domingo, 12 de junho de 2016

Opinião do dia – Dora Kramer

Falsiane. Quando promete um plebiscito para decidir sobre a realização de eleições diretas agora, Dilma Rousseff omite e o que diz a Constituição: consultas populares dependem de aprovação do Congresso.

Condição que ela não teve para barrar o impeachment nem terá para aprovar um plebiscito.

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Dora Kramer é jornalista, ‘Maculada Conceição’, O Estado de S. Paulo, 12/6/2016

‘É uma guerra’, diz Temer após um mês de governo

Em 1 mês de governo, Temer teve vitórias e dias de turbulência

Gustavo Uribe, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em um mês à frente do Palácio do Planalto, completado neste domingo (12), Michel Temer frustrou expectativas políticas de um lado, agradouna economia, conseguiu aprovar medidas que dormiam nas gavetas do Congresso e viveu dias de turbulência depois que a Operação Lava Jato chegouperto da cúpula do seu partido, o PMDB.

Criticado por montar um ministério com nomescitados na Lava Jato e sem mulheres, Temer perdeu dois titulares de pasta logo de saída, Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência).

Em seguida, a Procuradoria-Geral da República pediu a prisão de aliados como Jucá, Renan Calheiros, José Sarney e Eduardo Cunha, gerando dúvidas sobre o futuro do julgamento do impeachment no Senado e a consequente permanência de Temer no Palácio do Planalto.

Neste curto espaço de tempo, deu ainda munição à presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), com as idas e vindas de seu governo. Extinguiu e recriou o Ministério da Cultura e obrigou ministros a se retratarem, como Ricardo Barros (Saúde), que anunciou que era preciso rever o tamanho do SUS e depois recuou.

Entrevista. Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), líder do governo no Senado

‘Michel Temer tem legitimidade; falta autoridade política’

• Para líder do governo no Senado, desempenho do presidente em exercício é o que vai garantir sua permanência no cargo

Luiz Maklouf Carvalho - O Estado de S. Paulo

Houve dia – 9 de março de 2015, mal se vai um ano – em que o senador Aloysio Nunes Ferreira, tucano de São Paulo, soltou, na imprensa, o seguinte petardo: “Não quero que ela saia, quero sangrar a Dilma, não quero que o Brasil seja presidido por Michel Temer”. Hoje, Ferreira é o líder do governo Temer no Senado.

“A frase não tinha nada de pessoal contra ele”, disse o senador ao Estado. Naquele momento, explicou, ainda era contra o impeachment. Quando aderiu, mergulhou de cabeça, como se pôde assistir em sua enérgica participação na comissão que vai selar a sorte da presidente afastada Dilma Rousseff.

O presidente interino o convidou para líder depois de uma conversa com o senador Aécio Neves, presidente do PSDB. Ele ouviu a bancada e não pensou duas vezes em dizer sim. “O presidente Michel Temer tem legitimidade constitucional, mas ainda não tem a autoridade política que decorre da sua função constitucional.”

• Depois de indicado líder, o sr. tem falado mais com o presidente? Como é que funciona?

Não tem necessidade de ficar falando toda hora. O importante é que o canal está aberto para falar quando precisar. Eu tenho uma relação muito antiga com o presidente. Eu o conheci na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 1963. Ao longo desses anos tivemos vários momentos de proximidade política e funcional, no PMDB. Já estive próximo, já estive mais distante, em razão das disputas no PMDB, mas sempre foi uma convivência muito cordial.

Para Temer, governo encontrou rumo certo

Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo

O governo Michel Temer completa seu primeiro mês neste domingo certo de que encontrou o rumo adequado para arrumar a casa. Apesar de já ter demitido dois ministros e se ver obrigado a recuar em várias situações, Temer avalia que a solidez da equipe econômica e a coesão da sua base no Congresso estão melhorando o ambiente político. O foco no próximo mês será acelerar a agenda de votações. Nessa lista, estão a Lei das Estatais, a Lei do Petróleo, a PEC da Limitação de Gastos e concluir a DRU no Senado.

Apesar desse otimismo, Temer sabe que a votação mais importante a ser enfrentada será a que confirma ou não o impeachment de Dilma Rousseff. Na conta de seus aliados, o governo teria 59 votos, superando os 54 necessários.

Para confirmar impeachment, Temer cede a pressões

• Há um mês no poder, presidente interino evita confrontar Congresso para garantir sua permanência

Tudo pelo impeachment

• Temer assume recuos e cede a pressões de aliados para tentar se manter no poder

Simone Iglesias e Catarina Alencastro - O Globo

Temer decidiu entrar no jogo do Congresso, construindo as alianças necessárias para garantir permanência definitiva

-BRASÍLIA- Há exato um mês no comando interino do país, Michel Temer confidenciou a aliados ter a impressão de que já se passaram anos. Nos primeiros dias, governando sob intensa pressão, demitiu dois ministros; enfrentou grampos com diálogos pouco republicanos envolvendo a cúpula de seu partido, o PMDB; descumpriu promessas; e enfrentou protestos que chegaram à porta de sua casa, em São Paulo. Nesses 30 dias, o peemedebista buscou administrar cobranças e, na maioria das vezes, teve que ceder pela percepção elementar de que seu governo não é um governo de fato, mas interino. E, ironicamente, apesar da pressão, a decisão no Planalto é seguir nessa toada. Ao menos até agosto, quando ocorrerá no Senado o julgamento final do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, Temer decidiu entrar no jogo do Congresso e engolir muitos sapos, construindo as alianças necessárias para garantir sua permanência definitiva.

Com maioria frágil no Senado — 59 votos contabilizados por sua equipe a favor do impeachment de Dilma, apenas cinco a mais que os 54 necessários —, o presidente interino tem se desdobrado em atenção aos senadores, de quem tem ouvido centenas de pedidos. Quase todas as demandas, contam auxiliares presidenciais, se resumem a cargos. Em seu gabinete, recebeu em audiência oficial ao menos dez senadores. Nesta semana irá pela segunda vez ao Congresso desde que assumiu a Presidência, agora para entregar o projeto que estabelece teto para os gastos públicos. Um gesto de aproximação e de cordialidade com deputados e senadores que na gestão Dilma reclamavam da falta de atenção da presidente.

A ordem é sobreviver, custe o que custar - Alan Gripp*

• Governo Temer fará o possível para confirmar o impeachment; daí para frente, é outra coisa

- O Globo

Na semana que passou, um auxiliar de primeira linha de Michel Temer ainda explicava a escolha para líder do governo do inexpressivo André Moura, do inexpressivo PSC, por exigência do explosivo Eduardo Cunha.

— Qual é a manchete pior? “Governo cede a pressão por novo líder” ou “Governo já sofre derrota no Congresso”? — questionou, deixando claro que a primeira opção representava menor desgaste.

Foi assim o primeiro mês de Temer: pragmatismo até o último fio de cabelo. Críticas à extinção do Ministério da Cultura? Recrie-se o gabinete. Ministro apanhado tentando barrar investigações? Demita-se o suspeito.

A ordem é sobreviver até o dia D, garantir os votos que confirmem o impeachment e, só depois, pensar em vida nova. Para isso, vale tudo: recuar ao menor sinal de mal-estar, engolir sapos, não se meter na vida de quem possa criar problema.

São duas as tarefas rumo ao pote de ouro. 1) Convencer essa entidade chamada “mercado” de que o Congresso responderá quando chamado (não por acaso, o “Ministério de notáveis” virou o “Ministério dos investigados” em dois palitos). 2) Resistir à nova temporada de delações (daí o pé no acelerador na comissão do impeachment).

O andar de cima de Temer está otimista. Uma avaliação mais realista, porém, recomenda não fazer previsões, atividade em descrédito no país da Lava-Jato.
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*Editor de País

Um duelo entre expectativa e realidade - Flávia Barbosa*

• Equipe econômica agradou, confiança aumentou, mas aprovação de pacote fiscal ainda é incógnita

- O Globo

O governo interino de Michel Temer completa 30 dias virando positivamente a chave das expectativas dos agentes econômicos. Sua ascensão afastou temporariamente o “risco-catástrofe” que mercado e empresários associam às políticas do PT, e a excelência técnica dos nomes e as medidas apresentadas resgataram a credibilidade da equipe econômica.

Foi proposto um plano que restabelece um horizonte de equilíbrio para as contas públicas: teto para o aumento dos gastos e reforma da Previdência com idade mínima.

Mudança de tom e respostas rápidas - Sandra Cohen*

• Política externa enfrentou críticas ao impeachment, mas ainda lida com desconfiança

- O Globo

A mudança de tom na política externa ficou clara no primeiro dia de gestão do novo chanceler, José Serra: “Ela será regida pelos valores do Estado e não de um governo e nunca de um partido”. Estava dado o recado aos países da chamada ala bolivariana, especialmente à Venezuela de Nicolás Maduro, a que Serra, enquanto senador, se referia como uma ditadura.

Apesar do arroubo da retórica, no decorrer deste primeiro mês prevaleceu o pragmatismo. Maduro falou grosso, mas manteve seu embaixador em Brasília. E enquanto o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, tentou acionar a Carta Democrática contra a Venezuela, o Brasil preferiu a via do diálogo, alinhando-se à Argentina e aos EUA.

Alckmin diz que proposta para antecipar eleições é inconstitucional

Alfredo Mergulhão – Folha de S. Paulo

RIO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou neste sábado (11) a proposta feita nesta semana pela presidente afastada Dilma Rousseff (PT) de realização de um plebiscito para que a população decida da antecipação das eleições presidenciais.

Alckmin classificou a proposta de inconstitucional, após dar palestra no Curso de Formação de Pré-candidatos, realizado pelo diretório regional do PSDB no Rio e pelo Instituto Teotônio Vilela.

"Não tem previsão constitucional. A única hipótese de nova eleição é se ambos [presidente e vice] renunciarem ou se TSE [Tribunal Superior Eleitoral] impugnar a chapa. Caso contrário, no modelo presidencialista é previsto o impeachment e nesse caso assume o vice.
Isso já ocorreu. Eu sou contra. Na realidade, isso não tem nem como passar no STF [Supremo Tribunal Federal], não tem amparo jurídico", disse Alckmin.

Lava Jato e nova lei ‘secam’ financiamento eleitoral

• Proibição de doação de empresas e impacto da operação fazem siglas recorrerem a Fundo Partidário, mas recursos de 2016 equivalem a apenas 15% do que foi gasto em 2012

Pedro Venceslau, Daniel Bramatti, Valmar Hupsel, Alexa Salomão - O Estado de S. Paulo

A campanha eleitoral de 2016 deve ser marcada pela penúria de recursos, graças à combinação de fatores como a crise econômica, a proibição de doações de empresas e o impacto da Operação Lava Jato. Para político e marqueteiros, a previsão de cortes drásticos de custos representa o colapso de um modelo de “mercado” que cresceu sem parar nas últimas três décadas.

Nas eleições municipais de 2012, quase 80% dos gastos foram financiados por empresas. Elas eram também responsáveis por doações significativas aos partidos em anos não eleitorais, mas essa fonte secou mesmo antes da proibição do financiamento empresarial, determinada pelo Supremo Tribunal Federal e acolhida pelo Congresso no fim do ano passado.

Mudanças em regra ‘espantam’ marqueteiros experientes

• Publicitários de renome como Nelson Biondi, Duda Mendonça e Luís Gonzalez optam por ficar fora das campanhas

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

A previsão de uma campanha política com poucos recursos afugentou as grandes estrelas do mercado publicitário e abriu espaço para uma nova geração de marqueteiros dispostos a trabalhar mais e receber menos do que em disputas anteriores.

Publicitários de renome como Nelson Biondi, Duda Mendonça e Luís Gonzalez optaram por ficar fora das eleições municipais deste ano.

O marqueteiro João Santana, que liderou as últimas campanhas presidenciais petistas, e sua mulher Mônica Moura, foram atingidos pela 23.ª fase da Operação Lava Jato e cumprem prisão preventiva.

Campanha de Marina recebeu por caixa 2, dirá Léo Pinheiro

• Delação de ex-presidente da OAS revelará que candidata teve doação ‘por fora’ em 2010

A mesma empreiteira e a Odebrecht vão admitir que fizeram contribuições ilegais para Eduardo Paes; Marina Silva e o prefeito do Rio negam irregularidades em suas contas eleitorais

Em negociação de delação premiada com a Lava-Jato, revela LAURO JARDIM ,o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro prometeu detalhar o esquema de caixa dois que, segundo ele, irrigou a campanha de Marina Silva à Presidência em 2010, pelo PV. A doação teria sido intermediada pelo candidato a vice de Marina, Guilherme Leal, um dos donos da Natura. A OAS e a Odebrecht revelarão também que fizeram doações “por fora” às campanhas de Eduardo Paes à prefeitura. Em nota, Marina Silva alega que nunca usou “um real sequer que não tivesse sido regularmente declarado”. Ela defendeu a Lava-Jato e disse confiar que nenhum dirigente do PV tenha usado seu nome para fins ilícitos. Guilherme Leal admitiu que se encontrou com Pinheiro, mas refutou as acusações. O prefeito do Rio também negou irregularidades em suas contas eleitorais.

Marina e Leal negam uso de dinheiro ilícito em 2010

• Prefeito Eduardo Paes também diz que não houve esquema de caixa 2 em sua campanha, como delatores indicam

- O Globo

SÃO PAULO - A ex-senadora Marina Silva (Rede) e o presidente da Natura e ex-candidato da vicepresidente na chapa de Marina Silva, Guilherme Leal, negaram ontem que a campanha de 2010 tenha recebido recursos ilícitos, conforme relato do ex-presidente da construtora OAS, Adelmário Pinheiro, mais conhecido como Léo Pinheiro, durante negociação para acordo de delação premiada.

Heranças e futuros: modos de usar - Pedro S. Malan

- O Estado de S. Paulo

Em discurso para a militância, na presença de Dilma, durante a campanha eleitoral de 2014, Lula disse que já se imaginava, em 2022, nas comemorações de nossos 200 anos de Independência, defendendo, com Dilma, tudo o que haviam conquistado “nos últimos 20 anos”. Assim abri artigo neste espaço (14/12/2014), que continuava: “É perfeitamente legítimo a qualquer pessoa expressar de público suas ‘memórias do futuro’, para usar a bela expressão de Borges para caracterizar desejos, expectativas, sonhos e planos – quer se realizem, quer não”.

No caso, a probabilidade de realização do sonho certamente diminuiu. E não apenas pelo ocorrido desde as eleições de 2014. Mas pela crescente percepção pela opinião pública de que as crises econômica e política em que o País está enredado têm raízes mais profundas em nosso passado – e também em desacertos na condução da economia iniciados em 2006 e gradualmente ampliados ao longo destes últimos anos, culminando na inédita recessão em que estamos desde abril/maio de 2014.

Pijama e tornozeleira - Fernando Gabeira

- O Globo

“Que tristes são as coisas consideradas sem ênfase.” Concordo com esse verso de Drummond, mas as coisas, às vezes, se misturam com as pessoas, como o sutiã, o chapéu e os óculos. E às vezes aterrorizam a vida das pessoas como a bomba, ou anunciam novos tempos, como o transistor, computadores.

Lembro-me da aparição do ar-condicionado e de como os restaurantes brasileiros anunciavam com orgulho: temos ar-condicionado. A tornozeleira eletrônica é um dado novo no cotidiano brasileiro. Teoricamente pode ajudar o país a atenuar o problema carcerário. Permite que um pequeno número de funcionários possa controlar muitos condenados, reduzindo a superlotação e economizando os custos com tanta gente presa. Como todas as outras coisas, a tornozeleira pode ter um uso equivocado.

Esquerda? - Sérgio Besserman Vianna

• É incoerente e absurda a afirmação de que está ocorrendo um golpe

- O Globo

A crise que vive o país é muito grave em diversas dimensões. Há uma crise fiscal de curto e médio prazos, uma trajetória de insolvência para a dívida pública, uma inserção pouquíssimo competitiva na economia global e uma desigualdade gigante.

Como pano de fundo, a Lava-Jato e revelações que chocam até cidadãos politizados e experientes. Nesse clima, a polarização se deu, como seria de esperar, em torno do jogo do poder. De um lado, o impedimento da presidente Dilma; de outro, os que são “contra o golpe”.

A narrativa do “contra o golpe”, que me perdoem os tantos amigos que ficaram com essa posição, não apenas não se sustenta no confronto com as evidências como contém em si um núcleo profundamente autoritário e antidemocrático.

Maculada Conceição - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Testada durante a campanha eleitoral de 2014, a honestidade intelectual de Dilma Rousseff foi reprovada no instante seguinte à sua reeleição. Fez o que acusava os adversários de pretenderem fazer e “monologou” ao invés de, como prometido, dialogar. Isso para reduzir os exemplos ao mínimo e não falar sobre a omissão dolosa da real situação econômica do País.

A mentira é uma forma de desonestidade, embora a reverência à verdade não seja valorizada como o repúdio à improbidade tal como o senso comum a concebe: o roubo flagrante para enriquecimento pessoal. Maneira simplificada, porém incompleta, de avaliar a conduta de agentes públicos.

No julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal aplicou a teoria do domínio dos fatos para condenar José Dirceu. Foi muito criticado sob os argumentos de que o próprio autor (Claus Roxin) haveria criticado a aplicação da tese ao caso e de que a condição de dirigente das ações governamentais não o faria necessariamente dominas os fatos ocorridos no governo. Pois os fatos posteriores viriam a corroborar o entendimento do STF.

Referendo autorrevogatório - Merval Pereira

- O Globo

Fazer um mau governo não é condição aceitável para um pedido de impeachment numa democracia representativa, a não ser que exista a previsão do recall na Constituição, instrumento que permite aos eleitores voltarem às urnas para tirar do posto aquele governante que não estiver agradando à maioria. Uma espécie de voto de desconfiança parlamentarista no presidencialismo.

As condições para tanto estarão fixadas previamente em lei, e, como agora na Venezuela, um referendo revogatório pode definir a saída do presidente Nicolas Maduro. Não há razão, portanto, para que se estranhe a retirada de cena da presidente Dilma Rousseff por uma questão fiscal que pode ser considerada equivocadamente menor, mas prevista na Constituição.

Promessas vãs, ao vento - Eliane Catanhêde

- O Estado de S. Paulo

Não bastasse deixar a economia destroçada e um saldo de 11,5 milhões de desempregados, a presidente afastada Dilma Rousseff vem agora prometer “um novo governo” para a minoria que apoia cegamente o PT e acenar com um plebiscito sobre eleições antecipadas para tentar seduzir os senadores que votam o impeachment definitivo.

Novo governo a esta altura? E eleições já? Seria brincar com fogo. Os candidatos não se sabe quais serão, mas o Congresso e os partidos continuarão os mesmos, acossados por denúncias e acordando todas as manhãs assombrados por novos inquéritos ou pedidos de prisão. O presidente sai, a crise fica. Melhor dar dois anos e meio para o governo interino tourear a economia e a Lava Jato limpar o terreno.

Voltar para quê? – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Neste domingo (12), completa-se um mês desde que Dilma Rousseff assinou a notificação do impeachment, deixou o Palácio do Planalto e se recolheu ao Alvorada. Na temporada de exílio, ela criticou o substituto e prometeu lutar para voltar à Presidência. Faltou responder a uma pergunta: voltar para quê?

Dilma deve uma explicação sobre o que pretende fazer na hipótese, por ora improvável, de o Senado revogar o seu afastamento. Na noite de quinta-feira, surgiu uma pista. Na entrevista à TV Brasil, ela indicou que convocaria um plebiscito sobre a realização de novas eleições.

"A consulta popular é o único meio de lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer", disse. "Eu acho que pode ser um plebiscito de alguma forma. Eu não vou aqui dar o menu total, mas essa é uma coisa que está sendo muito discutida", acrescentou.

O bonde da Educação - Luiz Carlos Azedo

• Professores engajados num projeto de poder não respeitam a maioria dos colegas e a minoria das minorias (o jovem monarquista) não pode se expressar sem apanhar

- Correio Braziliense

Um jovem monarquista que protestava contra a convocação de uma greve geral na Universidade de Brasília foi agredido por colegas que desejam paralisar a universidade em protesto contra o impeachment e o governo Temer, na terça-feira passada, porque estendeu uma bandeira do Brasil Império. Debaixo de socos e pontapés, conseguiu recuperá-la. Essas cenas da agressão, do tipo todos contra um, ocorreram na ala norte do Instituto Central de Ciências (ICC), o famoso “Minhocão”, e foram expostas na internet; no dia seguinte, o jovem agredido voltou às redes sociais para dizer que não se deixaria intimidar. Ele acredita que a agressão foi um sinal de que a bandeira da monarquia, diante da crise ética, está incomodando.

Na quarta-feira, durante assembleia da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), que reuniu 148 professores, o pós-doutor em bioética Volnei Garrafa sugeriu que a delegação da ADUnB apresente, no congresso do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), em Roraima, uma proposta para que o segundo semestre das universidades federais não se inicie enquanto a presidente Dilma Rousseff não voltar ao comando do governo. A maioria apoiou a proposta. O presidente da associação, Virgílio Arraes, disse que a sugestão será encaminhada, mas ponderou que a instituição tem cerca de 2.500 professores.

A Associação dos Docentes da UnB fez uma pesquisa eletrônica para saber a opinião dos colegas sobre os temas abordados na assembleia. Apenas 478 professores responderam ao questionário, dos quais 225 (47,47%) concordam com a tese de que o impeachment é golpe e 249 (52,53%) discordam; 300 professores (63,29%) são a favor de debater o assunto e 174 (36,71%) são contra. Mais: 265 professores (55,91%) foram contra a realização da assembleia; e 209 (44,9 %), a favor. Ou seja, uma situação na qual professores engajados num projeto de poder não respeitam a maioria dos colegas e a minoria da minoria (o jovem monarquista) não pode sequer se expressar sem apanhar. Esse é o ambiente político numa das melhores universidades do país.

Excelência já foi elogio, mas faz tempo - Rolf Kuntz

- O Estado de S. Paulo

Excelência, em Brasília, é principalmente uma palavra usada por deputados e senadores antes de xingar outro congressista. Pode-se empregá-la com muita elegância em frases do tipo “vossa excelência é uma cavalgadura”. Poucos devem lembrar-se, mas esse termo serviu, em outros tempos, para indicar qualidades positivas encontradas – podem acreditar – até no setor público. Vale a pena lembrar esse velho emprego da palavra, quando se discute a profissionalização das chefias de estatais. Muito antes de ser envolvido no mensalão, o Banco do Brasil foi apontado, mais de uma vez, como centro de excelência. De seus quadros saíram funcionários para o recém-criado Banco Central, nos anos 60, e para muitos postos importantes do governo. Quem desconhece esses fatos pode ter dificuldade para acreditar nessa história. Afinal, tudo parece negá-la. Saqueada durante mais de dez anos, a Petrobrás tornou-se uma empresa superendividada, incapaz de manter seu programa de investimentos e forçada a vender uma porção de ativos para fazer caixa.

A Eletrobrás, segunda maior estatal brasileira, continua devendo ao mercado de capitais de Nova York a publicação do balanço de 2014. Os Correios, acumulando prejuízos desde 2013, poderão precisar de financiamento no segundo semestre para pagar salários e outras despesas operacionais. O prejuízo de 2015, como informou o Estado na quinta-feira, pode ter chegado a R$ 2,12 bilhões. Faltava, ainda, a publicação do balanço do ano passado, embora já se tenha chegado à metade de 2016.

Pilares da lei - Míriam Leitão

- O Globo

No ambiente incandescente da sala de reunião da Comissão do Impeachment, o auditor fiscal do TCU não altera o tom de voz sereno. “Enquanto a sociedade pagar o meu salário, eu vou fiscalizar o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal”. E disse que desrespeitá-la era “atentar contra a democracia”. Essa crise está mostrando a força das leis e das instituições brasileiras.

O auditor é Antônio Carlos Costa D’Ávila e foi ele quem detectou, numa auditoria, as pedaladas do governo Dilma. “Não posso acreditar que estão fazendo isso”, espantou-se quando descobriu os truques contábeis. Diante das primeiras respostas do governo aos seus questionamentos, negando as irregularidades, ele disse que sentiu um “frio na barriga” e pensou que estivesse errado. Não ficou feliz em confirmar que estava certo. Fora montado um esquema através do qual os bancos públicos financiavam o governo, e o Banco Central, responsável pelas estatísticas, não as registrou. Explicou que é muito difícil fiscalizar um governo, que tinha na época 38 ministérios, e cujo órgão oficial, que deveria mostrar os números, os escondeu.

O jovem Lobão ficou zangado – Elio Gaspari

- Folha de S. Paulo

O senador Edison Lobão (PMDB, ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena) chegou ao Congresso em 1979, governou o Maranhão, foi ministro de Minas e Energia de Lula (2008-2010) e de Dilma Rousseff (2011-2014). Assumiu falando em usinas "termas", mas acostumou-se a dizer "térmicas". Na sua carreira conseguiu muito. É nome de município (18 mil habitantes), fez de um filho senador (cavalgando a suplência) e da mulher deputada federal. Tem uma emissora de televisão e rádios. Os interesses de sua família incluíram uma construtora e uma distribuidora de bebidas. Tudo isso e mais a amizade de José Sarney.

Com sua seca figura, Lobão atravessa tempestades sem perder a calma. Já foi acusado de participar do loteamento de fundos de pensão estatais, de companhias de eletricidade, da mina de Serra Pelada e do Instituto de Resseguros. Foi um dos primeiros marqueses jogados na frigideira da Operação Lava Jato e coleciona acusações de pelo menos sete colaboradores da Justiça, dois dos quais falaram em nome da Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez. O senador atravessa esse tiroteio negando qualquer má companhia, pois já chegou a se queixar: "Vejo com profunda tristeza. Fica difícil fazer parte da vida pública". Seu filho homônimo chegou a filosofar: "A ética é uma coisa subjetiva, muito abstrata".

O padrão Lobão de serenidade foi quebrado por Márcio, o filho do senador que desde 2008 dirige a Brasilcap, braço dos planos de capitalização do Banco do Brasil. Grande comprador de obras de arte, casou-se com a filha de um dos maiores colecionadores do país e empregou-a no gabinete do pai. Ele foi sócio de um ruinoso presidente do fundo Postalis numa importadora de BMWs, mas sempre manteve-se discreto.

Sérgio Machado localizou-o informando que lhe passava R$ 300 mil mensais de sua caixa de propinas. A informação foi divulgada pelo repórter Lauro Jardim, a quem Márcio Lobão mandou uma carta dizendo o seguinte:

"O delator Sérgio Machado é um rato roedor. Roeu a decência. Roeu o respeito pelo próximo. Roeu a própria família, inclusive o filho, e agora, de forma vil e irresponsável, está a roer todos os amigos do seu falecido pai [...] roendo também a educação que recebeu".

Por duas vezes, chamou Machado de "cagueta" e, para felicidade geral, anunciou que vai processá-lo. Se isso acontecer, virão por aí fortes emoções.

Celso Furtado, teoria e prática
Celso Furtado viveu 84 anos, foi superintendente da Sudene, ministro do Planejamento e da Cultura e nunca teve seu nome envolvido no sumiço de um só alfinete. Em 2011, o comissariado petista lançou ao mar o petroleiro que leva seu nome, e Dilma Rousseff discursou festejando a obra da Transpetro: "No Brasil, muita gente dizia que dava para crescer, mas que poucos ficariam ricos. Celso Furtado disse que crescimento era uma coisa e desenvolvimento era outra, que país só se desenvolvia se o povo crescesse junto".

Em 2015, o estaleiro de onde saiu o "Celso Furtado" fechou, desempregando 2.000 trabalhadores, mas uns poucos maganos ficaram ricos.

A memória do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, mostrou a distância que há entre as teorias de Celso Furtado e a prática da criação de polos navais no Brasil. Desde 1955, os contribuintes financiaram três, e todos quebraram.

Machado contou que a construção do "Celso Furtado" atrasou e que ele embolsou um capilé para aliviar o valor da multa. Em 2011, a Transpetro contratou a construção de oito navios, metendo Sérgio Buarque de Holanda e o economista Rômulo de Almeida na fantasia. O contrato ficou em US$ 536 milhões. A lasca de Machado foi de US$ 1,5 milhão.

Foge o irrecuperável tempo – Editorial / O Estado de S. Paulo

Como relator dos processos relativos à Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o ministro Teori Zavascki tem imensas responsabilidades, pois toma decisões que podem produzir fortes impactos no mundo político. Por essa razão, faz bem o magistrado em ser prudente e abrigar-se, na discrição e no silêncio, das fortes pressões que naturalmente vem sofrendo – fazendo jus ao apelido de “esfinge”. No entanto, não se pode confundir prudência com procrastinação. Ao adiar decisões por tempo demasiado, como tem feito com frequência em casos de grande repercussão e com potencial de abalar o governo e o Congresso, o ministro adiciona desnecessária tensão a situações que já são, por sua própria natureza, explosivas.

O caso mais recente foi o encaminhamento, por parte do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, do pedido de prisão dos caciques peemedebistas Renan Calheiros, presidente do Senado; José Sarney, ex-presidente da República; Romero Jucá, senador e ex-ministro; e Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara. Todos eles são acusados de tramar para sabotar a Lava Jato.

Ponto de equilíbrio – Editorial / Folha de S. Paulo

O governo de Michel Temer (PMDB) promete em breve enviar ao Congresso a proposta de inscrever na Constituição um limite imediato para o crescimento da despesa federal. Mais do que peça central do programa econômico do presidente interino, trata-se da maior tentativa de reforma do Estado em três décadas.

A fim de que o plano se torne viável, não basta escrever em pedra que os gastos serão reajustados apenas pela inflação do ano anterior, sendo na prática congelados. Algumas cláusulas adicionais precisam ser bem lapidadas.

A primeira diz respeito às regras que impedirão o crescimento da rubrica social. A segunda, à duração desse congelamento.

O dispêndio se expande sem limite devido ao aumento vegetativo de certos desembolsos (número de beneficiários da Previdência), a indexações (reajustes de benefícios sociais ou de salários) e a vinculações orçamentárias (por lei, a verba para saúde e educação aumenta junto com a arrecadação).

Momento para se quebrar a rigidez das leis trabalhistas – Editorial / O Globo

• Permitir que patrões e empregados se entendam para manter e criar empregos é fórmula buscada no Brasil e em outros países, como na França

Nos 13 anos de lulopetismo, houve uma encenação de negociações em torno de reformas jamais realizadas. Era para isso mesmo. Foi assim sobre a Previdência (INSS), os sindicatos e em questões trabalhistas. Criaram-se fóruns em que representantes do capital, do trabalho e governo gastaram tempo em debates inconclusos, porque os sindicatos dos trabalhadores jamais concordaram com avanços nas legislações previdenciária e trabalhista, e o governo os apoiava. Foi puro teatro.

Agora, a situação é outra, e não apenas porque o PT está afastado do poder por decisão do Senado, no processo de impeachment de Dilma. Mas devido à gravidade da situação criada no país pelo lulopetismo: a maior recessão da História — superior à da Grande Depressão mundial de 1929/30 —; inflação que ronda os dois dígitos; e desemprego nas alturas, quase em 11%, e em elevação.

O quadro é de emergência, e por isso reformas têm de ser feitas. Uma delas é a da legislação trabalhista, para que ela ganhe flexibilidade, a fim de incentivar a geração de empregos, neste momento de redução drástica do mercado de trabalho.

Moralismo popular versus política - José de Souza Martins

• O voto de uma deputada federal desconhecida, Tia Eron, desenhará os rumos do País. Depois desse voto, ela nunca mais será a mesma

- O Estado de S. Paulo

O moralismo popular tem sido o fundamento da precária consciência política dos que, de um lado e outro das polarizações ideológicas, desde o mensalão e particularmente desde as manifestações de 2013, vão às ruas e pedem a cabeça de alguns acusados de corrupção ou pedem o reconhecimento de sua inocência. Mas o moralismo popular colide com a política, que é amoral. E é melhor que ela seja assim. Os que defendem os acusados e lhes reconhecem a inocência fazem-no na concepção imoral de que é lícito usar imprópria e indevidamente o dinheiro e o patrimônio públicos em favor de partidos que tem o presumível mandato de beneficiar os pobres e simples, e para eles governar. O que lhes daria o direito de recorrer à corrupção. Porém, na cultura popular brasileira, corrupção é coisa de ladrão, ladrão é ladrão e gente é gente.

Encontro com Oswald – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Na rua do Ouvidor, entre a avenida Rio Branco e a rua da Quitanda, ficava naquela época a Livraria José Olympio, onde, certa tarde, deparei com Graciliano Ramos, sentado numa cadeira e fumando cigarro.

Foi ali também que, poucos meses depois, comprei um exemplar de "Serafim Ponte Grande", de Oswald de Andrade, a preço de refugo. Havia, num canto, uma ruma de exemplares do livro, postos em liquidação.

Levei o livro para casa e, ao lê-lo, surpreendeu-me a linguagem saborosa do autor. Disse isso a Mário Pedrosa, que concordou comigo e me emprestou um exemplar do livro de poemas de Oswald, "Pau Brasil". Era um volume pequeno, quadrado, tendo na capa o losango da bandeira brasileira. Fascinou-me o sabor de mato verde que experimentei ao ler os seus versos.

Poema em linha reta – Fernando Pessoa

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.