terça-feira, 30 de agosto de 2016

Opinião do dia - Dora Kramer

O tom algo hostil e absolutamente professoral adotado pela presidente em julgamento na última oportunidade de evitar seu impeachment, mostra que Dilma Rousseff não foi ali para conquistar votos e indica que admitiu a derrota de véspera. Neste aspecto, e apenas nele, rendeu-se à realidade.

No conteúdo, segue presa à fantasia do golpe e dos eufemismos utilizados ao longo do processo para negar a existência de crime de responsabilidade. Qualificar juízes de “golpistas” de fato não é a melhor maneira de dispô-los à mudança de posições.
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Dora Kramer é jornalista. ’A Dilma de sempre”, O Estado de S. Paulo,30/8/2016

Até PT avalia que discurso de Dilma não deve evitar sua saída

• Petista tentou mudar votos, mas não apresentou novos argumentos

Presidente afastada insiste na versão do ‘golpe’, e senadores dizem que a presença dela derruba a tese

Na véspera do julgamento final do impeachment, Dilma Rousseff fez ontem sua defesa no Senado, provavelmente no último discurso como presidente. A petista repetiu que é vítima de um “golpe”, culpou o deputado Eduardo Cunha pela abertura do processo e emocionou-se ao comparar a ação à perseguição sofrida na ditadura. Mas, sem apresentar novos argumentos, a avaliação dominante, inclusive no PT, é a de que não foi suficiente para reverter o placar desfavorável a ela. “A esta altura, acho muito difícil que ainda haja alguém indeciso a ponto de mudar de ideia”, admitiu o líder do PT, Humberto Costa. Ao lado dos presidentes do STF, Ricardo Lewandowski, e do Senado, Renan Calheiros, Dilma afirmou: “Só temo a morte da democracia.” O ex-presidente Lula assistiu da galeria, ao lado de Chico Buarque. No plenário, Dilma e Aécio Neves, tucano derrotado por ela em 2014, fizeram debate amistoso.

O último ato

• Em discurso, presidente afastada, Dilma Rousseff, não consegue reverter votos para mudar panorama no julgamento de hoje, avaliam aliados e adversários


- O Globo

BRASÍLIA - Em uma sessão que durou mais de 12 horas, a presidente afastada, Dilma Rousseff, fez ontem seu último discurso antes do julgamento final do impeachment e, possivelmente, também sua derradeira fala como presidente da República. Com um tom emotivo e com forte teor político, o discurso de Dilma foi elogiado por alguns senadores que ainda resistiam em declarar seus votos publicamente, mas, no próprio PT, a avaliação era que não funcionaria para alterar o placar de hoje.

O presidente interino, Michel Temer, por sua vez, preferiu agir como se nada de extraordinário ocorresse no Congresso. Do outro lado da Praça dos Três Poderes, no Palácio do Planalto, Temer recebeu atletas olímpicos e provocou risos ao vestir uma touca de polo aquático. E demonstrou pouco interesse pelo discurso de Dilma, afirmando que não teve tempo de acompanhar porque ficou “trabalhando nos despachos”. Temer chegou a telefonar para senadores aliados para saber como estava o clima na sessão e demonstrou angústia com a possibilidade de não tomar posse a tempo de viajar à China na manhã de quarta-feira.

Sua tranquilidade pareceu ser justificada após ouvir a impressão de parlamentares de que o discurso de Dilma Rousseff não trouxe grandes surpresas e que a margem para uma reviravolta no esperado resultado pró-impeachment era mínima. A mesma avaliação fizeram petistas, que destacaram, no entanto, a importância da fala da petista para a construção da narrativa do “golpe”:

— A esta altura, acho muito difícil que ainda haja alguém indeciso a ponto de mudar de ideia. Mas a presidente deu um tom político que foi importantíssimo, porque estamos na disputa pela versão dos fatos. Historicamente, é fundamental — disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

A própria presidente reconheceu a dificuldade, indiretamente, em seu discurso, ao dizer que, apesar de estar presente para se defender, isso em nada mudaria o resultado. Ao final, a presidente afastada disse que, caso perca, recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) após o processo, que considerou “ilegítimo”, apesar da presença do presidente da Corte, o ministro Ricardo Lewandowski, no comando da sessão.

— Não há respeito ao devido processo legal quando julgadores afirmam que a condenação não passa de uma questão de tempo, porque votarão contra mim de qualquer jeito. Nesse caso, o direito de defesa será exercido apenas formalmente — disse Dilma.

Golpe foi uma palavra que Dilma usou em diversos momentos. Somente em seu discurso, foram nove vezes. A presidente afastada, que lembrou as sevícias que sofreu durante a ditadura militar, negou que tivesse cometido crime de responsabilidade e fez alusão a momentos históricos distintos em que houve ruptura democrática para comparar à sua situação. Assim como os ex-presidentes Getulio Vargas, Juscelino Kubitscheck e João Goulart, Dilma se colocou como vítima de reação de “setores da elite econômica e política” que tiveram interesses feridos com sua reeleição. Curiosamente, o único presidente desde a redemocratização alvo de impeachment no Brasil antes dela, Fernando Collor, afastado em 92 envolvido em denúncias de corrupção, não foi citado em seu discurso.

Na plateia de convidados, além de aliados e ex-ministros, Dilma contou com a presença de um visivelmente abalado ex-presidente Lula e de um sonolento Chico Buarque, presentes para demonstrar solidariedade. Do lado de fora do Congresso, um número de manifestantes bastante inferior ao que se viu no início do impeachment, um retrato da desmobilização nesta reta final do processo.

‘Não traio os que lutam ao meu lado’

• Em fala emotiva, de 45 minutos, presidente afastada insiste no discurso de ‘golpe’ ao se referir ao impeachment

Cristiane Jungblut e Eduardo Bresciani - O Globo

-BRASÍLIA- Em um discurso emotivo, firme, político e recorrendo à tese do “golpe” para se referir ao processo de impeachment, a presidente afastada, Dilma Rousseff, se apresentou aos senadores em seu julgamento final dizendo ter a democracia como sua companheira no banco dos réus. Ela falou por 45 minutos e foi aplaudida por seus apoiadores ao final, que puxaram coro de “Dilma guerreira, do povo brasileiro”.

— Estamos a um passo da consumação de uma grave ruptura institucional. Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe de Estado — disse.

Dilma iniciou o discurso reconhecendo brevemente ter cometido erros, sem identificá-los, mas dizendo que não tem entre seus defeitos “deslealdade” e “covardia”.

— Não traio os compromissos que assumo, os princípios que defendo ou os que lutam ao meu lado — afirmou.

Dilma indica que irá ao STF se for considerada culpada

• Em embate com Aloysio Nunes, presidente afastada diz que Senado cometerá ‘rotundo golpe’ se condená-la sem crime de responsabilidade

Cristiane Jungblut, e Eduardo Bresciani - O Globo

BRASÍLIA - A análise do discurso mostra que Dilma fez afirmações contraditórias e exageradas, e usou até informações sem base factual, como a que, se efetivado, o governo Temer vai proibir o saque do FGTS em caso de demissão. -BRASÍLIA- A presidente afastada, Dilma Rousseff, indicou que deverá recorrer ao Supremo Tribunal Federal caso o seu impeachment seja aprovado pelo Senado. Em resposta ao tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) — antigo colega de luta contra a ditadura militar —, Dilma disse que o Senado cometerá um “rotundo golpe” ao condenar uma “inocente”.

— Se me julgarem sem crime de responsabilidade, é golpe. Não recorro ao Supremo agora porque não esgotei essa instância, não acabei de tratar o problema aqui — disse Dilma.

O embate mais técnico se deu com o relator do processo do impeachment, Antonio Anastasia (PSDB-MG), que fez perguntas objetivas sobre a responsabilidade de Dilma na edição de decretos orçamentários e nas operações de crédito envolvendo o Plano Safra. Anastasia disse a Dilma que seu parecer era baseado em dezenas de depoimentos e leituras.

— Por tudo que li e ouvi, muitos são os aspectos fáticos e jurídicos. E a defesa insiste na tese de que o sistema torna o decreto ato automático. Então, por que passou a responsabilidade ao ministro do Planejamento? — perguntou Anastasia.

Oposição diz que presença no plenário derruba tese de golpe

• Sempre na ponta da língua da petista, palavra passou a ser explorada por adversários

Leticia Fernandes, Vinicius Sassine - O Globo

-BRASÍLIA- Os argumentos técnicos do processo de impeachment ficaram em segundo plano ontem, quando o Senado ouviu a defesa de Dilma Rousseff. A palavra “golpe”, que sempre esteve na ponta da língua da petista e de seus aliados, passou a ser explorada por seus adversários. O grupo pró-impeachment tentou explorar a contradição no discurso da petista, que classifica o julgamento no Senado, comandado pelo presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, como um processo arbitrário.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), líder do governo Temer no Senado, questionou como poderia ser um golpe um processo que dá direito de defesa à petista:

— A nossa geração viveu na mocidade o golpe de 1964. Sabemos muito bem o que é isso. Portanto, como é golpe? Golpe com a supervisão do STF?

O senador Cássio Cunha Lima (PB), líder do PSDB no Senado, também lembrou a palavra dita e repetida pelo PT. Ao questionar Dilma, ele disse que a presidente afastada fez um discurso político, seguindo um “script pronto” para responder às perguntas. O tucano refutou a tese do PT e disse que golpe é se eleger “mentindo para o país”:

Dilma reitera tese do golpe, mas não assegura apoios

• Presidente afastada faz sua defesa no Senado e ataca o governo interino de Michel Temer; fala da petista é contestada e não muda cenário desfavorável na Casa

Ricardo Brito, Fábio Fabrini e Isabela Bonfim - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Ao se defender no plenário do Senado, a presidente afastada Dilma Rousseff reiterou nesta segunda-feira a versão de que o processo de impeachment é um “golpe na Constituição” que “resultará na eleição indireta de um governo usurpador”. Em seu pronunciamento de cerca de 45 minutos e em respostas aos senadores em uma sessão que durou quase 14 horas, a petista negou ter cometido crime de responsabilidade e atacou a gestão interina de Michel Temer. Considerada a última cartada para tentar impedir a condenação, a presença de Dilma no Senado não serviu para reverter votos favoráveis ao impeachment, como admitiram aliados, ou conquistar apoios de indecisos na votação final – prevista para ocorrer nesta terça-feira e terminar na madrugada de quarta-feira. Ciente das dificuldades, a defesa da petista já prepara um recurso ao Supremo Tribunal Federal caso o Senado confirme o afastamento definitivo.

Dilma fez um discurso sereno, mas embargou a voz ao citar as torturas sofridas na ditadura militar e a superação de um câncer. “Hoje eu só temo a morte da democracia”, afirmou.

Defesa de Dilma já prepara ação no STF

• Presidente afastada demonstra disposição em judicializar eventual decisão do Senado

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A defesa da presidente afastada Dilma Rousseff prepara um recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o afastamento definitivo da petista seja confirmado no Senado. O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e a sua equipe de advogados estão com estudos adiantados e devem apresentar um mandado de segurança.

A petista demonstrou disposição para questionar uma decisão desfavorável no Senado. “Não recorro ao Supremo Tribunal Federal porque não esgotei esta instância, não terminei aqui. Vim aqui porque respeito esta instituição. Mas, se (o Senado) der este passo, estará compactuando com golpe”, afirmou Dilma, ao responder ao senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que questionou por que ela não recorreu ao STF contra o que chama de “golpe”.

Ministro do Supremo não vê chances de Corte reverter resultado de impeachment

• Para Gilmar Mendes, dificilmente o Tribunal deve fazer alguma consideração sobre o mérito do processo de afastamento de Dilma

Fausto Macedo e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

Ao ser indagado se a presidente afastada Dilma Rousseff poderá reverter, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, eventual decisão do Senado por seu impeachment, o ministro Gilmar Mendes declarou nesta segunda-feira, 29, em São Paulo, que ‘é muito difícil’ que a Corte venha a mudar a decisão política.

“É muito difícil que o STF venha a fazer consideração sobre o mérito da decisão do Senado. Essa pelo menos é a jurisprudência (da Corte) até aqui”.

Gilmar Mendes ponderou que ‘o Tribunal pode mudar (a decisão do Senado), mas o Tribunal tem feito considerações sobre procedimentos, nunca tem feito considerações sobre o próprio mérito’.

O ministro, que preside o Tribunal Superior Eleitoral, disse, ainda. “É uma decisão presidida pelo próprio presidente do STF”, argumenta Gilmar Mendes, referindo-se ao ministro Ricardo Lewandowski, que conduz o julgamento do impeachment no Senado. “De toda forma, impugnado seria o ato do próprio presidente Lewandowski. Envolve uma grande delicadeza todo esse debate.”

Ao falar sobre argumento de Dilma durante a sessão de hoje no Senado sobre a dificuldade de se governar com um grande número de partidos, Gilmar Mendes disse que foi um ‘mea culpa’ da petista.

O ministro falou durante uma visita ao Instituto de Direito Público (IDP) de São Paulo.

Dilma nega no Senado crime contra o Orçamento e volta a denunciar golpe

• Na iminência de seu veredito, presidente afastada compara processo de impeachment a perseguição na ditadura

Em discurso no Senado, Dilma diz temer a morte da democracia

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Afastada do poder há mais de cem dias e com pouquíssimas chances de mudar o desfecho da crise política, a presidente Dilma Rousseff usou a ida ao Senado nesta segunda-feira (29) para defender sua biografia e dizer ter sido vítima de um golpe parlamentar orquestrado pela oposição ao seu governo e pelo deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A petista lembrou de sua condenação pelo "tribunal de exceção" da ditadura, e de sua recente luta contra um câncer. Afirmou que, primeiro torturada, e depois, doente, teve medo de morrer. Relacionando os dois episódios ao momento atual, concluiu: "Hoje, eu só temo a morte da democracia".

Diilma foi recebida por um plenário silencioso e, sem aplausos ou vaias, fez um discurso de 47 minutos em que afirmou ser inocente, disse que não cometeu crime de responsabilidade e chamou o governo do presidente interino, Michel Temer (PMDB), de "usurpador".

A previsão é a de que Temer tenha nesta terça (30) –ou na quarta (31), caso o julgamento se estenda– no mínimo 59 votos a favor da destituição de Dilma dos 81 possíveis, cinco a mais do que o necessário para ele ultrapassar a interinidade.

Temer tenta barrar investida de Lula na reta final do impeachment

Valdo Cruz, Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Diante de uma investida de última hora do ex-presidente Lula sobre senadores que prometeram votar a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o presidente interino, Michel Temer, entrou em campo para evitar que o petista tenha sucesso na sua estratégia derradeira.

Temer fez questão de entrar em contato com os senadores do Maranhão que foram procurados por Lula neste fim de semana e ouviu deles que vão manter seus votos a favor do afastamento de Dilma Rousseff. O peemedebista conversou diretamente com os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Roberto Rocha (PSB-MA) para garantir que eles não vão mudar de voto de última hora.

Lobão explicou a Temer que, como ex-ministro de Lula, não poderia deixar de atender o pedido do ex-presidente para conversar. Mas garantiu ao presidente interino que seu voto segue definido pelo impeachment. Roberto Rocha também garantiu ao Planalto que não mudará de posição.

Já o senador João Alberto (PMDB-MA) garantiu ao governo que estava no seu Estado e não chegou a conversar com Lula. O senador maranhense mudou de lado na última votação e passou a votar a favor da saída de Dilma. Por isto, virou alvo de petistas para mudar de lado novamente.

João Alberto avisou o presidente Michel Temer, porém, que segue disposto a votar a favor da saída de Dilma Rousseff.

O governo interino também não acredita que o ex-presidente Fernando Collor (PTC-AL) votará contra o afastamento definitivo da petista, apesar dele ter se reunido com ela na última sexta-feira (26) no Palácio do Alvorada.

Temer assiste no Palácio do Jaburu acompanhado de assessores e auxiliares à participação da presidente afastada no Senado Federal.

Na tentativa de passar a mensagem pública de que o governo interino não está preocupado e não está paralisado com o processo de impeachment, ele receberá no início da tarde medalhistas olímpicos, no Palácio do Planalto.

Ele, no entanto, adiou cerimônia marcada para as 16h para ratificação do acordo climático de Paris. Ela foi remarcada para 12 de setembro, mesmo dia que deve ser realizada votação no plenário da Câmara dos Deputados da cassação do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

No Palácio do Planalto, a avaliação neste início de segunda-feira (29), quando a presidente afastada, Dilma Rousseff, já está falando no plenário do Senado, é que o impeachment será aprovado com o voto de pelo menos 60 senadores, podendo chegar a 61, caso o presidente da Casa, Renan Calheiros, decida votar nesta última etapa do processo.

Dilma se diz inocente e vai ao STF

- Valor Econômico

BRASÍLIA - Em discurso carregado de expressões como "golpe" e "injustiça", a presidente afastada Dilma Rousseff disse ontem, no plenário do Senado, que cassar seu mandato é condená-la a uma "pena de morte política". E adiantou que, se seu afastamento for decidido com base nas duas acusações que lhe foram feitas - a edição de decretos de suplementação orçamentária e o atraso no pagamento dos subsídios do crédito rural - irá ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão.

"A hora que julgarem e condenarem uma presidenta inocente, sem crime de responsabilidade, é um golpe integral. Eu não recorro ao Supremo Tribunal Federal agora porque não esgotei essa instância (do Senado)", afirmou.

Os advogados da presidente indicaram que, provavelmente, o recurso utilizado será um mandado de segurança, tipo de ação que já foi usada outras vezes pelo ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao longo da tramitação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados. Nesse caso, o provável recurso seria relatado por um dos dez ministros do Supremo, escolhido por sorteio. O presidente do STF e do julgamento no Senado, Ricardo Lewandowski, deve ser excluído da distribuição.

Em seu depoimento, Dilma disse ter a consciência tranquila, pois tem convicção de que não praticou crime de responsabilidade. "As acusações dirigidas contra mim são injustas e descabidas".

O discurso de Dilma foi acompanhado por um plenário tomado não só pelos senadores, mas também por deputados e convidados, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, ex-ministros, como Jacques Wagner e Míriam Belchior, e apoiadores políticos.

Dilma: "Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política

Presidente adota tática do ataque

Por Ribamar Oliveira - Valor Econômico

BRASÍLIA - A presidente afastada Dilma Rousseff utilizou, no plenário do Senado, o conhecido ditado de que a melhor defesa é o ataque. Elegeu a proposta de criação de um teto para as despesas da União por 20 anos como um dos alvos de suas críticas.

Em resposta a vários senadores, Dilma disse que ninguém foi capaz de prever o tamanho da recessão brasileira e que, por causa da crise, a receita do governo caiu brutalmente. O cenário traçado omitiu o fato de que a receita tributária vinha caindo desde 2012 e que, mesmo assim, o governo manteve as despesas crescendo acima da expansão da economia.

Para se defender, Dilma vai ao ataque e elege PEC do teto do gasto como alvo
A presidente afastada Dilma Rousseff utilizou ontem, no plenário do Senado, o conhecido ditado de que a melhor defesa é o ataque. Dilma elegeu a proposta de criação de um teto para as despesas da União por 20 anos, apresentada pelo presidente interino Michel Temer, como um dos principais alvos de suas críticas, embora essa questão nada tivesse a ver com o seu pedido de impeachment.

Planalto rebate acusações sobre retirada de direitos

Por Bruno Peres e Edna Simão – Valor Econômico

BRASÍLIA - O governo do presidente interino Michel Temer rebateu ontem declarações feitas durante a sessão final do impeachment no Senado Federal de que pretende retirar dos cidadãos brasileiros direitos sociais, previdenciários e trabalhistas. Conforme nota do Palácio do Planalto, divulgada ontem à noite, o governo não debate a estipulação de idade mínima para aposentadoria de 70 e 75 anos; não irá extinguir o chamado auxílio-doença; não regulamentará o trabalho escravo; não pretende privatizar o pré-sal; nem cogita revogar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

"Essas e outras inverdades foram atribuídas de forma irresponsável e leviana ao governo interino", afirmou a assessoria da Presidência na única manifestação pública do Palácio do Planalto sobre a sessão de ontem do Senado. "Todas as propostas do governo Michel Temer são para assegurar a geração de emprego, garantir a viabilidade do sistema previdenciário e buscar o equilíbrio das contas públicas. E todas elas respeitarão os direitos e garantias constitucionais".

A Dilma de sempre – Merval Pereira

- O Globo

A presidente afastada, Dilma Rousseff, conseguiu o cúmulo do paradoxo, em sua defesa ontem no Senado, ao elogiar a Lei de Responsabilidade Fiscal como o maior instrumento de gestão pública que o país tem, a mesma legislação que ela transgrediu, e por isso está sendo julgada. O paradoxo é acentuado quando atribui “à mídia” a culpa pelo golpe e, sempre que pode, utiliza-se da mesma “mídia” para apoiar sua tese de que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha aceitou o impeachment por vingança.

Claro que ninguém esperaria que a presidente afastada fosse ao Senado admitir sua culpa. E dizer-se inocente é comportamento comum a todos que estão em julgamento. Mesmo quando confessam seus crimes, os acusados têm direito a julgamento, no qual o advogado de defesa tentará justificar o ato ilegal, minimizar suas consequências, pedir compreensão dos jurados pelo que motivou a atitude do acusado.

Ato final - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Se houve uma surpresa ontem no Senado, foi justamente a falta de surpresas. Dilma Rousseff repetiu tudo que vem dizendo nesses nove meses, sobretudo na “mensagem aos Senado e ao povo brasileiro”. E os senadores, a favor ou contra o impeachment, também ficaram no mais do mesmo. Logo, sem nenhuma novidade, tudo fica onde estava.

O único fato realmente surpreendente desde as 9h da manhã foi que Dilma não partiu para o confronto e os senhores senadores e senhoras senadoras foram duros, mas elegantes, pelo menos até o fechamento desta edição. Ou seja, a sessão histórica foi marcada por um legítimo embate político, mas com civilidade.

Previsível, discurso de Dilma não deve mudar impeachment - Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

A visita de Dilma Rousseff ao Senado parece ter sido incapaz de virar o jogo do impeachment.

Previsível e sem novidades, o discurso da petista não deve ter impacto no cenário a favor de seu afastamento definitivo.

Dilma não surpreendeu. Suas palavras neste 29 de agosto entram para os anais do Senado como um registro histórico de alguém que, diante de uma derrota iminente, quis deixar marcada sua versão.

Ao subir à tribuna para o que talvez tenha sido seu último discurso como presidente, Dilma sabia da limitação na capacidade de reverter votos, mesmo com o reforço de Lula e Chico Buarque na arquibancada.

Discurso pós-impeachmnent - Luiz Carlos Azedo

• Dilma não se sente espiritualmente derrotada. Foi pra cima da antiga oposição e dos ex-aliados a favor do impeachment

- Correio Braziliense

“Estrambonático, Palipopético/Cilalenítico, Estapafúrdico/Protopológico, Antropofágio/Presolopépipo, AtroveráticoBatunitétrico, Pratofinandolo/Calotolético, Caranbolambolu/Posolométrico, Pratofilônica/Protopolágico, Canecalônica” canta o compositor Nélson Sargento, num dos seus sambas antológicos, Idioma esquisito, no qual ele arremata: “É isso aí, é isso aí/Ninguém entendeu nada/Eu também não entendi/(Então eu vou repetir)”. É mais ou menos essa a moral da história do depoimento da presidente afastada, Dilma Rousseff, sobre as “pedaladas fiscais” e os decretos ilegais que lhe são imputados no crime de responsabilidade, ontem, no Senado. O cidadão comum não entendeu nada sobre isso.

A discussão técnica sobre a acusação que pesa contra Dilma, isto é, o cometimento de crime de responsabilidade, acabou em segundo plano. Na condição de ré, Dilma aproveitou o julgamento do pedido de impeachment para fazer a defesa do seu governo e da sua passagem pela Presidência. Portou-se com altivez, como deveria uma presidente eleita, mas como se estivesse debatendo com os candidatos de oposição em plena campanha eleitoral, não num julgamento. A resposta à principal pergunta feita pelo presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), ilustrou bem essa postura. O tucano questionou Dilma por negar a existência da crise econômica durante a campanha, Dilma rebateu acusando a oposição de sabotar o governo desde o dia seguinte à eleição. O problema é que os cidadãos se posicionam não em razão do que Dilma pensa de seu governo, mas dos resultados que obteve.

Dilma em estado puro - Ricardo Noblat

- O Globo

Na manhã de ontem, houve um momento que, em resposta a um senador, a presidente afastada, Dilma Rousseff, comentou uma lei do governo Fernando Henrique Cardoso. Sopraram-lhe ao ouvido que a lei era do governo Itamar Franco. E Dilma corrigiu-se: “A lei do governo Itamar, em transição para o governo Fernando Henrique...”

Era Dilma em estado puro. Arrogante como de hábito. Incapaz de reconhecer erros. Pronta para atribuir à crise internacional a mais grave recessão econômica que o Brasil já viveu dos anos 30 do século passado para cá. Disposta a valer-se, no seu depoimento, do meio que encontrou para sobreviver às torturas quando presa: mentir. Mentir sempre.

Frustrou-se quem esperou a aparição de uma nova Dilma, mais emotiva, falsamente modesta, sorridente se fosse necessário. Fora aconselhada a se comportar assim para ganhar a simpatia de senadores ainda capazes de absolvê-la. Dilma preferiu-se exibirse como é. E não foi bem-sucedida, como alguns de seus correligionários reconhecem.

À espera da fase mais difícil do governo - Fernando Exman

• Temer deve manter aliados à frente da Câmara e do Senado

- Valor Econômico

Assim que for confirmada pelo Senado a interrupção do mandato de Dilma Rousseff na Presidência da República, acredita Michel Temer, terá início o período mais difícil do seu governo. Com uma menor complacência dos mercados, assim como dos eleitores que ocuparam as ruas para apoiar o processo de impeachment mas nem por isso estão ao lado do presidente interino, será a hora de o Executivo começar a apresentar resultados concretos no ajuste fiscal e em suas ações voltadas à recuperação da economia. Sem previsibilidade e estabilidade política, Temer não conseguirá atingir esses objetivos. Além de dar agilidade à sua agenda legislativa, ele precisará trabalhar para garantir que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal permaneçam sob o controle de aliados de sua confiança a partir de fevereiro de 2017.

O cenário é desafiador, sobretudo porque as expectativas da maioria da população e do mercado em relação aos gastos do governo tendem a ser conflitantes a curto prazo.

Dilma escolheu cair de pé – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Nos estertores do processo de impeachment, Dilma Rousseff poderia tocar fogo no circo ou tentar apagar o incêndio. Escolheu o caminho do meio. Evitou confrontar os senadores, mas também não se curvou para pedir clemência.

Parte da esquerda torcia para ela espalhar gasolina e riscar o fósforo. Sem nada a perder, Dilma poderia abrir a caixa-preta do governo e constranger dezenas de ex-aliados que mudaram de lado. Seria um espetáculo interessante, mas sem chances de dar certo. A presidente conflagraria o plenário e se jogaria na fogueira com um sorriso no rosto.

Um olho nos livros e outro também - Alan Gripp

- O Globo

Dilma Vana Rousseff fez ontem provavelmente o seu último discurso como presidente do Brasil. Em 45 minutos, adotou um tom emocional e deixou em segundo plano argumentos técnicos, feito extraordinário para ela. A simples presença de Dilma no púlpito do Senado deu ao 29 de agosto de 2016 um caráter histórico. Serviu para os livros, mas dificilmente vai alterar o panorama na votação de hoje.

Com Lula e Chico Buarque impassíveis nas galerias do Senado, por vezes com os olhares perdidos, Dilma usou o discurso do “golpe” em pelo menos cinco momentos, comparou outras vezes o impeachment com a perseguição sofrida por ela na ditadura e buscou desqualificar os adversários à frente do impeachment, fitando alguns deles, sentados à sua frente, como o tucano Aécio Neves.

Foi séria e dura na maior parte do tempo. Emocionou-se somente ao mencionar a tortura sofrida durante o regime militar e o câncer linfático, diagnosticado em 2009. Admitiu erros apenas uma vez, de forma tímida, quase protocolar, e, ainda sim, para iniciar o raciocínio de que é vítima de perseguição.

Os dias seguintes – José Casado

• Se destituída, Dilma fica inelegível, sem foro especial e sob investigação criminal. O sucessor Temer será um presidente ‘sub judice’ por iniciativa do seu principal avalista, o PSDB

- O Globo

Alguns protagonistas da política estarão em novas posições depois de amanhã, quando setembro chegar, se confirmadas as previsões sobre o julgamento político de hoje no Senado.

Destituída da Presidência, Dilma Rousseff fica inelegível pelos próximos oito anos, até os 76 de idade. Volta à planície dos cidadãos, agora sem foro privilegiado e sob investigação criminal. Terá a companhia do antecessor Lula, que em outubro completa 70 anos.

Ambos são personagens de inquérito conduzido pelo juiz Teori Zavascki, do Supremo, por suspeita de obstrução à Justiça na apuração de crimes de corrupção na Petrobras.

O julgamento da história - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Como a história julgará Dilma Rousseff? Ela própria e seus apoiadores tentam organizar a narrativa da queda sob o eixo da justiça. Nesse "framing", uma presidente honesta está sendo apeada do poder por forças conservadoras muito menos honestas que ela e com base em frágeis pretextos contábeis.

Concordo com alguns pontos. Até aqui, nada indica que Dilma tenha se beneficiado pessoalmente de esquemas de corrupção, o que não se pode dizer de outras lideranças, tanto do PT como mais próximas do atual governo. De todo modo, eu hesitaria um pouco antes de declarar Dilma uma vestal. Ou ela foi conivente com vários episódios de desvio de dinheiro ou então não os percebeu, o que não seria muito menos grave.

O discurso do golpe - Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

O discurso é repetitivo e irreversível, não há entendimento possível. A presidente Dilma afirma que está sendo vítima de um golpe, até admite ter cometido erros – embora não tenha dito quais –, mas que não cometeu nenhum crime de responsabilidade que justifique sua deposição.

É, para ela, um golpe parlamentar incontestável. O presidente do Julgamento, Ricardo Lewandowski, preferiu contemporizar com a observação tímida de que o golpe é apenas uma tese.

Mas essa tese tem consequências. Inclui entre os golpistas, as duas Casas do Congresso, o Supremo Tribunal Federal e, por força de consequência, a própria Constituição e a Lei, que respaldam todos os procedimentos do processo de impeachment.

Dilma e as elites - Míriam Leitão

- O Globo

A presidente Dilma disse que as elites econômicas querem derrubá-la, porque sua eleição feriu seus interesses. Entre 2014 e 2015, o governo deu pelo menos R$ 94 bilhões só em redução de impostos às empresas, além de subsídios através do BB e do BNDES. Na sua defesa, ontem, atuaram Kátia Abreu e Armando Monteiro, que lideraram os donos de terra e a indústria.

Dilma citou várias vezes esse inimigo: “as elites econômicas e políticas”. O mesmo bordão do ex-presidente Lula. Sempre foi falso, mas agora soa ainda mais estranho diante dos fatos e números.

Segundo Kátia Abreu, a presidente foi a que mais ajudou o agronegócio e a CNA. A entidade reúne os grandes proprietários rurais e entre outras ações, nos últimos anos, tentou suspender a divulgação pelo Ministério do Trabalho da lista suja das empresas flagradas com trabalho escravo.

Ficção e pieguice – Editorial / O Estado de S. Paulo

Num discurso de 50 minutos feito ontem perante o Senado Federal, com o qual pretendeu se defender das acusações pelas quais será julgada nas próximas horas pelos senadores, a presidente afastada Dilma Rousseff produziu uma peça de ficção entremeada por lances de pieguice explícita. Foi um fecho melancólico do itinerário político de uma chefe de governo que, simplesmente, fez tudo errado e levou o País para o buraco. Tudo consequência do autoritarismo e da soberba de um projeto de poder irresponsavelmente populista, agravado pela incompetência gerencial e pela inapetência para o jogo político reveladas pela criatura imposta por Lula para revezar com ele a cadeira presidencial.

O argumento central da defesa de Dilma, repetido à saciedade ao longo de todo o processo do impeachment que chega agora a seu desfecho, é que, alimentados pelo ódio e pela intolerância, seus adversários, ao verem “contrariados e feridos nas urnas os interesses da elite econômica e política”, assacam contra ela acusações infundadas. E protestou: “As provas produzidas deixam claro e inconteste que as acusações contra mim dirigidas são meros pretextos, embasados por uma frágil retórica jurídica”. Dilma tem todo o direito de pensar o que quiser sobre o julgamento no qual é ré, mas não é a ela, e sim aos juízes, constitucionalmente investidos de autoridade jurídica e política para tanto, que caberá decidir se ela é ou não culpada. Essa é uma responsabilidade atribuída ao Congresso Nacional. E até agora, seja no âmbito da competência dos deputados, seja na dos senadores, Dilma perdeu sempre.

Dilma não responde a acusações e repete argumentos – Editorial/ O Globo

• Presidente afastada perde oportunidade de se defender de maneira efetiva, e se limita a fazer o discurso destinado à luta política do lulopetismo de volta à oposição

O comparecimento da presidente afastada, Dilma Rousseff, ao Senado poderia reservar alguma surpresa. Chegou-se a prever que o discurso de Dilma entraria para a História. Mas a decisão, até corajosa, da ré, de ir ao Congresso se defender foi frustrante. Viu-se apenas a enfadonha repetição de velhos argumentos.

O pronunciamento da presidente afastada repetiu a ideia, sem pé nem cabeça, de que é vítima de um “golpe parlamentar”, desfechado por uma conspiração fantasiosa das elites, sob o “silêncio cúmplice da mídia”. Ora, agride-se o mensageiro pelo teor da mensagem, o que vem acontecendo, por parte de lulopetistas, desde o mensalão, noticiado com destaque, como teria de ser, pelo jornalismo profissional.

A defesa de Dilma – Editorial / Folha de S. Paulo

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT), ao comparecer perante o Senado Federal convertido em júri do processo de impeachment, ofereceu ao país, de própria voz, a defesa mais minuciosa e firme de sua conduta na Presidência.

O centro de gravidade da participação esteve no discurso de abertura, pois as respostas dadas às questões dos senadores servem mais para reiterar as conhecidas limitações em matéria de eloquência. Já na leitura da peça inicial, defendeu-se com brilho oratório inusual e passagens de genuína emoção.

Não que tenha surpreendido na forma e no conteúdo dos argumentos jurídicos e políticos. Após quase nove meses de processo e pleno exercício do direito de defesa, não havia ângulos novos a iluminar nem revelações capazes de alterar o desfecho do julgamento.

O dia D de Dilma - Arnaldo Jabor

- O Globo

Eu vos escrevo do passado. Hoje é o dia D de Dilma. Como terá sido o discurso de Dilma no Senado? Bem, fazer “mea-culpa” nem pensar. Eu a entendo. Ninguém sai na rua ou vai ao Senado para bater no peito e dizer: “Eu sou um (a) incompetente, eu sou responsável pela quebra do país!” Tudo bem, mas a autocrítica era um hábito recorrente durante aquele ex-socialismo que ainda viceja nas cabeças petistas. Lembro-me da hilariante autocrítica de um alto dirigente chinês durante a Revolução Cultural: “Eu sou um cão imperialista, eu sou o verme dos arrozais!...”

E, como estou no domingo passado, me pergunto: como terá sido o discurso? Sem dúvida Dilma falou com sinceridade total (não é ironia), falou de sua alma revolucionária.
O discurso de Dilma é para ela mesma. Para se convencer fundamente de que não cometeu erro algum. Vocês já viram. Eu imagino:

Suavíssima – Cecília Meireles

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
No céu de outono, anda um langor final de pluma
Que se desfaz por entre os dedos, vagamente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma . . .

Fica-se longe, quase morta, como ausente . . .
Sem ter certeza de ninguém . . . de coisa alguma . . .
Tem-se a impressão de estar bem doente, muito doente,

De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma . . .
E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
A alma das flores, suave e tácita, perfuma
A solitude nebulosa e irreal do ambiente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
Tão para lá! . . . No fim da tarde . . . além da bruma . . .

E silenciosos, como alguém que se acostuma
A caminhar sobre penumbras, mansamente,
Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma . . .

Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma . . .
E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .