segunda-feira, 6 de junho de 2016

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Há outros temas para os quais os primeiros passos podem ser dados. Refiro-me aos entraves políticos em sentido profundo: não foram só um governo e o partido que o sustentava que desmoronaram. Há a implosão de todo um sistema político-eleitoral que aparta o Congresso, os partidos e mesmo o Executivo do sentimento popular. A legislação partidária e eleitoral criada a partir da Constituição de 1988 não corresponde mais aos anseios do povo nem cria as condições de governabilidade que a sociedade requer. Espera-se que o novo governo dê os passos iniciais da reforma política. Estruturas políticas (como as econômicas e as sociais) não mudam de repente nem o fazem em sua totalidade, salvo em momentos historicamente revolucionários, o que claramente não é o nosso caso. Sendo assim, no que consiste a falada reforma política?

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi presidente da República. ‘Luz no fim do túnel?’ O Estado de S. Paulo, 5/6/2016

Cerveró relatou propinas de mais de meio bilhão de reais

• Delator apontou 11 políticos como beneficiários de desvios

Em delação premiada, ex-diretor da área internacional da Petrobras disse que maior suborno foi pago no governo FH

Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras apadrinhado por PT e PMDB, revelou na delação premiada ter facilitado repasses de pelo menos R$ 564,1 milhões em propinas nos negócios da estatal. Ele apontou 11 políticos dos dois partidos como beneficiários dos subornos,
informam André de Souza e Carolina Brígido. Mas o maior valor individual, segundo Cerveró, ocorreu numa negociação da Petrobras na Argentina, em 2002, quando teriam sido pagos US$ 100 milhões para integrantes do governo FH, cujos nomes não revelou.

Propinas desde 2002

• Ex-diretor da Petrobras, Cerveró delata 11 políticos como beneficiários de esquema de corrupção

André de Souza e Carolina Brígido - O Globo

-BRASÍLIA- O ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró apontou o pagamento de pelo menos R$ 564,1 milhões em propina envolvendo negócios da estatal e de uma de suas subsidiárias, a BR Distribuidora. Onze políticos são nominalmente citados como beneficiários dos desvios. Os detalhes estão na delação premiada de Cerveró, que está colaborando com a Justiça em troca de redução da pena. A cifra deve ser maior, uma vez que os valores não estão atualizados e não há informação de quanto foi pago em propina em parte dos negócios com irregularidades.

Petrobras terá multa bilionária nos EUA

• Estimativa de indenização em ação de investidores chega a mais de US$ 7 bi

Daniel Biasetto - O Globo

A ação coletiva que investidores brasileiros e estrangeiros estão movendo na Corte de Nova York contra a Petrobras pode levar a uma indenização superior à do escândalo da Enron — maior falência da História econômica dos Estados Unidos e que resultou numa reparação de US$ 7,2 bilhões. Única brasileira entre os peritos que acompanham a ação coletiva (class action), a advogada Érica Gorga afirma que foi a partir de informações reveladas pela Lava-Jato que acionistas que compraram papéis da estatal fora do Brasil, entre 2010 e 2014, uniram-se para tentar reaver as perdas com a depreciação das ações na Bolsa de Nova York.

Proposta na Corte de NY em 8 de dezembro de 2014, a class action se baseia na lei que regula o mercado de títulos imobiliários americano.

Ironia do juiz
Segundo Érica, que acompanhou a audiência na justiça americana, na qual o juiz responsável pelo caso, Jed Rakoff, considerou que o processo deveria prosseguir, o caso está na fase de estimativas de indenização, cobrada sobretudo pela perda do valor das ações na Bolsa de Valores de Nova York .

Inquéritos contra Renan, Jucá e Sarney

O procurador-geral, Rodrigo Janot, pediu ao STF abertura de inquérito contra os três políticos do PMDB, acusados por Sérgio Machado de receber propinas no escândalo da Petrobras.

Janot pede inquérito contra Renan e Jucá ao Supremo

• Sarney e outros políticos do PMDB também são mencionados

- O Globo

-BRASÍLIA- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu abertura de inquérito contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente José Sarney e outros políticos do PMDB. Todos eles estão no pedido enviado por Janot ao ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), por terem sido acusados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de receberem propinas. A informação foi divulgada ontem pelo “Fantástico”, da Rede Globo.

No sábado, O GLOBO revelou que, em depoimentos da delação premiada, Sérgio Machado disse que distribuiu mais de R$ 70 milhões em propina de contratos da estatal para Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney, entre outros líderes do PMDB. Segundo Machado, o valor mais expressivo, de R$ 30 milhões, foi destinado a Renan, o principal responsável pela indicação dele para a presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras e maior empresa de transporte de combustível do país.

Machado disse ainda que repassou cerca de R$ 20 milhões para Sarney durante o período que esteve à frente da estatal. Romero Jucá — que ficou uma semana como ministro do Planejamento do governo Michel Temer — também recebeu aproximadamente R$ 20 milhões.

Vitórias no Congresso não garantem estabilidade no primeiro mês de Temer

Por Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - O governo provisório de Michel Temer completa 30 dias no domingo, dia 12, parecendo três anos, nas palavras do próprio presidente interino. Nesse curto espaço de tempo, Temer foi levado a demitir dois ministros importantes e foi e voltou atrás em relação à extinção do Ministério da Cultura, o que lhe valeu a pecha de hesitante. Mas também aprovou duas medidas importantes que o Congresso negava à sua antecessora, a mudança da meta fiscal e o aumento da desvinculação das receitas da União. Tudo somado, o presidente interino avançou no Legislativo, um território hostil ao PT, mas ruma para fechar seu primeiro mês de governo ainda sob a desconfiança de que será capaz de vencer a instabilidade política que levou ao afastamento da presidente Dilma Rousseff.

Até o fantasma da "volta de Dilma" ronda os palácios de Brasília. Dilma tem recebido senadores que se dizem arrependidos de terem votado a favor de seu afastamento, e acredita neles. Em uma recente reunião da cúpula do PT, em São Paulo, o sentimento da maioria era o mesmo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a interlocutores acreditar numa reversão do quadro no Senado. Não é mero discurso do PT, portanto. Mas na cúpula dos partidos ontem aliados de Dilma e hoje perfilados com o Temer, há muito ceticismo. A mudança de voto é desmoralizante, mas o que pesa mesmo é a convicção generalizada de que uma eventual volta de Dilma vai piorar, e muito, a crise. O caos. Os senadores "indecisos", segundo dirigentes dos partidos, aproveitam o momento para surfar na onda do impeachment. Só.

Pauta-bomba testa aliança Temer-PSDB

Por Maria Cristina Fernandes - Valor Econômico

SÃO PAULO - Na condição de partido investido da liderança do governo no Senado o PSDB será testado por uma pauta-bomba, que confronta teses do partido em relação ao ajuste fiscal e fragiliza as finanças de Estados governados pela legenda.

Chega esta semana ao Senado o projeto que reajusta servidores, cria cargos e terá um impacto de R$ 7 bilhões este ano e de R$ 52,9 bilhões até 2018. O projeto foi aprovado na Câmara sob o protesto de deputados tucanos como Nelson Marchezan Jr (RS). No Senado, a bancada tucana vê com preocupação para a imagem do partido a associação a projetos que aumentam gastos com funcionalismo num momento em que o país enfrenta uma das maiores taxas de desemprego da história.

O projeto passou no Senado na mesma noite em que o presidente interino Michel Temer recebia, no Jaburu, os dez senadores tucanos - Antonio Anastasia (MG) não foi por ser relator do processo de impeachment - para sagrar a ascensão de Aloysio Nunes Ferreira à liderança do governo. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento, passou pelo Jaburu, mas o jantar, além dos tucanos, só contou com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o advogado José Yunes, amigo do presidente em exercício que não tem cargo formal no governo mais é um consultor permanente de Temer.

PMDB ganha cargos para votar pelo impeachment

Por Vandson Lima e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente interino Michel Temer monitora de perto as articulações para obter os 54 votos necessários para comandar o Palácio do Planalto em definitivo e aprovar, no Senado, a cassação do mandato da presidente afastada Dilma Rousseff. Para integrantes do PT e aliados, fica cada vez mais claro que, para convencer pela rejeição a Temer e mudar o placar no julgamento final, é necessário articular outra saída: antecipar eleições presidenciais - estratégia que tem funcionado com alguns senadores mas cuja legalidade é questionada.

Em jantar com a bancada do PSDB do Senado e reuniões particulares com tucanos, na semana passada, Temer impressionou convidados e mostrou conhecer no detalhe cada caso de senador que potencialmente poderia mudar o voto. E está certo de ter angariado pelo menos mais três do PMDB em seu favor, em relação aos 55 que votaram pela admissibilidade do processo, que proporcionou o afastamento da presidente em 12 de maio: Jader Barbalho (PA), cujo filho permaneceu ministro - era de Portos com Dilma e passou para Integração Nacional; Eduardo Braga (AM), contemplado com a relatoria-geral do Orçamento de 2017; e João Alberto Souza (MA), presidente do Conselho de Ética do Senado, ligado a José Sarney e ao presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL). Jader e Braga não votaram na fase anterior do impeachment, alegando questões médicas; Souza votou contra a aceitação da denúncia.

Reajustes provocam 1º atrito no governo Temer

• Contas públicas. Pacote com aumentos para o funcionalismo, aprovado na quinta-feira, opõe equipes política e econômica, que considera a medida prejudicial ao ajuste fiscal

Alexa Salomão - O Estado de S. Paulo

A decisão do presidente Michel Temer de autorizar, na semana passada, os reajustes salariais para diferentes categorias de servidores públicos abriu a primeira divergência entre a equipe econômica e os articuladores políticos do PMDB. No Ministério Fazenda, o entendimento é que não pode haver elevação de gastos, mesmo que seja para evitar desgastes ou pacificar relações, como defendem caciques políticos do PMDB.

Para a equipe econômica, que têm a missão de imprimir o corte mais duro e socialmente penoso da história nas contas público do Brasil, é “incompreensível” que o governo em exercício faça a opção política de abrir concessões, aumentando os gastos em bilhões de reais, para beneficiar o funcionalismo público, parcela privilegiada de trabalhadores. A sinalização é contraditória. Indica que o sacrifício inerente ao ajuste fiscal não será para todos.

Temer deve avaliar situação de advogado-geral e secretária das Mulheres nesta segunda

• Fábio Medina Osório e Fátima Pelaes causaram desconforto no Planalto; eles serão recebidos nesta segunda por Temer

Tânia Monteiro e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o cargo seriamente ameaçado, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, será recebido nesta segunda-feira, 6, pelo presidente em exercício Michel Temer. Desgastado após uma série de episódios que causaram desconforto no Planalto, Medina tem sua situação classificada como “crítica” por interlocutores do presidente e poderá ser o terceiro auxiliar importante a deixar o governo, que ainda não completou nem um mês.

Temer também pretende discutir nesta segunda a situação da secretária das Mulheres, Fátima Pelaes. Ela é alvo de investigação na Justiça Federal por supostamente haver participado de um esquema de desvio de R$ 4 milhões em verbas no Ministério do Turismo, objeto da Operação Voucher da Polícia Federal, iniciada em 2011.

Corte nas viagens de Dilma foi resposta aos ataques de petistas

• Parecer da Casa Civil regulamentando direitos da presidente afastada também restringiu uso de cartão corporativo

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Cansado dos ataques da presidente afastada Dilma Rousseff e do cerco que os petistas e seus liderados estão fazendo à sua família e à sua casa, em São Paulo, o presidente em exercício Michel Temer decidiu partir para o enfrentamento.

O primeiro sinal de que Temer mudou seu comportamento foi o parecer da Casa Civil preparado na semana passada regulamentando os direitos da presidente afastada. Além de cortar viagens com aviões da FAB para outros locais que não Porto Alegre, o Planalto decidiu que só Dilma terá direito a utilizar o cartão de crédito corporativo para suas despesas pessoais. Quando estavam na Presidência, alguns dos auxiliares dela também utilizavam o cartão.

Eleições 2016: Incerteza será marca de pleito

• Fim de financiamento empresarial e menor tempo de campanha deixam cenário incerto

Fransciny Alves - O Tempo (MG)

Menos dinheiro, menos tempo para campanhas e muitas interrogações. A menos de quatro meses para as eleições municipais deste ano, especialistas e políticos já consideram a incerteza como marca da disputa, que será a primeira com as novas regras eleitorais valendo.

As alterações na legislação, que entram em prática pela primeira vez neste ano, são provenientes de dois projetos: o da reforma política, aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado, e o da minirreforma eleitoral, que foi aceito pelo Legislativo em 2013.

Dessa nova legislação, especialistas ouvidos pela reportagem de O TEMPO consideram como pontos mais significativos a diminuição do tempo de propaganda eleitoral – que passou de 90 para 45 dias, com o início previsto para 16 de agosto – e o fim do financiamento empresarial de campanha (veja outras mudanças na página 7).

FHC: “Temer tem que falar com o país, e não com os políticos”

• Tucano defende que Governo interino, apoiado pelo PSDB, "junte forças" pela reforma política


Javier Martín – El País, 5/6/2016

LISBOA - Fernando Henrique Cardoso (Rio de Janeiro, 1931) foi presidente do Brasil de 1995 a 2002 pelo PSDB, que ele ajudou a fundar. Derrotou em duas ocasiões o líder do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Primeiramente, como ministro da Fazenda, e depois, como presidente, Cardoso reduziu uma inflação galopante e estabilizou a economia do país. Aposentado há anos, é consultor em várias universidades e fundações, como a Champalimaud, de Lisboa, onde conversou com o EL PAÍS sobre a delicada situação política e econômica do Brasil.

Pergunta. A destituição da presidente Dilma Rousseff foi um golpe de estado político?

Resposta. Não foi nenhum golpe de estado. O impeachment seguiu rigorosamente a Constituição. O impeachment brasileiro não se refere à realização de um delito, à responsabilidade penal; está relacionado à responsabilidade política. Está claro na Constituição que autorizar gastos pelo Executivo sem a aprovação da Câmara é ir contra a Constituição. E isso ocorreu reiteradamente.

A verdadeira reforma política - Roberto Freire

- O Tempo (MG), 4/6/2016

A partir do julgamento definitivo de Dilma Rousseff pelo Senado Federal, que deve sacramentar o afastamento da petista pelo instrumento democrático e constitucional do impeachment, os brasileiros terão a chance de discutir de que forma o país poderá, de fato, avançar institucionalmente e levar a cabo uma profunda e verdadeira reforma em seu sistema político.

Resolvida a crise gerada pela irresponsabilidade do lulopetismo, será necessário que as forças políticas e a sociedade se debrucem sobre uma mudança real no atual sistema de governo, com a adoção do parlamentarismo. Esse debate já pode ser iniciado em 2016 e certamente ofereceria ao Brasil uma alternativa mais democrática, constitucional e permanente para resolvermos crises agudas como a atual sem traumas institucionais. No regime parlamentarista, adotado com êxito por algumas das principais democracias do mundo, quanto maior a crise, mais radical é a solução.

Reconstrução do Brasil – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso deixou para o governo Lula, em 2003, um superávit primário de 3,25% do PIB, equivalente a quase R$ 200 bilhões pelo PIB atual, além de mudanças institucionais importantes, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000. Todo esse esforço foi jogado fora pelos governos do PT, desde 2009.

Intervenção em setores importantes da economia, controle nos preços da gasolina e energia, desequilíbrio financeiro das estatais e recorrentes truques contábeis para esconder da sociedade a gravidade do quadro que estava se formando nos trouxeram à crise econômica atual.

O que resta a Dilma – Ricardo Noblat

- O Globo

“Quando você tem razão, ninguém se lembra disso; quando está errado, ninguém esquece” Muhaammead Ali, o melhor do boxe mundial

Receosos de complicações futuras com a Justiça, políticos de todas as cores apressaram na Câmara a aprovação do impeachment de Dilma. Esperavam assim que o governo Temer pudesse barrar o avanço da Lava-Jato. Não barrou, por impossível. Agora, com medo de ser atingido por novas delações, é o próprio governo Temer que tenta apressar o desfecho do impeachment no Senado. Não conseguirá, por absurdo.

Pedalando com o PMDB - José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Até agora, a contabilidade das votações no Congresso Nacional durante o governo interino é positiva politicamente e negativa do ponto de vista fiscal. Se Michel Temer atropelou a oposição petista na Câmara nos poucos embates que tiveram, ele gastou seu cacife por enquanto para autorizar o aumento do rombo orçamentário de 2016 e dar reajustes para castas superiores do funcionalismo público federal, como magistrados e procuradores.

Meu delator preferido – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Dilma odiava delatores. Sarney, Jucá e Renan foram traídos por um, que passou a ser celebrado pela presidente afastada, mas que pode ser definitivamente impedida pelas revelações do delator-mor.

Quando não passava por sua cabeça ser afastada do cargo, Dilma, atormentada pelas revelações da Lava Jato, tascou em junho de 2015: "Eu não respeito delatores". Até ali, mantinha uma pose de que nada do petrolão chegaria perto dela.

Pois bem, de lá para cá o país foi sacudido por novas e novas delações. É bom dizer, não mostraram a petista enfiando dinheiro no bolso, mas apontaram que sua campanha de 2014 foi irrigada com propina.

Lava Jato: o Brasil passado a limpo - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Certa vez, Abraham Lincoln cunhou frase certeira: “Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. O poder existe na família, na sociedade e no mercado. E as relações entre as pessoas são sempre assimétricas. Mas aí estamos falando do mundo privado. O poder institucionalizado se materializa no Estado. O organismo governamental nasceu como resposta às necessidades sociais cada vez mais complexas. A ordem pública, a defesa nacional, a garantia do poder da moeda, a vigência das leis, a tributação foram conformando o perfil do Estado no espaço e no tempo. Da democracia grega até sua configuração contemporânea, passando por monarquias absolutas ou constitucionais e autoritarismos de todos os matizes, a organização do poder se metamorfoseou conforme as condições concretas de cada situação histórica específica.

Os dois gumes do impeachment - Marcos Nobre

• A situação de Temer é ainda mais grave que a de Sarney

- Valor Econômico

Legitimidade não se confunde com legalidade, com vitória em eleição ou com decisão de tribunal. É coisa etérea, difusa, que depende de uma quantidade quase incontrolável de fatores. Mais complicado ainda, só é lembrada quando faz falta, quando já não está mais presente. Por ser artigo escasso e precioso, democracias se organizam para que a legalidade garanta um quadro de relativa estabilidade no tempo para que ocupantes do poder tenham condições de construir a legitimidade de que vivem seus governos.

Momentos de crise institucional são aqueles em que a legalidade já não garante mais coisa alguma. São momentos em que a legitimidade passa a ser construída a céu aberto, de maneira bruta e arbitrária. Em 1985, José Sarney assumiu a Presidência sem que o presidente eleito indiretamente, Tancredo Neves, sequer tivesse assumido o posto. Sarney nada tinha que ver com seu partido, o PMDB. Tinha sido apoiador empenhado do regime civil-militar durante vinte anos.

Raiva espera? - Ligia Bahia

• E os hospitais públicos e os postos de atendimento ambulatorial, alguma coisa aconteceu? Acho que só houve umas mudancinhas

- O Globo

Em uma conversa dessas de todo dia, não grampeada, entre gente comum, preocupada consigo e com os outros, o tema foi saúde e afins. Está mesmo faltando vacina? O fornecimento é irregular. Atendi uma senhora com mordida na mão, estava vindo na peregrinação, de unidade em unidade, dava para ver os dentes de um lado e do outro, estava muito edemaciada. Mostra com gestos o ferimento e o inchaço. Os outros comentam: se alguma coisa todo mundo aprende na faculdade é que, se for em membros superiores e face, tem que vacinar, mesmo que o animal possa ser observado. A história é retomada. Mas nesse dia não tinha vacina, eu já sabia.

Examinei a paciente e, mesmo assim, telefonei para a secretaria. A moça que me atendeu foi burocrática, tratou como se fosse uma falha de informação. A lenga-lenga de sempre: vocês deveriam ter sido avisados. Respondi: “Nós aqui sabemos disso, estou ligando para solicitar uma orientação.” Ela sugeriu colocar a senhora numa lista de espera. Como assim? E raiva espera? (A raiva humana é letal, e o período de incubação para que a doença se manifeste é menor em casos de penetração do vírus em locais com mais terminais sensitivos). Mais informações são trocadas. Eu consegui em outra cidade, me disseram que lá tinha três doses. A paciente teve que viajar. Pausa para perplexidade. Quem diria, o programa nacional de imunizações foi a menina dos olhos da saúde no Brasil.

Tanto faz – Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

O Peru do século 21, que elegeu seu quarto presidente desde o colapso da aventura Alberto Fujimori (2000), não tem dado bola para o chefe do Executivo. De 1997 para cá, nenhum deles sustentou aprovação popular majoritária.

A economia não explica o fenômeno. Desde 1997 o país vizinho cresceu 4,7% ao ano em média -o volume da produção mais que dobrou. Em 2000, o poder de compra da renda per capita peruana equivalia a 58% da cifra brasileira comparável. Hoje representa 84% e deverá atingir 90% no início da próxima década.

O desespero petista – Editorial / O Estado de S. Paulo

Uma pesquisa interna do PT, obtida pelo Estado, mostra uma perspectiva desastrosa para o partido nas eleições municipais de outubro. A avaliação indica que os petistas conseguirão se reeleger em apenas 7% das prefeituras que a legenda conquistou no Sul e no Sudeste no pleito de 2012. Já no Nordeste, que se tornou o principal reduto eleitoral do PT graças a seu populismo rasteiro, há chances de vitória em somente 8%. É esse horizonte sombrio que norteia a estratégia petista de jogar todas as suas fichas na histeria do “golpe”, transformando-a em mote de sua campanha eleitoral, pois foi somente isso o que restou ao partido, rejeitado em todo o País pelo imenso dissabor que causou em sua desastrosa passagem pela Presidência. Não há o que defender num legado de roubalheira, irresponsabilidade e mentiras.

Se tivesse um mínimo de apreço pela democracia e pelas instituições, o PT já teria reconhecido seus inúmeros erros e oferecido alguma forma de compromisso com as demais forças políticas para que o País pudesse sair o mais breve possível da barafunda em que a presidente afastada Dilma Rousseff o meteu. Mas o espírito autoritário do partido, que se julga portador da verdade histórica, torna legítimo, aos olhos dos petistas, o falseamento da realidade e o insulto à inteligência na expectativa de criar confusão moral e, assim, tentar salvar a todo custo seu projeto de poder.

Tarde no Recife – Joaquim Cardozo

Tarde no Recife.
Da ponta Maurício o céu e a cidade.
Fachada verde do Café Máxime.
Cais do Abacaxi. Gameleiras.
Da torre do Telégrafo Ótico
A voz colorida das bandeiras anuncia
Que vapores entraram no horizonte.

Tanta gente apressada, tanta mulher bonita.
A tagarelice dos bondes e dos automóveis.
Um carreto gritando — alerta!
Algazarra, Seis horas. Os sinos.

Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem
[dos fidalgos holandeses.
Que assistem agora ao mar, inerte das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem de aviões para as costas
[do Pacífico.
Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
E da beleza católica do rio.