quarta-feira, 22 de junho de 2016

Opinião do dia – Ferreira Gillar

Porém o mais extravagante em tudo isso é que os petistas, embora já não queiram mais que Dilma volte ao governo, se veem obrigados a lutar para que volte. E daí a impressão que temos de estarem mais perdidos do que cego em tiroteio.
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Ferreira Gullar é ensaísta, crítico de arte e poeta. ‘Cego em tiroteio’, Folha de S. Paulo, 18/6/2016

União doa R$ 2,9 bi para segurança dos Jogos

• Conclusão do metrô ainda depende de empréstimo de R$ 989 milhões do BNDES

O governo federal autorizou o repasse de R$ 2,9 bilhões para o Estado do Rio. Os recursos são destinados a despesas com segurança pública para os Jogos e não poderão ser usados na conclusão da Linha 4 do metrô. A transferência será a fundo perdido, ou seja, o estado não terá que devolver o dinheiro.

Uma doação de R$ 2,9 bi

• União formaliza ajuda ao Rio, mas só para a segurança dos Jogos. Metrô fica de fora

Catarina Alencastro e Martha Beck - O Globo

-RIO E BRASÍLIA- A estratégia do estado de decretar calamidade pública deu resultado. Após muita negociação, o governo federal publicou ontem, em edição extra do Diário Oficial, uma medida provisória que autoriza o repasse de R$ 2,9 bilhões ao Rio. O texto diz que o apoio financeiro da União é destinado a despesas com segurança pública, para a realização da Olimpíada e da Paralimpíada do Rio. O valor, no entanto, só será transferido após a abertura de um crédito orçamentário para essa finalidade. Uma nova MP fazendo a transferência será editada até o fim desta semana, segundo a Casa Civil.

MP libera R$ 2,9 bi ao Estado do Rio para segurança na Olimpíada

• Em grave crise financeira, o governo do RJ declarou estado de calamidade pública na semana passada

Eduardo Rodrigues, Idiana Tomazelli - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo federal editou Medida Provisória em que destina R$ 2,9 bilhões ao Estado do Rio de Janeiro. Os recursos servem como apoio financeiro "para auxiliar nas despesas com Segurança Pública" em decorrência da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos na cidade. A MP nº 734, de 21 de junho de 2016, foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) de hoje.

A medida destaca que o montante "será entregue ao Estado após a abertura do crédito orçamentário para a finalidade". Assinam a MP o presidente em exercício Michel Temer (PMDB), o ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Delator afirma que 1% da obra do Maracanã era para o TCE

Um ex-executivo da Andrade Gutierrez afirmou em delação que mandou pagar 1% do valor da reforma do Maracanã para a Copa de 2014 ao TCE, para evitar problemas com o tribunal. O dinheiro, segundo ele, seria destinado ao então presidente do órgão, José Maurício Nolasco, revelam Chico Otavio e Juliana Castro .O pagamento atendeu a pedido de Wilson Carlos, secretário de Governo de Sérgio Cabral, que também é acusado de receber propina. Eles negam.

Delator: secretário de Cabral pediu propina para o TCE

• Segundo Primo, 1% da obra do Maracanã iria para conselheiro Nolasco

Chico Otavio e Juliana Castro - O Globo

Clóvis Renato Primo, ex-executivo da construtora Andrade Gutierrez, afirmou em delação premiada que o Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCERJ), órgão responsável por fiscalizar irregularidades do governo estadual e de prefeituras fluminenses, está envolvido no esquema de propinas pagas pelo consórcio que executou a reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.

Em seu depoimento, Primo diz que houve um pedido de Wilson Carlos, então secretário de Governo da gestão Sérgio Cabral, para que fosse pago ao tribunal, a título de propina, 1% do valor da obra. O ex-executivo da Andrade Gutierrez declarou que, pelo que se recorda, a propina seria destinada ao então presidente do TCE, o conselheiro José Maurício Nolasco. O delator autorizou o pagamento, mas disse que não tem certeza de que o repasse efetivamente aconteceu.

Edinho pede ao STF para não ser julgado por Moro

• Ex-ministro da Comunicação é investigado por sua atuação como tesoureiro de Dilma

André de Souza - O Globo

-BRASÍLIA- A defesa do ex-ministro da Comunicação Social Edinho Silva pediu ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o inquérito aberto contra ele na Operação Lava-Jato não seja enviado à 13ª Vara Federal de Curitiba, comandada pelo juiz federal Sérgio Moro. Ele apresentou um recurso contra decisão tomada por Teori semana passada. O inquérito apura se Edinho agiu irregularmente em 2014 ao pedir doações à campanha à reeleição da presidente afastada, Dilma Roussef, da qual era tesoureiro.

Sérgio Machado quer 'polarizar', diz Temer

Por Cristian Klein e André Ramalho – Valor Econômico

RIO - O presidente interino Michel Temer afirmou que o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que o citou em delação premiada no âmbito da Operação Lava-Jato, "quer polarizar" com ele. Em entrevista exibida ontem na Globonews, no programa Roberto D'Ávila, Temer voltou a negar a acusação de que teria pedido a Machado que o ajudasse a conseguir uma propina disfarçada de doação eleitoral para a campanha do então candidato a prefeito de São Paulo, em 2012, Gabriel Chalita. "Imagine se eu tivesse pedido... Você acha que eu ia me servir dele [Machado] tendo o prestígio que tenho no cenário nacional? Empresários falavam e falam comigo", respondeu.

'Não renunciei e não tenho o que delatar', diz Cunha

• Cunha não respondeu, contudo, se descarta totalmente renúncia ou delação no futuro; ele afirmou que vai recorrer à CCJ da decisão de Maranhão de retirar consulta

Igor Gadelha e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta terça-feira, 21, em entrevista coletiva, que sua posição de não renunciar ao comando da Casa "não mudou nem uma vírgula".

O peemedebista negou intenção de renunciar ou de fazer uma delação premiada neste momento. "Não renunciei e não tenho o que delatar", afirmou. Ele disse que não pretende colaborar com a Justiça pois não cometeu qualquer crime. Cunha não respondeu, contudo, se descarta totalmente a tese de renúncia ou delação no futuro.

Afastado da presidência da Casa desde 5 de maio, o peemedebista afirmou que a situação da Câmara, que está sendo presidida interinamente pelo deputado Waldir Maranhão (PP-MA), causa "desconforto a todos". "Inclusive a mim", afirmou o parlamentar.

Cunha descarta renunciar ou fazer delação

Por Thiago Resende e Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BRASÍLIA -  O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rejeitou nesta terça-feira, em coletiva de imprensa, a possibilidade de renunciar ao cargo no comando da Casa e de fazer delação premiada. “Como vocês viram, não renunciei. Minha disposição não mudou uma vírgula em relação a esse assunto”, afirmou.

O pemedebista ainda repetiu o discurso de que não pretende fazer delação premiada porque não cometeu nenhum crime e, portanto, não tem o que delatar. “Nunca cometi qualquer crime, não tenho o que delatar nem a mim nem de terceiros”, disse.

Cunha convocou a coletiva de imprensa, segundo ele, por avaliar que o longo período sem dar entrevistas – não falava desde 19 de maio – prejudicou sua versão dos fatos. Ao longo de quase uma hora e meia, o presidente afastado fez um balanço de sua gestão no comando da Casa, de seu histórico de parlamentar e das “nulidades” em todo seu processo de cassação e em investigações que teriam sido direcionadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Cunha afirma que 'não tem o que delatar' e volta a descartar renúncia

Débora Álvares, Ranier Bragon, Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta terça-feira (21) que não tem "o que delatar". "Não tenho crime praticado", concluiu.

O peemedebista ainda disse que não pretende renunciar ao cargo de presidente da Câmara. "Como vocês viram, eu não renunciei", ironizou. O deputado convocou uma entrevista coletiva para rebater acusações e atacar adversários, como a presidente afastada Dilma Rousseff e ex-integrantes do governo petista.

Ele ainda fez uma espécie de defesa de seus recursos à Justiça e disse que o processo movido contra ele no Conselho de Ética da Câmara está marcado por uma série de "nulidades".

Cunha falou por mais de uma hora e vinte minutos em um hotel na região central de Brasília. O deputado afastado afirmou que arcou pessoalmente com os custos de aluguel do espaço e que apareceu sozinho diante da imprensa por opção pessoal.

Ele traçou um detalhado retrospecto de como ocorreu o rompimento de seu partido com o PT de Dilma, que culminou com a abertura do processo de impeachment da presidente afastada. Cunha é considerado um dos personagens principais do afastamento da petista do cargo. Foi ele que, em dezembro do ano passado, deu andamento ao processo.

Odebrecht diz que Cabral recebeu propina em obras da Copa

Marina Dias, Bela Megale – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A Odebrecht afirmou a procuradores da Lava Jato, em tratativas para negociar sua delação premiada, que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) cobrou propina em obras como o metrô e a reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.

Segundo a Folha apurou, o executivo responsável por detalhar o que chama de "contribuição" a Cabral é Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-diretor-presidente da construtora que foi preso em fevereiro por suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.

Funcionário há mais de 30 anos da Odebrecht, Silva Júnior apareceu emmensagens recuperadas do celular do ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, preso há mais de um ano. Segundo as apurações, era o ex-executivo que fazia os contatos políticos em nome da empreiteira.

Repasses a Santana serão prova no TSE

Por André Guilherme Vieira e Estêvão Taiar – Valor Econômico

SÃO PAULO - As provas de repasses de propinas da Petrobras ao marqueteiro das campanhas presidenciais do PT, João Santana, foram compartilhadas ontem pela Operação Lava-Jato com a Justiça Eleitoral. Santana e sua mulher, Monica Moura, estão presos preventivamente desde fevereiro, acusados de corrupção e lavagem de dinheiro.

Os procuradores enviaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um total de 79 arquivos, entre planilhas e documentos bancários, que segundo a acusação comprovam as transferências realizadas pelo operador Zwi Skornicki e o Grupo Odebrecht a Santana.

O material será juntado ao pedido de cassação da chapa da presidente Dilma Rousseff (PT) e do presidente interino Michel Temer (PMDB), feito pelo PSDB.

Ministro da Justiça vai a Moro e declara apoio a Lava Jato

• Alexandre Moraes viajou a Curitiba, nesta terça, 21, e visitou o juiz símbolo da maior operação de combate à corrupção no País

Fábio Serapião, Fausto Macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Justiça, Alexandre Moraes, visitou nesta terça-feira, 21, o juiz federal Sérgio Moro e declarou apoio à Operação Lava Jato – investigação sobre esquema de propinas e cartel na Petrobrás entre 2004 e 2014.

Moro é o símbolo da Lava Jato. Ele mandou prender políticos, empreiteiros, doleiros e ex-dirigentes da Petrobrás.

Um novo pacto institucional - Murillo de Aragão*

- O Estado de S. Paulo

O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff não expôs apenas sua fragilidade, sua inconsistência política e sua visão distorcida do que seja presidencialismo de coalizão. Além dos fatores conjunturais de uma presidência trágica, o episódio mostrou que os sinais vitais de nossa democracia estão comprometidos.

O problema ultrapassa as individualidades e a conjuntura governamental. O pacto institucional e federativo inaugurado com a Constituição de 1988 se exauriu.

Acabou, junto com o naufrágio do capitalismo tupiniquim, do modelo de financiamento da política e do aparelhamento do Estado pelo PT et alii.

Temer reformista - Merval Pereira

- O Globo

Temer quer negociar reformas estruturais após a votação do impeachment. Aprovado o impeachment no Senado como espera, o presidente Michel Temer deixa de ser interino e passa a assumir uma agenda reformista que andou parada nos últimos anos petistas, a começar pelo novo pacto federativo, que ele pretende negociar com os estados e municípios.

Animado pela renegociação da dívida dos estados, quando sentiu “um verdadeiro espírito de união nacional entre os governadores”, Temer acha que será possível renegociar uma reforma tributária e levar adiante reformas estruturais de que o país necessita, todos temas polêmicos que necessitarão de uma base parlamentar coesa para chegar a bom termo.

É justamente por isso que ele não se arrepende de ter feito uma composição política na montagem de seu primeiro Ministério, que acabou sofrendo baixas devido a investigações da Lava-Jato. Ele tinha a necessidade de fortalecer a base governamental no Congresso, e tentou montar acordos difíceis dentro de um esquema que tem 35 partidos políticos atuantes.

A alma do negócio - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Eduardo Cunha falou quase duas horas ininterruptas e não disse nada que não fosse de conhecimento público na aguardada entrevista em que até seus aliados supunham que ele poderia se render às evidências e renunciar. Ao posto de presidente da Câmara do qual está suspenso pelo Supremo Tribunal Federal ou do mandato de deputado.

Não fez uma coisa nem outra. Usou a atenção despertada pela expectativa de um gesto relevante para repetir o que vem fazendo há meses: negar que tenha mentido sobre a existência de contas no exterior, desancar os atos do procurador-geral da República, dizer que a dinheirama que financiou as exuberantes viagens da família ao exterior não é algo ao qual tenha acesso, ressaltar seus feitos como presidente da Câmara, negar intenção de renunciar, desmentir a ideia de delatar e cair de pau e pedra sobre Dilma Rousseff, tal como ele, afastada do cargo.

A crise do establishment - Luiz Carlos Azedo

• Na democracia, não há saída para as crises sem passar pelo Congresso. O impeachment, porém, avança como pau de enchente na comissão especial do Senado

- Correio Braziliense

A Operação Lava-Jato, com as delações premiadas, ameaça pôr em xeque todo o espectro político nacional, ao criminalizar todas as doações eleitorais das empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras aos partidos políticos. Não há liderança nacional que não tenha sido citada até agora, seja em delações premiadas, seja em listas apreendidas nos escritórios de empreiteiras e lobistas. Ontem, até o ex-governador Eduardo Campos, que faleceu tragicamente num acidente aéreo em Santos, no começo da campanha eleitoral de 2014, foi alvo de uma operação da força-tarefa do Ministério Público Federal. Sobrou para a ex-senadora Marina Silva, que o substituiu como candidata do PSB.

Com dezenas de senadores e mais de uma centena de deputados, além de governadores, ex-governadores, ministros e ex-ministros citados na Operação Lava-Jato, o establishment político nacional está sendo volatilizado pela crise ética. Reputações políticas estão sendo liquefeitas, seja pelas denúncias do Ministério Público, seja pela guerra midiática entre militantes a favor e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O réu comentarista – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

O anúncio teve ar de suspense. Afastado da Câmara por decisão do Supremo, Eduardo Cunha convocou a imprensa para uma coletivaantecipar o assunto. O Congresso se preparou para uma bomba, mas a montanha pariu um rato. Ou um "papabiru", como PC Farias costumava chamar o pupilo.

Cunha não renunciou, não confessou, não delatou e não contou nada de novo. Num monólogo de uma hora e meia, repetiu os argumentos de sua defesa e fez um retrospecto da própria carreira. Ainda encontrou tempo para falar mal dos adversários e dissertar sobre temas diversos, como a última eleição presidencial.

Acordo Temer-Renan acerta em Dilma - Raymundo Costa

• Negociação das dívidas pode pacificar o Senado

- Valor Econômico

À mesa de Temer com os governadores, o lugar de honra coube ao presidente do Senado, Renan Calheiros. Há uma semana, Renan questionava o poder do governo provisório para tomar decisões definitivas como a que estabelece um teto para os gastos públicos. Na segunda-feira, o senador alagoano tornou-se o principal avalista do acordo celebrado entre os governadores e o Palácio do Planalto sobre a dívida dos Estados. Após um dia de negociações, os governadores conseguiram arrancar do governo federal um alívio de R$ 50 bilhões até 2018 para o pagamento de suas dívidas com a União.

O Rio e o mito do governo de eventos - Elio Gaspari

• A falência de um modo de administração irresponsável, espetaculoso e demófobo

- O Globo

Decretar calamidade é parte do estilo de governar que cria eventos para resolver problemas do estado. Odecreto que colocou o Rio de Janeiro num regime de calamidade é mais uma pirueta do estilo de administração que arruinou o estado. Havendo um problema, cria-se um evento. O problema era a falência, assinou-se um decreto, criou-se um evento, e transferiu-se o problema para Brasília. Lá, um governo fraco e fiscalmente combalido capitulou, concedendo uma moratória a estados administrados por perdulários.

Uma oportunidade para o Estado encolher - Cristiano Romero

• União negocia com todos os Estados a venda de estatais

- Valor Econômico

Uma das contrapartidas dos Estados na renegociação de suas dívidas com a União será a privatização de empresas estatais. O governo do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, concordou em privatizar a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Goiás, por sua vez, aceitou vender a Celg, a distribuidora de energia do Estado.

O processo de venda das estatais estaduais será conduzido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), uma exigência do governo federal. O banco, como se sabe, tem expertise no assunto, tendo sido responsável pelas privatizações realizadas nos governos Collor (1990-1992), Itamar Franco (1992-1994) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Enquanto durar - Míriam Leitão

- O Globo

Para Meirelles, gravidade da crise eleva o apoio a medidas fiscais de longo prazo propostas pelo governo interino. O ministro Henrique Meirelles acha que a crise é tão grave que o governo tem apoio para tomar medidas de longo prazo independentemente do fato de a administração ter pela frente alguns meses ou dois anos e meio. O governo é interino, mas tem proposto ações para os próximos 10 ou 15 anos. “São medidas para o Brasil e o menos importante é quanto tempo vai durar o governo”, me disse em entrevista concedida ontem.

Esta semana, a União acertou com os estados o alongamento da dívida por 20 anos. Meirelles disse que apesar de aumentar as despesas em R$ 50 bilhões, o acordo tem vantagens.

— Há um ganho importante porque poderá ser limitado o gasto dos estados de acordo com a inflação do ano anterior, exatamente como vai acontecer com o governo federal.

A miséria da economia - Monica de Bolle

- O Estado de S. Paulo

Os argumentos econômicos já não convencem ninguém. Querem ver? Daqui a um dia, o Reino Unido poderá decidir pela saída da União Europeia sem pestanejar sobre as possíveis perdas econômicas - a perda do acesso ao mercado comum europeu, destino de metade das exportações da ilha, a perda do status de Londres como centro financeiro internacional, a perda de empregos e PIB.

Daqui a cinco meses, americanos escolherão o novo ou nova governante do país. Um deles possui inflamada retórica anticomércio e antiglobalização, o que por certo trará prejuízos econômicos aos EUA. Na segunda-feira, o governo brasileiro fechou negociação com os Estados, muitos em situação de penúria, e tenta vender a ideia de que os efeitos do acordo não trarão maiores prejuízos aos cofres públicos. Não maiores do que os já contemplados.

Pasárgada - Roberto DaMatta

- O Globo

Em 1968 ou em 1969 fiz o curso “Urbanização e utopia”. Éramos quase todos estrangeiros naquela Harvard onde a palavra estrangeiro não existia, pois, como me disse um Thomas Skidmore — saudoso e recentemente falecido — “somos todos estrangeiros diante do conhecimento”.

Richard Moneygrand ministrou esse curso, definido como uma reflexão sobre os dilemas do individualismo moderno e as utopias nascidas dessa extremada valorização da parte sobre o todo. De um sistema no qual os elos entre homens e as coisas são mais importantes do que as relações dos homens entre si.

Lemos o clássico de Lewis Mumford, revisamos Platão, Thomas More e Fourier. Mas não esquecemos o Paraíso sem deixar de lado H. G. Wells, Kakfa, Aldous Huxley, Burgess, Orwell e os modernos arquitetos, os quais, como bons desenhistas, tentavam “solucionar” os erros de um sistema a ser redimido.

Distante e indiferente – Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

Em 15 dias fora do país e lendo diariamente os jornais locais, nenhuma notícia sobre o Brasil. Eu não precisava de manchetes. Uma notinha na página 18 ou uma simples linha que fosse, qualquer coisa me satisfaria. Mas nem isso. Era como se o público de Lisboa, Londres e Dublin vivesse muito bem sem saber das piruetas de Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer, Aécio Neves, José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros, Eduardo Cunha e outros protagonistas dos nossos destinos.

Não há fichas limpas - Arnaldo Jabor

-O Globo, 21/6/2016

Não, não sei mais analisar a situação brasileira. Os fatos estão muito à frente de qualquer interpretação, que é sempre fugaz, com uma lógica que se perde em poucos instantes.

A sensação que tenho – estamos reduzidos a sensações – é que os hábitos tradicionais do velho patrimonialismo brasileiro, com suas teias ocultas de escândalos, estão arrebentando juntos e irrompendo da lama escondida por séculos.

Uma das razões é que nossa corrupção deslavada, nosso secular desgoverno se fragilizaram nesse mundo contemporâneo global e digital. Nosso Atraso ficou atrasado. As informações na velocidade da luz fizeram a opinião pública acordar sem saber bem para que ainda, mas já é um avanço.

Acordo não deixa claro as contrapartidas dos Estados – Editorial / Valor Econômico

O governo do Estado do Rio de Janeiro decretou um estranho estado de calamidade pública após reunião entre o governador interino, Francisco Dornelles, e o presidente interino, Michel Temer. A sombra da debacle fluminense pairou sobre a reunião do presidente com os governadores em Brasília, aonde se consagrou um esquema provisório para que nos próximos dois anos os Estados tenham um alívio no pagamento de suas dívidas com a União. É pouco para o Rio que, ao lado do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, têm as piores relações entre dívidas e receita corrente líquida e poderão receber alguma ajuda extra do governo federal.

Um acordo de arrumação – Editorial / O Estado de S. Paulo

Ao negociar um alívio de R$ 50 bilhões aos Estados devedores do Tesouro Nacional, o presidente interino Michel Temer pode ter feito um bom investimento. Em troca da ajuda, governadores aceitaram dois compromissos. Desistirão de processos para mudar os juros cobrados sobre as dívidas estaduais. Além disso, aceitarão a fixação de um teto para o aumento de gastos. O acordo tira os governos do sufoco, elimina ou pelo menos atenua um foco de inquietação política e pode facilitar o conserto das finanças públicas. Se tudo correr segundo o planejado, haverá um bom retorno, medido pelos critérios políticos e pelos objetivos das finanças públicas.

Fracasso campeão – Editorial / Folha de S. Paulo

Polêmica desde a concepção, a operadora de telefonia Oi prostrou-se ante uma dívida de R$ 65,4 bilhões e apresentou na segunda-feira (20) seu pedido de recuperação judicial. Trata-se do maior processo do gênero na história do Brasil —e isso ainda é dizer pouco.

O desfecho a que a população agora assiste com estupefação constitui o traço mais expressivo da política de campeões nacionais preconizada pelo governo Lula (PT), e da proposta de criar uma supertele num mercado em que predominam empresas estrangeiras sobrou apenas a ilusão.

Delírios estatistas e corrupção na quebra da Oi – Editorial / O Globo

• Num fato para a História, o PT se liga aos três maiores fracassos empresariais do país desde Cabral: Petrobras, Sete Brasil e a ‘Supertele’. Há causas comuns

A virtual quebra da Oi, sacramentada pelo pedido de proteção judicial, outro nome de concordata, representa a conversão em pó de delírios estatistas, expressos no sonho que virou pesadelo de ressuscitar o espírito da velha Telebras por meio de uma empresa de capital na prática misto, turbinada com dinheiro público via BNDES (sempre ele), fundos de pensão de estatais e, mais tarde, com um braço internacional baseado em Lisboa (Portugal Telecom, Banco Espírito Santo), com extensões na África de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde).

Acaso – Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.

A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.

Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.

Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.

Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!

Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?

Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...

Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.