terça-feira, 11 de setembro de 2018

*Alberto Aggio: Das frentes e alianças políticas

- O Estado de S.Paulo

O coração da antipolítica parece ser a única coisa que pulsa e perigosamente se move

Na geografia política que localiza os campos em contenda, bem como suas respectivas orientações, para além do problema das identidades partidárias, existe a questão das alianças políticas, sejam eleitorais e/ou de governo. Trata-se de um tema transversal. Contudo não seria erro apontar que é no campo da esquerda que esse tema ganhou dimensão prática e invadiu o universo da política.

Em desenho convencional, a oposição entre esquerda e direita, com pouca relevância ao centro, embora sofra um desgaste largamente reconhecido, continua a ser referência em nossa forma de pensar o problema das alianças políticas. O mesmo ocorre com os partidos. Como se diz, os partidos são parte, mas neles sempre há a marca do todo. Assim, para além de programa, máquina e militância é preciso indagar sobre a dimensão da cultura política que cimenta partidos e frentes políticas, sendo estas coligações eleitorais ou coalizões governamentais.

Há culturas políticas que desempenharam um papel significativo na construção da modernidade. O liberalismo político foi essencial na construção dos Estados após as lutas de independência na América. O republicanismo foi fator de coesão importante em países que construíram suas democracias no correr dos séculos 19 e 20, como os EUA ou a França. E é inegável que a cultura política da democracia tenha sido fator de fortalecimento dos direitos, do pluralismo e da convivência de diferentes ideologias a partir do segundo pós-guerra.

Nada disso foi conquistado facilmente e sem tensões, afetando diretamente atores políticos, que mudaram suas posturas ao perceberem que só teriam êxito caso dessem passos ajustados ao tempo histórico. Foi assim quando os comunistas abandonaram parte do seu sectarismo e propuseram a estratégia das frentes populares, uma aliança pluriclassista e democrática, ultrapassando o período da frente única. Mesmo que defensivas diante do nazi-fascismo, as frentes populares jogaram os comunistas para dentro dos sistemas políticos e passaram a exigir deles não só o heroísmo revolucionário, mas engenho e arte na política.

Ultrapassada a “fase heroica”, as frentes políticas continuariam como referencial de uma política de esquerda encetada na democracia. Em alguns casos, juntando os “mais próximos” ideologicamente e, em outros, atores de diferentes perfis em alianças de tipo muito variado. Nunca foi fácil antever o destino das frentes, seja qual for o cenário histórico. Algumas morreram rapidamente, outras se tornaram longevas e há casos daquelas que até ressuscitaram.

Merval Pereira: O prazo fatal

- O Globo

Transferência de votos do ex-presidente Lula para seu suposto substituto Haddad começa a se concretizar

A relutância de Lula em anunciar seu substituto na urna eletrônica revela uma obstinação que chega às raias do absurdo, prejudicando seu partido em benefício próprio. O ex-presidente joga suas fichas todas na possibilidade de o ministro Celso de Mello dilatar o prazo para a mudança de chapa, determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral para encerrar-se hoje.

Como todos os partidos podem fazer esta alteração até o dia 17, Lula e seus advogados têm a esperança de que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue, nesse intervalo, outro recurso, que garante a supremacia do Comitê de Direitos Humanos da ONU sobre a legislação brasileira, reafirmado ontem em nova mensagem a pedido da defesa de Lula.

Essa interpretação não tem sentido nem para a maioria dos ministros do TSE, pois apenas o relator Edson Fachin votou a favor, nem para o comandante do Exército, General Villas Bôas, que deu uma entrevista dizendo que essa é uma tentativa de ingerência nos assuntos internos do país.

Com o resultado da pesquisa do Datafolha divulgado ontem pelo “Jornal Nacional”, houve frustração para a campanha de Jair Bolsonaro, pois ele cresceu apenas dentro da margem de erro depois do atentado que sofreu, e boas notícias para o PT, pois a transferência de votos do ex-presidente Lula para seu suposto substituto Fernando Haddad começa a se concretizar, quase dobrando as intenções de votos nele, mesmo com a demora exagerada do anúncio oficial da substituição, que está custando muito psicologicamente a Lula.

Eliane Cantanhêde: As ondas Ciro e Haddad

- O Estado de S.Paulo

O efeito Lula está sendo mais eficaz para Haddad do que o efeito facada para Bolsonaro

A não ser que o PT adote definitivamente uma postura suicida, as atenções e os holofotes vão se deslocar a partir desta terça-feira, 11, do ex-presidente Lula, que representa o passado, para o candidato Fernando Haddad, que acena com o futuro. Não se trata apenas da lei da política, mas da própria lei da vida. E, convenhamos, o fato de Lula estar preso potencializa esse movimento natural.

Hoje é o dia fatal para o PT trocar a chapa, sob o risco de se autoexcluir da propaganda eleitoral e da própria campanha. É pegar ou largar. Derrotadas as derradeiras investidas do PT na Justiça (que, aliás, ninguém aguenta mais...), Lula começa a se isolar em Curitiba, enquanto Haddad vai subindo nos palanques, entrando em debates, participando de sabatinas. Enfim, candidato, não mais arremedo de candidato para cumprir os caprichos do chefe e padrinho.

Com Haddad assumindo a cabeça de chapa do PT e o resultado das novas pesquisas relativizando o impacto da facada em Jair Bolsonaro (PSL) nas intenções de voto – pelo menos até esta segunda-feira –, a eleição está, finalmente, tomando seu formato definitivo. Já não era sem tempo. A urna está bem aí.

As pesquisas ganham em grau de realidade e de densidade com a exclusão de um Lula inelegível, a inclusão de um Haddad com bom potencial de crescimento e detectando o real tamanho da comoção, da irritação e do pânico diante do ataque ao primeiro colocado, o fenômeno de 2018.

O voto é irracional e racional. Bolsonaro é uma vítima e a facada foi uma ação violenta, criminosa, mas, racionalmente, não se vota num candidato a presidente da República porque ele sofreu um atentado, mas, sim, pelo que ele foi e pelo que é, representa, promete e tem reais condições de cumprir.

O Datafolha nacional desta segunda-feira, 10, mostra que Bolsonaro agregou dois pontos e passou para 24%, mas continua campeão de rejeição e perdendo para todos os demais no segundo turno. Ele deu um pulo, sim, pelo Ibope no Rio: de 25% para 33%. Mas, pelo Ibope em São Paulo, apenas oscilou um ponto, de 22% para 23%. Até aqui, tudo como antes no Quartel de Abrantes.

O outro resultado relevante das pesquisas desta segunda é que Fernando Haddad continua crescendo, devagar e sempre, e já tem lugar assegurado no segundo pelotão. Com a facada, Bolsonaro subiu dois pontos. Com a força de Lula, Haddad disparou cinco. Imaginem quando deixar de ser o “Andrade” no Nordeste.

Marina Silva (Rede) já tinha parado de crescer no Datafolha pré-facada, estagnada e empatada com Ciro Gomes (PDT) no segundo lugar, com 12%. No Datafolha pós-facada, ela levou um tombo de cinco pontos, de 16% para 11%. E Ciro passa a ser a bola da vez, ou a onda do momento. Cresceu três pontos, passou Marina e está com 13%.

Paulo Celso Pereira: Solidariedade não reverteu rejeição a Jair Bolsonaro

- O Globo

A facada desferida em Jair Bolsonaro (PSL) gerou ampla solidariedade de seus adversários na disputa presidencial, mas não reverteu a crescente rejeição ao deputado. Apesar de ter flutuado de 22% para 24% nas intenções de voto, a pesquisa Datafolha de ontem, a primeira após o atentado, mostrou que o percentual dos eleitores que não votariam de forma alguma no ex-capitão foi para 43%. Há 20 dias, quando Lula ainda era citado, ela estava em 39%.

Para piorar sua situação, Bolsonaro não lidera nenhum cenário de segundo turno. Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) ampliaram a vantagem que tinham contra ele, mas a grande novidade é que, agora, até Fernando Haddad (PT) já surge numericamente à sua frente, com 39% a 38%, em empate técnico. Na sondagem anterior, Bolsonaro tinha os mesmos 38%, mas o petista figurava com 29%. Na semana que antecedeu a facada, o deputado foi alvo de campanha de desconstrução no rádio e na TV.

Analisando apenas o cenário de primeiro turno, Marina Silva (Rede) é quem sai pior. Antes consolidada na segunda posição, com 16%, a ex-senadora caiu cinco pontos percentuais, chegando a 11%, e embolou-se em um quádruplo empate, numericamente atrás de Ciro, que, como já havia mostrado o Ibope, cresceu três pontos e chegou a 13%, e logo à frente de Alckmin, com 10%.

O impacto da TV, observado no crescimento da rejeição a Bolsonaro, também foi visto no forte avanço de Haddad. Antes mesmo de ser oficializado candidato, o que só deve ocorrer hoje, o petista saltou de 4% para 9% —o que o coloca nesse amplo empate, no limite da margem de erro. O ex-prefeito conseguiu avançar em todos os cenários de segundo turno.

Bernardo Mello Franco: Facada em Bolsonaro não acertou o eleitor

- O Globo

Apesar da comoção com o atentado, Bolsonaro só oscilou na margem de erro. Datafolha indica duelo entre Ciro e Haddad para enfrentá-lo no segundo turno

A facada em Jair Bolsonaro não acertou o eleitor. O deputado esperava disparar na primeira pesquisa pós-atentado. O Datafolha mostrou que ele se manteve na liderança, mas não conseguiu subir acima da margem de erro. Mais importante: sua rejeição continua nas alturas. Nas simulações de segundo turno, ele só não perde de lavada para o candidato do PT.

A pesquisa mostra um empate quádruplo na disputa pelo segundo lugar. Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad estão emparelhados entre 13% e 9% das intenções de voto. No entanto, os números não devem ser tomados pelo valor de face. Neste momento, o que vale é observar as curvas, que mostram quem sobe e quem desce na corrida presidencial.

A trajetória de Marina indica uma queda livre. A ex-senadora encolheu cinco pontos, caindo para 11%. Ela sofre os efeitos do isolamento político. Com pouco tempo de TV e sem palanques fortes nos estados, corre o risco de perder competitividade e sair da eleição menor do que entrou.

Alckmin praticamente não se moveu, o que em seu caso também é uma má notícia. Com quase metade do tempo de propaganda, o tucano esperava reconquistar terreno perdido para Bolsonaro. Ele ainda não está morto, mas não cresceu fora da margem de erro.

Raymundo Costa: Todos na caça aos votos de Lula

- Valor Econômico

Haddad tem 27 dias para repetir feito de mais de ano de Dilma

Está aberta a temporada de caça aos votos de Lula, algo em torno de 40% do eleitorado, segundo as últimas pesquisas feitas com o nome do ex-presidente como o candidato do PT. Em princípio, a maior parte do espólio deveria ir para Fernando Haddad, candidato a vice-presidente na chapa e o nome sagrado por Lula para substituí-lo. A demora na troca, no entanto, pode comprometer a estratégia lulista.

A quatro semanas da eleição, o tempo é curto para a transferência expressiva de votos. As pesquisas registram uma diluição dos votos de Lula entre os candidatos. Antes do atentado a Jair Bolsonaro (PSL), o Ibope havia testado o nome de Haddad em todos os Estados. Seu melhor desempenho é no Piauí, onde Lula liderava com 65% e Haddad ficava com 6%, quando o nome do padrinho é retirado das pesquisas.

"O tempo é curto para massificar Haddad a ponto de herdar a principal parte do patrimônio eleitoral de Lula", diz o jornalista Weiller Diniz, vice-presidente da Máquina Cohn & Wolfe, responsável por um detalhado estudo que relaciona as intenções de voto em Lula e Haddad nas 27 unidades da federação. O trabalho do PT não será pequeno.

A comparação possível é com Dilma Rousseff, em 2010, que virou candidata sem nunca ter disputado sequer uma eleição e ganhou a disputa contra o PSDB. Mas as diferenças são significativas. Primeiro, Lula começou a trabalhar o nome de sua então chefe da Casa Civil um ano antes da eleição - uma pesquisa do Ibope de setembro de 2009 já mostrava Dilma com 14% das intenções de voto. A poucos dias da eleição, Haddad tem um dígito.

A série de pesquisas do Datafolha no ano da eleição de 2010 mostrava que Dilma em abril já estava com 28% do eleitorado. Era o ano do crescimento econômico de 7% e Lula caminhava para um recorde de popularidade nunca visto antes de um presidente. Em julho Dilma estava empatada tecnicamente com Serra, em agosto assumiu a liderança da disputa, pela primeira vez, e no início da segunda semana de setembro - e campo realizado mais ou menos à esta altura - disparou à frente do PSDB, com 51% das intenções de voto contra 27% de José Serra.

Hélio Schwartsman: Efeito mártir é modesto

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro deve disputar com Alckmin vaga no segundo turno

Foi relativamente modesto o efeito mártir provocado pelo ataque a JairBolsonaro. Como mostra o Datafolha, as intenções de voto no candidato do PSL oscilaram apenas dois pontos percentuais para cima, apesar da ampla exposição no noticiário, e a rejeição a seu nome até subiu em relação ao levantamento anterior. O que isso significa para a corrida eleitoral?

Tudo o que não é proibido pelas leis da física pode acontecer. Em tese, até o cabo Daciolo pode ser eleito presidente. Mas, com base nas pesquisas, na literatura técnica, no histórico dos pleitos e no que se convencionou chamar de sabedoria política, podemos classificar como remota a possibilidade de o bombeiro militar sagrar-se vencedor.

Até que novos e mais surpreendentes imprevistos venham a abalar nossas profissões de fé bayesianas, o mais provável é que a disputa se dê entre Bolsonaro, Ciro, Marina, Alckmin e Haddad.

Mais até, dá para afirmar com alguma confiança que haverá dois turnos e que uma das vagas será ocupada por um representante da esquerda, e a outra, por alguém do campo da direita. Isso significa que Ciro e Haddad vão brigar por um dos lugares, e Bolsonaro e Alckmin pelo outro. A melhor chance de Marina seria fazer colar o discurso antipolarização, mas seu escasso tempo de TV não a ajuda.

Se a transferência de votos de Lula ocorrer como o PT espera, Haddad leva vantagem sobre Ciro. Se a coisa não for tão automática, o PT terá desperdiçado um tempo vital ao retardar a oficialização da candidatura do ex-prefeito de São Paulo.

Quem se encontra na situação mais complicada é Alckmin. Ele não tem alternativa que não a de bater em Bolsonaro, mas não pode errar na dose. Com o rival convalescendo numa UTI, o risco é que a tentativa de desconstrução se volte contra o tucano. É um problema difícil de resolver, mas não impossível. Não faltam inconsistências na candidatura do militar reformado.

Bruno Boghossian: As novas batalhas do capitão

- Folha de S. Paulo

Deputado conquista novos terrenos e avança entre mulheres, mas esbarra em rejeição

A superexposição de Jair Bolsonaro turbinou tanto a emergência de novos apoiadores como a de detratores. A pesquisa Datafolha mostra que o candidato conseguiu crescer fora de seu eleitorado cativo, mas também atingiu rejeição recorde nesses segmentos, que já eram hostis a seu nome.

Bolsonaro aparece cristalizado nos nichos que deram o impulso inicial a sua candidatura, como homens e grupos mais escolarizados. A diferença é que, pela primeira vez desde novembro, subiram significativamente as menções espontâneas ao candidato entre os mais pobres e no eleitorado feminino.

Sua entrada nesses novos terrenos esbarra, porém, nos mais altos índices de rejeição da disputa. A proporção de eleitores que dizem não votar em Bolsonaro chegou a 49% entre as mulheres e a 46% entre aqueles que ganham até dois salários. Seus rivais ficam abaixo de 30% nesses grupos.

Joel Pinheiro da Fonseca: Plantar e colher

- Folha de S. Paulo

Saber negociar, ceder e conciliar interesses são virtudes, não vícios, na política

A facada em Bolsonaro foi a conflagração trágica da patologia que nos acomete. Passado o momento de crise, é um bom momento para a reflexão por parte da sociedade: fomos longe demais.

O esfaqueador dá mostras de ser um indivíduo mentalmente desequilibrado —o que não exclui ter planejado o ataque—, mas as crenças que o moviam, delírios conspiratórios e projeção de tudo que há de mal na direita (cujo símbolo é Bolsonaro), são relativamente comuns. A diferença é que a maioria dos indivíduos, por mais radicalizados que estejam, não recebem um chamado de Deus para matar o objeto de seu ódio. Falta-lhes o parafuso a menos necessário para colocar essas ideias em prática. Mas as ideias são as mesmas.

Isso pôde ser observado nas reações das pessoas à cobertura da mídia. O ponto de partida de ambos os lados é que a mídia mente sempre, e um áudio de um desconhecido compartilhado em grupos de WhatsApp é mais confiável do que o trabalho de jornalistas profissionais sujeito ao escrutínio público.

Para a esquerda, todo o atentado foi uma farsa para ajudar Bolsonaro, o que exigiria uma mentira concertada entre milhares de policiais, jornalistas e médicos. Para a direita, foi um plano muito bem arquitetado pelas lideranças políticas do país. Se qualquer uma das hipóteses for verdadeira, cabe indagar: facadas e tiros são mesmo uma reação despropositada?

José Casado: Luta pelo poder em plena ruína

- O Globo

Há um país em ruína nas margens do enredo da luta pelo poder — cada dia mais dependente das subtramas desenvolvidas numa Unidade de Terapia Intensiva, em São Paulo, e na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

Entretidos no embate personalista, os candidatos à Presidência passeiam cegos à dimensão e à celeridade do desmoronamento da paisagem a que pertencem. Driblam a realidade, onde a renda de sete em cada dez famílias mal alcança dois salários-mínimos (R$ 1,9 mil).

Voluntaristas, abstraem o aumento de 50% na velocidade da regressão social desde 2014, depois de um quinquênio de profunda recessão.

A magnitude desse retrocesso social está na preservação de 23,3 milhões de pessoas na pobreza, com renda inferior a R$ 233 por mês

Significa que o número de brasileiros na miséria já supera a população de Minas Gerais (21 milhões). Num mapa equivale à soma dos habitantes do Paraná e Rio Grande do Sul.

O quadro se deteriora rápido: 6,3 milhões de novos pobres surgiram do governo do PT até o do MDB.

Vai-se completar três anos de aumento na desigualdade de renda, demonstra um estudo sobre a vida como ela é por trás do Produto Interno Bruto (PIB), do pesquisador Marcelo Neri, da FGV.

Ricardo Noblat: Eleição sem comoção

- Blog do Noblat | Veja

Jogo aberto
O atentado contra a vida do deputado Jair Bolsonaro (PSL) foi “um ataque à democracia”.

(Se foi, o eleitor não avaliou assim. Se avaliou, não está preocupado com a sorte da democracia – ou por que não liga para ela ou por que acha que ela resistirá ao golpe sofrido.)

O atentado de Juiz de Fora irá produzir uma profunda comoção.

(Aparentemente, não produziu. Do contrário, a comoção certamente teria impulsionado a candidatura de Bolsonaro – para o céu ou para o inferno.)
A história da eleição de 2018 foi uma até o dia 6 de setembro. Será outra a partir de então.

(A conferir, no futuro, se o atentado de fato mudou a história da eleição.)
Bolsonaro ficou onde estava nas intenções de voto do distinto público ouvido pelo Datafolha. Oscilou míseros dois pontos percentuais para cima, dentro da margem de erro da pesquisa.

É o campeão da rejeição, mas não se pode dizer que ela aumentou. A pesquisa anterior do Datafolha ainda contou com o nome de Lula, a de ontem não. Nesse aspecto, são incomparáveis.

Ciro Gomes (PDT) cresceu para além da margem de erro da pesquisa? Marina Silva (REDE) caiu para além da margem de erro? Geraldo Alckmin (PSDB) não saiu do lugar?

Ensina a ciência da pesquisa que se deve esperar que a próxima, aplicada pelo mesmo instituto, confirme ou não os resultados da anterior. Só assim se poderá falar em tendência de crescimento de uns e de queda de outros. Do contrário, terá sido um soluço.

O Datafolha voltará a campo amanhã, quinta e sexta-feira. E na própria sexta-feira divulgará os resultados de nova pesquisa. Esta noite será a vez do Ibope informar o que apurou desde sua última pesquisa da semana passada.

A eleição presidencial continua aberta. Só agora o eleitor começa a despertar para ela.

A hora e a vez do figurante

Que seja feita a sua vontade
No início dos anos 70 do século passado, ao entrevistar em Salvador o escritor Jorge Amado sobre seu processo de criação, ouvi dele o que aqui reproduzo de memória.

Disse-me que com frequência a história e os personagens que inventava escapavam ao seu controle. Simplesmente ganhavam independência. E a ele só restava cumprir suas vontades.

Na política como na literatura – por que não?

Lula e Jair Bolsonaro criaram enredos dramáticos para sustentar suas candidaturas a presidente.

Luiz Carlos Azedo: O segundo

- Correio Braziliense

“O principal beneficiado com a saída de Lula até agora é o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT)”

O atentado contra o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, pode ter consolidado sua liderança nas eleições. Isso não significa, porém, que uma vitória no primeiro turno seja possível. O realinhamento eleitoral em curso, no qual a novidade é a saída efetiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da disputa, mostra que seria derrotado. Embora a sua substituição pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad esteja prevista só para hoje, nas redes sociais a impugnação da candidatura de Lula já estava influenciando o deslocamento dos seus eleitores para Haddad e outras candidaturas. O principal beneficiado com a saída de Lula até agora é o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).

Segundo o analista das redes sociais Sérgio Denicoli, da Big Data AP/Exata, desde maio Bolsonaro liderava as citações no Twitter, seguido de perto por Lula. Com a impugnação, o petista começou a perder terreno e abriu mais espaço para Bolsonaro, que conseguiu cinco vezes mais citações do seu principal adversário nas pesquisas no dia em que foi esfaqueado em Juiz de Fora. Entretanto, quem emergiu nesse processo foi Ciro Gomes e não Haddad. Embora Bolsonaro possua quase três vezes (2,8) mais menções do que o candidato do PDT, Ciro já tem três vezes (3,1) mais citações do que o ex-presidente da República.

O domínio de Bolsonaro nas mídias digitais e sua forte presença no noticiário em razão do atentado que sofreu, de certa forma, neutralizaram a desvantagem do ex-capitão em termos tempo de propaganda na tevê e no rádio. “O caminho para o PSL já foi mais tortuoso, pois a visibilidade recente tem estimulado a militância e parece desestimular a atuação de uma esquerda difusa e acuada”, conclui Denicoli.

Para ele, “Ciro Gomes se mostra apto a angariar votos úteis dos que rejeitam Bolsonaro”. Surpreende, no monitoramento das redes sociais, o distanciamento de Haddad e Marina Silva. O primeiro “está preso à imagem de Lula, que o deixa sem personalidade própria”; à segunda, falta “fôlego e conteúdos polêmicos para aparecer mais nas conversações on-line”. João Amoêdo, do Novo, também é mais citado do que Haddad. O mesmo vale para o tucano Geraldo Alckmin, que nunca teve uma forte presença nas novas mídias. O candidato do PSDB aposta muito nos programas de tevê e rádio, pois é o que dispõe de mais tempo para isso.

As pesquisas, porém, parecem confirmar a tese de que o peso do programa eleitoral de tevê e rádio se reduziu. “Os únicos eventos de relevo das televisões têm sido os debates e sabatinas, e muito mais pela repercussão deles nas redes do que pelos programas propriamente ditos. Vivemos uma guerra de narrativas on-line e o fato de Bolsonaro dominar os discursos digitais deu a ele a chancela de uma grande liderança, construída, queiram ou não, fora do tradicional ambiente partidário dominado pelas grandes siglas”, conclui Denicoli, com base em amostragem de tweets geo localizados de 145 cidades do país.

Míriam Leitão: Os estados que ensinam

- O Globo

Caminho para a educação é olhar para os bons exemplos. Há notícias positivas no meio do grande quadro de estagnação no ensino médio

É preciso aprender com os estados que avançaram no Ideb. Não se pode ignorar o tamanho no nosso atraso, mas como a desistência não é uma opção, é fundamental olhar os bons exemplos. Goiás e Espírito Santo foram os destaques do ensino médio este ano e a análise dos dois casos mostra uma mistura de melhora da gestão com maior foco nos fatores socioemocionais. O Ceará, um sucesso nos anos iniciais e finais, deu um salto no ensino médio. Pernambuco também é exemplo.

Na rede estadual pública do ensino médio, Goiás foi para o primeiro lugar e o Espírito Santo ficou em segundo. Quando o índice é da rede pública e privada, os dois se alternam: Espírito Santo vai para o primeiro e Goiás para o segundo. Quando se pergunta às pessoas que estão ou estiveram à frente desse processo exitoso nos dois estados, eles apontam para Pernambuco como sendo uma inspiração, que desta vez ficou em terceiro lugar mas que tem ensinado como superar o estrangulamento do ensino médio. O salto do Ceará foi impressionante: saiu do 12º lugar para o quarto, o que é mais animador diante do sucesso já comprovado do estado no fundamental.

O caminho é olhar os bons exemplos. Como escreveu ontem o jornalista especializado em educação Antonio Gois, “o pessimismo exagerado é tão paralisante quanto o otimismo descolado da realidade”. Penso assim também. Há notícias boas, no meio do grande quadro de estagnação nacional no ensino médio.

Após ataque, Bolsonaro tem 24%, e quatro empatam em segundo lugar

Ciro, Marina, Alckmin e Haddad empatam em segundo lugar; capitão é o nome com maior rejeição

Ricardo Balthazar | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O deputado Jair Bolsonaro (PSL) manteve a liderança da corrida presidencial após o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão e o atentado que sofreu na semana passada, de acordo com a nova pesquisa realizada pelo instituto Datafolha.

Segundo o levantamento, Bolsonaro tem 24% das intenções de voto. O presidenciável foi esfaqueado quando atravessava uma multidão em evento de campanha na quinta (6) em Juiz de Fora (MG) e está internado no Hospital Albert Einstein, onde se recupera da cirurgia sofrida após o ataque.

Na pesquisa anterior do Datafolha, realizada nos dias 20 e 21 de agosto, antes do início do horário eleitoral, Bolsonaro tinha 22% das intenções de voto. A oscilação observada desde então está dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Quatro candidatos aparecem empatados em segundo lugar, dentro da margem de erro. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tem 13% das intenções de voto, a ex-senadora Marina Silva (Rede) está com 11%, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) aparece com 10% e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), com 9%.

Vice da chapa inscrita pelo PT com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato a presidente, Haddad deve ser indicado como seu substituto nesta semana. O Tribunal Superior Eleitoral vetou a candidatura de Lula e estabeleceu prazo até esta terça (11) para o partido fazer a troca.

O nome de Lula, que apareceu à frente nos levantamentos anteriores do Datafolha, não foi incluído desta vez nos cartões da pesquisa estimulada, em que os pesquisadores exibem aos entrevistados a lista de candidatos.

Saída de Lula da disputa embaralha a esquerda

Ataque a Jair Bolsonaro gerou oscilações positivas para candidato do PSL especialmente em nichos específicos

Mauro Paulino / Alessandro Janoni | Folha de S. Paulo

São tantos os fatores com potencial de impacto sobre os resultados divulgados nesta segunda (10) pelo Datafolha, que as mudanças verificadas no quadro eleitoral podem parecer até modestas.

Além da intensificação da cobertura jornalística após o registro das candidaturas, episódios de grande repercussão despertaram o eleitorado na última semana.

O início da propaganda gratuita no rádio e na TV, a decisão do TSE em barrar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atentando contra Jair Bolsonaro (PSL) pautaram debates e mobilizaram a opinião pública.

O saldo desse período percebe-se logo nas intenções de voto espontâneas, primeira pergunta do questionário aplicada pelo Datafolha e onde não há apresentação dos nomes dos candidatos para os entrevistados.

Nessa situação, menções a Lula despencaram 11 pontos, citações a Bolsonaro subiram cinco, Ciro Gomes também melhorou seu desempenho e Fernando Haddad, que deve assumir o lugar do petista, aparece pela primeira vez, com 4%.

Quando o cartão com os candidatos é apresentado, Bolsonaro é apontado como preferido por cerca de um quarto dos brasileiros. O ataque que sofreu em Juiz de Fora gerou oscilações positivas para o candidato do PSL em diversos estratos do eleitorado, mas com maior expressão em nichos específicos como entre os que têm de 45 a 59 anos e os que ganham de 5 a 10 salários mínimos.

O episódio, no entanto, foi insuficiente para sensibilizar de maneira importante conjuntos de grande peso quantitativo. Bolsonaro continua reprovado por quase metade do segmento feminino e pela maior parte dos que têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos. O primeiro corresponde a 53% do eleitorado e o segundo a 46%.

Bolsonaro tem 24%, e quatro empatam em segundo lugar

No Datafolha, Ciro sobe 3 pontos e Haddad, 5. Os dois se igualam a Marina e Alckmin dentro da margem de erro

Na primeira pesquisa realizada pelo Datafolha após o atentado contra o candidato do PSL a presidente, Jair Bolsonaro, ele ganhou dois pontos percentuais nas intenções de voto, subindo de 22% para 24%. A oscilação aconteceu dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Ciro Gomes (PDT) cresceu três pontos, chegando a 13%, e Fernando Haddad (PT) pulou de 4% para 9%. Os dois estão tecnicamente empatados em segundo lugar com Marina Silva (Rede), que perdeu cinco pontos, e Geraldo Alckmin (PSDB), que oscilou positivamente um ponto.

Após ataque, variação de dois pontos

Bolsonaro oscila dentro da margem de erro, Marina perde 5, e Haddad cresce 5

Fernanda Krakovics | O Globo

Depois de sofrer um atentado na última quinta-feira e ainda estar em estado grave, o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, oscilou dois pontos percentuais, de 22% para 24%, em pesquisa Datafolha/TV Globo divulgada ontem. A disputa pelo segundo lugar ficou ainda mais acirrada, com um empate técnico entre Ciro Gomes (PDT), com 13%; Marina Silva (Rede), com 11%; Geraldo Alckmin (PSDB), com 10%; e Fernando Haddad (PT), com 9%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Esse é o primeiro levantamento deste instituto após o início da propaganda de rádio e TV, há nove dias, e já registra, no eleitorado, os efeitos do esfaqueamento de Bolsonaro em Juiz de Fora (MG).

A maior queda em relação à pesquisa anterior, divulgada em 22 de agosto, foi de Marina, que foi de 16% para 11%. Haddad, por sua vez, cresceu na mesma proporção, indo de 4% para 9%. Ele ainda não foi oficializado pelo PT como substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja candidatura foi recusada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com base na Lei da Ficha Limpa.

Adversários retomam tom crítico a ideias de Bolsonaro

Ciro, Marina e Alckmin retomam críticas; em SP, Ibope mostra que agressão não favoreceu candidato do PSL

Gilberto Amendola, Marianna Holanda, Pedro Venceslau, Ana Assam, Carla Bridi e Daniel Bramatti | O Estado de S. Paulo

Os candidatos Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB), que disputam uma vaga no segundo turno da eleição, retomaram o tom crítico em relação às ideias e propostas de Jair Bolsonaro (PSL), que se recupera de ataque a faca sofrido em Juiz de Fora (MG). “O povo quer um governo que funcione, nós já temos problemas demais, não podemos ter presidente que seja mais um problema”, disse Alckmin. Pesquisa Ibope/Estado/TV Globo realizada com eleitores paulistas indica que Bolsonaro tem 23% das intenções de voto, um ponto porcentual acima do resultado de 20 de agosto. O marqueteiro Arick Wierson, que ajudou a eleger Michael Bloomberg prefeito de Nova York, defende que o candidato abandone o discurso agressivo e escreva carta à Nação deixando claro que apoia a democracia, informa a coluna Direto da Fonte.

Os candidatos ao Palácio do Planalto passaram a modular as manifestações de solidariedade a Jair Bolsonaro com a preocupação de que o episódio da semana passada, quando o candidato do PSL foi esfaqueado durante uma agenda de campanha, seja usado a seu favor na eleição. Apesar das manifestações de apoio ao deputado federal e o repúdio à violência, os presidenciáveis retomaram o tom crítico em relação às ideias e posturas do adversário.

Na campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) a avaliação é de que a trégua com o candidato do PSL vai acabar, até porque, segundo auxiliares, não há alternativa senão desconstruir o rival. Em evento ontem na capital paulista, Alckmin fez questão de separar a tática eleitoral da condenação à violência.

“São questões distintas: uma é a solidariedade a quem foi alvo de um atentado vil, covarde. Outra coisa são os destinos da Nação”, disse. “O povo quer um governo que funcione, nós já temos problemas demais, não podemos ter um presidente que seja mais um problema.”

O passaporte para a volta das críticas, na avaliação das campanhas do PSDB, da Rede de Marina Silva e do PDT de Ciro Gomes, foi dado pelo próprio candidato do PSL quando foi fotografado no hospital fazendo um sinal de arma com as mãos. Auxiliares dos candidatos acreditam que essa imagem recolocou Bolsonaro na disputa eleitoral, ratificando seu discurso.

O presidenciável do PDT disse no domingo, após o debate promovido pelo Estado, TV Gazeta, Rádio Jovem Pan e Twitter, que “Bolsonaro foi ferido na barriga, mas não mudou nada na cabeça”. A campanha vai insistir no que Ciro tem chamado de “polarização odienta”, fazendo críticas ao PT e a Bolsonaro, que, segundo ele, seriam os responsáveis pelo clima acirrado nas eleições.

Marina, sábado, lembrou que o candidato do PSL defende o fim do Estatuto do Desarmamento e ela, não. “Deus o livre aquela pessoa tivesse uma arma de fogo, o que poderia ter acontecido”, disse a ex-ministra.

Alvaro Dias (Podemos) e Alckmin aproveitaram o primeiro horário eleitoral depois do ataque para se solidarizar, mas também criticar a postura do deputado. “Nem faca, nem bala”, foi a frase usada pelo senador paranaense na TV, criticando a agressão, mas rejeitando o discurso do adversário. No chamado palanque eletrônico, Alckmin fez um pedido por conciliação nacional, sem deixar de fazer críticas veladas a Bolsonaro.

A candidatura do PSOL tenta contextualizar a agressão ao deputado em um cenário de violência política generalizada. No debate de domingo, o candidato Guilherme Boulos lembrou que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) completa seis meses. “A foto de Bolsonaro mostra que ele continua disseminando o ódio”, disse o presidente do PSOL, Juliano Medeiros.

Pesquisa do Datafolha, divulgada ontem, a primeira após o atentado, mostrou que Bolsonaro manteve a liderança e oscilou dentro da margem de erro, de 22% para 24%. Ele, porém, ampliou a vantagem sobre os adversários – a candidata da Rede, Marina Silva, caiu de 16 pontos porcentuais para 11%; Ciro Gomes (PDT) subiu de 10% para 13%; Alckmin (PSDB) oscilou de 9% para 10% e Fernando Haddad (PT) avançou de 4% para 9%. A pesquisa mostrou Ciro e Haddad – candidato a vice que poderá assumir a cabeça da chapa petista – em tendência de crescimento em relação ao levantamento anterior. O registro na Justiça Eleitoral é BR 02376/2018.

‘Retração’. Analistas ouvidos pelo Estado observam que o desempenho na pesquisa não se traduz, necessariamente, em votos. “Os outros candidatos vão precisar, de alguma forma, tentar voltar a atacá-lo, dizendo que ele não é só vítima de um maluco, mas de algo que ele, de certa maneira, cultua, que é a violência”, disse o professor de ciência política da USP Humberto Dantas. Já Carlos Melo, do Insper, acredita que “a solidariedade se confunde com apoio em um primeiro momento, mas depois tende a uma retração”.

Precisamos de presidente 'que não seja um problema', diz Alckmin sobre Bolsonaro

Candidato do PSDB à Presidência disse ainda que sua campanha não deve alterar os rumos por conta do ataque sofrido pelo rival

Marcelo Osakabe | O Estado de S. Paulo

O candidato à Presidência pelo PSDB nas eleições 2018, Geraldo Alckmin, declarou nesta segunda-feira, 10, que a sua campanha não deve alterar os rumos por causa do atentado a Jair Bolsonaro (PSL), na última quinta-feira.

"São duas questões distintas: uma é a solidariedade a quem foi alvo de um atentado vil, covarde. Outra coisa são os destinos da nação, escolher quem vai ser presidente, unir o Brasil e fazer as mudanças que o País precisa", disse. "O povo quer um governo que funcione, nós já temos problemas demais, não podemos ter presidente que seja mais um problema."

Alckmin participou de um evento com representantes do Agora!, movimento que luta pela renovação no Legislativo e que tem entre seus fundadores o apresentador de TV, Luciano Huck. Durante a reunião, o ex-governador recebeu as propostas do grupo e reiterou promessa de zerar o déficit em dois anos, para poder voltar a investir em áreas sociais, como saúde e educação.

Questionado sobre se os resultados das pesquisas podem influenciar sua estratégia eleitoral nas próximas semanas, o tucano disse que não. "Ainda temos quatro semanas, precisa deixar decantar um pouco, não vamos mudar estratégia. Vamos ter uma onda aí mais ao final".

No evento, os organizadores do Agora! aproveitaram também para divulgar o lançamento da plataforma #temmeuvoto, que promove uma espécie de "Tinder eleitoral", apresentando aos eleitores os candidatos ao Legislativo que mostraram maior afinidade com suas respostas.

Segundo Leandro Machado, um dos fundadores do grupo, a plataforma recebeu informações de cerca de 1,2 mil candidaturas e pode ser acessado a partir de hoje.

Alckmin reitera proposta para reduzir número de parlamentares

Candidato afirmou, no entanto, que vai precisar de apoio da sociedade civil para implantar medidas

Marcelo Osakabe | O Estado de S.Paulo

O candidato à Presidência da República pelo PSDB nas eleições 2018, Geraldo Alckmin, voltou a prometer que vai trabalhar pela redução do número de assentos na Câmara e no Senado, mas ressaltou que, para isso, precisará de um "movimento da sociedade civil" para ajudar a convencer os parlamentares da proposta.

"Nossa proposta é apertar o cinto do governo para não apertar o cinto do povo, que já está muito sacrificado", disse o tucano após participar de uma celebração do ano novo judaico em uma sinagoga no bairro do Jardins, zona nobre da capital paulista.

Alckmin lembrou ainda que a medida depende do aval de outros poderes. "O que depender do Executivo, vamos fazer. O que depender do Legislativo e do Judiciário, vamos trabalhar juntos com os outros poderes. O exemplo tem que vir de cima.

"Questionado sobre como pretende convencer os partidos do Centrão, que o apoiam na eleição deste ano, o ex-governador disse que "parlamentar nenhum quer contrariar o sentimento do povo".

"Pretendo fazer um governo muito perto da população. Se tivermos um grande movimento da sociedade civil, vamos fazer um mutirão, cortar gastos e reduzir despesas, nós vamos melhorar."

Se ganharmos, economia cresce 4% no ano que vem, diz Alckmin

Em julho, ele disse que, se ganhar, a Bolsa vai para 100 mil pontos

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato Geraldo Alckmin (PSDB) disse que, se for eleito, a economia brasileira cresce 4% no ano que vem.

“Pode escrever. Se nós ganharmos a eleição, crescemos 4% no ano que vem. Tem um gap de credibilidade”, disse em São Paulo nesta segunda-feira (10).

“O Brasil está passando por uma crise de confiança. Se tiver confiança, vai ter investimento. O Brasil tem demanda e, tendo investimento, vai crescer forte”, sustentou, após reunião com representantes do movimento Agora!.

Em julho, ele deu declaração na mesma linha. Disse que, se ganhar, “a Bolsa vai para 100 mil pontos”.

O tucano se ampara na equipe econômica de sua candidatura, que, liderada por Persio Arida, é considerada o time dos sonhos pelo mercado.

Nesta segunda, em entrevista após a agenda, o candidato prometeu “apertar o cinto do governo para não apertar o cinto do povo. A população já está muito sacrificada”.

“Esse déficit absurdo, que está comprometendo a economia brasileira, nós vamos zerar, pelo lado do governo, cortando gastos, diminuindo ministérios. Temos 146 empresas estatais, não há razão para isso. Uma parte delas dando prejuízo para a população”, disse.

O tucano afirmou ainda que pretende rever subsídios do Estado a setores econômicos.

“Tem 4% do PIB, R$ 280 bilhões vai para R$ 312 bilhões no ano que vem em incentivos. Vamos passar um pente fino em todos eles para ver o custo-benefício”, afirmou.

Estacionado em sondagens eleitorais, ele disse que não vai mudar estratégia em razão de pesquisa eleitoral e que confia em “uma onda mais ao final” a seu favor.

Campanha de Alckmin diz que Bolsonaro erra ao explorar facada

Equipe de candidato afirma que sensacionalismo pode prejudicar Bolsonaro

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) considera uma sucessão de erros a exposição de Jair Bolsonaro (PSL) no hospital depois de ser alvo de uma facada em Juiz de Fora (MG).

Aliados disseram que a fotografia em que o adversário simula segurar uma arma com as mãos dentro do leito, com robe hospitalar e ligado a aparelhos é um gesto de gente perturbada.

Da mesma forma, afirmaram, o vídeo que o senador Magno Malta (PR-ES) gravou de Bolsonaro ainda grogue, horas depois do atentado, é uma exposição forçada.

Auxiliares de Alckmin afirmam que, com a exploração sensacionalista do episódio, Bolsonaro pode acabar não se beneficiando da comoção popular.

A ordem do candidato tucano é “esperar decantar” o episódio.

A Folha relatou na sexta (7) que a campanha tucana identificou que não houve uma comoção incondicional com o ataque ao presidenciável, de empatia.

A reação é mais polarizante do que agregadora para Bolsonaro, avaliaram estrategistas tucanos após pesquisas qualitativas.

Nesta segunda-feira (10), Alckmin afirmou que “os brasileiros já têm problema demais, não podemos ter um presidente que seja mais um problema”.

Para o tucano, “uma coisa é a solidariedade a quem foi vítima de um atentado vil e covarde, o qual condenamos duramente”.

“A outra são os destinos do país, é escolher quem vai ser presidente, unir o Brasil, fazer mudanças de que o Brasil precisa. O povo quer governo que funcione.”

Ele encerrou a entrevista sem comentar a exposição de Bolsonaro e aliados do episódio.

Alckmin pede a eleitor para não considerar solidariedade a Bolsonaro na hora do voto

Candidato do PSDB participou de encontro com movimento de renovação política

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, defendeu nesta segunda-feira que o eleitor não se deixe influenciar pela solidariedade a Jair Bolsonaro (PSL) na hora de decidir o voto daqui um mês. O discurso é uma tentativa do tucano de frear uma onda em favor do adversário após ter sido vítima de um atentado a faca na semana passada.

— São duas questões distintas. Uma é a solidariedade a quem foi vítima de um atentado vil e covarde. A outra são os destinos do país, a escolha do presidente. Estamos num momento estratégico. Estão em jogo os próximos quatro anos — disse Alckmin, após participar de encontro com representantes do movimento Agora.

O candidato tucano confidenciou a auxiliares e aliados nos últimos dias que espera um crescimento de Bolsonaro na pesquisa Datafolha que será divulgada nesta noite. Alckmin, entretanto, pondera que as intenções de voto conseguidas pelo oponente neste momento pós-atentado tendem a ser voláteis e nada definitivas.

Nesta manhã em São Paulo, o presidenciável manifestou em público uma parte dessas avaliações mais reservadas.

— Precisa deixar decantar um pouco — reagiu sobre as especulações de um crescimento de Bolsonaro nas próximas sondagens eleitorais.

O tucano negou que sua campanha fará mudanças de rumo por causa da vitimização de Bolsonaro. Ele não quis comentar a divulgação pelo concorrente de vídeo dentro da UTI para as redes sociais. Aliados do candidato do PSL tem usado a internação para fazer campanha na internet.

— Não vamos fazer mudanças em razão de pesquisas.

MAIS PROMESSA NA ECONOMIA
No dia em que nova pesquisa feita por um banco se investidores apontou aumento da crença em uma vitória de Bolsonaro, Alckmin incluiu mais uma promessa ao seu plano de governo econômico. Desta vez, ele garantiu que, se eleito, o país crescerá 4% em 2019.

— Se ganharmos a eleição crescemos 4% no ano que vem. Pode escrever — disse aos jornalistas quando já deixava o compromisso desta manhã na capital paulista.

A estimativa oficial aponta um crescimento do PIB de 2,5% parao próximo ano.

Alckmin justificou a projeção otimisma à falta de confiança que existe hoje no país.

— Há um gap de confiança hoje — afirmou.

FURANDO O OLHO DO INIMIGO
Com traições de sobra de partidos da sua coligação a sua candidatura, Alckmin tem comemorado o apoio público que recebeu em Santa Catarina do governador Pinho Moreira (MDB) neste fim se semana. O tucano viajou ao estado no sábado passado e desfilou com o emedebista a tiracolo. Moreira voou até no avião da campanha tucana. O MDB tem candidato à Presidência, o ex-ministro Henrique Meirelles.

Defesa eloquente da democracia: Editorial | O Estado de S. Paulo

A reação dos outros candidatos à Presidência da República ante o atentado contra o deputado Jair Bolsonaro, de repúdio à violência e de reafirmação da confiança no processo eleitoral, foi uma importante demonstração de que, apesar de todas as dificuldades e extremismos dos tempos atuais, a democracia segue sendo um valor inegociável. Diante de um crime gravíssimo, o País pôde assistir a uma unânime e intransigente defesa em prol de uma campanha eleitoral pacífica e civilizada.

No debate de domingo à noite, realizado pelo Estado, TV Gazeta, Rádio Jovem Pan e Twitter, os candidatos voltaram a condenar o ódio e a violência na política, também recordando outros episódios ocorridos recentemente no País, como o assassinato da vereadora Marielle Franco e os tiros contra a caravana do PT no Paraná. Se a defesa da democracia é sempre importante, ela é ainda mais necessária no cenário político atual, marcado por radicalismos.

É parte da política o embate de opiniões e visões de mundo diferentes. Deve ser sempre, no entanto, um embate respeitoso, com o reconhecimento de que o adversário político tem os mesmos direitos de expressão e a mesma liberdade de pensamento. O outro não é um inimigo a ser abatido – é um cidadão com os mesmos direitos e garantias, com igual legitimidade dentro do processo político.

Após a facada: Editorial | Folha de S. Paulo

Bolsonaro se consolida na liderança, mas atentado não teve efeito expressivo, mostra o Datafolha

Uma série de novidades antecedeu a pesquisa Datafolha sobre intenção de votos para presidente realizada nesta segunda-feira (10).

A propaganda eleitoral teve início no dia 1º de setembro, debates e sabatinas ocorreram com maior frequência, a divulgação do nome de Luiz Inácio Lula da Silva como candidato petista foi vetada e, por fim, mas não menos importante, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) sofreu um atentado a faca na quinta-feira (6), em Juiz de Fora.

Os resultados mostram que, embora o cenário da disputa não tenha apresentado mudanças drásticas, alguns movimentos parecem ganhar consistência. Sem a presença de Lula, consolida-se a liderança de Bolsonaro, que oscilou de 22% no levantamento anterior, de 21 e 22 de agosto, para 24%.

Dessa fatia, 74% afirmam que não pretendem abandonar o candidato, que continua, por outro lado, sendo o mais rejeitado. São 43% os que afirmam que não votariam de jeito nenhum em seu nome. O percentual sobe para 49% entre as mulheres e chega a 55% entre os mais jovens.

Não por acaso, Bolsonaro não supera nenhum concorrente nas simulações de segundo turno.

Embora tenha oscilado positivamente, a variação, dentro da margem de erro, sugere que o impacto eleitoral da violência sofrida pelo capitão reformado não foi intenso como muitos chegaram a supor.

É claro que limites da Carta valem para os militares: Editorial | O Globo

São equivocadas declarações do general Mourão e do comandante do Exército que sinalizam rupturas

A campanha das eleições gerais deste ano já reúne características muito especiais. Uma delas, o próprio momento por que passa o país, devido à grave crise fiscal, instalada pelo voluntarismo da dupla Lula-Dilma, ao aproveitar a crise mundial deflagrada nos Estados Unidos, no fim de 2008, para executar a velha política econômica do PT, assentada no intervencionismo estatal e em gastos públicos sem limites.

Por isso, cabe ao próximo presidente da República a estratégica tarefa de, por meio da reforma da Previdência e outras, passar a controlar as despesas do Tesouro, para poder dar um rumo seguro ao país. Se isso não acontecer, os cenários à frente serão os piores possíveis.

Além disso, há tensões inusitadas causadas pelo atentado a Jair Bolsonaro (PSL), candidato à frente nas pesquisas, e pela resistência do PT em aceitar a impossibilidade de o ex-presidente Lula ser novamente candidato, aspiração vetada pela Lei da Ficha Limpa.

Crescem as dificuldades para a campanha de Bolsonaro: Editorial | Valor Econômico

O estúpido atentado contra a vida de Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência, acrescentou mais uma excepcionalidade às eleições deste ano. O primeiro lugar nas pesquisas, antes de o TSE declarar oficialmente sua inelegibilidade, o ex-presidente Lula, e o segundo colocado, Bolsonaro, não poderão participar ativamente das campanhas. Lula está preso em Curitiba e Bolsonaro no hospital, em um repouso forçado que o deixará longe das ruas pelo menos até o fim do primeiro turno. O esfaqueamento de Bolsonaro produziu mudanças na disputa eleitoral, embora não tenha o poder, pela comoção, de alterar significativamente suas chances na corrida eleitoral.

O ato contra a democracia que feriu Bolsonaro promoveu uma bem-vinda suspensão do ânimo bélico para o qual a campanha política vinha rumando e que tinha no próprio candidato do PSL um dos mais virulentos contendores. Todos os candidatos não hesitaram em condenar o atentado e prometer aprofundar o debate de ideias, o verdadeiro campo democrático de combate eleitoral. Alguns candidatos fizeram pouco dos tiros contra a caravana de Lula antes, mas o feito de Adélio Bispo de Oliveira, um desequilibrado mental, mostrou de fato aonde um clima de radicalização poderia levar - à eliminação física de contendores. O debate entre presidenciáveis, promovido no domingo pela TV Gazeta e o jornal "O Estado de S. Paulo", mostrou um tom de embate propositivo, no qual o antagonismo é profícuo, como costuma ser em uma democracia.

Expoente do pensamento brasileiro do século XX, Hélio Jaguaribe morre aos 95

- Vandson Lima, com Folhapress | Valor Econômico

SÃO PAULO - Questionado sobre qual o principal obstáculo para o pleno desenvolvimento do Brasil, Hélio Jaguaribe não titubeou na resposta, fruto de um longo percurso intelectual iniciado na década de 1940, quando cursou a faculdade de direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). "É a necessidade de reduzir o intervalo excessivo entre o topo e a base da sociedade brasileira. O que dá homogeneidade às sociedades, consistência, resistência a desafios externos é o fato de que todos se sentem sócios do mesmo país, o que ainda não atingiu a grande massa", avaliou, em entrevista para a série "Decanos Brasileiros - Dez Visões Sobre a Democracia no País", para o portal do jornal "O Estado de S. Paulo", em 2013.

Um dos expoentes do pensamento brasileiro ao longo da segunda metade do século XX, o sociólogo e cientista político Hélio Jaguaribe de Mattos morreu anteontem, no Rio, aos 95 anos, em sua casa, em Copacabana, vítima de falência múltipla dos órgãos. Imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras), seu velório será amanhã, a partir das 10h, na sala dos poetas românticos, na sede da instituição. O sepultamento acontece no mesmo dia, às 15h, no cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio.

Carioca nascido em 1923, formou-se em direito em 1946, mas não foi como advogado que se notabilizou. Por quase seis décadas dedicou-se a estudos sobre a sociedade brasileira, relações internacionais, história, economia e filosofia. A partir de 1952, juntou-se a jovens intelectuais do Rio e de São Paulo, que se reuniam periodicamente no parque do Itatiaia. No ano seguinte, a iniciativa deu origem ao Ibesp (Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política).

Celso Lafer: Intelectual dedicado aos desafios da América Latina

- O Globo

Jaguaribe foi patrono inaugural do pensamento acadêmico brasileiro sobre relações internacionais

Helio Jaguaribe, que acaba de nos deixar, integrou uma admirável geração de pensadores do nosso país que teve como tema compartilhado uma sensibilidade própria em relação à formação e ao destino do Brasil.

Exerceu com brio e convicção republicana o papel do intelectual público. Empenhou-se, tendo em vista a relação entre os intelectuais e a política no mundo contemporâneo, tanto em propor rumos, quanto em elaborar conhecimentos aptos a converter os rumos propostos em políticas públicas. A “ideia a realizar” que o norteou na sua obra, nas instituições que criou, nos seus artigos e intervenções, na lógica de um fecundo diálogo entre o nacional e o universal, foi a de explicar e clarificar o porquê e o como promover a racionalidade, para ampliar democraticamente, com liberdade e igualdade, o poder de controle da sociedade brasileira sobre o seu destino.

O impacto da presença de Helio na vida pública e intelectual do nosso país, devidamente lastreada na profundidade dos seus conhecimentos, tem muito a ver com a fulgurante inteligência do seu poder de síntese e a originalidade contagiante de suas formulações. Helio foi uma encarnação da razão vital orteguiana, que, como ele disse, tem a dupla função de orientar a nossa vida no mundo, de orientar-nos no entendimento do mundo através da nossa vida.

Francisco C. Weffort: Helio Jaguaribe foi o pensador de um Brasil que acreditava no futuro

- Folha de S. Paulo

Tinha, em grau de excelência, as qualidades do pensador e do organizador da cultura

Helio Jaguaribe foi o pensador de um Brasil que acreditava no futuro. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) foi uma instituição na qual esteve pouco tempo, mas onde deixou sua marca.

Não foi o único dos pensadores do desenvolvimento numa época em que a industrialização era o sonho de muitos intelectuais brasileiros. Mas entre esses, foi um dos maiores.

Para Jaguaribe, o Brasil do futuro haveria de realizar o sonho de uma sociedade desenvolvida em sentido democrático pleno. Deveria ir além dos limites de um território do mercado, atingindo a expressão de uma personalidade cultural de significação mundial.

Criado em 1955 por iniciativa de Jaguaribe, o Iseb entrou em crise três anos depois, em meio a um debate suscitado por críticas de Alberto Guerreiro Ramos ao livro "O Nacionalismo na Atualidade Brasileira", do próprio Jaguaribe.

O alcance das divergências internas do instituto alcançou nova luz alguns anos depois, com o golpe militar de 1964. Considerando todos os fundadores do Iseb como inimigos, obrigou a que todos acabassem por sair do país, a começar por Helio Jaguaribe e Guerreiro Ramos, que foram em diferentes momentos acolhidos por universidades americanas.

Jaguaribe foi um criador de instituições intelectuais. Antes do Iseb, organizou a participação de alguns intelectuais numa página de debates no Jornal do Commercio, sobre temas do país.

Era o ponto de partida do Grupo de Itatiaia, origem do Ibesp (Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política), onde foram publicados, até 1956, os Cadernos do Nosso Tempo.

Pablo Neruda: A canção desesperada

Aparece tua recordação da noite em que estou.
O rio reúne-se ao mar seu lamento obstinado.

Abandonado como o impulso das auroras.
É a hora de partir, oh abandonado!

Sobre meu coração chovem frias corolas.
Oh sentina de escombros, feroz cova de náufragos!

Em ti se ajuntaram as guerras e os vôos.
De ti alcançaram as asas dos pássaros do canto.

Tudo que o bebeste, como a distância.
Como o mar, como o tempo. Tudo em ti foi naufrágio!

Era a alegre hora do assalto e o beijo.
A hora do estupor que ardia como um faro.

Ansiedade de piloto, fúria de um búzio cego
túrgida embriaguez de amor, Tudo em ti foi naufrágio!

Na infância de nevoa minha alma alada e ferida.
Descobridor perdido, Tudo em ti foi naufrágio!

Tu senti-se a dor e te agarraste ao desejo.
Caiu-te uma tristeza, Tudo em ti foi naufrágio!

Fiz retroceder a muralha de sombra.
andei mais adiante do desejo e do ato.

Oh carne, carne minha, mulher que amei e perdi,
e em ti nesta hora úmida, evoco e faço o canto.

Como um vaso guardando a infinita ternura,
e o infinito olvido te quebrou como a um vaso.

Era a negra, negra solidão das ilhas,
e ali, mulher do amor, me acolheram os seus braços.

Era a sede e a fome, e tu foste à fruta.
Era o duelo e as ruínas, e tu foste o milagre.

Ah mulher, não sei como pode me conter
na terra de tua alma, e na cruz de teus braços!

Meu desejo por ti foi o mais terrível e curto,
o mais revolto e ébrio, o mais tirante e ávido.

Cemitério de beijos,existe fogo em tuas tumbas,
e os racimos ainda ardem picotados pelos pássaros.

Oh a boca mordida, oh os beijados membros,
oh os famintos dentes, oh os corpos traçados.

Oh a cópula louca da esperança e esforço
em que nos ajuntamos e nos desesperamos.

E a ternura, leve como a água e a farinha.
E a palavra apenas começada nos lábios.

Esse foi meu destino e nele navegou o meu anseio,
y nele caiu meu anseio, Tudo em ti foi naufrágio!

Oh imundice dos escombros, que em ti tudo caía,
que a dor não exprimia, que ondas não te afogaram.

De tombo em tombo inda chamas-te e cantas-te
de pé como um marinheiro na proa de um barco.

Ainda floris-te em cantos, ainda rompes-te nas
correntes.
Oh sentina dos escombros, poço aberto e amargo.

Pálido búzio cego, desventurado desgraçado,
descobridor perdido, Tudo em ti foi naufrágio!

É a hora de partir, a dura e fria hora
que a noite sujeita a todos seus horários.

O cinturão ruidoso do mar da cidade da costa.
Surgem frias estrelas, emigram negros pássaros.

Abandonado como o impulso das auroras.
Somente a sombra tremula se retorce em minhas mãos.

Ah mais além de tudo. Ah mais além de tudo.
É a hora de partir. Oh abandonado.