segunda-feira, 4 de junho de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Na quadra atual, entre o desemprego e a violência cada vez mais assustadora do crime organizado, a perda de confiança nas instituições é um incentivo ao autoritarismo. O bloco proposto deve se opor abertamente a isso. Não basta defender a democracia e as instituições, é preciso torná-las facilitadoras da obtenção das demandas do povo, saber governar, não ser leniente com a corrupção e entender que, sem as novas tecnologias, não há como atender às demandas populares crescentes. E, principalmente, criar um clima de confiança que permita investimento e difundir a noção de que, num mundo globalizado, de pouco vale dar as costas a ele.

Tudo isso requer liderança e “fulanização”. Quem, sem ser caudilho, será capaz de iluminar um caminho comum para os brasileiros? “Decifra-me ou te devoro”, como nos mitos antigos.

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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República. “Decifra-me ou te devoro”, O Globo e O Estado de S. Paulo, 3/6/2018.

Augusto de Franco: A única chance de dar certo a iniciativa de articulação de um polo democrático no Brasil

Fernando Henrique e Sergio Fausto publicaram dois bons artigos hoje (03/06/2018), em O Globo e O Estado de São Paulo, alertando para o perigo - para a democracia - das saídas autoritárias ou caudilhescas. São artigos assustados com o movimento caminhoneiro e a adesão a Bolsonaro. Mas o alerta está correto. FHC diz que "a perda de confiança nas instituições é um incentivo ao autoritarismo". Fausto observa que a Lava Jato teve como "efeito colateral negativo: a disseminação de visões radicalmente depreciativas sobre o Brasil e sobre a política". Mas ambos parecem continuar defendendo o binômio instituições-lideranças (velha fórmula do PSDB, ou dos social-democratas - que, na verdade, são estatal-democratas - para resolver tudo). Ocorre que não é mais assim que as coisas funcionam.

Fausto até chama a atenção para o fato de que "não é hora de lamentar a falta de “grandes políticos” ou de aderir ao exercício estéril de “falar mal do Brasil”. Não temos outro país para chamar de nosso. Chegou o momento de construir um pacto pela ordem democrática para conter o risco da aventura autoritária". E Fernando Henrique prega que "é preciso criar um clima que permita convergência. E, uma vez no caminho e no exercício do poder, quem represente este “bloco” [democrático e reformista, que, por alguma razão boba, ele chama de "progressista"] precisará ter a sensibilidade necessária para unir os que dele se aproximam e afastar o risco maior: o do populismo, principalmente quando já vem abertamente revestido de um formato autoritário" [leia-se: Bolsonaro ou até, talvez, Ciro].

Ora, nas circunstâncias atuais, um "bloco", ou uma "frente", ou uma "aliança", ou um "polo" - com programa mínimo de reformas e inarredável cláusula democrática - dificilmente encontrará um ator político capaz de encarná-lo. Não há, pelo menos até agora (e dificilmente haverá) um nome no campo democrático capaz de sintetizar tudo isso, com energia política para contagiar o eleitorado. E mesmo que houvesse, os procuradores da Lava Jato, em aliança com juízes politizados do STF, arrumariam um jeito de lançar sobre ele alguma suspeita de corrupção. Em termos estritamente jurídicos, não vai colar, é claro. Mas o estrago estará feito (e, como são restauracionistas, os instrumentalizadores políticos da Lava Jato, querem jogar tudo no chão para começar do zero: com quem eles não dizem, porque não sabem e porque são irresponsáveis). Os candidatos com cheiro de novo (como Amoedo ou Rocha) mal conseguem chegar a 1% das intenções de voto. Álvaro Dias - um oportunista clássico - não inspira confiança (e suas declarações durante o locaute dos empresários de transporte, comprometeram-no mais ainda aos olhos dos que têm dois neurônios funcionando).

Alberto Aggio*: A polarização que não cede

- O Estado de S.Paulo

Mas há um novo polo, que emergiu das manifestações de 2013 e do impeachment...

Em artigo nesta página (20/4), Fernando Gabeira tratou de um tema essencial aos candidatos às próximas eleições presidenciais: ganhar ou perder votos. Não aconselhou estratégias, mas advertiu ser preciso pensar na principal personagem desta eleição, a sociedade, traumatizada pela violência ou pela deriva de seus antigos líderes.

O tema objetivo dos candidatos configura-se como algo um pouco mais complexo para a sociedade. Importante seria pensar o que é ganhar ou perder para a sociedade. Uma vitória eleitoral não define tudo e tampouco uma derrota eleitoral se torna obrigatoriamente uma derrota histórica. A luta pela democracia e ela mesma não se resumem a números. Mais do que a conquista do voto – que tem toda a importância –, é preciso verificar, junto à sociedade e em nome dela, que tipo de vitória ou derrota os contendores estão dispostos a vivenciar.

A virtù de um candidato e de sua corrente política estaria na justa relação entre a conquista do voto e a perspectiva histórica que os anima. Trata-se de uma complexa construção histórica que demanda leitura competente da realidade, orientação ampla capaz de agregar diversos setores, além de tenacidade, paciência, prudência e vigor, até alcançar o objetivo final.

A título de exemplo, em determinadas circunstâncias, a vitória pode advir e superar uma derrota anterior, de caráter histórico. Nesse caso, é possível verificar a trajetória de atores políticos vitoriosos que conseguiram superar equívocos de orientação estratégica e, num contexto mais favorável, refizeram seus caminhos e compuseram alianças capazes de lhes dar condições de crescer, não importando os mecanismos adotados para enfim alcançarem seus objetivos. Essencialmente, essa foi a trajetória dos “companheiros de armas” do PT, que nas décadas de 1960 e 1970 optaram pela luta armada e depois, sem autocrítica pública, diga-se, conseguiram chegar ao poder na aurora do novo século. A vitória eleitoral desse grupo, como sabemos, não se configurou como uma vitória histórica e orgânica. O ex-ministro José Dirceu, condenado em diversos crimes de corrupção, assim como Dilma Rousseff, afastada da Presidência da República por um processo de impeachment legítimo e legal, são hoje expressões residuais que nem no PT recebem a guarida devida, para além da retórica de praxe.

Marcus André Melo: O Paro dos caminhões

- Folha de S. Paulo

Com a crise, Lula saiu do radar e o 'Fora, Temer' mudou de lado

Nem Jornadas de Junho nem locaute contra Allende. O caso mais parecido com o protesto dos caminhoneiros foi o Paro contra o aumento do imposto de exportação (“retenciones”) e sua flutuação pelo preço internacional, decretado por Cristina Kirchner no início de seu mandato, em março de 2008.

A paralisação durou três meses e o bloqueio geral das estradas causou desabastecimento em larga escala no país. A crise foi dramática, levando 10 mil pessoas às ruas em um “cacerolazo” e também a um manifesto de 750 intelectuais denunciando o “movimento destituinte”. O governo também entrou em conflito aberto com a mídia e acusou o grupo Clarín de conluio com os “golpistas”.

Com as Jornadas de Junho só há em comum a escala e o impacto. O protesto dos caminhoneiros não foi movido pela insatisfação difusa com serviços públicos, corrupção e representação política, embora o apoio que logrou obter da população dela tenha se alimentado. Mas não foi o seu leitmotiv.

A paralisação tampouco foi um protesto de consumidores urbanos, mas de empresas e prestadores de serviço contra o ônus tributário do setor de transporte de cargas. É produto da disputa redistributiva instalada com a crescente restrição —agora institucionalizada— à elevação do gasto e da carga tributária.

Marcus Pestana: Por um polo democrático e reformista

- O Tempo (MG)

Amanhã, 5 de junho, no Salão Verde da Câmara dos Deputados, será lançado o manifesto “Por um polo democrático e reformista”. Entre os signatários temos a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do senador Cristovam Buarque, de intelectuais da estatura de Luiz Werneck Vianna, Bolívar Lamounier e Celso Lafer, do humorista Marcelo Madureira, dos ministros Aloysio Nunes Ferreira e Raul Jungmann e de deputados de diversos partidos.

A preocupação é clara: a possibilidade do campo democrático e reformista, por sua excessiva fragmentação, ficar fora do segundo turno. Como brincou o senador Cristovam Buarque, em uma das reuniões preparatórias, “não podemos admitir passivamente que o segundo turno seja entre a catástrofe e o desastre. Precisamos de uma alternativa que seja socialmente progressista, economicamente responsável e politicamente democrática”.

O documento visa se transformar em alavanca para pavimentar o caminho para um diálogo franco e aberto entre os pré-candidatos que atuam em campo diverso do populismo autoritário e radical, de direita e de esquerda.

O manifesto faz um diagnóstico profundo da atual crise e da complexidade que envolve as eleições de 2018. E ressalta: “Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade”. Aponta a experiência, o diálogo, a serenidade, o respeito à diversidade e a competência comprovada como o caminho a seguir.
E afirma: “É neste sentido que as lideranças políticas e intelectuais que assinam este manifesto conclamam todas as forças democráticas e reformistas a se unirem em torno de um projeto nacional, que a um só tempo dê conta de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social, e afaste o horizonte nebuloso de confrontação entre os extremos radicalizados”.

Demétrio Magnoli: A hora da covardia

- O Globo

Nem Alckmin, nem Marina exigiram a garantia dos direitos básicos de circulação nas estradas e de abastecimento de bens essenciais

Não se tem notícia de humilhação similar. Para todos os efeitos práticos, o governo Temer sucumbiu, atropelado por um caminhão. Mas, em meio ao caos, entre as vozes estridentes dos populistas e os ecos secundários dos oportunistas, deve-se registrar o silêncio dos candidatos de centro. Na paisagem de ruínas, ninguém ousou sair em defesa do interesse geral. A covardia será punida nas urnas.

O Planalto sabia que a explosão viria, mas permaneceu inerte. Diante da catástrofe consumada, ensaiou uma valsa de sucessivos rugidos e recuos, até a completa desmoralização. No início, corretamente, identificou a natureza da operação de locaute, que se fantasiava como greve espontânea. Na sequência, renunciou ao exercício da força legítima, oferecendo carta branca aos grandes empresários de transportes e às facções amotinadas dos caminhoneiros. Corte das estradas, abolição do direito de ir e vir, colapso do abastecimento essencial: uma nação sem governo, sem lei, converteu-se em refém da força privada.

Temer capitulou duas vezes, entregando bem mais do que exigiam as milícias invasoras. No meio do percurso, estendeu sua própria humilhação ao STF, que dera amparo à liberação compulsória das estradas, e aos militares, que se preparavam para cumprir a ordem de romper os bloqueios. O presidente e seu círculo de patéticos estrategistas temiam que a aplicação da lei provocasse uma reprodução das “jornadas de junho” de 2013, incendiando as cidades. No altar sacrificial da capitulação, eles imolaram todos os bens públicos que tinham ao alcance. A desoneração da folha das transportadoras, o tabelamento do frete, a contratação de transporte sem licitação, o subsídio ao diesel serão financiados por cortes de gastos sociais, inflação e emissão de dívida. Há, contudo uma perda maior: agora, ninguém mais duvida de que a chantagem compensa, especialmente se for conduzida a seus limites extremos.

Vinicius Mota: A volta dos cruzados

- Folha de S. Paulo

Em 1986, empresários gananciosos eram o problema; hoje, establishment político é o inimigo imaginário

Em língua franca, a maldição rogada por Deus contra o homem enxotado do paraíso foi esta: “Rala, desgraçado, e depois retorna para a lama da qual vieste”.

O Brasil remou, remou, remou e voltou para o seu lodaçal arquetípico, localizado na década de 1980. Naquela época, sonhávamos com derrotar a inflação num só golpe.

Os inimigos da pátria eram banqueiros internacionais e empresários locais gananciosos. Porrada neles, ordenou o governo Sarney. Em 1986, o PMDB do presidente maranhense arrebatou respaldo na sociedade, no Congresso e nos estados como nenhum outro partido depois.

Congelem-se os preços, reprimam-se os remarcadores, confisquem-se os bois dos sabotadores. No auge, o Cruzado fez jus ao nome pela cruzada empreendida por políticos, autoridades e população em transe contra os infiéis que lhes negavam acesso à terra santa da estabilidade.

O governo de hoje, premido pelo descrédito, atende de modo parecido ao lobby dos caminhoneiros, embalados no apoio de uma opinião pública que sonha com o Éden. Tabelem-se fretes e quem sabe os combustíveis, multem-se os postos que não derem desconto no diesel.

Voltam as siglas da burocracia do abastecimento. Sob Sarney, fiscais da Sunab levavam consumidores à glória e varejistas ao terror. Agora a Conab dará de bandeja fatia gorda de seus fretes a um grupo rebelado.

Há 32 anos, brasileiros cheios de civismo entoavam o hino pátrio em supermercados rendidos. Na semana passada, grevistas briosos cantavam os versos nas estradas.

Fernando Limongi: Irmãos da estrada

- Valor Econômico

Signos do novo precisam ser postos em perspectiva

A greve dos caminhoneiros gerou estupefação e perplexidade. Analisando a primeira semana do movimento, a Ombusdman da Folha de São Paulo sentenciou: "A imprensa foi atropelada". Para Paula Costa, os jornalistas estariam despreparados "para cobrir e explicar as origens, os personagens e os desdobramentos do movimento." A paralisação, concluiu, "surpreendeu a maioria dos brasileiros".

Estimulados pelo que entenderam ser uma novidade, os intérpretes de plantão não demoraram a avançar explicações. Ouviu-se de tudo um pouco. Não faltou quem se dispusesse a lançar mão de esquemas ambiciosos sobre as transformações da sociedade brasileira. A greve dos caminhoneiros chegou a ser identificada como o embrião de mudanças de proporções sísmicas e profundas, como se o Brasil estivesse na beira de uma revolução. Os menos otimistas recorreram à incivilidade atávica dos brasileiros para dar conta do flerte com o caos gerado pelos bloqueios. O must foi comparar com 2013, apoiando-se no paralelismo entre os centavos das passagens de ônibus e os reais do preço do diesel.

Os signos do novo, contudo, precisam ser postos em perspectiva. Faz tempo, muito tempo, que os caminhoneiros e seus bloqueios fazem parte da cena política brasileira. O movimento da semana passada teve muito pouco de novo, sobretudo se comparado aos que ocorreram durante o governo Dilma.

A primeira grande paralisação ocorreu em julho de 2013, quando estradas foram bloqueadas por quatro dias. Em fevereiro e março de 2015, sob a liderança da CNTA e da UNC, o bloqueio foi maior e mais bem sucedido, levando ao desabastecimento de dezenas de cidades. Novos bloqueios ocorreram em outubro de 2015, desta feita sem pauta específica para o setor e em conexão direta com o movimento pelo impeachment de Dilma.

As diversas paralisações foram desencadeadas por associações e confederações que representam os condutores autônomos, mas em todas elas não foi difícil discernir produtores e empresas de transportes por detrás do movimento. Foi assim em 2013, 2015 e não foi diferente em 2018.

Parte do imbróglio no setor se deve à promulgação da Lei 12.619 de 2012, conhecida como a Lei do Descanso. Fundamentalmente, a lei estendeu uma série de direitos trabalhistas aos caminhoneiros, como limites de jornada de trabalho e intervalos para repouso. A reação à aplicação da lei esteve na origem do movimento desencadeado em julho de 2013, quando o governo teve força para resistir sem fazer maiores concessões.

Celso Rocha de Barros: Conversando com os bolsonaristas

- Folha de S. Paulo

Nenhum flerte com ditadura, censura ou coisa que o valha é aceitável

Alguns leitores reclamaram que minha coluna da semana passada foi ofensiva aos eleitores de Bolsonaro. Bom, foi mesmo.

Foi uma coluna sobre o apoio de Bolsonaro à greve dos caminhoneiros, um movimento em que claramente havia infiltração de fascistas pedindo golpe militar, atirando em grevistas que queriam voltar ao trabalho e, suspeita-se, descarrilhando trens.

No dia seguinte, Bolsonaro deu para trás, largou a greve e fez um discurso com cara de conciliador. Mas já estava ali a senha para a próxima onda de atentados: se perder a eleição, Bolsonaro pretende contestar a legitimidade do pleito alegando fraude nas urnas eletrônicas.

É razoável supor que os terroristas de Bolsonaro tentarão matar quem se opuser ao seu golpe. Eu farei isso. Logo, no plano de Bolsonaro, eu morro.

E eu tenho essa implicância, que é uma coisa minha, pessoal, vocês me desculpem, mas eu às vezes esqueço a delicadeza quando estou falando com sujeito que quer me pendurar no pau de arara ou amarrar minha boca no escapamento do carro. Acho vacilo.

Mas vamos esquecer por um momento essa questão de um matar o outro, bolsonaristas.

Juntem aqui a turma inteligente entre vocês: oficiais e engenheiros das Forças Armadas (meu avô era um), pastores evangélicos que olham para Magno Malta e pensam "Quantas teses do Lutero eu tenho que renegar para o papa aceitar esse cara de volta?", enfim, a turma aí que pensa como adulto.

Jair, Carlos, Eduardo, lá fora tem uns carrinhos para vocês brincarem, tem mágico, palhaço, Olavo de Carvalho.

Pronto. Bem, amigos destro-brasileiros, é óbvio que o conservadorismo tem o que acrescentar ao debate nacional.

Por exemplo, parece razoável que autores de crimes graves passem mais tempo na cadeia do que hoje em dia passam.

Ricardo Noblat: O que dizem sobre Lula e o que ele diz

- Blog do Noblat

O ato e o fato

Quem visita Lula no cárcere em Curitiba é orientado a sair dizendo que ele está calmo, sereno e confiante. E, a depender da semana, indignado com alguma coisa de ruim que esteja acontecendo no país.

Calmo ele não está. Muito menos sereno e confiante. Está indignado por estar preso. E sabe que de lá não sairá tão cedo, conforme ouve dos seus advogados. Antes das eleições, nem pensar.

A mais de um interlocutor de confiança, Lula já manifestou sua irritação com os governadores do PT que só pensam em se reeleger, cobram pressa dele e admitem apoiar a candidatura de Ciro Gomes.

Lula critica antigos líderes do PT que não o defendem como deveriam. Recentemente, admitiu fazer uma delação para consumo interno do partido que causaria embaraços a alguns dos seus correligionários.

Almir Pazzianotto Pinto: Rescaldos da Crise

- Diário do Poder

No Direito do Trabalho a expressão greve tem o significado de cessação coletiva do trabalho, decretada na forma da lei, com o objetivo de fazer com que o empregador se renda e concorde com as reivindicações dos empregados (Lei nº 7.783/79).

A paralisação dos autônomos não foi greve, no sentido jurídico da palavra. Iniciou-se como exercício do direito de manifestação pacífica, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização (Constituição, artigo 5º, XVI), até descambar em motim, isto é “insurreição, organizada ou não, contra qualquer autoridade civil ou militar instituída, caracterizada por atos explícitos de desobediência, de não cumprimento de deveres, de desordem, e ger. acompanhada de levante de armas e de grande tumulto” (Dicionário Houaiss).

Que motivos tão fortes levaram milhares de caminhoneiros – de modo geral pessoas boas e simples da classe média – a se organizarem contra a Petrobrás, sociedade anônima de economia mista, integrante da Administração Pública da União, acionista majoritária e controladora? Não se tratou de manifestação localizada em busca da Carta de Reconhecimento, promovida por meia dúzia de dirigentes sindicais pelegos, como em janeiro de 1986. Desta vez a mobilização estendeu-se pelo território nacional, tendo, como forte e comprovado motivo, aumentos diários do preço do óleo diesel, insumo essencial ao transporte rodoviário de carga.

Abastecendo o meu automóvel em média uma vez por semana, sabia do constante aumento do preço da gasolina e conhecia, em contato com motoristas de taxi, o grau de insatisfação diante da ininterrupta elevação do custo dos combustíveis. O presidente da Petrobrás, Dr. Pedro Parente, foi designado pelo presidente da República, Dr. Michel Temer, para levar a cabo a tarefa de recuperar a credibilidade e a rentabilidade da empresa, espoliada durante os anos em que o Partido dos Trabalhadores esteve à frente do Poder.

Cida Damasco: Volta ao ‘normal’?

- O Estado de S.Paulo

Governo tenta se equilibrar entre garantias a Petrobrás e alívio aos consumidores

Os brasileiros entraram no feriadão com a esperança de que na segunda-feira tudo voltaria à rotina. Bendita rotina. Ansiedade compreensível para quem passou quase duas semanas sem saber se haveria combustível para encher o tanque do carro ou do ônibus e se os supermercados estariam abastecidos. Aos poucos caminhoneiros voltaram às estradas, petroleiros desistiram da greve, enfim tudo rumo à normalidade. A saída de Pedro Parente do comando da Petrobrás na sexta-feira, contudo, mostra que a instabilidade não dá trégua. De 2013 para cá, o anormal é o novo normal.

Quem imaginou que apresentar a fatura do aumento de preços do diesel serviria para “conscientizar” a população de que concessões têm preço, e contribuiria para conter pressões, acabou se frustrando. Tudo indica que muitos leram o recado de outra forma: por que não mudar a política de preços e seu executor em vez de sacrificar gastos sociais, benefícios a exportadores e a vários setores industriais? O ato seguinte foi a queda do presidente da empresa, o que os mercados temiam e o próprio Temer vinha negando - naquele estilo que os políticos tomam emprestado do futebolês, com uma mensagem do tipo “o técnico continua prestigiado”. O resultado não poderia ser outro. Com a saída de Parente e as incertezas sobre o futuro da Petrobrás, as ações da empresa tiveram um baque de 15% na sexta-feira, solapando R$ 40 bilhões do seu valor de mercado.

A expectativa agora é qual será o impacto nos pregões da escolha do ex-diretor financeiro Ivan Monteiro para suceder Parente. É verdade que Monteiro é bem visto pelos mercados desde sua atuação no Banco do Brasil. Mas as dúvidas não se esgotam nesse ponto. O governo se move num terreno estreito, tentando conciliar sinais aos investidores de continuidade na gestão da Petrobrás, como foi o caso do aumento da gasolina no sábado, e garantias de alívio aos consumidores, com a extensão de mecanismos de amortecimento dos reajustes também para gasolina e gás de cozinha. Os mercados “entenderão” que, mesmo com esses arranjos, a política de preços da Petrobrás continua a mesma? Persistirão as tentativas de ingerência política também no leilão de barris excedentes do pré-sal, reveladas em reportagem do Estadão? As pressões sobre o governo ficarão delimitadas ao setor de combustíveis ou esse é apenas o começo? Há fôlego para novas manifestações nesta semana, como corria nas redes sociais?

Angela Bittencourt: Risco aumenta e não se descarta um 'double dip'

- Valor Econômico

Indenizações e 'novos' servidores sinalizam nó fiscal

O governo Temer tem sete meses pela frente. É pouco tempo para conquistar aliados, mas o suficiente para promover uma guinada na política econômica. A saída de Pedro Parente do comando da Petrobras é passe livre para a adoção de medidas de forte apelo popular. Embora a redução seguida de congelamento do preço do diesel tenha atendido à reivindicação dos caminhoneiros para encerrar a greve da categoria, a revisão do preço da gasolina e do gás de cozinha - se ocorrer - será comemorada por um contingente bem maior de brasileiros. E eleitores.

O risco para a recuperação da economia aumentou consideravelmente nos últimos dias como se vê no comportamento de vários indicadores. A taxa de juro de longo prazo voltou a superar 12% ao ano e, ante inflação inferior a 3%, contrata uma explosão do juro real; a taxa de câmbio segue sob pressão e, para alguns especialistas, caminha para R$ 4,00; as estimativas para o crescimento deste ano estão sendo cortadas para cerca de 1,50%, sendo que até recentemente oscilavam entre 2,7% a 3,0%; o risco país sobe; os investidores estrangeiros já carregam posições compradas em instrumentos cambiais - contratos de dólar futuro e juro em dólar - acima de US$ 25 bilhões na BM&F. Esses dados formam o pano de fundo da corrida eleitoral que acena com o resultado mais incerto que se tem notícia no Brasil. E retratam a deformidade persistente entre as expectativas do setor privado e os vícios do setor público.

Dependência do Estado: Editorial | O Estado de S. Paulo

O apoio popular à greve dos caminhoneiros, particularmente à demanda por redução do preço do óleo diesel – o que necessariamente tem de ser bancado com recursos do Estado, por meio de subsídio –, mostra a persistência de uma mentalidade estatista em grande parte da sociedade brasileira.

Por mentalidade estatista entenda-se a presunção de que o Estado tem de ter a capacidade de oferecer tudo a todos, como se os recursos à sua disposição fossem infinitos. A Constituição de 1988 reflete claramente essa visão, pois, a título de restabelecer direitos sociais depois da ditadura militar, onerou o Estado de tal maneira que hoje a única solução para manter sua solvência é por meio de profundas reformas constitucionais – das quais muito pouca gente quer ouvir falar.

Têm prevalecido até aqui, às vezes com mais vigor, como agora, os interesses das corporações e dos grupos organizados da sociedade, sempre em detrimento da maioria desorganizada – que tem sido incapaz de perceber o quanto tal estado de coisas lhe custa. É como se o dinheiro administrado pelo Estado, fruto da arrecadação de impostos de todos os brasileiros, não fosse público, mas sim do governo – que, conforme esse raciocínio, distribui os recursos segundo critérios misteriosos, incompreensíveis ou, quase sempre, suspeitos. Nesse contexto, a muitos cidadãos, para os quais a política é uma atividade insondável e distante – quando não intrinsecamente corrupta –, não parece restar alternativa senão esperar que o governo também lhes premie com alguma benesse, quando o certo seria inteirar-se de como o dinheiro público é arrecadado e distribuído para, assim, ter condições de opinar sobre sua melhor destinação. Se o vigor de uma democracia se mede, entre outras coisas, pela capacidade que a sociedade tem de determinar como o Orçamento público é gerenciado, então vai mesmo mal a democracia brasileira.

Modelo da falência: Editorial | O Globo

Demissão do presidente da Petrobras não pode permitir que voltem à empresa o dirigismo e o populismo

A demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras conseguiu unir gente do governo Temer e a oposição, pontos diametralmente opostos no cenário político brasileiro atual. O entendimento entre ambos se dá porque coincidem na visão de que a Petrobras, por ser do Estado — esquecem que há uma miríade de acionistas pessoas físicas e jurídicas, dentro e fora do país —, pode servir de instrumento do governo de turno.

Foi esta visão que praticamente quebrou a empresa, devido à gestão temerária nos governos Lula e Dilma. Além de usada como fonte bilionária de recursos para financiar o projeto de poder lulopetista — e mesmo, via propinas, melhorar o padrão de vida de alguns líderes, como está provado na Justiça —, a estatal também padeceu ao ser, como em tantas outras vezes, instrumento de controle da inflação. Da pior forma possível: via congelamento de seus preços.

Outro uso deletério feito da estatal, numa imitação do que aconteceu na ditadura militar, foi colocá-la como indutora de um programa megalomaníaco de substituição de importações de equipamentos destinados à exploração de petróleo, projeto também usado para arrecadar propinas de empreiteiras.

Mercado de crédito cresce com bases mais sustentáveis: Editorial | Valor Econômico

O mercado de crédito dá os primeiros sinais de que está entrando em uma trajetória de recuperação. Embora incipiente, lento e muito frágil, o ciclo atual de expansão é sustentado em bases mais sólidas do que os anteriores. Os empréstimos direcionados, com juros definidos pelo governo, dão lugar ao crédito livre, e os bancos públicos caminham para perder protagonismo para os privados.

Nos 12 meses terminados em abril, o conjunto das carteiras de crédito do sistema financeiro cresceu 0,6%, segundo dados divulgados na semana passada pelo Banco Central. O crescimento segue modesto, inferior à inflação apurada no período, de 2,76%, o que significa que o estoque de crédito da economia continua se contraindo em termos reais. De qualquer forma, é o segundo mês seguido de expansão nominal, depois da retração observada em 2017.

O Banco Central projeta uma alta de 3,5% do crédito neste ano. A concretização desse prognóstico depende do fortalecimento adicional da confiança de bancos, empresas e indivíduos - que pode ter sido abalada pelo choque externo causado pela perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos, pelos dados mais fracos de atividade econômica e pela paralisação dos caminhoneiros.

Apesar das incertezas sobre a continuidade do ciclo de expansão de crédito, é certo que hoje ele ocorre em bases mais equilibradas. No primeiro quadrimestre, o crédito livre registra uma expansão de 1%, enquanto que o crédito direcionado encolhe 1,2% no período. A contração dos empréstimos direcionados se concentra nas operações com empresas, que registra queda de 4% no primeiro trimestre, ao passo que há um aumento no estoque de crédito a pessoas físicas.

Fora da ordem: Editorial | Folha de S. Paulo

Reforçada por julgamento marcado pelo Supremo, especulação em torno do parlamentarismo é descabida, a despeito dos méritos do sistema

Em decisão nada oportuna, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, pautou para o dia 20 de junho julgamento de uma ação que questiona a autoridade do Congresso para mudar o sistema de governo e instituir o parlamentarismo por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC), sem consulta popular.

O caso chegou ao tribunal num longínquo 1997, quando o então deputado federal Jaques Wagner (PT) considerou questionável a tramitação de um projeto para substituir o presidencialismo. Quatro anos antes, em 1993, a ideia já havia sido rejeitada em plebiscito previsto pelas Disposições Transitórias da Constituição de 1988.

A rejeição foi a segunda registrada na história republicana —a primeira ocorreu em 1963, quando o sistema em vigor também foi chancelado em consulta popular.

Não é incomum no Brasil que em épocas de crise especule-se com manobras do gênero, como agora se observa. Paralelamente às movimentações de alguns congressistas, o presidente Michel Temer (MDB) tem defendido a adoção de um sistema “semipresidencialista”.

Centrão avança e reduz peso de partidos maiores

Fragmentação pode dificultar governabilidade

Cai a fatia de MDB, PT, PSDB e PP no total de filiados a legendas. Com pulverização de siglas, há mais apetite por cargos

A participação dos quatro maiores partidos do país no número total de filiados caiu 17% desde 2002, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). MDB, PT, PSDB e PP têm, juntos, 41% da fatia de eleitores que estão associados a alguma legenda. Essas siglas perderam espaço para as legendas que surgiram entre 2002 e 2018, como PRB, PSD, PROS e Solidariedade. A queda de influência também aconteceu na Câmara dos Deputados, abrindo caminho para o fortalecimento de partidos do centrão, em um cenário que pode dificultar a governabilidade do próximo presidente da República.

Um bolo mais dividido

Peso de MDB, PT, PSDB e PP na quantidade total de filiados a partidos cai 17% desde 2002

Daniel Salgado e Marco Grillo | O Globo

A criação de novos partidos e o desgaste de siglas tradicionais, envolvidas em casos de corrupção nos últimos anos, reduziram o peso das quatro principais legendas do país no número total de eleitores filiados. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) compilados pelo GLOBO mostram que, em 2002, MDB, PT, PSDB e PP tinham 49,5% do total de filiados — o que representava 5,5 milhões de um total de 11,1 milhões à época. Hoje, quando o número de simpatizantes registrados chegou a 16,8 milhões, a participação dos quatro partidos no montante é de 41%, o que representa uma queda de 17% nesse período de 16 anos.

A fragmentação ocorreu também na Câmara dos Deputados, indicando um cenário que pode se tornar ainda mais complexo para a governabilidade do presidente da República que será eleito em outubro. Para o chefe do Executivo, é mais difícil costurar acordos para votações importantes quando há mais partidos — e mais apetite por cargos, que costumam ser distribuídos a filiados — na mesa.

Na eleição de 2002, MDB, PT, PSDB e PP elegeram 285 parlamentares; hoje, as quatro legendas têm, juntas, 208 deputados.

Entre os filiados, o espaço perdido foi ocupado, em parte, por outras quatro legendas que surgiram no período: PRB (criado em 2006), PSD (em 2011), PROS e Solidariedade (ambos em 2013) têm hoje pouco mais de um milhão de eleitores registrados, o equivalente a 6% do total e mais de R$ 200 milhões de fundos públicos. As quatro legendas integram o centrão, bloco que já demonstrou força na Câmara ao apoiar a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da casa, em 2015, e ao barrar o andamento as duas denúncias que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou contra o presidente Michel Temer no ano passado.

INFIDELIDADE PARTIDÁRIA
O surgimento de novas legendas foi impulsionado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a fidelidade partidária, tomada na década passada. O entendimento que passou a vigorar instituiu a perda de mandato para os parlamentares que decidissem mudar de partido. Não havia restrição, no entanto, para a migração a legendas recém-criadas.

Entre impeachment e sentença de Lula, PT perdeu filiados

Após decisão de Moro, número de petistas parou de cair e voltou ao patamar do governo Dilma

Daniel Salgado e Marco Grillo | O Globo

A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz Sergio Moro, em julho do ano passado, e a posterior campanha de filiação lançada pelo PT estancaram o movimento de queda no número de filiados que vinha acontecendo desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

O PT é o segundo partido com mais simpatizantes registrados — 1.589.871, segundo os dados de abril publicados pelo Tribunal Superior Eleitoral. É um patamar semelhante ao de abril de 2016 (1.589.260), mês anterior à saída de Dilma — a variação foi de 0,03% entre os dois momentos. De lá para cá, a curva foi descendente, interrompida apenas em outubro do ano passado.

Em setembro de 2017, com a presença de Lula e da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), o PT havia lançado uma campanha nacional de filiação. O movimento mais intenso buscando atrair o registro de simpatizantes começou após a condenação de Lula em primeira instância, quando líderes do PT e o ex-presidente passaram a repetir o discurso de que havia uma perseguição judicial em andamento. A retórica e as mudanças feitas no sistema de filiação ao partido — o cadastro ficou mais simples e rápido — trouxeram resultado, ainda que tímido: a legenda ganhou 8.004 filiados desde a primeira sentença contra Lula, um crescimento de 0,5%.

“Filiar-se é demonstrar coragem e chamar para si a responsabilidade de mudar o rumo dessa história que querem impor para prejudicar o povo brasileiro”, disse Gleisi, em abril, sobre a campanha de filiação.

O cientista político Michael Mohallem, professor da FGV Direito Rio, acredita que há dois momentos distintos nos últimos anos na construção da imagem que a sociedade tem do PT: as várias prisões de petistas na Lava-Jato, entre 2014 e 2016, e a prisão de Lula, em abril deste ano. Ainda não é possível dimensionar o impacto da ida do ex-presidente para a cadeia no número de filiados, porque os dados mais recentes são justamente de abril.

— O momento crucial aconteceu em meados de 2016, com o avanço da Lava-Jato, a prisão de vários quadros (do PT) e a percepção de que o partido havia se contaminado. Na prisão de Lula, a narrativa já me parece outra na sociedade. Uma pesquisa recente mostra que 48% da população brasileira acreditam que o impeachment foi um golpe. Por mais que haja uma derrota do PT no campo judicial, há talvez um prenúncio de vitória na narrativa que se construiu — analisa Mohallem.

REDE: PARTICIPAÇÃO MÍNIMA
Desde 2002, o PT quase dobrou o número de filiados, impulsionado pelos 13 anos à frente do governo federal, primeiro com Lula e depois com Dilma. Na oposição durante a maior parte do período pós-2002, o PSDB também teve um crescimento expressivo, ultrapassou o PP e hoje tem 1,4 milhão de filiados.

Já a Rede, que também deverá ter candidato à Presidência, não conseguiu aproveitar os mais de 20 milhões de votos que Marina Silva teve na eleição de 2014, quando concorreu pelo PSB: a Rede tem 23.968 filiados, apenas 0,14% do total geral registrado no TSE. É um número semelhante ao do Novo, que deverá lançar João Amoêdo a presidente e tem 19.022 filiados. Além do Novo, a Rede só reúne mais filiados que PSTU, PCB e PCO.

Em Minas Gerais, denúncias não evitam duelo entre PT e PSDB

Governador Fernando Pimentel (PT) tentará reeleição contra tucano Antonio Anastasia, que governou o Estado entre 2010 e 2014

Jonathas Cotrim / O Estado de S.Paulo

BELO HORIZONTE - Os partidos que governaram Minas Gerais nos últimos 15 anos, PT e PSDB, têm sido alvos de denúncias e prisões decorrentes de investigações de esquemas de corrupção. Mesmo assim, o cenário para as eleições em Minas vai se desenhando com uma nova polarização entre o governador petista Fernando Pimentel, que tentará a reeleição, e o senador tucano Antonio Anastasia, que governou o Estado entre 2010 e 2014.

Confirmado como pré-candidato do PT, Pimentel foi denunciado quatro vezes por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Acrônimo da PF, que apura lavagem de dinheiro na campanha em 2014. Em outra investigação, a Procuradoria-Geral da República denunciou o governador por omissão e falsidade na prestação de contas da campanha eleitoral de 2014.

Além disso, no fim de abril, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas, Adalclever Lopes (MDB), autorizou a abertura de um processo de impeachment contra Pimentel, devido a atrasos em repasses financeiros enviados mensalmente do Executivo para o Legislativo, o Judiciário e as prefeituras mineiras do Estado - o que poderia ser configurado como crime de responsabilidade fiscal. O processo, no entanto, está parado na Assembleia.

Também investigado pela PF por “vantagens indevidas” em sua campanha ao governo de Minas em 2010, Anastasia é o principal pré-candidato da oposição e enfrenta ainda o fato de ser aliado de dois tucanos com problemas: o senador Aécio Neves e ex-governador Eduardo Azeredo.

Aécio, de quem Anastasia foi vice-governador, é réu no Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva e obstrução de Justiça, sob a acusação de ter recebido propina de R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, da JBS. Além disso, o senador mineiro é alvo de outros sete inquéritos no STF, cinco em decorrência da delação de executivos da Odebrecht e outros dois sobre o esquema de corrupção em Furnas e da acusação de “maquiar” dados da CPI dos Correios, em 2005, e esconder uma suposta relação entre o Banco Rural e o mensalão mineiro.

Em seu oitavo ano como senador, Aécio ainda não definiu seu destino político a partir de janeiro de 2019. Em conversas reservadas, líderes tucanos mineiros dizem que uma eventual postulação a um novo mandato no Senado pode isolar o PSDB em Minas. Nem Anastasia quer estar ao lado de Aécio na campanha.

Na Bahia, petista tenta reeleição contra 'órfãos' de ACM Neto

Governador Rui Costa enfrentará um campo oposicionista fragmentado em três pré-candidaturas

Yuri Silva / O Estado de S.Paulo

SALVADOR - A eleição deste ano na Bahia já está marcada pela frustração de uma disputa que vinha se desenhando havia pelo menos dois anos entre o governador Rui Costa (PT), que tentará a reeleição, e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), principal liderança da oposição, que surpreendeu o ambiente político local, em abril, ao anunciar que não renunciaria ao mandato para concorrer ao Palácio de Ondina. Com a desistência de Neto, Rui enfrentará um campo oposicionista fragmentado em três pré-candidaturas, formado por "órfãos" do prefeito.

A campanha de Rui carrega não somente a responsabilidade de se manter à frente, por mais quatro anos, do maior dos três Estados administrados hoje por petistas, mas também de garantir um palanque forte ao PT no maior colégio eleitoral no Nordeste, região em que o partido tem mais força.

Para impedir o que seria a quarta vitória consecutiva do PT no Estado, os partidos de oposição a Rui agora trabalham pela unificação da "centro-direita". O principal gesto nesse sentido foi a desistência do deputado federal João Gualberto (PSDB) para apoiar a pré-candidatura de José Ronaldo (DEM), ex-prefeito de Feira de Santana, segundo maior colégio eleitoral do Estado. A negociação, que teve participação ativa do ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, garantiu um palanque regional ao tucano paulista.

O principal problema para os opositores do PT na Bahia, contudo, é o MDB - que no Estado é controlado pelos irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima. Após os problemas da dupla com a Lava Jato, o maior partido do grupo oposicionista tem sido isolado pelos aliados. Ambos são réus por lavagem de dinheiro e associação criminosa no caso do "bunker" de R$ 51 milhões, e Geddel está preso desde setembro do ano passado.

O MDB lançou o ex-ministro da Integração Nacional João Santana ao governo baiano. Ligado a Geddel, a quem substituiu no ministério, Santana participará de sua primeira campanha política.

De um partido cobiçado por ter a maior bancada no Congresso e, portanto, maior fatia do horário eleitoral de rádio e TV e do Fundo Partidário, o MDB passou a ser considerado por aliados um pesado fardo a ser carregado, sobretudo após a apreensão dos R$ 51 milhões.
Esse foi o principal motivo para a desistência da candidatura de ACM Neto, segundo apurou o Estado com fontes próximas ao democrata. Após fracassar na tentativa de "higienizar moralmente" o MDB, quando propôs a transferência do deputado federal Lúcio Vieira Lima para um partido nanico, ACM Neto se recusou a ter sua imagem associada ao MDB baiano - que tem no deputado sua figura mais visível.

Na avaliação de um interlocutor de Neto, sem o MDB na chapa, o tempo de TV e o fundo partidário para a campanha do prefeito seriam pequenos, o que tornaria mais difícil enfrentar o PT com um governador bem avaliado e com a máquina na mão.

Rio Grande do Sul tem crise financeira como tema central

Estado terá candidaturas pulverizadas, do PSDB ao NOVO, após forte desgaste no governador atual, de José Ivo Sartori (MDB)

Filipe Strazzer | O Estado de S.Paulo

PORTO ALEGRE - A crise financeira no Rio Grande do Sul, 5.º maior colégio eleitoral do País, será tema central das campanhas para o governo do Estado. Com uma dívida na casa dos R$ 76 bilhões, 28% maior que em 2014, a atual gestão não consegue pagar em dia os servidores públicos e foi obrigada a buscar ajuda federal. O desgaste político promoveu uma debandada do apoio ao governador gaúcho, José Ivo Sartori (MDB), que ainda não anunciou se vai tentar a reeleição, e fez pulverizar candidaturas de oposição e propostas de soluções para o problema.

PSDB, PP e PDT deixaram recentemente a base governista para lançar candidaturas próprias ao Palácio Piratini. Na opinião do analista político e professor da PUC-RS Augusto Neftali de Oliveira, os partidos já não enxergam a candidatura de Sartori como viável e querem evitar desgaste de suas imagens e buscar alternativas para a crise.

O cientista político Aragon Dasso Júnior, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirmou que está em jogo na eleição deste ano o modelo de Estado a ser adotado a partir de 2019 para tentar diminuir os efeitos da crise financeira gaúcha. “Temos dois lados. Um de caráter mais liberal, que trabalha com a discussão sobre o gasto público, e outro que discute principalmente como incrementar a receita”, disse.

PSDB e PP proporão ideias de tendências liberais para combater a crise gaúcha. Ex-prefeito da cidade de Pelotas, o pré-candidato tucano, Eduardo Leite, afirmou que pretende diminuir o peso do Estado realizando privatizações e parcerias com a iniciativa privada. "Precisamos promover a redução do custo do Estado."

Já o pré-candidato do PP, Luis Carlos Heinze, deputado federal em seu quinto mandato, disse que reduzirá o número de cargos de confiança e secretarias, tentará privatizar estatais e renegociará a dívida com a União. “Minha ideia é trabalhar fazendo uma força-tarefa entre os Estados devedores, para fazer pressão no governo federal", afirmou.

O PDT terá o ex-prefeito de Canoas Jairo Jorge como postulante ao governo. Jorge afirmou que buscará um Estado mais “eficiente e rápido”, com menos burocracia, e que aposta em parcerias público-privadas para infraestrutura.

Em Pernambuco, pouco espaço para renovação na disputa do governo

Pesquisas locais apontam que a vereadora Marília Arraes (PT), prima de Campos e neta do ex-governador Miguel Arraes, que tenta viabilizar sua candidatura ao governo, poderia chegar no segundo turno

Kleber Nunes, O Estado de S.Paulo

RECIFE - O cenário político em Pernambuco projeta uma campanha pelo governo do Estado com pouco espaço para a renovação. A possibilidade mais provável é que ocorra uma reedição da disputa entre os principais candidatos de 2014, que representam grupos tradicionais da política pernambucana.

O atual governador, Paulo Câmara (PSB), herdeiro político do ex-governador Eduardo Campos - morto em um acidente aéreo em agosto de 2014, quando era candidato à Presidência - tem a missão de levar seu partido ao quarto mandato consecutivo à frente do governo do Estado. Considerado de perfil técnico, Câmara chegou ao governo do Estado ao vencer sua primeira eleição. Foi apresentado na campanha como homem de confiança de Campos, de quem foi secretário de Administração, de 2007 a 2010, Turismo, de 2010 a 2011, e Fazenda, de 2011 a 2014.

O principal nome da oposição é o senador Armando Monteiro Neto (PTB), que representa a quarta geração de sua família na política pernambucana. Eleito para o primeiro cargo público há 20 anos, ele é empresário do setor sucroalcooleiro, bisneto do ex-deputado Sérgio Nunes Magalhães, neto do ex-deputado (estadual e federal) e ex-governador Agamenon Magalhães (1893-1952) e filho do ex-ministro da Agricultura Armando Monteiro Filho (1925-2018).

Um terceiro nome pode mexer no cenário político local. A vereadora Marília Arraes (PT), prima de Campos e neta do ex-governador Miguel Arraes, tenta viabilizar sua candidatura ao governo. Pesquisas locais apontam que Marília seria capaz de levar a disputa para o segundo turno e vencer Paulo Câmara, interrompendo 12 anos de governo do PSB.

Ainda assim, Marília encontra resistência em seu próprio partido. A principal delas parte do senador Humberto Costa, um de seus anfitriões na chegada à legenda, que tenta reaver a aliança com o PSB rompida desde as eleições municipais de 2012 e, desta maneira, pavimentar sua candidatura à reeleição. Para isso, Marília teria que desistir da disputa.

Câmara elegeu-se afirmando que, como secretário, aumentou a eficiência do Estado "transformando gasto ruim em receita boa". Neste ano, tenta a reeleição com o argumento de que venceu a crise econômica sem atrasar salários nem comprometer serviços públicos.

Teresópolis elege prefeito por 22 votos

Vinicius Claussen substituirá Tricano, que desistiu de liminar para ficar no cargo

Giovanni Mourão | O Globo

Em disputa acirrada, Vinicius Claussen (PPS) foi eleito ontem prefeito de Teresópolis, na Região Serrana do Rio. O administrador, de 39 anos, teve a preferência de 23.500 eleitores (36,58% do total de votos válidos), apenas 22 a mais que seu principal opositor, Luiz Ribeiro (MDB). Claussen ficará no cargo até 2020. A eleição suplementar foi convocada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), depois que o prefeito anterior, Mário Tricano (PP), desistiu de liminar que o mantinha no poder.

O pedido de Tricano foi protocolado no TRE no dia 23 de março. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) ampliou de três para oito anos o período de inelegibilidade de políticos condenados eleitos antes de 2010, quando a Lei da Ficha Limpa entrou em vigor. Desde então, Tricano se mantinha no cargo por liminar.

A diplomação de Claussen será realizada pelo TRE até 1º de julho. Em 4 de abril, o vereador Pedro Gil, do PP, presidente da Câmara, havia assumido interinamente a prefeitura.

Por se tratar de cidade com menos de 200 mil eleitores, não havia possibilidade de segundo turno. No Centro, o estudante de medicina Guilherme Guarilha destacou a importância da votação para a manutenção da democracia em Teresópolis:

— Independentemente do vencedor, esta eleição é fundamental para mudar o cenário atual, de uma gestão marcada por fraudes. Espero que o novo prefeito dê um jeito na saúde, que, atualmente, é o nosso maior problema.

DETIDOS FAZIAM BOCA DE URNA
Apesar de seu voto ser facultativo, a aposentada Maristela Dias saiu de casa, em Barra do Imbuí, para ir às urnas:

— Moro em Teresópolis desde que nasci e nunca deixei de votar. Enquanto eu tiver saúde e disposição, continuarei lutando pelo que acredito.

Na manhã de ontem, quatro pessoas foram detidas e encaminhadas para a 110ª DP (Teresópolis) após serem flagradas fazendo boca de urna: duas estavam no bairro São Pedro, e as outras duas no Alto. Pelo menos três urnas eletrônicas apresentaram problemas técnicos e foram substituídas.

Claussen disputou a eleição contra Maria Bertoche (PSOL), Quincas (PP), Milton da Ponte (PSDB), Nelson Durão (PRP), Roberto Petto (SD), Roberto Mello (PT) e Carlos Dias Filho (DEM), além de Luiz Ribeiro.

Itinerários para uma esquerda democrática

Convite - lançamento do livro

Em Itinerários para uma esquerda democrática, Alberto Aggio percorre os principais temas que perpassam a realidade brasileira nos últimos anos. Variados, os ensaios são animados por um mesmo espírito que se ancora em uma chave de leitura acerca do processo de modernização vivido pelo país no último século. Tal leitura, influenciada pelo pensamento de Antonio Gramsci, registra que em nossos ciclos de crescimento econômico acelerado jamais fomos capazes de construir uma sociedade moderna.

No início de 2003, a posse de Lula parecia anunciar uma luz sobre nossas angústias. Todavia, uma década mais tarde, as ruas foram tomadas por multidões difusas e insatisfeitas com os rumos da política brasileira. A partir de 2015, essa multiplicidade adquire certa unidade em torno da falência do projeto petista, evidenciada nos últimos meses de 2014.

O início do segundo mandato de Rousseff se apresenta como o anticlímax do petismo, no qual emergem os rombos nos cofres públicos e a reversão programática. Tal cenário se agrava em razão do colapso do modelo de desenvolvimento econômico, uma opção desastrada pelo nacional-desenvolvimentismo, que reverteu investimentos estatais na criação artificial dos “campeões nacionais”.

Baseado em fatos, Aggio é capaz de se contrapor decisivamente às narrativas fáceis que compreendem o impeachment enquanto um golpe, apontando que a década petista abandou a possibilidade transformar o país, aliando-se ao atraso e nos colocando novamente em nossa encruzilhada diante da modernidade.

O desafio parece ser o de inventarmos novos caminhos que nos possibilitem escapar deste labirinto. A resposta sugerida neste livro reside na construção de uma esquerda democrática, capaz valorizar a política e promover um reformismo forte, marcado por um desenvolvimento econômico sustentável aliado à igualdade, liberdade e respeito pelo indivíduo. Uma esquerda que quer ser reconhecida enquanto força política relevante no cenário nacional precisa considerar esses itinerários.

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Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira é mestre em História pela UNESP

Luiz Sérgio Henriques: Caminhante, não há caminho

- Prefácio

Estes itinerários que Alberto Aggio sugere, com a competência habitual, levam ao coração de alguns dos mais importantes processos políticos contemporâneos, e não só do Brasil. É verdade que nas páginas iniciais somos lançados de chofre em nossas turbulentas ruas que, a partir de 2013, desmancharam a ilusão de uma idade de ouro que nos teria trazido, por inesperadas artes demiúrgicas, progresso econômico e distribuição de renda em ritmo quase linear – a pedra filosofal finalmente encontrada –, a prefigurar um domínio político que, na cabeça de seus dirigentes mais expressivos, não deveria se alterar significativamente por muitos anos à frente.

No entanto, seguindo o traçado aqui proposto reaprendemos mais uma vez que não há linearidade possível na política e na história. “Se hace camino al andar” – diz o poema famoso, e assim foi que as ruas brasileiras em 2013 e, depois, no biênio 2015 e 2016, desafiaram o quadro idílico e trouxeram desafios interpretativos que ainda agora nos atormentam. Intérpretes mais apressados não tardaram em formular hipóteses de regresso institucional e cultural, como se estivéssemos diante de uma ressurreição poderosa da “direita” após a experiência globalmente exitosa de quase quatro períodos presidenciais em linha com o “nacional-popular”, de resto presente em outros contextos latino-americanos ainda mais problemáticos do que o nosso – haja vista, para não deixar nenhuma dúvida, a tragédia venezuelana que se arrasta penosamente sob nossos olhos.

Mérito do livro, em cada uma das peças que compõem seu mosaico, é o de escapar dos dilemas mais simples e até simplórios que nos rodeiam e embaçam uma percepção mais nítida. Longe da pseudodialética que tudo reduz a uma alternância mecânica entre “direita” e “esquerda”, ele nos propõe desde o início hipóteses ousadas, como aquela que se baseia no caráter hipermoderno da turbulência de nossas ruas, em que se defrontariam, sem muitas mediações, radicais processos de individualização e demandas por uma esfera pública mais transparente e menos sujeita às relações incestuosas entre donos do poder político e econômico. Diante de massas de indivíduos ativadas pelas redes sociais, não há no livro nenhuma concepção de regresso inevitável ou de desforra de classes médias intrinsecamente moralistas contra o presumido avanço popular, mas, sim, atores e eventos em fluidez, abertos para diferentes resultados possíveis, o que uma cultura política de esquerda ainda marcada pelo espírito “heroico” e “revolucionário” – pelo menos verbalmente – tem dificuldade de metabolizar teoricamente e adotar como motivação para suas práticas.

Esta inquietação das ruas, ora provisoriamente serenada, conta uma parte significativa da história presente e só por meio dela se explica. No poema de Antonio Machado, o caminhante é insistentemente advertido de que o caminho “son tus huellas [...] y nada más”. Neste sentido, alguns dos itinerários tracejados seguem de perto nossas marcas recentes no chão – as marcas da esquerda brasileira, esta que, sintetizada no lulismo e no petismo, fixou as rotas no largo período entre 2003 e 2016, respectivamente o ano inicial do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e o da interrupção do segundo mandato de Dilma Rousseff. E, para nosso infortúnio, o inventário proposto por Alberto Aggio não tem nada de empolgante e menos ainda de tranquilizador: a experiência da esquerda no poder não terá contribuído para a renovação das instituições, oxigenando-as com a presença de uma nova elite dirigente, nem para a reativação da imaginação sociológica ou econômica, engessada que foi nos moldes estreitos do capitalismo de Estado.

Vinicius de Moraes: A estrela polar

Eu vi a estrela polar
Chorando em cima do mar
Eu vi a estrela polar
Nas costas de Portugal!
Desde então não seja Vênus
A mais pura das estrelas
A estrela polar não brilha
Se humilha no firmamento
Parece uma criancinha
Enjeitada pelo frio
Estrelinha franciscana
Teresinha, mariana
Perdida no Pólo Norte
De toda a tristeza humana.