável é a volta do PRI ao poder depois de dois mandatos em que esteve afastado. O partido está voltando à presidência através de uma eleição legítima, em que seu candidato, Enrique Peña Nieto, foi mais convincente que os outros. O governo do presidente Felipe Calderón foi marcado por uma escalada sem precedentes da violência no país. O Exército, convocado para o combate às drogas, foi acusado de inúmeros atos de desrespeito aos direitos humanos.

O PRI durante mais de 70 anos manipulou as instituições para permanecer no poder. Realizava eleições fraudulentas. Seus tentáculos se espalharam pelo país e, através da corrupção e das fraudes eleitorais, o partido foi mantido no poder por décadas. Perdeu a presidência há 12 anos, quando o presidente Ernesto Zedillo, após conduzir uma eleição com neutralidade, reconheceu a derrota. Agora, o PRI e o México têm a chance de reescreverem essa história sob o comando de uma nova geração de políticos.

A Venezuela enfrenta os resultados da desmontagem lenta das instituições, executada por Chávez na última década e meia. Pela primeira vez está havendo uma eleição com um candidato forte de oposição, mas as instituições dominadas pelo presidente estão, de novo, criando regras casuísticas para favorecê-lo. A maior ameaça para Chávez não vem da oposição mas de sua saúde.

Na América Latina, tem havido ameaças sucessivas à democracia e essa é uma região com histórico de surtos autoritários. A Argentina reduziu a liberdade de imprensa, seja com leis aprovadas no Congresso, seja pelo cerceamento econômico. A Venezuela mudou a Constituição várias vezes para favorecer Chávez. O governo enfraqueceu os outros poderes e atacou a imprensa. Tudo funciona como se o sistema fosse democrático, mas os poderes não são independentes, a imprensa é encurralada, a justiça eleitoral muda as regras para beneficiar o presidente.

Equador e Bolívia, em intensidades diferentes, adotaram medidas chavistas para favorecer o ocupante da presidência. Não têm a força de Chávez, não foram ao extremo da Venezuela, mas usam a mesma estratégia.

Os que são favoráveis a Chávez, Rafael Correa e Evo Morales argumentam que tudo o que eles fizeram foi dentro da Constituição. Portanto, não seria antidemocrático. O mesmo argumento é usado, pelo outro lado político, para justificar a forma como Fernando Lugo foi tirado do poder. Curiosa concordância. O que aconteceu anos seguidos na Venezuela e o que acontece no Paraguai respeitam formalismos, mas não são democráticos. Essa é a sutileza da nova ameaça à democracia na América Latina.

A reação do Brasil de desaprovação do que houve no Paraguai foi correta e poderia ter sido o início de uma nova fase da diplomacia brasileira, mas virou apenas mais uma contradição. O Senado paraguaio era o único obstáculo à aceitação da Venezuela como membro pleno do Mercosul.

Na economia, os países com mais problemas são Venezuela e Argentina, que enfrentam uma onda de inflação com baixo crescimento e desordem fiscal. Colômbia, Peru e Chile têm mantido a dívida e o déficit sob controle e estão com previsões de crescimento de 4,5%; 5,8% e 4,4%, respectivamente. O Peru, governado por Ollanta Humala, tem uma meta de inflação de 1% a 3% e considerou alta quando a taxa chegou a 3,4% no ano passado. No Brasil o Banco Central comemorou 6,5%. Mas, na região, o principal problema não é a economia, mas a garantia do respeito às regras democráticas. A maior ameaça hoje não é mais o golpe clássico, mas a manipulação da democracia contra a própria democracia.

FONTE: O GLOBO