terça-feira, 5 de julho de 2016

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Se fossem, que saída haveria? Está na hora de juntar as forças descomprometidas com o crime – e elas existem nos vários setores do espectro político – para que o bom senso volte a imperar e para que possamos recriar as instituições, entendendo que no mundo contemporâneo a transparência não é uma virtude, mas um imperativo e, por outro lado, que se não houver meios institucionais para decidir e legitimar o que queremos não sairemos da desilusão e da perplexidade.

Não é hora só para acusações, é hora também para a busca de convergências.
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*Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi presidente da República. ‘Um pouco de bom senso’ O Estado de S. Paulo, 3/7/2016

Lava-Jato: centro de pesquisa teve desvio de R$ 39 milhões

Propina destinada a tesoureiro do PT irrigou até escola de samba, segundo PF

A Lava-Jato revelou ontem esquema que, segundo os investigadores, desviou R$ 39 milhões da obra do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio. Parte dos recursos ilícitos teria sido repassada ao ex-tesoureiro do PT (entre 2005 e 2010) Paulo Ferreira. Além de abastecer campanhas petistas, a propina irrigou, de acordo com a PF, o caixa de uma escola de samba em Porto Alegre e as contas de uma rainha de bateria ligada a Paulo Ferreira. O ex-tesoureiro do PT teve novo pedido de prisão decretado. Ele, porém, já está preso desde a semana passada, pela Operação Custo Brasil. A WTorre, que apresentou preço menor na disputa pela obra, teria recebido R$ 18 milhões de outras empreiteiras para desistir da disputa, o que a empresa nega.

Propina em cadeia

• WTorre teria recebido R$ 18 milhões de cartel para desistir de obra da Petrobras

Renato Onofre, Cleide Carvalho - O Globo

-SÃO PAULO- As investigações da Operação Lava-Jato chegaram ontem ao pagamento de propina na expansão do principal polo de tecnologia da Petrobras: o Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), na Ilha do Fundão, no Rio. A obra rendeu R$ 39 milhões em propina a funcionários da Diretoria de Serviços da estatal e ao PT. Os recursos ilícitos, além de abastecerem campanhas políticas, foram repassados a uma escola de samba e a uma rainha de bateria ligadas ao ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira (entre 2005 e 2010), um dos alvos da operação. A nova fase revelou ainda a primeira propina paga entre empresas privadas: vencedora da licitação, em setembro de 2007, para as obras no Cenpes, a WTorre, segundo os investigadores, recebeu R$ 18 milhões da OAS, em nome de cartel, para desistir de participar.

Paulo Ferreira, que havia sido preso na semana passada na Operação Custo Brasil (acusado de participar de um esquema de pagamento de propina ligado ao Ministério do Planejamento), teve prisão preventiva novamente decretada. Além dele, foram presos temporariamente Edson Freire Coutinho, exexecutivo do Grupo Schahin, e o vicepresidente da Construcap Roberto Ribeiro Capobianco. O juiz Sérgio Moro autorizou também as prisões temporárias de Erasto Messias da Silva Jr., da construtora Ferreira Guedes, e Genesio Schiavinatto Jr., da Vetor 2 Engenheiros Associados, mas eles não foram localizados. Foram expedidas ainda sete conduções coercitivas, entre elas a do presidente da WTorre, Walter Torre, e 22 mandados de busca e apreensão.

A força-tarefa da Lava-Jato mapeou um cartel formado pelas construtoras Carioca Engenharia, OAS, Construbase, Construcap e Schahin Engenharia para controlar a licitação de três obras da Petrobras em 2007: uma sede administrativa em Vitória, o Centro Integrado de Processamento de Dados e o Cenpes, ambos no Rio. A negociata foi revelada pelo GLOBO em julho de 2015, quando mostrou que a obra estimada em R$ 850 milhões chegou a R$ 1,8 bilhão depois de 17 aditivos.

Obra de centro do pré-sal bancou até escola de samba

Lava Jato apura propina de R$ 39 mi em obra do pré-sal

• Ex-tesoureiro do PT, alvo principal, tem prisão decretada; Paulo Ferreira já está custodiado em São Paulo como investigado na Operação Custo Brasil

Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo

A Polícia Federal deflagrou a Operação Abismo, 31ª fase da Lava Jato, nesta segunda-feira, 4. A ação, que tem apoio da Receita, cumpre 23 mandados de busca e apreensão e 1 de prisão preventiva, 4 custódias temporárias e 7 conduções coercitivas – quando o investigado é levado para depor e liberado – em São Paulo, no Rio e em Brasília.

O alvo principal é o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, que já está preso, contra quem a Abismo expediu um mandado de prisão preventiva. Paulo Ferreira foi capturado na Operação Custo Brasil, que mirou o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula).

Segundo a Procuradoria da República, o esquema envolveu diversas empresas que pagaram mais de R$ 39 milhões em vantagens indevidas para empresa participante do certame, para Diretoria de Serviços e Partido dos Trabalhadores.

Com base nas investigações e também em uma das delações, a do ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços, Pedro José Barusco, a força-tarefa da Operação Abismo constatou que a divisão ocorreu assim:

Delações estão sob ameaça, diz procurador

• Força-tarefa da Lava-Jato afirma que agentes políticos estão por trás de todos os casos de corrupção investigados

Cleide Carvalho, Renato Onofre - O Globo

-SÃO PAULO- A força-tarefa da Lava-Jato voltou a pedir o apoio da sociedade no combate à corrupção, ao deflagrar ontem a 31ª fase da operação, que investiga o pagamento de R$ 39 milhões em propina no contrato do centro de pesquisas da Petrobras, na Ilha do Fundão, no Rio. Segundo o procurador Roberto Pozzobon, que integra a equipe, a corrupção se alastrou, e a conexão entre as diversas operações realizadas no país mostra que os políticos estão no “topo da cadeia alimentar da propina”.

— Em todas as operações, os destinatários finais eram agentes políticos. Eles estão no topo da cadeia alimentar da propina. O povo brasileiro não aguenta mais que eles flertem, namorem e casem com a corrupção. Precisamos que a crise política e a impunidade sejam enfrentadas, com reforma política e medidas contra a corrupção — disse.

O procurador voltou a defender os acordos de delação, alvos de críticas, inclusive de parlamentares.

PT quer antecipar defesa do impeachment

Por Vandson Lima – Valor Econômico

BRASÍLIA - Para "denunciar o golpe ao mundo" durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em agosto, o líder da minoria no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ) iniciou uma articulação para que a defesa da presidente afastada Dilma Rousseff antecipe em uma semana a entrega de sua parte nas alegações finais do processo de impeachment.

Pelo cronograma atualmente previsto, o julgamento em plenário que pode cassar em definitivo o mandato de Dilma ocorreria entre 22 e 26 de agosto. A Olimpíada se encerra justamente um dia antes - começa no dia 3 e acaba no dia 21.

A defesa de Dilma tem prazo de 15 dias para a entrega das alegações. Se entregar a documentação em uma semana, o trâmite dali para frente se adianta e o julgamento final poderia acontecer entre 15 e 19 de agosto.

"Eles [acusação] estão querendo fugir do impacto internacional, não querem misturar com a Olimpíada. É importante que o mundo acompanhe o que está acontecendo, a desmoralização por conta desse processo de impeachment. Todo mundo está tratando o que está acontecendo no Brasil como um golpe parlamentar. A repercussão no mundo é essa", afirmou o senador. Lindbergh vai conversar com José Eduardo Cardozo, advogado da presidente afastada, para convencê-lo da estratégia.

O líder também tratará da possibilidade de Dilma não comparecer à comissão para depor amanhã. O grupo de senadores pró-Dilma defende que ela não venha ao Senado na sessão em que poderia rebater acusações que podem custar sua cassação. A presidente afastada não é obrigada a comparecer e pode ser representada por seu advogado.

Partidos travam pacote anticorrupção

• PMDB, PT e PP não indicam nomes para compor comissão especial responsável por tramitar projeto apresentado ao Congresso pela Procuradoria

Julia Lindner - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Partidos que abrigam os principais alvos da Operação Lava Jato, PMDB, PT e PP ainda não indicaram os nomes de parlamentares para compor a comissão especial responsável pela tramitação dos projetos anticorrupção na Câmara. Três semanas após a autorização para criar o colegiado, PSC e PC do B também não apresentaram os nomes. A falta das indicações é apontada como o motivo pelo qual o presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), ainda não liberou o início dos trabalhos.

Os projetos das “10 Medidas contra a Corrupção” foram apresentados ao Congresso em março, por iniciativa do Ministério Público Federal e entidades que recolheram mais de 2 milhões de assinaturas.

Até agora, 14 partidos (PTN, SD, PRB, PHS, DEM, PTB, PR, PSD, PROS, PV, PSDB, PSB, PDT e Rede) apresentaram 18 membros titulares. Faltam ainda outros 12 nomes. Segundo a Mesa Diretora da Casa e assessores de Maranhão, ele aguarda todos os líderes indicarem seus representantes. Técnicos das comissões especiais, contudo, dizem que o colegiado não precisaria estar completo para ser instalado, dependeria apenas de “vontade política”.

Para colocar 'país nos trilhos', Temer diz que adotará medidas impopulares

Por Estevão Taiar e Camila Souza Ramos – Valor Econômico

SÃO PAULO - O presidente interino Michel Temer afirmou ontem que "a partir de certo momento" será obrigado a tomar medidas impopulares. Discursando no Global Agribusiness Forum, o pemedebista comemorou o documento que recebeu de 46 entidades do agronegócio em apoio a ele. Esse apoio, segundo Temer, será importante no momento de apresentar as medidas.

"Estamos em um sistema de contenção [de gastos], mas a contenção ainda não começou a aparecer. Por isso, a importância desse documento, assim como já aconteceu com a indústria, com o comércio varejista [que também apoiaram Temer]. Esse apoio é fundamental, porque a partir de certo momento começaremos com medidas, digamos assim, mais impopulares", disse, sem explicar quais serão essas medidas e quando elas serão tomadas.

Temer garantiu, no entanto, que não receia propor tais medidas, porque o seu objetivo "não é eleitoral". Se confirmado pelo Senado o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, ele disse que tem como meta "colocar o Brasil nos trilhos". Caso o objetivo seja cumprido, "não quero mais nada da vida pública", afirmou, aplaudido de pé pelos representantes do agronegócio.

Mesmo falando em contenção, o presidente interino defendeu o reajuste do salário dos funcionários públicos, feito no mês passado e criticado por ir contra o ajuste fiscal alardeado por ele mesmo.

Paes repete críticas ao governo do Estado: 'Trabalho horrível'

• 'Falhando completamente em seu trabalho de polícia'

Fábio Grellet – O Estado de S. Paulo

Dois dias após fazer duras críticas ao governo do Estado do Rio, o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PMDB), repetiu a postura em entrevista exibida nesta segunda-feira pela rede de TV norte-americana CNN. Referindo-se à segurança pública, Paes afirmou que "esse é o assunto mais sério do Rio, e o Estado está fazendo um trabalho terrível, horrível. O governo está falhando completamente em seu trabalho de polícia, em tomar conta da segurança pública". O governo estadual avisou que não vai responder às críticas.

Aliado histórico do governo estadual nas gestões de seus correligionários Sérgio Cabral (2007-2014) e Luiz Fernando Pezão (que, como vice de Cabral, assumiu o governo em 2014 e foi eleito governador para a gestão 2015-2018), Paes passou a fazer severas críticas ao Estado em relação à falta de segurança e aos problemas financeiros, que podem afetar a conclusão das obras de extensão do metrô até a Barra da Tijuca (zona oeste), onde fica o Parque Olímpico.

Na entrevista à CNN, o prefeito afirmou que "felizmente" a segurança do Rio durante a Olimpíada não ficará apenas a cargo do Estado. "Teremos a Força Nacional aqui, o Exército, a Marinha. Todos estarão aqui. Como você sabe, a questão da segurança não é uma responsabilidade da prefeitura, mas do governo do Estado", completou.

Questionado se ele teme pela segurança dos moradores do Rio durante o Rio-2016, Paes afirmou: "Não estou preocupado se eles (cidadãos) ficarão abandonados durante os Jogos Olímpicos. Eu estou preocupado se eles ficarão abandonados todos os dias em suas vidas".

Ao abordar a incidência do vírus da zika, o prefeito afirmou que está enfrentando o problema, que existe também em outras partes do mundo, como os Estados Unidos. "Se você é americano, não vá à Flórida, porque lá há mais casos de zika do que no Rio atualmente. Não estou dizendo que não é um problema, porque é. Mas nós estamos enfrentando. Essa é a época do inverno por aqui e o clima fica mais favorável ao combate ao mosquito", afirmou.

Durante evento no Rio nesta segunda-feira, Paes voltou a mencionar a crise da segurança pública, mas amenizou a crítica ao governo estadual: "A segurança não é um problema olímpico. Segurança pública é o principal problema do Rio desde sempre, desde muito tempo. É um problema para todos nós, sempre. Nós passamos por um momento ruim, mas tenho muita confiança no governo do Estado. Eu fiz uma reclamação no último fim de semana em relação à postura e ao procedimento, mas nós vamos trabalhar em parceria", disse. "Temos que olhar pra frente.

Dificuldade todos temos e não dá para a gente ficar chorando as dificuldades. Eu tenho muita confiança na capacidade do governador (Francisco) Dornelles de superar esses desafios, no secretário (de Segurança, José Mariano) Beltrame", afirmou. Dornelles (PP) assumiu o cargo interinamente porque Pezão se licenciou para combater um câncer.

Lembre
No último sábado , Paes elevou o tom das críticas ao Estado: afirmou que o governo deve "tomar vergonha na cara" e "arregaçar as mangas". As afirmações foram feitas um dia após o roubo do equipamentos de duas emissoras de TV alemãs e depois de declarações do secretário de Estado de Saúde, Luiz Antônio Teixeira Júnior, que se queixou das dificuldades por que passa a pasta, com risco de fechamento de hospitais durante a Olimpíada.

Prefeito do Rio diz que Estado faz 'trabalho terrível' na segurança

Alfredo Mergulhão, Marco Antônio Martins, Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - A um mês da Olimpíada, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), subiu o tom contra o governo do Estado e afirmou à rede TV norte-americana CNN que a administração faz uma trabalho "horrível" na segurança.
Ele também comemorou o fato de o setor não ser responsabilidade apenas do governo do Estado durante os Jogos Olímpicos.

"Vai ter a Força Nacional de Segurança, o Exército, a Marinha. Todos estarão aqui. Acho que eles fazem um trabalho terrível na segurança, antes e depois dos Jogos. Ainda bem que não serão os responsáveis pela segurança durante os Jogos", afirmou.

É a segunda vez em três dias que o prefeito critica duramente o governo do Estado. No sábado (2), ele já havia criticado a Secretaria Estadual de Saúde. O titular da pasta, Luiz Antônio Teixeira, havia dito que o atendimento estará em risco durante o evento por falta de recursos.

Paes disse, então, que as autoridades estaduais deveriam "tomar vergonha na cara", "arregaçar as mangas" e parar com o "chororô".

O prefeito tem demonstrado irritação com o uso da Olimpíada por parte do Estado para justificar sua crise financeira. O evento foi citado nos três artigos do decreto de calamidade pública editada no mês passado.

Em seguida, ele convocou uma coletiva para afirmar que o município não entrou em crise por causa dos Jogos.

O objetivo de Paes é tentar preservar a prefeitura do não cumprimento de metas e compromissos estabelecidos para os Jogos.

Os principais problemas na organização do evento decorrem de falhas do governo do Estado, ao qual o prefeito é aliado desde 2009, quando assumiu o cargo.

O governo é comandado interinamente por Francisco Dornelles (PP) –o governador Luiz Fernando Pezão, também do PMDB, como Paes, está de licença para tratamento de saúde.

Além da própria imagem, Paes busca preservar seu pré-candidato à prefeitura, Pedro Paulo (PMDB), de eventuais falhas na organização.

"[A segurança] É o tema mais importante no Rio, e o Estado está fazendo um trabalho horrível. Eles estão falhando em cuidar da segurança", afirmou o prefeito no trecho da entrevista divulgada.

Na cúpula da Secretaria Estadual de Segurança, as declarações de Paes foram consideradas "irresponsáveis". A maior preocupação foi um possível estímulo a um grupo de policiais que vem se manifestando contra a situação precária do setor.

"São tão irresponsáveis as declarações que fomentam qualquer movimento grevista que são todos contra o Estado", disse um dos integrantes da cúpula do Rio.

Policiais civis fizeram na semana passada protesto no aeroporto internacional do Galeão mostrando uma faixa com os dizeres "Bem-vindo ao inferno" no desembarque.

A pasta divulgaria nota oficial no fim da tarde desta segunda, mas desistiu e não comentou as críticas de Paes.

Após a divulgação da entrevista, o Paes buscou reduzir a temperatura das declarações. Disse ter "confiança no secretário [de Segurança, José Mariano] Beltrame e no governador [Francisco] Dornelles". "Dificuldades todos temos. Não dá para ficar chorando as dificuldades."

Legado ambiental
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), defendeu nesta segunda-feira (4) o legado ambiental proporcionado pelos Jogos Olímpicos e disse que o setor recebeu investimentos em razão do evento.

Reportagem da Folha publicada no domingo (3) mostrou que as metas ambientais descritas no dossiê de candidatura, apresentado em 2009, quando o Rio foi escolhido como cidade-sede dos Jogos, não foram alcançadas.

"Dois compromissos importantes deixaram de ser feitos [despoluição da baía de Guanabara e da lagoa de Jacarepaguá]. Mas nós fechamos o aterro de Gramacho e fizemos 100% do saneamento da bacia do rio Marangá, para toda a região de Deodoro", disse Paes em visita às obras do BRT Transolímpica, que liga os parques olímpicos da Barra e de Deodoro.

O fechamento do aterro de Gramacho não constava do dossiê de candidatura. A despoluição da sub-bacia do rio Marangá contribui para a limpeza da baía de Guanabara.

Contudo, a meta de tratar 80% do esgoto lançado na baía não foi cumprida. Ela depende da inclusão no sistema de cerca de 60% dos moradores da região metropolitana do Rio que ainda não têm acesso a saneamento básico, uma responsabilidade do governo do Estado.

Em nota, Paes criticou o uso do dossiê de candidatura como forma de avaliar o cumprimento das metas.

"Esse livro de candidatura trazia os principais projetos do Rio para o evento. Tratava-se de um plano de candidatura. Sem projetos detalhados e com simples estimativa de custos e de projetos arquitetônicos e urbanísticos."

O documento apresentado em 2009 tinha 614 páginas com 13 seções, uma dedicada ao ambiente. Descrevia compromissos dos governos ao COI (Comitê Olímpico Internacional) e o legado que os Jogos deixariam à cidade.

Além da despoluição da baía de Guanabara e da lagoa de Jacarepaguá, o plano previa o plantio de 24 milhões de mudas para recuperação da mata atlântica e a melhoria da qualidade da água da lagoa Rodrigo de Freitas para uso dos banhistas. Nenhuma dessas metas foi atingida.

Paes cita ainda o Museu do Amanhã como o ecomuseu permanente para educação ambiental previsto no dossiê.

Para o prefeito, as cobranças devem se basear no Plano de Legados, que lista 24 projetos de infraestrutura que, segundo a Autoridade Pública Olímpica, não têm relação direta com os Jogos mas foram inspirados por ele.

A lista inclui a macrodrenagem da bacia de Jacarepaguá, que reduz as enchentes na região. Também beneficia a despoluição da lagoa de Jacarepaguá, contudo, sem cumprir a meta prevista no dossiê de recuperação do sistema de lagoas da região.

A Secretaria do Ambiente disse que restaurou 3.275 hectares de mata atlântica, o que representa 68,7% das emissões a serem compensadas.

Aliança entre prefeitura, estado e união era ativo da candidatura
A aliança entre os governos federal, estadual e municipal era um dos principais ativos para a conquista da Olimpíada deste ano. Ao COI (Comitê Olímpico Internacional), a união era uma espécie de lastro político para a realização do evento.

O ano da conquista da sede dos Jogos, em 2009, era a consolidação da aliança entre PMDB e PT no Rio. O prefeito Eduardo Paes acabara de vencer a eleição para a capital, eleita cidade-sede.

Nos bastidores, contudo, as divergências começaram desde o início da organização dos Jogos. Nos bastidores, Paes buscou desidratar a APO (Autoridade Pública Olímpica) a fim de aumentar seu protagonismo nos Jogos.

O órgão criado para monitorar de perto todas as obras para o evento passou a ter função acessória com o esvaziamento constante.

Paes assumiu a execução de diversas obras antes de responsabilidade da União, entre elas o Parque Olímpico da Barra. Em parte, porque notou que pouco se andava na solução sobre como gastar quase R$ 2 bilhões para erguer o espaço. Fez uma PPP (parceria pública privada).

O Complexo Esportivo de Deodoro também foi motivo de brigas. A União demorou quase quatro anos para transferir a responsabilidade para o Estado, que se queixou. Este, por sua vez, demorou mais um ano para repassa-la ao município. A licitação para a obra seria feita a dois anos dos Jogos, e o Centro de Hipismo é hoje uma das preocupações.

As queixas se davam basicamente nos bastidores. Ao assumir cada vez mais o protagonismo dos Jogos, Paes também passou a usar o evento para apresentar o que considera capacidade de planejamento. A maioria das arenas foi entregue no prazo, embora outras tenham preocupado muito o COI, como o Velódromo.

A medida que a Olimpíada se aproxima, Paes decidiu fazer críticas abertas ao Estado para se desvencilhar de metas não-cumpridas que não eram de sua responsabilidade. Entre elas, a segurança pública e a despoluição da baía de Guanabara.

Paes afirma que segurança não será problema na Olimpíada

• Prefeito diz que situação hoje é ‘terrível’, mas que tropas federais vão atuar nos Jogos

- O Globo

O prefeito Eduardo Paes disse que as tropas das forças Armadas e Nacional vão garantir a tranquilidade da Olimpíada, apesar de a segurança do estado estar “muito ruim”. À CNN, chegou a dizer que está “horrível, terrível”. Segundo ele, a preocupação é como ficará o dia a dia do carioca após o evento. Paes, que vê como principais legados a mobilidade e o resgate da Zona Portuária, criticou quem não reconhece a importância dos Jogos para a cidade: “É um complexo de viralata assoberbado.”

Com críticas à prefeitura do Rio, Molon sela aliança com o PV

• Acordo garante ao pré-candidato da Rede participação nos debates durante a campanha

Marco Grillo – O Globo

RIO — O deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ) selou a aliança com o PV na tarde desta segunda-feira em uma reunião com uma série de críticas à prefeitura do Rio. A aliança é estratégica para o pré-candidato a prefeito pela Rede, pois garante a presença nos debates durante a campanha. A legislação determina que candidatos cujos partidos ou coligações tenham mais de nove deputados federais sejam obrigatoriamente convidados.

No encontro, com a presença de dirigentes da Rede e do PV, Molon criticou a qualidade das obras entregues pela prefeitura e associou os problemas à corrupção.

— Participação e transparência fazem a diferença. Primeiro, como forma de enfrentar a corrupção. A corrupção que está nas obras, que é vista na má qualidade das obras. O asfalto que não dura um dia, que é colocado num dia e no dia seguinte já está fazendo buraco, porque o dinheiro é desviado. Da obra da ciclovia que cai e mata gente, nessa irresponsabilidade e nessa falta de planejamento sério, de uma obra séria, de uma licitação séria. A gente quer superar esse quadro — afirmou.

O pré-candidato também criticou as mudanças feitas pela administração municipal nas linhas de ônibus. Segundo Molon, a população não foi ouvida antes de a medida ser adotada:

— As linhas de ônibus foram todas alteradas sem que ninguém fosse ouvido, sem que houvesse um planejamento transparente para a cidade e sem que as pessoas tenham sido sequer bem informadas. Muita gente até hoje não sabe onde vai pegar o ônibus ou como vai fazer para chegar aonde chegava. Não se faz assim com uma cidade. Não se faz uma mudança dessa ordem sem ouvir as pessoas.

Molon citou ainda estratégias que precisarão ser adotadas pelo próximo prefeito para que a cidade não enfrente problemas econômicos após os Jogos Olímpicos.

— É preciso encontrar estratégias para que o Rio de Janeiro não afunde no ano que vem. Isso significa apostar na economia criativa, no empreendedorismo, em start-ups, fazer do Rio de Janeiro um lugar atraente para esse tipo de iniciativa, que aposte na cultura, na tecnologia, na gastronomia, na moda. Um lugar que aposte em várias iniciativas que ajudem a preparar o pós-Olimpíadas. Para depois que passar o evento, a cidade não entrar em uma depressão.

A coligação lançou uma plataforma colaborativa, chamada "Juntos pelo Rio", em que serão aceitas sugestões para a formulação do programa de governo. O presidente municipal do PV, Fabiano Carnevale, destacou que o partido abriu mão da candidatura própria em troca de uma aliança que busca uma maior viabilidade eleitoral.

— O Rio de Janeiro passa por um momento decisivo, em que esse ano, finalmente, a gente pode derrotar o PMDB — afirmou.

Brexit: Para Vacca, “crise europeia pode impulsionar novo pacto social na Itália”

- Gramsci e o Brasil

Para o presidente do Instituto Gramsci, Giuseppe Vacca, a crise aberta com a vitória do Brexit não fornece motivos para um aumento da depressão, mas sim para um relançamento do projeto constitutivo do Partido Democrático italiano e a ação dos governos democráticos. A situação não é rósea para a esquerda na Itália e na Europa e provavelmente em nenhuma parte do mundo. «Estamos há dez anos diante da necessidade de confrontar a grande depressão, que não é somente uma questão de política econômica, mas também um problema de déficit das instituições políticas supranacionais”, diz ele. “Foram dez anos de crise que ampliaram o mal-estar, a exclusão e também a desconfiança e a rebelião no que diz respeito à Europa. A Inglaterra é um caso em si, certamente, mas com as devidas distinções o problema está presente em todos os países europeus”.

• Muitos dizem que a única estrada para salvar a UE consistiria em relançar o “sonho europeu”, o ideal federalista, a Europa dos pais fundadores. Concorda com esse ponto de vista?

Nunca me ocupei muito com sonhos, a não ser nos quatro anos em que fiz uma ótima terapia psicanalítica. O federalismo é uma retórica como outra qualquer. A narrativa correspondente a uma construção ainda mais aprofundada e mais eficaz de uma soberania supranacional é um problema aberto. Se for útil empregar a retórica federalista, que se faça isso. O ponto decisivo é fazer com que ela corresponda a alguma coisa.

• O que se deve, na Itália, buscar em termos de correspondência?

Na Itália, país em que não obstante tudo o impulso antieuropeísta é menos forte, abre-se a possibilidade de que se desenvolva o que houve de melhor nas ações governamentais dos últimos dois anos, precisamente porque a precipitação da crise da EU fornece mais oxigênio à inspiração europeísta do PD, algo que está em seu DNA graças às culturas políticas que o constituíram. Estamos tentando fazer isso há dois anos: é preciso fazê-lo com mais decisão, até porque a Itália não se confronta somente com as tendências desagregadoras que sacodem todos os países da Europa, mas também com problemas que são exclusivamente seus. Problemas denation building e State building típicos da “história longa” dos italianos.

• Como enfrentar isso, concretamente?

Devemos impulsionar a reconstrução dos laços sociais. Devemos ser mais corajosos e determinados em aplicar a Constituição à vida interna dos partidos. Legislar para que os sindicatos tenham uma vida democrática que lhes relegitime a representação e a ajude, que favoreça a emergência de um sindicato unitário que seja interlocutor de todas as grandes políticas econômicas e sociais do país. 

Quando, com razão, se lamenta a crise dos corpos intermediários, esquece-se de que a crise diz respeito a todo o arco da representação de interesses. Nem sequer a Confindustria, o sindical patronal, é mais aquela que já foi um dia. Nem sequer o movimento das cooperativas, que é uma grande força, está beneficiado em sua missão tradicional, que é a de ser uma pilastra da economia social de mercado. Deste ponto de vista, a Itália é um caso particular dentro da Europa, porque enfrenta uma exigência de renovação dos fundamentos do sistema político e da sua constituição material, além da sua constituição formal, o que compõe um belo pacote de reformas que podem ser levadas a referendo.

• Isso não traz consigo o risco de impulsionar um “Italexit”, uma saída da Itália da UE?

Paradoxalmente, esse risco pode ser atenuado com a abertura de uma crise aguda na Europa, diante da qual o atual partido central de governo pode se movimentar por todo o campo rumo a um novo pacto com os italianos e entre os italianos, um pacto sobre o sistema político, o sistema das organizações de interesse, a governabilidade, indo além da reforma das relações entre Estado central e Regiões. Em suma, vejo a abertura de um campo bastante amplo para uma iniciativa nacional de reconstrução, como a que está inscrita no DNA do PD.

• Alguém poderia dizer que seu discurso é politicista, que o problema da esquerda está nas periferias…

Não sei se o problema está nas periferias. Mas penso que não é um acaso que aqueles que se ocupam com as periferias o façam só demagogicamente. Em condições de escassez de recursos e depois que implodiram todas as redes de proteção social – ao ponto em que hoje as únicas que funcionam são as da criminalidade organizada –, o problema é descobrir como manter unido aquilo que antes se conseguia manter unido com os instrumentos do Estado-nação democrático europeu.
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Entrevista realizada pelo jornalista Francesco Cundari e publicada em L’Unità, Roma, 25 de junho de 2016. Publicada em português na página do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais do Ippri/Unesp.

Unesp, 40 anos e uns tantos sinais - Alberto Aggio*

Meio ano se passou e mesmo em meio à turbulência política que nos acompanha cotidianamente, dentro e fora do País, não podemos deixar de lembrar que uma de nossas mais importantes universidades, a Unesp, completa 40 anos. Não é muito tempo para que uma universidade alcance a maturidade e por ela seja reconhecida, se tivermos como parâmetro as mais importantes universidades do mundo. A Unesp é filha e protagonista de um tempo vertiginoso que tem conduzido o País pelos caminhos da modernidade, cujo saldo, apesar de problemas de toda ordem, é largamente positivo. Depois de 40 anos é justo saudar o percurso realizado por essa universidade que, ao consolidar o seu perfil multicâmpus, se tornou modelo para instituições de ensino superior que foram criadas depois dela em outros Estados.

Por suas origem e trajetória, a Unesp representa o êxito e as vicissitudes do processo de modernização do Estado de São Paulo. Hoje ela está presente em 24 cidades por meio de 29 faculdades e institutos, que abrangem todas as áreas do conhecimento e oferecem 155 cursos de graduação a cerca de 37 mil alunos, além de 146 programas de pós-graduação a outros 13.500 alunos, sendo 112 deles em nível de doutorado. Abriga em seus quadros cerca de 3.800 docentes e 6.700 servidores técnico-administrativos. Seus professores participam de centenas de pesquisas e são responsáveis por parte significativa da produção científica do País.

Contas no vermelho - Míriam Leitão

- O Globo

O governo está fazendo as contas para fechar a meta que terá que enviar ao Congresso entre hoje e amanhã. A maior dificuldade está em calcular as receitas num período em que há divergência nos cálculos da retomada. Sobre a dimensão do déficit primário de 2017, a estimativa dos otimistas está em R$ 100 bilhões, mas caminha-se para R$ 140 bilhões.

No mercado financeiro, a aposta mediana é de um crescimento de 1% do PIB em 2017, mas há previsões maiores como a da MB Associados, que está em 2%,e a do Bradesco, que está revendo para cima a projeção anterior, que estava em 1,5%. Com essa recuperação, a receita pode ser maior. Quanto maior? Depende de que setores puxarão essa melhoria do PIB. Quando o país crescia puxado pelo consumo, o aumento da receita acontecia rapidamente, mas agora deve ser puxado pelas exportações e agricultura, que têm um efeito na arrecadação menor, segundo a análise feita no próprio Ministério da Fazenda.

O governo está contando —e o mercado também — com a aprovação da PEC de limite dos gastos, mas essa mudança constitucional não é apenas difícil de ser aprovada, como o seu efeito não é tão garantido quanto parece. Existem outras despesas que crescerão acima da inflação independentemente desse limite, como a Previdência e os benefícios, por exemplo.

Para projetar o que vai acontecer nas contas públicas no ano que vem, o governo está contando com receitas extraordinárias. E no mercado, os que fazem projeções mais otimistas, digamos assim, estão apostando neste tipo de receita, que vem de concessões e privatizações.

O crime compensa? - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Estarrecida, a opinião pública brasileira é surpreendida, todo santo dia, com uma nova operação da Polícia Federal e detalhes nauseantes de corrupção. Num dia, assalto ao crédito consignado de servidores endividados. No outro, desvio de verbas da Lei Rouanet para casamentos luxuosos. Num terceiro, mensalinho para a madrinha da bateria de uma escola de samba e R$ 18 milhões para empresa desistir (!) de contrato. E os valores?! Ladrão de colarinho branco não é nada modesto, tudo é na casa dos R$ 70 milhões, R$ 100 milhões, R$ 370 milhões...

Por trás desses desvios “pitorescos” de dinheiro público e desses milhões surrupiados da saúde, da educação, da habitação..., há sempre um esquema envolvendo agentes públicos, empresas privadas, doleiros e, invariavelmente, políticos. Um “abismo” de corrupção, como ilustra o nome da nova operação, com foco no Centro de Pesquisa da Petrobrás.

Entregando os anéis - Ricardo Balthazar

- Folha de S. Paulo

Para quem acredita que o avanço da Operação Lava Jato transformará o capitalismo brasileiro, afastando do jogo empresas que cresceram à sombra do governo e de políticos corruptos, surgiram na última semana sinais de que algo se mexe no meio empresarial.

Primeira das grandes construtoras a colaborar com as investigações, a Camargo Corrêa anunciou na sexta-feira (1º) a venda de suas ações na CPFL Energia para a chinesa State Grid. No fim do ano passado, quando pôs à venda alguns negócios para reduzir dívidas e se concentrar em áreas mais rentáveis, a Camargo Corrêa nem sequer cogitava se desfazer de sua parte na companhia de energia.

De Dilma para Cunha - José Casado

- O Globo

Dilma deu a Cunha acesso ao dinheiro do FGTS. Durante quatro anos, Dilma Rousseff manteve Fábio Cleto na vice-presidência de Fundos de Governo e de Loterias da Caixa Econômica Federal. Como todos no Palácio do Planalto, a presidente sempre soube exatamente qual o papel desempenhado por Cleto no loteamento político de seu governo: ele representava os interesses privados do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Dilma herdou de Lula e manteve, em 2011, a partilha de empresas públicas entre PT, PMDB e outros aliados. Entregou o Banco da Amazônia e uma vice-presidência da Caixa ao PMDB na Câmara. Cunha preferiu a vice da Caixa. Levou o currículo de Fábio Cleto ao líder da bancada Henrique Alves (PMDB-RN). Alves, seu parceiro de empreitadas, apresentou o pedido de Cunha ao chefe da Casa Civil Antonio Palocci, que convocou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Cleto foi nomeado.

Cunha percebeu a vice da Caixa como uma ponte para o futuro, pelo potencial de acesso a informações privilegiadas e ao dinheiro de 30 milhões de trabalhadores. A Caixa gerencia os recursos, via Conselho do Fundo de Garantia e Comitê do Fundo de Investimentos (FI) do FGTS, num ambiente de governança débil — segundo o TCU —, com decisões opacas, sem controle sobre conflitos de interesses e documentos confidenciais circulando por e-mails privados.

Hartung quer idade mínima para servidor - Raymundo Costa

• Folha de pessoal é o maior problema fiscal dos Estados

- Valor Econômico

Nem todos os governadores foram favoráveis à reabertura da negociação da dívida dos Estados, uma agenda do fim dos anos 1990. Este é o caso, por exemplo, de Paulo Hartung, que governa o Espírito Santo pela terceira vez. Na realidade, Hartung era um dos mais ferrenhos adversários da nova negociação, mas, diante do fato consumado, acha que o presidente interino, Michel Temer, deve aproveitar o momento para assegurar o compromisso dos governadores com as reformas e tocar em temas politicamente mais delicados como a previdência dos servidores. A dívida, na opinião de Hartung, não é o maior problema por trás da crise dos Estados. É a folha de pagamentos dos servidores ativos e inativos do serviço público.

Se a reforma não for a fundo nessa questão, inclusive estabelecendo para os servidores a mesma idade mínima que se propõe para o regime geral, a renegociação das dívidas e o teto para os gastos públicos deve resolver por algum tempo a crise dos Estados, mas a longo prazo ela voltará a bater à porta. Não basta uma meia sola. A previdência pública está por trás da falência do Rio Grande do Sul. Se alguma não for feito com urgência, cenas de aposentados sem poder pagar as contas, com pagamento atrasado, como se vê no Rio de Janeiro, devem se tornar a regra, não a exceção.

A descoberta de Paes – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

O prefeito Eduardo Paes descobriu que o governo do Rio não tem "o mínimo de comando", carece de "vergonha na cara" e faz um "trabalho terrível" na segurança. É tudo verdade, mas ele omite um detalhe: o Estado está há 13 anos sob controle do seu partido, o PMDB.

A descoberta tardia tem motivo. Faltam 31 dias para a abertura da Olimpíada e três meses para a eleição municipal. Paes esperava dois cruzeiros em águas calmas, mas o vento mudou e ele agora enfrenta a ameaça de um duplo naufrágio.

O peemedebista tenta se descolar do noticiário negativo sobre o Rio. Como não é possível negar os fatos, ele passou a dividi-los em duas categorias. Numa, as boas notícias são obra da prefeitura. Noutra, os problemas são culpa do governo estadual.

A separação é fajuta e ignora mazelas 100% municipais, como o desabamento da ciclovia e a poluição da lagoa Rodrigo de Freitas, que receberá as competições de remo.
Rio-16: do sonho olímpico ao pesadelo

O prefeito sabe que um fiasco olímpico frustraria o plano de eleger o sucessor e alçar voos maiores em 2018. Por isso passou a criticar o descalabro no Estado como se não fosse ligado a quem o causou. A pirueta faria inveja à pequena Flávia Saraiva, esperança de ouro na ginástica.

Há outro obstáculo às ambições de Paes. Ele planejava usar a revitalização da zona portuária como principal vitrine de sua gestão. Agora o projeto, batizado de Porto Maravilha, passou a frequentar o noticiário policial da Lava Jato.

O caso envolve Eduardo Cunha, outro aliado que o prefeito preferia exilar em Maricá. Há poucos meses, o deputado se referia a Paes como seu próximo candidato à Presidência.

O golpe, o golpe, o golpe - Arnaldo Jabor

- O Estado de S. Paulo

Dilma e o PT continuam a bradar que está em curso um golpe contra eles. Vão berrar isso na Olimpíada, vão continuar até 2018, quando esperam eleger o Lula. Mas creio que esse demagogo narcisista encontrará seu destino antes disso.

É espantoso ver o ardor com que a “barbie” de esquerda Gleisi Hoffmann e o Lindberg Farias, bem conhecido em Nova Iguaçu, defendem Dilma. Por que será? Para mostrar força, já que ambos são investigados na Lava Jato? E o José Eduardo Cardozo? Ele parece estar lutando pela própria vida. Sua fidelidade canina é emocionante. Que será que ele quer? Algum sonho de poder ou é só amor?

Todos se aferram à tecnicalidade das chamadas “pedaladas fiscais”, questionando-as, periciando-as, como se esse detalhe fosse a única razão para o impedimento.

Sem dúvida, foram o irrefutável crime contábil de seu governo. Mas não só as malandragens da administração são crimes; também foram espantosos os desastres econômicos e políticos, que essas práticas provocaram. Foi golpe sim, quando deram as pedaladas, desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal, para fingir que as contas estavam sob controle. Mais do que aumentar o endividamento, o governo recorreu a manobras para fechar as contas públicas. A chamada contabilidade criativa incluiu, por exemplo, repasses do Tesouro ao BNDES, que não aparecem como aumento de dívida.

O verdadeiro golpista foi o PT, esse partido que nos desmanchou. O golpe começou desde o governo Lula, que abriu para o PT e aliados as portas para o presidencialismo de corrupção.

Mercado de trabalho ainda demora para se recuperar – Editorial/ Valor Econômico

Os dados mais recentes do mercado de trabalho inspiraram otimismo entre alguns analistas. A taxa de desemprego foi de 11,2% no trimestre terminado em maio, de acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), o mesmo percentual registrado no trimestre anterior, de fevereiro a abril, e inferior à média de 11,4% esperada pelo mercado. Os números mostraram também a estabilidade da população ocupada, depois de meses seguidos de diminuição.

Mas ainda não é possível enxergar alguma melhoria consistente do mercado de trabalho, a curto prazo. Analisando o comportamento do emprego por um período mais longo, o quadro continua negativo. Na comparação com igual trimestre de 2015, quando o desemprego estava em 8,1%, houve um aumento de 3,1 pontos percentuais. O número de desocupados, ou seja, daqueles que procuram, mas não encontram trabalho, saltou 40,3% em um ano, ou nada menos do que 3,3 milhões de pessoas, para a marca recorde de 11,4 milhões; e há mais pessoas procurando emprego.

Quando se mergulha mais fundo nos dados da Pnad Contínua, vários outros motivos causam preocupação. São evidentes os sinais de precarização do mercado de trabalho. Em um ano, 1,5 milhão de trabalhadores perderam o emprego com carteira assinada, o que representa uma queda de 4,2% frente a maio de 2015, reduzindo o contingente de trabalhadores do mercado formal a 34,4 milhões de pessoas. O número de empregados do setor privado sem carteira assinada, que havia caído para 9,7 milhões no início do ano, voltou para o patamar de 10 milhões.

Tão ou mais preocupante do que isso é a perda de fôlego do trabalho por conta própria, o segmento dos autônomos, ao qual muitos recorrem quando perdem o emprego, muitas vezes optando por aplicar os recursos do seguro-desemprego e o FGTS para empreender e tentar um negócio próprio. No trimestre encerrado em maio, o número de trabalhadores por conta própria era de 22,97 milhões de pessoas no país, 1,3% a menos do que no trimestre terminado em abril. A redução de 314 mil pessoas foi a maior registrada desde o período de fevereiro a abril de 2014. Em um ano, quase 1 milhão deixou de trabalhar por conta própria. Isso significa que a crise tornou o ambiente menos favorável para empreender e essas pessoas fecharam seus empreendimentos e devem engrossar a fila dos desempregados. Até o ano passado, a cada aumento do desemprego correspondia uma expansão do trabalho por conta própria.

Outro sinal de fraqueza é a piora do rendimento real, que encolheu 2,7%, frente ao ano passado, pelo oitavo mês consecutivo, com impacto na redução da massa salarial, que foi estimada em R$ 175,6 bilhões, com queda de 3,3% em relação a 2015 e estável em comparação com o trimestre anterior. A diminuição dos salários afeta negativamente o consumo e a recuperação da economia.

A deterioração do mercado de trabalho tem penalizado especialmente os mais jovens. Desde o terceiro trimestre de 2012, vem diminuindo o percentual dos jovens de 14 a 24 anos ocupados, de 44% para 37% no primeiro trimestre deste ano. Inicialmente, os jovens saíram do mercado de trabalho para estudar, percentual que aumentou de 35% para 38,2% no fim de 2014. Mas, com a crise, esse percentual recuou para perto de 36%.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, focado no mercado formal, mostram um quadro semelhante, que registra a destruição de 1,8 milhão de vagas nos 12 meses terminados em maio, um terço das quais na indústria da transformação, e com participação crescente dos setores de serviços, que até então vinha absorvendo parcela importante dos desempregados, e da construção civil.

Dessa forma, apesar da sinalização de melhora dos dados de emprego em maio e de indicações de que a economia pode ter deixado o fundo do poço para trás, a expectativa é que o mercado de trabalho pode se deteriorar ainda. A tendência é que as empresas só voltarão a contratar quando tiverem certeza da recuperação da economia, até porque contratar e demitir têm um custo. Por isso, as previsões são de que a taxa de desemprego deve até aumentar, para 10,9% a 13% no último trimestre deste ano e só devem começar a declinar no segundo semestre de 2017.

Economia esboroada – Editorial / O Estado de S. Paulo

A economia brasileira esboroou-se, literalmente, nos últimos anos. Além de ficar emperrada e finalmente afundar na maior recessão em muitas décadas, degradou-se fisicamente e perdeu capacidade de operação. O investimento em máquinas, equipamentos e construções tem sido insuficiente para cobrir a depreciação do capital físico. O primeiro alerta com a indicação de números partiu há poucos meses do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Todos sabiam da redução do investimento, medido pela formação bruta de capital fixo. Os dados já eram assustadores, mas um estudo publicado pelo instituto chamou a atenção para um fato mais grave. O investimento líquido – obtido quando se leva em conta a depreciação de equipamentos, estradas e outras instalações – havia despencado 40% no ano passado. Que a deterioração havia continuado em 2016 todos sabiam. A novidade, agora, é o cálculo, divulgado pelo Tesouro Nacional, de um balanço de operações do governo geral – da União, dos Estados e dos municípios – no primeiro trimestre. Os dados mostram a continuação do desastre no setor público, mas o desempenho do setor privado, nesse quesito, foi com certeza também muito ruim.

De janeiro a março deste ano, o investimento líquido do governo geral ficou negativo em R$ 4,25 bilhões, de acordo com as Estatísticas Fiscais Trimestrais publicadas pela primeira vez pelo Tesouro. Os três níveis de governo aplicaram o total de R$ 19,16 bilhões em ativos fixos, mas a depreciação chegou a R$ 23,41 bilhões. No primeiro trimestre do ano passado, o investimento líquido negativo havia ficado em R$ 1,29 bilhão. Em valores correntes, o desinvestimento aumentou 229,1% em um ano.

Mercosul precisa sair do imobilismo – Editorial / O Globo

• Presidente argentino acerta ao defender convergência entre bloco e a Aliança do Pacífico para realização de acordos comerciais com outros blocos e parceiros

Mauricio Macri aproveitou a reunião dos representantes da Aliança do Pacífico na semana passada, da qual participou como observador convidado, para exortar os países do Mercosul, em especial o Brasil, a saírem do “congelamento”. O presidente da Argentina disse que este é um passo fundamental para que o grupo que reúne Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela possa concluir seu processo de formação e integrar-se a outros blocos por meio de acordos de livre comércio.

Macri defendeu especificamente convergência com a Aliança do Pacífico, composta por Chile, México, Peru, Colômbia e Costa Rica, afirmando que os dois blocos devem compartilhar informações e integrar o comércio regional.

Saldo olímpico – Editorial / Folha de S. Paulo

À medida que se aproxima o início da Olimpíada do Rio, mais a previsão de que seu legado deixaria "no chinelo" o de Barcelona-92 soa a retórica vazia do prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Levantamento desta Folha revelou que, a um mês da cerimônia inauguração, já não há tempo para prefeitura e governo estadual cumprirem as metas anunciadas na área ambiental, desde o trivial plantio de mudas na mata atlântica até a despoluição da lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões-postais da cidade.

A maior decepção é a limpeza da baía de Guanabara, prometida como a principal herança olímpica —nem sequer se chegou à metade do objetivo de tratar 80% do esgoto despejado nas suas águas.

Ruim para os atletas de vela, obrigados a competir em local impróprio para o banho, e pior para os moradores do entorno, que continuarão a conviver com a sujeira.

Certas palavras – Carlos Drummond de Andrade

Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.

Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, atos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.

E tudo é proibido. Então, falamos.