sexta-feira, 29 de junho de 2018

Opinião do dia: William Waack

A narrativa que impera hoje na sociedade brasileira é a de que a corrupção é o problema central, e que tudo o mais se resolve a partir do combate aos corruptos. Cujo completo domínio da esfera do sistema político-partidário – ao mesmo tempo resultado e causa da atuação dos políticos – justifica a sua destruição. E encarregada dessa destruição, com feroz apoio popular, é “a” corporação.

Incapaz de definir o jogo, ou de deslocá-lo para um outro eixo de debate, a instância política foi substituída, para efeito de grandes decisões, pela política no STF (que cuida hoje até de tabela de frete). Composto por donos e donas de cargo vitalício que, mesmo se fossem 11 santos iluminados, por definição jamais conseguiriam dar as respostas que sociedades organizadas em sistemas democráticos precisam que venham do sistema que, no Brasil, imensa maioria combinou odiar: o sistema político.

------------------
William Waack é jornalista. Em artigo: ‘O barro é esse’, O Estado de S. Paulo, 28/6/2018.

César Felício: Rejeição da classe política chega ao ápice

- Valor Econômico

Eleitores terão que escolher conforme a oferta; o barro é esse

"Que se vayan todos!" O grito de rejeição que marcou a eleição presidencial da Argentina em 2003 carece apenas de tradução para ser o retrato do quadro eleitoral do Brasil, a se projetar o cenário desenhado pela pesquisa do Ibope divulgada ontem.

O furor antissistema na Argentina fez com que a primeira eleição após o desastre econômico e político da Presidência Fernando De la Rúa fosse a que tivesse a maior abstenção em 66 anos. Na urnas, entretanto, esta revolta não encontrou veio para se manifestar. "Outsider" não existia, todo mundo era do ramo.

Havia Carlos Menem, o ex-presidente, que veio a ser o mais votado no primeiro turno e era dono de enorme rejeição. Um ex-ministro da Fazenda, Ricardo Lopez Murphy, conhecido pela capacidade de gerar polêmica e Elisa Carrió, candidata então famosa pelo purismo no momento de fazer alianças. O paralelismo termina aí. Não há um candidato hoje no Brasil parecido com Néstor Kirchner (1950-2010), o governador de uma obscura província que ganhou aquela eleição. Jair Bolsonaro também só existe um.

O 2003 na Argentina e o 2018 no Brasil se aproximam, contudo, pela extrema fragmentação. Na Argentina houve a implosão definitiva da polarização entre peronistas de um lado e União Cívica Radical, de outro. No Brasil, quando se fala em cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva, o eixo PT/PSDB não soma 10% das preferências. Tanto no Brasil como na Argentina, a eleição parece incapaz de revestir o seu ganhador de legitimidade.

Impressiona ver que a opção "em branco e nulo" marca 31% das preferências na pesquisa espontânea, ante 21% de Lula e 11% de Bolsonaro. Na pesquisa estimulada com o petista, o número como era de se esperar recua, mas apenas 11 pontos percentuais. Mesmo com Lula no cenário, ainda são 22% os que optam por ninguém, o que sinaliza com força que há um contingente poderoso de brasileiros que rejeita o processo eleitoral atual, e não uma disputa sem Lula.

A dispersão do voto lulista, ou seja, o destino do manancial do petista quando ele é retirado da competição mostra a limitação da transferência de votos. Se o total dos que pretendem votar em branco e nulos cresce 11 pontos percentuais, 5 pontos vão para candidatos do espectro da direita ou centro-direita (Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Alvaro Dias), dez pontos para o centro e centro-esquerda (Marina Silva e Ciro Gomes), somente dois para alternativas petistas e nada, nenhum único ponto, para as demais opções de esquerda (Guilherme Boulos e Manuela d'Ávila).

Míriam Leitão: Parte da crise

- O Globo

STF está deixando de ser solução para virar parte do problema. O STF ficou mais difícil de entender. Ou mais fácil. O ex-ministro José Dirceu é reincidente específico. Já foi condenado pelo mesmo crime no Mensalão e na Lava-Jato. O que leva o ministro Dias Toffoli a soltá-lo em um habeas corpus não pedido pela defesa? O ministro Ricardo Lewandowski interferiu numa área de competência do Executivo às vésperas do recesso, repetindo manobra já usada.

No dia 18 de dezembro de 2017, Lewandowski suspendeu a MP que adiava os aumentos do funcionalismo. O argumento do ministro não poderia ser menos jurídico: “Não se mostra razoável suspender um reajuste de vencimentos que, até cerca de um ano atrás, foi enfaticamente defendido por dois ministros e o presidente da República.” Ele é livre para não gostar de uma mudança de opinião do governo, mas isso não é base para a liminar. Como tomou a decisão um pouco antes do recesso, o governo teve que dar o aumento e a liminar virou decisão definitiva. Agora, em nova interferência em área do Executivo, proibiu a venda de qualquer estatal.

Na terça-feira, na 2ª Turma do STF, o ministro Dias Toffoli não poderia simplesmente acolher o argumento da defesa do ex-ministro José Dirceu porque ela confrontava a condenação em segunda instância. Toffolli, então, deu o que a defesa não pedira: habeas corpus de ofício, afirmando que havia “plausibilidade” no recurso sobre a dosimetria da pena. Ou seja, como pode ser que o STJ considere a pena alta, apesar de ele ter sido condenado em dois escândalos pelo mesmo crime, ficará em casa.

Eliane Cantanhêde: Volta ao pré-Lava Jato

- O Estado de S.Paulo

STF ‘está voltando a ser STF’? Ou a era da impunidade é que está voltando?

Estava demorando, mas o ministro Marco Aurélio Mello conseguiu alcançar os três colegas da Segunda Turma, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, que tomaram a dianteira no confronto à Lava Jato e à opinião pública. Ontem, Marco Aurélio deu clara contribuição à sensação de que há uma corrida pela impunidade: por liminar, mandou soltar o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha no caso de desvios na Arena das Dunas (RN).

Por sorte – ou por azar, dependendo da ótica –, Cunha coleciona processos e teve a prisão decretada por outras acusações, inclusive uma condenação em segunda instância por desvios da Petrobrás na compra de um campo petrolífero no Benin, na África. Assim, o todo ex-poderoso presidente da Câmara continua atrás das grades.

Marco Aurélio, porém, conseguiu dar seu recado: ele é da Primeira Turma do STF, mas com coração e mente na Segunda, ao lado de Gilmar, Lewandowski e Toffoli. Afora o fato de que Gilmar vivia às turras com Lewandowski e Marco Aurélio no julgamento do mensalão do PT, os quatro agora parecem firmemente determinados a dar um chega prá lá na Lava Jato, numa posição de confronto ostensivo.

Hélio Schwartsman: Guerra intestina

- Folha de S. Paulo

Decisões desencontradas corroem o que resta de credibilidade ao Supremo Tribunal Federal

Na percepção popular, o Judiciário ainda é o menos avariado dos Poderes da República, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) dá a nítida impressão de que está se empenhando em alcançar os outros dois nas avaliações negativas.

Pesquisa Datafolha deste mês mostrou que o Congresso Nacional é objeto de desconfiança de 67% dos brasileiros, seguido da Presidência, que é desprezada por 64%. O Judiciário em geral é reprovado por mais modestos 31%. Considerando apenas o STF, a taxa sobe para 39%.

É difícil até imaginar por que a Justiça ainda goza de certo prestígio. Boa parte das disfuncionalidades do país pode ser ligada a decisões tomadas nos tribunais. Para citar um caso recente, o TST acaba de alterar os termos de um acordo coletivo firmado em 2007 entre a Petrobras e trabalhadores, impondo do nada um prejuízo de mais deR$ 15 bilhões à estatal.

Reinaldo Azevedo: Chegou a hora de adotar o politicamente adequado

- Folha de S. Paulo

Acreditem na civilização, as pessoas podem aprender

Também eu reagi com indignação à estupidez de brasileiros que gravaram um vídeo divertindo-se com o fato de uma russa não falar português. Ou não teria caído na pegadinha dos malandros que acharam superiormente engraçado ver a garota aderir a um corinho que repetia o tom da pele de sua genitália.

No país em que publicitários vendem o “cimento do saco roxo” e em que letras de funk fazem a apologia da violação coletiva das “novinhas”, o despropósito talvez pareça integrar um paradigma cultural. Pergunta à margem: por que os progressistas em geral, e as feministas em particular, nunca se incomodaram com a “cultura do estupro” que impera no funk?

Tão logo vi aquele troço, afirmei no rádio que contava as horas para duas ocorrências: os esquerdistas sairiam por aí a acusar o machismo dos brasileiros. Culpados, pois, não seriam aqueles machos em particular, mas os machos no geral. A ilação transforma agressores em vítimas. Afinal, se alguém é estúpido por atavismo cultural, não tem como lutar contra o inevitável. A esquerda vive caindo nessas ciladas lógicas.

E apostei que direitistas e antiesquerdistas genéricos fariam a defesa da rapaziada, alegando exagero, excesso de patrulha politicamente correta e criminalização da piada. Vamos a uma digressão elucidativa.

A luta da direita liberal no Brasil será longa. Somos poucos. Ainda não lotamos uma van, sucedânea das Kombis. Infelizmente, o que se tem caracterizado por aqui como “direita liberal” reúne malcriados em sentido amplo: faltam-lhes leitura, reflexão e bons modos. São, na verdade, reacionários. Estão empenhados em fazer o país andar para trás no que respeita aos direitos individuais, ainda que revistam seu antiliberalismo com memes de combate às esquerdas.

*Almir Pazzianotto Pinto: Povo, massa e horda

- O Estado de S.Paulo

Doze dias de ‘greve’ dos caminhoneiros foram suficientes para revelar a ausência de governo

A paralisação dos caminhoneiros autônomos não foi greve, no sentido jurídico da palavra. Principiou como manifestações sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização (artigo 5.º, XVI, da Constituição da República). Insurgiram-se os motoristas, espalhados por diversos Estados, contra sucessivos aumentos do preço do óleo diesel, insumo indispensável ao transporte rodoviário de cargas. Não há quem ignore a importância da atividade exercida pelos condutores autônomos, que, por necessidade ou falta de opção, escolheram dirigir caminhões em coletas e entregas urbanas, intermunicipais, interestaduais e internacionais.

A profissão é disciplinada pela Lei n.º 11.442, de 5 de janeiro de 2007, cujo artigo 2.º, I, define o transportador autônomo de cargas (TAC) como “pessoa física que tenha no transporte rodoviário de cargas a sua atividade profissional”. Para ser TAC exige-se, segundo a lei, prova de “ser proprietário, coproprietário ou arrendatário de, pelo menos, 1 (um) veículo automotor de cargas” e “ter experiência de, pelo menos, 3 (três) anos na atividade, ou ter sido aprovado em curso específico” (artigo 2.º, § 1.º, I e II).

Que razões levariam milhares de pessoas honestas, rústicas e simples a se mobilizar contra a Petrobrás, sociedade de economia mista controlada pela União, integrante da administração pública indireta? Não buscavam aumento de salários, melhores condições de trabalho ou elevação do valor do frete. Protestavam em massa contra o reajustamento diário do preço do combustível, prática que tornava antieconômico o exercício da profissão.

Fernando Gabeira: Uma janela para o mundo

- O Estado de S.Paulo

Só existe um perdedor com o silêncio dos candidatos sobre política externa: a sociedade

Escrevo de São Petersburgo. Afinal, qual é o papel do Brasil no mundo? É o de tipo de assunto do qual muitos correm. Já temos problemas demais no âmbito doméstico, por que não deixar isso com os especialistas, concentrando na violência urbana, na corrupção ou mesmo nas peripécias da campanha eleitoral?

Para quem está fora, mesmo por um curto período, o tema não é tão marginal assim. Impossível ignorar o drama dos refugiados. Só se fala nisso, crise nos Estados Unidos por causa da decisão de Trump, arestas entre Franca e Itália, crianças separadas da família, ciganos na mira da expulsão na Itália. É o tipo de problema sem solução em curto prazo, com viés de agravamento.

Se consideramos nossa fronteira setentrional, lá também essa questão se vem complicando ao longo dos três últimos três anos. Apesar de a Colômbia ser ainda o destino preferido, por causa do idioma comum, os refugiados da Venezuela entram em massa por Roraima. Essa presença já produziu alguns atritos entre o governo local e Brasília.
Forçou a elaboração de um plano e jogou as Forças Armadas em parte de sua execução.

Nos Estados Unidos, mais precisamente na fronteira mexicana, vivemos um problema inverso, no momento em que Trump decide adotar normas mais rígidas para conter o processo migratório. Na verdade, talvez seja essa a contradição mais importante no mundo contemporâneo: a fluidez dos capitais e mercadorias ante as barreiras crescentes ao movimento da força de trabalho.

Todo país deve ter sua política sobre o tema. Mas é preciso admitir que soluções mais amplas dependem de muitos atores internacionais. Minha hipótese para uma política de longo prazo é de que países como Brasil e Canadá, por suas dimensões, poderiam representar um alívio para o tenso clima associado ao tema dos refugiados.

José de Souza Martins: A Copa de "seu" Carlos

- Eu &Fim de Semana | Valor Econômico

Há diversos modos de ver a Copa do Mundo de Futebol. A imensa maioria a vê de longe. Não vê o lado oculto da festa. Nesses modos de ver estão muitos e desencontrados sentimentos. E está muito de nós mesmos. Comparando algumas Copas do Mundo, como as vi nos olhos e no comportamento da torcida nas ruas do centro de São Paulo, posso vê-las na lentidão do tempo e relativizar as ilusões do agora. E até rastrear como fomos, aos poucos, nos tornando outra gente. No campeonato da vida e da civilidade já fomos bem melhores do que somos hoje.

Quando da Copa do Mundo de 1998, na França, o grupo de fotografia de que faço parte, o Phora-de-phoco, decidiu acompanhar os jogos no vale do Anhangabaú, em São Paulo. O vale estava lotado, do Viaduto do Chá até a avenida São João. E, também, na praça Ramos de Azevedo, na frente do Theatro Municipal. Veio gente dos bairros distantes e gente dos bairros ricos da cidade. Trombadões, trombadinhas, madames comemorando juntos. Até os desiguais abraçados, nos gols que iam nos levando para uma provável vitória. Moradores de rua, agindo como anfitriões, recebiam os forasteiros no que, via-se, consideravam sua casa. E era.

Em todo o mês da Copa não houve roubos nem crimes de sangue no centro da cidade, segundo um relatório da polícia. No país inteiro, aliás, houve redução na criminalidade. No país dos linchamentos, o primeiro linchamento só foi ocorrer 24 horas depois do término da Copa e da derrota do Brasil pela França.

Luiz Carlos Azedo: Cunha livre?

- Correio Braziliense

Se a regra fosse adotada para todos os presos, as cadeias brasileiras se esvaziariam em 40%, média de detidos em caráter provisório

O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ontem um habeas corpus para revogar a prisão preventiva do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decretada pelo juízo da 14ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte. Cunha continua preso, por causa de outros decretos de prisão em Brasília e no Rio de Janeiro, mas a decisão sinaliza mais uma vez que a confusão na Corte é grande, por causa das divergências de entendimento dos ministros em relação à própria jurisprudência. O Supremo parece uma biruta de aeroporto, desnorteia a opinião pública e gera instabilidade política, em meio à crise ética que desmoraliza a elite política do país.

Tecnicamente, a decisão de Marco Aurélio tem fundamento constitucional. Está em linha com as declarações recentes do ministro, entre as quais, suas reiteradas críticas ao fato de o Supremo não rediscutir o mérito da execução das penas em segunda instância. A prisão de Cunha foi decretada em junho do ano passado, com base em “evidências da atuação delitiva no favorecimento do grupo OAS na concessão de aeroportos”. Depoimento de colaborador e dados bancários atestam a transferência de R$ 4 milhões da Odebrecht ao diretório do PMDB no Rio Grande do Norte, utilizados na campanha eleitoral de Henrique Eduardo Alves ao governo do estado.

Em recentes decisões, a segunda turma do Supremo, apelidada de Jardim do Éden, mitigou o instituto da delação premiada, que foi apartado das provas, e desconsiderou doações legais como comprovação de corrupção e lavagem de dinheiro. Marco Aurélio participa da primeira turma, chamada nos bastidores do tribunal como “Câmera de Gás”. A existência das turmas no Supremo, jabuticaba criada para desafogar a Corte, está virando um problema institucional.

A defesa de Cunha alega, entre outros pontos, a invalidade dos fundamentos da custódia cautelar, por considerar inexistente risco à ordem pública diante da ausência de contemporaneidade entre os fatos, ocorridos entre 2012 e 2015, e a prisão. Destaca também que seu cliente não mais concorrerá a cargo eletivo, fato que impede possível atuação na arrecadação de fundos para campanhas eleitorais.

Ibope expõe insatisfação do eleitor

Por Raymundo Costa, Raphael Di Cunto e Fabio Murakawa | Valor Econômico

BRASÍLIA - Às vésperas das convenções de julho, a pesquisa CNI/Ibope dificulta ainda mais a definição dos candidatos dos partidos à sucessão presidencial. O líder é um provável não candidato (Lula) e a taxa de votos em branco e nulos, em pelo menos uma hipótese testada, é quatro vezes maior que a registrada na eleição de 2014. A pesquisa também põe em xeque as estratégias sobretudo do PT e do PSDB para o 7 de outubro.

No PT o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estica ao máximo uma candidatura que provavelmente será derrubada nos tribunais, com base na Lei de Ficha Limpa. Enquanto isso, o nome tido como o mais provável para substituí-lo na cabeça de chapa, Fernando Haddad, patina na faixa dos 2% - o ex-prefeito tem rendimento melhor em pesquisas em que foi apontado como o candidato preferido de Lula.

A estratégia de Geraldo Alckmin (PSDB) também é considerada de alto risco: o tucano espera o horário eleitoral gratuito para melhorar seus baixos índices nas pesquisas - 6% no cenário sem Lula e 4% no cenário em que o nome do ex-presidente foi apresentado ao eleitor. Alckmin perde para Jair Bolsonaro (PSL) nos tradicionais redutos eleitorais dos tucanos, como São Paulo, o Centro-Oeste e o Sul do país.

Para o Rede, com Marina Silva como a perseguidora mais próxima de Bolsonaro, o erro na estratégia é o isolamento.. Estrutura partidária, alianças e tempo de televisão (alguns segundos, até agora) devem fazer falta na reta final da campanha, como fizeram em 2014, quando a candidata liderou até a véspera da eleição. Bolsonaro está com 17% e Marina 13%, no cenário sem a presença de Lula, uma diferença que fica dentro da margem de erro do levantamento

A agressividade de Ciro Gomes também parece não estar dando resultado - o pedetista praticamente não saiu do lugar, comparado a outras pesquisas. Faz bem em investir em alianças.

A tendência de uma eleição com alto número de votos em brancos e nulos já fora detectada em outras pesquisas e, sobretudo, em eleições complementares realizadas em recentemente. No Amazonas, em 2017, o número de votos em branco, nulos e abstenção chegou a 36,35% do total. No Tocantins, em eleição realizada neste ano, o não voto bateu 43,54%. O cenário da CNI/Ibope para a eleição presidencial de outubro é ainda mais preocupante.

A 100 dias da eleição, 41% não têm candidato

Pesquisa CNI/Ibope mostra Bolsonaro e Marina em empate técnico no primeiro lugar

Julia Lindner, Gustavo Porto, Marcelo Godoy | O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - O deputado Jair Bolsonaro (PSL) está tecnicamente empatado com a ex-ministra Marina Silva (Rede) na corrida ao Palácio do Planalto em um cenário sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa. É o que mostra pesquisa Ibope realizada em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada ontem. Bolsonaro continua na liderança, com 17% das intenções de voto, e Marina vem a seguir, com 13%. Mas, como a margem de erro do levantamento é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, ocorre no limite um empate técnico entre os dois pré-candidatos à Presidência.

Nesse mesmo cenário, de pesquisa estimulada e sem o nome de Lula – que foi condenado na Lava Jato, está preso e pode ser impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa –, Ciro Gomes (PDT) fica com 8% das preferências, empatado tecnicamente com o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, que pontua 6%. Alvaro Dias (Podemos) aparece com 3%.

A chamada taxa de alienação, que considera a soma de abstenções com votos brancos e nulos, alcançou 41%. Segundo o cientista político Antonio Lavareda, essa indefinição é inédita a cem dias das eleições desde a redemocratização do País.

Como comparação, em pesquisa feita entre os dias 1.º e 2 de julho de 1989, o candidato Fernando Collor de Mello, então no PRN, tinha 40% das intenção de voto, segundo o Datafolha. Leonel Brizola (PDT) aparecia em segundo lugar, com 12% em uma eleição caracterizada pela fragmentação de candidatos – foram 22 ao todo. Quando o nome de Lula foi apresentado aos entrevistados pelo Ibope, essa taxa caiu para 28%, mesmo número da eleição presidencial de 2014 – quando o petista estava entre os nomes pesquisados.

Rumo. Para Lavareda, isso indica que o voto desses eleitores indefinidos vai se distribuir entre todos os pré-candidatos, ainda que a tendência é a maioria migrar para um presidenciável da esquerda. Esse cenário dificulta o cálculo político das elites partidárias, que esperam encontrar nas pesquisas um rumo para definir alianças e candidaturas.

“No centro, não há um candidato que possa claramente atrair as demais candidaturas. O pobre do eleitor não é estrategista político. É uma grande ingenuidade pensar que ele vai substituir o papel dos políticos profissionais. Cabe a estes a tarefa de escolher as candidaturas. Sem isso, a chance de o centro ir para o segundo turno fica reduzida”, afirmou o cientista político.

Ricardo Noblat: Pergunta que não quer calar

- Blog do Noblat

Só por aqui mesmo

Que país é este onde um condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, impedido pela lei da ficha limpa de se candidatar, tem seu nome incluído nas pesquisas de intenção de voto para as próximas eleições?

Eleições 2018: Propostas ainda vagas

A 22 dias das convenções, pré-candidatos não detalham planos para temas críticos do país

Cristiane Jjungblut, Eduardo Bresciani, Maria Lima, Catarina Alencastro e Bruno Góes | O Globo

-BRASÍLIA- A pouco mais de 20 dias do início do período de convenções partidárias, os cinco pré-candidatos mais bem colocados nas pesquisas resistem a apresentar propostas detalhadas do que pretendem fazer na Presidência, caso vençam a disputa. Os planos de governo só devem ser divulgados no período de formalização das candidaturas, que ocorrerá entre 20 de julho e 5 de agosto. Por ora, os políticos esboçam planos genéricos para tratar dos temas mais relevantes e espinhosos, como as reformas econômicas e os projetos para áreas tradicionalmente negligenciadas, como segurança, saúde e educação.

Patinando nas pesquisas, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, se antecipou aos demais postulantes e divulgou ontem uma lista com 20 diretrizes que integrarão o eixo do seu plano de governo. Mas limitou-se a tópicos genéricos, como “infraestrutura”, “saúde”, “políticas sociais” e “defesa”. O plano de voo tucano não aprofunda o debate em nenhuma das 20 áreas. Os idealizadores do programa não querem detalhar as propostas neste momento da pré-campanha porque temem cair no que chamam de “armadilha” de 2014, quando a então candidata pelo PSB, Marina Silva, hoje postulante da Rede, passou a campanha se explicando sobre as propostas do seu programa, apresentado antes das campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves. A plataforma de Alckmin deverá ter entre 150 e 170 páginas.

Alckmin tem dito que, se for eleito, irá encaminhar ao Congresso, nas primeiras semanas de governo, projetos de reformas política, tributária, administrativa e previdenciária — a mais discutida antes da campanha. Porém, da mesma forma que seus adversários, não se aprofunda em detalhes da reforma da Previdência. Em maio, por exemplo, todos os principais pré-candidatos foram questionados pelo GLOBO sobre o tema e silenciaram.

— Todos os pontos do plano de governo terão três coisas a serem respondidas: melhoria da gestão, foco na qualidade do serviço para o cidadão e como financiar o setor — diz o coordenador do programa, Luiz Felipe d´Avila.

Primeiro colocado nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL) pretende apresentar seu plano de governo apenas no fim de julho. O economista Paulo Guedes está à frente da área econômica, e o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) cuida dos demais setores do programa. As principais propostas, no entanto, ainda não vieram a público. Ele já ensaiou um discurso sobre privatizações, em que defende a ampliação das operações, mas com restrição à venda de empresas consideradas estratégicas. Ontem, chegou a dizer que pretende ampliar de 11 para 21 o número de ministros do STF. Até mesmo as ações em segurança pública, um dos motes da campanha do deputado federal, são vagas. A não ser algumas ideias já antecipadas, como distribuir fuzis a agricultores.

— No que depender de mim, o produtor rural vai ter um fuzil em sua propriedade.

Geraldo Alckmin lança no Paraná seu plano para o Agronegócio

CASCAVEL (PR) O presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, apresentou à imprensa nesta quinta-feira em Cascavel, no Paraná, as diretrizes do plano para o Agronegócio de seu programa de governo. Também foram apresentados os especialistas que participarão da elaboração do plano: Alexandre Mendonça de Barros, Luiz Lourenço e Paulo Martins, sob a coordenação de José Roberto Mendonça de Barros.

Engenheiro agrônomo e doutor em Economia Aplicada pela USP, Alexandre Mendonça de Barros é membro do Comitê de Assessoria Externa da Embrapa Pecuária Sudeste e do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Luiz Lourenço preside o Conselho de Administração da Cocamar, além de integrar a diretoria da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Já Paulo Martins é chefe-geral da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora- MG).

"O agronegócio é um setor que agrega cada vez mais valor ao país, tem salvado nossa economia, mas enfrenta alguns desafios, como o do seguro rural e da defesa sanitária. Por isso vamos construir juntos o melhor programa de governo para o Brasil", afirmou Alckmin.

Em relação ao seguro rural, o plano reforça a necessidade de que haja previsibilidade e continuidade nas ações, por meio de um planejamento de no mínimo cinco anos para o Programa de Subvenção ao Prêmio Seguro Agrícola, além do estabelecimento da garantia dos recursos. Já o Programa de Defesa Sanitária procurará desenhar um modelo que contemple a participação do setor público e privado na defesa sanitária brasileira. Caberá ao setor público manter o controle e a fiscalização sobre a sanidade no país. Entretanto, o setor privado participará com certificação de qualidade, responsabilizando-se por garantir a sanidade dos produtos.

Como a tecnologia é o motor do desenvolvimento da agricultura, o programa agrícola também manterá o estímulo às inovações através de parcerias entre os setores público e privado.

Alckmin e Doria encontraram-se para acertar agenda em São Paulo

Por Fernando Taquari e Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) planeja para o fim de julho e o início de agosto agendas conjuntas pelo Estado com o candidato da sigla a governador, o ex-prefeito João Doria, para impulsionar sua pré-candidatura presidencial em São Paulo, onde governou por doze anos em dois períodos (2001-2006) e (2011-2018). O acerto, conforme interlocutores, ocorreu há cerca de três semanas em um encontro dos dois, que serviu para aparar arestas e pode eliminar as desconfianças mútuas.

Na ocasião, Doria reiterou o apoio à pré-candidatura de Alckmin, a despeito das especulações de que pode substituí-lo na corrida presidencial. Ouviu como resposta que o ex-governador aproveitaria a pré-campanha, antes da convenções partidárias, para rodar o país em busca de popularidade. As viagens pelo interior paulista na companhia de Doria, afirmou o presidenciável tucano, ficariam para julho ou agosto, a depender da agenda de ambos.

Aliados de Alckmin minimizaram os resultados da pesquisa CNI/ Ibope, na qual o tucano oscila entre 4% e 6%, e rechaçaram a hipótese de Doria ser alçado à condição de pré-candidato do PSDB a presidente. Enxergam nos boatos uma forma de parlamentares e pré-candidatos a deputado federal e estadual pressionarem o ex-governador, presidente nacional da sigla, por dinheiro do fundo partidário para fazer campanha.

Alckmin aposta que crescerá nas sondagens com o afunilamento de candidaturas, o tempo de propaganda no rádio e na TV e com os palanques estaduais em grandes colégios eleitorais. Conta ainda com a vitória de Doria no primeiro turno para alavancar sua candidatura.

Rede participa de ato por ‘centro democrático’

Movimento suprapartidário busca nome do centro como alternativa à polarização direita-esquerda; Marina e Alckmin são vistos como opções

Pedro Venceslau e Marcelo Osakabe | O Estado de S. Paulo.

Representantes da Rede, partido da ex-ministra e presidenciável Marina Silva, participaram ontem em São Paulo pela primeira vez de um ato político do movimento polo democrático e reformista, que tenta unir os partidos do centro em torno de uma candidatura única já no primeiro turno da eleição presidencial.

Lançado no início do mês, o movimento suprapartidário tem entre seus principais líderes o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O grupo lançou um manifesto e tenta viabilizar uma candidatura comprometida com reformas estruturais e que se apresente como alternativa a uma eventual polarização entre Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e um candidato de esquerda.

Além de Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB ao Planalto, Marina é vista como opção do movimento. O coordenador do programa de governo da Rede, João Paulo Capobianco, disse que a candidatura de Marina é um “processo é irreversível”. “Não viemos aqui fazer arranjos eleitorais.”

Ao lado de líderes do PPS, PSD, PSDB, PV, Rede e Podemos, Fernando Henrique disse que é preciso “fulanizar” o debate, mas evitou defender o nome de Alckmin. “Em política a ideia só vale quando se fulaniza. Na academia vários podem ser donos de uma ideia, mas na política a ideia precisa ser transubstanciada em líderes”, afirmou.

Na saída do evento, FHC foi questionado sobre qual seria o nome mais competitivo para representar o grupo na eleição. “É preciso ver não só a pessoa, mas as condições políticas que essa pessoa tem. Não adianta querer ou não, tem que acontecer. Eu tenho um candidato. Todo mundo sabe”, respondeu.

Ainda segundo FHC, as pesquisas não serão determinantes, mas apenas “um indicativo” na busca por um palanque único. Na pesquisa Ibope/CNI divulgada ontem, Alckmin apareceu com 6% no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marina com 13% e Bolsonaro, 17%.

“Todos têm que admitir que podem não ter a capacidade de unir mas precisam crer que são capazes”, disse ele, sobre a possibilidade de alguém abrir mão. Na mesma linha, o presidente do PPS, Roberto Freire, disse que a “inércia tem que ser quebrada”. “Existem candidatos do PSDB, Rede e Podemos, mas nenhum deles pode ser empecilho para a unidade”, afirmou.

Representando o PV, o ex-deputado Eduardo Jorge, que disputou o Palácio do Planalto em 2014, fez o discurso mais enfático. “As pesquisas não mudam desde novembro e tenho convicção de que não vão mudar. A situação é dramática.”

“É preciso ver não só a pessoa, mas as condições políticas que essa pessoa tem. Não adianta querer ou não, tem que acontecer.” Fernando Henrique Cardoso EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Contra 'catástrofe', bloco apadrinhado por FHC prega união do centro

Segundo turno entre Bolsonaro e Ciro é visto no movimento como pior cenário possível

Joelmir Tavares, Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Com aproximação da Rede, partido da presidenciável Marina Silva, e do Podemos, sigla do pré-candidato Álvaro Dias, o manifesto que pede união do centro foi lançado em São Paulo com um apelo para evitar o que se chamou de catástrofe na eleição presidencial.

O movimento em torno de um polo democrático e reformista, apadrinhado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), já havia sido apresentado em Brasília, no início do mês. Na ocasião, atraiu lideranças de partidos como PSDB, PPS, PSB, MDB, PV e PTB.

Relançado na noite desta quinta-feira (28), em um teatro na avenida Paulista, o bloco recebeu o apoio de Marina, que enviou como representante o coordenador do programa de governo de sua campanha, João Paulo Capobianco.

“Ela tem um compromisso inarredável com a democracia e está com todos aqueles que estejam trabalhando por isso”, disse Capobianco.

Uma sinalização da ex-senadora era esperada pelos articuladores da mobilização, já que ela hoje é a segunda colocada nas pesquisas, em cenários sem Lula (PT). Marina chega a empatar tecnicamente em primeiro com Jair Bolsonaro (PSL).

O militar da reserva é um dos símbolos do radicalismo que a coalizão pretende atacar. Em outra ponta está o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Os dois e o ex-presidente Lula (PT) são vistos no movimento como donos de posicionamentos extremistas.

Em discursos no palco, foi dito que um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Ciro seria o pior cenário possível. “Uma fatalidade”, resumiu a senadora Rose de Freitas (Pode-ES), colega de partido do presidenciável Álvaro Dias.

Geraldo Alckmin (PSDB), Rodrigo Maia (DEM), Henrique Meirelles (MDB) e Flávio Rocha (PRB) também foram mencionados como lideranças que têm responsabilidade na soma das forças de centro.

“Não é fácil convencer partidos e líderes de que é preciso união”, disse Fernando Henrique sobre o principal objetivo do movimento, que é vencer a fragmentação do centro, hoje dividido em torno de dez candidaturas.

“Sozinhos nós vamos para o desastre. Estamos na iminência de uma catástrofe”, completou o ex-presidente, discursando contra “os aventureiros, os demagogos”.

O tucano pediu ainda aos aliados um rompimento com a inércia. “É necessário que o Brasil não perca mais tempo.”

Do PSDB, além de FHC, participaram lideranças como os deputados federais Marcus Pestana (MG), um dos idealizadores do documento, e Mara Gabrilli (SP) e o ex-governador Alberto Goldman (SP).

O ex-deputado Penna (PV-SP), a ex-vice-prefeita da capital Alda Marco Antônio (PSD), o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (MDB), e o deputado Roberto Freire (PPS-SP) também estiveram no ato em São Paulo.

“Precisamos buscar a unidade, porque a democracia está em risco”, afirmou Freire. “É sempre complicado [ter acordo]. Se não fosse, não estaríamos aqui.”

Não há, entre os apoiadores da coalizão, consenso sobre se e quando viria uma união de forças. Mas há um esforço para que pré-candidatos estejam dispostos a abrir mão da corrida presidencial em função de algum consenso.

“Não estamos aqui para discutir nomes, mas para construir um bloco”, afirmou Marcus Pestana.

Para FHC, a decisão virá dos eleitores, que apresentará uma decisão nas urnas. “Não seremos nós aqui que vamos dizer se será este ou aquele [candidato]. Será o povo”, disse o tucano.

“Espero que no primeiro [turno] se tenha capacidade de entender quem vai ter vitalidade para representar realmente o pensamento reformista, progressista, democrático e popular.”

Na saída, a jornalistas que o questionaram sobre um eventual segundo turno entre Ciro e Bolsonaro, o ex-presidente respondeu: “Eu não votaria nem por um nem por outro. No Bolsonaro eu não voto”.

Sobre a necessidade de discutir o nome que encabeçaria uma chapa fruto da união, FHC foi cauteloso.

“Acho que o Alckmin tem a vantagem de ser experiente, é simples, é decente. É o único? Tem outros aí. Todo mundo sabe que eu gosto da Marina, o Álvaro é respeitável”, disse.

O texto da mobilização, de oito páginas, tem políticos e intelectuais entre os signatários. Disponível na internet, o documento também está aberto para a adesão de cidadãos.

Vinicius Torres Freire: Temer gasta mais do que Dilma

- Folha de S. Paulo

Despesa cresce em relação a 2014 e 2015, mas gasto com Previdência cresce mais

O governo federal, este de Michel Temer, gastava em maio mais do que o de Dilma Rousseff em maio de 2014, momento de ápice das realizações da ex-presidente, quando mal se notavam os efeitos da recessão que então começava.

Gasta mais tanto em termos reais e absolutos, em dinheiro, como em proporção do PIB. Trata-se aqui dos gastos acumulados em 12 meses, como se pode calcular pelas contas federais divulgadas nesta quinta, pelo Tesouro Nacional.

Mas não teria havido cortes, em especial em gastos sociais? No fim das contas, não. O gasto federal cresceu R$ 65 bilhões nesses quatro anos. Para onde foi o dinheiro?

Para começar pelo principal, para a despesa com a Previdência, que nesse período cresceu R$ 102 bilhões.

É fácil perceber que o aumento do gasto previdenciário por si só comeu todo a despesa extra e ainda faltou um pouco.

A folha de gastos com pessoal, com os servidores, inchou R$ 17,6 bilhões. A conta dos benefícios para pessoas incapazes de trabalhar (deficientes) e idosos muito pobres e sem aposentadoria (Benefícios de Prestação Continuada) cresceu outros R$ 10 bilhões.

Como foi compensada essa diferença?

Rogério Furquim Werneck: A resiliência do atraso

- O Globo

Interesses contrariados tentam anular a extinção do imposto sindical no Supremo Tribunal Federal

É triste constatar que, na infindável batalha contra o atraso, avanços conquistados a duras penas podem ser facilmente revertidos. E que os retrocessos costumam ser bem mais rápidos do que os avanços. Sobram evidências de que a resiliência do atraso pode ser surpreendentemente alta. Num piscar de olhos, interesses nele encastelados podem reverter mudanças importantes que já pareciam consolidadas e restaurar o arranjo anterior em que se locupletavam. E quão bem encasteladas podem ser as forças que defendem a preservação do atraso...

Um bom exemplo é a extinção da contribuição sindical obrigatória. Durante três quartos de século, uma legislação fascista, criada na ditadura Vargas sob inequívoca inspiração da Carta del Lavoro de Benito Mussolini, obrigou indivíduos e empresas a contribuir compulsoriamente para o sustento de uma estrutura sindical artificial e hipertrofiada, em grande parte tomada por pelegos de todo tipo, que pouco ou nada faziam pelos interesses dos trabalhadores e das empresas que supostamente deveriam representar.

Em conjunto com a unicidade sindical, peça complementar do ferrolho fascista encrustado na legislação trabalhista, a contribuição sindical obrigatória vinha sendo o principal esteio do nefasto corporativismo brasileiro. Foi um grande avanço, portanto, ter o Congresso decidido, afinal, no ano passado, extinguir a contribuição sindical obrigatória.

Menos de um ano depois, contudo, os interesses contrariados, alinhados em emblemática coalizão de entidades laborais e patronais, estão agora mobilizados para tentar reverter na Justiça a extinção do imposto sindical. Querem que o Supremo Tribunal Federal declare que a medida aprovada pelo Congresso é inconstitucional.

Diante do pedido de medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade que lhe coube apreciar, o ministro Edson Fachin entendeu que, tendo em vista a importância do tema, seria mais prudente abrir mão de uma decisão monocrática e encaminhar a questão ao colegiado pleno do Supremo Tribunal Federal, para julgamento agendado para ontem, 28 de junho.

Claudia Safatle: Em busca da receita do crescimento

- Valor Econômico

O país experimenta caminhos que não o equilíbrio fiscal

Há 35 anos, desembarcou em Brasília a economista Ana Maria Jul, chefiando a missão técnica do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil havia quebrado, das reservas cambiais contavam-se as moedinhas, e o governo brasileiro buscou ajuda junto ao emprestador de última instância, o FMI. Dentre os compromissos firmados naquele acordo constava a meta de redução da necessidade de financiamento do setor público de 13,8% do PIB em 1982 para 7,9% do PIB em 1983 e para níveis bem mais baixos no período do acordo de três anos. Essa era a medida do déficit nominal.

Começava, ali, a percepção de que o gasto público precisava de maior controle e transparência.

A inflação deveria cair dos 100% em 1982 para 70% em 1983 e 40% em 1984, conforme previa o acordo. Os técnicos do fundo insistiram na desindexação dos salários que acabaram sendo reajustados com base em 80% da inflação.

Havia, também, um forte ajuste a ser feito nas contas externas do país. Poucas semanas após a assinatura da carta de intenções junto ao FMI, o governo fez a maxidesvalorização de 30% do cruzeiro em relação ao dólar. No ajuste, o déficit em conta corrente caiu de US$ 16 bilhões para R$ 94 milhões entre 1982 e 1984, mas a inflação não deu trégua. O FMI queria mais controle monetário e mais de corte das despesas públicas.

A primeira carta foi um fracasso e outra dezena de tentativas foram escritas. O objetivo final dos programas de negociados com o fundo monetário era reconstruir as condições de pagamento aos credores externos.

Decisões judiciais desinformadas: Editorial | O Globo

Liminar de Lewandowski subordinando cada privatização ao Congresso significa proibir a venda de estatais, devido ao zelo que políticos têm por estas empresas

A liminar concedida pelo ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, subordinando qualquer privatização de estatal controlada pela União ao Congresso, pode ser vista por alguns ângulos. Dois deles: o da ingerência do Judiciário no espaço administrativo do Executivo — embora, de fato, tudo possa ser reclamado aos tribunais — e o da tomada de decisões por juízes sem que sejam levados em conta reflexos negativos na própria economia, causando perda de renda na sociedade, com menos investimentos e consequente desemprego. Neste caso da liminar concedida no Supremo, e às vésperas do recesso do Judiciário, há o agravante de que a Constituição dá prioridade à iniciativa privada, ficando o Estado com um papel subsidiário.

A liminar sucede em poucos dias a duas decisões da Justiça trabalhista que impõem à Petrobras e ao Serpro, empresas públicas, indenizações astronômicas, sem parâmetros.

A Petrobras, mesmo que a decisão tenha sido do Tribunal Superior do Trabalho, informa que impetrará recurso. Não tem alternativa, porque a Justiça impôs à estatal o pagamento de R$ 15 bilhões, devido a adicionais não pagos embora negociados em acordo coletivo de 2007. Já o Serpro aceitou fazer um acordo em torno de cifras milionárias, para evitar uma despesa maior, alegou a empresa.

Assim como nas reclamações contra Petrobras e Serpro, há sindicatos envolvidos no pedido de liminar contra a privatização. O ato de Lewandowski deriva de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade impetrada contra a Lei das Estatais pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro.

Jogando contra: Editorial | O Estado de S. Paulo

Seria ingenuidade acreditar que, em ano eleitoral, o Congresso fosse se dedicar com afinco a aprovar medidas de ajuste fiscal, geralmente tidas como impopulares. Mas o que está acontecendo na atual legislatura vai muito além da natural prevalência de interesses eleitoreiros em época de campanha; trata-se de verdadeira ofensiva contra os cofres públicos, que se realiza não apenas por meio de sabotagem das iniciativas do governo com vistas a equilibrar as contas, mas também em razão da aprovação de mais e mais benefícios a organizados grupos de pressão. Tudo isso no embalo do enfraquecimento do governo, cuja imensa e irracional impopularidade serve de pretexto para todo tipo de iniciativa oportunista – inclusive por parte de governistas – destinada a desmoralizar o imprescindível saneamento das contas.

Na semana passada, a Câmara concedeu benefícios para empresas transportadoras, mesmo depois que o governo aceitou conceder R$ 13,5 bilhões em renúncias fiscais para os caminhoneiros, como resultado da greve da categoria. O impacto desse privilégio adicional ainda não foi calculado. Além disso, o Senado aprovou decreto legislativo que permite a venda direta de etanol das usinas para os postos de combustível, driblando as distribuidoras, o que deve gerar grandes perdas tributárias. Não à toa, esses movimentos do Congresso estão sendo chamados de “farra fiscal” por membros da equipe econômica.

Ao mesmo tempo, os deputados e senadores estão dificultando ou adiando a aprovação de projetos de interesse do governo, como o que facilita a venda das deficitárias distribuidoras da Eletrobrás, com a qual se espera economizar R$ 20 bilhões, e o que autoriza a Petrobrás a vender até 70% das áreas de cessão onerosa na Bacia de Santos, o que poderia render até R$ 100 bilhões aos combalidos cofres nacionais.

Metas duvidosas: Editorial | Folha de S. Paulo

Governo fixa objetivo de reduzir a inflação, mas BC nem se aventura a sinalizar seus próximos passos

O resultado mais promissor dos ajustes econômicos dos últimos dois anos foi a queda da inflação a patamares mais próximos dos observados no mundo desenvolvido.

Graças à recuperação da credibilidade do Banco Central, à supersafra agrícola e —pelo lado negativo dos motivos— à permanência do desemprego elevado, o IPCA mostrou alta de apenas 2,95% em 2017, a menor taxa desde o 1,65% de 1998.

Há diferença sensível de circunstâncias entre os dois momentos. Vinte anos atrás, a estabilidade dos preços se amparava num controle insustentável da cotação do dólar, abandonado pouco depois da reeleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Agora pode-se crer, com algum otimismo, no amadurecimento da política monetária.

Está próximo de completar duas décadas o regime de metas de inflação, que, na maior parte desse período, fez-se acompanhar de seus princípios mais importantes: autonomia do BC para fixar os juros, livre flutuação do câmbio e divulgação transparente de resultados e projeções à sociedade.

Anatomia de uma recuperação que foi perdendo o fôlego: Editorial | Valor Econômico

A recuperação da economia já vinha perdendo parte de seu ímpeto em abril, antes da paralisação dos caminhoneiros que derrubou forte e abruptamente as atividades em maio. O Banco Central, em seu Relatório da Inflação trimestral, revisou para baixo o avanço do PIB deste ano de 2,6% para 1,6%. Apenas um setor teve sua estimativa elevada, o agropecuário, entre os componentes da oferta. Entre os da demanda, as projeções para os investimentos foram mantidas em 4% no ano.

A média móvel trimestral encerrada em abril mostrou, em relação ao primeiro trimestre do ano, um arrefecimento da produção industrial e do setor de serviços, com apenas alguma aceleração na margem do comércio. A perda de fôlego foi mais pronunciada na indústria (queda de 0,1%) - só 7 dos 26 setores tiveram aumento de produção.

O BC agora prevê que a indústria deve avançar a praticamente metade da velocidade anteriormente prevista (1,6% ante 3,1%). Igualmente significativa é a reestimativa para a indústria de transformação (2,4% ante 4%), enquanto que frustrou-se a esperança na recuperação da construção civil, que continuará deprimida este ano, com contração de 0,7% e não expansão de 1,5%. Há reduções importantes de estimativas em todos os subsetores de serviços, que deve crescer 1,3%.

A demanda agregada evoluirá menos favoravelmente com o desempenho mais ameno do consumo das famílias, que carrega consigo dois terços do PIB. Ele avançará 2,1% (e não mais 3%), "compatível com uma recuperação mais lenta da massa salarial, resultado da redução no ritmo de crescimento dos rendimentos e da população ocupada", segundo o BC.

Uma análise do desempenho da economia após quatro recessões indica que, em vários aspectos, a recuperação agora é bem mais lenta que nos períodos de 2003 e 2009 e em linha com os de 1999 e 2001. Um dos fatores distintivos relevantes é a retomada do mercado de trabalho, que, cinco trimestres após a recessão iniciada em 2014, é bastante mais morosa que nos 4 ciclos recessivos anteriores, com aumento da população ocupada de 1,9%, em relação aos 4,9%, 7,7%, 3,9% e 4,1% dos ciclos recessivos anteriores.

Vinicius de Moraes: Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude